República Centro Africana - MINUSCA
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- FCarvalho
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
O que se descreve no texto é que o CFN irá adotar a mesma viatura elegida pelo EB, por mera questão de facilidade logística, não há nenhuma imposição nisso. Matéria do Plano Brasil semana passada dizia que o EB esperava fechar até junho 2018 o contrato da VBMT-LR com os italianos para as 186 viaturas do programa. O problema é que só chagariam aqui a partir de 2020. Acho que os italianos, que não são bobos e nem nada, viram nessa situação toda uma oportunidade de fechar de vez essa questão, e muito provavelmente estão oferecendo mundos e fundos para convencer EB e Marinha a comprar o com o LMV. Não seria de todo uma surpresa, neste sentido a adoção daqueles veículos. Até pelo contrário, para nós é muito melhor do que Hummvee chapado.
Por outro lado, o IA-2 será adotado apenas pelo pessoal do EB, o CFN vai continuar com os M-4/M-16 de sempre.
E ficou claro que o pessoal mais ligado a área operacional do EB está muito motivado e animado com esta possível missão na África pelos motivos acima expostos. Já por outro lado, o pessoal que só fica atrás da mesa...
Do Itamarati nem adianta falar porque daquele mato não sai cachorro nem que late e nem que preste.
Enfim, o bom desta missão é que ela vai trazer-nos um nível de exigência técnico-operacional e material nunca visto antes em missões da ONU, já que se trata não apenas de manter a paz, mas sobretudo de impô-la. E isso é o que deve estar deixando o pessoal do Itamarati e os burocratas do comando do EB de cabelos em pé, e para lá de incomodados.
Como seria ter de lidar com eventuais sacos pretos voltando do exterior em pleno ano eleitoral...
abs.
Por outro lado, o IA-2 será adotado apenas pelo pessoal do EB, o CFN vai continuar com os M-4/M-16 de sempre.
E ficou claro que o pessoal mais ligado a área operacional do EB está muito motivado e animado com esta possível missão na África pelos motivos acima expostos. Já por outro lado, o pessoal que só fica atrás da mesa...
Do Itamarati nem adianta falar porque daquele mato não sai cachorro nem que late e nem que preste.
Enfim, o bom desta missão é que ela vai trazer-nos um nível de exigência técnico-operacional e material nunca visto antes em missões da ONU, já que se trata não apenas de manter a paz, mas sobretudo de impô-la. E isso é o que deve estar deixando o pessoal do Itamarati e os burocratas do comando do EB de cabelos em pé, e para lá de incomodados.
Como seria ter de lidar com eventuais sacos pretos voltando do exterior em pleno ano eleitoral...
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- FCarvalho
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
Eu sei que não rola, mas, eu iria gostar muito de sermos os primeiros clientes do LMV 2. Uma pena que se isso acontecesse, mataria dois coelhos aqui numa só cajadada.
abs
abs
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
Flávio,FCarvalho escreveu: 1. Cada força nossa lá deve lavar o seu próprio hospital de campanha, inclusive, e se possível for, das nossas forças policiais militares também. Os únicos hospitais que existem, e funcionam de fato lá, são os das ONG's atuantes no TO.
2. ............................................................O EB deve levar a sua Cia Eng, e CFN e FAB também devem enviar efetivos de acordo com suas tropas no TO. Vai ser muito necessário.
3. Insuficiência de meios de operações especiais. ............................................................
4. Em termos de aviação, então deve haver somente Mi-8 no TO. A participação da FAB, e diria também da AVex e da AN seriam prudentes, independente da solicitação da ONU.
5. O uso de UAV's - de várias categorias - próprios seria necessário e imperativo pelas nossas forças, a fim de evitar dependência de consciência situacional de terceiros.............................................................
6. Nossas comunicações devem ser reforçadas para além de um Pel Com se for necessário. A combinação com as demais forças seria algo a se pensar, dependendo das condições impostas as nossas tropas no TO. Dependência nesta áreas é não é admissível.
............................................................
abs
vou tentar responder algumas:
1. O EB sempre leva um pelotão de saúde muitíssimo bem equipado, pronto a atender qualquer emergência, inclusive cirurgias.
O Hsp Cmp é integrado no sistema de evacuação médica da ONU, e atende ao pessoal militar, PM e civis, à serviço da ONU, e alguma parte de pessoal local em emergências.
Por exemplo, a cadeia de evacuação no Haiti era para UM hsp Cmp argentino, na capital, depois a Rep Dom, e por último, Miami. Em Angola eram diversos Hsp Cmp no território angolano, depois África do Sul, e na sequência, o Brasil, para nós.
2. A Cia Eng poderá ser desdobrada se houver requisição por parte da ONU. E ela NÃO atende às tropas brasileiras, mas sim, ao país. Mas sempre temos um Pel Eng muitíssimo bem equipado integrado ao BRABATT, e que atende perfeitamente às necessidades da Base. Para estradas e obras externas, há as diversas Cia Eng, e que já se encontram desdobradas pelo interior, em Pel Eng. Mas repito, as Cia Eng são para atender ao País, e dentro do possível, aos Batalhões da ONU.
3. Na MINUSCA há autorização para cada país levar suas SF, à nível Pelotão. Estas tropas SF no quadro, são novidade. Com exceção das QRF, que sempre há. No Haiti, era uma Cia Inf Mec (Urutu's) da Bolívia. E depois, com a saída deles, passou para o nosso Esqd C Mec. Em Angola eram indianos.....
4. A aviação é para prestar apoio à todas as tropas militares, e pessoal civil, incluindo policial, da ONU. Assim, NÃO é autorizado o BRABATT ter a sua própria aviação. E nem é interessante, falando financeira e logisticamente.
5. Já usamos os UAVs no Haiti, e usaremos na RCA. Mas é a nível pelotão, como os tugas fizeram no vídeo. Em questão de levantamento de dados estratégicos, já há um pelotão (ou o que parece ser...) lá
desdobrado.
6. As comunicações também é da mesma forma que a Eng. Temos um Pel Com bem equipado, e cada Cia tem o seu pessoal de Com, o que atende as nossas necessidades de Com. Inclusive nas Com com o Brasil. A Cia Com lá desdobrada serve para enlace de dados em proveito da ONU, nas suas atividades, incluídas as militares. Fazem a função dos nossos BCom, que são estratégicos, não subordinados à uma brigada, mas à Comando Militar de Área, que é como a ONU se desdobra na RCA. São eles que proveem a internet para a ONU nos confins da selva ou do deserto.
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
eligioep;
O Sr. teria alguma informação acerca das viaturas? Noutras palavras: o EB e CFN vão mesmo de LMV ou a ideia de Humvee de segunda mão ainda está em alta?
O Sr. teria alguma informação acerca das viaturas? Noutras palavras: o EB e CFN vão mesmo de LMV ou a ideia de Humvee de segunda mão ainda está em alta?
- FCarvalho
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
eligioep escreveu:Flávio,
vou tentar responder algumas:
1. O EB sempre leva um pelotão de saúde muitíssimo bem equipado, pronto a atender qualquer emergência, inclusive cirurgias. O Hsp Cmp é integrado no sistema de evacuação médica da ONU, e atende ao pessoal militar, PM e civis, à serviço da ONU, e alguma parte de pessoal local em emergências.
Por exemplo, a cadeia de evacuação no Haiti era para UM hsp Cmp argentino, na capital, depois a Rep Dom, e por último, Miami. Em Angola eram diversos Hsp Cmp no território angolano, depois África do Sul, e na sequência, o Brasil, para nós.
