Túlio escreveu:Curiosa afirmação, não tenho como endossá-la. Poderias explicar melhor isso? Afinal, se não podemos operar sequer Gripen, vamos poder operar o quê? Super Tucano Fighter?
De resto, programas estão parados mas, ao menos que eu saiba, o do Gripen não está, SMJ...
Hoje o que temos realmente operando é isso mesmo, ST para patrulhar a Amazônia e olhe lá. Ou você acha que nosso punhado de F-5 com 50 anos de idade ou nossos poucos AMX sem radar tem condições de operar por lá e fazer qualquer coisa de útil? Qualquer um que queira sobrevoar o nosso território por lá não tem que se preocupar com mais nada, e para aviões maiores do que teco-tecos aquilo é uma terra de ninguém.
E o Gripen NG ainda sequer é um protótipo, ainda não chegou nem mesmo ao nível do KC-390, o qual já foi postergado...
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Se te referes à Defesa de Ponto, concordo. Passou das 10 nm, no entanto, já precisa sensor a bordo do Msl e um controle de fogo muito mais sofisticado. Se chegarmos ao topo, ou seja, algo do nível do S-300/400 ou Aster 30, já estaremos falando em custos de desenvolvimento e fabricação similares aos dos caças. Ficando apenas com o Aster (por ter mais dados disponíveis), quanto tempo e $$$ precisaremos para desenvolver praticamente do zero algo assim?
Túlio, aqui você comete um engano técnico grave. Você está partindo do princípio de que se quisermos mísseis de maior alcance eficientes estes terão necessariamente que ter as mesmas características dos mais famosos que já existem, e isso não é verdade.
Até 40-50 Km de distância pode-se perfeitamente utilizar orientação inercial ou por rádio e SARH terminal (apenas nos últimos poucos segundos de vôo), como faz o ESSM. De preferência com capacidade Home-on-JAM. Adotando uma célula maior e uma ogiva moderna teríamos já algo na categoria de um BUK, que está muito, mas muito além mesmo da defesa de ponto. Não precisamos começar nada disto do zero, o motor poderia ser um derivado dos empregados nos últimos foguetes guiados em desenvolvimento para o Astros, os sistemas gerais de navegação seriam até mais simples do que se está preparando para o AVMT e a aerodinâmica e a base do sensor de bordo seriam muito próximas do que já se usa no MAR-1.
Para alcances maiores (digamos 200-300 Km) a navegação inercial com um datalink para atualização de curso já permitiriam colocar o míssil próximo o suficiente do alvo para que ele pudesse empregar o mesmo sensor IR do MAA-1B ou mesmo o IIR do A-Darter (que aliás já possui a necessária capacidade LOAL). Neste caso é claro que o motor seria ainda maior e teria que ser desenvolvido do zero, mas quantos motores-foguete já desenvolvemos para quantos programas de mísseis e foguetes de sondagem, com portes variando de poucas dezenas de Kg até algumas toneladas de peso? Porque desenvolver mais um seria assim tão difícil? Mais à frente inclusive a promessa dos motores-foguete híbridos (já pesquisados há anos na UnB por exemplo) permitiriam o desenvolvimento de sistemas de propulsão até mais baratos e seguros que os atuais para estes mísseis de maior alcance.
E em paralelo a tudo isso também poderíamos desenvolver rapidamente uma versão equipada com booster do MAA-1B, com alcance na faixa dos 30-40 Km. Menos eficiente que um projeto dedicado, porém mas rápida de desenvolver e muito útil para ações de "emboscada" exatamente como a que derrubou o F-16 na Síria.
Ou seja, JÁ ESTAMOS bem além de "começar do zero".
