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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#91 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Nov 30, 2017 12:11 pm

Da Corunha a Lisboa, passando pelo Douro: durante 200 anos, os vikings pilharam a Península Ibérica


Rita Cipriano

Parece ficção, mas não é: os nórdicos passaram mesmo pela costa portuguesa. A dias da estreia da nova temporada de "Vikings", falámos com Hélio Pires, autor de "Os Vikings em Portugal e na Galiza".

Foi por altura do casamento do Rei Beorhtric de Wessex com a Rainha Eadburh que foram avistados pela primeira vez embarcações viking ao largo das ilhas britânicas. Sem saber de quem se tratava, Beorhtric enviou emissários à costa para convidar os estrangeiros a visitarem a residência real. Só que o convite não foi bem recebido e os nórdicos acharam por bem assassinar os homens de Beorhtric ali mesmo. Passados quatro anos, regressaram. Em 793, desembarcaram em Lindisfarne, a “Ilha Sagrada”, em Northumbria, e pilharam e destruíram o mosteiro que ali existia. Os anglo-saxões ficaram aterrorizados. “Nunca apareceu na Grã-Bretanha um terror tão grande como o que acabámos de sofrer”, escreveu o monge Alcuin ao Rei Ethelred de Northumbria, a partir da corte de Carlos Magno. Tinha começado a Idade Viking, a grande época de expansão dos marinheiros do norte.

Durante cerca de 300 anos, os vikings viajaram, conquistaram e colonizaram vários pontos da Europa, chegaram à América do Norte e passaram pelo Médio Oriente. Destruíram mosteiros, grandes cidades e pequenas aldeias, mas também ajudaram a fundar novas localidades, como é o caso de Dublin, que só passou para as mãos dos irlandeses no século XI. Na Península Ibérica, onde o seu rasto é menos evidente, deixaram uma memória vaga que muitas vezes mistura factos reais com pura ficção. Foi procurando separar a lenda da realidade que, em 2005, Hélio Pires decidiu fazer uma tese de doutoramento sobre a presença viking no ocidente ibérico, em Portugal mas também na Galiza. A ideia ocorreu-lhe quando estava na Suécia, onde fez o mestrado em Estudos Vikings e Medievais, na Universidade de Uppsala. Mas a paixão pelos vikings é mais antiga.


Tudo começou ainda durante o curso de Filosofia, com a cadeira de História das Ideias Religiosas. “Houve alguém que me passou umas fotocópias sobre mitologia nórdica. Li-as e fui puxando o fio à meada a partir daí”, contou ao Observador. Foi assim que acabou na Suécia, onde, depois de encontrar algumas informações sobre os vikings na Península Ibérica, decidiu realizar um primeiro trabalho sobre o tema, no âmbito de uma disciplina sobre atividade viking “no geral”. Este foi, contudo, “limitado”, uma vez que as fontes eram poucas, acabando por só retomar o tema com a tese de doutoramento. Depois de bater de porta em porta, esta foi aceite pela Nova de Lisboa. O argumento dos professores era o de que a informação era escassa e que não havia material suficiente para uma tese, mas Hélio Pires não se deixou desanimar. Continuou a insistir até que finalmente ouviu um ”sim”.

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Os Vikings em Portugal e na Galiza, publicado pela Zéfiro, é o primeiro livro em Portugal a abordar em profundidade o tema das incursões vikings na Península Ibérica

Durante três anos, consultou documentos portugueses e galegos que o ajudaram a reconstruir a história das incursões nórdicas dos séculos IX, X, XI e até das mais tardias, já depois do final da Idade Viking. Passados cinco anos — e numa altura em que está prestes a estrear nos Estados Unidos da América a nova temporada da popular série Vikings, inspirada nas sagas de Ragnar Lothbrok, a 29 de novembro (a Portugal só chega a 3 de dezembro, ao canal TVCine & Series) –, a tese foi finalmente publicada em livro pela editora Zéfiro, sediada em Sintra. O texto foi profundamente revisto até porque, como explicou o autor ao Observador, houve muitos pormenores que só lhe ocorreram já depois de a tese ter sido entregue na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, em Lisboa. O livro, Os Vikings em Portugal e na Galiza, é o primeiro em Portugal a abordar em profundidade o tema das incursões vikings na Península Ibérica e os vestígios que deixaram em Portugal e na Galiza, e mostra bem como a história destes nórdicos está mais repleta de perguntas do que respostas.

Quem eram os vikings?

Ao contrário do que muitas vezes se pensa, a palavra viking não se refere a um povo em específico. Por mais vago que possa parecer, os vikings eram “nórdicos que se dedicavam à atividade marítima — à pirataria, ao comércio ou a um misto dos dois”. “Não eram um povo à parte, eram uma parte da sociedade nórdica”, explicou Hélio Pires. Na maioria dos casos, nem se sabe o país de origem, uma vez que os documentos são vagos na descrição. “Há um documento ou outro que diz que vinham daquela zona ou daquela, mas não se sabe até que ponto é que o documento está correto.” É o caso da Crónica Anglo-Saxónica, um dos textos anglo-saxónicos mais importantes, que diz que os navios que atacaram Wessex, em 789, eram “dinamarqueses”, mas isso não significa que fossem oriundos do território que corresponde atualmente à Dinamarca.

No início da Idade Viking — quando começaram as primeiras pilhagens no sul e, mais tarde, no norte de Inglaterra –, as fronteiras escandinavas tal como hoje as conhecemos ainda estavam em formação. Por essa razão, termos como dinamarquês eram, na altura, muitos mais latos. Outros documentos referem que os vikings vinham da Noruega, “mas não se sabe até que ponto isso é preciso”. Além disso, graças às muitas expedições e à fundação de colónias em vários pontos da Europa, o mundo viking deixou rapidamente de corresponder apenas à Escandinávia, começando a englobar outros grupos étnicos e diferentes culturas. Esta interação resultou “em populações de ascendência mista”, como referem Jayne Carroll, Stephen H. Harrison e Gareth Williams em The Vikings in Britain and Ireland.

Curiosamente, os documentos que parecem ser mais “precisos” são aqueles que se referem a Ragnar Lothbrok — figura semilendária que inspirou a série Vikings — e que dão “a ideia de ter vindo da Irlanda”. “Mas mesmo isso é muito, muito escasso”, referiu Hélio Pires. Até porque há outras fontes que dizem que poderia ter nascido em território dinamarquês. “Podem ter existido vários Ragnars, que depois se fundiram numa única lenda. Tudo o que existe nos textos medievais foi muito trabalhado. É difícil tentar perceber o que há ali de histórico”, acrescentou o autor. Na verdade, até hoje, não foram encontradas quaisquer provas de que Ragnar tenha realmente existido. Mas há quem defenda que a sua história está, ainda que por breves momentos, ligada à da Península Ibérica.

De acordo com alguns textos irlandeses, depois da conquista de York, em 867, dois jovens vikings decidiram dedicar-se à pirataria nas ilhas britânicas e na zona da atual França. Seguindo ao longo da costa, Hasting e Björn acabaram por chegar à Península Ibérica, sendo responsáveis por um ataque em solo ibérico antes de seguirem rumo ao norte de África, onde continuaram a pilhagem. Hasting e Björn eram filhos de um viking chamado Raghnall, que alguns autores identificaram como sendo o lendário Ragnar Lothbrok. Este enredo é explorado pela série Vikings na quarta temporada e nesta que agora vai estrear. E quanto a Raghnall (ou Ragnar)? Será que passou pela Península Ibérica? “É difícil de dizer. Não existe nada de concreto a que nos possamos agarrar.” É tudo “muito difuso”, tal como a história dos vikings.

A origem do termo também não ajuda a esclarecer nada — a palavra inglesa viking tem origem no vocábulo vikingr, das fontes escandinavas. Apesar de ninguém saber ao certo de onde veio (como muitas outras coisas relacionadas com os marinheiros nórdicos), existe um número cada vez maior de investigadores que defende tratar-se de uma derivação de vik, uma palavra da língua nórdica antiga que significa “uma pequena baía” ou “fjord”. Um viking seria, assim, “alguém que veio dos fjords”. Mas há outras teorias: alguns acreditam que a palavra é uma referência à região de Viken, na zona sudeste da Noruega, enquanto outros defendem que vem do anglo-frísio wicing ou wítsing, que significa “aquele que acampa”.