Eligio, nós vamos enviar um hospital de campanha? Se sim, quantas pessoas e material são necessárias para fazê-los funcionar? O pessoal do pel médico do Btl tem alguma relação como ele?
2. A Cia Eng poderá ser desdobrada se houver requisição por parte da ONU. E ela NÃO atende às tropas brasileiras, mas sim, ao país. Mas sempre temos um Pel Eng muitíssimo bem equipado integrado ao BRABATT, e que atende perfeitamente às necessidades da Base. Para estradas e obras externas, há as diversas Cia Eng, e que já se encontram desdobradas pelo interior, em Pel Eng. Mas repito, as Cia Eng são para atender ao País, e dentro do possível, aos Batalhões da ONU.
Essa Cia Eng, em nosso caso, é de combate ou construção? O seu efetivo é composto de que forma? Ela é igualmente reforçada no mesmo padrão do Btl Inf?
3. Na MINUSCA há autorização para cada país levar suas SF, à nível Pelotão. Estas tropas SF no quadro, são novidade. Com exceção das QRF, que sempre há. No Haiti, era uma Cia Inf Mec (Urutu's) da Bolívia. E depois, com a saída deles, passou para o nosso Esqd C Mec. Em Angola eram indianos.....
No caos da MINSCA a QRF são os portugueses e seus comandos. Em se tratando do nosso caso, um pelotão pode variar entre de 30 a 70 homens, dependendo da situação/tropas/localização. Como vamos adequar esta questão, já que aparentemente haverá tropas das três forças no TO? Um pelotão reforçado seria o caso também? Operações/comando único ou cada um na sua?
4. A aviação é para prestar apoio à todas as tropas militares, e pessoal civil, incluindo policial, da ONU. Assim, NÃO é autorizado o BRABATT ter a sua própria aviação. E nem é interessante, falando financeira e logisticamente.
Mas e se se tornar necessário mediante as condições de emprego no TO? Vamos ficar na dependência da boa vontade da ONU sempre, ou podemos reforçar nossa presença de forma a tentar cobrir nossas tropas? Ou simplesmente cada um que dê seu jeito?
5. Já usamos os UAVs no Haiti, e usaremos na RCA. Mas é a nível pelotão, como os tugas fizeram no vídeo. Em questão de levantamento de dados estratégicos, já há um pelotão (ou o que parece ser...) lá
desdobrado.
Existem projetos aqui como o FT-200, dentre outros que poderiam ser utilizados? A nível btl pode-se dispor de algum adequado para eventualmente cumprir determinadas missões?
6. As comunicações também é da mesma forma que a Eng. Temos um Pel Com bem equipado, e cada Cia tem o seu pessoal de Com, o que atende as nossas necessidades de Com. Inclusive nas Com com o Brasil. A Cia Com lá desdobrada serve para enlace de dados em proveito da ONU, nas suas atividades, incluídas as militares. Fazem a função dos nossos BCom, que são estratégicos, não subordinados à uma brigada, mas à Comando Militar de Área, que é como a ONU se desdobra na RCA. São eles que proveem a internet para a ONU nos confins da selva ou do deserto.
Ok, que tipo de equipamentos esse pelotão pode usar? Ou no caso da MINUSCA serão necessários veículos mtz e/ou mecanizados ou opcionais?
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Valeu pelos esclarecimentos.
abs
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
Flavio,FCarvalho escreveu: .........................................................
1 - Eligio, nós vamos enviar um hospital de campanha? Se sim, quantas pessoas e material são necessárias para fazê-los funcionar? O pessoal do pel médico do Btl tem alguma relação como ele?
.........................................................
2 - Essa Cia Eng, em nosso caso, é de combate ou construção? O seu efetivo é composto de que forma? Ela é igualmente reforçada no mesmo padrão do Btl Inf?
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3 - No caos da MINSCA a QRF são os portugueses e seus comandos. Em se tratando do nosso caso, um pelotão pode variar entre de 30 a 70 homens, dependendo da situação/tropas/localização. Como vamos adequar esta questão, já que aparentemente haverá tropas das três forças no TO? Um pelotão reforçado seria o caso também? Operações/comando único ou cada um na sua?
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4 - Mas e se se tornar necessário mediante as condições de emprego no TO? Vamos ficar na dependência da boa vontade da ONU sempre, ou podemos reforçar nossa presença de forma a tentar cobrir nossas tropas? Ou simplesmente cada um que dê seu jeito?
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5 - Existem projetos aqui como o FT-200, dentre outros que poderiam ser utilizados? A nível btl pode-se dispor de algum adequado para eventualmente cumprir determinadas missões?
.........................................................
6 - Ok, que tipo de equipamentos esse pelotão pode usar? Ou no caso da MINUSCA serão necessários veículos mtz e/ou mecanizados ou opcionais?
.........................................................
vamos lá:
1 - Não, não vamos enviar Hsp Cmp. Pelo menos agora não. Caso haja solicitação, quem sabe.... Um Hsp Cmp é composto de módulos. Assim sendo, varia de 30 a 200 militares, incluído o pessoal de segurança. O Pel Sau do Btl NÃO faz parte do Hsp Cmp. É integrado assim como num Btl normal, em território nacional, só que como Pelotão. O normal é Seção de Saúde. No caso do Pel, temos 3 ou 4 médicos, 2 ou 3 dentistas, pessoal de laboratório e demais pessoal de saúde. Talvez uns 25 a 30 militares, no tortal.
2 - É uma Cia Eng mista, com capacidade de obras horizontais e também verticais, bem como constituir a sua própria segurança. Em casos extremos, recebe reforço de algum pelotão de infantaria/cavalaria das proximidades. Em angola, muitas vezes reforçamos uma Cia Eng da Coréia, que estava próxima do nosso Btl. No Haiti, diversas vezes fomos reforçar com GC em alguma obra que eles estavam executando....
3 - O Pel Fç Esp será do EB, mas normalmente há pessoal do Tonelero junto aos Navais, e que atuam em conjunto com os nossos, quando necessário. No nosso caso, o Pel era constituído de 15 homens, sargentos, oficiais e uns 3 soldados comandos.
4 - Sim, é o QG da ONU que determina o emprego da QRF, bem como das aeronaves. As tropas não possuem sua aviação orgânica. restrição da ONU.
5 - O FT200 já era empregado no Haiti, e deve continuar sendo. Existe outro, menos, do qual não recordo o nome, que era amplamente usado.
6 - Serão os equipamentos normais, já utilizados pelo EB. Normalmente são shelters, embarcados em caminhão e que podem/são desembarcados, bem como os equipamentos normais das viaturas, e outros instalados fixo, nas bases do Btl e/ou Cia, com enlace de dados e voz. Proveem também a internet e a comunicação, via fonia, com o Brasil. Era usado o INMARSAT, e deve continuar sendo....
Eles não necessitam de viaturas blindadas, pois ficam em bases, visto que as viaturas blindadas terão a capacidade de se comunicar com estas bases fixas, sem necessidade do Pel Com estar à frente. Ele serve basicamente às Bases, fixas.
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
Carcará da SANTOSLAB?eligioep escreveu:Flavio,FCarvalho escreveu: .........................................................
1 - Eligio, nós vamos enviar um hospital de campanha? Se sim, quantas pessoas e material são necessárias para fazê-los funcionar? O pessoal do pel médico do Btl tem alguma relação como ele?
.........................................................
