Frações de Infantaria
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Re: Frações de Infantaria
FOGO SEMI-AUTOMÁTICO E A ECONOMIA DE MUNIÇÃO.
Bob Cashner - "The FN FAL Battle Rifle", Osprey, 2013.
A Patrulha Edwards, em abril de 1964, envolveu nove homens da Tropa 3 do SAS infiltrando-se nas montanhas ocupadas pelo inimigo para sinalizar uma zona de lançamento para um desembarque dos paraquedistas no meio do quintal dos rebeldes, supostamente seguro. Obter o equilíbrio correto entre mobilidade e poder de fogo sempre é um problema lancinante para a infantaria. Nas áridas vastidões desérticas do íngreme, escaldante Radfan, água era uma necessidade vital ainda mais importante do que balas. Com a água pesando 3,6 Kg por galão, cada homem tinha de carregar aproximadamente 7,3 Kg desta preciosa comodidade.
Já que os relatórios da inteligência insistiam na improbabilidade de que a patrulha encontrasse muita resistência inimiga sendo capaz de passar pelos rebeldes sem engajar em qualquer combate de verdade, o peso foi economizado na parte da munição. Cada homem transportava quatro carregadores de munição 7,62 x 51 mm (80 cartuchos) para seus fuzis L1A1, mais uma bandoleira de 50 cartuchos do mesmo calibre em sua mochila, tanto quanto alguma munição extra de calibre .303 pol para a única metralhadora leve Bren da patrulha. Foi salientado que a munição deveria ser conservada judiciosamente e consumida sábia e eficazmente.
A patrulha do capitão Robin Edwards encontrou problemas desde o início. Enquanto se movimentavam através das montanhas, logo ficou claro que o rádio-operador estava sofrendo de intoxicação alimentar ficando incapaz de manter o passo. Assim, o alvorecer encontrou os homens do SAS muito afastados de sua destinação, sendo forçados a tomar cobertura durante o dia num par de velhos sangars inimigos, posições de combate feitas de pedras empilhadas sobre o terreno rochoso que não permitia a escavação. Mas quis o destino que o local fosse descoberto por um pastor de cabras, num incidente assustadoramente similar ao problema encontrado pela turma SAS Bravo Dois-Zero durante a Primeira Guerra do Golfo. Nativos locais foram alertados e avançaram para o cenário de todas as direções, resultando num dia inteiro de trocas de tiros entre os jihadistas e os homens do SAS. Os soldados economizaram cada cartucho, atirando cuidadosamente.
Apoio aéreo, na foma de aeronaves "Hawker-Hunter" de ataque terrestre da Real Força Aérea (RAF), vieram em socorro da patrulha durante o dia e suprimiram os nativos. Enquanto a escuridão caía, no entanto, o apoio aéreo foi incapaz de ser mantido. Já então, o rádio-operador tinha sido morto; todos os homens estavam feridos em um grau ou outro, alguns severamente, já que, nas rochas do sangar, mesmo as balas perdidas de fuzil os borrifavam com fragmentos de rocha e chumbo.
Sabendo que os rebeldes tentariam avassalar a patrulha sob o manto da noite, o capitão Edwards liderou uma ruptura e a fuga da patrulha do SAS na escuridão. Ele foi morto na tentativa, enquanto os nativos, ao verem sua presa escapando, lançaram-se atrás da patrulha. Os sete sobreviventes feridos conseguiram abrir caminho de volta as linhas sob controle britânico através de terreno proibitivo. Um rastreador árabe e três outros nativos foram detectados seguindo a trilha da patrulha, e dois homens do SAS ficaram para trás, pegando os árabes numa emboscada improvisada, abatendo todos os quatro com seus L1A1s. Mais tarde na noite, outro par de guerrilheiro encontrou e seguiu a patrulha; eles foram mortos numa repetição da primeira emboscadda.
Eventualmente, após o surgir do dia, os maltratados e ensangüentados sobreviventes foram encontrados por um carro blindado britânico, que levou os dois mais severamente feridos de volta à base, enquanto os últimos cinco marchavam para casa. Apesar do longo tormento, do dia inteiro de troca de tiros e duas emboscadas, nenhum dos homens tinha ficado sem munição. As baixas entre o inimigo foram desconhecidas, mas devem ter sido bem extensas. Que um grupo tão pequeno sobrevivesse, afinal de contas, em meio de muitas centenas de guerrilheiros raivosos foi espantoso.
Embora a maioria da patrulha sobrevivesse a este épico encontro, qualquer satisfação foi maculada quando os rebeldes profanaram os corpos do capitão e do rádio-operador, desfilando pelas ruas, exibindo as cabeças cortadas deles.
Não se pode deixar de comparar a Patrulha Edwards com um incidente mais recente, em setembro de 2006. A Força-Tarefa 31, consistindo de uma companhia de comandos afegãos treinados pelas Forças Especiais americanas, todos dotados com armas de tiro automático, foi engajada num tiroteio com insurgentes. Depois de apenas 20 minutos, eles tinham consumido quase toda sua munição e foram forçados a romper contato para ressuprimento por helicóptero. (Helicópteros nem sempre poderão estar à disposição para um pedido de ressuprimento de munição, no entanto; algo que os britânicos descobriram nas Falklands.)
Bob Cashner - "The FN FAL Battle Rifle", Osprey, 2013.
A Patrulha Edwards, em abril de 1964, envolveu nove homens da Tropa 3 do SAS infiltrando-se nas montanhas ocupadas pelo inimigo para sinalizar uma zona de lançamento para um desembarque dos paraquedistas no meio do quintal dos rebeldes, supostamente seguro. Obter o equilíbrio correto entre mobilidade e poder de fogo sempre é um problema lancinante para a infantaria. Nas áridas vastidões desérticas do íngreme, escaldante Radfan, água era uma necessidade vital ainda mais importante do que balas. Com a água pesando 3,6 Kg por galão, cada homem tinha de carregar aproximadamente 7,3 Kg desta preciosa comodidade.
Já que os relatórios da inteligência insistiam na improbabilidade de que a patrulha encontrasse muita resistência inimiga sendo capaz de passar pelos rebeldes sem engajar em qualquer combate de verdade, o peso foi economizado na parte da munição. Cada homem transportava quatro carregadores de munição 7,62 x 51 mm (80 cartuchos) para seus fuzis L1A1, mais uma bandoleira de 50 cartuchos do mesmo calibre em sua mochila, tanto quanto alguma munição extra de calibre .303 pol para a única metralhadora leve Bren da patrulha. Foi salientado que a munição deveria ser conservada judiciosamente e consumida sábia e eficazmente.
A patrulha do capitão Robin Edwards encontrou problemas desde o início. Enquanto se movimentavam através das montanhas, logo ficou claro que o rádio-operador estava sofrendo de intoxicação alimentar ficando incapaz de manter o passo. Assim, o alvorecer encontrou os homens do SAS muito afastados de sua destinação, sendo forçados a tomar cobertura durante o dia num par de velhos sangars inimigos, posições de combate feitas de pedras empilhadas sobre o terreno rochoso que não permitia a escavação. Mas quis o destino que o local fosse descoberto por um pastor de cabras, num incidente assustadoramente similar ao problema encontrado pela turma SAS Bravo Dois-Zero durante a Primeira Guerra do Golfo. Nativos locais foram alertados e avançaram para o cenário de todas as direções, resultando num dia inteiro de trocas de tiros entre os jihadistas e os homens do SAS. Os soldados economizaram cada cartucho, atirando cuidadosamente.
Apoio aéreo, na foma de aeronaves "Hawker-Hunter" de ataque terrestre da Real Força Aérea (RAF), vieram em socorro da patrulha durante o dia e suprimiram os nativos. Enquanto a escuridão caía, no entanto, o apoio aéreo foi incapaz de ser mantido. Já então, o rádio-operador tinha sido morto; todos os homens estavam feridos em um grau ou outro, alguns severamente, já que, nas rochas do sangar, mesmo as balas perdidas de fuzil os borrifavam com fragmentos de rocha e chumbo.
Sabendo que os rebeldes tentariam avassalar a patrulha sob o manto da noite, o capitão Edwards liderou uma ruptura e a fuga da patrulha do SAS na escuridão. Ele foi morto na tentativa, enquanto os nativos, ao verem sua presa escapando, lançaram-se atrás da patrulha. Os sete sobreviventes feridos conseguiram abrir caminho de volta as linhas sob controle britânico através de terreno proibitivo. Um rastreador árabe e três outros nativos foram detectados seguindo a trilha da patrulha, e dois homens do SAS ficaram para trás, pegando os árabes numa emboscada improvisada, abatendo todos os quatro com seus L1A1s. Mais tarde na noite, outro par de guerrilheiro encontrou e seguiu a patrulha; eles foram mortos numa repetição da primeira emboscadda.
Eventualmente, após o surgir do dia, os maltratados e ensangüentados sobreviventes foram encontrados por um carro blindado britânico, que levou os dois mais severamente feridos de volta à base, enquanto os últimos cinco marchavam para casa. Apesar do longo tormento, do dia inteiro de troca de tiros e duas emboscadas, nenhum dos homens tinha ficado sem munição. As baixas entre o inimigo foram desconhecidas, mas devem ter sido bem extensas. Que um grupo tão pequeno sobrevivesse, afinal de contas, em meio de muitas centenas de guerrilheiros raivosos foi espantoso.
Embora a maioria da patrulha sobrevivesse a este épico encontro, qualquer satisfação foi maculada quando os rebeldes profanaram os corpos do capitão e do rádio-operador, desfilando pelas ruas, exibindo as cabeças cortadas deles.
Não se pode deixar de comparar a Patrulha Edwards com um incidente mais recente, em setembro de 2006. A Força-Tarefa 31, consistindo de uma companhia de comandos afegãos treinados pelas Forças Especiais americanas, todos dotados com armas de tiro automático, foi engajada num tiroteio com insurgentes. Depois de apenas 20 minutos, eles tinham consumido quase toda sua munição e foram forçados a romper contato para ressuprimento por helicóptero. (Helicópteros nem sempre poderão estar à disposição para um pedido de ressuprimento de munição, no entanto; algo que os britânicos descobriram nas Falklands.)
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Re: Frações de Infantaria
ADESTRAMENTO DE BATALHA E O EXÉRCITO BRITÂNICO NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
Tenente-coronel Lionel Wigram.
Caro brigadeiro,
Como solicitado estou anexando um relatório das lições da campanha na Sicília como elas se mostraram para mim. Como você sabe, devido à gentileza do comandante divisionário, foi-me permitido chegar na Sicília como observador no começo da campanha, subseqüentemente sendo reincorporado na 78ª Divisão em sua chegada. Como resultado disto fui capaz de ver cerca de oito ou nove diferentes batalhões em ação, estudando e comparando seus diferentes métodos. Também tive a possibilidade de encontrar um número muito grande de antigos estudantes do Castelo Barnard, de todas as patentes. Pude discutir todos os pontos que apresento abaixo com um grande número de oficiais com considerável experiência em batalha, descobrindo que há uma concordância geral. Como sabe, também devendo-se às fortunas da guerra, vi-me em diferentes momentos comandando uma seção, um pelotão, uma companhia e finalmente um batalhão, e assim fui capaz de conseguir experiência de primeira mão sobre muitas das questões às quais me refiro.
1. ATAQUE POR INFILTRAÇÃO.
Os alemães, indubitavelmente, de certo modo obtiveram um sucesso decisivo na Sicília. Eles puderam evacuar suas forças quase intactas, tendo sofrido muito poucas baixas em mortos e feridos. Eles infligiram-nos pesadas baixas. Todos ficamos irritados com o resultado, e também com o nosso desempenho.
Por que isso aconteceu? Pode-se escutar por todo lado que o terreno é montanhoso e difícil e, portanto, ideal para a defesa, impossível para o ataque.
Na minha visão esta é uma impressão completamente errônea do terreno. É verdade que ele é montanhoso mas ele é fechado em toda parte. Cada colina é coberta com oliveiras, plantações etc, e acrescentando-se o sistema de irrigação por fossos profundos. muros de pedra altos e grande número de fossos e wadis [riachos secos], tornando o terreno perfeito para infiltração individual. Foi bem fácil para os alemães defenderem-se mantendo uma cortina muito rala de metralhadoras e postos de observação (PO) de artilharia e morteiros situados na crista reversa das colinas, obtendo magnifícos campos de tiro cruzados, tanto de dia quanto de noite. Se atacávamos tais posições frontalmente, mesmo com apoio de artilharia pesada, caíamos direto em suas mãos. Eles mantinham sua cortina até o último momento, infligindo pesadas baixas, então, quando nosso ataque prosseguia, eles se retiravam para assumir uma outra posição na retaguarda. Então descobriamos, invariavelmente, que o inimigo havia sumido, e o pequeno número de cadáveres encontrado e o pequeno número de prisioneiros tomado contavam a história.
No meu modo de pensar não colocamos em prática, em nosso treinamento, as lições aprendidas na Batalha da França e, mais especialmente, nas batalhas da Malaia contra os japoneses. Na Malaia nossa própria posição era muito similar a esta dos alemães na Sicília. Nós tínhamos preparado nossa retirada, de colina em colina, esperando que os japoneses nos atacassem. Eles não fizeram nada do tipo. Empregando grupos minúsculos de soldados especialistas, armados com submetralhadoras e metralhadoras eles se infiltraram através da cobertura da noite, sozinhos e aos pares, sendo capazes, todo amanhecer, de estabelecerem bloqueios de estrada em nossa retaguarda para alvejar nossos transportes e comunicações, destruir nossos POs e fiação telefônica, desorganizando-nos de tal forma que éramos compelidos a retirar-nos em desordem, de posição em posição, sem sequer avistarmos o inimigo: seus soldados que executaram este trabalho sofreram muito poucas baixas.
Eu penso que a chave para o nosso futuro sucesso nas próximas batalhas da Europa repousará na organização de forças similares. A partir de agora os alemães travarão uma série de batalhas de retaguarda seja lá aonde ocorrerem. Se cada batalhão puder produzir um ou dois pelotões treinados, eu sugiro, para trabalhar em trios, cada grupo de três portando uma metralhadora e uma submetralhadora, e preparado para trabalhar inteiramente por sua própria conta, o problema seria solucionado. Tão logo o contato for realizado, esses soldados seriam enviados ao escurecer e estariam em posição por trás do inimigo ao raiar o dia. Isto invariavelmente compeliria o inimigo a retirar-se.
Faria os seguintes reparos concernentes a estas sugestões:
(1) Estou convencido que temos sido excessivamente ambiciosos ao tentarmos ensinar cada soldado a arte da infiltração. Mesmo fanáticos como os japoneses e alemães descobriram que somente uns poucos homens podem ser confiados para fazerem este trabalho, e eles sempre tem o deixado para especialistas. É um ideal impossível esperar treinar o Exército como um todo para ele.
(2) Mesmo assim, nossos homens podem fazer este trabalho. Por exemplo, o batalhão que atualmente comando. O QG do batalhão em Rivoglia, estava sendo constantemente ameaçado por tocaieiros e metralhadores inimigos, ocultos em rochas e árvores no sopé do Monte Etna. Eu enviei um jovem comandante de pelotão para lidar com o assunto. Ele, primeiramente, tentou usar seu pelotão inteiro, mas, subseqüentemente, selecionou quatro homens e com eles travou uma batalha individual de infiltração contra os alemães, que durou o dia todo. O resultado da batalha foi o que se segue:
- Nossas baixas, nenhuma. Os alemães: três mortos com certeza, seis prisioneiros tomados. Equipamento alemão capturado: duas metralhadoras pesadas e grandes quantidades de equipamento de tocaieiros. Eu vi estes homens quando retornaram, eles disseram que estavam muito assustados de início, mas com o passar do dia e tendo percebido os maus atiradores que os alemães eram, eles obtiveram uma sensação de superioridade e no fim estavam muito satisfeitos consigo mesmo.
Eu penso que todo pelotão pode encontrar uns poucos homens como estes.
