Túlio escreveu:
A EMBRAER está dizendo
o óbvio, claro. Faz sentido ressaltar o citado na matéria
ao mercado, pela buena chance de elevar o preço de suas ações; também faz sentido ressaltar
à Boeing (e mencionando "por acaso" a Airbus), em busca de melhores condições na negociação, que envolve - negócio concretizado, até agora - apenas a
segunda maior do mundo com a
quarta. Por fim, dá uma "munição" extra
ao governo, que vai ficar ainda mais à vontade para fazer valer a sua
Golden Share.
O que está agora em estudo/desenvolvimento é a possibilidade de
a primeira e a terceira também acharem um jeito de juntar os trapos. Não precisa ser gênio para ver quem estará (bem) melhor posicionado. Lembrar ainda que a Airbus tem mais encomendas mas também tem perdido bastante tempo e dinheiro com programas mal concebidos, mal direcionados e mal gerenciados, como o A-380 (que já ia sair de linha - fazia anos que não entregava uma só unidade, e isso cu$ta - se não fosse a recente encomenda da Emirates, que inclusive abriu novas possibilidades, como a British Airways) e o A-400, que não deslancha de jeito nenhum, pois é caro demais se comparado a um Hércules - mesmo com quase o dobro da capacidade - e irrelevante em relação ao C-17, que tem quase o dobro da capacidade e ainda é a jato. Sobre isso ainda é interessante ressaltar que poucas Forças Aéreas têm necessidade e orçamento para aviões tão grandes, a ponto de o referido Globemaster III ter saído de produção em 2015, após terem sido entregues mais unidades só para a USAF do que todas as encomendas de A-400M, ou seja, o que já foi entregue e o que está encomendado, incluindo exportações.
Assim, de qualquer modo, boa jogada da EMBRAER. E duvido que se resuma a ficar sendo a "parceira regional" da Boeing, o 737 cada vez perde mais terreno, terá que ser substituído por algo bem mais moderno e competitivo.
E não consigo imaginar a envelhecida e conservadora equipe de desenvolvimentos da Boeing fazendo isso tão bem como deve ser feito.
O desenho do 737, de fins dos anos 60's, é derivado do 707, do começo dos anos 50's. E nada mudou muito em matéria de desing desde então na família carro-chefe da Boeing. Mesmo com o advento dos A320, que por sua vez, é um projeto dos anos 80's. Nada neles mudou radicalmente desde então, mesmo nos NEO. Melhorias pequenas e muito sutis foram feitas em ambos os aviões, mas o principal mesmo que mudou foram os motores. Essa foi e ainda tem sido a grande revolução, e o diferencial, da industria aeronáutica na aviação comercial. O desenvolvimento dos E-2 segue a mesma linha de raciocínio.
A grande questão é: MC-21 e C-919. São aeronaves completamente novas em termos de desing aéreo coletando tudo o que foi feito nos últimos 30 anos em termos de avanço tecnológico na área. Inclusive a motorização, que será, opcionalmente ocidental, no caso russo, e primaria, por enquanto, no segundo.
Estas duas aeronaves vão colocar uma pressão diferente nos dois gigantes por serem produtos totalmente novos, e portanto, com perspectivas de desempenho e melhorias no futuro a curto/médio prazo que os projetos 737/A320 podem não conseguir superar visto terem mudado pouca coisa efetivamente desde o seu lançamento. E isto se explica em partes, até mesmo pela simples inexistência de uma concorrência séria. Ou seja, é aquela velha expressão futebolística determinava: em time que esta ganhando não se mexe. Pois bem, agora eles terão de se mexer, e muito. No longo prazo apenas nome e renome não serão mais suficientes para garantir vendas.
A Embraer sempre soube disse e nunca quis se meter nessa briga de cachorro grande pois estava muito bem obrigado na seara em que labuta. A empresa vai manter ainda por muitos anos a sua supremacia na seara regional, e os números dos E-Jet E-2 provam isso antes mesmo da primeira entrega. A Boeing não tem nada a oferecer, e a Airbus ainda vai ter que gastar muito dinheiro para fazer os C-Series ameaçar a posição brasileira nesse mercado nos USA, principal objeto de desejo de 10 em cada 10 empresas aeronáuticas. Não se desbanca uma posição conquistada com muito trabalho, competência e qualidade de um dia para o outro. Ademais, a Embraer não está e nem ficará parada nos próximos anos apenas colhendo os louros dos E-2. Estar atenta ao mercado e suas demandas e oferecer o produto certo na hora e medida certas, sempre foi um grande diferencial da Embraer.
A aviação executiva não é o carro chefe da Embraer ela nem tem essa pretensão, mas mesmo assim o portfólio da empresa pode ser considerado vencedor e referencial em todos os níveis em que atua. Para os anos vindouros, é de supor que a posição seja mantida, e mesmo melhorada.
Já na aviação militar, as parcerias tem caracterizado o sucesso da empresa em relação aos seus produtos. Não apenas agora no campo da aviação, mas também de sistemas NCW. Esta diversificação é algo necessário e importante para a não dependência de um único modelo de negócios nesta área.
Se o ST vencer nos USA o certame da USAF, ponto para ele, que já tem uma linha de produção lá. Isso garantirá o projeto por mais uns 10 anos, pelo menos, e consagrará a avião com o maior bechmarket do mercado de CAS leve. Ou sejam, novas exportações e quiçá reposição da frota aqui na FAB. O KC-390 tem estabelecida também uma parceria com a Boeing em termos de vendas e apoio comercial e logístico para a aeronave. Se chegarmos as 60 undes previstas em relação aos membros de risco do projeto, isso já qualifica o projeto como grande vencedor. E pelo que se vem falando dele nos últimos dois anos, é provável que ele passe da centena com boa margem de segurança. Se o objetivo primário de alcançar entre 20 e 30 por cento do mercado de 700 aeronaves identificado pela empresa for obtido, que mais se poderá dizer? O avião é um sucesso e já vem sendo considerado por não poucos como o novo referencial de mercado de carga militar para o séc XXI. Isso não é pouca coisa. E sem a ajuda da Boeing para nada disso. Com uma mãozinha deles então...
Ainda cito dois exemplos de algo que talvez possa ser interessante para nós. O mercado de Lift a jato. O projeto T-X com a SAAB pode ser algo a se ver, dependendo do resultado. A força aérea sueca já disse que se ele ganhar compra o bicho para por no lugar das centenas de Sk105 que ainda voam por lá. Aqui na FAB ele poderia constituir uma solução de consenso em complemento/preparo ao Gripen E/F, caso as coisas não saim como planejado pela FAB. Comprar um avião como esse seria interessante, dadas as possibilidades que ele ofereceria ao mercado externo, já garantido o maior deles, a USAF.
No mais, tal como está, a situação é bastante favorável à Embraer. A próxima década irá determinar o futuro do mercado narrow body com a entrada de novos concorrentes. E os 737 e A320 terão que mostrar muito mais que nome e tradição para manter-se competitivos. Se entrar nesse mercado não seria aconselhável com apenas duas gigantes se degladiando pelo mercado, bem, com 4 a coisa já é bem outra. Poderíamos entrar sozinhos se quiséssemos, mas para que arriscar, se com um pouco de boa vontade e interesses comuns podemos fazer um dos grandes trabalhar para nós?
abs.