Outra questão que permanece em aberto é o porquê de os nórdicos se terem feito ao mar. “Há várias teorias para isso: desde exilados políticos que decidiram fazer carreira na pirataria — como forma de vida permanente ou como forma de angariarem fundos e apoios para depois recuperem os tronos o poder que tinham na Escandinávia –, a pessoas que queriam melhores opções de vida e que, então decidiram emigrar de forma violenta, tornando-se piratas”, sugeriu Hélio Pires. “O que eu acho mais provável é que já houvesse pirataria no Báltico, que era um mar mais confinado, mais pequeno, que depois resvalou para o Mar do Norte. Como oferecia riquezas fáceis, porque havia mosteiros e povoações costeiras que estavam desprotegidos, houve outros nórdicos que foram atrás. É um bocadinho o efeito de bola de neve — foi um pequeno grupo ou dois, correu bem, espalhou-se a palavra e foram outros atrás. Foi-se multiplicando até se tornar num fenómeno.”
“É um bocadinho o efeito de bola de neve — foi um pequeno grupo ou dois, correu bem, espalhou-se a palavra e foram outros atrás. Foi-se multiplicando até se tornar num fenómeno.”
Hélio Pires
Uma vez que não era aconselhável atravessar o Mar do Norte durante os meses frios, os vikings escolhiam a primavera e o verão para realizarem as pilhagens junto à costa. Contudo, a partir de meados século IX, os ataques começaram a tornar-se mais frequentes com o surgimento de colónias nórdicas na Europa ocidental. Os documentos que chegaram até hoje referem que as primeiras terão surgido na zona da Aquitânia, em 843, e em Dublin. Foi, aliás, assim que nasceu atual capital irlandesa — começou por ser uma base de inverno viking, convertendo-se mais tarde “num povoado e centro de poder de uma das várias dinastias nórdicas que foram fundadas nas ilhas britânicas e em França”, escreveu Hélio Pires. Em vez de fazerem a viagem de regresso no final do verão, os marinheiros escandinavos começaram a passar o inverno nas zonas que pilhavam. Os ataques deixaram de ser sazonais — começaram a fazer parte do quotidiano das populações locais.

https://infogram.com/vikings-cronologia-1g0gmj711v7nm1q

Olá, Península Ibérica

Depois de várias incursões no norte da Europa, os vikings decidiram continuar viagem até paragens mais quentes. Chegaram à Península Ibérica em meados do século IX “mas, dada a falta de fontes nórdicas dos séculos IX e X, nomeadamente de relatos dos primeiros ataques segundo os próprios vikings, podemos apenas especular os motivos que os trouxeram até ao sul da Europa”, um destino menos óbvio e muito menos atrativo. As teorias são muitas, mas Hélio Pires acredita que a chegada à península aconteceu naturalmente. “A minha suspeita é a de que foram explorando a costa. Simplesmente isso. Uma vez chegados a Inglaterra, continuaram a avançar pela costa francesa — chegaram a Bordéus no século IX — até chegarem à Península Ibérica. E como era uma costa povoada — com cidades –, como era a costa francesa, voltaram. E foram repetindo.”

Outra justificação — mais popular — diz respeito a Santiago de Compostela e à descoberta do túmulo do apóstolo Santiago, em meados do século IX. Diz a lenda que Teodomiro, bispo de Iria Flavia (atual Padrón), alertado pelo eremita Paio, que reparou numa estranha luz que pairava sobre o monte Libredón, teria encontrado perto de um carvalho, coberto de ervas daninhas, um túmulo de pedra com os restos mortais de Santiago e de dois dos seus discípulos, Teodoro e Atanásio. Teodomiro apressou-se a alertar Alfonso II (791-842), rei das Astúrias, que mandou construir uma pequena igreja no local do sepulcro. As datas divergem, mas acredita-se que o túmulo de Santiago tenha sido descoberto por volta de 813. Isto significa que, por altura do primeiro ataque viking em terras galegas, a igreja mandada erigir por Alfonso II não passava de “um santuário menor, de importância regional”.

Foi no século seguinte que Santiago se tornou num local de peregrinação, mas a fama só chegou por volta do século XI. É por essa razão que Hélio Pires não acredita que a teoria de Santiago de Compostela faça sentido. “Não quer dizer que os vikings dos séculos X e XI viessem por causa de Santiago, mas isso é posteriormente. Os primeiros não vieram por causa disso.” Além do mais “as crónicas asturianas do final do século IX não falam na suposta descoberta do túmulo do apóstolo”, tratando-se por isso de “uma revisão posterior da história”. “Ora, se nem os próprios asturianos lhe ligavam muito, por que motivo é que um viking do século IX iria à Península Ibérica por causa de Santiago? Isso é fazer um salto cronológico de vários séculos — é olhar para Santiago hoje, grande, esplendoroso, famoso, e achar que à época também era assim. Trata-se de projetar o presente no passado.”
“A minha suspeita é a de que foram explorando a costa. Uma vez chegados a Inglaterra, continuaram a avançar pela costa francesa — chegaram a Bordéus no século IX — até chegarem à Península Ibérica.”
Hélio Pires
Teorias à parte, uma coisa parece ser mais ou menos certa: o primeiro ataque na Península Ibérica ter-se-á dado, segundo várias fontes, em território galego, em 844. Mas há quem acredite que a história dos vikings no extremo ocidente europeu começou muito antes, ainda no século VII. Arne Melvinger, que fez uma tese nos anos 50 sobre o tema com base em autores árabes, refere que houve uma expedição no norte da península em 795, várias décadas antes do ataque galego. De acordo com as fontes consultadas por Melvinger, Alfonso II das Astúrias (o rei que terá mandado construir a igreja em honra do apóstolo Santiago) terá enfrentado um exército muçulmano que incluía bascos e um grupo de al-magus. Não se sabe quem seriam estes magus, mas o investigador sueco concluiu que se tratavam de vikings.

Para defender a sua tese, Arne Melvinger recorreu à palavra magus. Esta deriva do termo magi, usado pelos muçulmanos para se referirem a um povo que praticava uma religião que não tivesse um livro sagrado, como os cristãos ou até como eles próprios. Era, portanto, um vocábulo usado para identificar vários tipos de gentes e povos, e não um em particular. Como explica Hélio Pires no seu livro, era o equivalente árabe ao termo latino pagani — “pagãos” —, aplicado a todos os não-cristãos, incluindo aos próprios romanos, que eram politeístas. Os al-magus das fontes árabes só podiam ser, segundo Melvinger, vikings fixados no sul de França porque os povos do norte da Península Ibérica eram cristãos desde o século VI.

Hélio Pires acha esta hipótese muito pouco plausível, preferindo a versão de um outro autor, Claudio Sanchez-Albornoz. Segundo Sanchez-Albornoz, naquele tempo, ainda havia focos de resistência pagã na península, nomeadamente no nordeste, onde várdulos e caristios permaneciam fiéis às antigas crenças. Por essa razão, o mais provável é que os vikings de Melvinger não passassem de pagãos ibéricos. O estudioso espanhol chega até ao ponto de pôr em causa o grau de cristianização do bascos, uma vez que não existe qualquer evidência histórica da “suposta evangelização levada a cabo por São Saturnino” (um missionário romano que pregou na Gália e na Península Ibérica no século III), da autoridade “geograficamente limitada” do bispo fixado em Pamplona ou do aparecimento de um centro cristão em Álava, no País Basco. “Podiam ser simplesmente pagãos do norte da Península Ibérica. Bascos, por exemplo”, salientou Hélio Pires. “Os ‘outros’ não têm de ser vikings. Até porque as crónicas asturianas, quando falam do ataque, dizem que era um povo ‘desconhecido entre nós’.”

