LeandroGCard escreveu:O problema é que realmente não dá para apontar para algo real em termos de ameaça que justifique gastos com defesa, e isso talvez hoje mais do que nunca. Somos grandes demais para que qualquer vizinho venha se engraçar conosco, e distantes e irrelevantes demais para que países estrangeiros sequer se lembrem de nos ameaçar militarmente.
Por isso há muito tempo eu defendo um outro enfoque diferente, a defesa como parte de nossos esforços no desenvolvimento da P&D e da indústria nacional, e consequentemente de nossos crescimento econômico. Mas ninguém concorda com isso também, o negócio é nos comparar com nossos vizinhos e com outros países, tipo super-trunfo, então esta história que está aí vai continuar, até onde consigo ver, para sempre.
Toda a culpa costuma ser jogada nos ombros do governo civil de plantão e ninguém lembra de chamar à responsabilidade as cúpulas que controlam as Forças Armadas brasileiras. Mais uma vez elas deixaram passar um período de bonança que poderia ter sido utilizado para dedicarem-se ao que realmente importava: reorganizar internamente as forças. Profissionalização, eficiência, redução de efetivos, redução de oficiais generais. Um planejamento de defesa realista. Vejam o que o almirante Othon e o almirante Mario Cesar Flores defendiam, desde a década de 1990: se a Marinha não tem condições de ser forte em todos os setores, escolhesse um setor que fosse mais útil ao desenvolvimento de uma capacitação crível de defesa da nação no mar. Eles acreditavam que este equivalia a posse de uma força de submarinos nucleares de ataque. E a posse deles contribuiria com o "(...) desenvolvimento da P&D e da indústria nacional, e consequentemente de nossos crescimento econômico" como foi bem dito por LeandroG.Card.
E o que a Marinha tem feito nos últimos anos? Sonhado com porta-aviões e fuzileiros navais. Atualmente, o Brasil dispõe de três batalhões de fuzileiros navais na Divisão Anfíbia e mais um batalhão na Amazônia, para operações ribeirinhas. E quantos batalhões de fuzileiros a esquadra tem condições de lançar numa praia hostil? Pois bem, o comando da Marinha andava sonhando com a criação de uma segunda Divisão Anfíbia com dois batalhões no Nordeste (junto com a tal "2ª Esquadra"); mais dois batalhões ribeirinhos (Belém e Ladário). Ou seja, no total a Marinha ficaria com oito batalhões de fuzileiros navais. Ora, isso praticamente equivale a uma divisão de fuzileiros navais americanos da Segunda Guerra Mundial (nove batalhões). E nem menciono as unidades especializadas (tanques, CLANFs, carros blindados, artilharia etc e tal). E quando se faz uma crítica a tais pretensões a resposta é inequívoca: "a extensão territorial do Brasil exige que tenhamos muitos fuzileiros navais", como se estes fossem uma força de defesa territorial, o que não são. Fuzileiros navais são uma dispendiosa força de ataque especializada e utilizá-los de qualquer outra forma é desperdício. Quanto à Amazônia e Pantanal, um bom batalhão de infantaria do Exército, profissional, faria qualquer coisa que esses pretendidos batalhões de fuzileiros navais possam fazer.
Outros já perceberam esta megalomania da Marinha. Quando era presidente, o general Geisel discutiu com um almirante e falou:
- Vocês da Marinha não querem mais saber de navio! Vocês só querem saber de avião e fuzileiro naval!