(3) Todas as evidências apontam para o fato de que os alemães, em momento nenhum na Sicília, se retiraram seguindo um calendário determinado, mas sob pressão. Não há caso registrado deles permanecendo para lutar até a última bala e o último homem. Eles sempre saíam tão logo fossem realmente ameaçados, e o moral destes capturados era decididamente baixo. Isto reforça minha visão de que eles poderiam ser forçados a sair ainda mais rápidamente se atacados da retaguarda (ou simplesmente ameaçados de ataque na retaguarda).
(4) Diversas vezes tem sido sugerido que o mesmo objetivo poderia ser atingido ao infiltrar-se batalhões inteiros rumo à retaguarda. Pode ser assim, mas eu não penso que isto seria quase sempre tão bem sucedido e resultaria em pesadas baixas já que os alemães sempre protegem seus flancos com metralhadoras e POs de artilharia. Eu não penso que até mesmo uma companhia ou um pelotão poderia fazer isso com sucesso, exceto em terreno muito favorável.
(5) Até termos estes pequenos grupos treinados não acho que os comandantes tenham qualquer opção exceto continuar os custosos métodos atuais. A questão é apenas de treinamento e estou certo de que tomaria apenas uns poucos dias. Eu gostaria muito de ter a oportunidade de treinar e organizar uma força deste tipo. Há todo o tipo de pequenas questões - camuflagem, administração, comunicações etc.
2. ATAQUE - ADESTRAMENTO DE BATALHA.
Minha preocupação principal era ver a aplicação do Adestramento de Batalha em combate e eu o vi muito de perto. Cheguei à conclusão de que numerosas revisões são necessárias se queremos lidar com a realidade.
Nada há de errado com o Adestramento de Batalha na teoria, mas ele pressupõe que você tenha uma equipe de pelotão no qual cada homem seja bravo bastante e experiente bastante para fazer o que lhe for dito. Naturalmente na prática você não tem nada disso. Provavelmente metade do pelotão realmente entende meticulosamente o Adestramento de Batalha, e como demonstrarei abaixo, em qualquer caso um bom número de homens no pelotão não merece confiança. Portanto, cheguei à conclusão de que o Adestramento de Batalha como atualmente ensinado, é um treinamento muito útil, e dará resultados de primeira classe quando aplicado por batalhões regulares que o tenham praticado por muitos meses, mas precisamos de alguma coisa muito mais simples para esta guerra.
Primeiro de tudo quero descrever como os pelotões estão lutando no momento. Os ataques são cuidadosamente preparados, os soldados vão adiante debaixo de concentrações ou de uma barragem de artilharia. Quando a barragem é suspensa, o inimigo (se ainda não desapareceu) abre fogo com suas metralhadoras e é aqui que a luta do pelotão começa, e aqui que o próprio combate é perdido ou vencido.
Em casos muito raros, os comandantes de pelotão e companhia aplicaram algum tipo de Adestramento de Batalha para tirar de ação essas metralhadoras inimigas. Onde fizeram isso, eles invariavelmente obtiveram sucesso em tomar a posição com muito poucas baixas.
Mas, na grande maioria dos casos, nenhuma espécie de Adestramento de Batalha é utilizado. Nenhuma tentativa é feita de Fogo e Movimento. As posições são tomadas por aquilo que eu chamo de "Fibra e Movimento".
O combate desenrola-se mais ou menos assim:
As metralhadoras inimigas abrem fogo, o pelotão inteiro se deita, exceto o comandante e três ou quatro homens de fibra. Cinco ou seis homens começam a seguir a trilha de volta, enquanto os homens de fibra sob o comandante de pelotão rumam direto para a posição inimiga sem qualquer fogo de cobertura e sempre tendo sucesso em tomar a posição. Em alguns casos, algumas posições são tomadas por tão pouco quanto dois homens, e todo comandante de batalhão confirmará que é sempre o mesmo grupo de nove ou dez que são os primeiros, e de quem depende o combate.
Eu pessoalmente vi este método de ataque ser utilizado em todos, exceto um, dos combates nos quais tomei parte, e isto explica um dos mistérios que nunca fui capaz de resolver antes - que é o ditado de muitos soldados experimentados de que "você nunca deve permitir que os homens fiquem deitados em combate".
Este método de ataque é peculiarmente britânico e do ponto de vista da coragem pura, realmente não tem igual. No entanto, estou convencido de que podemos achar outros e melhores métodos e faço as seguintes observações:
(1) Alguns comandantes dizem que este método é bem-sucedido com poucas baixas. Isto é verdade se você fala de baixas em quantidade, mas está longe de ser verdade se você falar de baixas em qualidade. O pelotão em ação tem, quase invariavelmente, uma força de vinte e dois homens. E seja qual for o regimento, bom ou mau, todo pelotão pode ser analisado como se segue:
Cerca de seis homens de fibra que irão à qualquer lugar e farão qualquer coisa; cerca de doze "ovelhas" que seguirão a uma curta distância atrás, se forem bem liderados e cerca de seis a nove homens que fugirão.
Tenho discutido estes números com muita gente e todos concordam, embora haja alguma leve discordância sobre valores. Estes são mais ou menos precisos como demonstrado pelo número de cortes-marciais por fugas que ocorrem toda campanha. Cada batalhão tem entre quarenta ou sessenta e há, naturalmente, muitos outros que não são pegos.
Olhando estes números vê-se que o grupo que não pode ser poupado é o grupo dos homens de fibra, e eu diria mais ainda que as baixas neste grupo são, com freqüência de 100 porcento mensais. Precisamos encontrar um método de luta que seja mais econômico.
(2) O Adestramento de Batalha ou Fogo e Movimento não é aplicado porque em seu atual formato é complicado demais, e pressupõe que uma seção de fuzileiros [GC], ao ser ordenada fazer algo, o fará, enquanto na realidade, como os números de pelotão acima demonstram, ela provavelmente fará pouco ou nada.
O que precisamos é de um Adestramento de Batalha extremamente simples que leve em consideração o fato de que há apenas entre seis e nove homens no pelotão que são absolutamente confiáveis para fazerem o que lhes for mandado fazer debaixo de fogo inimigo.
Minha sugestão de adestramento é o seguinte:
(a) Ataque noturno por trás de barragem ou concentrações de artilharia. (o golpe padronizado mais comumente empregado até aqui).
O pelotão de vinte e dois homens [três seções e uma peça de morteiro] é dividido como se segue:
1º destacamento - Todos os fuzileiros [três grupos, um por seção] sob o comandante de pelotão.
2º destacamento - Os três grupos [um por seção] de metralhadora leve Bren (três homens por grupo) comandados pelo sargento de pelotão.
3º destacamento - A peça de morteiro 2 pol segue na retaguarda do 1º destacamento.
Os líderes dos três destacamentos acima absorvem três dos homens de confiança no pelotão. Os outros três atuarão como subcomandantes para assumirem se o líder for morto ou ferido.
O método de movimento é simples já que o pelotão é manobrado como uma seção. O destacamento de fuzileiros estará numa bem estreita formação noturna (patrulha). Isto é essencial para garantir que ninguém se desgarre. Os grupos Bren estarão numa formação similar e os dois destacamentos se movimentarão lado a lado (de preferência com os grupos Bren um pouco à retaguarda) com uma brecha variável entre eles (de acordo com a visibilidade entre os dois destacamentos). A peça de morteiro 2 pol mantém-se a uma distância variável à retaguarda do destacamento de fuzileiros.
Tão logo a barragem for suspensa e o destacamento de fuzileiros for alvejado, ele vai para o chão. O sargento de pelotão (que realmente merece confiança) imediatamente coloca suas três Bren Guns em ação, atirando contra as metralhadoras inimigas. Isto invariavelmente silenciará as armas do inimigo por alguns momentos. Eu fiz observações particularmente cuidadosas sobre este aspecto e o conferi com um grande número de comandantes de pelotão. Tão logo nossas metralhadoras abrem fogo, os alemães (que estarão sempre utilizando traçantes) páram. Eu penso que eles fazem isto ou porque são nervosos ou de modo a observarem nosso fogo. Eles sempre permanecem quietos até acabarmos, então, após uma pausa, eles abrem fogo novamente. Ninguém quase nunca vê ou escuta Spandaus e Bren Guns disparando juntas ao mesmo tempo. Sempre é uma seguida pela outra. Mesmo fogo impreciso de nossas Bren Guns aquietará as Spandaus até acabarmos de atirar.
Tão logo as Bren Guns tenham aquietado as metralhadoras inimigas, o comandante de pelotão se levantará, persuadindo o restante dos fuzileiros a fazer o mesmo, liderando-os direto para a posição inimiga sob cobertura do fogo das Bren Guns. Ele pode determinar que o morteiro dispare uma ou duas bombas, se necessário. Ele quase sempre será capaz de alcançar a posição inimiga num único lanço, já que os alemães, via de regra, contém seu fogo (particularmente à noite) até que nos aproximemos. Se o comandante não puder chegar num único lanço, ele liderará seus homens adiante, para cobertura, abrirá fogo com seu morteiro 2 pol e adiantará suas Bren Guns desta maneira. Isto complicará a operação mas raramente será necessário.
(b) Ataque diurno com concentrações de artilharia.
Mesmo método de agrupamento, mas os destacamentos movem-se muito mais dispersos. Se o movimento à frente é através de terreno provavelmente coberto pelo inimigo, o comandante de pelotão, antes de se movimentar, determina ao sargento de pelotão que posicione seus grupos Bren e o pelotão avança por meio de Fogo e Movimento, manobrado como uma seção em todos os aspectos.
(c) Ataque diurno, pequeno combate sem concentrações de artilharia pesada. (por exemplo, uma única companhia enviada para tomar uma elevação).
Todos os pelotões na companhia serão organizados como sugerido acima, e o pelotão de ponta avançará como descrito em (b).
Se o pelotão de ponta cair sob fogo de mais de uma metralhadora inimiga será considerado como aferrado e o comandante de companhia desdobrará o restante da subunidade ao redor de qual dos flancos oferecer melhor cobertura. Essa espécie de combate exigirá o máximo em habilidade de infantaria e deverá ser praticada em casa, pois imagino que será necessária com freqüência.
NOTAS: Há ainda outra vantagem prática em grupar as Bren Guns. Em terreno íngreme, a velocidade da Bren Gun é de longe diferente daquela dos fuzileiros. Como resultado de que, quase sempre quando os fuzileiros caem debaixo de fogo, sempre há uma gritaria frenética pelas Bren Gun que, invariavelmente, se encontram muito distantes na retaguarda. Com o sistema advogado, o comandante de pelotão pode observar o progresso das Bren Gun de forma a não perder o contato com elas. Pode-se argumentar que os comandantes de seção seriam capazes de fazer isto, mas de fato não são capazes, não.
O trabalho de equipe entre o comandante de pelotão e o sargento de pelotão tem cerca de dez vezes mais chances de ser bem-sucedido do que o trabalho de equipe entre as seções - este é meu forte argumento para este adestramento muito simples.
3. INOCULAÇÃO DE BATALHA.
As Escolas de Batalha não se aprofundaram o bastante neste importante assunto e perderam o grande ponto dele.
Mesmo soldados que estiveram em numerosos combate são incapazes de distinguir entre fogo de Bren Gun e Spandau, entre o silvo de nossos próprios obuses e aqueles do inimigo. Eles se jogam ao chão tão logo surja qualquer ruído de tiros, embora não sejam dirigidos a eles. Com freqüência, isso desorganiza um combate inteiro, especialmente à noite.
Os comandantes retornam para procurar seus homens, mas estes estão sentados no fundo de profundos buracos e os comandantes não podem achá-los e, por causa do barulho, os homens não respondem quando chamados. Este problema dos oficiais e graduados perdendo todos ou parcela substancial de seus homens em ataques noturnos é muito real e aconteceu em todos os batalhões que estive, em um momento ou outro. Soldados provenientes da retaguarda, p.ex., transporte, canhões antitanque etc, que recebiam ordens de avançar para a consolidação ao raiar do dia, eram particularmente ruins - freqüentemente houve consideráveis atrasos devido ao simples barulho de tiros.
É justo dizer que parece acontecer a mesma coisa com os alemães. O barulho dos tiros os mantém quietos por um tempo muito longo.
(a) Eu sugiro que em todas as Escolas de Batalha deva ser adorada a seguinte divindade, Inoculação de Batalha. Todo estudante escutará o ruído da Bren Gun; Spandau; Schmeiser e Tommy Gun.
(b) Homens avançando receberão primeiro fogo não direcionado contra eles, então direcionado por cima deles, de forma que adquiram habilidade suficiente para saberem se estão ou não sendo alvejados.
(c) Precisa ser inculcado sobre os homens, todo dia, que eles têm de aprender a diferença entre o simples ruído do combate e o fogo dirigido contra eles. Eles têm de aprender a continuar avançando tão rápido quanto possível apesar de qualquer ruído, enquanto eles próprios não sejam o alvo.
(...)
6. TREINAMENTO EM CASA.
Meu objetivo principal foi obter cuidadosas notas em primeira mão de combates reais com mapas, cópias de ordens, detalhes, história de eventos de forma que nossas Escolas de Treinamento em casa possam basear seu adestramento sobre a realidade. Em guardei notas bem completas de todos os combates que presenciei, e sinto que tais combates podem ser praticados em casa sobre terreno similar e as lições serem aprendidas com uma precisão que não foi possível obter no passado. Penso que a campanha na Sicília realmente tem sido ideal de um ponto de vista do treinamento. Tivemos todo tipo de combate - o avanço para o contato, o ataque deliberado em grande escala, o combate de pelotão e companhia, a perseguição e mesmo a missão de proteção de flanco. Além disso, fomos capazes de estudar, em detalhes, os métodos alemães de conduzir uma ação de retaguarda.
7. PONTOS DIVERSOS.
(1) Valor da Fumaça
A fumaça foi pouco utilizada na campanha, eu acho que poderia ter sido usada em maior quantidade. Ela foi usada com muito sucesso na Batalha de Rivoglia por sua brigada como sabe.
(2) Atraindo Fogo.
Se o alemão vê um tanque ou alguma fumaça ele sempre atira com tudo que tem. Isso nos dá duas possibilidades muito úteis:
a) Uma distração.
b) Localizar suas posições.
Eu tentei ambas as idéias com sucesso. Elas são velhas lições mas dignas de repetição.
(...)
(6) LOB [Left Out of Battle, prática britânica para preservar uma futura espinha dorsal a fim de reconstituir uma unidade eventualmente dizimada em combate]
Seja lá o que se diz sobre isso em casa, o fato é que um batalhão deixa um certo núcleo fora da batalha.
Este, normalmente, compreende o subcomandante do batalhão, os de cada companhia e cerca de seis graduados ou praças por pelotão. Esta prática também deveria ser reconhecida em casa e os batalhões manobrados em treinamento menos tais percentagens.
O tamanho da seção deveria ser aumentado, se possível, para permitir isso, já que o presente tamanho foi determinado sob a suposição de que não haveria LOB algum.
(7) Pânico e Histeria.
Quando começa um forte bombardeio de artilharia ou morteiros, não é incomum encontrar alguns homens, aqui e acolá, perdendo completamente o controle e começando a fugir. Esses homens, invariavelmente, são conhecidos de antemão. Suas ações, freqüentemente, podem ter o mais desmoralizador dos efeitos em todo o pelotão, que de outro modo se comportaria muito bem.
Eu costumava pensar que o certo era fazer camaradas como esses entrarem em combate e tomarem seu remédio igual a todo mundo, mas agora estou bem certo que isso foi um erro. Eles são perigosos demais e podem provocar muitos danos.
Quase todo batalhão agora chegou a esta conclusão. Eles sabem que tem, digamos, vinte homens que definitivamente não são confiáveis e os deixam desde o início de fora do combate. Isto terá o efeito de reduzir grandemente o número de cortes-marciais nesta campanha, mas realmente não resolveu o problema. Eu penso que um comandante de batalhão deveria ser capaz de se livrar de homens como esses, simplesmente certificando que, em sua opinião "X" não é adequado para a luta de infantaria na linha de frente.
(...)
