JL escreveu:No Brasil constroem unidades de saúde, que são inauguradas e tem grandes placas para todos verem que é uma unidade de saúde, os políticos discursam e tudo. Mas na prática, falta médicos, falta equipamentos para exames, falta remédios e falta até insumos básicos. Mas a unidade de saúde existe.
Eu já estive umas duas vezes no São Paulo, posso dizer que o navio é de uma imponência a toda a prova, lindo, passa uma aparência de poder absoluta. Mas é um navio antigo, muito complexo e muito grande. Do jeito que esta ele é semelhante a unidade de saúde que eu citei.
Então começam as críticas, baseadas nas constatações da realidade.
Aí eu pergunto que produz o complexo de vira-lata o sujeito que frequenta a clínica de saúde pública e se depara com o engodo político ou o indivíduo que construiu e mantem a clínica inoperante.
Da mesma forma que tem complexo de vira-lata, o crítico que aponta a verdade sobre o São Paulo ou quem mantem uma esquadra de porto, de papel, ou como queiram chamar.
Vocês brincam mas já teve um vice-almirante que teve a mesma idéia, muitos anos atrás...Wingate escreveu:Túlio escreveu:Sempre que vejo post neste tópico eu invariavelmente abro pensando em ler algo do tipo
LIBERADO O JOGO NO BRASIL (*)
[img]PORTA-AVIÕES%20SÃO%20PAULO,%20RECENTEMENTE%20DESATIVADO,%20SERÁ%20O%20NOSSO%20PRIMEIRO%20HOTEL-CASSINO[/img]
(*) Engraçado isso de o jogo ser proibido no Brasil: se estou em casa, volta e meia tem criança batendo palma na frente querendo me vender rifa ou algum outro tipo de jogo, supostamente beneficente; se vou ao bolicho, tem jogo do bicho; se vou ao centro passo por um monte de agências lotéricas. Até meu banco e operadoras de cartões de crédito oferecem planos de capitalização com $orteio$ semanais, ou seja, jogo! Que diabos de proibição é essa?E com pista de dança para os frequentadores...PORTA-AVIÕES SÃO PAULO, RECENTEMENTE DESATIVADO, SERÁ O NOSSO PRIMEIRO HOTEL-CASSINO
Wingate
MINAS GERAIS, O "SUPER-CANECÃO" NAVAL.
Othon Luiz Pinheiro da Silva - JORNAL DO BRASIL, 23 de abril de 1997.
Em janeiro passado, no período de decolagem do carnaval, a pretexto de promover o Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2004, o Ministério da Marinha cedeu, sem licitação, o navio-aeródromo Minas Gerais para um evento mercadológico promovido por conhecido fabricante de sandálias.
O show, com vários artistas, teve grande destaque nas colunas sociais e fofocas da mídia e, segundo os entendidos, "jamais houve tanto avião naquele navio". Presentes à festa, entre outras figuras do jet-set nacional, estavam a viuvinha do Brasil, Maria Teresa Collor, usando peruca colorida e a dublê de policial e mulher-show Marinara, de cuja total intimidade muitos brasileiros já desfrutaram visualmente após sua triunfante aparição na revista Playboy, e que teve seu belo trem de aterrissagem (uma perna) atingido por uma bala em infeliz e etílico acidente.
O nosso quase sexagenário navio-aeródromo, talvez tenha tido então um de seus maiores momentos de glória e serventia em águas brasileiras, pois, desde sua aquisição, a trajetória do Minas Gerais em nossa Marinha só não foi cômica porque significou um rosário de gastos e inutilidades. Entretanto, como "Deus é brasileiro" e o destino muitas vezes escreve certo por linhas tortas, essa festança pode ser aproveitada para nos levar à reflexão e ajudar a corrigir os rumos da Marinha, que no passado nos legou as mais honrosas tradições.
Os recursos empregados nesse navio, somados aos ainda planejados, se utilizados em programas nacionais de pesquisa e desenvolvimento de interesse da própria Marinha (conduzidos adequadamente e com participação de nossa comunidade científica e tecnológica), nos assegurariam um patamar tecnológico que se difundiria pela sociedade, aumentando nossa competitividade e respeito nas relações internacionais.
Ultimamente, além da rotina de permanecer atracado no Arsenal de Marinha, o referido navio tem sido usado em arremedo de operação militar conjunta com a Marinha argentina, em um verdadeiro show terceiro-mundista, onde, uma Marinha com um velho "porta-aviões" que ainda navega mas não possui aviões, colabora com outra que possui aviões sem contudo ter "porta-aviões" que navegue.
A existência de um navio-aeródromo na Marinha brasileira, mesmo sem os defeitos e limitações do quase sexagenário Minas, não resiste a uma análise lógica, isenta de corporativismo e à luz de nossas reais necessidades.
Em linhas gerais, as forças navais das marinhas tem as seguintes características:
Força naval de dissuasão pela capacidade de destruição em massa.
Nascida nos tempos de guerra fria, é constituída principalmente por submarinos estratégicos com propulsão nuclear e mísseis de longo alcance dotados de ogivas nucleares. Esse tipo de força naval não se coaduna com a índole e com o texto constitucional brasileiro.
