Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
(Realmente, foi uma das decisões mais infelizes, inúteis e prejudiciais aos próprios interesses do Exército, a decisão de executar aqueles marxistas idiotas e iludidos capturados com vida na luta do Araguaia. Se tal coisa não tivesse ocorrido, o que teríamos hoje? Um punhado de ex-guerrilheiros, de cabelos grisalhos - ou sem cabelos -, totalmente afastados da vida política; outro punhado ainda engajado em atividades políticas, sendo parlamentares de partidos de esquerda, como Genoíno. Mas, em que isto ofereceria perigo ao Exército e ao país?
Mas, tomando a decisão que tomaram, generais como o antigos ministro do Exército, o chefe do serviço de inteligência e o comandante de operações na área conflituosa, só garantiram aborrecimentos, prejuízos e gastos financeiros futuros com indenizações. Sem contar com a desculpa para que as lideranças radicais comunistas da época apareçam, exclusivamente, como vítimas. E não como algozes. Afinal de contas, quem foi que escolheu aquela região e aquele povo sofrido do Araguaia, como teatro de operações para aquela estupidez de tentar criar uma revolução camponesa maoísta?)
CURIÓ ABRE ARQUIVO E REVELA QUE EXÉRCITO EXECUTOU 41 NO ARAGUAIA - Até hoje eram conhecidos 25 casos de guerrilheiros mortos; relato do oficial confirma e dá detalhes da perseguição.
EXCLUSIVO - Leonencio Nossa, XAMBIOÁ (TO) - Estadão.com.br - Domingo, 21 de Junho de 2009.
Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, o oficial vivo mais conhecido do regime militar (1964-1985), abriu ao Estado o seu lendário arquivo sobre a Guerrilha do Araguaia (1972-1975). Os documentos, guardados numa mala de couro vermelho há 34 anos, detalham e confirmam a execução de adversários da ditadura nas bases das Forças Armadas na Amazônia. Dos 67 integrantes do movimento de resistência mortos durante o conflito com militares, 41 foram presos, amarrados e executados, quando não ofereciam risco às tropas.
Até a abertura do arquivo de Curió, eram conhecidos 25 casos de execução. Agora há 16 novos casos, reunidos a partir do confronto do arquivo do major com os livros e reportagens publicados. A morte de prisioneiros representou 61% do total de baixas na coluna guerrilheira.
Uma série de documentos, muitos manuscritos do próprio punho de Curió, feitos durante e depois da guerrilha, contraria a versão militar de que os mortos estavam de armas na mão na hora em que tombaram. Muitos se entregaram nas casas de moradores da região ou foram rendidos em situações em que não ocorreram disparos.
Os papéis esclarecem passo a passo a terceira e decisiva campanha militar contra os comunistas do PC do B - a Operação Marajoara, vencida pelas Forças Armadas, de outubro de 1973 a janeiro de 1975. O arquivo deixa claro que as bases de Bacaba, Marabá e Xambioá, no sul do Pará e norte do Estado do Tocantins, foram o centro da repressão militar.
Descrições.
O guerrilheiro paulista Antônio Guilherme Ribas, o Zé Ferreira, teve um final trágico, descrito assim no arquivo de Curió: “Morto em 12/1973. Sua cabeça foi levada para Xambioá”. O piauiense Antonio de Pádua Costa morreu diante de um pelotão de fuzilamento em 5 de março de 1974, às margens da antiga PA-70. O gaúcho Silon da Cunha Brum, o Cumprido, entrou nessa lista. “Capturado” em janeiro de 1974, morreu em seguida. Daniel Ribeiro Calado, o Doca, é outro da lista: “Em jul/74 furtou uma canoa próximo ao Caianos e atravessou o Rio Araguaia, sendo capturado no Estado de Goiás”.
Só adolescentes que integravam a guerrilha foram poupados, como Jonas, codinome de Josias, de 17 anos, que ficou detido na base da Bacaba, no quilômetro 68 da Transamazônica. Documento datilografado do Comando Militar da Amazônia, de 3 de outubro de 1975, assinado pelo capitão Sérgio Renk, destaca que Jonas ficou três meses na mata com a guerrilha, “sendo posteriormente preso pelo mateiro Constâncio e ‘poupado’ pela FORÇA FEDERAL devido à pouca idade”.
Curió permitiu o acesso do Estado ao arquivo sem exigir uma avaliação prévia da síntese, das conclusões e análises dos documentos. Ele disse que essa foi uma promessa que fez para si próprio. Passadas mais de três décadas, a história da terceira campanha ainda assusta as Forças Armadas: foi o momento em que os militares retomaram as estratégias de uma guerra de guerrilha, abandonadas havia mais de cem anos.
“Até o meio da terceira campanha houve combates. Mas, a partir do meio da terceira campanha para frente, houve uma perseguição atrás de rastros. Seguíamos esse rastro duas, três semanas”, relata. “A terceira campanha é que teve o efeito que o regime desejava.”
Um dos algozes do movimento armado na Amazônia, ele mantém um costume da época: não se refere aos guerrilheiros como terroristas, como outros militares. “Em hipótese alguma procuro denegrir a imagem dos integrantes da coluna guerrilheira, daquela juventude”, diz. “O inimigo, por ser inimigo, tem de ser respeitado.”
Ele ressalta que, como um jovem capitão na selva, tinha ideal: “Queria ser militar porque queria defender a pátria, achava bonito. Alguns guerrilheiros tinham os mesmos ideais que nós. Mas nossos caminhos eram diferentes. Eu achava que o meu caminho era o correto. Eles achavam que o deles era o correto. Não eram bandidos, eram jovens idealistas”.
No livro A Ditadura Escancarada, o jornalista Elio Gaspari diz que “a reconstrução do que sucedeu na floresta a partir do Natal de 1973 é um exercício de exposição de versões prejudicadas pelo tempo, pelas lendas e até mesmo pela conveniência das narrativas”. E emenda: “Delas, a mais embusteira é a dos comandantes que se recusam a admitir a existência da guerrilha e a política de extermínio que contra ela foi praticada”.
Motim.
Essa política de extermínio fica um pouco mais clara com a abertura do arquivo de Curió. Pela primeira vez, a versão militar da terceira e decisiva campanha é apresentada sem retoques por um participante direto das ações no Araguaia.
Curió esteve envolvido no motim contra o presidente Geisel (1977), no comando do garimpo de Serra Pelada (1980-1983), na repressão ao incipiente Movimento dos Sem-Terra no Rio Grande do Sul (1981) e à frente de uma denúncia decisiva no processo de impeachment de Fernando Collor (1992).
O arquivo dá indicações sobre a política de extermínio comandada durante os governos de Emílio Garrastazu Medici e Ernesto Geisel por um triunvirato de peso. Na ponta das ordens estiveram os generais Orlando Geisel (ministro do Exército de Medici), Milton Tavares (chefe do Centro de Inteligência do Exército) e Antonio Bandeira (chefe das operações no Araguaia). Curió lembra que a ordem dos escalões superiores era tirar de combate todos os guerrilheiros. “A ordem de cima era que só sairíamos quando pegássemos o último.”
“Se tivesse de combater novamente a guerrilha, eu combateria, porque estava erguendo um fuzil no cumprimento do dever, cumprindo uma missão das Forças Armadas, para assegurar a soberania e a integridade da pátria.”
O que foi a guerrilha?
Em 1966, integrantes do PC do B começaram a se instalar em três áreas do Bico do Papagaio, região que abrange o sul do Pará e o norte do atual Estado do Tocantins. A Guerrilha do Araguaia era composta por uma comissão militar e pelos destacamentos A, B e C.
Da força guerrilheira, 98 pessoas pegaram em armas ou atuaram em trabalhos de logística. Deste total, 78 foram recrutadas pelo partido nas grandes metrópoles brasileiras e 20 na própria região do conflito.
Entre 1972 e 1974, as Forças Armadas promoveram três campanhas na tentativa de eliminar a guerrilha - só venceu na última. A repressão contou com cerca de 5 mil agentes, incluindo homens das polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar e Civil.