Por essa razão, o autor não acredita que tenha havido outro ataque viking em território ibérico antes de 844. Pelo menos, “com as fontes que temos”. “Não me convence.” Claro que isso não significa que tenha de facto existido uma outra incursão nórdica, mas não existem fontes “que justifiquem essa afirmação”. É por essa razão que o trabalho de consulta nem sempre é tarefa fácil — “as pessoas afirmam uma coisa, que é de facto possível, mas depois não tinham fontes que justificassem a certeza com que o afirmavam”. Um problema com o qual Hélio Pires se deparou inúmeras vezes durante a preparação da tese de doutoramento. Além de as fontes serem muitas vezes escassas ou incompletas, “parte do que lia noutros artigos e livros mais recentes não tinha por base as fontes medievais ou tratava-se de lendas que passavam por factos”. “Nesse aspeto foi um bocadinho frustrante”, admitiu. “Ia seguindo o fio à meada nos livros que ia lendo, procurava as fontes e não as encontrava porque não existiam. As referências eram falsas ou então os textos não diziam aquilo que as pessoas diziam que eles diziam.”

O investigador acredita que isso pode ser justificado com o “horror ao vazio”. “Quando não havia informação, achavam que tinham de por lá qualquer coisa porque, caso contrário, não era tão empolgante, o livro não vendia. Às vezes, como o texto era seco, apimentavam um bocadinho, ou então faziam simplesmente uma má pesquisa.” Em outros casos, deveu-se à falta de rigor histórico que existia no tratamento dos documentos. “Era historiografia patriótica ou então tentavam tornar as coisas mais empolgantes. Era mais como contar uma história do que fazer propriamente uma análise dos documentos. Caía-se um bocadinho no exagero.”

Corunha, verão de 844

Não existem muitas informações sobre o que se terá passado naquele verão de 844. “Sabe-se muito pouco sobre esse ataque. Sabe-se que foi na Corunha, no início de agosto, mas quanto tempo durou, o que fizeram ao certo, não sabemos”, explicou Hélio Pires. Na verdade, no que diz respeito à presença viking na Península Ibérica, há mais incertezas do que certezas, mais perguntas do que respostas. “Isso é comum quando se estuda a Idade Média, e quanto mais recuado o período que se estuda pior”, referiu o autor, que, apesar de ter ficado com muitas dúvidas na cabeça, continua a ter esperança de que algum dia se encontre “um manancial de documentos escondidos atrás de uma parede qualquer”. “A menos que apareçam dados novos, documentos ou vestígios arqueológicos, é muito difícil começar a responder a algumas perguntas.”

O que se sabe é que, antes de seguirem para a Galiza, os vikings fizeram uma paragem em Toulouse, no sul do território que hoje pertence a França. Entraram pelo Rio Garrone e, depois de pilharem a região, seguiram mais para sul. Atravessaram o mar e entraram na Galiza no início de agosto. Naquele tempo, quem reinava o Reino das Astúrias era Ramiro I (842-850), filho do tal Alfonso II que teria defrontado os ferozes marinheiros nórdicos em 795, segundo Arne Melvinger. Perante a ameaça, Ramiro prontamente organizou um exército para combater os estrangeiros. Felizmente para ele, parte dos nórdicos tinha morrido durante uma tempestade que os apanhou de surpresa durante a travessia. Os que sobreviveram acabaram por ser derrotados perto de Farum Brecatium, local que, apesar de não se saber ao certo onde ficava, é geralmente apontado como sendo a Corunha.

As baixas causadas pelo exército galego parecem ter sido substanciais — muitos vikings acabaram por morrer e, por vingança, os galegos deitaram fogo a 70 das suas embarcações. Derrotados, os nórdicos fizeram-se ao mar, chegando a Lisboa ainda nesse verão. O que não se sabe ao certo é quem é que os liderava — algumas fontes falam num tal de Horrich, enquanto outras referem um viking chamado Wittingur. Dada a falta de evidências, é difícil dizer como se chamaria afinal o líder dos primeiros marinheiros escandinavos a pisarem solo ibérico.
“Sabe-se muito pouco sobre esse ataque. Sabe-se que foi na Corunha, no início de agosto, mas quanto tempo durou, o que fizeram ao certo, não sabemos.”
Hélio Pires
Depois de uma viagem de quase um mês, os vikings chegaram a Lisboa a 20 de agosto de 844. Ninguém sabe porque é que demoraram cerca de três semanas (acredita-se que o ataque na Corunha tenha acontecido a 1 de agosto) a percorrer a costa. Na altura, a viagem demorava apenas alguns dias. Mas existem algumas hipóteses: a demora pode ser indício da existência de outros ataques mais curtos, durante o caminho para Lisboa, ou de que a incursão no norte da Galiza foi mais longa do que se julga, deixando aos nórdicos apenas alguns dias para chegarem ao Tejo. O que também não se sabe é o número de embarcações que chegaram inteiras à atual capital portuguesa: numa carta enviada para Córdova, o Governador de Lisboa fala em “54 navios nórdicos e 54 qaribs” (nome árabe dado a navios de menor dimensão), enquanto outra fonte refere 80 (sem especificar o tipo). Independentemente do número, a informação parece exagerada e provavelmente baseada em estimativas.

Os escandinavos ficaram 13 dias na região de Lisboa, enfrentando tropas árabes em, pelo menos, três ocasiões e mantendo “alguma forma de controlo do território”, explicou Hélio Pires. Porém, não se sabe onde é que estes confrontos ocorreram ou qual foi o seu resultado. “Não se sabe se atacaram Lisboa ou os arredores, se chegaram à margem sul do Tejo ou se ficaram pela margem norte, por exemplo”, frisou o investigador. “Só se sabe que ficaram 13 dias na zona de Lisboa”, um período considerável, “o que sugere que se trataria de um grupo menor, com algumas dezenas de embarcações e algumas dezenas de homens e, eventualmente, mulheres”.

É que apesar de não se saber qual o papel das mulheres nas incursões vikings, não se deve pôr de lado a hipótese de os grupos de marinheiros não terem sido compostos exclusivamente por homens. Hélio Pires escolheu não abordar o tema no seu livro por considerar que a informação é pouca, mas admite que “não é impossível que alguns dos vikings que atacaram a costa ibérica fossem mulheres”. “Na Escandinávia, foram encontrados alguns vestígios nesse sentido. Há pouco tempo, fez-se uma reavaliação dos restos mortais de um túmulo na Suécia e apercebeu-se que era de uma mulher, apesar de ter sido enterrada com armas que, geralmente, são vistas nos túmulos dos homens. Até que ponto era comum, isso é outra questão.”

Os vikings abandonaram a região a 2 de setembro. E “também não sabemos porque é que se foram embora passados 13 dias.” O que é certo é que continuaram a navegar mais para sul, tendo chegado a Sevilha a 1 de outubro, depois de uma viagem de praticamente o mês durante a qual ninguém sabe por onde andaram. Depois disso, só voltaram à Península Ibérica em 858. A partir daí, as visitas tornaram-se mais regulares, com os vikings a manterem-se ativos em território ibérico durante cerca de 200 anos, principalmente no século IX e finais do século X, inícios do século XI. Momentos que coincidiram com uma maior atividade no extremo ocidente europeu, o que, de acordo com o autor, sugere que os nórdicos “podem ter sido empurrados” para a península “por falta de alternativas no resto da Europa”. Isto pode ter acontecido por duas razões, que têm a ver com um “contexto maior”: “Porque estavam a ser derrotados e expulsos de outros sítios” ou porque havia um número tão grande de vikings no ocidente europeu que alguns tiveram “de continuar a andar até chegarem ao ocidente peninsular”.

