MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
E ressuscitarmos a visão estratégica de FHC de sermos um grande calcenter do mundo
- LeandroGCard
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Com os custos devidos à distância não teríamos como competir com o México se as condições comerciais forem exatamente as mesmas. E veja que nem estou mencionando os nossos seríssimos problemas de produtividade.Mathias escreveu:Nossa única salvação é assinar ontem a ALCA e virarmos um próspero e pujante México, só que mais ao Sul.
Ou seja, nem isso adiantaria.
Para isso precisaríamos ter uma grande massa de bons falantes de inglês, ou os custos de mão de obra se tornariam proibitivos. Como não temos nem chance de chegar a isso (não com o nosso sistema educacional), também não seria uma opção.prp escreveu:E ressuscitarmos a visão estratégica de FHC de sermos um grande calcenter do mundo
Tá difícil.
Leandro G. Card
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Editei acimaprp escreveu:Então sobrou sermos um grande callcenter

Leandro G. Card
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Ou a maior granja do mundo.LeandroGCard escreveu:Editei acimaprp escreveu:Então sobrou sermos um grande callcenter.
Leandro G. Card
Não é nada meu. Não é nada meu. Excelência eu não tenho nada, isso é tudo de amigos meus.
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Política externa resulta em isolamento comercial.
Por se subordinar a uma visão ideológica estreita, Brasil se mantém atrelado a um Mercosul em crise, enquanto o acordo do TPP congrega 40% do PIB mundial.
editorial de O Globo, 07.10.15.
O grave revés para o Brasil no comércio exterior, causado pelo lançamento do Acordo de Parceria Transpacífica, o TPP, em inglês, no qual estarão 40% do PIB mundial, surge de um meticuloso trabalho de rejeição pelo país de acordos com os maiores mercados do planeta, e dependência consciente a um Mercosul bolivariano. O resultado era previsível.
Cedo ou tarde o TPP começaria a se tornar realidade — embora, para a sua implantação efetiva, ainda haja muita estrada pela frente, duros embates em Legislativos nem sempre abertos ao livre comércio, como o americano. Mas um primeiro e crucial passo foi dado, estando em comum acordo gigantes como Estados Unidos e Japão, além de Canadá e mais nove economias.
Entre elas, México, Peru e Chile, já entrelaçados comercialmente na Aliança do Pacífico, junto com a Colômbia, bloco mais aberto ao comércio mundial do que um Mercosul em crise, fechado a acordos bilaterais devido à aversão à competição externa da Argentina e dos mais claramente bolivarianos Venezuela, Bolívia e Equador. Por simpatias ideológicas o Brasil está neste atoleiro.
O revés desta segunda-feira começou com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e a aliança que rapidamente ele fez com o argentino Néstor Kirchner e o caudilho venezuelano Hugo Chávez para bombardear a proposta americana, do “Império”, da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Sequer se sentaram para negociar. Disseram não a Washington, e, enquanto ajudava a ampliar o Mercosul na direção errada, o Brasil apostava no êxito da Rodada de Doha, com vistas a um acordo mundial de liberalização comercial.
Perdeu, e pior: não acompanhou a tendência mundial de acordos bilaterais, até porque, para isso, precisaria da concordância de todo o Mercosul, onde impera uma visão autárquica da economia. Tanto que o bloco até hoje só fechou três acordos: Israel, Palestina e Egito. Sem comentários. E há mais de uma década não consegue encerrar negociações com a União Europeia.
Os danos para o Brasil são mensuráveis. No ano passado, 25% das exportações nacionais destinaram-se a mercados do bloco do TPP. Devem, portanto, sofrer imbatível concorrência de outros membros do grupo. Em produtos manufaturados, 35% da pauta brasileira serão afetados. Justo num segmento em que o país já enfrenta graves problemas de competitividade, por não se abrir às cadeias globais de suprimento. A desvalorização cambial pode ajudar, mas não é elixir milagroso que contrabalance atraso tecnológico, por exemplo.