8. LEVANDO AS LIÇÕES PARA CASA.
O comandante divisionário concordou em permitir-me (sujeito às dificuldades de transporte) utilizar o presente intervalo para retornar por uns poucos dias e explicar a lições e colocar o treinamento, tanto na África do Norte e na Inglaterra em linha. Seria muita gentileza sua apresentar-me seus próprios comentários francos sobre o escrito acima com pontos adicionais, de forma que eu possa estar bem assegurado de que realmente estamos treinando sobre as linhas certas.
Sempre seu,
L. Wigram, Ten-Cel,
Comandante do 5º Buffs [5º Batalhão do Real Regimento de East Kent), 36ª Brigada,
CMF [Forças do Mediterrâneo Central]
Em Campanha, 16 de agosto de 1943.
___________________________
(*) Este relatório desagradou os superiores, especialmente o marechal Montgomery e o Ten-Cel Wigram acabou exonerado. Ele morreria em combate na Itália, em fevereiro de 1944, enquanto comandava uma força combinada de britânicos e aliados italianos.
Tenente-coronel Lionel Wigram.
Caro brigadeiro,
Como solicitado estou anexando um relatório das lições da campanha na Sicília como elas se mostraram para mim. Como você sabe, devido à gentileza do comandante divisionário, foi-me permitido chegar na Sicília como observador no começo da campanha, subseqüentemente sendo reincorporado na 78ª Divisão em sua chegada. Como resultado disto fui capaz de ver cerca de oito ou nove diferentes batalhões em ação, estudando e comparando seus diferentes métodos. Também tive a possibilidade de encontrar um número muito grande de antigos estudantes do Castelo Barnard, de todas as patentes. Pude discutir todos os pontos que apresento abaixo com um grande número de oficiais com considerável experiência em batalha, descobrindo que há uma concordância geral. Como sabe, também devendo-se às fortunas da guerra, vi-me em diferentes momentos comandando uma seção, um pelotão, uma companhia e finalmente um batalhão, e assim fui capaz de conseguir experiência de primeira mão sobre muitas das questões às quais me refiro.
1. ATAQUE POR INFILTRAÇÃO.
Os alemães, indubitavelmente, de certo modo obtiveram um sucesso decisivo na Sicília. Eles puderam evacuar suas forças quase intactas, tendo sofrido muito poucas baixas em mortos e feridos. Eles infligiram-nos pesadas baixas. Todos ficamos irritados com o resultado, e também com o nosso desempenho.
Por que isso aconteceu? Pode-se escutar por todo lado que o terreno é montanhoso e difícil e, portanto, ideal para a defesa, impossível para o ataque.
Na minha visão esta é uma impressão completamente errônea do terreno. É verdade que ele é montanhoso mas ele é fechado em toda parte. Cada colina é coberta com oliveiras, plantações etc, e acrescentando-se o sistema de irrigação por fossos profundos. muros de pedra altos e grande número de fossos e wadis [riachos secos], tornando o terreno perfeito para infiltração individual. Foi bem fácil para os alemães defenderem-se mantendo uma cortina muito rala de metralhadoras e postos de observação (PO) de artilharia e morteiros situados na crista reversa das colinas, obtendo magnifícos campos de tiro cruzados, tanto de dia quanto de noite. Se atacávamos tais posições frontalmente, mesmo com apoio de artilharia pesada, caíamos direto em suas mãos. Eles mantinham sua cortina até o último momento, infligindo pesadas baixas, então, quando nosso ataque prosseguia, eles se retiravam para assumir uma outra posição na retaguarda. Então descobriamos, invariavelmente, que o inimigo havia sumido, e o pequeno número de cadáveres encontrado e o pequeno número de prisioneiros tomado contavam a história.
No meu modo de pensar não colocamos em prática, em nosso treinamento, as lições aprendidas na Batalha da França e, mais especialmente, nas batalhas da Malaia contra os japoneses. Na Malaia nossa própria posição era muito similar a esta dos alemães na Sicília. Nós tínhamos preparado nossa retirada, de colina em colina, esperando que os japoneses nos atacassem. Eles não fizeram nada do tipo. Empregando grupos minúsculos de soldados especialistas, armados com submetralhadoras e metralhadoras eles se infiltraram através da cobertura da noite, sozinhos e aos pares, sendo capazes, todo amanhecer, de estabelecerem bloqueios de estrada em nossa retaguarda para alvejar nossos transportes e comunicações, destruir nossos POs e fiação telefônica, desorganizando-nos de tal forma que éramos compelidos a retirar-nos em desordem, de posição em posição, sem sequer avistarmos o inimigo: seus soldados que executaram este trabalho sofreram muito poucas baixas.
Eu penso que a chave para o nosso futuro sucesso nas próximas batalhas da Europa repousará na organização de forças similares. A partir de agora os alemães travarão uma série de batalhas de retaguarda seja lá aonde ocorrerem. Se cada batalhão puder produzir um ou dois pelotões treinados, eu sugiro, para trabalhar em trios, cada grupo de três portando uma metralhadora e uma submetralhadora, e preparado para trabalhar inteiramente por sua própria conta, o problema seria solucionado. Tão logo o contato for realizado, esses soldados seriam enviados ao escurecer e estariam em posição por trás do inimigo ao raiar o dia. Isto invariavelmente compeliria o inimigo a retirar-se.
Faria os seguintes reparos concernentes a estas sugestões:
(1) Estou convencido que temos sido excessivamente ambiciosos ao tentarmos ensinar cada soldado a arte da infiltração. Mesmo fanáticos como os japoneses e alemães descobriram que somente uns poucos homens podem ser confiados para fazerem este trabalho, e eles sempre tem o deixado para especialistas. É um ideal impossível esperar treinar o Exército como um todo para ele.
(2) Mesmo assim, nossos homens podem fazer este trabalho. Por exemplo, o batalhão que atualmente comando. O QG do batalhão em Rivoglia, estava sendo constantemente ameaçado por tocaieiros e metralhadores inimigos, ocultos em rochas e árvores no sopé do Monte Etna. Eu enviei um jovem comandante de pelotão para lidar com o assunto. Ele, primeiramente, tentou usar seu pelotão inteiro, mas, subseqüentemente, selecionou quatro homens e com eles travou uma batalha individual de infiltração contra os alemães, que durou o dia todo. O resultado da batalha foi o que se segue:
- Nossas baixas, nenhuma. Os alemães: três mortos com certeza, seis prisioneiros tomados. Equipamento alemão capturado: duas metralhadoras pesadas e grandes quantidades de equipamento de tocaieiros. Eu vi estes homens quando retornaram, eles disseram que estavam muito assustados de início, mas com o passar do dia e tendo percebido os maus atiradores que os alemães eram, eles obtiveram uma sensação de superioridade e no fim estavam muito satisfeitos consigo mesmo.
Eu penso que todo pelotão pode encontrar uns poucos homens como estes.
(3) Todas as evidências apontam para o fato de que os alemães, em momento nenhum na Sicília, se retiraram seguindo um calendário determinado, mas sob pressão. Não há caso registrado deles permanecendo para lutar até a última bala e o último homem. Eles sempre saíam tão logo fossem realmente ameaçados, e o moral destes capturados era decididamente baixo. Isto reforça minha visão de que eles poderiam ser forçados a sair ainda mais rápidamente se atacados da retaguarda (ou simplesmente ameaçados de ataque na retaguarda).
(4) Diversas vezes tem sido sugerido que o mesmo objetivo poderia ser atingido ao infiltrar-se batalhões inteiros rumo à retaguarda. Pode ser assim, mas eu não penso que isto seria quase sempre tão bem sucedido e resultaria em pesadas baixas já que os alemães sempre protegem seus flancos com metralhadoras e POs de artilharia. Eu não penso que até mesmo uma companhia ou um pelotão poderia fazer isso com sucesso, exceto em terreno muito favorável.
(5) Até termos estes pequenos grupos treinados não acho que os comandantes tenham qualquer opção exceto continuar os custosos métodos atuais. A questão é apenas de treinamento e estou certo de que tomaria apenas uns poucos dias. Eu gostaria muito de ter a oportunidade de treinar e organizar uma força deste tipo. Há todo o tipo de pequenas questões - camuflagem, administração, comunicações etc.
2. ATAQUE - ADESTRAMENTO DE BATALHA.
Minha preocupação principal era ver a aplicação do Adestramento de Batalha em combate e eu o vi muito de perto. Cheguei à conclusão de que numerosas revisões são necessárias se queremos lidar com a realidade.
Nada há de errado com o Adestramento de Batalha na teoria, mas ele pressupõe que você tenha uma equipe de pelotão no qual cada homem seja bravo bastante e experiente bastante para fazer o que lhe for dito. Naturalmente na prática você não tem nada disso. Provavelmente metade do pelotão realmente entende meticulosamente o Adestramento de Batalha, e como demonstrarei abaixo, em qualquer caso um bom número de homens no pelotão não merece confiança. Portanto, cheguei à conclusão de que o Adestramento de Batalha como atualmente ensinado, é um treinamento muito útil, e dará resultados de primeira classe quando aplicado por batalhões regulares que o tenham praticado por muitos meses, mas precisamos de alguma coisa muito mais simples para esta guerra.
Primeiro de tudo quero descrever como os pelotões estão lutando no momento. Os ataques são cuidadosamente preparados, os soldados vão adiante debaixo de concentrações ou de uma barragem de artilharia. Quando a barragem é suspensa, o inimigo (se ainda não desapareceu) abre fogo com suas metralhadoras e é aqui que a luta do pelotão começa, e aqui que o próprio combate é perdido ou vencido.
Em casos muito raros, os comandantes de pelotão e companhia aplicaram algum tipo de Adestramento de Batalha para tirar de ação essas metralhadoras inimigas. Onde fizeram isso, eles invariavelmente obtiveram sucesso em tomar a posição com muito poucas baixas.
Mas, na grande maioria dos casos, nenhuma espécie de Adestramento de Batalha é utilizado. Nenhuma tentativa é feita de Fogo e Movimento. As posições são tomadas por aquilo que eu chamo de "Fibra e Movimento".
O combate desenrola-se mais ou menos assim:
As metralhadoras inimigas abrem fogo, o pelotão inteiro se deita, exceto o comandante e três ou quatro homens de fibra. Cinco ou seis homens começam a seguir a trilha de volta, enquanto os homens de fibra sob o comandante de pelotão rumam direto para a posição inimiga sem qualquer fogo de cobertura e sempre tendo sucesso em tomar a posição. Em alguns casos, algumas posições são tomadas por tão pouco quanto dois homens, e todo comandante de batalhão confirmará que é sempre o mesmo grupo de nove ou dez que são os primeiros, e de quem depende o combate.
Eu pessoalmente vi este método de ataque ser utilizado em todos, exceto um, dos combates nos quais tomei parte, e isto explica um dos mistérios que nunca fui capaz de resolver antes - que é o ditado de muitos soldados experimentados de que "você nunca deve permitir que os homens fiquem deitados em combate".
Este método de ataque é peculiarmente britânico e do ponto de vista da coragem pura, realmente não tem igual. No entanto, estou convencido de que podemos achar outros e melhores métodos e faço as seguintes observações:
(1) Alguns comandantes dizem que este método é bem-sucedido com poucas baixas. Isto é verdade se você fala de baixas em quantidade, mas está longe de ser verdade se você falar de baixas em qualidade. O pelotão em ação tem, quase invariavelmente, uma força de vinte e dois homens. E seja qual for o regimento, bom ou mau, todo pelotão pode ser analisado como se segue:
Cerca de seis homens de fibra que irão à qualquer lugar e farão qualquer coisa; cerca de doze "ovelhas" que seguirão a uma curta distância atrás, se forem bem liderados e cerca de seis a nove homens que fugirão.
Tenho discutido estes números com muita gente e todos concordam, embora haja alguma leve discordância sobre valores. Estes são mais ou menos precisos como demonstrado pelo número de cortes-marciais por fugas que ocorrem toda campanha. Cada batalhão tem entre quarenta ou sessenta e há, naturalmente, muitos outros que não são pegos.
Olhando estes números vê-se que o grupo que não pode ser poupado é o grupo dos homens de fibra, e eu diria mais ainda que as baixas neste grupo são, com freqüência de 100 porcento mensais. Precisamos encontrar um método de luta que seja mais econômico.
(2) O Adestramento de Batalha ou Fogo e Movimento não é aplicado porque em seu atual formato é complicado demais, e pressupõe que uma seção de fuzileiros [GC], ao ser ordenada fazer algo, o fará, enquanto na realidade, como os números de pelotão acima demonstram, ela provavelmente fará pouco ou nada.
O que precisamos é de um Adestramento de Batalha extremamente simples que leve em consideração o fato de que há apenas entre seis e nove homens no pelotão que são absolutamente confiáveis para fazerem o que lhes for mandado fazer debaixo de fogo inimigo.
Minha sugestão de adestramento é o seguinte:
(a) Ataque noturno por trás de barragem ou concentrações de artilharia. (o golpe padronizado mais comumente empregado até aqui).
O pelotão de vinte e dois homens [três seções e uma peça de morteiro] é dividido como se segue:
1º destacamento - Todos os fuzileiros [três grupos, um por seção] sob o comandante de pelotão.
2º destacamento - Os três grupos [um por seção] de metralhadora leve Bren (três homens por grupo) comandados pelo sargento de pelotão.
3º destacamento - A peça de morteiro 2 pol segue na retaguarda do 1º destacamento.
Os líderes dos três destacamentos acima absorvem três dos homens de confiança no pelotão. Os outros três atuarão como subcomandantes para assumirem se o líder for morto ou ferido.
O método de movimento é simples já que o pelotão é manobrado como uma seção. O destacamento de fuzileiros estará numa bem estreita formação noturna (patrulha). Isto é essencial para garantir que ninguém se desgarre. Os grupos Bren estarão numa formação similar e os dois destacamentos se movimentarão lado a lado (de preferência com os grupos Bren um pouco à retaguarda) com uma brecha variável entre eles (de acordo com a visibilidade entre os dois destacamentos). A peça de morteiro 2 pol mantém-se a uma distância variável à retaguarda do destacamento de fuzileiros.
Tão logo a barragem for suspensa e o destacamento de fuzileiros for alvejado, ele vai para o chão. O sargento de pelotão (que realmente merece confiança) imediatamente coloca suas três Bren Guns em ação, atirando contra as metralhadoras inimigas. Isto invariavelmente silenciará as armas do inimigo por alguns momentos. Eu fiz observações particularmente cuidadosas sobre este aspecto e o conferi com um grande número de comandantes de pelotão. Tão logo nossas metralhadoras abrem fogo, os alemães (que estarão sempre utilizando traçantes) páram. Eu penso que eles fazem isto ou porque são nervosos ou de modo a observarem nosso fogo. Eles sempre permanecem quietos até acabarmos, então, após uma pausa, eles abrem fogo novamente. Ninguém quase nunca vê ou escuta Spandaus e Bren Guns disparando juntas ao mesmo tempo. Sempre é uma seguida pela outra. Mesmo fogo impreciso de nossas Bren Guns aquietará as Spandaus até acabarmos de atirar.
Tão logo as Bren Guns tenham aquietado as metralhadoras inimigas, o comandante de pelotão se levantará, persuadindo o restante dos fuzileiros a fazer o mesmo, liderando-os direto para a posição inimiga sob cobertura do fogo das Bren Guns. Ele pode determinar que o morteiro dispare uma ou duas bombas, se necessário. Ele quase sempre será capaz de alcançar a posição inimiga num único lanço, já que os alemães, via de regra, contém seu fogo (particularmente à noite) até que nos aproximemos. Se o comandante não puder chegar num único lanço, ele liderará seus homens adiante, para cobertura, abrirá fogo com seu morteiro 2 pol e adiantará suas Bren Guns desta maneira. Isto complicará a operação mas raramente será necessário.
(b) Ataque diurno com concentrações de artilharia.
Mesmo método de agrupamento, mas os destacamentos movem-se muito mais dispersos. Se o movimento à frente é através de terreno provavelmente coberto pelo inimigo, o comandante de pelotão, antes de se movimentar, determina ao sargento de pelotão que posicione seus grupos Bren e o pelotão avança por meio de Fogo e Movimento, manobrado como uma seção em todos os aspectos.