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"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#92 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Nov 30, 2017 12:18 pm

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Os vikings eram marinheiros nórdicos, oriundos de várias zonas da Escandinávia. Este navio, de 30 metros, é uma reconstrução moderna de uma embarcação encontrada na Dinamarca

Foi, aliás, durante este período que, a julgar pelas fontes existentes, ocorreu o maior ataque nórdico em território português: em julho de 1015, os vikings entraram no Rio Douro e, durante nove meses, pilharam a zona que vai até ao Rio Ave e fizeram vários reféns, que depois os nórdicos tentaram vender como escravos. Entre esses encontravam-se as três filhas de Amarelo Mestaliz. Amarelo, que não tinha dinheiro para libertar as raparigas, decidiu recorrer a uma senhora chamada Lupa, oferecendo-lhe uma propriedade em troca do valor necessário (15 sólidos de prata) para pagar o resgate. Só que Lupa não ficou satisfeita com a proposta e o pobre homem teve de se virar para um tal de Froila Tructesindes. Aparentemente mais simpático do que Lupa, Froila aceitou a proposta de Amarelo, que conseguiu assim angariar o dinheiro para libertar as filhas.

O último ataque na Península Ibérica terá acontecido em meados do século XI, por volta de 1086, em Sada, no norte da Galiza. Mais uma vez, não se sabe muito sobre ele, mas acredita-se que tenha sido violento e até prolongado, desestabilizando a região. Hélio Pires considera, contudo, que a fonte que relata esta última incursão não é fidedigna, uma vez que se trata de “um documento tardio”. Não se sabe “até que ponto é que os acontecimentos que lá estão referidos aconteceram nesse ano ou antes”. Depois disso, os nórdicos, que entretanto se tinham convertido ao cristianismo (em 995, quando Olaf Tryggvason se tornou rei da Noruega, proclamou-a um reino cristão), continuaram a viajar até território ibérico por outros motivos, relacionados com a Reconquista.

As lendas, os castelos e os Gunduredos: o que ficou dos vikings na Península Ibérica

200 anos de invasões vikings na Península Ibérica tiveram, naturalmente, o seu impacto. Além da deslocação da população mais para o interior e de alguma perturbação da vida social local, os ataques constantes obrigaram à fortificação da costa que, antes do aparecimento dos vikings, estava mais ou menos desprotegida. É que os verdadeiros perigos não estavam no mar, mas sim no interior do território. “Existem relatos de cidades, antes da Idade Viking, que mandaram abaixo parte das muralhas para construírem outra coisa porque havia um grande sentimento de segurança. Arrependeram-se passados umas décadas porque se aperceberam que precisavam delas. Antes disso, o conflito era praticamente interno”, referiu Hélio Pires.

Supõe-se que a construção de defesas costeiras se tenha intensificado no século X, mas não existe qualquer vestígio em território ibérico. “O impacto a longo prazo foi escassíssimo, quase nenhum”, disse o autor. “Como a Península Ibérica já era um cenário de guerra — e continuou a ser depois da Idade Viking –, qualquer impacto local ou regional foi apagado por acontecimentos posteriores. As pessoas podem ter ficado traumatizadas mas, passada uma ou duas décadas, começou a haver ataques dos muçulmanos. O primeiro trauma desapareceu porque foi substituído por um segundo. A memória humana não perdura.” No entanto, já houve quem acreditasse no contrário. Na zona de Alcobaça, existe uma torre que um antigo arqueólogo portugês acreditava ter sido construída como defesa contra os vikings. O Castelo de Guimarães, um dos símbolos da identidade nacional, também já foi descrito como um vestígio da passagem dos nórdicos pela península, uma vez que a sua origem remonta a um dos pontos altos da Idade Viking no ocidente ibérico.
“O impacto a longo prazo foi escassíssimo, quase nenhum. Como a Península Ibérica já era um cenário de guerra, qualquer impacto local ou regional foi apagado por acontecimentos posteriores."
Hélio Pires
A fundação do Castelo de São Mamede, popularmente conhecido por Castelo de Guimarães, terá acontecido por volta de 950 (a Batalha de São Mamede, que opôs D. Afonso Henriques e a sua mãe, D. Teresa, aconteceu 1128) e estaria relacionada, segundo um documento de meados do século X, com os “gentios”. “Mas quem são os gentios?”, interrogou Hélio Pires. “É um termo genérico que quer dizer ‘pagão’. Podiam ser vikings, mas também podiam ser muçulmanos. Não me espantava que o castelo tivesse sido construído a pensar nos dois. E aí, podemos dizer, quanto muito, que os vikings foram parcialmente responsáveis pela sua construção.” Na altura, o seu aspeto era muito diferente do atual — seria “muito humilde, provavelmente uma torre com uma paliçada à volta”, explicou o investigador. O castelo que pode ser hoje visitado em Guimarães foi construído muito tempo depois e foi alvo de várias alterações.

Tanto quanto se sabe, nunca existiu nenhuma colónia nórdica na Península Ibérica. As fontes escritas não são claras nesse ponto e nunca foi encontrado nenhum vestígio arqueológico que permitisse chegar à conclusão contrária. Como referiu Hélio Pires em conversa com o Observador, “uma vez mais, avaliando pelas fontes existentes, a atividade viking na península ficou-se pelo saque e pela pirataria”, atividade que foi vezes foi mais “intensa e prolongada e outras menos”. “Não há nada de muito concreto que sugira a existência de uma colónia ou de conquista do território. Existiram, quanto muito, alguns ataques que foram mais prolongados no tempo e, nesse sentido, terão existido bases mas que, eventualmente, foram abandonadas.” Mas isso não significa que não existem autores que tenham defendido o contrário, muitas vezes com base em teorias pouco fundamentadas.

Um dos exemplos mais citados é o do nome Gunderedo, latinização de Gunnraudr ou Gunrod que terá dado origem a alguns topónimos portugueses e até apelidos, sugerindo uma eventual colonização nórdica na Península Ibérica. “Dito de outra forma, porque houve um ou mais vikings chamados Gunderedo, esse nome terá passado a ser usado na Galiza e em Portugal”, escreveu Hélio Pires. Gunderedo seria também o nome do líder viking responsável pelo maior ataque em território ibérico, em finais do século X.

Segundo os documentos disponíveis, o Rei Ramiro III, filho de D. Sancho I de Leão, era ainda uma criança sob a regência da sua tia Elvira quando uma frota de 100 navios nórdicos chegou à Galiza. O ataque, que aconteceu no segundo ano do reinado de Ramiro, em 968, terá sido liderado por um viking chamado Gunderedo que, durante pelo menos um ano (as fontes divergem), terá devastado toda a Galiza. A incursão terá levado inclusivamente à morte de Sisnando, bispo de Iria-Compostela. Personagem duvidosa e sem escrúpulos, Sisnando terá sido afastado do cargo por Sancho I, que o mandou prender. Depois da morte do rei, em 966, terá fugido da prisão e regressado a Iria onde, através de ameaças, conseguiu recuperar o cargo e afugentar o então bispo, São Rosendo. Antes de partir, Rosendo ter-lhe há dito: “Quem opera pela espada, morre pela espada”, selando assim o destino de Sisnando.

O líder viking terá morrido um ano depois da sua chegada à Galiza, durante uma batalha contra o exército de Guilherme Sanches, um conde local, que depois terá mandado queimar os navios dos escandinavos. Contudo, de acordo com a teoria dos Gunderedos, que remonta pelo menos ao século XVII, alguns dos nórdicos terão ficado para trás, estabelecendo-se na região galega. Algumas fontes dão a entender que os vikings terão inclusivamente chegado até à zona de Leão, depois de terem saqueado a Galiza de uma ponta à outra, “mas os documentos são um bocadinho vagos”, como explicou Hélio Pires. “Não se sabe se se tratava de um grupo em fuga ou se se deslocaram até Leão intencionalmente.” Curiosamente, existe em Leão uma localidade chamada Lordemanos, nome dado aos vikings no ocidente ibérico.

