Reino Unido está a usar drone produzido em Portugal para detetar imigrantes ilegais
As autoridades britânicas têm usado um drone AR5, da Tekever, para monitorizar imigrantes ilegais e ações de contrabando no Canal da Mancha. Autoridades britânicas e marca portuguesa preferem manter discrição sobre a matéria
Desde o início de dezembro que as autoridades britânicas têm vindo a patrulhar o Canal da Mancha, com um drone que tem como principal objetivo tentar detetar imigrantes ilegais e contrabandistas a bordo de embarcações. O patrulhamento tem vindo a ser feito com, pelo menos, um drone AR5, da marca portuguesa Tekever, tendo como principal ponto de referência o Aeroporto de Lydd, na região de Kent.
O drone, que tem um peso máximo à descolagem de 180 quilos e mais de sete metros de envergadura, tem vindo a ser usado pelas autoridades britânicas para a captação de imagens na parte da costa britânica que compõe o conhecido Canal da Mancha. A área de monitorização definida para o drone compreende um espaço marítimo que vai das localidades de Eastbourne e Margate. As duas localidades do sul de Inglaterra estão separadas por mais de 100 quilómetros em linha reta. O aeroporto de Lydd está situado junto à costa, num ponto intermédio entre as duas localidades britânicas.
A prova de que o governo britânico decidiu recorrer a drones para monitorizar as fronteiras marítimas foi publicada no início desta semana pela versão britânica da revista Wired, depois de aceder a registos e mapas da plataforma FlightAware, que indicam que um drone identificado com o acrónimo G-TEKV voou a mais de 240 metros de altitude no Canal da Mancha, às 21h59 de 9 de dezembro. A Wired deslocou-se ao aeroporto de Lydd, e não só viu um drone da Tekever em plena descolagem, como recolheu informação que leva a crer que o drone da marca portuguesa é usado especialmente em missões noturnas. O acrónimo G-TEKV, que figura na cauda do drone, foi registado junto das autoridades britânicas pelos escritórios que a marca portuguesa abriu no parque de ciência da Universidade de Southampton.
Contactada pela Exame Informática, a Tekever recusou comentar ou fornecer detalhes sobre o fornecimento de drones para o governo britânico.
O drone Ar5 dispõe de autonomia para 20 horas de voo
O uso de drones para a monitorização do Canal que separa Reino Unido e França começou por ser notícia na BBC, que dava conta de uma notificação enviada para os pilotos de aviação civil que costumam voar naquela região. Nessa notícia, a BBC deu conta de que o uso destes drones apenas deveria ser levado a cabo nas denominadas «zonas de perigo temporárias», que mantêm esse estatuto entre dezembro de 2019 e março de 2020.
A Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido e o Ministério do Interior ainda não se pronunciaram sobre a marca e o modelo de drone usado na monitorização do Canal da Mancha – mas não refutaram esse tipo de patrulhamento que é feito a altitudes máximas de 365 metros, fora das rotas usadas pela aviação comercial.
«Não vamos ficar quietos enquanto criminosos sem escrúpulos põem em risco as vidas de pessoas vulneráveis», referiu fonte institucional do Ministério do Interior britânico. A mesma fonte institucional enquadrou o patrulhamento efetuado com drones com as ações concertadas com o governo francês que têm em vista travar a imigração ilegal, bem como atividades contrabandistas, entre outras ações criminosas.
A travessia do Canal da Mancha com pequenas embarcações mais ou menos improvisadas teve um primeiro alerta em 2018 – e não terá parado de aumentar em 2019. As autoridades estimam que, pelo menos, 1892 pessoas terão desembarcado ilegalmente nas regiões de Kent e Sussex, no Reino Unido, durante o ano passado.
O uso de drones para o patrulhamento da costa marítima está longe de ser um exclusivo britânico. E a Tekever tem vindo a assumir um papel de destaque nesta área, através de contratos assinados com a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA, na sigla em inglês) que contemplavam a deteção de imigrantes ilegais ou atividades poluentes em seis países, durante diferentes períodos de 2019. Além Portugal, as operações previstas neste contrato abrangeram Dinamarca, Croácia, Itália, Espanha e, fora da UE, a Islândia. Os drones da Tekever também já foram usados pela agência europeia Frontex para a monitorização de fronteiras.
O AR5 é o maior drone produzido pela Tekever até à data. O veículo voador não tripulado está preparado para voar 20 horas ininterruptas, dispõe de comunicações de satélite, e pode transportar 50 quilos de carga a velocidades de cruzeiro de 100 Km/h. A aterragem e a descolagem são feitas em modo autónomo. A bordo deste drone podem seguir vários tipos de câmaras e sensores, consoante o tipo de missões que se pretende executar.
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