(c) Ataque diurno, pequeno combate sem concentrações de artilharia pesada. (por exemplo, uma única companhia enviada para tomar uma elevação).
Todos os pelotões na companhia serão organizados como sugerido acima, e o pelotão de ponta avançará como descrito em (b).
Se o pelotão de ponta cair sob fogo de mais de uma metralhadora inimiga será considerado como aferrado e o comandante de companhia desdobrará o restante da subunidade ao redor de qual dos flancos oferecer melhor cobertura. Essa espécie de combate exigirá o máximo em habilidade de infantaria e deverá ser praticada em casa, pois imagino que será necessária com freqüência.
NOTAS: Há ainda outra vantagem prática em grupar as Bren Guns. Em terreno íngreme, a velocidade da Bren Gun é de longe diferente daquela dos fuzileiros. Como resultado de que, quase sempre quando os fuzileiros caem debaixo de fogo, sempre há uma gritaria frenética pelas Bren Gun que, invariavelmente, se encontram muito distantes na retaguarda. Com o sistema advogado, o comandante de pelotão pode observar o progresso das Bren Gun de forma a não perder o contato com elas. Pode-se argumentar que os comandantes de seção seriam capazes de fazer isto, mas de fato não são capazes, não.
O trabalho de equipe entre o comandante de pelotão e o sargento de pelotão tem cerca de dez vezes mais chances de ser bem-sucedido do que o trabalho de equipe entre as seções - este é meu forte argumento para este adestramento muito simples.
3. INOCULAÇÃO DE BATALHA.
As Escolas de Batalha não se aprofundaram o bastante neste importante assunto e perderam o grande ponto dele.
Mesmo soldados que estiveram em numerosos combate são incapazes de distinguir entre fogo de Bren Gun e Spandau, entre o silvo de nossos próprios obuses e aqueles do inimigo. Eles se jogam ao chão tão logo surja qualquer ruído de tiros, embora não sejam dirigidos a eles. Com freqüência, isso desorganiza um combate inteiro, especialmente à noite.
Os comandantes retornam para procurar seus homens, mas estes estão sentados no fundo de profundos buracos e os comandantes não podem achá-los e, por causa do barulho, os homens não respondem quando chamados. Este problema dos oficiais e graduados perdendo todos ou parcela substancial de seus homens em ataques noturnos é muito real e aconteceu em todos os batalhões que estive, em um momento ou outro. Soldados provenientes da retaguarda, p.ex., transporte, canhões antitanque etc, que recebiam ordens de avançar para a consolidação ao raiar do dia, eram particularmente ruins - freqüentemente houve consideráveis atrasos devido ao simples barulho de tiros.
É justo dizer que parece acontecer a mesma coisa com os alemães. O barulho dos tiros os mantém quietos por um tempo muito longo.
(a) Eu sugiro que em todas as Escolas de Batalha deva ser adorada a seguinte divindade, Inoculação de Batalha. Todo estudante escutará o ruído da Bren Gun; Spandau; Schmeiser e Tommy Gun.
(b) Homens avançando receberão primeiro fogo não direcionado contra eles, então direcionado por cima deles, de forma que adquiram habilidade suficiente para saberem se estão ou não sendo alvejados.
(c) Precisa ser inculcado sobre os homens, todo dia, que eles têm de aprender a diferença entre o simples ruído do combate e o fogo dirigido contra eles. Eles têm de aprender a continuar avançando tão rápido quanto possível apesar de qualquer ruído, enquanto eles próprios não sejam o alvo.
(...)
6. TREINAMENTO EM CASA.
Meu objetivo principal foi obter cuidadosas notas em primeira mão de combates reais com mapas, cópias de ordens, detalhes, história de eventos de forma que nossas Escolas de Treinamento em casa possam basear seu adestramento sobre a realidade. Em guardei notas bem completas de todos os combates que presenciei, e sinto que tais combates podem ser praticados em casa sobre terreno similar e as lições serem aprendidas com uma precisão que não foi possível obter no passado. Penso que a campanha na Sicília realmente tem sido ideal de um ponto de vista do treinamento. Tivemos todo tipo de combate - o avanço para o contato, o ataque deliberado em grande escala, o combate de pelotão e companhia, a perseguição e mesmo a missão de proteção de flanco. Além disso, fomos capazes de estudar, em detalhes, os métodos alemães de conduzir uma ação de retaguarda.
7. PONTOS DIVERSOS.
(1) Valor da Fumaça
A fumaça foi pouco utilizada na campanha, eu acho que poderia ter sido usada em maior quantidade. Ela foi usada com muito sucesso na Batalha de Rivoglia por sua brigada como sabe.
(2) Atraindo Fogo.
Se o alemão vê um tanque ou alguma fumaça ele sempre atira com tudo que tem. Isso nos dá duas possibilidades muito úteis:
a) Uma distração.
b) Localizar suas posições.
Eu tentei ambas as idéias com sucesso. Elas são velhas lições mas dignas de repetição.
(...)
(6) LOB [Left Out of Battle, prática britânica para preservar uma futura espinha dorsal a fim de reconstituir uma unidade eventualmente dizimada em combate]
Seja lá o que se diz sobre isso em casa, o fato é que um batalhão deixa um certo núcleo fora da batalha.
Este, normalmente, compreende o subcomandante do batalhão, os de cada companhia e cerca de seis graduados ou praças por pelotão. Esta prática também deveria ser reconhecida em casa e os batalhões manobrados em treinamento menos tais percentagens.
O tamanho da seção deveria ser aumentado, se possível, para permitir isso, já que o presente tamanho foi determinado sob a suposição de que não haveria LOB algum.
(7) Pânico e Histeria.
Quando começa um forte bombardeio de artilharia ou morteiros, não é incomum encontrar alguns homens, aqui e acolá, perdendo completamente o controle e começando a fugir. Esses homens, invariavelmente, são conhecidos de antemão. Suas ações, freqüentemente, podem ter o mais desmoralizador dos efeitos em todo o pelotão, que de outro modo se comportaria muito bem.
Eu costumava pensar que o certo era fazer camaradas como esses entrarem em combate e tomarem seu remédio igual a todo mundo, mas agora estou bem certo que isso foi um erro. Eles são perigosos demais e podem provocar muitos danos.
Quase todo batalhão agora chegou a esta conclusão. Eles sabem que tem, digamos, vinte homens que definitivamente não são confiáveis e os deixam desde o início de fora do combate. Isto terá o efeito de reduzir grandemente o número de cortes-marciais nesta campanha, mas realmente não resolveu o problema. Eu penso que um comandante de batalhão deveria ser capaz de se livrar de homens como esses, simplesmente certificando que, em sua opinião "X" não é adequado para a luta de infantaria na linha de frente.
(...)
8. LEVANDO AS LIÇÕES PARA CASA.
O comandante divisionário concordou em permitir-me (sujeito às dificuldades de transporte) utilizar o presente intervalo para retornar por uns poucos dias e explicar a lições e colocar o treinamento, tanto na África do Norte e na Inglaterra em linha. Seria muita gentileza sua apresentar-me seus próprios comentários francos sobre o escrito acima com pontos adicionais, de forma que eu possa estar bem assegurado de que realmente estamos treinando sobre as linhas certas.
Sempre seu,
L. Wigram, Ten-Cel,
Comandante do 5º Buffs [5º Batalhão do Real Regimento de East Kent), 36ª Brigada,
CMF [Forças do Mediterrâneo Central]
Em Campanha, 16 de agosto de 1943.
___________________________
(*) Este relatório desagradou os superiores, especialmente o marechal Montgomery e o Ten-Cel Wigram acabou exonerado. Ele morreria em combate na Itália, em fevereiro de 1944, enquanto comandava uma força combinada de britânicos e aliados italianos.
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Re: Frações de Infantaria
Pergunta de leigo (e desmemoriado por idade avançada e alcool em demasia): Não teria o sugerido acima já ter sido colocado antes em prática em alguma escala na mesma época pelos Chindits na Birmânia e anteriormente pelos Sikhs e o Long Range Desert Group no Norte da África, famosos por sua eficácia em combater por trás das linhas inimigas?Clermont escreveu:ADESTRAMENTO DE BATALHA E O EXÉRCITO BRITÂNICO NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
Tenente-coronel Lionel Wigram.
Caro brigadeiro,
Como solicitado estou anexando um relatório das lições da campanha na Sicília como elas se mostraram para mim. Como você sabe, devido à gentileza do comandante divisionário, foi-me permitido chegar na Sicília como observador no começo da campanha, subseqüentemente sendo reincorporado na 78ª Divisão em sua chegada. Como resultado disto fui capaz de ver cerca de oito ou nove diferentes batalhões em ação, estudando e comparando seus diferentes métodos. Também tive a possibilidade de encontrar um número muito grande de antigos estudantes do Castelo Barnard, de todas as patentes. Pude discutir todos os pontos que apresento abaixo com um grande número de oficiais com considerável experiência em batalha, descobrindo que há uma concordância geral. Como sabe, também devendo-se às fortunas da guerra, vi-me em diferentes momentos comandando uma seção, um pelotão, uma companhia e finalmente um batalhão, e assim fui capaz de conseguir experiência de primeira mão sobre muitas das questões às quais me refiro.
1. ATAQUE POR INFILTRAÇÃO.
Os alemães, indubitavelmente, de certo modo obtiveram um sucesso decisivo na Sicília. Eles puderam evacuar suas forças quase intactas, tendo sofrido muito poucas baixas em mortos e feridos. Eles infligiram-nos pesadas baixas. Todos ficamos irritados com o resultado, e também com o nosso desempenho.
Por que isso aconteceu? Pode-se escutar por todo lado que o terreno é montanhoso e difícil e, portanto, ideal para a defesa, impossível para o ataque.
Na minha visão esta é uma impressão completamente errônea do terreno. É verdade que ele é montanhoso mas ele é fechado em toda parte. Cada colina é coberta com oliveiras, plantações etc, e acrescentando-se o sistema de irrigação por fossos profundos. muros de pedra altos e grande número de fossos e wadis [riachos secos], tornando o terreno perfeito para infiltração individual. Foi bem fácil para os alemães defenderem-se mantendo uma cortina muito rala de metralhadoras e postos de observação (PO) de artilharia e morteiros situados na crista reversa das colinas, obtendo magnifícos campos de tiro cruzados, tanto de dia quanto de noite. Se atacávamos tais posições frontalmente, mesmo com apoio de artilharia pesada, caíamos direto em suas mãos. Eles mantinham sua cortina até o último momento, infligindo pesadas baixas, então, quando nosso ataque prosseguia, eles se retiravam para assumir uma outra posição na retaguarda. Então descobriamos, invariavelmente, que o inimigo havia sumido, e o pequeno número de cadáveres encontrado e o pequeno número de prisioneiros tomado contavam a história.
No meu modo de pensar não colocamos em prática, em nosso treinamento, as lições aprendidas na Batalha da França e, mais especialmente, nas batalhas da Malaia contra os japoneses. Na Malaia nossa própria posição era muito similar a esta dos alemães na Sicília. Nós tínhamos preparado nossa retirada, de colina em colina, esperando que os japoneses nos atacassem. Eles não fizeram nada do tipo. Empregando grupos minúsculos de soldados especialistas, armados com submetralhadoras e metralhadoras eles se infiltraram através da cobertura da noite, sozinhos e aos pares, sendo capazes, todo amanhecer, de estabelecerem bloqueios de estrada em nossa retaguarda para alvejar nossos transportes e comunicações, destruir nossos POs e fiação telefônica, desorganizando-nos de tal forma que éramos compelidos a retirar-nos em desordem, de posição em posição, sem sequer avistarmos o inimigo: seus soldados que executaram este trabalho sofreram muito poucas baixas.
Eu penso que a chave para o nosso futuro sucesso nas próximas batalhas da Europa repousará na organização de forças similares. A partir de agora os alemães travarão uma série de batalhas de retaguarda seja lá aonde ocorrerem. Se cada batalhão puder produzir um ou dois pelotões treinados, eu sugiro, para trabalhar em trios, cada grupo de três portando uma metralhadora e uma submetralhadora, e preparado para trabalhar inteiramente por sua própria conta, o problema seria solucionado. Tão logo o contato for realizado, esses soldados seriam enviados ao escurecer e estariam em posição por trás do inimigo ao raiar o dia. Isto invariavelmente compeliria o inimigo a retirar-se.
Faria os seguintes reparos concernentes a estas sugestões:
(1) Estou convencido que temos sido excessivamente ambiciosos ao tentarmos ensinar cada soldado a arte da infiltração. Mesmo fanáticos como os japoneses e alemães descobriram que somente uns poucos homens podem ser confiados para fazerem este trabalho, e eles sempre tem o deixado para especialistas. É um ideal impossível esperar treinar o Exército como um todo para ele.
(2) Mesmo assim, nossos homens podem fazer este trabalho. Por exemplo, o batalhão que atualmente comando. O QG do batalhão em Rivoglia, estava sendo constantemente ameaçado por tocaieiros e metralhadores inimigos, ocultos em rochas e árvores no sopé do Monte Etna. Eu enviei um jovem comandante de pelotão para lidar com o assunto. Ele, primeiramente, tentou usar seu pelotão inteiro, mas, subseqüentemente, selecionou quatro homens e com eles travou uma batalha individual de infiltração contra os alemães, que durou o dia todo. O resultado da batalha foi o que se segue:
- Nossas baixas, nenhuma. Os alemães: três mortos com certeza, seis prisioneiros tomados. Equipamento alemão capturado: duas metralhadoras pesadas e grandes quantidades de equipamento de tocaieiros. Eu vi estes homens quando retornaram, eles disseram que estavam muito assustados de início, mas com o passar do dia e tendo percebido os maus atiradores que os alemães eram, eles obtiveram uma sensação de superioridade e no fim estavam muito satisfeitos consigo mesmo.
Eu penso que todo pelotão pode encontrar uns poucos homens como estes.
(3) Todas as evidências apontam para o fato de que os alemães, em momento nenhum na Sicília, se retiraram seguindo um calendário determinado, mas sob pressão. Não há caso registrado deles permanecendo para lutar até a última bala e o último homem. Eles sempre saíam tão logo fossem realmente ameaçados, e o moral destes capturados era decididamente baixo. Isto reforça minha visão de que eles poderiam ser forçados a sair ainda mais rápidamente se atacados da retaguarda (ou simplesmente ameaçados de ataque na retaguarda).
(4) Diversas vezes tem sido sugerido que o mesmo objetivo poderia ser atingido ao infiltrar-se batalhões inteiros rumo à retaguarda. Pode ser assim, mas eu não penso que isto seria quase sempre tão bem sucedido e resultaria em pesadas baixas já que os alemães sempre protegem seus flancos com metralhadoras e POs de artilharia. Eu não penso que até mesmo uma companhia ou um pelotão poderia fazer isso com sucesso, exceto em terreno muito favorável.
(5) Até termos estes pequenos grupos treinados não acho que os comandantes tenham qualquer opção exceto continuar os custosos métodos atuais. A questão é apenas de treinamento e estou certo de que tomaria apenas uns poucos dias. Eu gostaria muito de ter a oportunidade de treinar e organizar uma força deste tipo. Há todo o tipo de pequenas questões - camuflagem, administração, comunicações etc.
2. ATAQUE - ADESTRAMENTO DE BATALHA.
Minha preocupação principal era ver a aplicação do Adestramento de Batalha em combate e eu o vi muito de perto. Cheguei à conclusão de que numerosas revisões são necessárias se queremos lidar com a realidade.
Nada há de errado com o Adestramento de Batalha na teoria, mas ele pressupõe que você tenha uma equipe de pelotão no qual cada homem seja bravo bastante e experiente bastante para fazer o que lhe for dito. Naturalmente na prática você não tem nada disso. Provavelmente metade do pelotão realmente entende meticulosamente o Adestramento de Batalha, e como demonstrarei abaixo, em qualquer caso um bom número de homens no pelotão não merece confiança. Portanto, cheguei à conclusão de que o Adestramento de Batalha como atualmente ensinado, é um treinamento muito útil, e dará resultados de primeira classe quando aplicado por batalhões regulares que o tenham praticado por muitos meses, mas precisamos de alguma coisa muito mais simples para esta guerra.