Se os vikings chegaram aos limites do território galego, também poderão ter estado em locais que hoje pertencem a Portugal, o que poderia explicar a existência de uma pequena povoação perto de Coimbra chamada Lordemão. Há quem acredite que, dada a semelhança entre o nome da localidade e o termo lordemanos, terá existido na zona uma colónia nórdica. Mas, a verdade, é que “não se sabe a que é que se deve” o nome. “Podiam ser, por exemplo, escravos vikings, capturados e enviados para uma zona de guerra para servirem de colonos, como de resto se fez na Península Ibérica durante a Reconquista. As zonas fronteiriças mais inseguras eram colonizadas por pessoas que não tinham outra opção, e não me espantava que Lordemanos, em Leão, e Lordemão, em Coimbra, tivessem começado assim”, sugeriu o autor. “É só uma hipótese, não é nada de concreto, mas é uma possibilidade.”

Os vestígios que chegaram até aos dias de hoje são, assim, sobretudo imateriais, sendo que a maioria pode ser encontrada no norte da Península Ibérica, na Galiza. Hélio Pires acredita que isto tem a ver com o facto de haver “um registo escrito mais abundante” no norte da península, que muito provavelmente estará relacionado com Santiago de Compostela, “um grande centro religioso que permitiu, automaticamente, a criação de um maior registo”. “Em Portugal não havia o equivalente a Santiago. Os registos estão muito mais dispersos ou são menos ricos. Produziram-se imensas crónicas e cartulários em Santiago de Compostela, até por uma questão administrativa. Em Portugal não há tanto disso porque nunca se criou um centro de saber tão forte, com tantos registos”, referiu o investigador. “E depois, não tivemos sorte.”
"Em Portugal não havia o equivalente a Santiago. Os registos estão muito mais dispersos ou são menos ricos. Produziram-se imensas crónicas e cartulários em Santiago de Compostela, até por uma questão administrativa."
Hélio Pires
Ao longo dos séculos, houve um conjunto de desastres que afetaram Portugal — como o Terramoto de Lisboa ou as pilhagens durante as Invasões Francesas –, e que fizeram com que muita documentação se fosse perdendo. “Isso não aconteceu em Espanha, nomeadamente na Galiza”, salientou o autor. A verdade é que Hélio Pires não encontrou em Portugal qualquer lenda que fizesse uma referência direta aos invasores nórdicos, mas isso não impede as pessoas de tentaram encontrar elos de ligação. Uma das perguntas que o investigador mais ouve tem a ver com o facto de os portugueses gostarem tanto de bacalhau. Não terão os escandinavos alguma coisa a ver com isso?

Perguntas como estas mostram que, apesar de terem passado vários séculos desde a última viagem dos marinheiros nórdicos à Península Ibérica e da sua influência ter sido praticamente nula, os vikings continuam a povoar o imaginário de portugueses e também de galegos. Mas não só: com a estreia da série Vikings, em 2013, os antigos guerreiros escandinavos ganharam uma nova popularidade, mas a verdade é que nunca se foram embora. Talvez uma das razões esteja no facto de, apesar de serem “habitantes do passado”, “as forças que os criaram não o são”. Independentemente dos motivos que levaram os vikings navegar para tão longe de casa, “este continua a ser um mundo onde existe fome, cheias e questões de sobrepopulação”. Como escreveu Jonathan Clements no final do livro The Vikings, “as nossas batalhas pelos recursos estão ser lutadas por procuração em terras distantes, mas continuam a existir”. “Só é preciso uma pequena reviravolta no destino, uma pequena falha na lei, para nos tornarmos vikings.” Afinal, não somos assim tão diferentes.

:arrow: http://observador.pt/especiais/da-corun ... a-iberica/




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#93 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Dez 14, 2017 1:03 pm

A castle built by the Moors, taken by the Vikings, and conquered by the King of Portugal

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The charming Portuguese town of Sintra is famous for its fairytale palaces and enchanting gardens. Although Pena Palace and Quinta da Regaleira are the highlights of the hilly region, the Moorish Castle has recently gained the attention it deserves. The castle lacks the extravagance of the other two palaces, but that doesn’t make it unworthy of a visit. On the contrary, the unique structure is a perfect spot for every history lover.

The Castle of the Moors, or Castelo dos Mouros, was built in the 8th and 9th century by the North African Moors during their conquest of the Iberian Peninsula, hence its name. The Moors chose a strategic military location high in the mountains over the River Tagus. Once it was completed, the castle was of great significance for the Moors and remained so until the end of their rule.

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The Castle of the Moors in Sintra, Portugal

The Norwegian Viking Sigurd I Magnusson, a king better known as Sigurd the Crusader, took over the castle in 1108. The Vikings were headed to Jerusalem and as soon as they left the castle, it was once again in the hands of the Moors. Finally, after a couple of attempts to expel the Moors from the castle and the country itself, it was conquered by the King of Portugal, Afonso I “the Conqueror” Henriques, in 1147.

Archeological excavations at the site have discovered remains of a mosque and a few houses that used to be inhabited by the North African Muslims. On the location where once the mosque stood, Afonso I “the Conqueror” Henriques built a small chapel. Although it remains undiscovered until today, one legend has it that under the cistern is the burial site of one of the powerful North African Kings.

The monarchs of Portugal continuously used the castle; however, it wasn’t as important as it had been during the Moorish rule. The last king of Portugal believed to have used the castle was Fernando I. The monarchs kept the original Moorish architecture of the castle but made small alterations. After the 14th century, it was neglected. For a short period, Jewish families lived in the castle. However, it was once again abandoned after they were banished from the country.

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The Moorish Castle didn’t see any improvements in the following centuries. In fact, its condition has only gotten worse. Vegetation took over the castle and a big fire damaged most of the towers and rooms. Also, the tremendous earthquake in Lisbon in 1755 affected the architecture of the castle. But no one was willing to repair it and everything was indicating that nature would eventually destroy the castle. And so it would have probably ended up if it weren’t for King Ferdinand II.

In 1842, he built the Pena Palace and enjoyed looking at the Moorish Castle from his residence. However, the condition of the medieval fortress troubled the King, so he started to make plans to restore it. Ferdinand II was a great admirer of the arts, and the castle was his favorite spot for painting. Everyone who has visited the castle would be unsurprised by this fact.

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The Castle of the Moors in Sintra, Portugal


It has breathtaking views: from one side is the magnificent Pena Palace, and on the other is the oldest palace in Portugal, the National Palace of Sintra. Beautiful landscapes and the fairytale town of Sintra beneath the fortress are also part of the unforgettable panoramic views. And when the weather permits, it is possible to see the Atlantic Ocean from the highest spot of the castle, known as the King’s Tower.

Ferdinand II liked the Moorish Castle very much and did everything he could to maintain it. In the 20th century, it was once more restored as part of the commemoration of the foundation of Portugal. Archeological excavations continue to this day, and so far the archeologists have also discovered a Christian graveyard and many artifacts on the site that are now on display in the castle. Today, the remarkable Morish Castle is a National Monument, open to visitors and since 1995 has been listed as a UNESCO World Heritage site.




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#94 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Dez 22, 2017 3:30 pm

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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#95 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Dez 22, 2017 3:35 pm

Genetic history of the Spaniards and the Portuguese

Introduction
The Iberian peninsula has a varied and mountainous landscape that has promoted regional division and the isolation of human settlement throughout prehistory and during most of history, until the development of modern transportation. This has created ample opportunities for stark regional variations to develop, be it in culture, language, or genetics. On the other hand, Spain and Portugal are two of the oldest countries in continuous existence in Europe. This long political unity has favoured intermarriages within each country for much longer than in, say, Italy or Germany, which had a moderate uniformising effect on each country's gene pool.

A wide range of peoples have settled in Iberia since the end of the last Ice Age. Phoenicians, Celts, Greeks, Jews, Romans, Goths, Suebi, Franks, Arabs and Berbers. All have left their genetic print on the populations of the regions where they settled. This page attempts to identify their genetic markers through the use of Y-chromosomal (Y-DNA) haplogroups, which are passed on nearly unaltered from father to son, mitochondrial DNA (mtDNA), which is inherited only from one's mother, and genome-wide studies.

