Bonito e bem equipado, modelo peca pela mecânica defasada na versão 2.0; 1.6 agrada
O ano de 2017 no mercado automotivo brasileiro começa do mesmo jeito que terminou 2016: com o lançamento de mais um SUV compacto! A bola da vez é o Renault Captur, mostrado no último Salão do Automóvel como aposta da marca para o efervescente segmento liderado por Honda HR-V e Jeep Renegade. Rodamos com as versões Intense 2.0 automática, que a Renault acredita que será a mais vendida num primeiro momento, e com a Zen 1.6 manual. Veja o que achamos.
O que é?
Apesar do nome Captur, o "nosso" SUV tem muito pouco a ver com o modelo homônimo europeu. Lá, ele usa plataforma do Clio IV, um carro compacto, e tem dimensões reduzidas. Em estudos, a Renault percebeu que teria de desenvolver algo diferente para outros mercados.
Assim, coube à engenharia brasileira criar o Captur "2", uma versão ampliada e mais robusta do modelo da Europa. Além do Brasil e América Latina, o projeto também já foi apresentado na Rússia e em breve chegará à Índia.
Do Captur europeu, o brasileiro só usa os faróis, portas dianteiras e tampa do porta-malas. Nem o capô é o mesmo, por conta da maior largura do carro daqui. Isso porque o Captur de cá usa a plataforma do Duster, uma solução para ampliar o espaço interno e o porta-malas. O modelo ficou cerca de 20 cm mais longo que o europeu, principalmente por conta do entreeixos (2,673 m) e balanço traseiro alongados. Medindo 4,329 m de comprimento, o Captur é (por pouco) o maior dos SUVs compactos à venda no Brasil.
Usar a base do Duster também reforçou o lado SUV do modelo, com amplos 212 mm de altura livre do solo e, segundo a Renault, os melhores ângulos de entrada e saída do segmento, com 23 e 31 graus, respectivamente. Ainda de acordo com a marca, o Captur também possui o ponto H (quadril do motorista) mais alto da categoria, com 708 mm. Também do Duster vieram o sistema de freios, o eixo traseiro de torção e a cremalheira da direção.
Na parte frontal, toda a suspensão e sub-chassi foram recriados, não só por conta das rodas aro 17" (o Duster usa no máximo 16"), mas também por questões de segurança. O Captur traz uma nova estrutura de deformação em impactos, além de aços de alta resistência em pontos estratégicos da carroceria. Outra preocupação foi com a aerodinâmica e o isolamento acústico, fazendo com que o Captur recebesse tratamento específico na parte inferior do assoalho, com coberturas e defletores para guiar o ar. No fim, somado à carroceria mais arredondada, o Captur ficou com coeficiente aerodinâmico (Cx) bem mais eficiente, de 0,37, contra 0,45 do Duster.
Embora aproveite o eixo traseiro do irmão mais velho, a suspensão recebeu uma calibração específica de molas e amortecedores, bem como um acerto próprio para a direção eletro-hidráulica. Sim, o Captur ainda usa um sistema de direção com bomba hidráulica, mas com um motor elétrico para tocá-la. Também nesta conta entrou o alternador pilotado, que só entra em funcionamento quando a bateria mais precisa, aliviando o trabalho do motor - solução já adotada por Duster e Oroch.
A herança do Duster trouxe também alguns inconvenientes, como a mecânica antiquada na versão Intense. Trata-se, basicamente, do motor 2.0 F4R com bloco de ferro e o câmbio automático de quatro marchas que são usados desde os tempos da... Scénic nacional. Daí você me pergunta: "Mas porque não usaram a caixa CVT do Fluence?". Simples: o motor 2.0 do Fluence é outro, de origem Nissan, o mesmo do Sentra. Na versão Zen, o motor do Captur é o novo 1.6 SCe ligado ao câmbio de 5 marchas, agora com sistema de acionamento por cabos em vez do antigo varão (mudança feita também na linha Logan/Sandero).
Como anda?
À primeira vista, o Captur se destaca pelo estilo. Ele traz finalmente para a gama brasileira as últimas tendências de estilo dos Renault da Europa - essa dianteira, inclusive, vai inspirar a versão reestilizada do Captur europeu, que será apresentada em março no Salão de Genebra. Charme maior do modelo, a pintura "biton" é um opcional de R$ 1.400 que deixa o teto em cor diferente da carroceria. O vão livre do solo parece um pouco exagerado, mas o aumento no comprimento não interferiu na harmonia das linhas. E veio até com uma vantagem: como a janela espia lateral é maior, a visibilidade para trás foi beneficiada. As rodas, sempre de aro 17", também possuem desenho interessante, especialmente na versão Intense.
Ao abrir as portas, porém, o Captur gera um misto de sensações. O painel tem desenho bonito e com melhor ergonomia que o do Duster, com a central multimídia e os comandos do ar-condicionado em posição elevada, bem à mão. Os bancos também são bacanas, bem grandes e cômodos. O porém fica por conta do acabamento: é muito plástico rígido para um carro que pode superar os R$ 90 mil, incluindo painel, console central e portas. Não há sequer um tecidinho nas portas traseiras, enquanto a tampa do porta-objetos no alto do painel dá impressão de fragilidade. Por fim, o revestimento do teto também não condiz com a imagem que a Renault quer vender do Captur.