O conflito deixou um saldo de 84 mortos, sendo 69 guerrilheiros ou apoios da guerrilha, 11 militares e 4 camponeses sem vínculos com o partido ou o Exército. Vinte e nove guerrilheiros sobreviveram às três campanhas.
Mas, tomando a decisão que tomaram, generais como o antigos ministro do Exército, o chefe do serviço de inteligência e o comandante de operações na área conflituosa, só garantiram aborrecimentos, prejuízos e gastos financeiros futuros com indenizações. Sem contar com a desculpa para que as lideranças radicais comunistas da época apareçam, exclusivamente, como vítimas. E não como algozes. Afinal de contas, quem foi que escolheu aquela região e aquele povo sofrido do Araguaia, como teatro de operações para aquela estupidez de tentar criar uma revolução camponesa maoísta?)
CURIÓ ABRE ARQUIVO E REVELA QUE EXÉRCITO EXECUTOU 41 NO ARAGUAIA - Até hoje eram conhecidos 25 casos de guerrilheiros mortos; relato do oficial confirma e dá detalhes da perseguição.
EXCLUSIVO - Leonencio Nossa, XAMBIOÁ (TO) - Estadão.com.br - Domingo, 21 de Junho de 2009.
Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, o oficial vivo mais conhecido do regime militar (1964-1985), abriu ao Estado o seu lendário arquivo sobre a Guerrilha do Araguaia (1972-1975). Os documentos, guardados numa mala de couro vermelho há 34 anos, detalham e confirmam a execução de adversários da ditadura nas bases das Forças Armadas na Amazônia. Dos 67 integrantes do movimento de resistência mortos durante o conflito com militares, 41 foram presos, amarrados e executados, quando não ofereciam risco às tropas.
Até a abertura do arquivo de Curió, eram conhecidos 25 casos de execução. Agora há 16 novos casos, reunidos a partir do confronto do arquivo do major com os livros e reportagens publicados. A morte de prisioneiros representou 61% do total de baixas na coluna guerrilheira.
Uma série de documentos, muitos manuscritos do próprio punho de Curió, feitos durante e depois da guerrilha, contraria a versão militar de que os mortos estavam de armas na mão na hora em que tombaram. Muitos se entregaram nas casas de moradores da região ou foram rendidos em situações em que não ocorreram disparos.
Os papéis esclarecem passo a passo a terceira e decisiva campanha militar contra os comunistas do PC do B - a Operação Marajoara, vencida pelas Forças Armadas, de outubro de 1973 a janeiro de 1975. O arquivo deixa claro que as bases de Bacaba, Marabá e Xambioá, no sul do Pará e norte do Estado do Tocantins, foram o centro da repressão militar.
Descrições.
O guerrilheiro paulista Antônio Guilherme Ribas, o Zé Ferreira, teve um final trágico, descrito assim no arquivo de Curió: “Morto em 12/1973. Sua cabeça foi levada para Xambioá”. O piauiense Antonio de Pádua Costa morreu diante de um pelotão de fuzilamento em 5 de março de 1974, às margens da antiga PA-70. O gaúcho Silon da Cunha Brum, o Cumprido, entrou nessa lista. “Capturado” em janeiro de 1974, morreu em seguida. Daniel Ribeiro Calado, o Doca, é outro da lista: “Em jul/74 furtou uma canoa próximo ao Caianos e atravessou o Rio Araguaia, sendo capturado no Estado de Goiás”.
Só adolescentes que integravam a guerrilha foram poupados, como Jonas, codinome de Josias, de 17 anos, que ficou detido na base da Bacaba, no quilômetro 68 da Transamazônica. Documento datilografado do Comando Militar da Amazônia, de 3 de outubro de 1975, assinado pelo capitão Sérgio Renk, destaca que Jonas ficou três meses na mata com a guerrilha, “sendo posteriormente preso pelo mateiro Constâncio e ‘poupado’ pela FORÇA FEDERAL devido à pouca idade”.
Curió permitiu o acesso do Estado ao arquivo sem exigir uma avaliação prévia da síntese, das conclusões e análises dos documentos. Ele disse que essa foi uma promessa que fez para si próprio. Passadas mais de três décadas, a história da terceira campanha ainda assusta as Forças Armadas: foi o momento em que os militares retomaram as estratégias de uma guerra de guerrilha, abandonadas havia mais de cem anos.
“Até o meio da terceira campanha houve combates. Mas, a partir do meio da terceira campanha para frente, houve uma perseguição atrás de rastros. Seguíamos esse rastro duas, três semanas”, relata. “A terceira campanha é que teve o efeito que o regime desejava.”
Um dos algozes do movimento armado na Amazônia, ele mantém um costume da época: não se refere aos guerrilheiros como terroristas, como outros militares. “Em hipótese alguma procuro denegrir a imagem dos integrantes da coluna guerrilheira, daquela juventude”, diz. “O inimigo, por ser inimigo, tem de ser respeitado.”
Ele ressalta que, como um jovem capitão na selva, tinha ideal: “Queria ser militar porque queria defender a pátria, achava bonito. Alguns guerrilheiros tinham os mesmos ideais que nós. Mas nossos caminhos eram diferentes. Eu achava que o meu caminho era o correto. Eles achavam que o deles era o correto. Não eram bandidos, eram jovens idealistas”.
No livro A Ditadura Escancarada, o jornalista Elio Gaspari diz que “a reconstrução do que sucedeu na floresta a partir do Natal de 1973 é um exercício de exposição de versões prejudicadas pelo tempo, pelas lendas e até mesmo pela conveniência das narrativas”. E emenda: “Delas, a mais embusteira é a dos comandantes que se recusam a admitir a existência da guerrilha e a política de extermínio que contra ela foi praticada”.
Motim.
Essa política de extermínio fica um pouco mais clara com a abertura do arquivo de Curió. Pela primeira vez, a versão militar da terceira e decisiva campanha é apresentada sem retoques por um participante direto das ações no Araguaia.
Curió esteve envolvido no motim contra o presidente Geisel (1977), no comando do garimpo de Serra Pelada (1980-1983), na repressão ao incipiente Movimento dos Sem-Terra no Rio Grande do Sul (1981) e à frente de uma denúncia decisiva no processo de impeachment de Fernando Collor (1992).
O arquivo dá indicações sobre a política de extermínio comandada durante os governos de Emílio Garrastazu Medici e Ernesto Geisel por um triunvirato de peso. Na ponta das ordens estiveram os generais Orlando Geisel (ministro do Exército de Medici), Milton Tavares (chefe do Centro de Inteligência do Exército) e Antonio Bandeira (chefe das operações no Araguaia). Curió lembra que a ordem dos escalões superiores era tirar de combate todos os guerrilheiros. “A ordem de cima era que só sairíamos quando pegássemos o último.”
“Se tivesse de combater novamente a guerrilha, eu combateria, porque estava erguendo um fuzil no cumprimento do dever, cumprindo uma missão das Forças Armadas, para assegurar a soberania e a integridade da pátria.”
O que foi a guerrilha?
Em 1966, integrantes do PC do B começaram a se instalar em três áreas do Bico do Papagaio, região que abrange o sul do Pará e o norte do atual Estado do Tocantins. A Guerrilha do Araguaia era composta por uma comissão militar e pelos destacamentos A, B e C.
Da força guerrilheira, 98 pessoas pegaram em armas ou atuaram em trabalhos de logística. Deste total, 78 foram recrutadas pelo partido nas grandes metrópoles brasileiras e 20 na própria região do conflito.
Entre 1972 e 1974, as Forças Armadas promoveram três campanhas na tentativa de eliminar a guerrilha - só venceu na última. A repressão contou com cerca de 5 mil agentes, incluindo homens das polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar e Civil.
O conflito deixou um saldo de 84 mortos, sendo 69 guerrilheiros ou apoios da guerrilha, 11 militares e 4 camponeses sem vínculos com o partido ou o Exército. Vinte e nove guerrilheiros sobreviveram às três campanhas.