Que o lançamento da pedra fundamental do TPP seja decodificado no Planalto como lição definitiva de que o Brasil precisa descontaminar a política comercial das ideologias terceiro-mundistas da década de 50 que passaram a intoxicar o país a partir de 2003. Há até o risco de o comércio exterior não servir de alavanca poderosa na recuperação do crescimento como em crises anteriores. O preço a pagar é alto por todos os erros cometidos na política externa.
Por se subordinar a uma visão ideológica estreita, Brasil se mantém atrelado a um Mercosul em crise, enquanto o acordo do TPP congrega 40% do PIB mundial.
editorial de O Globo, 07.10.15.
O grave revés para o Brasil no comércio exterior, causado pelo lançamento do Acordo de Parceria Transpacífica, o TPP, em inglês, no qual estarão 40% do PIB mundial, surge de um meticuloso trabalho de rejeição pelo país de acordos com os maiores mercados do planeta, e dependência consciente a um Mercosul bolivariano. O resultado era previsível.
Cedo ou tarde o TPP começaria a se tornar realidade — embora, para a sua implantação efetiva, ainda haja muita estrada pela frente, duros embates em Legislativos nem sempre abertos ao livre comércio, como o americano. Mas um primeiro e crucial passo foi dado, estando em comum acordo gigantes como Estados Unidos e Japão, além de Canadá e mais nove economias.
Entre elas, México, Peru e Chile, já entrelaçados comercialmente na Aliança do Pacífico, junto com a Colômbia, bloco mais aberto ao comércio mundial do que um Mercosul em crise, fechado a acordos bilaterais devido à aversão à competição externa da Argentina e dos mais claramente bolivarianos Venezuela, Bolívia e Equador. Por simpatias ideológicas o Brasil está neste atoleiro.
O revés desta segunda-feira começou com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e a aliança que rapidamente ele fez com o argentino Néstor Kirchner e o caudilho venezuelano Hugo Chávez para bombardear a proposta americana, do “Império”, da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Sequer se sentaram para negociar. Disseram não a Washington, e, enquanto ajudava a ampliar o Mercosul na direção errada, o Brasil apostava no êxito da Rodada de Doha, com vistas a um acordo mundial de liberalização comercial.
Perdeu, e pior: não acompanhou a tendência mundial de acordos bilaterais, até porque, para isso, precisaria da concordância de todo o Mercosul, onde impera uma visão autárquica da economia. Tanto que o bloco até hoje só fechou três acordos: Israel, Palestina e Egito. Sem comentários. E há mais de uma década não consegue encerrar negociações com a União Europeia.
Os danos para o Brasil são mensuráveis. No ano passado, 25% das exportações nacionais destinaram-se a mercados do bloco do TPP. Devem, portanto, sofrer imbatível concorrência de outros membros do grupo. Em produtos manufaturados, 35% da pauta brasileira serão afetados. Justo num segmento em que o país já enfrenta graves problemas de competitividade, por não se abrir às cadeias globais de suprimento. A desvalorização cambial pode ajudar, mas não é elixir milagroso que contrabalance atraso tecnológico, por exemplo.
Que o lançamento da pedra fundamental do TPP seja decodificado no Planalto como lição definitiva de que o Brasil precisa descontaminar a política comercial das ideologias terceiro-mundistas da década de 50 que passaram a intoxicar o país a partir de 2003. Há até o risco de o comércio exterior não servir de alavanca poderosa na recuperação do crescimento como em crises anteriores. O preço a pagar é alto por todos os erros cometidos na política externa.
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Enquanto isso, se formam dois grupos sobre o que fazer: os conservadores; e os radicais.
Os conversadores no sentido de acharem que o ponto central é construir o ajuste fiscal e que não é hora de se meter em mudar o regime de metas ou impor controle cambial. Esses são os que estão no governo e acreditam que dá para salvar o navio e com algumas soldas e reformas.
