Túlio escreveu:Cupincha véio, nossa principal diferença permanece a mesma: apesar de seres tu o Engenheiro e eu um mero diletante em assuntos navais, noto que defendes o mesmo que as múmias do Almirantado, uma espécie de jack for all trades but master of none. Simples assim.
Eu não defendo a mesma coisa que os almirantes, existem coisas em que eles insistem e que eu acho grandes bobagens, entre elas a tripulação grande demais (foi reduzida mas ainda será grande para o tipo e porte do navio), o sacrifício da velocidade (se queriam usar apenas Diesel usassem, mas então instalassem mais potência e uma transmissão que permitisse chegar pelo menos aos 29 nós que hoje são o padrão mínimo para navios de guerra mundo afora), ou a previsão de instalação apenas de mísseis da categoria do Exocet/MAN-1 colocados em um espaço estreito e muito alto, quando a tendência atual é de se empregar mísseis de porte bem maior.
Mas isso são detalhes. Algo que se mantivermos e aperfeiçoarmos nossa capacidade de desenvolvimento de projetos podemos corrigir na próxima classe ou mesmo nas próximas unidades da CV-3. Já se comprarmos agora um projeto fora estaremos nos condenando a repetir isso de novo e de novo no futuro, provavelmente para sempre. Neste caso melhor desistir de vez de qualquer indústria naval militar (exatamente o oposto do que os países sérios do planeta estão fazendo) e nos contentarmos apenas com compras de prateleira ou melhor ainda, de oportunidade, como faz o Chile.
O navio que apresentei é altamente especializado, como diz seu próprio nome, Combat Ship for the Littorals (CSL), ou seja uma belonave específica para águas marrons. Alguns comentários:
Sim, é praticamente uma lancha de patrulha super-desenvolvida, para missões de proteção do litoral basicamente contra ameaças de superfície, com boa capacidade de autodefesa e uma capacidade secundária de apoio a operações em terra.
Mas a MB não acredita em defesa do litoral (e não só a MB. Nenhuma de nossas forças armadas acredita nisso, a defesa de nosso litoral está nas mãos de Deus), e a capacidade de levar elementos de fuzileiros até a mim me parece inócua dado o alcance limitado no navio. Vamos desembarcar fuzileiros onde, na nossa própria costa?
O desenho em papel (ou computador) aceita tudo, mas veja que no próprio desenho nem toda a boca do navio é usada para o hangar. E nem deveria ser, um navio operando proximo ao litoral nem precisaria levar helicóptero algum, eles podeiam operar com mais conforto e eficiência de terra mesmo.
Para países pequenos com vizínhos próximos até pode-se pensar em usar uma embarcação assim, para projetar alguma capacidade militar em território inimigo, e no caso não seriam SeaHawks que ele estaria levando, mas BlackHawks mesmo, para o transporte das tropas, algo que parece mais natural em um navio deste tipo. Mas no caso do Brasil, com o Atlântico Sul bem em frente, isso é impensável. Então o navio estaria sempre operando próximo ao nosso próprio litoral, e helis embarcados seriam um luxo até dispensável (desde que, é claro, fossem tomadas medidas para se ter o apoio da aviação em terra, o que também não é o nosso caso... mas isso é uma outra discussão).
Quantos metros a mais de calado tem a Tamanduá? O CSL tem 3,90.
A CV-3 terá 4,3 m e boca bem mais estreita, um desenho de casco típico para cortar a água ao invés de deslizar sobre ela. Já este barco alemão é mais mais largo e mais raso, com a popa quase plana, feito mais para deslizar mesmo. Isso é que lhe permite chegar a esta velocidade tão elevada, mas pagando-se o preço de ser muito mais sensível às ondas. Não há o que fazer, são compromissos de projeto com formas de operação diferentes
Casco todo de aço pode não pegar fogo mas, se atingido com força, vira numa chuva de estilhaços incandescentes. E há
composites que incendeiam com muito menor facilidade do que alumínio. Aliás, para provocar o incêndio primeiro precisa ACERTAR, não? Casco em "X", composites, silhueta baixa, achas essa moleza toda de dar
lock? Lembres, nas Falklands os navios atingidos eram grandes, totalmente metálicos (aço + alumínio), sem maiores preocupações com formato e, portanto, um RCS detectável de longe, muito longe. A rigor, o navio já estava "travado" na mira antes mesmo de chegar ao alcance do AM-39. Com o CSL o problema é
travar! Vai ter que chegar bem mais perto e se expor à AAAe.