A posição de dirigir é boa, sem aquela impressão de "caminhão", apesar da altura elevada. Gostei do quadro de instrumentos, com layout moderno, que mescla instrumentos analógicos com o velocímetro digital bem no centro. Mas, quando vou ajustar a direção, "bum": o volante despenca no colo - e não ajusta em profundidade. É o tipo de coisa que você releva num Sandero, mas que no Captur não deveria acontecer.
Em termos de espaço, o Captur lembra muito o Duster, o que é bom, mas seus bancos espessos roubam alguns centímetros das pernas de quem viaja atrás. No porta-malas, o acabamento das laterais em plástico melhora a qualidade percebida, mas tira alguns litros de capacidade. Ainda assim, o Captur conta com bons 437 litros de porta-malas, empatando com o Honda HR-V na liderança do segmento neste aspecto.
Dirigimos primeiro a versão Intense 2.0. Por mais que o visual interno seja diferente, a sensação é de se estar num Duster com bancos e suspensão melhores. O Captur tem rodar mais firme que o do irmão mais velho, no que contribuem as rodas aro 17" com pneus 215/60, mas sem ser "pula-pula" nos buracos. Também é nítido o melhor isolamento acústico do modelo, tanto em termos de ruídos de vento quanto de incômodos provenientes do piso. Mas a direção é um tanto pesada em baixas velocidades se comparada aos sistemas elétricos dos rivais.
Dinamicamente, o Captur fica mais à vontade que o Duster na estrada e nas curvas, com um pouco menos de rolagem da carroceria, que também é mais rígida. Os freios parecem bem dimensionados, mesmo com tambores na traseira. A direção ganha peso acertado em velocidade, mas peca por dar um tranco nas mãos quando o carro pega uma ondulação no asfalto na curva - exatamente como acontece no Duster.
Outro ponto que remete ao Duster é o desempenho apenas mediano. O motor 2.0 rende 148 cv e 20,9 kgfm de torque com etanol, números até razoáveis, mas ele demora para subir de giro e o câmbio automático de quatro marchas não ajuda. As passagens de marcha são suaves, mas, mesmo na cidade, é perceptível o grande degrau que há entre as relações, com acentuada queda de giros do motor nas trocas. Assim, o Captur não ganha velocidade como um Creta 2.0 ou mesmo como um HR-V 1.8, assim como não demonstra a mesma vivacidade dos rivais nas ultrapassagens. A Renault fala em aceleração de 0 a 100 km/h em 11,1 segundos, o que vamos verificar em breve num teste completo.
O consumo também sai prejudicado com esse conjunto mecânico: o Inmetro indica 6,2 km/l na cidade e 7,3 km/l na estrada, com etanol, passando a 8,8 km/l e 10,8 km/l, respectivamente, com gasolina. Durante nossa avaliação, que mesclou circuito urbano e rodoviário, nossa média com gasolina ficou em 8,3 km/l.
Quanto custa?
Antes da estreia do Captur, havia expectativa de como a marca ira posicionar o Duster para não gerar conflito interno. Pois bem: a Renault disse que cerca de 80% das vendas do Duster são da versão 1.6 manual, com preço ao redor dos R$ 67 mil. Ou seja, ele continua como a opção de "primeiro SUV". Já as versões mais caras serão destinadas mais para vendas diretas, pois acabam esbarrando no Captur.
Renault Captur 2018 BR Renault Captur 2018 BR
Por quase R$ 80 mil, o Captur de "entrada" vem com itens interessantes, como controle de estabilidade, quatro airbags e chave presencial do tipo cartão, além dos LEDs nos faróis para condução diurna. Veja a lista completa de equipamentos e preços abaixo:
Captur Zen 1.6 SCe (R$ 78.900): quatro airbags (dianteiros e laterais), controle eletrônico de estabilidade (ESP), controle eletrônico de tração (ASR), assistente de partida em rampas (HSA), freios com ABS, ISOFIX, direção eletro-hidráulica, volante com regulagem da altura, ar-condicionado, rodas de aro 17" de liga leve, vidros elétricos, alarme perimétrico, chave-cartão hands free, comando de áudio e celular na coluna de direção (comando satélite), assento do condutor com regulagem de altura, sistema CAR (travamento automático das portas a 6 km/h), luzes diurnas em LED, retrovisores rebatíveis, piloto automático com indicador e limitador de velocidade. Opcionais: Media Nav + Câmera de Ré (R$ 1.990); pintura em dois tons (R$ 1.400).
Captur Intense 2.0 automático (R$ 88.490): adiciona rodas de aro 17" de liga leve diamantadas, apoio de braço, Media Nav 7” touchscreen, câmera de ré, ar-condicionado automático, sensor de chuva, farol de neblina com função Cornering Light, sensor crepuscular. Opcionais: bancos em couro (R$ 1.500) e pintura em dois tons (R$ 1.400).
Olhando para o segmento em geral, os preços do Captur estão, digamos, na média (inflacionada) dos SUVs compactos. Pelo menos a versão mais cara ainda fica a uma boa distância dos R$ 100 mil, que o Creta 2.0 atinge e o HR-V EXL ultrapassa. Mas, pelo que sentimos nesta primeira avaliação, o Captur mais interessante ainda está por vir. É o 1.6 com câmbio automático CVT da mesma família do usado no "primo" Nissan Kicks. Pelo que apuramos, a novidade chegará em cerca de três meses e estará disponível tanto no acabamento Zen quanto no Intense.
Texto e fotos: Daniel Messeder
http://br.motor1.com/reviews/136185/vol ... do-duster/