Primeiro de tudo quero descrever como os pelotões estão lutando no momento. Os ataques são cuidadosamente preparados, os soldados vão adiante debaixo de concentrações ou de uma barragem de artilharia. Quando a barragem é suspensa, o inimigo (se ainda não desapareceu) abre fogo com suas metralhadoras e é aqui que a luta do pelotão começa, e aqui que o próprio combate é perdido ou vencido.
Em casos muito raros, os comandantes de pelotão e companhia aplicaram algum tipo de Adestramento de Batalha para tirar de ação essas metralhadoras inimigas. Onde fizeram isso, eles invariavelmente obtiveram sucesso em tomar a posição com muito poucas baixas.
Mas, na grande maioria dos casos, nenhuma espécie de Adestramento de Batalha é utilizado. Nenhuma tentativa é feita de Fogo e Movimento. As posições são tomadas por aquilo que eu chamo de "Fibra e Movimento".
O combate desenrola-se mais ou menos assim:
As metralhadoras inimigas abrem fogo, o pelotão inteiro se deita, exceto o comandante e três ou quatro homens de fibra. Cinco ou seis homens começam a seguir a trilha de volta, enquanto os homens de fibra sob o comandante de pelotão rumam direto para a posição inimiga sem qualquer fogo de cobertura e sempre tendo sucesso em tomar a posição. Em alguns casos, algumas posições são tomadas por tão pouco quanto dois homens, e todo comandante de batalhão confirmará que é sempre o mesmo grupo de nove ou dez que são os primeiros, e de quem depende o combate.
Eu pessoalmente vi este método de ataque ser utilizado em todos, exceto um, dos combates nos quais tomei parte, e isto explica um dos mistérios que nunca fui capaz de resolver antes - que é o ditado de muitos soldados experimentados de que "você nunca deve permitir que os homens fiquem deitados em combate".
Este método de ataque é peculiarmente britânico e do ponto de vista da coragem pura, realmente não tem igual. No entanto, estou convencido de que podemos achar outros e melhores métodos e faço as seguintes observações:
(1) Alguns comandantes dizem que este método é bem-sucedido com poucas baixas. Isto é verdade se você fala de baixas em quantidade, mas está longe de ser verdade se você falar de baixas em qualidade. O pelotão em ação tem, quase invariavelmente, uma força de vinte e dois homens. E seja qual for o regimento, bom ou mau, todo pelotão pode ser analisado como se segue:
Cerca de seis homens de fibra que irão à qualquer lugar e farão qualquer coisa; cerca de doze "ovelhas" que seguirão a uma curta distância atrás, se forem bem liderados e cerca de seis a nove homens que fugirão.
Tenho discutido estes números com muita gente e todos concordam, embora haja alguma leve discordância sobre valores. Estes são mais ou menos precisos como demonstrado pelo número de cortes-marciais por fugas que ocorrem toda campanha. Cada batalhão tem entre quarenta ou sessenta e há, naturalmente, muitos outros que não são pegos.
Olhando estes números vê-se que o grupo que não pode ser poupado é o grupo dos homens de fibra, e eu diria mais ainda que as baixas neste grupo são, com freqüência de 100 porcento mensais. Precisamos encontrar um método de luta que seja mais econômico.
(2) O Adestramento de Batalha ou Fogo e Movimento não é aplicado porque em seu atual formato é complicado demais, e pressupõe que uma seção de fuzileiros [GC], ao ser ordenada fazer algo, o fará, enquanto na realidade, como os números de pelotão acima demonstram, ela provavelmente fará pouco ou nada.
O que precisamos é de um Adestramento de Batalha extremamente simples que leve em consideração o fato de que há apenas entre seis e nove homens no pelotão que são absolutamente confiáveis para fazerem o que lhes for mandado fazer debaixo de fogo inimigo.
Minha sugestão de adestramento é o seguinte:
(a) Ataque noturno por trás de barragem ou concentrações de artilharia. (o golpe padronizado mais comumente empregado até aqui).
O pelotão de vinte e dois homens [três seções e uma peça de morteiro] é dividido como se segue:
1º destacamento - Todos os fuzileiros [três grupos, um por seção] sob o comandante de pelotão.
2º destacamento - Os três grupos [um por seção] de metralhadora leve Bren (três homens por grupo) comandados pelo sargento de pelotão.
3º destacamento - A peça de morteiro 2 pol segue na retaguarda do 1º destacamento.
Os líderes dos três destacamentos acima absorvem três dos homens de confiança no pelotão. Os outros três atuarão como subcomandantes para assumirem se o líder for morto ou ferido.
O método de movimento é simples já que o pelotão é manobrado como uma seção. O destacamento de fuzileiros estará numa bem estreita formação noturna (patrulha). Isto é essencial para garantir que ninguém se desgarre. Os grupos Bren estarão numa formação similar e os dois destacamentos se movimentarão lado a lado (de preferência com os grupos Bren um pouco à retaguarda) com uma brecha variável entre eles (de acordo com a visibilidade entre os dois destacamentos). A peça de morteiro 2 pol mantém-se a uma distância variável à retaguarda do destacamento de fuzileiros.
Tão logo a barragem for suspensa e o destacamento de fuzileiros for alvejado, ele vai para o chão. O sargento de pelotão (que realmente merece confiança) imediatamente coloca suas três Bren Guns em ação, atirando contra as metralhadoras inimigas. Isto invariavelmente silenciará as armas do inimigo por alguns momentos. Eu fiz observações particularmente cuidadosas sobre este aspecto e o conferi com um grande número de comandantes de pelotão. Tão logo nossas metralhadoras abrem fogo, os alemães (que estarão sempre utilizando traçantes) páram. Eu penso que eles fazem isto ou porque são nervosos ou de modo a observarem nosso fogo. Eles sempre permanecem quietos até acabarmos, então, após uma pausa, eles abrem fogo novamente. Ninguém quase nunca vê ou escuta Spandaus e Bren Guns disparando juntas ao mesmo tempo. Sempre é uma seguida pela outra. Mesmo fogo impreciso de nossas Bren Guns aquietará as Spandaus até acabarmos de atirar.
Tão logo as Bren Guns tenham aquietado as metralhadoras inimigas, o comandante de pelotão se levantará, persuadindo o restante dos fuzileiros a fazer o mesmo, liderando-os direto para a posição inimiga sob cobertura do fogo das Bren Guns. Ele pode determinar que o morteiro dispare uma ou duas bombas, se necessário. Ele quase sempre será capaz de alcançar a posição inimiga num único lanço, já que os alemães, via de regra, contém seu fogo (particularmente à noite) até que nos aproximemos. Se o comandante não puder chegar num único lanço, ele liderará seus homens adiante, para cobertura, abrirá fogo com seu morteiro 2 pol e adiantará suas Bren Guns desta maneira. Isto complicará a operação mas raramente será necessário.
(b) Ataque diurno com concentrações de artilharia.
Mesmo método de agrupamento, mas os destacamentos movem-se muito mais dispersos. Se o movimento à frente é através de terreno provavelmente coberto pelo inimigo, o comandante de pelotão, antes de se movimentar, determina ao sargento de pelotão que posicione seus grupos Bren e o pelotão avança por meio de Fogo e Movimento, manobrado como uma seção em todos os aspectos.
(c) Ataque diurno, pequeno combate sem concentrações de artilharia pesada. (por exemplo, uma única companhia enviada para tomar uma elevação).
Todos os pelotões na companhia serão organizados como sugerido acima, e o pelotão de ponta avançará como descrito em (b).
Se o pelotão de ponta cair sob fogo de mais de uma metralhadora inimiga será considerado como aferrado e o comandante de companhia desdobrará o restante da subunidade ao redor de qual dos flancos oferecer melhor cobertura. Essa espécie de combate exigirá o máximo em habilidade de infantaria e deverá ser praticada em casa, pois imagino que será necessária com freqüência.
NOTAS: Há ainda outra vantagem prática em grupar as Bren Guns. Em terreno íngreme, a velocidade da Bren Gun é de longe diferente daquela dos fuzileiros. Como resultado de que, quase sempre quando os fuzileiros caem debaixo de fogo, sempre há uma gritaria frenética pelas Bren Gun que, invariavelmente, se encontram muito distantes na retaguarda. Com o sistema advogado, o comandante de pelotão pode observar o progresso das Bren Gun de forma a não perder o contato com elas. Pode-se argumentar que os comandantes de seção seriam capazes de fazer isto, mas de fato não são capazes, não.
O trabalho de equipe entre o comandante de pelotão e o sargento de pelotão tem cerca de dez vezes mais chances de ser bem-sucedido do que o trabalho de equipe entre as seções - este é meu forte argumento para este adestramento muito simples.
3. INOCULAÇÃO DE BATALHA.
As Escolas de Batalha não se aprofundaram o bastante neste importante assunto e perderam o grande ponto dele.
Mesmo soldados que estiveram em numerosos combate são incapazes de distinguir entre fogo de Bren Gun e Spandau, entre o silvo de nossos próprios obuses e aqueles do inimigo. Eles se jogam ao chão tão logo surja qualquer ruído de tiros, embora não sejam dirigidos a eles. Com freqüência, isso desorganiza um combate inteiro, especialmente à noite.
Os comandantes retornam para procurar seus homens, mas estes estão sentados no fundo de profundos buracos e os comandantes não podem achá-los e, por causa do barulho, os homens não respondem quando chamados. Este problema dos oficiais e graduados perdendo todos ou parcela substancial de seus homens em ataques noturnos é muito real e aconteceu em todos os batalhões que estive, em um momento ou outro. Soldados provenientes da retaguarda, p.ex., transporte, canhões antitanque etc, que recebiam ordens de avançar para a consolidação ao raiar do dia, eram particularmente ruins - freqüentemente houve consideráveis atrasos devido ao simples barulho de tiros.
É justo dizer que parece acontecer a mesma coisa com os alemães. O barulho dos tiros os mantém quietos por um tempo muito longo.
(a) Eu sugiro que em todas as Escolas de Batalha deva ser adorada a seguinte divindade, Inoculação de Batalha. Todo estudante escutará o ruído da Bren Gun; Spandau; Schmeiser e Tommy Gun.
(b) Homens avançando receberão primeiro fogo não direcionado contra eles, então direcionado por cima deles, de forma que adquiram habilidade suficiente para saberem se estão ou não sendo alvejados.
(c) Precisa ser inculcado sobre os homens, todo dia, que eles têm de aprender a diferença entre o simples ruído do combate e o fogo dirigido contra eles. Eles têm de aprender a continuar avançando tão rápido quanto possível apesar de qualquer ruído, enquanto eles próprios não sejam o alvo.
(...)
6. TREINAMENTO EM CASA.
Meu objetivo principal foi obter cuidadosas notas em primeira mão de combates reais com mapas, cópias de ordens, detalhes, história de eventos de forma que nossas Escolas de Treinamento em casa possam basear seu adestramento sobre a realidade. Em guardei notas bem completas de todos os combates que presenciei, e sinto que tais combates podem ser praticados em casa sobre terreno similar e as lições serem aprendidas com uma precisão que não foi possível obter no passado. Penso que a campanha na Sicília realmente tem sido ideal de um ponto de vista do treinamento. Tivemos todo tipo de combate - o avanço para o contato, o ataque deliberado em grande escala, o combate de pelotão e companhia, a perseguição e mesmo a missão de proteção de flanco. Além disso, fomos capazes de estudar, em detalhes, os métodos alemães de conduzir uma ação de retaguarda.
7. PONTOS DIVERSOS.
(1) Valor da Fumaça
A fumaça foi pouco utilizada na campanha, eu acho que poderia ter sido usada em maior quantidade. Ela foi usada com muito sucesso na Batalha de Rivoglia por sua brigada como sabe.
(2) Atraindo Fogo.
Se o alemão vê um tanque ou alguma fumaça ele sempre atira com tudo que tem. Isso nos dá duas possibilidades muito úteis:
a) Uma distração.
b) Localizar suas posições.
Eu tentei ambas as idéias com sucesso. Elas são velhas lições mas dignas de repetição.
(...)
(6) LOB [Left Out of Battle, prática britânica para preservar uma futura espinha dorsal a fim de reconstituir uma unidade eventualmente dizimada em combate]
Seja lá o que se diz sobre isso em casa, o fato é que um batalhão deixa um certo núcleo fora da batalha.
Este, normalmente, compreende o subcomandante do batalhão, os de cada companhia e cerca de seis graduados ou praças por pelotão. Esta prática também deveria ser reconhecida em casa e os batalhões manobrados em treinamento menos tais percentagens.
O tamanho da seção deveria ser aumentado, se possível, para permitir isso, já que o presente tamanho foi determinado sob a suposição de que não haveria LOB algum.
(7) Pânico e Histeria.
Quando começa um forte bombardeio de artilharia ou morteiros, não é incomum encontrar alguns homens, aqui e acolá, perdendo completamente o controle e começando a fugir. Esses homens, invariavelmente, são conhecidos de antemão. Suas ações, freqüentemente, podem ter o mais desmoralizador dos efeitos em todo o pelotão, que de outro modo se comportaria muito bem.
Eu costumava pensar que o certo era fazer camaradas como esses entrarem em combate e tomarem seu remédio igual a todo mundo, mas agora estou bem certo que isso foi um erro. Eles são perigosos demais e podem provocar muitos danos.
Quase todo batalhão agora chegou a esta conclusão. Eles sabem que tem, digamos, vinte homens que definitivamente não são confiáveis e os deixam desde o início de fora do combate. Isto terá o efeito de reduzir grandemente o número de cortes-marciais nesta campanha, mas realmente não resolveu o problema. Eu penso que um comandante de batalhão deveria ser capaz de se livrar de homens como esses, simplesmente certificando que, em sua opinião "X" não é adequado para a luta de infantaria na linha de frente.
(...)
8. LEVANDO AS LIÇÕES PARA CASA.
O comandante divisionário concordou em permitir-me (sujeito às dificuldades de transporte) utilizar o presente intervalo para retornar por uns poucos dias e explicar a lições e colocar o treinamento, tanto na África do Norte e na Inglaterra em linha. Seria muita gentileza sua apresentar-me seus próprios comentários francos sobre o escrito acima com pontos adicionais, de forma que eu possa estar bem assegurado de que realmente estamos treinando sobre as linhas certas.
Sempre seu,
L. Wigram, Ten-Cel,
Comandante do 5º Buffs [5º Batalhão do Real Regimento de East Kent), 36ª Brigada,
CMF [Forças do Mediterrâneo Central]
Em Campanha, 16 de agosto de 1943.
___________________________
(*) Este relatório desagradou os superiores, especialmente o marechal Montgomery e o Ten-Cel Wigram acabou exonerado. Ele morreria em combate na Itália, em fevereiro de 1944, enquanto comandava uma força combinada de britânicos e aliados italianos.
SDS,
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Re: Frações de Infantaria
Resposta de leigo: o autor trabalha apenas com métodos de adestramento da infantaria regular, não com formação de tropas de operações especiais como o LRDG. No entanto, tais métodos como preconizados pelo Ten-Cel Wigram seriam plenamente aplicáveis às ações táticas empreendidas pelos Chindits uma vez desembarcados na retaguarda inimiga.Wingate escreveu:Pergunta de leigo (e desmemoriado por idade avançada e alcool em demasia): Não teria o sugerido acima já ter sido colocado antes em prática em alguma escala na mesma época pelos Chindits na Birmânia e anteriormente pelos Sikhs e o Long Range Desert Group no Norte da África, famosos por sua eficácia em combater por trás das linhas inimigas?
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Re: Frações de Infantaria
Grato ao colega, pelas observações.Clermont escreveu:Resposta de leigo: o autor trabalha apenas com métodos de adestramento da infantaria regular, não com formação de tropas de operações especiais como o LRDG. No entanto, tais métodos como preconizados pelo Ten-Cel Wigram seriam plenamente aplicáveis às ações táticas empreendidas pelos Chindits uma vez desembarcados na retaguarda inimiga.Wingate escreveu:Pergunta de leigo (e desmemoriado por idade avançada e alcool em demasia): Não teria o sugerido acima já ter sido colocado antes em prática em alguma escala na mesma época pelos Chindits na Birmânia e anteriormente pelos Sikhs e o Long Range Desert Group no Norte da África, famosos por sua eficácia em combater por trás das linhas inimigas?