2 - Essa Cia Eng, em nosso caso, é de combate ou construção? O seu efetivo é composto de que forma? Ela é igualmente reforçada no mesmo padrão do Btl Inf?
.........................................................
3 - No caos da MINSCA a QRF são os portugueses e seus comandos. Em se tratando do nosso caso, um pelotão pode variar entre de 30 a 70 homens, dependendo da situação/tropas/localização. Como vamos adequar esta questão, já que aparentemente haverá tropas das três forças no TO? Um pelotão reforçado seria o caso também? Operações/comando único ou cada um na sua?
.........................................................
4 - Mas e se se tornar necessário mediante as condições de emprego no TO? Vamos ficar na dependência da boa vontade da ONU sempre, ou podemos reforçar nossa presença de forma a tentar cobrir nossas tropas? Ou simplesmente cada um que dê seu jeito?
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5 - Existem projetos aqui como o FT-200, dentre outros que poderiam ser utilizados? A nível btl pode-se dispor de algum adequado para eventualmente cumprir determinadas missões?
.........................................................
6 - Ok, que tipo de equipamentos esse pelotão pode usar? Ou no caso da MINUSCA serão necessários veículos mtz e/ou mecanizados ou opcionais?
.........................................................
vamos lá:
1 - Não, não vamos enviar Hsp Cmp. Pelo menos agora não. Caso haja solicitação, quem sabe.... Um Hsp Cmp é composto de módulos. Assim sendo, varia de 30 a 200 militares, incluído o pessoal de segurança. O Pel Sau do Btl NÃO faz parte do Hsp Cmp. É integrado assim como num Btl normal, em território nacional, só que como Pelotão. O normal é Seção de Saúde. No caso do Pel, temos 3 ou 4 médicos, 2 ou 3 dentistas, pessoal de laboratório e demais pessoal de saúde. Talvez uns 25 a 30 militares, no tortal.
2 - É uma Cia Eng mista, com capacidade de obras horizontais e também verticais, bem como constituir a sua própria segurança. Em casos extremos, recebe reforço de algum pelotão de infantaria/cavalaria das proximidades. Em angola, muitas vezes reforçamos uma Cia Eng da Coréia, que estava próxima do nosso Btl. No Haiti, diversas vezes fomos reforçar com GC em alguma obra que eles estavam executando....
3 - O Pel Fç Esp será do EB, mas normalmente há pessoal do Tonelero junto aos Navais, e que atuam em conjunto com os nossos, quando necessário. No nosso caso, o Pel era constituído de 15 homens, sargentos, oficiais e uns 3 soldados comandos.
4 - Sim, é o QG da ONU que determina o emprego da QRF, bem como das aeronaves. As tropas não possuem sua aviação orgânica. restrição da ONU.
5 - O FT200 já era empregado no Haiti, e deve continuar sendo. Existe outro, menos, do qual não recordo o nome, que era amplamente usado.
6 - Serão os equipamentos normais, já utilizados pelo EB. Normalmente são shelters, embarcados em caminhão e que podem/são desembarcados, bem como os equipamentos normais das viaturas, e outros instalados fixo, nas bases do Btl e/ou Cia, com enlace de dados e voz. Proveem também a internet e a comunicação, via fonia, com o Brasil. Era usado o INMARSAT, e deve continuar sendo....
Eles não necessitam de viaturas blindadas, pois ficam em bases, visto que as viaturas blindadas terão a capacidade de se comunicar com estas bases fixas, sem necessidade do Pel Com estar à frente. Ele serve basicamente às Bases, fixas.
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Junto ao FT200 acho que foi o mais testado por nossas forças em fases de teste e afins, embora eu tenha a impressão que esse foi mais testado pelo CFN do que pelo EB.
- FCarvalho
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
Aproveitando o ensejo, e a sua delicadeza da sua paciência Eligio. como vai ficar a questão da proteção das tropas, posto que, como um órgão da MB já declarou, na RCA o recomendável incisivamente é para o uso de material bldo. Claro que nem tudo pode ser VBTP ou VBMT-LR, mas no caso do material mtz, de jeep's, a pick up passando por caminhões, como se pretende equalizar a questão da proteção das tropas em relação ao uso deste material? Tudo bem que alguns até podem ser blindados, mas não é possível, e nem aceitável, fazer isso em toda a frota. Temos alternativas aqui mais em conta no sentido de dar a melhor proteção possível a quem estiver operando este tipo de veículos? Ou vamos contar com a sorte mesmo.eligioep escreveu:Flavio,
vamos lá:
1 - Não, não vamos enviar Hsp Cmp. Pelo menos agora não. Caso haja solicitação, quem sabe.... Um Hsp Cmp é composto de módulos. Assim sendo, varia de 30 a 200 militares, incluído o pessoal de segurança. O Pel Sau do Btl NÃO faz parte do Hsp Cmp. É integrado assim como num Btl normal, em território nacional, só que como Pelotão. O normal é Seção de Saúde. No caso do Pel, temos 3 ou 4 médicos, 2 ou 3 dentistas, pessoal de laboratório e demais pessoal de saúde. Talvez uns 25 a 30 militares, no total.
Eligio, aqui uma impressão minha. Vamos precisar, e muito, de bem mais que apenas um hospital de campanha por lá. Na verdade torço para que todas as 3 forças enviem os seus. Não tem nada lá neste sentido para auxiliar a população. E o quase anda que há, pertence às ONG's e agências humanitárias da ONU que tentam trabalhar em meio aos caos instalado naquele país. E ainda assim levando pau de todos os lados Toda e qualquer ajuda será bem vinda nessa hora. E como se trata de uma missão de imposição da paz, bem, melhor sobrar recursos em saúde do que não dá. Até os PM's que forem enviados deveriam ter o seu.
2 - É uma Cia Eng mista, com capacidade de obras horizontais e também verticais, bem como constituir a sua própria segurança. Em casos extremos, recebe reforço de algum pelotão de infantaria/cavalaria das proximidades. Em angola, muitas vezes reforçamos uma Cia Eng da Coréia, que estava próxima do nosso Btl. No Haiti, diversas vezes fomos reforçar com GC em alguma obra que eles estavam executando....
Novamente, aqui uma impressão minha pelo que acompanho da situação no país. Há mais necessidade de tropas de apoio, tipo engenharia, comunicações, logística, saúde e afins, do que propriamente de infantaria. Mas existe uma tremenda dificuldade de conseguir este tipo de tropas, já que dificilmente países se dispõe a enviá-las, dada a complexidade, e evidentemente, a periculosidade do TO em questão. No fim, como já disse outro dia aqui, tá todo mundo cagando e andando para a RCA. E, para ser bem honesto, para todos os conflitos étnicos, religiosos e fraticidas na África em geral. A não ser quando há motivação econômica e/ou política dos mais ricos. Aí a coisa fica diferente. Quantos europeus, americanos, russos ou chineses tem mesmo na RCA hoje?
3 - O Pel Fç Esp será do EB, mas normalmente há pessoal do Tonelero junto aos Navais, e que atuam em conjunto com os nossos, quando necessário. No nosso caso, o Pel era constituído de 15 homens, sargentos, oficiais e uns 3 soldados comandos.
Bem, entendo que pelo tipo de missão na qual estamos nos metendo, apenas 15 homens, para um pelotão, estarão muito aquém das necessidades impostas naquele TO. Vai ter trabalho de sobre para operadores de menos.
4 - Sim, é o QG da ONU que determina o emprego da QRF, bem como das aeronaves. As tropas não possuem sua aviação orgânica. restrição da ONU.