Os radicais que tem tudo fracassou e precisa de uma saída radical. Isto quer dizer afundar o navio e construir outro. De um lado, os mais à esquerda e ligados ao PT e Unicamp que querem que o governo abandone o ajuste e gaste mais e mais, assim ativa a demanda agregada e o país cresce rumo ao equilíbrio fiscal, além de garantirem que isso não gera inflação e nem problemas externos. De outro, os mais ortodoxos que chutaram o balde e acreditam que o governo não tem condições de fazer ajuste, assim a saída para evitar a escalada inflacionária e viabilizar o ajuste fiscal é abandonar o regime de metas de inflação e recriar a âncora cambial. Esses garantem que não terá ataque especulativo e nem precisar recorrer ao FMI em alguns meses.
Enfim, ainda acredito que dá para salvar o barco. Apesar dos pesares, a solução radical não é adequada. Vai criar mais problemas do que soluções, levando a potencialização dos problemas atuais.
Os conversadores no sentido de acharem que o ponto central é construir o ajuste fiscal e que não é hora de se meter em mudar o regime de metas ou impor controle cambial. Esses são os que estão no governo e acreditam que dá para salvar o navio e com algumas soldas e reformas.
Os radicais que tem tudo fracassou e precisa de uma saída radical. Isto quer dizer afundar o navio e construir outro. De um lado, os mais à esquerda e ligados ao PT e Unicamp que querem que o governo abandone o ajuste e gaste mais e mais, assim ativa a demanda agregada e o país cresce rumo ao equilíbrio fiscal, além de garantirem que isso não gera inflação e nem problemas externos. De outro, os mais ortodoxos que chutaram o balde e acreditam que o governo não tem condições de fazer ajuste, assim a saída para evitar a escalada inflacionária e viabilizar o ajuste fiscal é abandonar o regime de metas de inflação e recriar a âncora cambial. Esses garantem que não terá ataque especulativo e nem precisar recorrer ao FMI em alguns meses.
Enfim, ainda acredito que dá para salvar o barco. Apesar dos pesares, a solução radical não é adequada. Vai criar mais problemas do que soluções, levando a potencialização dos problemas atuais.
Resposta `a entrevista de Octavio de Barros para o Broadcast da AE publicada hoje. 7/10 (abaixo, a entrevista de Octavio de Barros publicada em 5/10):
Falácias Cognitivas
Monica de Bolle
7 de outubro de 2015
Quando propus a volta de um regime de bandas cambiais variáveis para ancorar a inflação em meio à dominância fiscal que assola o País, imaginei as reações viscerais que talvez provocasse nas mesas de operações. Também pensei que economistas tarimbados haveriam de saber distinguir entre o que escrevi e o que se fez no fim do regime de câmbio fixo brasileiro – a banda diagonal endógena. Pois eis que alguns economistas experientes ainda sofrem o trauma da época. A mera menção a um regime “feijão com arroz”, que foi o pilar das “exchange-rate based stabilizations” dos anos 80 e 90 (as que deram certo, inclusive o Plano Real) nos países emergentes chama à mente imagens de curto-circuito, pânico, perdas dolorosas.
É mais simples. Não me referia a nada que não tenha sido feito com êxito no mundo todo. Êxito, sim, ainda que os ataques especulativos dos anos 90 tenham introduzido os regimes de metas de inflação. No mundo emergente, não teríamos regimes de metas de inflação sem o seu precursor: os regimes de câmbio fixo ou semi-fixo.
Bem conheço suas limitações, na ponta teórica e no lado prático. Escrevi tese de PhD para a LSE sobre o tema, trabalhei na crise da Argentina e na do Uruguai no FMI. Hoje, dou aulas sobre o assunto na School for Advanced International Studies da Johns Hopkins University. Mas isso é só currículo.
O que interessa é o debate. Cadê o debate? Não fazer nada é debate? Dizer que está tudo bem quando a realidade mostra outra coisa é debate? Sacar da manga a “banda diagonal endógena” para desmoralizar o debate é debate?