The modern Iberian gene pool is overwhelmingly Mediterranean, and yet the sequencing of a 7,000 year-old hunter-gatherer from La Braña in Asturias, revealed that Mesolithic Iberian shared much closer genetic affinities to modern Northeast Europeans (apart from having dark skin). This shows just how much the genetic landscape of the peninsula has changed in the course of a few eventful millennia. Yet, a single Mesolithic genome is not enough to get an unbiased picture of what all Iberian people were like at the time. It is cannot be excluded yet that North Africans hunter-gatherers may have crossed the Strait of Gibraltar on boats and colonised the Iberian peninsula from the south, while northern and central European foragers occupied northern Spain.

Even Neolithic farmers appear to have come from two different sources, each bringing their own set of haplogroups and autosomal admixtures. A first Mediterranean route brought farmers of the Cardium Pottery culture from the Balkans and Italy. Soon afterwards, La Almagra Pottery culture developed in Andalusia, apparently emerging from the present-day Maghreb. This event would explain the presence of both Northwest African and Red Sea DNA, such as Y-haplogroup E-M81, J1 and T, across most of southern and western Iberia.

So, from a very early time Spain was divided genetically between north and south, as well as between east and west. It could be argued that Iberia started to homogenise from the time of the Reconquista, when northerners recolonised in the south, and in the ensuing centuries, when intermarriages brought very slowly but steadily Spaniards together, especially in cities. Nevertheless the regional genetic landscape is still very morselled, both the the maternal and paternal sides.

...

:arrow: https://www.eupedia.com/genetics/spain_ ... _dna.shtml




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#96 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Jan 05, 2018 10:59 am

ADN de bebé indica que os primeiros americanos descendem de uma única vaga migratória da Sibéria

Os restos mortais de um bebé de seis semanas, com cerca de 11.500 anos, encontrados no Alasca, estão a permitir reescrever a história dos primeiros nativos americanos

comunidade nativa americana batizou-a como Xach’itee’aanenh t’eede gay, a Rapariga do Nascer do Sol. Viveu apenas seis semanas há cerca de 11.500 anos e os seus restos mortais, descobertos no Alasca em 2013, fornecem agora aos investigadores fortes indícios de que, afinal, os primeiros nativos americanos são todos descendentes de uma única vaga migratória da Sibéria ocorrida há mais de 20 mil anos.

O seu ADN indica que a menina pertencia a uma população nativa americana anteriormente desconhecida, que os académicos designaram como beringios ancestrais.

A comunidade cientifica pensa que os primeiros habitantes do continente atravessaram da Rússia para o Alasca através do Estreito de Bering, que submergiu no final da primeira Era Glaciar. Mas continuava a não se saber quando tal teria acontecido e se houve apenas um grupo fundador ou vários.

O novo estudo – que integrou investigadores das universidades de Cambridge e de Copenhaga e cujas conclusões foram agora divulgadas na publicação cientifica “Nature” – indica que a informação genética da Rapariga do Nascer do Sol não coincide com os dois ramos de nativos americanos anteriormente identificados, designados como os do Norte e os do Sul.

A bebé – assim como outra rapariga, cujos restos mortais foram descobertos no Alasca em 2015 – pertencia aos beringios ancestrais. Outras análises indicaram contudo que se trata de um ramo da mesma população dos grupos dos nativos do Norte e do Sul, mas que se terá separado anteriormente na História.

“Os beringios ancestrais diversificaram-se a partir de outros nativos americanos antes de qualquer população americana ancestral ou ainda viva (cujo genoma tenha sido) sequenciado até agora. Basicamente vêm de uma população de um grupo ancestral que era comum a todos os nativos americanos, de modo que os dados da sequência genética deram-nos um enorme potencial para responder a questões relacionadas com o primeiro povoamento das Américas”, afirmou Eske Willerslev, do St John’s College, da Universidade de Cambridge.

“Conseguimos mostrar que as pessoas provavelmente chegaram ao Alasca há mais de 20 mil anos. Foi a primeira vez que tivemos provas diretas de genomas que indicam que todos os nativos americanos vêm de uma única população original, através de um único movimento migratório fundador”, acrescentou.

http://expresso.sapo.pt/internacional/2 ... da-Siberia




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#97 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Jan 26, 2018 8:20 am

Fotografias do Arquivo Municipal de Mafra (região saloia).

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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#98 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Jan 26, 2018 9:23 am

Este é o rosto de uma jovem grega que viveu há 9 mil anos
24 jan, 2018 - 07:45 • Imagens: Reuters

Cientistas gregos reconstruíram o rosto de uma adolescente grega que viveu durante o período mesolítico. Avgi, como lhe chamaram, teria cerca de 18 anos quando morreu.

Video : http://rr.sapo.pt/video/161514/este-e-o ... 9-mil-anos




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#99 Mensagem por Túlio » Sex Jan 26, 2018 2:38 pm

Se com 18 já era FEIA daquele jeito (parece homem), nem quero imaginar como seria se tivesse vivido até os 36. É, a natureza é sábia mesmo... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#100 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Jan 26, 2018 3:33 pm

Túlio escreveu:Se com 18 já era FEIA daquele jeito (parece homem), nem quero imaginar como seria se tivesse vivido até os 36. É, a natureza é sábia mesmo... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
36?! 36 é o equivalente moderno de 86 anos! Com 18 já tinha obrigação de ter feito muita coisa...




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#101 Mensagem por Túlio » Sex Jan 26, 2018 4:03 pm

cabeça de martelo escreveu:
36?! 36 é o equivalente moderno de 86 anos! Com 18 já tinha obrigação de ter feito muita coisa...
Curioso, nunca vi uma só referência sólida de que durante o Mesolítico ou mesmo em eras posteriores (exceptuando grandes catástrofes naturais, artificiais - guerras de extermínio, p ex - e mesmo pandemias como o Peste Negra) a expectativa de vida de um Ser Humano fosse, por causas naturais (ou mesmo ausência de profilaxia/medicamentos), mais ou menos o dobro da de um cachorro, e isso como regra, não excepção.

Se tens fuentes assim, incontroversas, por favor, compartilhes conosco, HAMMERHEAD véio!




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#102 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Jan 26, 2018 4:15 pm

Hoje não que estou de saída. Amanhã à mais!




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#103 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Fev 08, 2018 9:46 am

Túlio escreveu:!
Túlio estou em falha contigo, mas deixo aqui um link de um projecto muito interessante que penso que vais gostar especialmente sendo tu um fã dos "Vikings".

:arrow:




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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#104 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Fev 08, 2018 9:56 am

Distribution maps of Y-chromosomal haplogroups in Europe, the Middle East and North Africa

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Re: O que é feito da tua irmã gémea que abandonaste ao nascer?

#105 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Fev 17, 2018 10:59 am

"Sou 100% portuguesa o que é uma homenagem aos meus avós e pais"

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A longa história da família de Ângela Costa Simões, na América desde 1910, ou como uma jovem abraçou as raízes e trabalhou para a comunidade sem falar uma palavra de português

"Tens de falar com a Ângela, a Ângela Costa Simões." Ouvi este conselho não sei ao certo quantas vezes enquanto fui preparando a viagem à Califórnia. Diziam-me que era a pessoa certa para falar sobre a comunidade portuguesa no Norte da Califórnia, que estava envolvida em inúmeras instituições portuguesas, que conhecia toda a gente, que seria a chave para um bom trabalho. Era a pessoa com quem falar.

Apelidos portugueses, nome próprio não americanizado. Confesso que estava à espera de alguém na casa dos 70 ou 80 anos. A surpresa aconteceu ainda durante uma troca de e-mails para marcar um encontro. Ângela respondia em inglês e contou, numa das mensagens, que era emigrante de terceira geração. Tinha acabado de marcar uma entrevista com alguém que é uma improbabilidade estatística.

Ângela tem 41 anos, a família está nos Estados Unidos desde a primeira década do século passado e visitou Portugal pela primeira vez aos 22 anos, em 1998, para visitar a Expo. Os bisavôs chegaram à Califórnia por volta de 1910. A família do lado do pai vinda dos Açores, da Terceira, e a família da mãe deixando para trás uma aldeia na zona da Guarda.