The seeker is laid on the target using data transmitted via the ground to missile uplink. Once seeker lock-on has been conformed the missile operates autonomously. The modifications to the seeker include higher closing velocity capability, an adjustment to the duty cycle to increase the transmitted power, an additional high resolution range function, and modified target lock-on and tracking algorithms. The seeker has ECCM including home on jam and clutter suppression. The programmable J-band pulse Doppler AD4A radar seeker manufactured by Thales and Selex Sistemi Integrati, operates at 12GHz to 18GHz.
http://www.army-technology.com/projects/aster-30/
Como já mencionado antes, sensores de radar ativo são apenas UMA das opções possíveis de serem utilizadas em mísseis de maior alcance. E sequer necessariamente a mais eficiente. E de qualquer forma ambos os mísseis descritos nos parágrafos anteriores poderiam ter este tipo de orientação terminal como opção, usando sensores importados. Os russos já possuem sensores radar para mísseis vendidos como componentes COTS, e os europeus muito provavelmente forneceriam opções também, se pagássemos o preço. E existem ainda os chineses, os sul-africanos e os israelenses (embora eu ache que estes últimos poderiam não ser uma opção). Uma certa quantidade dos nossos mísseis poderiam ser equipadas com este tipo de sensor importado para garantir a capacidade qualquer-tempo ao sistema desde o início. Depois, com tempo e calma, poderíamos desenvolver os nossos próprios radares para mísseis, inclusive já tem gente trabalhando nisso para o MAN-1 (aliás, a ToT dos elementos de radar AESA não fazia inclusive parte do contrato do Gripen-NG?).
Cupincha, mas não estás tu mesmo propondo solução AAe meia-boca? Porque estacionar na Defesa de Ponto é muito pouco para quem deseja ter uma capacidade AAe credível. E se é para adquirir um punhadinho de sistemas, vale a pena desenvolver? Reitero minha ênfase na VONTADE! Se nos basta a mísera quantidade de RBS-70, melhor importar mesmo do que fazer aqui, ou acreditas que com o valor de aprox. USD 12,5 mi poderíamos desenvolver e fabricar algo equivalente ou mesmo melhor e na mesma quantidade?
Não Túlio, possuir míseras quantidades de quaisquer sistemas que seja, do Igla ao S-400, serão o mesmo que nada em qualquer conflito real. Em caso de ameaças de ataques por parte de qualquer país estrangeiro, mesmo nossos vizinhos da AL (e se esta ameaça não existe em absoluto, porque estamos comprando Gripen-NG afinal?!?!), seriam necessários no mínimo VÁRIAS DEZENAS de sistemas e DIVERSAS CENTENAS de mísseis. Mais provavelmente CENTENAS DE SISTEMAS e MILHARES DE MÍSSEIS (sim, é isso mesmo, guerra é guerra).
Evidentemente não podemos em tempo de paz comprar estas quantidades. E nem mesmo devemos, pois se tornariam obsoletas em pouco tempo. Mas se produzirmos aqui pequenas quantidades por vez com aperfeiçoamentos constantes, a simples possibilidade de em caso de necessidade produzirmos sim as quantidades que farão diferença já seria um fator de dissuasão em si mesma
. Isso mudaria toda a equação.
Creio que tens razão na Geopolítica. Já postei mais detalhadamente sobre isso neste mesmo tópico, nosso TO é aqui (AS) e o "inimigo" para a AAAe é a vizinhança; como a única Nação (VZ) com alguma capacidade real fica longe demais para ameaçar os grandes centros (MG/RJ/SP), nada a preocupar a politicanalhada. Claro, numa remotíssima possibilidade de conflito com a citada Nação, eu teria sérias dúvidas sobre enfrentar Flanker + PGM com Msl de Defesa de Ponto, Manaus ia virar fumaça...a não ser que se usasse Gripen + R-99...
Acho que você não entendeu o ponto a que me refiro quando coloco a importância geopolítica de desenvolvermos sistemas AAe eficientes.
