Teorias existiam (e existem) para ambos os lados dessa questão e talvez o mais sensato mesmo fosse esperar confirmações práticas dessas teorias, em uma sociedade que guarda diferenças e também semelhanças com a nossa.
Para mim, "mundo sem drogas" ou, pior que isso, "guerra às drogas" são lemas que dizem respeito a um tipo de utopia. Aquele tipo de mundo perfeito que não dá para ser construído sem que se matem alguns milhões. E o maior risco é que nunca seja o bastante. Assim são as utopias.
Bom, direto à vaca fria, o fato é que usuários de drogas mais pesadas e mortais (mesmo que lícitas) acabam diminuindo seu uso à medida em que aderem à tentativa de auto-medicação à base de maconha. Vamos aceitar que nada é perfeito: Haver pessoas doentes é ruim, pessoas abusando de remédios é ruim, pessoas se auto-medicando é ruim, pessoas abusando de maconha também é ruim. Mas parece que deixar de arruinar a vida de pessoas que usam essa droga é algo que evita mortes. Porque evita tanto sofrimento em vão, eu diria que é sim uma medida pró-vida.
https://www.em.com.br/app/noticia/inter ... m-20.shtmlLegalização da maconha reduz mortes por opioides em 20%
AFP
Estados que legalizam o uso da maconha experimentam uma redução de pelo menos 20% nas mortes ligadas a overdoses de opioides, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira.
Os opioides foram responsáveis por 47.600 mortes por overdose nos EUA em 2017, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, e a crise foi declarada uma emergência nacional pelo presidente Donald Trump no mesmo ano.
O status legal da maconha mudou significativamente nas últimas duas décadas: 10 estados e Washington DC agora permitem seu uso recreativo, e Illinois o fará a partir de janeiro, enquanto 34 estados e a capital federal permitem o uso da maconha com fins medicinais.
Ao comparar as taxas de mortes por overdose antes e depois da legalização, e entre os estados em vários pontos de legalização, os autores do estudo, publicado na revista Economic Inquiry, descobriram o que eles chamaram de "efeito causal", descrito como "altamente robusto" na redução da mortalidade por opioides.
Sua análise econométrica coloca a redução na faixa de 20 a 35%, com o efeito particularmente pronunciado para as mortes causadas por opioides sintéticos como o fentanil, a droga mais letal dos Estados Unidos, de acordo com os últimos dados oficiais.
Todos os estados estão afetados pela epidemia de opioides, disse à AFP o principal autor do estudo, Nathan Chan, economista da Universidade de Massachusetts Amherst.
"Mas os estados onde a maconha foi legalizada não são tão negativamente afetados como os que não a legalizaram", explicou.
A legalização em si não gera a redução. Mas os estados que têm acesso legal à maconha através de dispensários registraram as maiores reduções de mortalidade, escreveram Chan e seus colegas Jesse Burkhardt e Matthew Flyr, da Universidade Estadual do Colorado.
O estudo não analisou quais fatores estavam em jogo, mas Chan sugeriu que pode ser que um número crescente de pessoas estejam se automedicando e "lidando com a dor por meio do uso de maconha e, portanto, são menos propensas a tomar opioides viciantes".
Alguns estudos anteriores sobre o tema, porém, encontraram o resultado oposto: que o uso de cannabis aumenta, em vez de diminuir, o uso de opioides não prescritos por médicos.
No entanto, Chan disse que esses artigos, escritos predominantemente por médicos e não por economistas, falharam em diferenciar adequadamente uma correlação positiva de uma causalidade, uma distinção importante dado que certos usuários de drogas gravitam em torno de múltiplas drogas.
Uma hipótese alternativa, de acordo com Chan, é que a legalização da maconha melhora a atividade econômica de um estado e produz outros efeitos sobre o crime, as prisões, o emprego e a saúde de longo prazo, fatores que podem estar ligados a overdoses de opioides.