GUINÉ 1973 - OPERAÇÃO “ COBRA ONDULANTE “
A partir de Maio de 1973 , os aquartelamentos do exército, instalados junto á fronteira com a Guiné Conakry, encontravam se sob enorme pressão , isolados e com um sistema de defesa deficiente , comparado com o poder bélico do Paigc , fazia com que os militares do exército vivessem um verdadeiro inferno, só quem lá esteve em Guileje e Gadamael , pode descrever o sacrifício destes militares, os constantes bombardeamentos, sempre com enorme precisão, com o inimigo a utilizar Morteiros 120 , Morteiros 82 , Canhões 130 mm , e canhões sem recuo com granadas explosivas e perfurantes.
“ Apenas quem esteve em Gadamael naquele famigerado período de Junho / Julho de 1973 , pode compreender o que se passou e dar o justo valor aos que lá ficaram, resistiram e conseguiram fazer a evacuação dos mortos e feridos em tão adversas condições.”
( Cor Moura Calheiros)
No dia 1 de Junho, é ordenado ao COP4 e ao Batalhão de Caçadores Paraquedistas marcharem para Gadamael , Spínola decide enviar o Batalhão de Paraquedistas em peso para Gadamael, duas companhias são enviadas de imediato.
A CCP 122 a primeira a chegar a Gadamael, era a mais “ folgada “ , tinha tido direito a dois dias de descanso, após estar empenhada em operações.
A CCP 123 , encontrava se em operações no Cantanhez , recebeu um pré aviso de duas horas , e foi recolhida por uma LGF e uma LDM rumo a Gadamael.
A CCP 121 estava na estrada de Guidage , depois da traumática operação do cerco em Guidage .
Com constantes ações de combate e patrulhamentos fora do perímetro de Gadamael, os Paras conseguiram empurrar o inimigo para lá da fronteira, e perceber o motivo da artilharia inimiga ser tão precisa : os postos de observação e regularização de tiro , estava praticamente junto ao aquartelamento, por isso a partir de 8 de Junho a artilharia inimiga tinha já perdido a sua habitual precisão.
Só em 2 e 3 de Julho a partir das bases situadas no interior da Guiné Conakry foram feitos intensos bombardeamentos a Gadamael.
Entretanto chegada a Gadamael, a CCP 121 , vai desencadear a operação “ Cobra Ondulante “ ( 23 de Junho de 1973)
Nas cartas e fotografias aéreas eram marcados a vermelho todos os pontos suspeitos , e havia um ponto, numa zona desabitada , que provocava a suspeita no oficial de operações do BCP 12 , (Major Paraquedista Moura Calheiros ), sobre a linha da fronteira a cerca de 10 Km a sueste de Gadamael .
Havia por ali algo suspeito, com rodados de viaturas bem visíveis nas fotografias aéreas.
Foi lançada de imediato para a zona a CCP 121 a três grupos de combate, comandada pelo Tenente Paraquedista Hugo Borges ( hoje general na reforma)
Aproveitando a noite escura e a maré baixa, deslocaram se como de se fantasmas se tratassem , e no maior silêncio chegaram junto ao local suspeito .
Já na a fronteira sob a Guiné Conakry , encontraram um caminho largo com marcas recentes de rodados de viaturas.
Por ali ficaram emboscados na esperança de surpreender a passagem do inimigo, passado algum tempo , o Tenente Hugo Borges manda levantar a emboscada, e continuaram em progressão á zona suspeita .
Percorridas algumas centenas de metros , ouviram se vozes , feito o reconhecimento, deram conta que havia um quartel inimigo dispondo de uma muito boa organização no terreno e fortificação.
Entretanto aproximava se uma grande tempestade, e foi decidido esperar que esta se desencadeasse para lançar o ataque .
Aproveitado o ruído e a chuva diluviana, os homens dos grupos de combate infiltram se nas fortificações inimigas , apanhado os guerrilheiros completamente de surpresa , causando pesadas baixas e capturando armamento.
“ Quando estavam a regressar a Gadamael surgiram quatro Fiat’s .
O Tenente Hugo Borges sugeriu que bombardeassem em redor do aquartelamento que acabara de atacar .
Fizeram um bombardeamento nessa zona e em outros alvos já bem no interior da Guiné Conakry, logo desencadeando uma maciça reação da artilharia inimiga.
Apesar da distância de alguns Quilómetros a que a CCP 121 se encontrava o estrondo das armas anti aéreas era ali fortíssimo.
Subitamente, pareceu lhes ouvir um ruído de chuva, de batégas de água a caírem no solo , acontecendo também algumas pequenas explosões.
Mas não estava a chover ...... Eram as Munições explosivas que o inimigo disparava contra os Fiat’s que, não se tendo auto-destruído, estavam a cair ali, junto da Companhia! “
( Coronel Moura Calheiros)
Após esse assalto ao quartel inimigo, não houve mais contactos de fogo dos nossos grupos de combate com o inimigo.
A Batalha de Gadamael tinha sido definitivamente ganha .
Daqueles homens que efectuaram aquela operação, nenhum foi louvado ou condecorado.
( consultado o Livro “ última missão “ de Coronel Paraquedista Moura Calheiros )
Foto 1 - Armamento capturado durante a operação “ Cobra Ondulante “
Foto do livro BCP12 )
Foto 2- Militares da CCP 121 em 1973
Foto de Ramiro Padrão)
Pedro Castanheira.
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