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Mensagem
por LeandroGCard » Qua Fev 10, 2016 9:04 pm
O Túlio não está de todo errado nesta questão da relação do homem com a coletividade, e ao contrário do que imaginavam (e alguns ainda imaginam) os marxistas, isso não é devido à circunstâncias históricas, mas está entranhado profundamente na natureza humana. E hoje já se sabe o porquê, é porque o homem NÃO É UM ANIMAL SOCIAL, por mais que ainda se ensine isso nas escolas. Os estudos de etologia já deixaram claro que os animais podem ser classificados em 4 grandes categorias, as quais seriam:
– Independentes: Vivem de forma independente com relação a outros indivíduos da espécie, relacionando-se apenas com os parceiros sexuais à época da reprodução e eventualmente com a cria durante o desenvolvimento desta. Exemplos: Tubarões, tigres, certas aves de rapina, raposas e algumas outras espécies de canídeos e etc… .
– Gregários: Tendem a se agrupar sempre ou frequentemente com outros membros da mesma espécie, por vezes formando grandes grupos. Contudo, não há interação direta entre os membros do grupo em nenhuma atividade, a proximidade sendo controlada apenas por tropismos. Os grupos são amorfos, desprovidos de qualquer estrutura hierárquica. Exemplos: Sardinhas, andorinhas, borboletas monarca e etc… .
– Sociais: Vivem em grupos altamente hierarquizados, com forte interação entre os membros e distinta divisão de tarefas. NÃO EXISTEM CONFLITOS entre os membros do grupo, cada um cumprindo seu papel de acordo com regras bem específicas definidas por controles biológicos (polimorfismo, feromônios, etc…) ou tendências de temperamento. As atividades de reprodução são assumidas por poucos membros ou geralmente um único casal (em muitos casos só a fêmea, uma vez que o macho tem vida efêmera) de forma que na prática estas sociedades se constituem em verdadeiras famílias onde todos são pais e/ou irmãos (no máximo primos) uns dos outros. Exemplos: Abelhas, formigas, cupins, lobos e alguns outros canídeos, ratos-toupeira pelados, camarões-pistola sociais. O ser humano NÃO FAZ PARTE DESTA CATEGORIA.
– Comunitários: São animais que vivem em bandos com diferentes níveis de organização, interagindo com frequência e em muitos casos dividindo tarefas, mas COM A OCORRÊNCIA DE CONFLITOS dentro do grupo em disputa de posições hierárquicas e privilégios alimentares, reprodutivos ou de outros tipos (o que se pode chamar de comportamento competitivo hierarquizante). A reprodução é disseminada entre os membros do grupo, não existindo indivíduos que abdiquem da própria reprodução se houver oportunidade para tal (o que contudo muitas vezes é negado através de disputas violentas, geralmente entre os machos). A posição de cada membro no grupo é definida basicamente por suas relações “pessoais” com os demais membros, e pode ou não ser influenciada pela força física de cada indivíduo ou seu desempenho em tarefas como a obtenção de alimentos e a identificação de ameaças. Mas por vezes é bastante difícil identificar exatamente quais características definem as relações entre os membros do grupo, e assim suas respectivas posições hierárquicas. Em muitos casos questões sutis como “simpatias pessoais” parecem desempenhar papel dominante. Em outros casos foram identificadas influências simbólicas totalmente abstratas (como a cor de anéis de identificação colocados nos animais). Exemplos: Corvos, galinhas, suricatos, marmotas, cavalos, macacos e etc… . É A ESTA CATEGORIA QUE O SER HUMANO PERTENCE.
Ou seja, a competitividade intraespecífica (dentro da mesma espécie e grupo) humana é sim uma manifestação natural, sendo na verdade uma característica inata de diversas outras espécies que como nós se caracterizam pelo comportamento comunitário e não pelo comportamento social. Isso também acontece com uma miríade de outras espécies de vários níveis evolutivos, sendo inclusive mais comum em espécies da base do que do topo da cadeia ecológica como éramos na nossa origem lá atrás, nos tempos de nossos ancestrais australopitecos.
Mas, dito isso, o Bolovo e o Marechal também estão certos. O homem também não é um animal independente e nem apenas gregário, é comunitário, e os instintos de cooperação e de aceitação dos valores do grupo como mais importantes que os individuais, pelo próprio bem, também fazem parte de nossa natureza. Sentimentos como empatia, amizade e compreensão do certo e do errado nos caracterizam tanto quanto o egoísmo e as tendências competitivas. E afinal, o que nos torna humanos é justamente a capacidade de transcender nossas tendências inatas, originadas em nossa natureza animal, e usar nossa inteligência para construir organizações sociais cada vez mais sofisticadas que permitiram que hoje milhões de pessoas em cada país, totalmente distintas e em princípio independentes, achem correto e justo que todos sigam as mesmas leis e regras, pelo bem de cada um, mesmo que individualmente tenham outros interesses. E quem viola estas regras é considerado um CRIMINOSO e FORA DA LEI, tratado como ameaça e, nas sociedades desenvolvidas, isolados do convívio social (ou até mesmo "eutanasiados").
Ou seja, a tendência ao comportamento egoísta existe, mas isso não deve ser tomado como regra e justificar uma sociedade disfuncional que causa prejuízos desnecessários à maior parte de seus membros em beneficio de uns poucos que por qualquer motivo (na maioria absoluta das vezes pelo simples direito de herança) se tornaram privilegiados. As leis devem ser elaboradas justamente para impedir isso. E é isso o que já está acontecendo em sociedades desenvolvidas, sem a necessidade de revoluções ou imposições pela força. Países como Brasil e até mesmo os EUA não devem ser tomados como exemplos, da mesma forma que não a Rússia socialista ou a China de Mao.
Existem soluções melhores já sendo aplicadas por aí há tempo suficiente para se saber que sim, funcionam, e a tendência é que o avanço tecnológico torne estas soluções cada vez mais eficientes e disseminadas como disse o Marechal. Não deve ser um caminho fácil e certo, pois os privilegiados também não tem o menor escrúpulo em usar de todos os meios, inclusive a força, para manter suas posições (é só pesquisar como agiam e ainda gostariam de agir os "anti-esquerdistas" de todos os países - lembram porque o dia da mulher é comemorado em sua data específica?). Mas acredito que com tempo suficiente este deverá ser o caminho seguido por toda a humanidade, não porque haverá revoltas e imposição de nada pela força, mas simplesmente porque as sociedades que se basearem no individualismo e no egoísmo acabarão por destruírem a si mesmas, em um processo de seleção natural, por mais que hoje algumas delas sejam as mais poderosas do mundo.
Leandro G. Card