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Força-Tarefa de Infantaria de Mattis: Corrigindo "Um Erro Geracional"
Por Bob Scales, 26 de novembro de 2018
Tradução Filipe do A. Monteiro, 28 de novembro de 2018.
O Major-General reformado Bob Scales é o ex-comandante do Army War College, um veterano do Vietnã (e ganhador da Silver Star por bravura) que se tornou historiador militar e futurista. Ele também é um dos pais da Close Combat Lethality Task Force (Força-Tarefa de Letalidade em Combate Aproximado) do Secretário de Defesa Jim Mattis para reformar a infantaria. Neste artigo, Scales vai para as conquistas da força-tarefa, sua justificativa e as décadas de derramamento de sangue desnecessário que ela busca encerrar. - os editores.
Oito meses atrás, o Secretário de Defesa Jim Mattis criou a Força-Tarefa de Letalidade em Combate Aproximado para corrigir um erro geracional. Ele mesmo um Fuzileiro Naval de infantaria reformado, Mattis entendia que as forças de combate aproximado da América, que consistiam em menos de 4% das pessoas de uniforme, haviam sofrido mais de noventa por cento das mortes americanas desde o final da Segunda Guerra Mundial. Sua intenção: tornar nossas formações de infantaria dominantes nos campos de batalha de amanhã.
A maioria dos esforços para reformar o Pentágono tem como premissa o desenvolvimento e a aquisição de coisas - armas, aviões, navios, mísseis, satélites, tudo a um custo sempre crescente. Mas o combate aproximado exige muito mais do que armamentos superiores. Em sua essência, a luta aproximada é uma experiência exclusivamente humana que combina uma pequena unidade contra outra em um duelo até a morte. A vitória chega ao lado que tem vontade superior, astúcia, inteligência, tenacidade e habilidade nas armas.
Assim, a tecnologia é apenas uma das cinco linhas de esforço da Força-Tarefa. Três outras abraçam os intangíveis da dimensão humana: política de pessoal, treinamento e desempenho humano em combate. A quinta é um esforço de olhar o futuro para alavancar a ciência emergente, ainda como ciência não comprovada - dos novos materiais leves ao desempenho cognitivo - para alcançar vantagens competitivas nos campos de batalha de amanhã.
A principal linha de esforço da Força-Tarefa é dedicada ao recrutamento, seleção, treinamento e aculturação de soldados de infantaria superiores. Não podemos voltar aos dias de “Willie e Joe”, as icônicas caricaturas da Segunda Guerra Mundial de doughboys maltratados e mal treinados. De agora em diante, a infantaria será tratada como uma categoria “excetuada”, uma força separada das outras armas e da burocracia usual de pessoal. Iniciativas que a Força-Tarefa lançou ou está considerando incluem um novo sistema para avaliar os recrutas para os atributos especiais dos soldados de combate aproximado; aumentando o tempo que os líderes gastam em uma pequena unidade específica antes de serem realocados; acrescentando instrução profissional adicional para os graduados de pequena unidade; estender o tempo de treinamento para novos recrutas; bônus seletivos e incentivos para servir nas especializações de combate aproximado e políticas que isentem as unidades de combate aproximado das distrações dos deveres que não são da infantaria.
Então Tenente-General Mattis no Iraque.
O treinamento é crítico: o Secretário Mattis disse que os soldados de infantaria devem lutar “25 batalhas sem derramamento de sangue” antes de verem o primeiro combate. Os métodos tradicionais de treinamento nunca prepararão adequadamente um soldado de combate aproximado para o choque terrível de sua primeira vez sob fogo. Assim, a primeira prioridade da Força-Tarefa é desenvolver simulações de pequenas unidades que reproduzam o choque, a incerteza, o caos e o medo da luta aproximada. A equipe está bem engajada na criação de ambientes virtuais aprimorados por tecnologias de realidade aumentada, imergindo soldados de infantaria dentro de simulações que oferecem a repetição com variação, cenário após cenário estressante com novas surpresas a cada vez, uma experiência de treinamento verdadeiramente transformacional.
A Força-Tarefa dedica-se à premissa de que os soldados de combate aproximado são os atletas finais que, despreparados ou inaptos, podem pagar o derradeiro preço em uma derrota. Assim, a Força-Tarefa dedica-se a replicar um regime de ciência esportiva da NFL, no qual os profissionais de educação física e terapeutas profissionais se tornarão parte integrante do treinamento de uma unidade de combate aproximado.
A pesquisa de desempenho humano para atletas profissionais, pilotos e astronautas percorreu um longo caminho ao longo das últimas décadas. Nem tanto para soldados e Fuzileiros Navais de combate aproximado. Um dos objetivos principais da Força-Tarefa é explorar os avanços recentes na ciência do desempenho, a fim de aumentar a capacidade dos soldados de infantaria de se sobressaírem nas habilidades mortais de combate aproximado. Iniciativas de desempenho humano incluem uma expansão do esforço do Exército para instrumentar totalmente os corpos dos soldados de infantaria com sensores e dispositivos de feedback para rastrear a condição física e psicológica de um soldado em combate. A Equipe está preparando uma série aprimorada de programas semelhantes à iniciativa de saúde e bem-estar do “H2F” do Exército, que otimizará a capacidade dos soldados de se submeterem ao estresse extremo do combate aproximado.
Embora a ciência humana e as políticas de pessoal formem os elementos decisivos da reforma de pequena unidade, as ferramentas do ofício da infantaria ainda são importantes. Duas tecnologias parecem oferecer o maior potencial para alcançar o domínio na luta aproximada:
- Primeiro, por quase meio século, as forças terrestres dos Estados Unidos foram equipadas com armas de pequeno porte, o calibre 5,56 mm, armas de assalto por impingimento de gases da família M-16 / M-4. Uma das principais prioridades da Força-Tarefa tem sido um avanço tecnológico na tecnologia de armas individuais. Os serviços terrestres estão bem avançados no desenvolvimento de uma família de fuzis e metralhadoras da próxima geração que serão capazes de penetrar nas armaduras avançadas dos pares concorrentes em alcances extremos com extraordinária precisão.
- Mas o domínio tecnológico na luta aproximada não é apenas uma função das armas de pequeno porte superiores: a vitória na luta aproximada vai para o lado quem pode ver, sentir e atirar primeiro no inimigo. Assim, a Força-Tarefa dedicou a maior parte de seus esforços a novas tecnologias para dar a um soldado de infantaria do Exército ou dos Fuzileiros Navais um conjunto de óculos digitais, um "Heads Up Display" (Monitor de Alertas, HUD) com visão noturna embutida, dados táticos e direcionamento de mira vinculadas ao sistema de pontaria de sua arma. Essa tecnologia de HUD permitirá que o soldado de infantaria não apenas engaje o inimigo com grande precisão e letalidade, mas também veja uma exibição virtual de informações essenciais de combate, como suspeitas de posições inimigas e a localização de unidades amigas próximas.
Simulador de tiro ao alvo do exército. Tais sistemas podem treinar tarefas específicas mas não o conjunto, habilidades altamente físicas necessárias para o combate de infantaria, e é por isso que o Pentágono está desenvolvendo técnicas mais imersivas de “realidade aumentada".
A comunidade de aquisições pode aprender muito com o sucesso da Força-Tarefa de Letalidade em Combate Aproximado. Desde o início, a Força-Tarefa foi construída em torno de um grupo de oficiais da ativa e reformados e graduados, experientes em combate aproximado, e oficiais não-comissionados. Assim, apenas aqueles com “a pele no jogo” - e não executivos de aquisição - foram transformados nos principais tomadores de decisão nesse empreendimento.
Então, para evitar distrações burocráticas desnecessárias, a Força-Tarefa atende a intenção do ex-Secretário concentrando-se rigorosamente apenas em pequenas unidades de combate aproximado. A carta da Força-Tarefa limitava-se àqueles programas e iniciativas que poderiam ser alcançados dentro de um período determinado, explorando as ciências humanas e ciências materiais existentes. Mais importante ainda, desde o início, a liderança da Força-Tarefa foi dedicada a catalisar um esforço comum entre os serviços terrestres: Exército, Fuzileiros Navais e Operações Especiais.
A lição aprendida até agora é clara. Uma pequena equipe como a Força-Tarefa pode realizar milagres, mesmo no ambiente constritivo e burocraticamente estultificado de hoje - se os líderes do esforço tiverem a pele no jogo e se tiverem o poder de superar os impedimentos das regulamentações e políticas restritivas em sua busca para manter vivos aqueles mais propensos a morrer. O sucesso vem de uma abordagem holística para a reforma que envolve em um único esforço de transformação todos os elementos que garantem a superação em combate: tecnologia, treinamento, políticas, regulamentações e, mais crucialmente, o espírito humano.
Original: https://breakingdefense.com/2018/11/mat ... nX9ZCVxHxE
Essa tradução foi publicada no site Warfare Blog no dia 22 de junho de 2019: https://www.warfareblog.com.br/2019/06/ ... attis.html
Tradução Filipe do A. Monteiro, 28 de novembro de 2018.
O Major-General reformado Bob Scales é o ex-comandante do Army War College, um veterano do Vietnã (e ganhador da Silver Star por bravura) que se tornou historiador militar e futurista. Ele também é um dos pais da Close Combat Lethality Task Force (Força-Tarefa de Letalidade em Combate Aproximado) do Secretário de Defesa Jim Mattis para reformar a infantaria. Neste artigo, Scales vai para as conquistas da força-tarefa, sua justificativa e as décadas de derramamento de sangue desnecessário que ela busca encerrar. - os editores.
Oito meses atrás, o Secretário de Defesa Jim Mattis criou a Força-Tarefa de Letalidade em Combate Aproximado para corrigir um erro geracional. Ele mesmo um Fuzileiro Naval de infantaria reformado, Mattis entendia que as forças de combate aproximado da América, que consistiam em menos de 4% das pessoas de uniforme, haviam sofrido mais de noventa por cento das mortes americanas desde o final da Segunda Guerra Mundial. Sua intenção: tornar nossas formações de infantaria dominantes nos campos de batalha de amanhã.
A maioria dos esforços para reformar o Pentágono tem como premissa o desenvolvimento e a aquisição de coisas - armas, aviões, navios, mísseis, satélites, tudo a um custo sempre crescente. Mas o combate aproximado exige muito mais do que armamentos superiores. Em sua essência, a luta aproximada é uma experiência exclusivamente humana que combina uma pequena unidade contra outra em um duelo até a morte. A vitória chega ao lado que tem vontade superior, astúcia, inteligência, tenacidade e habilidade nas armas.
Assim, a tecnologia é apenas uma das cinco linhas de esforço da Força-Tarefa. Três outras abraçam os intangíveis da dimensão humana: política de pessoal, treinamento e desempenho humano em combate. A quinta é um esforço de olhar o futuro para alavancar a ciência emergente, ainda como ciência não comprovada - dos novos materiais leves ao desempenho cognitivo - para alcançar vantagens competitivas nos campos de batalha de amanhã.
A principal linha de esforço da Força-Tarefa é dedicada ao recrutamento, seleção, treinamento e aculturação de soldados de infantaria superiores. Não podemos voltar aos dias de “Willie e Joe”, as icônicas caricaturas da Segunda Guerra Mundial de doughboys maltratados e mal treinados. De agora em diante, a infantaria será tratada como uma categoria “excetuada”, uma força separada das outras armas e da burocracia usual de pessoal. Iniciativas que a Força-Tarefa lançou ou está considerando incluem um novo sistema para avaliar os recrutas para os atributos especiais dos soldados de combate aproximado; aumentando o tempo que os líderes gastam em uma pequena unidade específica antes de serem realocados; acrescentando instrução profissional adicional para os graduados de pequena unidade; estender o tempo de treinamento para novos recrutas; bônus seletivos e incentivos para servir nas especializações de combate aproximado e políticas que isentem as unidades de combate aproximado das distrações dos deveres que não são da infantaria.
Então Tenente-General Mattis no Iraque.
O treinamento é crítico: o Secretário Mattis disse que os soldados de infantaria devem lutar “25 batalhas sem derramamento de sangue” antes de verem o primeiro combate. Os métodos tradicionais de treinamento nunca prepararão adequadamente um soldado de combate aproximado para o choque terrível de sua primeira vez sob fogo. Assim, a primeira prioridade da Força-Tarefa é desenvolver simulações de pequenas unidades que reproduzam o choque, a incerteza, o caos e o medo da luta aproximada. A equipe está bem engajada na criação de ambientes virtuais aprimorados por tecnologias de realidade aumentada, imergindo soldados de infantaria dentro de simulações que oferecem a repetição com variação, cenário após cenário estressante com novas surpresas a cada vez, uma experiência de treinamento verdadeiramente transformacional.
A Força-Tarefa dedica-se à premissa de que os soldados de combate aproximado são os atletas finais que, despreparados ou inaptos, podem pagar o derradeiro preço em uma derrota. Assim, a Força-Tarefa dedica-se a replicar um regime de ciência esportiva da NFL, no qual os profissionais de educação física e terapeutas profissionais se tornarão parte integrante do treinamento de uma unidade de combate aproximado.
A pesquisa de desempenho humano para atletas profissionais, pilotos e astronautas percorreu um longo caminho ao longo das últimas décadas. Nem tanto para soldados e Fuzileiros Navais de combate aproximado. Um dos objetivos principais da Força-Tarefa é explorar os avanços recentes na ciência do desempenho, a fim de aumentar a capacidade dos soldados de infantaria de se sobressaírem nas habilidades mortais de combate aproximado. Iniciativas de desempenho humano incluem uma expansão do esforço do Exército para instrumentar totalmente os corpos dos soldados de infantaria com sensores e dispositivos de feedback para rastrear a condição física e psicológica de um soldado em combate. A Equipe está preparando uma série aprimorada de programas semelhantes à iniciativa de saúde e bem-estar do “H2F” do Exército, que otimizará a capacidade dos soldados de se submeterem ao estresse extremo do combate aproximado.
Embora a ciência humana e as políticas de pessoal formem os elementos decisivos da reforma de pequena unidade, as ferramentas do ofício da infantaria ainda são importantes. Duas tecnologias parecem oferecer o maior potencial para alcançar o domínio na luta aproximada:
- Primeiro, por quase meio século, as forças terrestres dos Estados Unidos foram equipadas com armas de pequeno porte, o calibre 5,56 mm, armas de assalto por impingimento de gases da família M-16 / M-4. Uma das principais prioridades da Força-Tarefa tem sido um avanço tecnológico na tecnologia de armas individuais. Os serviços terrestres estão bem avançados no desenvolvimento de uma família de fuzis e metralhadoras da próxima geração que serão capazes de penetrar nas armaduras avançadas dos pares concorrentes em alcances extremos com extraordinária precisão.
- Mas o domínio tecnológico na luta aproximada não é apenas uma função das armas de pequeno porte superiores: a vitória na luta aproximada vai para o lado quem pode ver, sentir e atirar primeiro no inimigo. Assim, a Força-Tarefa dedicou a maior parte de seus esforços a novas tecnologias para dar a um soldado de infantaria do Exército ou dos Fuzileiros Navais um conjunto de óculos digitais, um "Heads Up Display" (Monitor de Alertas, HUD) com visão noturna embutida, dados táticos e direcionamento de mira vinculadas ao sistema de pontaria de sua arma. Essa tecnologia de HUD permitirá que o soldado de infantaria não apenas engaje o inimigo com grande precisão e letalidade, mas também veja uma exibição virtual de informações essenciais de combate, como suspeitas de posições inimigas e a localização de unidades amigas próximas.
Simulador de tiro ao alvo do exército. Tais sistemas podem treinar tarefas específicas mas não o conjunto, habilidades altamente físicas necessárias para o combate de infantaria, e é por isso que o Pentágono está desenvolvendo técnicas mais imersivas de “realidade aumentada".