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
INCONTINÊNCIA VERBAL.
Cartas de Buenos Aires / Blog do Noblat - 29.09.09.
A confissão aconteceu em 2007 durante um jantar, num restaurante de uma ilha paradisíaca de Bali, na Indonésia. Difícil imaginar uma conversa tão horrível em um lugar tão lindo, mas foi assim.
O piloto argentino Julio Alberto Poch, que então trabalhava para a companhia aérea holandesa Transavia (que pertence à Air France-KLM), entre um drinque e outro, contou a seus companheiros que durante a ditadura militar (1976 a 1983) havia pilotado os chamados vôos da morte. E deu detalhes.
Os prisioneiros eram levados em furgões a um aeroclube, normalmente à noite. Ao chegarem, recebiam uma injeção de Pentotal (um sonífero), eram embarcados em aviões e, após dormirem, jogados ao mar sem roupas, para que não houvesse nenhuma possibilidade de identificação.
Às vezes, tinham as barrigas abertas para que as vísceras se espalhassem no mar e, assim, os corpos afundassem mais rápido. Ou, em outras palavras, não boiassem.
Os holandeses, claro, ficaram horrorizados e o denunciaram à justiça do país. Começou aí uma investigação – em total sigilo - que foi finalizada na terça-feira passada com a prisão de Poch, numa escala da viagem Amsterdam-Valência.
Era seu último vôo antes da aposentadoria. Foi preso pela polícia espanhola quando, coincidentemente, estava acompanhado da mulher e de um dos filhos. Tem apenas 57 anos. Os passageiros do avião não ficaram sabendo de nada.
Aqui, longe de tudo, me delicio com os detalhes da operação, me delicio com as sutilezas do destino. Esfrego as mãos, satisfeita. Essa prisão, é claro, deve ter sido noticiada no Brasil, mas como a semana passada o noticiário foi muito dominado por Honduras, achei melhor relembrar.
Pelo menos relembrar seu contexto. Poch é o segundo piloto detido por atirar pessoas vivas ao mar durante a ditadura. O primeiro foi Adolfo Scilingo, em 1995, o primeiro repressor a confessar participação em vôos deste tipo. Segundo ele, os vôos saíam uma vez por semana, com cerca de 15 a 30 pessoas. Dessa forma, confirma, devem ter sido “eliminadas” uma 4.400 pessoas.
Dizem que há centenas de envolvidos, talvez milhares. Membros das Forças Armadas e também civis – desde os motoristas dos furgões até os enfermeiros que ministravam as injeções e inclusive apenas simples testemunhas, que acompanhavam as operações.
Os mais jovens possuem pouco mais de 50 anos e os mais velhos estão com cerca de 90. Alguns enlouqueceram. Não puderam viver com o segredo de terem jogado ao mar pessoas vivas, drogadas, indefesas, desnudas, desde aviões em pleno vôo em direção ao vazio.
Os depoimentos são assustadores.
Rubén Ricardo Ormello, que em 1976 era cabo e tinha 21 anos, foi mecânico e prestou serviços para a área militar. Relatou a seguinte história.
Conto essa história porque na semana passada falei da belle époque portenha. Mas a cidade tem também outra faceta. E para entender Buenos Aires é preciso conhecer as duas.
É preciso visitar seus palácios, mas também a ESMA, a Escuela Superior de Mecánica de la Armada, principal centro de extermínio de prisioneiros durante a ditadura, que desde 2004 abriga um espaço dedicado à memória e a promoção da defesa dos direitos humanos. Dois lados de uma história, que talvez não sejam tão independentes como possa parecer à primeira vista.
_________________________________
Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me quedo (giseleteixeira.wordpress.com), com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha.
Cartas de Buenos Aires / Blog do Noblat - 29.09.09.
A confissão aconteceu em 2007 durante um jantar, num restaurante de uma ilha paradisíaca de Bali, na Indonésia. Difícil imaginar uma conversa tão horrível em um lugar tão lindo, mas foi assim.
O piloto argentino Julio Alberto Poch, que então trabalhava para a companhia aérea holandesa Transavia (que pertence à Air France-KLM), entre um drinque e outro, contou a seus companheiros que durante a ditadura militar (1976 a 1983) havia pilotado os chamados vôos da morte. E deu detalhes.
Os prisioneiros eram levados em furgões a um aeroclube, normalmente à noite. Ao chegarem, recebiam uma injeção de Pentotal (um sonífero), eram embarcados em aviões e, após dormirem, jogados ao mar sem roupas, para que não houvesse nenhuma possibilidade de identificação.
Às vezes, tinham as barrigas abertas para que as vísceras se espalhassem no mar e, assim, os corpos afundassem mais rápido. Ou, em outras palavras, não boiassem.
Os holandeses, claro, ficaram horrorizados e o denunciaram à justiça do país. Começou aí uma investigação – em total sigilo - que foi finalizada na terça-feira passada com a prisão de Poch, numa escala da viagem Amsterdam-Valência.
Era seu último vôo antes da aposentadoria. Foi preso pela polícia espanhola quando, coincidentemente, estava acompanhado da mulher e de um dos filhos. Tem apenas 57 anos. Os passageiros do avião não ficaram sabendo de nada.
Aqui, longe de tudo, me delicio com os detalhes da operação, me delicio com as sutilezas do destino. Esfrego as mãos, satisfeita. Essa prisão, é claro, deve ter sido noticiada no Brasil, mas como a semana passada o noticiário foi muito dominado por Honduras, achei melhor relembrar.
Pelo menos relembrar seu contexto. Poch é o segundo piloto detido por atirar pessoas vivas ao mar durante a ditadura. O primeiro foi Adolfo Scilingo, em 1995, o primeiro repressor a confessar participação em vôos deste tipo. Segundo ele, os vôos saíam uma vez por semana, com cerca de 15 a 30 pessoas. Dessa forma, confirma, devem ter sido “eliminadas” uma 4.400 pessoas.
Dizem que há centenas de envolvidos, talvez milhares. Membros das Forças Armadas e também civis – desde os motoristas dos furgões até os enfermeiros que ministravam as injeções e inclusive apenas simples testemunhas, que acompanhavam as operações.
Os mais jovens possuem pouco mais de 50 anos e os mais velhos estão com cerca de 90. Alguns enlouqueceram. Não puderam viver com o segredo de terem jogado ao mar pessoas vivas, drogadas, indefesas, desnudas, desde aviões em pleno vôo em direção ao vazio.
Os depoimentos são assustadores.
Rubén Ricardo Ormello, que em 1976 era cabo e tinha 21 anos, foi mecânico e prestou serviços para a área militar. Relatou a seguinte história.
recorda, sem arrependimentos.“Uma vez trouxeram uma gorda que pesava uns 100 quilos, e a droga não havia tido efeito suficiente. Quando íamos jogá-la ao mar acordou e se agarrou ao avião. A filha da puta não se soltava. Tivemos que carregá-la a patadas até que foi à merda”,
Conto essa história porque na semana passada falei da belle époque portenha. Mas a cidade tem também outra faceta. E para entender Buenos Aires é preciso conhecer as duas.
É preciso visitar seus palácios, mas também a ESMA, a Escuela Superior de Mecánica de la Armada, principal centro de extermínio de prisioneiros durante a ditadura, que desde 2004 abriga um espaço dedicado à memória e a promoção da defesa dos direitos humanos. Dois lados de uma história, que talvez não sejam tão independentes como possa parecer à primeira vista.
_________________________________
Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me quedo (giseleteixeira.wordpress.com), com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha.
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
Acho que já chegavam com o pentotal injetado, pós interrogatório. Também conhecido como soro da verdade.Ao chegarem, recebiam uma injeção de Pentotal (um sonífero),
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
A CONSCIÊNCIA DE QUEM NÃO FOI HERÓI.
Expedito Filho, era subeditor da sucursal da VEJA em Brasília em 1991.