No Brasil, infelizmente, não há debate. Há apenas as falácias, cognitivas ou ideológicas.
****
5/10/2015 12:58:45 - TOP NEWS
ENTREVISTA: OCTAVIO DE BARROS DEFENDE METAS DE INFLAÇÃO E SELIC A 14,25% POR PERÍODO PROLONGADO
São Paulo, 05/10/2016 - O diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, Octavio de Barros, discorda da tese defendida pela pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional Monica Baumgarten de Bolle, segundo a qual o Brasil deveria abandonar, temporariamente, as metas de inflação e adotar o regime de bandas cambiais flutuantes (crawling band).
Em artigo publicado no blog do instituto na semana passada, a economista afirma que o abandono das metas de inflação e adoção de bandas cambiais flutuantes serviria como uma âncora nominal já que a política monetária se tornou sujeita à dominância fiscal e ineficaz no combate à inflação. Segundo ela, essa estratégia compraria ao governo tempo suficiente para formular um plano fiscal mais adequado.
Em entrevista ao Broadcast, Barros diz discordar também de que a política monetária esteja ou que poderá vir a ficar sujeita à dominância fiscal. Defende que o regime de metas sairá vitorioso se a Selic for mantida no atual patamar de 14,25% ao ano por período prolongado e sugere que o BC comece a reduzir, a partir de 2018, o centro da meta em 0,25 ponto porcentual a cada quatro anos até a meta chegar a 3%. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Broadcast: De uma forma geral, o que o senhor acha da proposta da Monica de Bolle? Octavio de Barros: Mesmo que eu não compartilhe da proposta dela, reconheço que ela traz um debate muito importante sobre os desdobramentos possíveis das dificuldades fiscais do País. Tenho admiração grande pelo trabalho da Monica. Acho, sinceramente, que ela seria uma excelente diretora do Banco Central. Leio sempre com muito interesse os artigos dela, que são muito instigantes e construtivos. Mas como não acredito em impasse político eterno.
Broadcast: O senhor acha que é possível evitar um déficit primário em 2016? Octavio de Barros: Ainda acho que será possível evitar déficit primário em 2016 e construir uma nova governança orçamentária. Não considero que a política monetária esteja ou que estará sujeita à dominância fiscal. Sempre existe o risco, mas acho que a política monetária ainda segue livre e não dominada no Brasil. Ou seja, a decisão do BC ainda não é determinada pelas dificuldades fiscais. No dia que ocorrer isso, o regime de metas não existirá mais.
Broadcast: A Monica de Bolle defende o abandono temporário das metas inflacionárias. O senhor acha que o regime funciona bem no Brasil? Octavio de Barros: Vejo que apesar das dificuldades do regime de metas, desde sua criação em 1999, ele tem um papel disciplinador importante para qualquer governo. Acho que foi e continuará sendo um tremendo avanço institucional. Isso não pode ser jogado fora só porque há algumas dificuldades conjunturais políticas que atrapalham o trabalho do BC gerando alguns ruídos na comunicação. Prefiro o regime de metas com todos os seus defeitos e dificuldades a outras alternativas.
Broadcast: E quanto à sugestão para que o Brasil adote o regime de bandas cambiais flutuantes, o crawling band? Octavio de Barros: Sou um "floater" apesar do calor de momentos como o que o País atravessa hoje. O Brasil não deve ter medo de flutuar sua moeda. O BC deve, contudo, manter os instrumentos de contenção da volatilidade excessiva.