Em todo caso, se o EB quiser enviar seus 4 BH e a FAB acrescer de mais 2 BH a sua participação na missão, isso seria possível? A oferta também de Esquilos armados poderia ser feita, e aceita, pela ONU? Qual o limite para a participação da aviação neste contexto? Pergunto porque a ONU veio aqui inspecionar aviões e helos da FAB, e esta ofereceu apenas 2 ST, 1 C-105 e 2 BH. O que dá para fazer com isso em termos operacionais, me parece, é altamente questionável.
5 - O FT200 já era empregado no Haiti, e deve continuar sendo. Existe outro, menos, do qual não recordo o nome, que era amplamente usado.
Acho que era o FT-100. Além do Carcará do CFN. Modelos leves operacionais temos estes. Na verdade falta-nos algo a nível Btl. Não me recordo de nada nesta seara fabricado por aqui. A marinha andou testando vários modelos, tanto rotativos quanto asa fixa. Não sei no que deu, mas seriam também uma opção a ser pensada.
6 - Serão os equipamentos normais, já utilizados pelo EB. Normalmente são shelters, embarcados em caminhão e que podem/são desembarcados, bem como os equipamentos normais das viaturas, e outros instalados fixo, nas bases do Btl e/ou Cia, com enlace de dados e voz. Proveem também a internet e a comunicação, via fonia, com o Brasil. Era usado o INMARSAT, e deve continuar sendo....
Eles não necessitam de viaturas blindadas, pois ficam em bases, visto que as viaturas blindadas terão a capacidade de se comunicar com estas bases fixas, sem necessidade do Pel Com estar à frente. Ele serve basicamente às Bases, fixas.
Uma boa informação, e aqui novamente a minha propaganda. Por que não aproveitar os modelos da Agrale que se tem, das AM-21 a AM-41 para usar como modelos base nestas funções? Me parece, em tese, que quanto maior a comunalidade logística material, menos custos e maior efetividade operacional.
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Pergunto porque o que mais se vê no EB são as AM-21, que basicamente são pick up sem nenhuma proteção ou preparo para enfrentar fogo inimigo, mesmo leve. Apesar dela ter uma versão cabine dupla, o EB, até onde sei, se não estou enganado, usa versões especializadas delas com shelters para o Sisfron, ou seriam as AM-200? Tenho essa dúvida.
Da mesma forma, as AM-10/11 e 31 também possuem versões com cabine fechada, mas nunca vistas em uso no EB. Desconheço também o uso das AM-100/200 nas ffaa's.
Já que o problema da RCA é mais embaixo do que no Haiti, e a possibilidade de ataques são muito maiores, não seria o caso de rever esta questão do material mtz a se utilizar naquela missão, de forma a proporcionar a melhor proteção possível ao pessoal em campo. Até mesmo uma simples missão administrativa pode se tornar um problema sério e um risco iminente.
O que o EB, e tu, pensam a respeito disso.?
grande abraço.
Carpe Diem
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
Parabéns aos primos tugas pelo sucesso em mais esta missão.
Este tipo de situação é bem o que nos espera na RCA.
Vamos ver e estaremos a altura do serviço.
abs
Este tipo de situação é bem o que nos espera na RCA.
Vamos ver e estaremos a altura do serviço.
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
Quando foi preciso recorrer às armas para salvar o Natal: os 90 comandos portugueses que libertaram uma cidade
Eles vão passar o Natal fora do país para que outros consigam por sua vez regressar a casa no Natal: os militares portugueses na República Centro-Africana realizaram este ano a única operação ofensiva levada a cabo pela força da ONU naquele país, libertando a cidade de Bocaranga e permitindo que centenas de cristãos pudessem retornar às suas habitações a tempo do Natal. Há dias, os militares foram novamente projetados numa nova missão, para outro ponto remoto do país
João Santos Duarte
JOÃO SANTOS DUARTE
Texto
Carlos Paes
CARLOS PAES
Infografia
O silêncio é subitamente interrompido por um barulho que se começa a ouvir ao longe, primeiro baixinho, depois cada vez mais intenso. Não demorará muito até eles se aperceberem que se trata de helicópetros de combate, que em poucos minutos já estão por cima das casas e começam a disparar. Alguns elementos do grupo armado terão batido logo ali em retirada, outros ainda resistem. Quando os portugueses entram em ação, já os helis MI-35 tinham feito um ataque aéreo inicial, mas os aparelhos senegaleses irão manter-se sempre no ar como os olhos dos militares que estão cá em baixo no terreno. A partir dali serão precisas sete horas até que a operação de libertação esteja concluída. E os portugueses serão forçados a abrir fogo.
A cidade chama-se Bocaranga e fica na noroeste da República Centro-Africana, já bem perto da fronteira com o Chade e os Camarões. Tinha sido ocupada por um grupo armado muçulmano autodenominado 3R (que significa “Retorno, Reclamação e Reabilitação”), e liderado pelo general Sidiki. Os cristãos foram obrigados a abandonar as suas casas, levando consigo tudo o que puderam, do pouco que ainda têm. Estavam a viver num campo de deslocados situado a alguns quilómetros dali. Era aí que provavelmente passariam este ano o Natal, não tivesse sido a intervenção das forças portuguesas que estão destacadas no país.
As negociações para a libertação da cidade entre o líder do grupo armado e o governo, e mediadas pelos representantes da Nações Unidas, prolongaram-se por várias semanas, mas foram infrutíferas.
Entre eles estava também o homem responsável pela Força Portuguesa destacada neste momento na República Centro Africana, Tenente-Coronel Alexandre Varino. “Participei na última negociação. Pude ver que, à excepção do centro, onde estavam concentrados os elementos do grupo armado, a cidade estava completamente deserta. O governo ainda se comprometeu a ceder a algumas reivindicações, mas o grupo não abandonou a cidade dentro do prazo que lhe foi dado”. A força era o único recurso.
Dos 160 portugueses destacados no país, 90 são Comandos. Constituem neste momento a QRF, Quick Reaction Force da MINUSCA (Missão das Nações Unidas para a Estabilização da República-Centro Africana). Ou seja, podem ser chamados a atuar em qualquer momento para resolver qualquer problema que surja no país. Coube-lhes a eles o planeamento e condução da operação Damakongo, uma ação até agora inédita na atuação da missão das Nações Unidas, que está no país desde 2014. “Tratou-se de uma operação ofensiva. Foi a primeira vez que aconteceu na República Centro-Africana, sob comando da MINUSCA. As outras têm sido mais operações de reação a determinadas ações por parte dos grupos armados”, explica ao Expresso o tenente-coronel Varino.
Os portugueses entraram de rompante e começaram a bater casa a casa. Foram encontrando uma cidade praticamente fantasma, até ao momento em que se aproximaram do centro. O fogo inimigo teve resposta imediata. Estima-se que cerca de 150 elementos do grupo armado estivessem na cidade, mas foram fugindo à medida que os portugueses iam avançando. Os militares ainda encontraram e libertaram um refém que estava preso num anexo junto à igreja. Apreenderam munições, motas e armamento que foram deixadas para trás pelo grupo 3R.
A operação demorou sete horas e foi um sucesso. Os portugueses libertaram a cidade e dali seguiram para norte numa nova missão para Bang, uma localidade mais pequena situada já mesmo na zona de fronteira com o Chade, que estava ocupada por um outro grupo, o MPC, liderado pelo general Bahar. O grupo ocupou este posto fronteiriço e cobrava entrada dos produtos e das pessoas que vinham do Chade e dos Camarães. O ataque demorou menos tempo, apenas 4 horas, mas a operação foi igualmente bem-sucedida.