Força naval com capacidade de projeção de poder.
HIstoricamente utilizada pelas nações poderosas com apetite geopolítico, para facilitar realização de intervenções em regiões consideradas estrategicamente importantes.
A partir da Segunda Guerra Mundial, conta com navios-aeródromos que são na realidade bases aéreas móveis operando em águas internacionais, próximas às regiões passíveis de intervenção ou bloqueio naval. Essa força é de custos muito elevados, pois, além dos navios-aeródromos e da aviação embarcada (caríssima ou inócua, pois necessariamente deve assegurar supremacia aérea no teatro de operações), deve ser adicionado o elevado custo do conjunto de navios coadjuvantes, que são os cruzadores, fragatas e corvetas.
O advento dos satélites e o sensoreamento remoto eliminaram a surpresa, tornando-a força típica de intervenção a ser utilizada por uma nação poderosa contra outra tecnológica e militarmente mais fraca.
Se considerarmos a vontade da sociedade brasileira expressa na Constituição e o fato de que um eventual gesto impensado de projeção de poder por parte do Brasil poderia levar a fortes sanções da comunidade internacional, conclui-se que adquirir ou manter navios para semelhante tipo de força representa dispêndio desnecessário.
Força naval para defesa e para negar o domínio do mar pelo oponente.
Em época de satélites, para ter real expressão militar no mar, é necessário ser invisível ou "invencível". Essa força deve então ser composta por submarinos de caça. Em se tratando de águas restritas, esses submarinos podem ser de propulsão convencional. No Brasil, devido ao litoral muito extenso e pouco entrecortado, é recomendável a adoção de submarinos de caça com propulsão nuclear, em virtude de sua maior mobilidade. Esse tipo de submarino utiliza armamento convencional, e, segundo os tratados internacionais, não é considerado arma nuclear. Apesar dessa interpretação, o desenvolvimento do submarino de caça com propulsão nuclear sofre grandes restrições pela nação hegemônica no cenário mundial.
Patrulha costeira.
Parece não haver dúvidas sobre a necessidade de um bom sistema de patrulha costeira, devidademente articulado com aviação de patrulha baseada em terra e polícias federal e estaduais.
Historicamente, essa atividade tem tido baixa prioridade. Somente após o início do recebimento de royalties do petróleo, a ela especificamente destinados, alguns barcos-patrulha foram construídos. Tornou-se necessário comprar na Inglaterra o projeto para esse tipo simples de embarcação, evidenciando o descaso com a tecnologia naval e com a patrulha costeira.
Na definição do tipo de Marinha que precisamos para o Brasil, devemos inicialmente priorizar a implantação eficiente e confiável sistema de patrulha costeira e apoio às atividades de navegação. A seguir, tirar do servil marasmo a que foi condenado o programa de desenvolvimento do submarino de caça com propulsão nuclear ou assumir que não precisamos de defesa contra ameaça ou intimidação externa.
A lógica nos indica que devemos eliminar os gastos inúteis com navios de superfície de médio e grande portes, cuja finalidade seria projetar ou coadjuvar forças de projeção de poder ou brincar de marinha de guerra.
Eliminando o desnecessário, poderíamos proceder um enxugamento e reengenharia na estrutura de cargos, aprendendo com os navios ou seja, eliminando pesos altos desnecessários.
Ultimamente, os gastos têm sido concentrados no navio-aeródromo e em fragatas e corvetas, navios que na realidade são praticamente inúteis. No governo Itamar, após uma visita do ministro da Marinha à empresa Esca, em agosto de 1993, a ela foi concedido com dispensa de licitação, um contrato de cerca de US$ 60 milhões, dando início a um programa de modificação das fragatas da classe Niterói construídas na década de 70. Esse programa atingrá mais de US$ 800 milhões ao ser completado.
Depois de uma visita do mesmo ministro Ivan Serpa à Inglaterra, foi realizada a compra, sem licitação formal de quatro fragatas a serem entregues ao Brasil no final de sua vida útil na Marinha inglesa. Gastamos mais de US$ 200 milhões para esses navios velhos terem uma sobrevida inútil em nossa Marinha.
O sucesso da festança no Minas Gerais nos sugere mudar de rumo, aproveitar o velho navio-aeródromo para casa de espetáculos, como uma alternativa ao Canecão e ao Metropolitan. Essa privatização acarretaria grande economia, evitando inclusive os gastos com a compra de aviões para reequipá-lo. Como a economia seria o principal resultado para os cofres públicos, ao empresário que aceitasse tal empreitada poderia ser exigido apenas que o casco fosse conservado evitando que soçobrasse e, ao final de sua vida útil como casa de espetáculos, pagasse o preço da sucata ou o devolvesse para ser vendido como tal. Além disso, poderíamos ceder uma das quatro fragatas adquiridas, para que atracada próximo a esse "Super-Canecão", servissse de alerta contra compras sábias e apressadas desssa natureza.
O autor desse artigo ao propor essa idéia exdrúxula visa suscitar o debate a procura da definição do tipo de Marinha que precisamos e, no futuro, evitar gastos desnecessários.
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Othon Luiz Pinheiro da Silva é vice-almirante engenheiro naval (RRm).