Broadcast: O artigo da Monica alerta para a possibilidade de uma inflação de 20%. Esse risco existe? Octavio de Barros: Acho que o BC terminará vitorioso dentro do escopo do regime de metas atual mantendo a taxa Selic inalterada por um bom tempo até que a inflação 12 meses comece a cair. É possível chegarmos com a inflação não muito distante do centro da meta em 2017. O fiscal está sendo endereçado ainda que com muitas dificuldades. Acho que o trabalho do Levy começará a dar resultados e ele terá muito mais vitórias do que derrotas. Acredito que a forte recessão gerada, sobretudo, por razões não econômicas - nada ou muito pouco tem a ver com o trabalho da área econômica atual -, inibirá o repasse do câmbio à inflação.
Broadcast: Por que? Octavio de Barros: Temos hoje um overshooting que tem a ver com um momento de estresse político, mas que será superado de alguma forma em breve. O risco fiscal e o câmbio, que são irmãos siameses, deverão voltar a patamares um pouco mais razoáveis em alguns meses. Com muito respeito e um pouco de bom humor, me parece que não precisaríamos assistir o filme "a volta dos que não foram", que seria a volta da natimorta banda diagonal endógena, de janeiro de 1999 que, de certa forma, a Mônica de Bolle ressuscita no seu artigo, com nuances é claro.
Broadcast: O artigo da Monica não traduz, de alguma forma, a desconfiança geral? Octavio de Barros: Acho que é compreensível ceticismo de Monica de Bolle e de muitos qualificados economistas sobre o tema fiscal e também a leitura correta de que o câmbio hoje é determinado essencialmente pelo fiscal, uma vez que o ajuste externo já está virtualmente feito. Acho também que a "solução inflação" nunca será a fórmula escolhida de acomodação das dificuldades fiscais no Brasil. Pós Plano Real, nenhum governo ousaria trilhar esse caminho porque não resistiria politicamente. Acomodação fiscal pela inflação seria o mais absoluto fracasso da democracia revelando a total incapacidade de construção de uma governança orçamentária de país maduro.
Broadcast: Há algo que poderia ser feito para tornar o regime de metas mais efetivo? Octavio de Barros: Sem dúvida. Acho preferível fortalecer o regime de metas a optar por caminhos alternativos. Decretar que tudo foi perdido e que o regime de metas não funciona é autodestruição. Defendo o forte reforço e apoio ao regime de metas. Esse reforço viria da implementação de uma agenda para o aumento da potência da política monetária.
Broadcast: Poderia explicar melhor isso? Octavio de Barros: Numa perspectiva de muito longo prazo, a potência da política monetária até aumentou no Brasil, mas nos últimos anos, com o fortíssimo crescimento do crédito direcionado ou subsidiado, a política monetária perdeu muitíssimo de sua potência. A Selic não faz cócegas em metade do crédito bancário no Brasil. A redução gradual do dualismo no mercado de crédito é absolutamente fundamental para fortalecer o regime de metas de inflação.
Broadcast: O senhor faria alguma outra sugestão? Octavio de Barros: Além disso, acho que para 2018 ou 2019 deveríamos anunciar uma meta de inflação 0,25 ponto porcentual abaixo e a cada quatro anos. Deveríamos seguir reduzindo a meta de inflação até chegarmos um dia ao patamar que o Chile tem, por exemplo, de 3%. A meta de inflação é muito alta no Brasil. Se não me falha a memória é a maior meta de inflação do mundo, um sinal ruim para os formadores de preços e de salários. Outra frente que ajudaria muito o funcionamento do regime seria a redução progressiva da indexação sobretudo salarial no País. Tudo isso, é claro, com o pressuposto de que teremos uma nova governança orçamentária no Brasil que limite o crescimento do gasto público primário acima do crescimento nominal do PIB. Só isso permitirá a redução da inflação e dos juros. (Francisco Carlos de Assis - francisco.assis@estadao.com...)
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Também acredito que adotar alguma mudança radical agora é a opção com pior relação risco/benefício no momento. A hora de dar uma guinada no rumo do barco é quando ele navega tranquilo, e não no meio de uma tempestade.Bourne escreveu:Enfim, ainda acredito que dá para salvar o barco. Apesar dos pesares, a solução radical não é adequada. Vai criar mais problemas do que soluções, levando a potencialização dos problemas atuais.