O Coronel Luiz Antônio do Prado Ribeiro, primeiro presidente do IPM do Riocentro, é hoje um homem amargurado. O coronel preenche seus dias na reserva fazendo cooper e praticando ioga. À noite, para afastar a insônia, pinta quadros e rascunha versos. Ao assumir a presidência do inquérito, Prado viveu um momento crucial em sua existência. O coronel tinha uma certeza quase inabalável – a de que o Capitão Machado e o Sargento Rosário sofreram um torpe atentado. Dias depois a certeza virou pó e ele se convenceu de que estava diante de uma armação do DOI fluminense, da qual o capitão e o sargento eram os principais suspeitos.
O Coronel Prado foi colocado diante de duas opções: ir até o fim com suas suspeitas e virar herói nacional ou trair suas próprias convicções e ganhar a patente de general-de-brigada, como era sugerido por seus superiores. Prado não fez uma coisa nem outra, e largou o inquérito no meio. Se não revelou a verdade, também não assinou uma mentira. Mas, entre os militares que estiveram de alguma forma encarregados de esclarecer o que houve no Riocentro, é o único que honrou a farda verde-oliva do Exército brasileiro. Hoje, pode encarar nos olhos seus netos e também seus ex-colegas de armas. Não é herói, mas tem a consciência tranqüila. A seguir, seu testemunho emocionado e sincero sobre os quinze dias em que investigou o Riocentro:
(* Nota do Clermont: Coronel Job de Lorena Sant’Anna, segundo presidente do IPM. Foi encarregado da missão de anunciar à Nação brasileira que sinistros agentes comunistas haviam se infiltrado, sorrateiramente, dentro de um apertado carro de passeio, e lá instalado uma bomba. Tudo isto, enquanto os dois ocupantes do carro, militares à paisana do DOI-CODI, estavam ausentes, satisfazendo necessidades fisiológicas. Foi promovido, logo depois, a general-de-brigada...)
_______________________________________________________
Extraído de REVISTA VEJA, Edição 1.180 – ano 24 – n° 18 – 1° de maio de 1991. Reportagem de Expedito Filho.
Expedito Filho, era subeditor da sucursal da VEJA em Brasília em 1991.
O Coronel Luiz Antônio do Prado Ribeiro, primeiro presidente do IPM do Riocentro, é hoje um homem amargurado. O coronel preenche seus dias na reserva fazendo cooper e praticando ioga. À noite, para afastar a insônia, pinta quadros e rascunha versos. Ao assumir a presidência do inquérito, Prado viveu um momento crucial em sua existência. O coronel tinha uma certeza quase inabalável – a de que o Capitão Machado e o Sargento Rosário sofreram um torpe atentado. Dias depois a certeza virou pó e ele se convenceu de que estava diante de uma armação do DOI fluminense, da qual o capitão e o sargento eram os principais suspeitos.
O Coronel Prado foi colocado diante de duas opções: ir até o fim com suas suspeitas e virar herói nacional ou trair suas próprias convicções e ganhar a patente de general-de-brigada, como era sugerido por seus superiores. Prado não fez uma coisa nem outra, e largou o inquérito no meio. Se não revelou a verdade, também não assinou uma mentira. Mas, entre os militares que estiveram de alguma forma encarregados de esclarecer o que houve no Riocentro, é o único que honrou a farda verde-oliva do Exército brasileiro. Hoje, pode encarar nos olhos seus netos e também seus ex-colegas de armas. Não é herói, mas tem a consciência tranqüila. A seguir, seu testemunho emocionado e sincero sobre os quinze dias em que investigou o Riocentro:
“Em 1981, quando eu vivia o melhor momento da minha carreira no Exército, fui nomeado presidente do IPM do Riocentro. Quando as bombas explodiram, eu estava no hospital acompanhando o parto da minha filha. Voltei para casa e recebi um telefonema do General Gentil Marcondes Filho, comandante do 1º Exército, para que fosse até o quartel. Lá, ele me fez o convite. Tomei um susto. Eu não queria. Sugeri ao General Gentil que escolhesse um general. Argumentei que um coronel teria dificuldades de interrogar um general. Ele disse que não. Disse que a missão era minha. Aceitei. Estava convencido de que o atentado era coisa de comunista. Na minha concepção de militar não imaginava um ato como aquele sendo executado por oficiais do Exército brasileiro. Eu fui revolucionário em 1964, junto com Jarbas Passarinho no Pará, e, nos meus batalhões, nunca deixei ninguém bater ou torturar. O nosso regimento interno considera a mentira uma falta grave e eu nunca ia mentir ou aceitar uma solução que violentasse a minha consciência. Nos primeiros dias do inquérito descobri que existiam no Exército dois tipos de oficial: o de tropa e o de informações. O oficial de tropa não mente porque o regulamento considera a mentira uma falta grave. Mas o oficial de informações considera a mentira um instrumento de trabalho. Naquela época, as ações desse pessoal de informações eram desconhecidas até dos comandos. Comecei a chamar testemunhas e solicitar provas. Eu queria apurar tudo.
No decorrer do inquérito descobri que estava no olho do furacão. Quando recebi o laudo do PIC, Pelotão de Investigações Criminais da Polícia do Exército, sobre a explosão das bombas comecei a afastar a hipótese de um atentado comunista. Com a bomba-relógio, era impossível a hipótese de atentado. Além disso, o primeiro laudo cadavérico do sargento indicou que a bomba estava em seu colo. Depois, mudaram o laudo. Ouvi informalmente o Capitão Wilson Machado e não gostei. Achei muito esquisito que um oficial em missão de cobertura ao Riocentro parasse seu carro para urinar no estacionamento. Aquilo não é comportamento de oficial em missão.
Procurei o General Gentil e disse que estava convencido de que aquilo não era um atentado subversivo e que deveríamos examinar as hipóteses de a operação ter sido executada pelo DOI ou de uma rebelião dentro do próprio DOI. Disse a ele que, diante da hipótese de o atentado ter sido mesmo provocado pelo próprio DOI, o melhor seria a minha substituição por um general, argumentando que ele teria mais autonomia. Afinal, eu estava subordinado ao General Armando Patrício, Chefe do Estado-Maior do 1º Exército e, portando, do DOI. Ele era meu chefe e eu não podia chamar o meu superior para depor. O General Gentil determinou que continuasse com a orientação de atribuir o atentado a origem desconhecida. Ele me disse que recebia orientação do gabinete do Ministro do Exército, Walter Pires.
Eu fui para casa e comecei a avaliar. Resolvi continuar no inquérito e aí mandei chamar a mulher do Sargento Rosário. Por debaixo do pano, o comando do 1º Exército começou a criar uma série de dificuldades para que ela fosse ouvida. Um dia, ela não podia. No outro, ela não foi encontrada. Minha mulher começou a receber telefonemas anônimos. Foram dois telefonemas – um com voz masculina e outro com voz feminina. Nesses telefonemas garantiam que eu tinha uma amante. Para mim, eles nunca falaram nada diretamente. Fui me convencendo de que o comando do 1º Exército estava contra mim. O General Gentil nem escondia mais que se arrependera de ter me escolhido para o caso. Aceitar aquela orientação, de atribuir o atentado a origem desconhecida, era o caminho mais fácil. Dali, eu sairia general-de-brigada.
Nunca fui um militar brilhante. Fiz uma carreira modesta, mas sempre fui disciplinado. Eu não podia admitir a hipótese de autoria desconhecida porque tinha a vítima, o Sargento Rosário, e porque o capitão estava vivo. Minha mulher estava muito assustada. O Exército é uma estrutura e eu era apenas um coronel. A estrutura estava contra mim. Não havia o que fazer.