A comunidade de aquisições pode aprender muito com o sucesso da Força-Tarefa de Letalidade em Combate Aproximado. Desde o início, a Força-Tarefa foi construída em torno de um grupo de oficiais da ativa e reformados e graduados, experientes em combate aproximado, e oficiais não-comissionados. Assim, apenas aqueles com “a pele no jogo” - e não executivos de aquisição - foram transformados nos principais tomadores de decisão nesse empreendimento.
Então, para evitar distrações burocráticas desnecessárias, a Força-Tarefa atende a intenção do ex-Secretário concentrando-se rigorosamente apenas em pequenas unidades de combate aproximado. A carta da Força-Tarefa limitava-se àqueles programas e iniciativas que poderiam ser alcançados dentro de um período determinado, explorando as ciências humanas e ciências materiais existentes. Mais importante ainda, desde o início, a liderança da Força-Tarefa foi dedicada a catalisar um esforço comum entre os serviços terrestres: Exército, Fuzileiros Navais e Operações Especiais.
A lição aprendida até agora é clara. Uma pequena equipe como a Força-Tarefa pode realizar milagres, mesmo no ambiente constritivo e burocraticamente estultificado de hoje - se os líderes do esforço tiverem a pele no jogo e se tiverem o poder de superar os impedimentos das regulamentações e políticas restritivas em sua busca para manter vivos aqueles mais propensos a morrer. O sucesso vem de uma abordagem holística para a reforma que envolve em um único esforço de transformação todos os elementos que garantem a superação em combate: tecnologia, treinamento, políticas, regulamentações e, mais crucialmente, o espírito humano.
Original: https://breakingdefense.com/2018/11/mat ... nX9ZCVxHxE
Essa tradução foi publicada no site Warfare Blog no dia 22 de junho de 2019: https://www.warfareblog.com.br/2019/06/ ... attis.html
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A Herança Tática da Primeira Guerra Mundial I: O Combate da Infantaria
Por Frédéric Jordan, 26 de julho de 2016.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de julho de 2019.
O estudo das batalhas do primeiro conflito mundial freqüentemente destaca os terríveis ataques mortíferos, o combatente colado no fundo de trincheiras, o choque e o poder do fogo da artilharia que aniquila toda manobra. No entanto, alguns autores mostraram que em 1918, o exército francês tinha se adaptado notavelmente para se reconectar com a guerra do movimento com uma doutrina inter-armas associando soldados de infantaria melhor equipados, com apoio de fogo coordenado, carros de assalto ou uma força aérea dominando o céu. Parece, portanto, interessante observar a herança tática, ou sua percepção, ou mesmo sua interpretação no final da década de 1920. Para isso, pude consultar um livro escrito pelo Major Bouchacourt (que terminará sua carreira como general comandante da 42ª Divisão de Infantaria), em 1927, e publicado pelas Edições Lavauzelle. O autor trata quase exclusivamente da infantaria, no ataque e na defesa e procura teorizar o uso desta arma para os combates futuros se apoiando exclusivamente nas lições da luta da Grande Guerra e sobre os textos dos regulamentos em vigor no momento da redação do seu tratado. Veremos que essa abordagem o conduz, de fato, a mostrar ao mesmo tempo uma boa clarividência sobre certos princípios fundadores (surpresa, ousadia, reservas,...), mas também um pensamento um tanto ossificado nos esquemas propostos especialmente para as missões defensivas, camisas de força que serão encontradas em 1940 durante a campanha da França.
O Ataque
É o tema de um "regulamento de manobra de infantaria" que detalha quatro fases distintas: a aproximação, o contato, o assalto, a conservação do terreno conquistado ou a exploração do sucesso. Esta análise parece judiciosa a princípio, mas é apoiada por um exemplo particular, o ataque dos exércitos aliados em 8 de agosto de 1918 contra forças alemãs exaustas.
O autor descreve então, a título de ilustração, o setor de uma divisão francesa antes do ataque, unidade que dispõe em 1.200 metros de frente de 2 regimentos de infantaria, 2 regimentos de caçadores, 7 grupos de canhões de 75 mm (120 peças), 3 grupos de 155 mm e 4 grupos de 220 mm. Há claramente um poder de fogo que deve permitir a ruptura das defesas inimigas, o que faz o Major Bouchacourt dizer com uma precisão tática real, mas também uma certa certeza de que "ao querer prever tudo em demasiado detalhe, corre-se o risco de não ter suficientemente em conta o imprevisto do combate e de comprometer os executantes muito rapidamente, durante a ação, perante uma perturbação completa das disposições presas de uma maneira muito precisa." De fato, o ataque foi meticulosamente preparado, minuto a minuto (pontos de travessia, rotas, desdobramento, posição de metralhadoras) por trás de uma barragem rolante que a infantaria seguia muito de perto. Segue um estudo detalhado do sistema defensivo alemão com, em ponto culminante, na necessidade de neutralizar os "sinos" ou PP (Widerstandnester), grupos de 6 a 8 homens comandados por um graduado, colocados em buracos organizados à frente da linha de resistência, mas igualmente armados com uma metralhadora leve para segurar no local e atrapalhar o ataque dos assaltantes. A etapa seguinte é descrita como uma irrupção dentro da posição inimiga e sua travessia para a profundidade.
No ataque, após a fase de preparação e de aproximação, é uma questão de invadir a posição inimiga, o momento chave da ação para pegar o adversário de surpresa, desorganizá-lo e finalmente deslocar seu dispositivo. A ação é baseada na surpresa e em potentes meios de artilharia a fim de desenvolver um fogo rolante contínuo, capaz de mascarar (e de proteger) as muitas tropas que executam o ataque. A surpresa é obtida pela instalação de forças no último momento (noite anterior), a ausência de terraplenagem (ou abrigos) ou de tiros de artilharia de regulagem.
O autor ressalta, no entanto, que em 1918 essa manobra foi facilitada pela lassidão alemã, cujas forças deixaram de construir tão bem suas posições defensivas. De fato, as redes de arame farpado estão incompletas, as barragens de fogo à frente das linhas (para quebrar o ímpeto dos ataques), assim como os obstáculos contínuos são insuficientes. No exemplo que mostra o 94ª RI, essa tática é detalhada com as variações relacionadas à situação real na tomada, em particular, da trincheira "Magdeburg". A velocidade de deslocamento (100 metros a cada 3 minutos) e o aperto das unidades possibilitam aproximar-se do inimigo, aninhar-se com ele, antes mesmo que ele possa disparar um tiro de barragem.
As principais ameaças às tropas francesas, no entanto, continuam sendo os ninhos de metralhadoras que devem ser reduzidos, por meio do engajamento da reserva (uma companhia por batalhão), concentrando o apoio ou desbordando os pontos de resistência alemães. Da mesma forma, as lições parecem mostrar que o cruzamento da posição do inimigo deve ser feito em toda a profundidade da frente, a fim de aproveitar as brechas nas defesas descontínuas, para transbordar as ilhotas de resistência e atacá-las pelas costas.
O Major Bouchacourt recorda, ao longo de seu discurso, que a artilharia, ainda que conquiste a superioridade de fogos, não pode neutralizar todas as peças dos alemães que assim dispõe, em certos compartimentos de terreno, de um conseqüente apoio de fogos. Por outro lado, denigre, com má-fé, a ação dos tanques canadenses que deveriam acompanhar os soldados de infantaria franceses. Ele proclama a grande iniciativa dos quadros do exército francês que permite a exploração. Além disso, ele cite o regulamento provisório de manobra da infantaria que ilustra as escolhas judiciosas constatadas no terreno em 1918 na região de Mézières: “Durante a sua progressão no interior da posição do inimigo, a infantaria deve confiar cada vez mais em si mesma. A iniciativa dos líderes da infantaria assume uma importância capital para a continuação dos eventos. Comandantes de corpo de exército, comandantes de batalhão e até mesmo comandantes de companhia devem demonstrar o espírito de oportunidade, de decisão e de ousadia que por si só torna possível tirar o máximo proveito das circunstâncias favoráveis do combate, circunstâncias que são sempre fugidias e das quais ele deve aproveitar sem demora, sob pena de dar tempo ao inimigo para se recuperar.”
A parte consagrada ao ataque termina com uma síntese das formações básicas de infantaria usadas pelos aliados (armamentos, deslocamentos), por um catálogo completo dos apoios diretos (morteiro Stokes, canhões de 37 mm) e por uma análise dos efeitos de artilharia. Esta é dividida em uma parte dedicada à ação geral (como hoje) para destruir as peças adversárias ou conduzir a preparação de artilharia (parece hoje a “battlefield shaping" [modelagem do campo de batalha]) e da artilharia de acompanhamento (adaptado de acordo com os termos atuais), a fim de reagir aos obstáculos encontrados e observados durante a condução. E o autor conclui com uma nota do General Joffre após a Batalha de Verdun e seu dilúvio de aço. Esta citação diz respeito a esta preparação pelo fogo, que por vezes pode ser improdutiva: “O evento acabou de provar que os defensores vencidos com este poderio estão em posição de, no momento do assalto, ocupar os destroços das trincheiras e deter o inimigo; o que a artilharia percebe no final, é a diminuição dos meios materiais da defesa e seu desgaste moral, não sua destruição.”
A Defesa
Para o exército francês de 1927, é perigoso opor ao apelo (assim como à manobra) à força assim como a considerar que um rompimento local pode permitir o colapso do dispositivo adverso: “Se uma unidade se eleva de uma forma que é muito sensível em relação à sua vizinha, ela cria um flanco descoberto e é rapidamente parada em sua progressão.” Infelizmente para esses teóricos, em 1940, na frente de Sedan, os alemães, por sua vez, demonstrarão que corps francs (infiltradores) ou unidades de engenheiros de assalto (como a do tenente Wackernagel) são capazes de se infiltrar e quebrar uma linha de resistência.
O Major Bouchacourt descreve então dois exemplos do primeira conflito mundial na região de Verdun (Mort Homme) e no Somme (aldeia de Sallisel) a fim de detalhar as disposições defensivas da infantaria para deter um ataque inimigo assim tão poderoso contra ela. Ele considera com certa parcialidade que o colapso das linhas alemãs em 1918 é apenas um contra-exemplo, esquecendo as evoluções tático-operativas implementadas pelos Aliados na época (tanques, combate inter-armas, emprego da aviação).
Para isso, ele se baseia nos textos regulamentares e em suas próprias análises ou lições dos dois combates evocados com uma defesa da posição dita de resistência.
Quando ele expõe as forças envolvidas, notamos, mais uma vez, a superioridade numérica francesa sobre uma primeira posição, 8 batalhões de infantaria, em segundo escalão, 3 batalhões e em reserva, 1 batalhão. Essas unidades valor batalhão estão a 500 metros da frente (vide o diagrama abaixo).
Aqui, à título de exemplo da ocupação, o dispositivo esquemático de um batalhão
Trata-se de um dispositivo contínuo, não-"furado" em ninhos de resistência com, em particular, trincheiras duplicadas para se prevenir contra tiros indiretos alemães. Quanto aos apoios da divisão, são muito importantes com 4 grupos de artilharia há 2km da frente e isto, para enfrentar o ataque de 3 divisões inimigas. O combate é portanto violento porque a doutrina quer que cada brecha seja fechada pelas reservas para impedir todas as infiltrações. Em Verdun, as perdas sofridas em um dia pela 42ª divisão, cuja ação defensiva é analisada, foram de 1.600 homens fora de combate e 30.000 tiros de canhão foram disparados enquanto que em Sallisel, os alemães disparam 15 obuses 210 mm por minuto. Os tiros de barragem dos canhões de 75 mm são mortíferos para as tropas alemãs, os contra-ataques franceses são limitados a um nível local empregando granadas com o único propósito de restaurar a continuidade da defesa.
Da mesma forma, quando se detecta a possível ofensiva do inimigo, o autor recomenda um ataque preventivo repentino e maciço, bem como bombardeios de inquietação, a fim de fragilizar os preparativos do outro beligerante. Durante a batalha, os defensores devem manter uma linha contínua, organizar-se em conduta, retomar sua profundidade enquanto reconstituem as reservas e preservam as comunicações e o abastecimento. Eles também devem "aproveitar o momento fugidio entre o disparo do fogo de artilharia e a chegada da infantaria inimiga onde é possível lançar seus fogos", que são aqueles fogos diretos dos fuzis-metralhadores, aqueles das metralhadoras de flanco e, finalmente, as barragens de artilharia contra um inimigo exposto e privado de seus apoios durante o contato.
Enfim, o Major Bouchacourt considera que o processo do "freio" (diria-se frenagem hoje em dia) em sucessivos pontos de resistência deve ser proscrito, enquanto é imperativo desenvolver a organização do terreno (arame-farpado principalmente). a camuflagem, os abrigos e as trincheiras.
Essas certezas extraídas de duas batalhas particulares propõem um pensamento um tanto fechado que parece anunciar os fracassos da campanha de 1940:
“É principalmente pelo fogo que a defesa pára um ataque.”
“Conforme os meios materiais de ataque se desenvolverão, quando os tanques, por exemplo, e os aviões, entrarão ainda mais na batalha como auxiliares da infantaria,...”
“Nós nunca estaremos pessoalmente convencidos de que na próxima guerra não veremos trincheiras novamente. Para que o fogo, na defesa, possa ser lançado quando chegar a hora, será necessário que aqueles que devem fazê-lo não sejam mortos.”
Para concluir, este livro, escrito oito anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, oferece informações valiosas sobre os princípios táticos da guerra, mas também parece cegar os oficiais que extraem casos particulares generalidades perigosas para o futuro.
Original: https://theatrum-belli.com/lheritage-ta ... nfanterie/
SOBRE O AUTOR
Formado em Saint-Cyr e Brevetado da Escola de Guerra, o Tenente-Coronel Frédéric JORDAN serviu em escolas de formação, no estado-maior como em vários teatros de operações e territórios ultramarinos, na ex-Iugoslávia, no Gabão, Djibuti, Guiana, Afeganistão e no cinturão Sahelo-Saariano. Apaixonado pela história militar, dirige um blog especializado desde 2011, “L’écho du champ de bataille” (O eco do campo de batalha) e participou de várias publicações como a revista "Guerres et Batailles” (Guerras e Batalhas) ou os Cadernos do CESAT (Collège d'Enseignement Supérieur de l'Armée de Terre/Colégio de Educação Superior do Exército). Ele é o autor do livro “L’armée française au Tchad et au Niger, à Madama sur les traces de Leclerc” (O exército francês no Chade e no Níger, em Madama nos passos de Leclerc) pela Éditions Nuvis, que descreve a operação que ele comandou no Chade e no Níger no âmbito da Operação Barkhane, colocando em perspectiva o seu engajamento com a presença militar francesa nesta região desde o século XIX.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de julho de 2019.
O estudo das batalhas do primeiro conflito mundial freqüentemente destaca os terríveis ataques mortíferos, o combatente colado no fundo de trincheiras, o choque e o poder do fogo da artilharia que aniquila toda manobra. No entanto, alguns autores mostraram que em 1918, o exército francês tinha se adaptado notavelmente para se reconectar com a guerra do movimento com uma doutrina inter-armas associando soldados de infantaria melhor equipados, com apoio de fogo coordenado, carros de assalto ou uma força aérea dominando o céu. Parece, portanto, interessante observar a herança tática, ou sua percepção, ou mesmo sua interpretação no final da década de 1920. Para isso, pude consultar um livro escrito pelo Major Bouchacourt (que terminará sua carreira como general comandante da 42ª Divisão de Infantaria), em 1927, e publicado pelas Edições Lavauzelle. O autor trata quase exclusivamente da infantaria, no ataque e na defesa e procura teorizar o uso desta arma para os combates futuros se apoiando exclusivamente nas lições da luta da Grande Guerra e sobre os textos dos regulamentos em vigor no momento da redação do seu tratado. Veremos que essa abordagem o conduz, de fato, a mostrar ao mesmo tempo uma boa clarividência sobre certos princípios fundadores (surpresa, ousadia, reservas,...), mas também um pensamento um tanto ossificado nos esquemas propostos especialmente para as missões defensivas, camisas de força que serão encontradas em 1940 durante a campanha da França.