AAe de canhões? O alcance efetivo máximo disso mal chega a 5 km, dá para pegar o navio até no visual bem antes disso. É apenas a última camada de defesa, para usar contra mísseis que passarem por todas as outras..., mas só que neste caso não há outras. E esta história de invisibilidade ao radar só vale enquanto o navio não transmitir ou seja, radar em off. Aí como é que eles vão saber sequer para onde apontar os tais canhões? E ligou o radar virou farol, chama atenção de todo lado.
E por mais resistente que sejam às chamas, os plásticos no mínimo derretem muito mais facilmente com elas também, ou se tornam extremamente quebradiços (nem vou falar nos gases tóxicos e corrosivos). O aço tem muito maior tenacidade em uma faixa muito maior de temperaturas, e não libera gases nem ao derreter. Perceba que para navios o maior risco sempre foi o fogo, veja que todos os navios destruídos or mísseis Exocet por exemplo sobreviveram ao impacto em si, e foram perdidos para o incêndio subsequente. Usar uma camada de kevlar dentro da estrutura de aço como blindagem é uma coisa, mas construir a estrutura inteira de plástico reforçado é outra totalmente diferente. Ou você vê muitos tanques de guerra sendo construídos em FRP por aí?
A altura do mastro se torna pouco relevante em águas do AS, aqui o horizonte mal chega a uns 32 km. O AESA das imgs + Sea Ceptor (ainda escrevo sobre isso, outra oportunidade perdida, apenas
mais uma) ou mesmo Aster 15 (idem) bastam para segurar qualquer coisa que se aproxime o suficiente para dar
lock na belonave. Vantagens do pequeno RCS...
A altura do mastro é que define o horizonte radar, não as águas em que se navega
. Quanto mais alto, maior o alcance, uma questão de geometria básica. Mas o balanço do navio afeta bastante a eficiência do radar também, por isso capacidade militar dos navios de guerra decresce com o aumento do nível de encarpelamento do mar. E a forma do casco desta lancha alemã não é favorável à estabilidade, o que a preocupação em reduzir o peso da superestrutura comprova. Ela vai ser sempre uma plataforma de radar inferior à CV-3, a menos que seja desenvolvido um casco mais estreito e profundo que corte melhor as ondas como o desta. A MB não aprendeu isso da maneira fácil.
Criticas que o CSL não é uma Escolta. Bueno, depende do que se pretende escoltar, onde e contra quem. Nas duas Guerras Mundiais o Brasil sofreu ataques de submarinos contra navios de cabotagem, ou seja, costeiros, não em alto mar. Com uma belonave baseada no CLS, com seus dois Seahawks
hangaráveis (e convoo para helis até maiores) e a possibilidade de instalar sonar rebocado de profundidade variável, não seria fácil de repetir a façanha e sair dando risada, como fizeram os Alemães.
Mesmo para proteção à cabotagem se pedem navios com boa capacidade marinheira (o mar brasileiro pode ficar bem bravo bem perto da costa). E na absoluta falta de escoltas operacionais de maior capacidade, coisa que a MB não terá em futuro previsível (já os alemães tem 10 e planejam chegar a 11 ainda mais modernos - ao passo que nós mal sonhamos em conseguir os navios velhos que eles deixarão de usar), serão as CV-3 que terão que cumprir as missões mais distantes do litoral também, pelo menos por um bom tempo. E durma-se com isso (quem não gostou que vá reclamar como o Temer).
