Dominação alemã está a alimentar “ressentimentos e subida da extrema-direita” na Europa
13.07.2016 às 11h01
O filósofo e sociólogo alemão, Jürgen Habeemas falará sobre "Democracia na Europa"
AFP/Getty Images
Em entrevista ao jornal “Die Zeit”, o filósofo alemão Jürgen Habermas diz que o populismo e quase fascismo vão continuar a subir “se não se aprofundar a cooperação” e o equilíbrio de poder entre os Estados-membros da União Europeia
Joana Azevedo Viana
Joana Azevedo Viana
Um dos mais respeitados intelectuais da nossa era, o filósofo e professor de sociologia alemão Jürgen Habermas, considera que o populismo e a extrema-direita em subida na União Europeia só vão continuar a crescer se não houver um "aprofundar da cooperação" entre os Estados-membros do bloco regional.
Em entrevista ao "Die Zeit", Habermas aponta o dedo à hegemonia da Alemanha e à sua atitude de dominação no seio da UE como um dos fatores que mais têm contribuído para a subida quer da extrema-direita quer de partidos populistas em vários países europeus, desde a Suécia, Itália, França, Dinamarca, Reino Unido e Grécia.
"A Alemanha é um dominador insensível e incapaz, ainda que relutante, que tanto usa como ignora o perturbado equilíbrio de poder europeu", defende o filósofo. "Isto provoca ressentimentos, especialmente nos países da zona euro" como Portugal, que esta semana voltou a estar na mira do poderoso ministro alemão das Finanças Wolfgang Schäuble, que quer mais sanções a Lisboa.
Para o pensador e sociólogo alemão, o Brexit saiu vitorioso do referendo britânico de junho sustentado por "questões de identidade", que foram alimentadas pela sensação de que o Reino Unido já não é uma grande potência. Mas ao contrário do que figuras populistas, como a líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen, ditaram no rescaldo dessa consulta, de que os britânicos assinaram "o início do fim da UE", nem esta consulta nem a hegemonia alemã ou qualquer outro fator devem levar o bloco a perder a confiança.
"Só uma Europa nuclear que funcione apropriadamente pode convencer as populações atualmente polarizadas de todos os Estados-membros de que o projeto europeu faz sentido", defende o autor de "O Discurso Filosófico da Modernidade". Para Habermas, esta "Europa nuclear" está atualmente nas mãos da Alemanha e de França, mas deve incluir mais e mais Estados-membros, criando relações "aprofundadas e equilibradas" entre os países europeus.
"Enquanto esta estrutura antidemocrática e cheia de falhas não se libertar, não se pode estranhar estas campanhas antieuropeias", como as que Le Pen ou Nigel Farage lideram. "A única forma de obter uma Europa democrática é através de uma aprofundada cooperação da Europa."
A 23 de junho, mais de metade dos cerca de 72% dos eleitores britânicos que foram às urnas votaram a favor da saída da União Europeia. Os 48% que votaram a favor da permanência do Reino Unido no bloco foram sobretudo os mais jovens, de centros urbanos e com mais qualificações, contra 52% concentrados sobretudo em zonas rurais de Inglaterra e do País de Gales, que têm menos habilitações literárias e menos contacto com o multiculturalismo.
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