NO MEIO DE UM BARRIL DE PÓLVORA
Esta operação decorreu já há várias semanas, mas foi contada agora em detalhe ao Expresso pelo comandante da força portuguesa. Os comandos permitiram a vários cristãos de Bocaranga regressarem às suas casas para passarem o Natal. Pelo contrário, os militares vão estar fora do país e longe das famílias este ano - além disso, vão passar esta quadra projetados para uma nova missão. como vão passar esta quadra projetados para uma nova missão. O Expresso sabe que saíram há dias de Bangui, a capital, para uma nova operação num outro ponto do país.
Para o próprio comandante da Força, esta é a primeira vez que o Natal é passado fora de casa. “Foi entendido que nossa presença era necessária noutra parte do país e não em Bangui, e por isso vamos ter de o fazer, preparar-nos para passar um Natal diferente e uma passagem do ano também diferente, longe da nossa base.
Em Bangui, felizmente, temos boas condições. Quando somos projetados não temos as mesmas condições, naturalmente. É um desafio grande, todos estão preparados mentalmente, com grande motivação para cumprir esta nova missão. Isto é encarado com naturalidade. Sabemos que podíamos ser chamados a intervir noutra parte do país a qualquer momento. Já estávamos preparados psicologicamente para isso.”
As famílias também foram avisadas antes de eles partirem. Em Bangui, o tenente-coronel Varino fala todos os dias com os filhos, inclusivamente por videoconferência, mas o mesmo não pode acontecer quando está projetado num ponto remoto do país. Ainda assim, apesar de as condições de comunicação não serem as mesmas de quando estão no Campo M´Poko, o comandante da força garante que, estejam onde estiverem, terão sempre forma de contatar os familiares no dia de Natal, nem que seja através de um simples telefonema ou mensagem.
FOTO DR
Quando estão em Bangui os portugueses participam também em várias missões de patrulhamento para manter a ordem numa cidade que é um autêntico barril de pólvora. Qualquer simples acidente no trânsito caótico pode servir de pretexto para o início de um conflito de maior escala entre grupos rivais, porque há anos que o país está mergulhado no caos.
Em outubro de 2013, o grupo muçulmano Seleka derrubou o governo, acusando-o de corrupção. O que se seguiu foram no entanto saques de cidades e aldeias, que levaram por sua vez à formação de milícias cristãs, conhecidas como “movimentos anti-Balaka”. Inicialmente proclamavam-se um grupo de defesa composto por cristãos. Mais tarde, a milícia caiu nas mãos de gangues de jovens armados.
Há agora pelo menos 14 grupos armados rebeldes ativos em todo o país. De acordo com a Human Rights Watch, só nos últimos três meses os confrontos entre os dois grupos étnicos fizeram 45 mortos, e cerca de 11 mil deslocados. No total, o número de pessoas deslocadas no país aumentou de 400 mil em janeiro para mais de 600 mil em agosto, segundo organizações não-governamentais. Os deslocados não são apenas cristãos, mas também milhares de muçulmanos, dependendo da religião dos grupos que dominam as diferentes partes do país.
A libertação da cidade de Bocaranga, e da localidade mais pequena de Bang, que ficou conhecida como a “Operação Damakongo”, foi louvada pelo comando das Nações Unidas, que em comunicado destacou mesmo a “iniciativa, liderança e profissionalismo” dos militares portugueses. Mas, mais ainda do que isso, ajudou a melhorar a imagem junto da população, que em muitos casos olha para os capacetes azuis como um invasor externo.
O tenente-coronel Alexandre Varino afirma que “a perceção das pessoas em relação à MINUSCA não é muito favorável, mas nós não sentimos essa animosidade quando fazemos patrulhamentos na cidade”. Sempre que a situação tática permite, procuramos fazer patrulhamentos apeados no meio das pessoas, para que possa haver contacto com a população, para que as pessoas nos reconheçam. Quando as pessoas reconhecem que somos portugueses, a postura é diferente. Quando andamos com os carros todos brancos é tudo igual, mas quando se apercebem que são os portugueses que estão a fazer a patrulha, a postura muda e não temos tido qualquer problema de animosidade.”
Fonte: "expresso.sapo.pt"
Eles vão passar o Natal fora do país para que outros consigam por sua vez regressar a casa no Natal: os militares portugueses na República Centro-Africana realizaram este ano a única operação ofensiva levada a cabo pela força da ONU naquele país, libertando a cidade de Bocaranga e permitindo que centenas de cristãos pudessem retornar às suas habitações a tempo do Natal. Há dias, os militares foram novamente projetados numa nova missão, para outro ponto remoto do país
João Santos Duarte
JOÃO SANTOS DUARTE
Texto
Carlos Paes
CARLOS PAES
Infografia
O silêncio é subitamente interrompido por um barulho que se começa a ouvir ao longe, primeiro baixinho, depois cada vez mais intenso. Não demorará muito até eles se aperceberem que se trata de helicópetros de combate, que em poucos minutos já estão por cima das casas e começam a disparar. Alguns elementos do grupo armado terão batido logo ali em retirada, outros ainda resistem. Quando os portugueses entram em ação, já os helis MI-35 tinham feito um ataque aéreo inicial, mas os aparelhos senegaleses irão manter-se sempre no ar como os olhos dos militares que estão cá em baixo no terreno. A partir dali serão precisas sete horas até que a operação de libertação esteja concluída. E os portugueses serão forçados a abrir fogo.
A cidade chama-se Bocaranga e fica na noroeste da República Centro-Africana, já bem perto da fronteira com o Chade e os Camarões. Tinha sido ocupada por um grupo armado muçulmano autodenominado 3R (que significa “Retorno, Reclamação e Reabilitação”), e liderado pelo general Sidiki. Os cristãos foram obrigados a abandonar as suas casas, levando consigo tudo o que puderam, do pouco que ainda têm. Estavam a viver num campo de deslocados situado a alguns quilómetros dali. Era aí que provavelmente passariam este ano o Natal, não tivesse sido a intervenção das forças portuguesas que estão destacadas no país.
As negociações para a libertação da cidade entre o líder do grupo armado e o governo, e mediadas pelos representantes da Nações Unidas, prolongaram-se por várias semanas, mas foram infrutíferas.
Entre eles estava também o homem responsável pela Força Portuguesa destacada neste momento na República Centro Africana, Tenente-Coronel Alexandre Varino. “Participei na última negociação. Pude ver que, à excepção do centro, onde estavam concentrados os elementos do grupo armado, a cidade estava completamente deserta. O governo ainda se comprometeu a ceder a algumas reivindicações, mas o grupo não abandonou a cidade dentro do prazo que lhe foi dado”. A força era o único recurso.
Dos 160 portugueses destacados no país, 90 são Comandos. Constituem neste momento a QRF, Quick Reaction Force da MINUSCA (Missão das Nações Unidas para a Estabilização da República-Centro Africana). Ou seja, podem ser chamados a atuar em qualquer momento para resolver qualquer problema que surja no país. Coube-lhes a eles o planeamento e condução da operação Damakongo, uma ação até agora inédita na atuação da missão das Nações Unidas, que está no país desde 2014. “Tratou-se de uma operação ofensiva. Foi a primeira vez que aconteceu na República Centro-Africana, sob comando da MINUSCA. As outras têm sido mais operações de reação a determinadas ações por parte dos grupos armados”, explica ao Expresso o tenente-coronel Varino.