O momento político também era delicado. Eu amo o Exército e tinha temor, eu tinha medo de ficar mal com meus irmãos de farda. Pensei em largar o inquérito, alegando motivo de foro íntimo. Era isso mesmo o que estava acontecendo. Eu queria largar o inquérito. Mas, se dissesse isso, chamaria a atenção da imprensa. Disseram que eu devia tirar uma licença médica. Eu relutei, mas alguns amigos argumentaram que era melhor para mim. Eu não estava doente, tinha uma saúde de ferro, mas tirei a licença. Na volta da licença, fiquei com medo de o 1º Exército me considerar incapacitado para o serviço ativo por distúrbio mental. Isso podia acontecer, pois incomodei muita gente. Graças a Deus, fui considerado apto. Com o General Gentil não havia clima sequer para conversar. Ele sabia que eu não ia enxovalhar minha consciência. Hoje, eu olho para os meus filhos, meus netos, com a consciência tranqüila. Com a consciência de que, se não fui até o final, pelo menos não botei meu jamegão naquele relatório. Eles queriam apenas alguém que botasse o jamegão naquilo. Podia ser qualquer um.
Eu não sei se o Job * pode encarar seus netos, seus filhos, seus colegas oficiais da mesma forma. Eu não precisei mudar de residência. Ele precisou, anda se escondendo. Ele também vive trocando de telefone. Eu, não. Eu continuo na Tijuca, onde sempre morei. Estou bem com a opinião pública e com minha consciência. Também tenho certeza de que meus irmãos oficiais de tropa me respeitam. Eles respeitam um oficial brasileiro que não mente. Às vezes, passo dias imaginando que o inquérito poderia voltar às minhas mãos. Talvez eu devesse ter continuado, mas não continuei. Agora, por favor não me chamem de herói. Eu não sou herói.”
(* Nota do Clermont: Coronel Job de Lorena Sant’Anna, segundo presidente do IPM. Foi encarregado da missão de anunciar à Nação brasileira que sinistros agentes comunistas haviam se infiltrado, sorrateiramente, dentro de um apertado carro de passeio, e lá instalado uma bomba. Tudo isto, enquanto os dois ocupantes do carro, militares à paisana do DOI-CODI, estavam ausentes, satisfazendo necessidades fisiológicas. Foi promovido, logo depois, a general-de-brigada...)
_______________________________________________________
Extraído de REVISTA VEJA, Edição 1.180 – ano 24 – n° 18 – 1° de maio de 1991. Reportagem de Expedito Filho.
- Bourne
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
Nem teve tanta polêmica no tópico.
Lembrem que quando apoiam a divisão entre homens de bens com direitos e subversivos sem direitos, as manifestações são coisa de arruaceiro que merecem apanhar, qualquer política social é coisa de comunista que tem que ir para Cuba são aberrações do grupo que tomou o poder com Costa e Silva e Medici. Hoje representados pelo Bolsonaro e pelos inocentes que pedem a volta da ditadura e a glamorizam.
Como efeito colateral mataram o debate público, intelectualidade (da direita à esquerda) e quebraram uma longa tradição nacional. Inclusive com técnicos e debatedores de linhas opostas trabalhando juntos no governo frente a um desafio comum. Com o golpe de 1964, os simpáticos ao regime ficaram como Roberto Campos, outros foram destituídos e afastados da estrutura de governo, mas não perseguidos como ameaças. O que realmente pós-1967 quando o regime se fecha, abre margem ao radicalismo de uma ala.
A gestão de Castelo Branco teve como foco fazer as reformas, dar a estrutura necessária para modernização do país, com distribuição de renda e retorno rápido à democracia com garantia de direitos, que eram relativamente comuns no Brasil desde os tempos do império, razoavelmente evoluíram ao longo do tempo. Nem nos tempos da ditadura de Vargas se teve uma uma ditadura sanguinária. Era bem mais branda que a Argentina de Peron.
É natural que oficiais formados anteriormente sejam avessos a tortura e crimes. Não estava na formação deles essas ações que iriam contra o básico que lhes foram ensinados como militares.
A justificativa do inimigo comunista não existia ou, se existia, era uma meia dúzia insignificante que não ameaçaria a estrutura institucional estabelecida. Na verdade, a luta armada foi subproduto do sistema que auxiliou a se legitimar, endurecer e permanecer no poder. A questão no Brasil nos anos 1950 e 1960 eram confrontos de poder entre grupos que queriam mesma coisa: desenvolvimento. O ponto culminante foi nos anos 1960 em que sem as reformas o país não avançaria.
Lembrem que quando apoiam a divisão entre homens de bens com direitos e subversivos sem direitos, as manifestações são coisa de arruaceiro que merecem apanhar, qualquer política social é coisa de comunista que tem que ir para Cuba são aberrações do grupo que tomou o poder com Costa e Silva e Medici. Hoje representados pelo Bolsonaro e pelos inocentes que pedem a volta da ditadura e a glamorizam.
Como efeito colateral mataram o debate público, intelectualidade (da direita à esquerda) e quebraram uma longa tradição nacional. Inclusive com técnicos e debatedores de linhas opostas trabalhando juntos no governo frente a um desafio comum. Com o golpe de 1964, os simpáticos ao regime ficaram como Roberto Campos, outros foram destituídos e afastados da estrutura de governo, mas não perseguidos como ameaças. O que realmente pós-1967 quando o regime se fecha, abre margem ao radicalismo de uma ala.
A gestão de Castelo Branco teve como foco fazer as reformas, dar a estrutura necessária para modernização do país, com distribuição de renda e retorno rápido à democracia com garantia de direitos, que eram relativamente comuns no Brasil desde os tempos do império, razoavelmente evoluíram ao longo do tempo. Nem nos tempos da ditadura de Vargas se teve uma uma ditadura sanguinária. Era bem mais branda que a Argentina de Peron.
É natural que oficiais formados anteriormente sejam avessos a tortura e crimes. Não estava na formação deles essas ações que iriam contra o básico que lhes foram ensinados como militares.
A justificativa do inimigo comunista não existia ou, se existia, era uma meia dúzia insignificante que não ameaçaria a estrutura institucional estabelecida. Na verdade, a luta armada foi subproduto do sistema que auxiliou a se legitimar, endurecer e permanecer no poder. A questão no Brasil nos anos 1950 e 1960 eram confrontos de poder entre grupos que queriam mesma coisa: desenvolvimento. O ponto culminante foi nos anos 1960 em que sem as reformas o país não avançaria.
- gingerfish
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
Acho muito bom o reconhecimento de altas figuras militares o reconhecimento de que 1964 e a "Revolução" em si foram decisões erradas - eu, particularmente, achava que os comandos não tinham "espírito social" . Bem como o discurso de que hoje a democracia está consolidada, isso é bom (mas também não esperava o contrário). É que no modo como ele falou, ele transmitiu segurança, confiança.
Como dizem os historiadores, quem não conhece seu passado está fadado a cometer os mesmos erros, talvez expandi-los no futuro.
Já esse negócio de tortura, "Mon Dieu" ... o que mais? Claro que eu sou contra isso, cara. Isso é inconstitucional!!! A CF/88 foi feita, sim, com participação popular, isso é fato, há vídeos mostrando isso aí, uma porção de gente participando da elaboração da CF durante a constituinte. Isso é importante. A realidade ser estranha à escritura, aí é outra coisa.
A tortura, pelo que eu humildemente vi dela, ela é usada principalmente por alguns militares (que eu acho que deveriam estar em extinção...) porque alguns crimes são muito violentos, chocam a população, há uma cobrança social em cima de se fazer justiça, e um grupo de PMs tortura, porque investigar no submundo é impossível, para achar um criminoso. E é isso.
Como dizem os historiadores, quem não conhece seu passado está fadado a cometer os mesmos erros, talvez expandi-los no futuro.
Já esse negócio de tortura, "Mon Dieu" ... o que mais? Claro que eu sou contra isso, cara. Isso é inconstitucional!!! A CF/88 foi feita, sim, com participação popular, isso é fato, há vídeos mostrando isso aí, uma porção de gente participando da elaboração da CF durante a constituinte. Isso é importante. A realidade ser estranha à escritura, aí é outra coisa.