Mas continuo discordando, como sempre discordei desde que foi adotada no governo FHC, da estratégia de combater a inflação (que em princípio é separada do ajuste fiscal) usando o binômio juros altos + câmbio valorizado. Além de ter pouco efeito real sobre a taxa de inflação, principalmente na situação atual quando ela não é de demanda, os efeitos colaterais são graves, e se acumulam com o tempo. E como esta estratégia já é aplicada há tempo demais seus efeitos deletérios agora são maiores do que quaisquer possíveis benefícios.
É óbvio que não se pode simplesmente abandonar o controla da inflação e deixar que ela se espalhe por toda a economia, pois ela é um gênio muito difícil de enfiar novamente na garrafa depois. Mas existe uma série de outras medidas que deveriam ser adotadas antes de se jogar os juros na estratosfera ou deixar a moeda em valores irreais como os praticados até bem pouco tempo, e que pelo que percebo sequer estão sendo cogitados.
Um país que se debate com inflação alta não pode manter incentivos ao consumo como o crédito consignado ou prazos longos de financiamento. Nem fechar as fronteiras aos produtos importados em todos os setores, nem manter a indexação do salário mínimo e dos preços administrados, nem aumentar o preço dos combustíveis acima dos valores do mercado mundial para fazer caixa e etc... . Há muitas outras medidas também que poderiam ser adotadas no combate à inflação ANTES de se pensar em duplicar a taxa básica de juros, principalmente quando o crescimento da dívida pública com relação ao PIB é apontado como um dos maiores riscos à economia nacional. E todas medidas que não vão contra o ajuste fiscal, muito pelo contrário
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
O problema é que precisa de um plano de curto prazo para fazer funcionar em semanas e apagar o incêndio. E essa mangueirada tem que vir do fiscal e lá está origem da queda do pib, inflação e alta do risco em geral da economia.
Até agora o governo não conseguiu aprovar de fato pacote fiscal nenhum. Por que estamos pagando os subsídios e despesas dos últimos quatro anos e vão continuar caindo na conta do tesouro até por 2020. Somados a estrutura de gastos que está pré-contratada e não pode ser cortada sem mudar a legislação. Por exemplo, aprovar a idade mínima de aposentadoria e desindexar o salário mínimo.
As medidas estruturais dariam um enorme alivio para os próximos anos. Esse seria o grosso do ajuste e indicativo que vamos fazer o estado e despesas caberem no orçamento e na carga tributária. O efeito seria em cadeia derrubando inflação, juros e possibilidade de fuga de capitais, retirava pressão sobre o câmbio e dava para respirar.
No entanto, na prática, está caindo em cortar investimento, despesas custeio e adiar aumento de funcionalismo, pagamento de bolsa de estudos e restituição do orçamento para tentar fazer caixa. E agora apelar para elevar imposto. O que é uma forma de ajuste muito ruim e que deprime mais a economia e contribui com inflação. Não só a CPMF, mas outras taxas e alíquotas que começaram a subir na surdina. A oposição do PSDB não se importa, vota para mais gastos e contra as medidas para ferrar o governo. Ou, pior, os membros do PT atacando a política do governo e se distanciando da política. Não é hora nem de fazer oposição "quando pior melhor" e nem de política de grêmio estudantil.
A inflação já anda rondando os 10% anualizado. É a barreira psicologia e depois para chegar a 15, 20, 30% ao ano é um passo. A aceleração oriunda dos problemas fiscais do governo e que o BC não consegue fazer nada. E lá na frente para quebrar o ciclo vai ser mais doloroso.
Até agora o governo não conseguiu aprovar de fato pacote fiscal nenhum. Por que estamos pagando os subsídios e despesas dos últimos quatro anos e vão continuar caindo na conta do tesouro até por 2020. Somados a estrutura de gastos que está pré-contratada e não pode ser cortada sem mudar a legislação. Por exemplo, aprovar a idade mínima de aposentadoria e desindexar o salário mínimo.
