arcanjo escreveu:
Olá, Justin.
Gostaria de saber a sua opinião, hoje, sobre o WAD e o Targo.
abs.
arcanjo
Olá, arcanjo.
Já comentei sobre o Targo e, como introdução ao assunto
Wide Area Display – WAD do Gripen brasileiro, postei informações e opiniões sobre o HUD e suas condicionantes para instalação.
Como podemos constatar ao fazer uma busca na internet, já foram apresentadas diferentes configurações de instalação do HUD junto com o WAD, todas prevendo um HUD muito menor do que o existente no Gripen C/D e previsto para o Gripen E sueco.
A última imagem oficial que encontrei foi a referente ao que foi apresentado para a FAB em setembro de 2017 (ver a imagem que segue).
Nessa imagem, pudemos ver como o HUD obrigou a instalação do WAD em uma posição mais baixa no painel.
Nesta segunda foto, podemos perceber que o conjunto inclui a tela única, mas existem dois equipamentos de geração de imagem. Isso é importante para ter redundância em caso de pane. É provável que cada equipamento controle normalmente metade da tela, mas deve incorporar um modo que permita comutar imagens e continuar com a possibilidade de escolher o que apresentar na outra metade que ainda funciona.
Nos projetos do F-5 e do A-29, essa redundância também existe. A diferença é que os displays estão completamente separados.
Vemos que a AEL conseguiu deixar espaço entre os geradores/controladores de imagem para encaixar a volumosa caixa preta de um HUD.
Ainda assim, observamos que, para acomodar o HUD um pouco maior recentemente proposto, o WAD está mais baixo do que os limites do painel frontal iriam sugerir. O HUD da foto é certamente um
mock-up, mas dá para perceber que o HUD é muito menor do que aquele a ser utilizado na versão sueca do Gripen E.
Algumas observações sobre HOTAS, displays, touch screen, etc.
1. Hands On Throttle and Stick – HOTAS
• Primordialmente em aviões de caça, deve ser possível selecionar modos de operação e acionar comandos sem necessidade de tirar as mãos dos comandos e, ainda melhor, sem olhar para dentro. Isso é HOTAS.
2. Touch screen e botões externos ao display
• Quando imaginamos
touch screen, buscamos simplificar hardware e poupar espaço no painel para usar como área de imagem útil.
• Hoje, há diferentes controles de sensibilidade para acionar
touch screen com ou sem luvas, botões virtuais que se escondem automaticamente, etc.
• Ainda assim, vemos que o WAD da AEL propõe usar grande parte da área disponível do equipamento para os botões físicos, mesmo que a etiqueta fique na imagem da página. Isto revela que os botões são inteligentes, podendo ter funções diversas, dependendo da página selecionada.
• Utilizar botões externos está coerente com a dificuldade de utilizar
touch screen em situações de turbulência ou alta carga G.
• Como observação, como meu carro tem direção na direita e eu sou destro, tenho muita dificuldade para usar
touch screen do sistema multimídia que está no painel central, à minha esquerda. Isso porque estou falando de carro em movimento e não de avião de caça, quando um braço pode mais de 30 quilos se estivermos curvando com 9G.
• Praticamente todos os aviões modernos têm hoje displays com
touch screen, como uma opção para designação de alvos, seleção de modos, mas também existem cursores e
joysticks para acionamento via HOTAS.
3. WAD e seleção de páginas ou windows
• Como podemos ver em várias imagens de uso de WAD, o mais comum é que se usem janelas e páginas de acordo com funcionalidades diferentes: situação tática geral, seleção de armamento, pilotagem, navegação, mapas, sensores e designadores, autodefesa e guerra eletrônica,
check-list e emergência, comunicação, instrumentos de motor e combustível, etc.
Embora cada piloto possa escolher como usar cada página, não podemos imaginar que isso se faça sem uma determinada padronização, até para aumentar o nível de segurança.
• Assim, a grande vantagem do WAD sobre um conjunto de displays de área equivalente seria apenas para raras ocasiões em que se deseje utilizar, por exemplo, tela cheia para um só sensor, ou uma divisão 2/3 e 1/3 para as janelas. Eu posso imaginar um piloto na nacele traseira, vendo a imagem de um sensor TV ou IR e designando alvo em tela cheia, mas não creio que isso seja recomendável para um piloto que está no comando da aeronave.
4. Instalação física do WAD
• Os aviões que hoje têm WAD, como o F-35, não têm problema com o HUD pois ele não existe. A imagem do Super Hornet Block III que vi também não prevê HUD. Assim, podem instalar o display na posição mais alta que caiba na curvatura do painel.
• Por falar em curvatura do painel, não é fácil encaixar um retângulo em um círculo. Aviões como o Gripen, Mirage, Rafale, F-16 e A-4 são aviões que os pilotos “vestem”. Para adequada visualização do ambiente externo, exigem que o painel frontal tenha formato quase circular. Já aviões maiores como F-35, F-18, com naceles com tamanho e tipo “banheira” admitem com mais facilidade um largo display retangular na parte superior.
Concluindo, como os suecos, também não sou fã do WAD para nosso Gripen. Acho que poderíamos ter aplicado os recursos financeiros em algo com maior resultado operacional, como armamentos de geração adequada à aeronave, ou, quem sabe, mais aeronaves.
Abraço,
Justin