LeandroGCard escreveu:O consumo é muito grande (já agora, antes mesmo de qualquer descriminalização), não seria possível que os próprios consumidores dessem conta de sua demanda, como não é no caso do fumo. Afinal, plantar fumo é tão simples quanto plantar maconha, mas quantos fumantes você vê por aí cultivando seu próprio tabaco?
Estava estranhando ainda não teres colocado esta carta (Card, em Inglês, com o perdão do trocadilho
) na mesa. Bueno, tu e todo o DB sabem que sou fumante (Marlboro). O que NÃO SABEM é que um de meus primeiros empregos, aos 15 anos, foi na Souza Cruz, Escritório Geral da unidade de Santa Cruz do Sul, onde eu então residia com meus Pais. Assim, sei bem do que estou falando, tri?
Bueno, primeiro que não há comparação possível (ou ao menos justa) entre um fumante e um maconheiro: um fumante regular médio costuma fumar um cigarro a cada meia hora, alguns pouco mais, outros menos, o que deixa o consumo individual na faixa de um a dois maços de 20 cigarros cada por dia - considerando-se que seja uma pessoa normal, que dorme umas 8 a cada 24 hs. Bueno, um usuário recreativo de maconha, se for submetido a este "regime", uma
ganja do tamanho de um cigarro comum a cada meia hora, pouco mais, pouco menos, vai durar pouco. Muito pouco. Só viciado veterano aguentaria um único dia assim, e este já estaria usando drogas mais pesadas, pois a maconha, por mais forte que fosse, já não iria estar dando conta de suas necessidades. Meu ponto é: um usuário recreativo de maconha pode se aguentar com uma ou duas "plantinhas" porque isso vai satisfazer suas necessidades, bem menores quantitativamente que as de um fumante regular (cigarro).
E aí voltamos à Souza Cruz: tens ideia da quantidade de "plantinhas" de tabaco que seriam necessárias para se ter um suprimento de 20 a 40 cigarros por dia, todos os dias? Haja terra, eu vi como era em Santa Cruz do Sul, o tabaco era a base da agricultura familiar (bobear e é até hoje), toda propriedade tinha uns fornos grandões a lenha e feitos de tijolos, usavam para, após a colheita, secar o fumo. Depois disso tem mais um monte de processos, em grande parte automatizados e com máquinas caríssimas e enormes para que eu possa comprar o meu Marlboro. Pior, já viste anúncio de filtro avulso? Eu nunca. Máquina que enrola UM cigarro, cola e põe o dito filtro? Necas. Pior ainda, sabias que as safras de fumo já estão vendidas ainda antes de serem plantadas? Que as próprias sementes de tabaco são patenteadas pelas empresas e vendidas apenas aos "seus" produtores? Pois é, eu sei, uma de minhas funções era atualizar os arquivos da SC, que eram em papel (anos 70). Eu tinha acesso a cada nome, quantia paga, quantidade de fumo recebida, tipo de fumo (o que correspondia ao tipo de semente), subtipo (geralmente dependente de como foram as condições meteorológicas, tempo e consistência/correção de temperatura na secagem, qualidade do solo, etc), tudo! Pois é, um piá de 15 anos sabia um montão de segredos comerciais da principal unidade (no RS) de uma grande multinacional. Era assim naquele tempo, as pessoas não eram desconfiadas como hoje. E tinham razão, jamais me passou pela cabeça ir a uma das concorrentes e pedir uma grana em troca deste tipo de informação.
Isso posto, posso te garantir que fazer cigarro é caro e complicado como o inferno, já maconha não. Claro, existe fumo de corda (qualidade muito inferior) à venda no comércio, bem como fumo para cachimbo (forte feito um coice de cavalo e ainda por cima caro pra caramba) mas sempre vamos empacar na qualidade, pois maconha não precisa filtro nem máquina para fechar cilindro, cigarro sim. Ou seja, se é caro manter o vício (cigarro), muito mais o seria tentar fazer em casa. O maconheiro pode ter uma ou duas "plantinhas" num apartamento de 1 dorm e estar garantido a partir do surgimento das primeiras folhas, um fumante não (só se tiver uma propriedade rural, e mesmo assim, ficaria com problemas para arranjar sementes de alta qualidade e maquinário para produzir seu cigarro).
LeandroGCard escreveu:De qualquer forma, se o uso da maconha for liberado não faria sentido manter proibido o cultivo, e provavelmente se tornaria tão fácil comprar sementes ou mudas de canabis quanto hoje é comprar qualquer orquídea ou violeta.
Pelo acima exposto, se liberada para INDUSTRIALIZAÇÃO (estatal ou privada), acabaria tendo os mesmos problemas do cigarro, tipo semente vagabunda. Depois o pessoal ia se acostumar ao filtro, sabor, cheiro, substâncias extras ainda mais viciantes e fim, acaba a "plantinha", ninguém mais vai querer o troço rústico (vai ver quanto fumante usa palheiro: eu experimentei e quase cuspi os pulmões pra fora de tão ruim e forte).
LeandroGCard escreveu:Dá para imaginar as lages das favelas cobertas por pequenas florestas da planta. Provavelmente o tráfico tentaria tomar conta deste canal de produção, mas a produtividade não poderia competir com a dos produtores profissionais utilizando técnicas de cultivo modernas em grande escala (meu cunhado estaria particularmente bem posicionado para entrar neste mercado - ele é agrônomo e há anos tenta se manter com uma fazenda de uvas nas margens do rio São Francisco, com sucesso apenas moderado), e o preço de revenda desta maconha caseira certamente seria mais elevado do que o disponível nas farmácias e mercados. Só valeria à pena mesmo para consumo próprio.
Leandro G. Card
QED, está longe de ser tão simples. No que entrar o governo e/ou grandes multinacionais (que virão, o Brasil é um mercado grande demais para ficar na mão de Brasileiros), o cara da "plantinha" começa a entrar em extinção. Já o trafica de maconha vai fazer o mesmo que hoje, pegar cigarro (agora de cannabis) no Paraguai, onde o imposto é muito menor, e contrabandear para cá. E o da droga pesada vai continuar fazendo o que já faz, do mesmo jeito, nas mesmas quantidades e com a mesma violência e corrupção. Onde a economia e melhora na segurança? Acreditas mesmo que traficantezinho de maconha é quem anda por aí com AK, AR, FAL, etc? Quem pode comprar isso e pagar gente para usar não vive só de maconha não, cupincha...