As medidas estruturais dariam um enorme alivio para os próximos anos. Esse seria o grosso do ajuste e indicativo que vamos fazer o estado e despesas caberem no orçamento e na carga tributária. O efeito seria em cadeia derrubando inflação, juros e possibilidade de fuga de capitais, retirava pressão sobre o câmbio e dava para respirar.
No entanto, na prática, está caindo em cortar investimento, despesas custeio e adiar aumento de funcionalismo, pagamento de bolsa de estudos e restituição do orçamento para tentar fazer caixa. E agora apelar para elevar imposto. O que é uma forma de ajuste muito ruim e que deprime mais a economia e contribui com inflação. Não só a CPMF, mas outras taxas e alíquotas que começaram a subir na surdina. A oposição do PSDB não se importa, vota para mais gastos e contra as medidas para ferrar o governo. Ou, pior, os membros do PT atacando a política do governo e se distanciando da política. Não é hora nem de fazer oposição "quando pior melhor" e nem de política de grêmio estudantil.
A inflação já anda rondando os 10% anualizado. É a barreira psicologia e depois para chegar a 15, 20, 30% ao ano é um passo. A aceleração oriunda dos problemas fiscais do governo e que o BC não consegue fazer nada. E lá na frente para quebrar o ciclo vai ser mais doloroso.
Não há salvação sem ajuste mais forte
A última versão de ajuste fiscal proposta pelo governo, com aumento de impostos (CPMF) e alguns pequenos cortes em alguns ministérios, será insuficiente para estabilizar a economia brasileira. Ao contrário, tudo indica que entramos numa fase de turbulência perigosa, num círculo vicioso. O crescente déficit público, que deve atingir mais de 8% do PIB este ano, e consequente crescimento explosivo da dívida em relação ao PIB, aumenta o risco e agrava a crise de confiança, levando a novas desvalorizações do real e pressão inflacionária. Em outras palavras, a economia brasileira está entrando num regime em que a inflação tem origem fiscal e a política monetária perde totalmente a sua eficácia.
Em outras palavras, o descontrole das contas públicas e a falta total de confiança neste governo, com Dilma Rousseff na Presidência, governada pelo PT e Lula no comando, passou a ser o fator dominante, revertendo causalidades e fazendo com que instrumentos convencionais de política tenham efeitos perversos. Como se pode ver no gráfico abaixo, a despesa primária tem uma trajetória crescente, com risco de se tornar uma curva exponencial, enquanto a receita tributária dá sinais de exaustão, tendendo a declinar.
Todos sabem que ao longo dos anos há uma série de despesas, previdenciárias por exemplo, que tenderão a crescer mais do que o PIB, dando aquele formato à curva de despesas. Do lado da receita, a resistência a novas tributações será crescente com forte oposição não só dos empresários, para quem é uma questão de sobrevivência, como da sociedade brasileira, que está tomando consciência do tamanho da carga tributária que pagamos.
Na política monetária temos a chamada aritmética monetarista desagradável. O superávit primário é insuficiente para inverter a trajetória de crescimento da dívida. O aperto na política monetária, com a elevação de gastos de juros, que deve chegar a R$ 490 bilhões neste ano, cerca de 8% do PIB, e com a contração na produção, que reduzirá a receita tributária, agravarão muito a situação fiscal. O Banco Central, só de juros no "overnight", deverá pagar este ano cerca de R$ 120 bilhões, tendo já gasto, até agosto, o mesmo montante na operações de swap cambial tentando segurar a taxa de câmbio. O ajuste fiscal programado pelo governo, se implementado, nem de longe conseguirá compensar estes efeitos fiscais da política monetária.