Os portugueses entraram de rompante e começaram a bater casa a casa. Foram encontrando uma cidade praticamente fantasma, até ao momento em que se aproximaram do centro. O fogo inimigo teve resposta imediata. Estima-se que cerca de 150 elementos do grupo armado estivessem na cidade, mas foram fugindo à medida que os portugueses iam avançando. Os militares ainda encontraram e libertaram um refém que estava preso num anexo junto à igreja. Apreenderam munições, motas e armamento que foram deixadas para trás pelo grupo 3R.
A operação demorou sete horas e foi um sucesso. Os portugueses libertaram a cidade e dali seguiram para norte numa nova missão para Bang, uma localidade mais pequena situada já mesmo na zona de fronteira com o Chade, que estava ocupada por um outro grupo, o MPC, liderado pelo general Bahar. O grupo ocupou este posto fronteiriço e cobrava entrada dos produtos e das pessoas que vinham do Chade e dos Camarães. O ataque demorou menos tempo, apenas 4 horas, mas a operação foi igualmente bem-sucedida.
NO MEIO DE UM BARRIL DE PÓLVORA
Esta operação decorreu já há várias semanas, mas foi contada agora em detalhe ao Expresso pelo comandante da força portuguesa. Os comandos permitiram a vários cristãos de Bocaranga regressarem às suas casas para passarem o Natal. Pelo contrário, os militares vão estar fora do país e longe das famílias este ano - além disso, vão passar esta quadra projetados para uma nova missão. como vão passar esta quadra projetados para uma nova missão. O Expresso sabe que saíram há dias de Bangui, a capital, para uma nova operação num outro ponto do país.
Para o próprio comandante da Força, esta é a primeira vez que o Natal é passado fora de casa. “Foi entendido que nossa presença era necessária noutra parte do país e não em Bangui, e por isso vamos ter de o fazer, preparar-nos para passar um Natal diferente e uma passagem do ano também diferente, longe da nossa base.
Em Bangui, felizmente, temos boas condições. Quando somos projetados não temos as mesmas condições, naturalmente. É um desafio grande, todos estão preparados mentalmente, com grande motivação para cumprir esta nova missão. Isto é encarado com naturalidade. Sabemos que podíamos ser chamados a intervir noutra parte do país a qualquer momento. Já estávamos preparados psicologicamente para isso.”
As famílias também foram avisadas antes de eles partirem. Em Bangui, o tenente-coronel Varino fala todos os dias com os filhos, inclusivamente por videoconferência, mas o mesmo não pode acontecer quando está projetado num ponto remoto do país. Ainda assim, apesar de as condições de comunicação não serem as mesmas de quando estão no Campo M´Poko, o comandante da força garante que, estejam onde estiverem, terão sempre forma de contatar os familiares no dia de Natal, nem que seja através de um simples telefonema ou mensagem.
FOTO DR
Quando estão em Bangui os portugueses participam também em várias missões de patrulhamento para manter a ordem numa cidade que é um autêntico barril de pólvora. Qualquer simples acidente no trânsito caótico pode servir de pretexto para o início de um conflito de maior escala entre grupos rivais, porque há anos que o país está mergulhado no caos.
Em outubro de 2013, o grupo muçulmano Seleka derrubou o governo, acusando-o de corrupção. O que se seguiu foram no entanto saques de cidades e aldeias, que levaram por sua vez à formação de milícias cristãs, conhecidas como “movimentos anti-Balaka”. Inicialmente proclamavam-se um grupo de defesa composto por cristãos. Mais tarde, a milícia caiu nas mãos de gangues de jovens armados.
Há agora pelo menos 14 grupos armados rebeldes ativos em todo o país. De acordo com a Human Rights Watch, só nos últimos três meses os confrontos entre os dois grupos étnicos fizeram 45 mortos, e cerca de 11 mil deslocados. No total, o número de pessoas deslocadas no país aumentou de 400 mil em janeiro para mais de 600 mil em agosto, segundo organizações não-governamentais. Os deslocados não são apenas cristãos, mas também milhares de muçulmanos, dependendo da religião dos grupos que dominam as diferentes partes do país.
A libertação da cidade de Bocaranga, e da localidade mais pequena de Bang, que ficou conhecida como a “Operação Damakongo”, foi louvada pelo comando das Nações Unidas, que em comunicado destacou mesmo a “iniciativa, liderança e profissionalismo” dos militares portugueses. Mas, mais ainda do que isso, ajudou a melhorar a imagem junto da população, que em muitos casos olha para os capacetes azuis como um invasor externo.
O tenente-coronel Alexandre Varino afirma que “a perceção das pessoas em relação à MINUSCA não é muito favorável, mas nós não sentimos essa animosidade quando fazemos patrulhamentos na cidade”. Sempre que a situação tática permite, procuramos fazer patrulhamentos apeados no meio das pessoas, para que possa haver contacto com a população, para que as pessoas nos reconheçam. Quando as pessoas reconhecem que somos portugueses, a postura é diferente. Quando andamos com os carros todos brancos é tudo igual, mas quando se apercebem que são os portugueses que estão a fazer a patrulha, a postura muda e não temos tido qualquer problema de animosidade.”
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
Com imagens.
Quando foi preciso recorrer às armas para salvar o Natal: os 90 comandos portugueses que libertaram uma cidade
Eles vão passar o Natal fora do país para que outros consigam por sua vez regressar a casa no Natal: os militares portugueses na República Centro-Africana realizaram este ano a única operação ofensiva levada a cabo pela força da ONU naquele país, libertando a cidade de Bocaranga e permitindo que centenas de cristãos pudessem retornar às suas habitações a tempo do Natal. Há dias, os militares foram novamente projetados numa nova missão, para outro ponto remoto do país
silêncio é subitamente interrompido por um barulho que se começa a ouvir ao longe, primeiro baixinho, depois cada vez mais intenso. Não demorará muito até eles se aperceberem que se trata de helicópetros de combate, que em poucos minutos já estão por cima das casas e começam a disparar. Alguns elementos do grupo armado terão batido logo ali em retirada, outros ainda resistem. Quando os portugueses entram em ação, já os helis MI-35 tinham feito um ataque aéreo inicial, mas os aparelhos senegaleses irão manter-se sempre no ar como os olhos dos militares que estão cá em baixo no terreno. A partir dali serão precisas sete horas até que a operação de libertação esteja concluída. E os portugueses serão forçados a abrir fogo.
A cidade chama-se Bocaranga e fica na noroeste da República Centro-Africana, já bem perto da fronteira com o Chade e os Camarões. Tinha sido ocupada por um grupo armado muçulmano autodenominado 3R (que significa “Retorno, Reclamação e Reabilitação”), e liderado pelo general Sidiki. Os cristãos foram obrigados a abandonar as suas casas, levando consigo tudo o que puderam, do pouco que ainda têm. Estavam a viver num campo de deslocados situado a alguns quilómetros dali. Era aí que provavelmente passariam este ano o Natal, não tivesse sido a intervenção das forças portuguesas que estão destacadas no país.
As negociações para a libertação da cidade entre o líder do grupo armado e o governo, e mediadas pelos representantes da Nações Unidas, prolongaram-se por várias semanas, mas foram infrutíferas.