A conversa em casa de Ângela decorreu sempre em inglês. Avisou de início que não se sente à vontade a falar português em ambiente de entrevista. Apesar da forte ligação à comunidade, às tradições e raízes da família, só começou a aprender a língua já adulta. "Enquanto crescia nunca aprendi. Quase não falávamos português entre as crianças. Sou a mais nova de cinco irmãos e, infelizmente, sou a única que tem alguma ligação à comunidade. Só comecei realmente a aprender português em 1998, quando fui a Portugal, sozinha, para ver a Expo"98. Levei um pequeno guia e fui aprendendo algumas coisas durante a viagem. Depois tive aulas em São José, mas o essencial tenho aprendido nas minhas viagens a Portugal."

Uma improbabilidade. Ângela é a única dos cinco irmãos que mantém interesse e contacto com Portugal. Os avós e os pais já nasceram nos Estados Unidos e não era nada óbvio esse interesse. "É uma longa história, mas eu ainda sou 100% portuguesa, o que é um testemunho e uma homenagem aos meus avós e aos meus pais." Pergunto quando sentiu pela primeira vez essa identidade diferente das outras crianças da escola. "Desde muito cedo, desde o início", responde Ângela. "Cresci a marchar nas paradas e nas festas do Espírito Santo. Aos fins de semana, enquanto as minhas amigas brincavam com bonecas, nós estávamos nas paradas a comer sopas e filhoses. Fazia sempre qualquer coisa de diferente do resto das minhas amigas. E depois, quando és uma menina e és uma rainha da festa, com direito a usar uma coroa e um manto... [risos] É o sonho de qualquer rapariga. Andava sempre a mostrar os vestidos e a coroa às minhas amigas americanas".

Ângela não sabe como explicar a sua diferença em relação aos irmãos. Foi algo de natural, diz. "Para mim, sempre foi algo de inato. Ou tens essa ligação ou não tens. Eles também participavam nas festas como eu, também comiam o que eu comia, foram criados da mesma maneira. Às vezes as pessoas têm mais interesse noutras coisas, como o desporto. Não sei explicar..."

Falamos sentados à mesa, na cozinha, com a parede ao nosso lado decorada com cartões com ilustrações e palavras em português, que vão servindo para ensinar a filha de 4 anos a aprender a língua. Ângela sabe que está a entrar numa batalha difícil. "Há imensos miúdos cujos pais estão muito envolvidos na comunidade, nas atividades, e que não têm qualquer interesse. Nas atividades e na língua, apesar do esforço dos pais. Eles tentam ensinar-lhes o português, levam os miúdos às festas, mas eles não querem saber, não se interessam." E não seria boa ideia modernizar um pouco os eventos da comunidade? "É um dos temas que temos debatido. Temos tentado encontrar uma forma de envolver esses miúdos nas nossas atividades. Mas como é que os chamamos? Como é que fazemos com que se interessem? Como é que conseguimos levá-los até ao ponto em que passam a ter vontade de participar, de se voluntariar. É tudo na base do voluntariado..." É uma questão que não é exclusiva desta comunidade portuguesa - o envelhecimento e a perda dos laços nas gerações mais novas. "Temos um grupo de folclore e estamos atualmente em pausa porque não temos pessoas suficientes", conta Ângela com um encolher de ombros.

Sempre com um brilho nos olhos e as mãos a voar à sua frente, marcando o ritmo da conversa, das memórias e das emoções, Ângela tenta explicar o que vai correndo menos bem entre a comunidade portuguesa naquele pedaço da Califórnia. "Os tempos mudaram. Hoje, as famílias mais jovens estão ocupadas com as suas carreiras, não têm tempo. Os pais têm ambos de trabalhar, enquanto há uns anos as mulheres talvez tivessem mais tempo livre para se dedicar à comunidade. Agora, os miúdos também têm horários mais carregados, com mais desporto e atividades fora da escola. Tudo isso custa dinheiro e tempo." No fundo, não conta nada de estranho para qualquer pai ou mãe em Portugal. "Os pais têm de levar as crianças aos jogos às sete ou oito da manhã, aos sábados e domingos." O problema surge quando é preciso contribuir para manter as tradições. "Depois aparecemos nós a dizer: "Agora tens de aparecer ali no hall da comunidade portuguesa para ajudar num almoço ou num jantar, e vais ter de servir às mesas." Acho que as pessoas andam cansadas e têm de fazer escolhas: "Hoje não vais ao jogo porque temos de participar na festa." E talvez isso devesse ser uma opção, de facto, e as famílias talvez devessem poder dizer: "Este ano vamos fazer as coisas portuguesas em vez do desporto." Não sei..."

Ao fim de um bom pedaço de conversa, Ângela avança com uma explicação que resolve boa parte da equação. Como é que ela, que não falava uma palavra de português, lusodescendente de terceira geração, se apegou tanto às atividades da comunidade. Afinal, não foram apenas os vestidos de princesa. "Nunca fui uma geek na escola, mas também não estava no grupo dos populares. Nunca gostei muito da escola do ponto de vista do social. Talvez fosse por isso que me sentia em casa nas atividades da comunidade, no portuguese hall. Tinha lá os meus primos, conhecia toda a gente e tinha bons amigos. E nos bailes os rapazes dançavam com as raparigas. Não era como na escola, onde as meninas dançavam sozinhas num grupo e os rapazes ficavam encostados à parede a um canto. Sempre me senti mais confiante e mais aceite no hall, talvez por isso tenha ficado e criado laços." Foi uma questão de confiança no momento decisivo da adolescência. "Ajudou-me a criar uma identidade. Na escola éramos todos parecidos uns com os outros. Afinal, aos fins de semana, era a rainha da festa." A marca ficou. "Não conheço muitas pessoas de terceira geração que tenham esta ligação à comunidade. Mas é assim. Eu adoro a música, adoro a comida... gosto de tudo. É onde me sinto mais em casa."

A avó, que estava a tomar conta da filha naquele final de tarde, passa pelo espaço que liga a sala à cozinha e trocam umas palavras. Em inglês. Pergunto se essa identidade diferente que sentiu desde os primeiros anos de escola nunca lhe causou problemas. Ângela responde que não, mas diz ter consciência de que vive na Califórnia, na zona da baía de São Francisco. Uma bolha de tolerância. "Aqui na Califórnia a diversidade cultural é algo que é realmente acarinhado. A minha filha tem 3 anos, está no pré-escolar e a turma é composta maioritariamente por filhos de indianos e de casais asiáticos. Mas isso é aqui. Sobretudo aqui na zona da baía de São Francisco. Acho que vivemos numa bolha. Se formos para o midwest ou mesmo noutras comunidades portuguesas... Mas não sinto que a língua seja uma barreira como era noutros tempos. As pessoas continuam a tentar com muito afinco ensinar o português aos filhos. Tenho muitos amigos que estão sempre a queixar-se: "Nós só falamos em português com eles, mas respondem sempre em inglês. Talvez seja por só falarem inglês na escola..."

Ângela Costa Simões deixou há pouco mais de um ano uma carreira longa na área das relações públicas em empresas de tecnologia no vale, em Silicon Valley. Tem agora uma série de projetos próprios em mãos - uma aplicação para telemóveis, um site com venda online de produtos com alguma ligação a Portugal, como pequenas peças de joalheiro ou uma almofada para eventos desportivos produzida em Braga e uma coleção de livros infantis bilingues. "É o meu primeiro livro. Para crianças, bilingue, em português e inglês. Chama-se Pretty Girl, Linda Menina. A razão que me levou a escrevê-lo é simples. Nós temos imensos livros em português para a Aurélia, mas eu não sei o que eles dizem porque não falo português fluentemente. Por isso pensei: "Se os escrever nas duas línguas, aprendemos as duas." É o primeiro de uma série, já tenho mais dois escritos à espera das ilustrações."