O Ataque
É o tema de um "regulamento de manobra de infantaria" que detalha quatro fases distintas: a aproximação, o contato, o assalto, a conservação do terreno conquistado ou a exploração do sucesso. Esta análise parece judiciosa a princípio, mas é apoiada por um exemplo particular, o ataque dos exércitos aliados em 8 de agosto de 1918 contra forças alemãs exaustas.
O autor descreve então, a título de ilustração, o setor de uma divisão francesa antes do ataque, unidade que dispõe em 1.200 metros de frente de 2 regimentos de infantaria, 2 regimentos de caçadores, 7 grupos de canhões de 75 mm (120 peças), 3 grupos de 155 mm e 4 grupos de 220 mm. Há claramente um poder de fogo que deve permitir a ruptura das defesas inimigas, o que faz o Major Bouchacourt dizer com uma precisão tática real, mas também uma certa certeza de que "ao querer prever tudo em demasiado detalhe, corre-se o risco de não ter suficientemente em conta o imprevisto do combate e de comprometer os executantes muito rapidamente, durante a ação, perante uma perturbação completa das disposições presas de uma maneira muito precisa." De fato, o ataque foi meticulosamente preparado, minuto a minuto (pontos de travessia, rotas, desdobramento, posição de metralhadoras) por trás de uma barragem rolante que a infantaria seguia muito de perto. Segue um estudo detalhado do sistema defensivo alemão com, em ponto culminante, na necessidade de neutralizar os "sinos" ou PP (Widerstandnester), grupos de 6 a 8 homens comandados por um graduado, colocados em buracos organizados à frente da linha de resistência, mas igualmente armados com uma metralhadora leve para segurar no local e atrapalhar o ataque dos assaltantes. A etapa seguinte é descrita como uma irrupção dentro da posição inimiga e sua travessia para a profundidade.
No ataque, após a fase de preparação e de aproximação, é uma questão de invadir a posição inimiga, o momento chave da ação para pegar o adversário de surpresa, desorganizá-lo e finalmente deslocar seu dispositivo. A ação é baseada na surpresa e em potentes meios de artilharia a fim de desenvolver um fogo rolante contínuo, capaz de mascarar (e de proteger) as muitas tropas que executam o ataque. A surpresa é obtida pela instalação de forças no último momento (noite anterior), a ausência de terraplenagem (ou abrigos) ou de tiros de artilharia de regulagem.
O autor ressalta, no entanto, que em 1918 essa manobra foi facilitada pela lassidão alemã, cujas forças deixaram de construir tão bem suas posições defensivas. De fato, as redes de arame farpado estão incompletas, as barragens de fogo à frente das linhas (para quebrar o ímpeto dos ataques), assim como os obstáculos contínuos são insuficientes. No exemplo que mostra o 94ª RI, essa tática é detalhada com as variações relacionadas à situação real na tomada, em particular, da trincheira "Magdeburg". A velocidade de deslocamento (100 metros a cada 3 minutos) e o aperto das unidades possibilitam aproximar-se do inimigo, aninhar-se com ele, antes mesmo que ele possa disparar um tiro de barragem.
As principais ameaças às tropas francesas, no entanto, continuam sendo os ninhos de metralhadoras que devem ser reduzidos, por meio do engajamento da reserva (uma companhia por batalhão), concentrando o apoio ou desbordando os pontos de resistência alemães. Da mesma forma, as lições parecem mostrar que o cruzamento da posição do inimigo deve ser feito em toda a profundidade da frente, a fim de aproveitar as brechas nas defesas descontínuas, para transbordar as ilhotas de resistência e atacá-las pelas costas.
O Major Bouchacourt recorda, ao longo de seu discurso, que a artilharia, ainda que conquiste a superioridade de fogos, não pode neutralizar todas as peças dos alemães que assim dispõe, em certos compartimentos de terreno, de um conseqüente apoio de fogos. Por outro lado, denigre, com má-fé, a ação dos tanques canadenses que deveriam acompanhar os soldados de infantaria franceses. Ele proclama a grande iniciativa dos quadros do exército francês que permite a exploração. Além disso, ele cite o regulamento provisório de manobra da infantaria que ilustra as escolhas judiciosas constatadas no terreno em 1918 na região de Mézières: “Durante a sua progressão no interior da posição do inimigo, a infantaria deve confiar cada vez mais em si mesma. A iniciativa dos líderes da infantaria assume uma importância capital para a continuação dos eventos. Comandantes de corpo de exército, comandantes de batalhão e até mesmo comandantes de companhia devem demonstrar o espírito de oportunidade, de decisão e de ousadia que por si só torna possível tirar o máximo proveito das circunstâncias favoráveis do combate, circunstâncias que são sempre fugidias e das quais ele deve aproveitar sem demora, sob pena de dar tempo ao inimigo para se recuperar.”
A parte consagrada ao ataque termina com uma síntese das formações básicas de infantaria usadas pelos aliados (armamentos, deslocamentos), por um catálogo completo dos apoios diretos (morteiro Stokes, canhões de 37 mm) e por uma análise dos efeitos de artilharia. Esta é dividida em uma parte dedicada à ação geral (como hoje) para destruir as peças adversárias ou conduzir a preparação de artilharia (parece hoje a “battlefield shaping" [modelagem do campo de batalha]) e da artilharia de acompanhamento (adaptado de acordo com os termos atuais), a fim de reagir aos obstáculos encontrados e observados durante a condução. E o autor conclui com uma nota do General Joffre após a Batalha de Verdun e seu dilúvio de aço. Esta citação diz respeito a esta preparação pelo fogo, que por vezes pode ser improdutiva: “O evento acabou de provar que os defensores vencidos com este poderio estão em posição de, no momento do assalto, ocupar os destroços das trincheiras e deter o inimigo; o que a artilharia percebe no final, é a diminuição dos meios materiais da defesa e seu desgaste moral, não sua destruição.”
A Defesa
Para o exército francês de 1927, é perigoso opor ao apelo (assim como à manobra) à força assim como a considerar que um rompimento local pode permitir o colapso do dispositivo adverso: “Se uma unidade se eleva de uma forma que é muito sensível em relação à sua vizinha, ela cria um flanco descoberto e é rapidamente parada em sua progressão.” Infelizmente para esses teóricos, em 1940, na frente de Sedan, os alemães, por sua vez, demonstrarão que corps francs (infiltradores) ou unidades de engenheiros de assalto (como a do tenente Wackernagel) são capazes de se infiltrar e quebrar uma linha de resistência.
O Major Bouchacourt descreve então dois exemplos do primeira conflito mundial na região de Verdun (Mort Homme) e no Somme (aldeia de Sallisel) a fim de detalhar as disposições defensivas da infantaria para deter um ataque inimigo assim tão poderoso contra ela. Ele considera com certa parcialidade que o colapso das linhas alemãs em 1918 é apenas um contra-exemplo, esquecendo as evoluções tático-operativas implementadas pelos Aliados na época (tanques, combate inter-armas, emprego da aviação).
Para isso, ele se baseia nos textos regulamentares e em suas próprias análises ou lições dos dois combates evocados com uma defesa da posição dita de resistência.
Quando ele expõe as forças envolvidas, notamos, mais uma vez, a superioridade numérica francesa sobre uma primeira posição, 8 batalhões de infantaria, em segundo escalão, 3 batalhões e em reserva, 1 batalhão. Essas unidades valor batalhão estão a 500 metros da frente (vide o diagrama abaixo).
Aqui, à título de exemplo da ocupação, o dispositivo esquemático de um batalhão
Trata-se de um dispositivo contínuo, não-"furado" em ninhos de resistência com, em particular, trincheiras duplicadas para se prevenir contra tiros indiretos alemães. Quanto aos apoios da divisão, são muito importantes com 4 grupos de artilharia há 2km da frente e isto, para enfrentar o ataque de 3 divisões inimigas. O combate é portanto violento porque a doutrina quer que cada brecha seja fechada pelas reservas para impedir todas as infiltrações. Em Verdun, as perdas sofridas em um dia pela 42ª divisão, cuja ação defensiva é analisada, foram de 1.600 homens fora de combate e 30.000 tiros de canhão foram disparados enquanto que em Sallisel, os alemães disparam 15 obuses 210 mm por minuto. Os tiros de barragem dos canhões de 75 mm são mortíferos para as tropas alemãs, os contra-ataques franceses são limitados a um nível local empregando granadas com o único propósito de restaurar a continuidade da defesa.
Da mesma forma, quando se detecta a possível ofensiva do inimigo, o autor recomenda um ataque preventivo repentino e maciço, bem como bombardeios de inquietação, a fim de fragilizar os preparativos do outro beligerante. Durante a batalha, os defensores devem manter uma linha contínua, organizar-se em conduta, retomar sua profundidade enquanto reconstituem as reservas e preservam as comunicações e o abastecimento. Eles também devem "aproveitar o momento fugidio entre o disparo do fogo de artilharia e a chegada da infantaria inimiga onde é possível lançar seus fogos", que são aqueles fogos diretos dos fuzis-metralhadores, aqueles das metralhadoras de flanco e, finalmente, as barragens de artilharia contra um inimigo exposto e privado de seus apoios durante o contato.
Enfim, o Major Bouchacourt considera que o processo do "freio" (diria-se frenagem hoje em dia) em sucessivos pontos de resistência deve ser proscrito, enquanto é imperativo desenvolver a organização do terreno (arame-farpado principalmente). a camuflagem, os abrigos e as trincheiras.
Essas certezas extraídas de duas batalhas particulares propõem um pensamento um tanto fechado que parece anunciar os fracassos da campanha de 1940:
“É principalmente pelo fogo que a defesa pára um ataque.”
“Conforme os meios materiais de ataque se desenvolverão, quando os tanques, por exemplo, e os aviões, entrarão ainda mais na batalha como auxiliares da infantaria,...”
“Nós nunca estaremos pessoalmente convencidos de que na próxima guerra não veremos trincheiras novamente. Para que o fogo, na defesa, possa ser lançado quando chegar a hora, será necessário que aqueles que devem fazê-lo não sejam mortos.”
Para concluir, este livro, escrito oito anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, oferece informações valiosas sobre os princípios táticos da guerra, mas também parece cegar os oficiais que extraem casos particulares generalidades perigosas para o futuro.
Original: https://theatrum-belli.com/lheritage-ta ... nfanterie/
SOBRE O AUTOR
Formado em Saint-Cyr e Brevetado da Escola de Guerra, o Tenente-Coronel Frédéric JORDAN serviu em escolas de formação, no estado-maior como em vários teatros de operações e territórios ultramarinos, na ex-Iugoslávia, no Gabão, Djibuti, Guiana, Afeganistão e no cinturão Sahelo-Saariano. Apaixonado pela história militar, dirige um blog especializado desde 2011, “L’écho du champ de bataille” (O eco do campo de batalha) e participou de várias publicações como a revista "Guerres et Batailles” (Guerras e Batalhas) ou os Cadernos do CESAT (Collège d'Enseignement Supérieur de l'Armée de Terre/Colégio de Educação Superior do Exército). Ele é o autor do livro “L’armée française au Tchad et au Niger, à Madama sur les traces de Leclerc” (O exército francês no Chade e no Níger, em Madama nos passos de Leclerc) pela Éditions Nuvis, que descreve a operação que ele comandou no Chade e no Níger no âmbito da Operação Barkhane, colocando em perspectiva o seu engajamento com a presença militar francesa nesta região desde o século XIX.
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Re: Frações de Infantaria
Soldados franceses em marcha passam por um grupo de prisioneiros de guerra alemães em Plessis-de-Roye, na Picardia, 1918.
O infante carrega a sua casa nas costas.
Infantaria francesa em marcha administrativa com ordem completa. O Havresac Modèle 1893, conhecido como "As de Carreau" (Às de Ouros) pesava entre 11,3kg a 20,4kg com a carga total. O peso total oficial carregado pelo "poilu", somando-se a ordem de marcha completa e material adicional carregado, era de 26-28kg. Em alguns casos, poderia exceder 34kg caso os soldados precisassem de outros materiais não-orgânicos como cobertores extras, meias extras, camisas, rações extras, ítens de aquisição privada, etc.
Em 1914, as mochilas da infantaria eram pesadas - carregando a ordem completa de equipamento. Em 1915 foi criado uma ordem leve, de assalto, mas em 1918 (com o retorno da guerra de movimento) a ordem completa foi usada porque as tropas marchavam longas distâncias.
Essa foto de 1918 não é posada, ela foi tirada durante um ataque real.
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Re: Frações de Infantaria
A Escola de Sargentos de Infantaria, Exército Brasileiro, em intervalo de instrução no Campo de Gericinó, 1921.
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Re: Frações de Infantaria
Meus prezados
Por que a companhia de infantaria não tem mais de 150 soldados
150 é um grupo de pessoas tão grande quanto o cérebro humano pode lidar em relacionamentos pessoais, observa um comentarista militar britânico Tom Ricks para tarefas e propósitos. A história da importância das histórias começa não na liderança, mas na antropologia. Robin Dunbar é um antropólogo britânico, psicólogo evolucionista e especialista em comportamento de primatas. Nos anos 90, ele identificou uma correlação entre o tamanho do córtex pré-frontal em espécies de macacos e o tamanho dos grupos sociais que cada espécie poderia manter. Se você mediu o tamanho do cérebro de um macaco, pode calcular o tamanho de seu grupo social. Esse número - o tamanho máximo do grupo social para uma dada espécie, com base no tamanho do córtex pré-frontal - ficou conhecido como “número dunbar”. Daí o limite do tamanho de uma companhia de infantaria, diz ele, bem como das vilas agrícolas da idade da pedra e de novas seitas religiosas.
Fonte: Spec Ops Magazine
Trad./adapt. jambockrs
Por que a companhia de infantaria não tem mais de 150 soldados
150 é um grupo de pessoas tão grande quanto o cérebro humano pode lidar em relacionamentos pessoais, observa um comentarista militar britânico Tom Ricks para tarefas e propósitos. A história da importância das histórias começa não na liderança, mas na antropologia. Robin Dunbar é um antropólogo britânico, psicólogo evolucionista e especialista em comportamento de primatas. Nos anos 90, ele identificou uma correlação entre o tamanho do córtex pré-frontal em espécies de macacos e o tamanho dos grupos sociais que cada espécie poderia manter. Se você mediu o tamanho do cérebro de um macaco, pode calcular o tamanho de seu grupo social. Esse número - o tamanho máximo do grupo social para uma dada espécie, com base no tamanho do córtex pré-frontal - ficou conhecido como “número dunbar”. Daí o limite do tamanho de uma companhia de infantaria, diz ele, bem como das vilas agrícolas da idade da pedra e de novas seitas religiosas.
Fonte: Spec Ops Magazine
Trad./adapt. jambockrs
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Re: Frações de Infantaria
Tem um livro legal que você vai gostar: Motivação para o combate.jambockrs escreveu: ↑Ter Jan 14, 2020 6:29 pm Meus prezados
Por que a companhia de infantaria não tem mais de 150 soldados
150 é um grupo de pessoas tão grande quanto o cérebro humano pode lidar em relacionamentos pessoais, observa um comentarista militar britânico Tom Ricks para tarefas e propósitos. A história da importância das histórias começa não na liderança, mas na antropologia. Robin Dunbar é um antropólogo britânico, psicólogo evolucionista e especialista em comportamento de primatas. Nos anos 90, ele identificou uma correlação entre o tamanho do córtex pré-frontal em espécies de macacos e o tamanho dos grupos sociais que cada espécie poderia manter. Se você mediu o tamanho do cérebro de um macaco, pode calcular o tamanho de seu grupo social. Esse número - o tamanho máximo do grupo social para uma dada espécie, com base no tamanho do córtex pré-frontal - ficou conhecido como “número dunbar”. Daí o limite do tamanho de uma companhia de infantaria, diz ele, bem como das vilas agrícolas da idade da pedra e de novas seitas religiosas.
Fonte: Spec Ops Magazine
Trad./adapt. jambockrs