Bourne escreveu: ↑Seg Abr 29, 2019 4:10 pm
Não foi um erro. Foi uma jogada arriscada. O governo militar argentina julgava que os britânicos iriam sugerir um acordo e teria intermediação internacional com participação dos EUA, Brasil e outros. Afinal, quem lutaria por um monte de pedras perdidas no Atlântico Sul? E no fundo eram todos aliados contra a URSS.
O caso da Varig poderia ter empurrado todos para um acordão. Algo como "parem de brigar. Se acertem aí". Pelo Brasil, EUA, França e outros.
Observem que os britânicos e argentinos se esforçaram para manter os conflitos restritos. Porque era mais fácil fazer o acordo ao evitar escala com ataque as bases no continente e cidades argentinas.
Os militares argentinos na época estavam mais preocupados em arrumar uma distração para demover a convulsão interna que já se agitava já tempos, e sabiam também que o regime estava condenado, e até por isso o deles estaria na reta pro princípio.
O risco existia sim, e era grande, pois Margareth Tachert ansiava por uma oportunidade de juntar também os seus poucos aliados a fim de dar um respiro na economia e política britânica. A moral e a fleuma militar britânica andava em baixa em fins dos 70 e início dos 80. Mais ou menos a mesma situação que vemos se repetir hoje, com venda e baixa de meios que de outra forma poderiam se manter úteis e operacionais ainda por muito tempo. Algo que a economia não dava muita folga. Um erro crasso de avaliação da junta militar, que sequer se deu o trabalho de consultar a diplomacia argentina, que poderia ter ajudado bastante, inclusive no sentido esperar por um momento mais adequado, do ponto de vista tanto político quanto militar, já que os ingleses estavam literalmente varrendo a sujeira do seu poderia militar para debaixo do tapete. Mais um pouco e talvez a história fosse outra. Mas tempo era um luxo que a junta militar não tinha.
A eventual derrubada do avião da Varig fatalmente empurraria os britânicos para a mesa de negociação antes de uma vitória militar inconteste nas Malvinas. E claro, em condições menos vantajosas, e possivelmente teriam perdido as ilhas. O próprio Alte cmte da FT britânica admitiu isso várias vezes ao longo do tempo no pós guerra em diversas entrevistas. Não porque o império temesse o Brasil em termos militares, mas porque isso deixaria seu principal aliado em uma sinuca de bico do ponto de vista estratégico, pois caso o Brasil invocasse o TIAR, eles seriam obrigados no mínimo a manter uma neutralidade de fato em relação aos ingleses, posto o contrário, poderia fatalmente jogar o Brasil para a órbita da URSS, mesmo que a contra-gosto dos militares aqui. Não seria aceitável o apoio dos americanos aos ingleses diante de algo assim, além de que o Presidente Figueiredo se veria forçado a manter a calma no país por meios poucos ortodoxos, já que no mínimo haveria um clamor popular e político por um revide. O problema para os militares era: revidar com o quê?
Ambos os lados sabiam que ampliar o conflito para o continente poderia forçar a inclusão de outros atores no mesmo, e isso, por incrível que pareça, não era de interesse de ambos os lados. Coisas da política. Então, começar, e terminar mais rápido ainda, o conflito era essencial para não dar trela para o envolvimento de USA e URSS na área do AS, considerada há muito, mesmo na guerra fria, uma zona de paz fora. E todos faziam questão que assim permanecesse, desde que nenhum dos lados quebrasse o equilíbrio.
Por um pouquinho isso quase aconteceu, já que tanto americanos e russos não ficaram exatamente equidistantes do TO durante a guerra.
Para nossa sorte, essa passou perto, muito perto. Perto até demais.
abs