A tortura, pelo que eu humildemente vi dela, ela é usada principalmente por alguns militares (que eu acho que deveriam estar em extinção...) porque alguns crimes são muito violentos, chocam a população, há uma cobrança social em cima de se fazer justiça, e um grupo de PMs tortura, porque investigar no submundo é impossível, para achar um criminoso. E é isso.
A vida do homem na Terra é uma guerra.
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- rodrigo
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
Nossa geração não verá esse pedaço da história com isenção.
Hoje o clamor por intervenção das Forças Armadas é por razões de segurança pública, que mata por semana o que morreu de comunistas em 30 anos de ditadura. Mas ninguém liga. Até morrer alguém da família, fecha-se uma rua em protesto, sai uma passeata com camisetas estampando o rosto do falecido, um encontro com um secretário de segurança, e no dia seguinte continua o abate da população.
Hoje o clamor por intervenção das Forças Armadas é por razões de segurança pública, que mata por semana o que morreu de comunistas em 30 anos de ditadura. Mas ninguém liga. Até morrer alguém da família, fecha-se uma rua em protesto, sai uma passeata com camisetas estampando o rosto do falecido, um encontro com um secretário de segurança, e no dia seguinte continua o abate da população.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
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- Clermont
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
Clermont escreveu: ↑Dom Jun 21, 2009 2:26 pm (Realmente, foi uma das decisões mais infelizes, inúteis e prejudiciais aos próprios interesses do Exército, a decisão de executar aqueles marxistas idiotas e iludidos capturados com vida na luta do Araguaia.
(...)
Mas, tomando a decisão que tomaram, generais como o antigos ministro do Exército, o chefe do serviço de inteligência e o comandante de operações na área conflituosa, (...)
E agora ficamos sabendo que os responsáveis diretos pelas ordens de execução foram os próprios presidentes Médici e Geisel.
- Bourne
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
O Médici não era novidade. O cara sempre foi cachorro louco. Só não foi sangrenta como Pinochet ou ditadura argentina porque possivelmente teria fortes resistências dentro do exército. O diferencial foi saber que o Geisel participou que era de um grupo mais moderado e tinha como objetivo abrir caminho para abertura política.
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
A narrativa do Curio me lembrou esta canção :
INFANTE E O GUERRILHEIRO TIVERAM UMA DISCUSSÃO
PARA VER QUEM ERA O MELHOR NA SELVA DA REGIÃO
OS DOIS SE PROPUSERAM A CONQUISTAR UM OBJETIVO
QUEM CHEGASSE PRIMEIRO ERA MESMO INVENCÍVEL
ENTRARAM NA SELVA E LOGO ESCURECEU
AGORA EU VOU CONTAR O QUE FOI QUE ACONTECEU
O INFANTE ADIANTOU-SE NA FRENTE DO GUERRILHEIRO
MOSTRANDO SUA FIBRA SUA MORAL DE GUERREIRO
CHEGANDO LOGO EM FRENTE PREPAROU UMA ARMADILHA
ENQUANTO O GUERRILHEIRO NA SELVA JÁ SE PERDIA
POREM NÃO TEVE SORTE UMA COBRA LHE MORDEU
AGORA EU VOU CONTAR O QUE FOI QUE ACONTECEU
SABEMOS QUE O VENENO DESTA COBRA É MUITO FORTE
PENSAR QUE LEVARIA O VELHO INFANTE A MORTE
VENENO DESTA COBRA NO INFANTE SE INVERTEU
E AO INVÉS DO INFANTE FOI A COBRA QUE MORREU
FICOU COMPROVADO O INFANTE É COMBATENTE
NÃO TEME O INIMIGO NEM TÃO POUCO UMA SERPENTE
FICOU COMPROVADO O INFANTE É DESTEMIDO
DEIXOU O GUERRILHEIRO DENTRO DA SELVA PERDIDO
INFANTE E O GUERRILHEIRO TIVERAM UMA DISCUSSÃO
PARA VER QUEM ERA O MELHOR NA SELVA DA REGIÃO
OS DOIS SE PROPUSERAM A CONQUISTAR UM OBJETIVO
QUEM CHEGASSE PRIMEIRO ERA MESMO INVENCÍVEL
ENTRARAM NA SELVA E LOGO ESCURECEU
AGORA EU VOU CONTAR O QUE FOI QUE ACONTECEU
O INFANTE ADIANTOU-SE NA FRENTE DO GUERRILHEIRO
MOSTRANDO SUA FIBRA SUA MORAL DE GUERREIRO
CHEGANDO LOGO EM FRENTE PREPAROU UMA ARMADILHA
ENQUANTO O GUERRILHEIRO NA SELVA JÁ SE PERDIA
POREM NÃO TEVE SORTE UMA COBRA LHE MORDEU
AGORA EU VOU CONTAR O QUE FOI QUE ACONTECEU
SABEMOS QUE O VENENO DESTA COBRA É MUITO FORTE
PENSAR QUE LEVARIA O VELHO INFANTE A MORTE
VENENO DESTA COBRA NO INFANTE SE INVERTEU
E AO INVÉS DO INFANTE FOI A COBRA QUE MORREU
FICOU COMPROVADO O INFANTE É COMBATENTE
NÃO TEME O INIMIGO NEM TÃO POUCO UMA SERPENTE
FICOU COMPROVADO O INFANTE É DESTEMIDO
DEIXOU O GUERRILHEIRO DENTRO DA SELVA PERDIDO
"“A cadela do fascismo está sempre no cio” (Bertolt Brecht)
- Clermont
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
Os sete mortos vivos do Araguaia.
Rudolfo Lago, IstoE - 14.07.18.
Em 1973, o Brasil vivia o período mais duro da ditadura militar, os chamados Anos de Chumbo, onde a repressão violenta e a tortura se tornaram regras. Em meio à floresta amazônica, às margens do rio Araguaia, numa região entre os atuais estados do Pará e do Tocantins, um grupo de militantes ligados ao PCdoB introduziu um foco de guerrilha, com o objetivo de criar um território independente a partir do qual pretendia combater e derrubar o regime. Naquele ano, o presidente Emílio Garrastazu Médici deu uma dura ordem a seu ministro do Exército, general Orlando Geisel: a guerrilha do Araguaia deveria ser derrotada, com a eliminação total dos guerrilheiros. Médici não queria testemunhas.
A ordem de Médici deu início ao que o Exército chama de “Operação Marajoara” e o PCdoB batizou de “Terceira Campanha”. Um sangrento período no qual a ética tradicional da guerra e as regras previstas na Convenção de Genebra foram totalmente abandonadas. Os detalhes da Terceira Campanha são o tema do segundo livro sobre o Araguaia de autoria de Hugo Studart, “Borboletas e Lobisomens”, editado pela Francisco Alves, que será lançado em Brasília no próximo dia 17. ISTOÉ teve acesso com exclusividade aos principais capítulos da obra.
O título do livro remete a uma lenda colhida na região do Araguaia, referente aos dois guerrilheiros mais conhecidos. Sobre Dinalva Conceição Teixeira, codinome Dina, os camponeses da região diziam que se transformava em borboleta para escapar dos soldados. Já Oswaldo Orlando Costa, um negro de quase dois metros de altura conhecido por Oswaldão, viraria lobisomem. Para Studart, são arquétipos do imaginário dos guerrilheiros: borboletas, pelos sonhos de justiça social; lobisomens, pela opção pela violência nas suas ações.
Com detalhes sobre a prisão e execução dos guerrilheiros, o livro de Studart faz um inventário do saldo final da guerrilha do Araguaia. De acordo com ele, 10 militares morreram nas ações, além de 15 camponeses. Mas as maiores vítimas foram os guerrilheiros: 29 morreram em confronto, 22 executados pelos soldados e um “justiçado” pelos próprios guerrilheiros. Um dos dados da conta feita por Studart, no entanto, deverá gerar polêmica: segundo ele, sete guerrilheiros teriam feito acordo de colaboração com o governo militar, integraram o Programa de Proteção a Testemunhas e passaram a viver com novas identidades. São os chamados “Mortos-Vivos” do Araguaia.