Isso pouca diferença faria em termos militares na AL ou em qualquer outro lugar do planeta quando nós enquanto país não temos sequer inimigos a apontar. Mas se tivéssemos a possibilidade de fornecer sistemas AAe a outros países que correm de fato o risco de ser atacados por alguma potência estrangeira (e estes não faltam por aí) nosso status a nível mundial seria muitíssimo diferente do de gigante semi-retardado e inofensivo que temos hoje. É disso que eu estou falando. E ainda poderíamos sem problemas manter o que alguns idiotas imaginam ser nossa "aura" de bonzinhos e pacifistas (na verdade uma imagem de covardes e incompetentes
) pois final, sistemas AAe são eminentemente defensivos...
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Gostemos ou não, é a visão de nossos governantes. Pior, é também a da maioria da população, todo mundo crente que guerra é kôza que jamais chegará perto de nós. Por este enfoque, qual a justificativa para ter algo mais do que o mínimo do mínimo?
Eu não estava me referindo a visão dos nossos governantes ou de nossa população em geral, pois em termos militares eles não tem é visão alguma
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Eu me referia à visão dos nossos próprios militares, que desdenham a defesa AAe quando deveriam tê-la como principal prioridade em um mundo onde os ataques aéreos tem sido a principal forma de atuação militar em conflitos envolvendo forças regulares.
Já referi acima o quanto custaria, em tempo e dinheiro. Não é muito diferente de caças, sustento.
Ademais, lembremos de um fato recente (211/08): um F-16 Israelense foi abatido por um S-300 sobre a Síria. Só que a ação foi mais ou menos assim: o caça foi detectado e atacado inicialmente por DOIS sistemas diferentes, um usando SA-9 e outro com SA-2; enquanto o caça se esquivava (com sucesso) destes, o míssil mais moderno, maior e muito mais veloz (e sem emissão, eis que guiado por IR) se aproximou na surdina e o mandou para o chão aos cacos. Notar a quantidade de mísseis e sistemas de apoio envolvidos para abater UM ÚNICO avião. Ademais, isso fez com que os ataques aéreos parassem? NÃO! Seria instrutivo comparar a quantidade de missões aéreas bem sucedidas com a quantidade de mísseis disparados (e, destes, quantos de fato abateram alguma aeronave).
E eu já coloquei acima que JÁ ESTAMOS estamos muito mais avançados nesta área do que na de aviões de combate, dos quais nem sequer os motores podemos sonhar em desenvolver.
E com relação ao uso de dois sistemas diferentes para abater um avião, sou eu mesmo quem mais defende que possuir apenas um sistema e nada é a mesma coisa. A pobre Síria precisa ficar economizando os mísseis que tem, ou logo ficará sem nenhum. E esta será a sina de qualquer país que COMPRAR sistemas AAe, por isso não é esta a solução que defendo.
E ainda assim, pode apostar o que quiser que os Israelenses estão sim muito mais cuidadosos em mandar seus aviões para sobrevoar o espaço aéreo sírio após este abate
. Antes eles faziam o que queriam por lá, agora a história é bem outra.
E o futuro tende a piorar as kôzaz para a AAAe desprovida de cobertura aérea: drones furtivos e cada vez mais sofisticados (ex: o nEUROn, joint venture entre a Suécia e a França) tendem a substituir as aeronaves tripuladas em missões contra alvos bem defendidos por AAAe. Vetorados via data-link/RF pelo 2P de um Rafale ou Gripen F, manteriam a aeronave-mãe e seus tripulantes fora do alcance das defesas e ainda as atacariam com PGMs (no nosso caso, MAR-1, p ex). Tem mais: os ianques já demonstraram QF-16 (pegam um F-16 meio "no osso", tiram todos os sistemas necessários à pilotagem humana e botam data-link) vetorado e disparando armas. Isso poderia (após a chegada dos Gripens) ser feito num primeiro momento com AMX e F-5, até termos drones que, aliás, não precisam de turbinas com todas as certificações necessárias às que propelem aeronaves tripuladas. Lembrar ainda que o CTA estuda há anos e anos materiais furtivos (MARE), mesmo com verbas-merreca.