Entre eles estava também o homem responsável pela Força Portuguesa destacada neste momento na República Centro Africana, Tenente-Coronel Alexandre Varino. “Participei na última negociação. Pude ver que, à excepção do centro, onde estavam concentrados os elementos do grupo armado, a cidade estava completamente deserta. O governo ainda se comprometeu a ceder a algumas reivindicações, mas o grupo não abandonou a cidade dentro do prazo que lhe foi dado”. A força era o único recurso.
FOTO DR
Dos 160 portugueses destacados no país, 90 são Comandos. Constituem neste momento a QRF, Quick Reaction Force da MINUSCA (Missão das Nações Unidas para a Estabilização da República-Centro Africana). Ou seja, podem ser chamados a atuar em qualquer momento para resolver qualquer problema que surja no país. Coube-lhes a eles o planeamento e condução da operação Damakongo, uma ação até agora inédita na atuação da missão das Nações Unidas, que está no país desde 2014. “Tratou-se de uma operação ofensiva. Foi a primeira vez que aconteceu na República Centro-Africana, sob comando da MINUSCA. As outras têm sido mais operações de reação a determinadas ações por parte dos grupos armados”, explica ao Expresso o tenente-coronel Varino.
Os portugueses entraram de rompante e começaram a bater casa a casa. Foram encontrando uma cidade praticamente fantasma, até ao momento em que se aproximaram do centro. O fogo inimigo teve resposta imediata. Estima-se que cerca de 150 elementos do grupo armado estivessem na cidade, mas foram fugindo à medida que os portugueses iam avançando. Os militares ainda encontraram e libertaram um refém que estava preso num anexo junto à igreja. Apreenderam munições, motas e armamento que foram deixadas para trás pelo grupo 3R.
A operação demorou sete horas e foi um sucesso. Os portugueses libertaram a cidade e dali seguiram para norte numa nova missão para Bang, uma localidade mais pequena situada já mesmo na zona de fronteira com o Chade, que estava ocupada por um outro grupo, o MPC, liderado pelo general Bahar. O grupo ocupou este posto fronteiriço e cobrava entrada dos produtos e das pessoas que vinham do Chade e dos Camarães. O ataque demorou menos tempo, apenas 4 horas, mas a operação foi igualmente bem-sucedida.
NO MEIO DE UM BARRIL DE PÓLVORA
Esta operação decorreu já há várias semanas, mas foi contada agora em detalhe ao Expresso pelo comandante da força portuguesa. Os comandos permitiram a vários cristãos de Bocaranga regressarem às suas casas para passarem o Natal. Pelo contrário, os militares vão estar fora do país e longe das famílias este ano - além disso, vão passar esta quadra projetados para uma nova missão. como vão passar esta quadra projetados para uma nova missão. O Expresso sabe que saíram há dias de Bangui, a capital, para uma nova operação num outro ponto do país.
Para o próprio comandante da Força, esta é a primeira vez que o Natal é passado fora de casa. “Foi entendido que nossa presença era necessária noutra parte do país e não em Bangui, e por isso vamos ter de o fazer, preparar-nos para passar um Natal diferente e uma passagem do ano também diferente, longe da nossa base.
Em Bangui, felizmente, temos boas condições. Quando somos projetados não temos as mesmas condições, naturalmente. É um desafio grande, todos estão preparados mentalmente, com grande motivação para cumprir esta nova missão. Isto é encarado com naturalidade. Sabemos que podíamos ser chamados a intervir noutra parte do país a qualquer momento. Já estávamos preparados psicologicamente para isso.”
As famílias também foram avisadas antes de eles partirem. Em Bangui, o tenente-coronel Varino fala todos os dias com os filhos, inclusivamente por videoconferência, mas o mesmo não pode acontecer quando está projetado num ponto remoto do país. Ainda assim, apesar de as condições de comunicação não serem as mesmas de quando estão no Campo M´Poko, o comandante da força garante que, estejam onde estiverem, terão sempre forma de contatar os familiares no dia de Natal, nem que seja através de um simples telefonema ou mensagem.
FOTO DR
Quando estão em Bangui os portugueses participam também em várias missões de patrulhamento para manter a ordem numa cidade que é um autêntico barril de pólvora. Qualquer simples acidente no trânsito caótico pode servir de pretexto para o início de um conflito de maior escala entre grupos rivais, porque há anos que o país está mergulhado no caos.
Em outubro de 2013, o grupo muçulmano Seleka derrubou o governo, acusando-o de corrupção. O que se seguiu foram no entanto saques de cidades e aldeias, que levaram por sua vez à formação de milícias cristãs, conhecidas como “movimentos anti-Balaka”. Inicialmente proclamavam-se um grupo de defesa composto por cristãos. Mais tarde, a milícia caiu nas mãos de gangues de jovens armados.
Há agora pelo menos 14 grupos armados rebeldes ativos em todo o país. De acordo com a Human Rights Watch, só nos últimos três meses os confrontos entre os dois grupos étnicos fizeram 45 mortos, e cerca de 11 mil deslocados. No total, o número de pessoas deslocadas no país aumentou de 400 mil em janeiro para mais de 600 mil em agosto, segundo organizações não-governamentais. Os deslocados não são apenas cristãos, mas também milhares de muçulmanos, dependendo da religião dos grupos que dominam as diferentes partes do país.
A libertação da cidade de Bocaranga, e da localidade mais pequena de Bang, que ficou conhecida como a “Operação Damakongo”, foi louvada pelo comando das Nações Unidas, que em comunicado destacou mesmo a “iniciativa, liderança e profissionalismo” dos militares portugueses. Mas, mais ainda do que isso, ajudou a melhorar a imagem junto da população, que em muitos casos olha para os capacetes azuis como um invasor externo.
O tenente-coronel Alexandre Varino afirma que “a perceção das pessoas em relação à MINUSCA não é muito favorável, mas nós não sentimos essa animosidade quando fazemos patrulhamentos na cidade”. Sempre que a situação tática permite, procuramos fazer patrulhamentos apeados no meio das pessoas, para que possa haver contacto com a população, para que as pessoas nos reconheçam. Quando as pessoas reconhecem que somos portugueses, a postura é diferente. Quando andamos com os carros todos brancos é tudo igual, mas quando se apercebem que são os portugueses que estão a fazer a patrulha, a postura muda e não temos tido qualquer problema de animosidade.”
http://expresso.sapo.pt/sociedade/2017- ... uma-cidade
Quando foi preciso recorrer às armas para salvar o Natal: os 90 comandos portugueses que libertaram uma cidade
Eles vão passar o Natal fora do país para que outros consigam por sua vez regressar a casa no Natal: os militares portugueses na República Centro-Africana realizaram este ano a única operação ofensiva levada a cabo pela força da ONU naquele país, libertando a cidade de Bocaranga e permitindo que centenas de cristãos pudessem retornar às suas habitações a tempo do Natal. Há dias, os militares foram novamente projetados numa nova missão, para outro ponto remoto do país
silêncio é subitamente interrompido por um barulho que se começa a ouvir ao longe, primeiro baixinho, depois cada vez mais intenso. Não demorará muito até eles se aperceberem que se trata de helicópetros de combate, que em poucos minutos já estão por cima das casas e começam a disparar. Alguns elementos do grupo armado terão batido logo ali em retirada, outros ainda resistem. Quando os portugueses entram em ação, já os helis MI-35 tinham feito um ataque aéreo inicial, mas os aparelhos senegaleses irão manter-se sempre no ar como os olhos dos militares que estão cá em baixo no terreno. A partir dali serão precisas sete horas até que a operação de libertação esteja concluída. E os portugueses serão forçados a abrir fogo.