Não há documentos que atestem a existência do que consta no livro “Operação Mortos-Vivos”, capitaneada à época pelo tenente-coronel Cyro Etchegoyen, tio do atual ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Sergio Etchegoyen. O trabalho de apuração de Hugo para chegar aos sete nomes é principalmente baseado no cruzamento de depoimentos de militares e camponeses, alguns desses depoimentos fornecidos de forma anônima. Entre os historiadores, há mais consenso com relação ao nome daquele que puxa o capítulo em que Hugo detalha a existência dos “Mortos-Vivos”: Hélio Luiz Navarro de Magalhães. Aos 21 anos, Hélio adotou na guerrilha o codinome Edinho. Hélio era filho de um oficial da Marinha, o capitão de mar e guerra Hélio Gérson de Magalhães, e sobrinho do almirante Gualter Meneses de Magalhães, comandante-em-chefe da Esquadra Brasileira – o segundo nome na hierarquia da Marinha.
Segundo o livro, seu tio dava seguidamente instruções no sentido de que os militares capturassem seu sobrinho vivo e resguardassem sua vida. Foi preso no Araguaia em fins de fevereiro de 1974. Estava em companhia de outro guerrilheiro, Renê Silveira, codinome Duda. Os soldados desembarcaram de um helicóptero atirando e atingiram Hélio no ombro. Renê estava desarmado. Os dois se renderam. Horas depois, um terceiro guerrilheiro também foi preso: Antônio Pádua, codinome Piauí. Logo repercutiu a notícia da prisão daquele que já era conhecido como “filho do almirante”. Discutia-se o que fazer com ele. A simples libertação de Hélio não seria uma solução. Os militares avaliaram que, nesse caso, ele acabaria eliminado pelo próprio PCdoB. Daí, a operação para criar uma “história de cobertura” (uma falsa eliminação) e lhe dar nova identidade. Segundo a obra, Hélio interferiu pela vida dos outros dois companheiros.
Mais tarde, outros quatro guerrilheiros seriam poupados da ordem de Médici de eliminação total. A irmã de Renê, Elizabeth Silveira, do Grupo Tortura Nunca Mais, contesta de forma veemente a versão de que seu irmão viveria com nova identidade. O livro informa que, em 2001, Hélio chegou a reaparecer no mundo dos vivos. Teria se tornado executivo de uma rede de supermercados. Apresentou-se no dia 8 de agosto daquele ano em um posto da Receita, com sua verdadeira identidade, para regularizar seu CPF e liberar para sua mãe o inventário de seu pai, morto em 1999. Forneceu à Justiça um documento em que abria mão da herança e novamente desapareceu.
Rudolfo Lago, IstoE - 14.07.18.
Em 1973, o Brasil vivia o período mais duro da ditadura militar, os chamados Anos de Chumbo, onde a repressão violenta e a tortura se tornaram regras. Em meio à floresta amazônica, às margens do rio Araguaia, numa região entre os atuais estados do Pará e do Tocantins, um grupo de militantes ligados ao PCdoB introduziu um foco de guerrilha, com o objetivo de criar um território independente a partir do qual pretendia combater e derrubar o regime. Naquele ano, o presidente Emílio Garrastazu Médici deu uma dura ordem a seu ministro do Exército, general Orlando Geisel: a guerrilha do Araguaia deveria ser derrotada, com a eliminação total dos guerrilheiros. Médici não queria testemunhas.
A ordem de Médici deu início ao que o Exército chama de “Operação Marajoara” e o PCdoB batizou de “Terceira Campanha”. Um sangrento período no qual a ética tradicional da guerra e as regras previstas na Convenção de Genebra foram totalmente abandonadas. Os detalhes da Terceira Campanha são o tema do segundo livro sobre o Araguaia de autoria de Hugo Studart, “Borboletas e Lobisomens”, editado pela Francisco Alves, que será lançado em Brasília no próximo dia 17. ISTOÉ teve acesso com exclusividade aos principais capítulos da obra.
O título do livro remete a uma lenda colhida na região do Araguaia, referente aos dois guerrilheiros mais conhecidos. Sobre Dinalva Conceição Teixeira, codinome Dina, os camponeses da região diziam que se transformava em borboleta para escapar dos soldados. Já Oswaldo Orlando Costa, um negro de quase dois metros de altura conhecido por Oswaldão, viraria lobisomem. Para Studart, são arquétipos do imaginário dos guerrilheiros: borboletas, pelos sonhos de justiça social; lobisomens, pela opção pela violência nas suas ações.
Com detalhes sobre a prisão e execução dos guerrilheiros, o livro de Studart faz um inventário do saldo final da guerrilha do Araguaia. De acordo com ele, 10 militares morreram nas ações, além de 15 camponeses. Mas as maiores vítimas foram os guerrilheiros: 29 morreram em confronto, 22 executados pelos soldados e um “justiçado” pelos próprios guerrilheiros. Um dos dados da conta feita por Studart, no entanto, deverá gerar polêmica: segundo ele, sete guerrilheiros teriam feito acordo de colaboração com o governo militar, integraram o Programa de Proteção a Testemunhas e passaram a viver com novas identidades. São os chamados “Mortos-Vivos” do Araguaia.
Não há documentos que atestem a existência do que consta no livro “Operação Mortos-Vivos”, capitaneada à época pelo tenente-coronel Cyro Etchegoyen, tio do atual ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Sergio Etchegoyen. O trabalho de apuração de Hugo para chegar aos sete nomes é principalmente baseado no cruzamento de depoimentos de militares e camponeses, alguns desses depoimentos fornecidos de forma anônima. Entre os historiadores, há mais consenso com relação ao nome daquele que puxa o capítulo em que Hugo detalha a existência dos “Mortos-Vivos”: Hélio Luiz Navarro de Magalhães. Aos 21 anos, Hélio adotou na guerrilha o codinome Edinho. Hélio era filho de um oficial da Marinha, o capitão de mar e guerra Hélio Gérson de Magalhães, e sobrinho do almirante Gualter Meneses de Magalhães, comandante-em-chefe da Esquadra Brasileira – o segundo nome na hierarquia da Marinha.
Segundo o livro, seu tio dava seguidamente instruções no sentido de que os militares capturassem seu sobrinho vivo e resguardassem sua vida. Foi preso no Araguaia em fins de fevereiro de 1974. Estava em companhia de outro guerrilheiro, Renê Silveira, codinome Duda. Os soldados desembarcaram de um helicóptero atirando e atingiram Hélio no ombro. Renê estava desarmado. Os dois se renderam. Horas depois, um terceiro guerrilheiro também foi preso: Antônio Pádua, codinome Piauí. Logo repercutiu a notícia da prisão daquele que já era conhecido como “filho do almirante”. Discutia-se o que fazer com ele. A simples libertação de Hélio não seria uma solução. Os militares avaliaram que, nesse caso, ele acabaria eliminado pelo próprio PCdoB. Daí, a operação para criar uma “história de cobertura” (uma falsa eliminação) e lhe dar nova identidade. Segundo a obra, Hélio interferiu pela vida dos outros dois companheiros.
Mais tarde, outros quatro guerrilheiros seriam poupados da ordem de Médici de eliminação total. A irmã de Renê, Elizabeth Silveira, do Grupo Tortura Nunca Mais, contesta de forma veemente a versão de que seu irmão viveria com nova identidade. O livro informa que, em 2001, Hélio chegou a reaparecer no mundo dos vivos. Teria se tornado executivo de uma rede de supermercados. Apresentou-se no dia 8 de agosto daquele ano em um posto da Receita, com sua verdadeira identidade, para regularizar seu CPF e liberar para sua mãe o inventário de seu pai, morto em 1999. Forneceu à Justiça um documento em que abria mão da herança e novamente desapareceu.
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
Calando a história - A extrema esquerda quer proibir que Hugo Studart fale sobre o Araguaia.