Nos planos já tem prevista uma ligação ainda maior a Portugal, quem sabe passando pela educação da filha. "O meu marido é de primeira geração e tem boa parte da família em Portugal, em Lisboa. Tem primos em Nova Jérsia e uma sobrinha aqui, mas... tentamos ir lá o mais que podemos. O ideal será passarmos todos os verões em Portugal. Queremos que a nossa filha tenha contacto com crianças portuguesas e temos o sonho de a pôr a estudar numa universidade em Portugal. Não sei se ela vai achar piada e concordar [risos], mas é o nosso plano." Uma opção que justifica sobretudo com o custo do ensino, muito mais barato em Portugal.

A conversa escorrega de novo para as questões da comunidade e os eventos um pouco datados, que não convencem as gerações mais novas. Ângela vê uma mudança lenta a acontecer e algumas barreiras. "Já há alguns sítios que começam a organizar outro tipo de eventos, como provas de vinhos e assim. Acho que o passo essencial e o mais difícil será conseguir trazer outros espetáculos, bandas com música mais moderna. Eu adoro o pimba, atenção, mas devíamos estar a mostrar à comunidade que há mais música para lá do pimba. Há os Xutos & Pontapés, os GNR, etc."

Talvez fosse um caminho para conseguir uma ligação entre dois mundos distantes na região da baía de São Francisco - a comunidade portuguesa mais tradicional e os novos emigrantes que trabalham ou têm negócio nas tecnológicas. Ângela conta que "são pontes difíceis de construir. Os interesses são muito diferentes. Não é fácil. Um desses jovens empresários soube de um sítio onde podia comer uma bifana em São José, veio de São Francisco e começou a falar com alguns portugueses e lusodescendentes lá nesse restaurante. Perguntaram-lhe: "Porque é que vocês não aparecem aqui para as festas, para o Espírito Santo?" E ele respondeu que não estava muito interessado. "Regresso a Portugal todos os anos, sou português, mas não estou interessado nas festas do Espírito Santo." E o pessoal daqui disse logo: "Ah, se não gostas das festas, não és verdadeiramente português!" Às vezes vêm aqui alguns desses emigrantes mais novos e ficam espantados. "O que é isto?! Mas nós já não fazemos nada disto em Portugal!""Já em fim de conversa e sem ter arriscado uma palavra sequer em português, Ângela diz que, quando toca a trabalho na comunidade, "cai sempre tudo em cima de cinco ou seis pessoas". Dá o exemplo do Festival do Dia de Portugal em São José, um festival "ótimo" e que tem estado entregue a "meia dúzia de pessoas com oitenta e tal anos" que fazem todos os preparativos na véspera. "Qualquer dia não vão lá estar, não vai durar..."

Esta é apenas uma das faces visíveis de uma comunidade em processo de envelhecimento acelerado. Little Portugal, em São José, é um bairro já com poucas marcas que justifiquem o nome e, passeando pela rua, ouve-se mais espanhol do que português. Há a igreja das cinco chagas, um ou outro restaurante, as casas do Benfica e do Sporting, uma estação de rádio e pouco mais. Ângela assume que boa parte da culpa é da própria comunidade. "Se vão começar a queixar-se de que não têm um restaurante português onde jantar, que não há uma loja onde comprar produtos portugueses, quando existir uma loja dessas têm de lá ir fazer compras, têm de ir ao restaurante. A alternativa é ver esses espaços a fechar. A verdade é que há quem viva bem dizendo que tem sangue português, que vai a Portugal sempre que quer e que não quer ter nada que ver com a comunidade, com as festas, com as lojas ou com os restaurantes. É triste, mas se é como se sentem, tudo bem. É preciso vontade, pessoas, trabalho, dedicação e um pouco de sacrifício para manter isto a funcionar."

"Somos uma comunidade muito silenciosa"

A relação de Ângela Costa Simões com a política é sinal dos tempos e é quase padrão em vastas faixas de potenciais eleitores norte-americanos. "Não confio em nenhum político e já não sei o que é verdade e o que é mentira, em que é que devo acreditar. A mesma história é apresentada de duas formas completamente diferentes, os dois lados acusam-se de mentir e ambos andam a pegar em conjuntos de factos e a torturá-los à sua maneira para contar uma história. Este é um tempo muito confuso e assustador para se viver."

Ângela diz-se conservadora, mas não consegue identificar-se com o atual partido Republicano e com as táticas de Donald Trump. "As pessoas estão muito intolerantes, mais do que nunca. Infelizmente, quando as pessoas têm medo, agem e reagem de forma radical. Trump aproveitou-se disso. Sou conservadora, mas há muitas coisas na extrema-direita com que não concordo. Votar Republicano nestas condições é muito estranho." Depois há falta de escolhas no sistema bipolar norte-americano. "As pessoas estão fartas de Washington porque sentem que não têm uma verdadeira escolha. Só temos dois partidos - Democrata e Republicano. Gostava de ter outras opções".

E o tema da imigração, como é visto pelos portugueses e pelos lusodescendentes? "O que encontramos aqui não é uma rejeição dos imigrantes, mas antes qualquer coisa do género: "Os meus pais vieram para cá de forma legal. Preencheram os papéis todos, pode ter demorado muitos anos, mas entraram no país legalmente. É o que todos devem fazer." Isso é comum ouvir quando se fala de imigração ilegal, mas não há um ódio a quem está a chegar ao país".

Ângela nota ainda, na comunidade portuguesa, traços antigos que dificultam uma maior participação. "Somos uma comunidade muito silenciosa, muito calma. Não há muitos portugueses a protestar e a reivindicar coisas para si e para a sua comunidade. Não sei se é um traço genético, mas a regra é: "Trabalha, trabalha muito, paga os teus impostos e não faças ondas, não arranjes problemas." Em casa, sim. Fazemos a nossa comida, falamos português, vamos às nossas festas aos fins de semana, mas quando chega à presença na sociedade... "não faças muito barulho". Não sei se é por medo, mas é uma característica muito nossa." Já há bons exemplos, como a luta pelos programas de língua portuguesa na Universidade da Califórnia. "Há uns anos estava previsto um corte no financiamento e nós conseguimos arregimentar pessoas para fazer telefonemas e escrever cartas e e-mails aos legisladores. Dissemos: "Não! Se vão construir um museu arménio também devem gastar dinheiro nos programas de português." E a lei foi mudada. O financiamento voltou.

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Portugal como destino de negócio

Ângela tem diversos projetos pessoais e empresariais em andamento, uns ligados à tecnologia, outros nem tanto, mas quase todos com um pé em Portugal e outro na Califórnia. "Gostava que mais pessoas aqui olhassem para Portugal como um país onde se pode fazer negócio, um país capaz de produzir coisas, de produzir bem, com qualidade." Pega numa das almofadas para usar em bancadas de estádios ou piqueniques que criou e vende online, para dar o exemplo. "Isto é feito em Braga. Consultei empresas na China, mas escolhi produzir em Portugal. É apenas um dólar mais caro, mas compensa. A qualidade é melhor, consegui visitar a fábrica e falar com as pessoas. Faz toda a diferença."

À distância de um oceano e um continente, para oeste, Ângela vê oportunidades a passar ao lado de portugueses daqui e de lá. "Gostamos muito de ler artigos sobre a moda portuguesa, sobre joalharia ou sobre o sucesso de uma ou outra tecnológica. O mais provável é que tenha sido um estrangeiro a reparar nisso e a dizer: "Olha, está aqui uma bela oportunidade!" Temos de começar a olhar mais para o que sabemos fazer bem e a vender no estrangeiro." Até porque o custo e a qualidade compensam. "Os custos do trabalho são baixos em Portugal, sobretudo quando falamos de talento na área das tecnológicas. Estou a trabalhar numa aplicação para telemóveis e recebi uma cotação de uma empresa indiana - cem mil dólares - e recebi uma cotação de uma empresa portuguesa para o mesmo trabalho, por 20 mil dólares. Estou a trabalhar com os portugueses. Já passámos dos 20 mil dólares, porque eles inicialmente não perceberam bem o que eu queria, mas estão a fazer um trabalho fantástico. Não nos promovemos, não vendemos os nossos sucessos enquanto país e enquanto empresários portugueses. Isso tem de mudar."

Em Fremont

https://www.dn.pt/mundo/interior/sou-10 ... 21938.html




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

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