A cidade chama-se Bocaranga e fica na noroeste da República Centro-Africana, já bem perto da fronteira com o Chade e os Camarões. Tinha sido ocupada por um grupo armado muçulmano autodenominado 3R (que significa “Retorno, Reclamação e Reabilitação”), e liderado pelo general Sidiki. Os cristãos foram obrigados a abandonar as suas casas, levando consigo tudo o que puderam, do pouco que ainda têm. Estavam a viver num campo de deslocados situado a alguns quilómetros dali. Era aí que provavelmente passariam este ano o Natal, não tivesse sido a intervenção das forças portuguesas que estão destacadas no país.
As negociações para a libertação da cidade entre o líder do grupo armado e o governo, e mediadas pelos representantes da Nações Unidas, prolongaram-se por várias semanas, mas foram infrutíferas.
Entre eles estava também o homem responsável pela Força Portuguesa destacada neste momento na República Centro Africana, Tenente-Coronel Alexandre Varino. “Participei na última negociação. Pude ver que, à excepção do centro, onde estavam concentrados os elementos do grupo armado, a cidade estava completamente deserta. O governo ainda se comprometeu a ceder a algumas reivindicações, mas o grupo não abandonou a cidade dentro do prazo que lhe foi dado”. A força era o único recurso.
FOTO DR
Dos 160 portugueses destacados no país, 90 são Comandos. Constituem neste momento a QRF, Quick Reaction Force da MINUSCA (Missão das Nações Unidas para a Estabilização da República-Centro Africana). Ou seja, podem ser chamados a atuar em qualquer momento para resolver qualquer problema que surja no país. Coube-lhes a eles o planeamento e condução da operação Damakongo, uma ação até agora inédita na atuação da missão das Nações Unidas, que está no país desde 2014. “Tratou-se de uma operação ofensiva. Foi a primeira vez que aconteceu na República Centro-Africana, sob comando da MINUSCA. As outras têm sido mais operações de reação a determinadas ações por parte dos grupos armados”, explica ao Expresso o tenente-coronel Varino.
Os portugueses entraram de rompante e começaram a bater casa a casa. Foram encontrando uma cidade praticamente fantasma, até ao momento em que se aproximaram do centro. O fogo inimigo teve resposta imediata. Estima-se que cerca de 150 elementos do grupo armado estivessem na cidade, mas foram fugindo à medida que os portugueses iam avançando. Os militares ainda encontraram e libertaram um refém que estava preso num anexo junto à igreja. Apreenderam munições, motas e armamento que foram deixadas para trás pelo grupo 3R.
A operação demorou sete horas e foi um sucesso. Os portugueses libertaram a cidade e dali seguiram para norte numa nova missão para Bang, uma localidade mais pequena situada já mesmo na zona de fronteira com o Chade, que estava ocupada por um outro grupo, o MPC, liderado pelo general Bahar. O grupo ocupou este posto fronteiriço e cobrava entrada dos produtos e das pessoas que vinham do Chade e dos Camarães. O ataque demorou menos tempo, apenas 4 horas, mas a operação foi igualmente bem-sucedida.
NO MEIO DE UM BARRIL DE PÓLVORA
Esta operação decorreu já há várias semanas, mas foi contada agora em detalhe ao Expresso pelo comandante da força portuguesa. Os comandos permitiram a vários cristãos de Bocaranga regressarem às suas casas para passarem o Natal. Pelo contrário, os militares vão estar fora do país e longe das famílias este ano - além disso, vão passar esta quadra projetados para uma nova missão. como vão passar esta quadra projetados para uma nova missão. O Expresso sabe que saíram há dias de Bangui, a capital, para uma nova operação num outro ponto do país.
Para o próprio comandante da Força, esta é a primeira vez que o Natal é passado fora de casa. “Foi entendido que nossa presença era necessária noutra parte do país e não em Bangui, e por isso vamos ter de o fazer, preparar-nos para passar um Natal diferente e uma passagem do ano também diferente, longe da nossa base.
Em Bangui, felizmente, temos boas condições. Quando somos projetados não temos as mesmas condições, naturalmente. É um desafio grande, todos estão preparados mentalmente, com grande motivação para cumprir esta nova missão. Isto é encarado com naturalidade. Sabemos que podíamos ser chamados a intervir noutra parte do país a qualquer momento. Já estávamos preparados psicologicamente para isso.”
As famílias também foram avisadas antes de eles partirem. Em Bangui, o tenente-coronel Varino fala todos os dias com os filhos, inclusivamente por videoconferência, mas o mesmo não pode acontecer quando está projetado num ponto remoto do país. Ainda assim, apesar de as condições de comunicação não serem as mesmas de quando estão no Campo M´Poko, o comandante da força garante que, estejam onde estiverem, terão sempre forma de contatar os familiares no dia de Natal, nem que seja através de um simples telefonema ou mensagem.
FOTO DR
Quando estão em Bangui os portugueses participam também em várias missões de patrulhamento para manter a ordem numa cidade que é um autêntico barril de pólvora. Qualquer simples acidente no trânsito caótico pode servir de pretexto para o início de um conflito de maior escala entre grupos rivais, porque há anos que o país está mergulhado no caos.
Em outubro de 2013, o grupo muçulmano Seleka derrubou o governo, acusando-o de corrupção. O que se seguiu foram no entanto saques de cidades e aldeias, que levaram por sua vez à formação de milícias cristãs, conhecidas como “movimentos anti-Balaka”. Inicialmente proclamavam-se um grupo de defesa composto por cristãos. Mais tarde, a milícia caiu nas mãos de gangues de jovens armados.
Há agora pelo menos 14 grupos armados rebeldes ativos em todo o país. De acordo com a Human Rights Watch, só nos últimos três meses os confrontos entre os dois grupos étnicos fizeram 45 mortos, e cerca de 11 mil deslocados. No total, o número de pessoas deslocadas no país aumentou de 400 mil em janeiro para mais de 600 mil em agosto, segundo organizações não-governamentais. Os deslocados não são apenas cristãos, mas também milhares de muçulmanos, dependendo da religião dos grupos que dominam as diferentes partes do país.
A libertação da cidade de Bocaranga, e da localidade mais pequena de Bang, que ficou conhecida como a “Operação Damakongo”, foi louvada pelo comando das Nações Unidas, que em comunicado destacou mesmo a “iniciativa, liderança e profissionalismo” dos militares portugueses. Mas, mais ainda do que isso, ajudou a melhorar a imagem junto da população, que em muitos casos olha para os capacetes azuis como um invasor externo.
O tenente-coronel Alexandre Varino afirma que “a perceção das pessoas em relação à MINUSCA não é muito favorável, mas nós não sentimos essa animosidade quando fazemos patrulhamentos na cidade”. Sempre que a situação tática permite, procuramos fazer patrulhamentos apeados no meio das pessoas, para que possa haver contacto com a população, para que as pessoas nos reconheçam. Quando as pessoas reconhecem que somos portugueses, a postura é diferente. Quando andamos com os carros todos brancos é tudo igual, mas quando se apercebem que são os portugueses que estão a fazer a patrulha, a postura muda e não temos tido qualquer problema de animosidade.”
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Re: República Centro-Africana: Operação Sangaris
Quanto mais eu penso nessa missão, mais me assolam os ossos.
Aqui quase "tudo é improviso, vamos improvisar".
Merda de país do jeitinho.
abs.
Aqui quase "tudo é improviso, vamos improvisar".
Merda de país do jeitinho.
abs.
Carpe Diem