Então, seria muito lindo mesmo poder simplesmente abrir mão disso e desenvolver barquinhos de patrulha avançadíssimos e bonitinhos como esta lancha alemã, e deixar as missões de escolta e de longo curso para os navios maiores. Mas isso simplesmente não vai acontecer no Brasil, não somos a Alemanha e não temos nem teremos tão cedo estes escoltas maiores, então as CV-3 vão ter que se adequar nem que seja minimamente a esta função também. E neste caso elas se adequam melhor (ou pelo menos menos mal) do que esta proposta da Thyssenkrupp.
Aliás, sério que confiarias uma FT ou comboio a umas tranqueiras pequenas e limitadíssimas em alto mar como as Tamanduás? Porque "isso" que a MB inventou me lembra tanto o IA-2 (um FAL amaneirado em 5,56 mas que até hoje não disse a que veio) que nem te conto: uma Barroso com SAMs e alguma furtividade. Seriously???
As Inhaúma fizeram exatamente isso por décadas. Não da melhor forma possível, mas estavam lá. E tanto a Barroso quanto a CV-3 incorporam diversas melhorias justamente para deixá-las mais aptas a cumprir esta missão.
É o que dá para esperar no futuro previsível, com muita sorte.
Leandro véio, queres saber o nosso principal ponto de discordância? Simples, tu queres (ou melhor, pareces querer) manter as coisas como estão, remenda aqui, faz um puxadinho ali, compra um ferro véio de alguém e temos Esquadra. Já eu quero recomeçar, ou seja, considero esta aparente desgraça de "apagão de Escoltas" da próxima década não como DESGRAÇA mas como OPORTUNIDADE! Oportunidade de começar de novo, lá de baixo. Primeiro ter Patrulhas de todos os portes e capacidades em quantidade e com qualidade suficiente para dar plena cobertura ao nosso litoral e ZEE. Coberta esta base, começa a capacidade de combate e, do modo como preconizo, outra vez se começa de baixo, onde entra o conceito do CSL. A partir daí sim, se parte para capacidades maiores, como Fragatas, Destróieres e Cruzadores. Até lá os subs (SSKs) continuam por aí, prontos para incomodar quem vier se fresquear.
Nas buenas, não consigo entender como, na pindaíba em que estamos agora e que vamos estar na próxima década, tu demonstres crer que se a gente parte de uma Barroso Reloaded então não paramos mais, depois vem uma Niterói Reloaded e o céu é o limite. Não leves a mal mas eu achava que Engenheiros eram mais CÉTICOS.
Túlio, como eu já disse antes, também preferia ver a MB tentando ser mais moderna e atual, e pensando no futuro ao invés do passado. Mas temos uma preemência enorme de poder pelo menos cumprir com nossos compromissos atuais, por minimamente que seja. E isso inclui a capacidade de colocar escoltas d verdade longe de nosso próprio litoral. É muito vergonhoso para o país ter que deslocar OPV's para isso como tem sido feito.
A melhor opção hoje para isso é com as CV-3. Projetos estrangeiros custariam pelo menos tanto quanto (não acredite em milagres) e teriam menor adequação às necessidades da MB. A outra opção é comprarmos alguma velharia que alguém não quer mais usar, mas isso só iria nos colocar de volta onde estávamos 5 ou 7 anos atrás, uma situação nada confortável, e seria a pá de cal final em mais um setor tecnológico/industrial que um dia tivemos e que deixamos quase morrer por absoluta falta de previdência.
Mas se partirmos do princípio de que o programa das CV-3 vai se encerrar em si mesmo, sem continuidade posterior, então não precisamos é de marinha alguma, fecha tudo, transforma o que temos em guarda costeira (basicamente uma polícia naval mesmo) e esquece este negócio de defesa, que isso é pra quem sabe pelo menos identificar seus próprios interesses.
Quem prefere ficar jogando super-trunfo sentado na beira da sarjeta enquanto os adultos saem para trabalhar e produzir algo de realmente útil não mostra responsabilidade suficiente para ter o direito de brincar com armas de verdade.
Leandro G. Card