J.R. Guzzo - Veja, 15.08.18.
O jornalista e historiador Hugo Studart, de Brasília, escritor premiado em seus livros sobre o regime militar e merecedor do apreço de organizações que agem em defesa dos direitos humanos, é um exemplo admirável do tipo de perseguido político que haveria num Brasil governado pelas forças de esquerda que estão hoje por aí.
Em seu último livro, “Borboletas e Lobisomens”, que está sendo lançado neste momento, Studart faz uma reconstituição altamente minuciosa da chamada “Guerrilha do Araguaia” - na qual um pequeno grupo armado de extrema esquerda, centrado no PCdoB, tentou derrotar em combate as Forças Armadas do Brasil, nas décadas de 60 e 70, em confins perdidos na região central do país.
Hoje, mais de 50 anos depois, organizações que se definem como “progressistas” ou de “ultra-esquerda”, entraram em guerra contra o livro de Studart.
Se estivessem no poder, proibiriam a publicação de “Borboletas e Lobisomens” e aplicariam uma punição exemplar ao autor - alguma pena prevista, possivelmente, nos mecanismos de “controle social dos meios de comunicação” que prometem adotar em seu futuro governo.
Como não podem fazer isso, colocaram em ação o sistema de difamação, sabotagem e notícias falsas que mantém na mídia e nas redes sociais para tumultuar o lançamento.
Ao mesmo tempo, sua tropa foi posta na frente da livraria escolhida para a noite de autógrafos, no Rio de Janeiro, com a missão de intimidar os presentes e perturbar seu acesso ao local.
O delito de Studart foi mencionar em seu livro algumas realidades incontestáveis e incômodas para os interessados em manter de pé lendas e mitos sobre o que entendem ser o heroísmo dos “combatentes” da aventura do Araguaia.
Basicamente, o jornalista escreve que diversos membros da guerrilha trocaram rapidamente de lado, assim que foram acossados pela tropa do governo - e fizeram acordos com os militares para delatar os companheiros e ajudar os militares na sua captura e destruição.
Refere-se, também, à uma lista de “guerrilheiros” que, em troca da delação, receberam identidades falsas e se beneficiaram de programas de proteção a testemunhas operados pelos serviços de repressão; encontram-se, até hoje, entre os “desaparecidos” do Araguaia. Studart cita ainda uma das líderes do movimento que, na verdade, era amante de um agente das Forças Armadas e agia a seu serviço na guerra contra os companheiros.
Registra assassinatos cometidos entre eles - as chamadas “execuções” ou “justiçamentos”.
Enfim, no que talvez seja o ponto no qual mais irrita os inimigos do seu livro, o autor demonstra que o longo culto ao Araguaia pela esquerda é, em boa parte, uma questão de dinheiro.
Tem a ver com a operação do sistema de indenizações e benefícios que o contribuinte brasileiro paga até hoje, e continuará pagando pelo resto da vida, para pessoas que conseguiram se certificar como “vítimas do regime militar”.
“Borboletas e Lobisomens” é um livro de 658 páginas, com uma lista de 101 obras consultadas pelo autor, tanto sobre o episódio do Araguaia em si como sobre História em geral; entra na relação até a “Metafísica” de Aristóteles. Studart ouviu depoimentos de 72 participantes e familiares, consultou 29 documentos de militantes da operação e teve acesso a cinco documentos militares, inclusive de classificação confidencial e secreta. Ao logo de todo o livro, trata os envolvidos, respeitosamente, como “guerrilheiros” ou “camponeses”.
O relato de delações, homicídios e colaboração com os militares ocupa apenas uma porção modesta do vasto conjunto da obra.
Mas a Polícia do Pensamento que opera na esquerda brasileira não admite a publicação de nenhum fato que possa contrariar sua visão oficial de que houve no Araguaia um conflito entre heróis do PCdoB e carrascos das Forças Armadas - principalmente se esse fato é verdadeiro. Este é o único tipo de liberdade de expressão que entendem.
J.R. Guzzo - Veja, 15.08.18.
O jornalista e historiador Hugo Studart, de Brasília, escritor premiado em seus livros sobre o regime militar e merecedor do apreço de organizações que agem em defesa dos direitos humanos, é um exemplo admirável do tipo de perseguido político que haveria num Brasil governado pelas forças de esquerda que estão hoje por aí.
Em seu último livro, “Borboletas e Lobisomens”, que está sendo lançado neste momento, Studart faz uma reconstituição altamente minuciosa da chamada “Guerrilha do Araguaia” - na qual um pequeno grupo armado de extrema esquerda, centrado no PCdoB, tentou derrotar em combate as Forças Armadas do Brasil, nas décadas de 60 e 70, em confins perdidos na região central do país.
Hoje, mais de 50 anos depois, organizações que se definem como “progressistas” ou de “ultra-esquerda”, entraram em guerra contra o livro de Studart.
Se estivessem no poder, proibiriam a publicação de “Borboletas e Lobisomens” e aplicariam uma punição exemplar ao autor - alguma pena prevista, possivelmente, nos mecanismos de “controle social dos meios de comunicação” que prometem adotar em seu futuro governo.
Como não podem fazer isso, colocaram em ação o sistema de difamação, sabotagem e notícias falsas que mantém na mídia e nas redes sociais para tumultuar o lançamento.
Ao mesmo tempo, sua tropa foi posta na frente da livraria escolhida para a noite de autógrafos, no Rio de Janeiro, com a missão de intimidar os presentes e perturbar seu acesso ao local.
O delito de Studart foi mencionar em seu livro algumas realidades incontestáveis e incômodas para os interessados em manter de pé lendas e mitos sobre o que entendem ser o heroísmo dos “combatentes” da aventura do Araguaia.
Basicamente, o jornalista escreve que diversos membros da guerrilha trocaram rapidamente de lado, assim que foram acossados pela tropa do governo - e fizeram acordos com os militares para delatar os companheiros e ajudar os militares na sua captura e destruição.
Refere-se, também, à uma lista de “guerrilheiros” que, em troca da delação, receberam identidades falsas e se beneficiaram de programas de proteção a testemunhas operados pelos serviços de repressão; encontram-se, até hoje, entre os “desaparecidos” do Araguaia. Studart cita ainda uma das líderes do movimento que, na verdade, era amante de um agente das Forças Armadas e agia a seu serviço na guerra contra os companheiros.
Registra assassinatos cometidos entre eles - as chamadas “execuções” ou “justiçamentos”.
Enfim, no que talvez seja o ponto no qual mais irrita os inimigos do seu livro, o autor demonstra que o longo culto ao Araguaia pela esquerda é, em boa parte, uma questão de dinheiro.
Tem a ver com a operação do sistema de indenizações e benefícios que o contribuinte brasileiro paga até hoje, e continuará pagando pelo resto da vida, para pessoas que conseguiram se certificar como “vítimas do regime militar”.
“Borboletas e Lobisomens” é um livro de 658 páginas, com uma lista de 101 obras consultadas pelo autor, tanto sobre o episódio do Araguaia em si como sobre História em geral; entra na relação até a “Metafísica” de Aristóteles. Studart ouviu depoimentos de 72 participantes e familiares, consultou 29 documentos de militantes da operação e teve acesso a cinco documentos militares, inclusive de classificação confidencial e secreta. Ao logo de todo o livro, trata os envolvidos, respeitosamente, como “guerrilheiros” ou “camponeses”.
O relato de delações, homicídios e colaboração com os militares ocupa apenas uma porção modesta do vasto conjunto da obra.
Mas a Polícia do Pensamento que opera na esquerda brasileira não admite a publicação de nenhum fato que possa contrariar sua visão oficial de que houve no Araguaia um conflito entre heróis do PCdoB e carrascos das Forças Armadas - principalmente se esse fato é verdadeiro. Este é o único tipo de liberdade de expressão que entendem.
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Re: Palavras de Militares Brasileiros Contrários à Tortura.
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P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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