Você não percebe que os drones tornarão a necessidade da AAe ainda mais preemente, pelo simples aumento da quantidade de alvos aéreos a abater? Simplesmente não haverá caças o suficiente para enfrentar a quantidade de drones que um inimigo avançado pode lançar, pois eles são muito mais simples e baratos que um caça. Por outro lado, esta mesma simplicidade e menor custo (além da menor consciência situacional) os tornam menos velozes, manobráveis e protegidos eletronicamente do que caças modernos, tornando-os alvos mais fáceis para sistemas AAe que podem também ser menos custosos. E já discutimos antes que a furtividade ao radar não é a última palavra desta história, até mesmo o som pode ser usado como meio de detectar, identificar e rastrear alvos aéreos, além de sistemas óticos, radares de baixa frequência e etc... .
Novamente, não imagine um único sistema AAe para enfrentar todos os alvos aéreos, assim como não se usa uma única arma de fogo para enfrentar todas as situações que a infantaria pode ter que encarar, ou um único tipo de bomba para atacar todos os alvos que a aviação pode pretender destruir. A defesa AAe tem que ser um sistema completo e complexo, e não um único modelo de qualquer coisa que seja.
E além disso, os drones ainda precisam provar que podem realmente operar em ambientes mais sofisticados do que enfrentam durante ataques aos rebeldes mulambentos do Talibã, Isis ou da guerrilha colombiana. Afinal, não foram os todo-poderosos americanos que perderam um de seus sofisticadíssimos e ultra-secretos drones invisíveis para o atrasado e isolado Irã
? (Em tempo: ECM e ECCM também fazem parte da defesa AAe, pelo menos tanto quanto os mísseis).
Bueno, no post anterior dei exemplos de empresas nacionais absorvidas por estrangeiras. Dou agora um nacional: a Mectron (Scipio, AAMs). Foi comprada por um grupo sem qualquer vocação para Defesa, Odebrecht, na onda do "agora a coisa vai!" Só que emperrou tudo e parece que tende a piorar, quem garante que a Odebrecht vai continuar investindo? Se ficar muito tempo no vermelho, bueno, ou vendem para estrangeiro ou simplesmente fecham (*)
SE existisse um programa de sistemas AAe nacionais como o que menciono o risco de ficar muito tempo no vermelho seria bem menor..., até pela possibilidade de exportações.
Sobre o S-400 me adescurpes, cupincha, mas nem vou comentar, me conheço o suficiente para saber que iria acabar sendo irreverente e te respeito demais como Amigo e Colega (além de Moderador) para te aprontar uma dessas. Repito, no entanto: é muito mais do que um míssil (fuselagem com motor, ogiva e sistemas de guiagem), um tubo de lançamento e um caminhão...
E ainda assim também é muitíssimo MENOS do que um caça
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O que posso te dizer? Não desdenho a AAAe, apenas não concebo um sistema credível de Defesa Nacional sem DA + AAAe. Com o agravante que, apenas com esta última, se abre mão do fator decisivo de qualquer campanha: A INICIATIVA! Típica da Aviação de Combate e impossível à AAAe. Assim, e no nosso cenário eternamente desleixado, se eu tivesse que escolher entre uma ou outra, bueno, prefiro ter a opção de poder atacar ao invés de ficar apenas aparando os golpes.
Como sempre, apenas minha opinião.
Mais uma vez a história da espada e o escudo.
É óbvio que se um soldado tiver que escolher ele irá para a guerra apenas com a espada ao invés de apenas com o escudo. Mas na verdade se ele tiver que fazer esta escolha e o inimigo não, ele já estará a meio caminho da derrota. O correto é levar ambos, e no nosso caso pelo menos dos escudos poderíamos cuidar nós mesmos e tê-los na quantidade e qualidade que fosse necessárias sem depender de ninguém (e ainda exportar os tais escudos, o que para quem nem está pensando em ir mesmo para a guerra seria até mais interessante que ter quaisquer espadas...
) .
Leandro G. Card