Como o efeito fiscal da política monetária se torna dominante, a elevação da taxa de juros não conseguirá controlar a inflação, como as expectativas de inflação embutidas nas taxas de juros futuras já dão indicação. A intervenção do Banco Central no mercado de câmbio também não tem tido efeitos significativos. Mas se o Banco Central conseguisse controlar e apreciar suficientemente a taxa de câmbio para fazer a inflação recuar nós agravaríamos a outra crise, a de crescimento econômico, pois só a crise fiscal conseguiu finalmente vencer as resistências e levar a taxa de câmbio para um nível competitivo.
Se formos capazes de fazer reformas institucionais para que a taxa real de câmbio se sustente no longo prazo neste nível competitivo, a indústria poderá voltar a investir e exportar mais, permitindo não só a retomada do crescimento, mas com crescente abertura externa. Na verdade, isto nos coloca diante da delicada questão central para sairmos da crise de crescimento: que mudanças precisamos fazer nas instituições para mantermos a taxa real de câmbio competitiva e estável.
Certamente, se a situação se deteriorar ainda mais o Banco Central tenderá a vender efetivamente as reservas cambiais para apreciar a taxa de câmbio e segurar a inflação como sempre fez no passado. Isto será um desastre do ponto de vista da retomada do crescimento. Mais ainda, neste quadro de crise de confiança os efeitos poderão não ser os esperados.
Portanto, sem um ajuste fiscal mais forte capaz de gerar um superávit primário suficiente para reverter o crescimento da dívida, em relação ao PIB, não haverá salvação. A inflação está crescendo, com todos os seus efeitos maléficos.
O quadro é mais complicado ainda porque a fraqueza política do governo parece só aumentar e aparentemente não há liderança política no país, ou pelo menos não se revelou até o momento capaz de propor e aprovar um ajuste fiscal estrutural, que teria que ocorrer do lado da despesa corrente do governo, e reformas institucionais capazes de impor um limite aos gastos do governo.
Yoshiaki Nakano, com mestrado e doutorado na Cornell University, é professor e diretor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP) e escreve mensalmente neste espaço.
http://www.valor.com.br/opiniao/4259148 ... mais-forte
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Sobre sermos um México sul americano via ALCA, eu li não lembro onde que a agricultura mexicana depois da NAFTA virou pó, porque o país foi invadido pelos produtos agrícolas americanos subsidiados.
A indústria virou montadora de kits importados, bastando colar o selo feito nos EUA escrito "echo en mexico", como parece acontecer com os carros.
Seria uma beleza!
Preservaríamos a Amazônia e replantaríamos o cerrado, e com o fim definitivo das indústrias diminuiríamos a poluição.
Acho que vou votar na Marina...
A indústria virou montadora de kits importados, bastando colar o selo feito nos EUA escrito "echo en mexico", como parece acontecer com os carros.
Seria uma beleza!
Preservaríamos a Amazônia e replantaríamos o cerrado, e com o fim definitivo das indústrias diminuiríamos a poluição.
Acho que vou votar na Marina...
“Os únicos derrotados no mundo são os que deixam de lutar, de sonhar e de querer! Levantem suas bandeiras, mesmo quando não puderem levantar!”.
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Aprovação de mega-acordo comercial no Pacífico 'acende alerta para Brasil'
João Fellet - @joaofellet
Da BBC Brasil em Washington
5 outubro 2015
Para especialistas, Brasil terá de rever política comercial após aprovação da TPP, que inclui 12 países
A aprovação da Parceria Trans-Pacífica (TPP, na sigla em inglês), histórico acordo comercial entre Estados Unidos, Japão e outros dez países no Pacífico, acende um alerta para o Brasil e pode deixar o país ainda mais isolado no comércio internacional, dizem analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Assinada nesta segunda-feira em Atlanta (EUA) após cinco anos de negociações, a parceria reduzirá as barreiras comerciais entre 12 países responsáveis por 40% da economia mundial.
Além de EUA e Japão, o grupo inclui Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã.
Para João Augusto de Castro Neves, diretor de América Latina da consultoria Eurasia baseado em Washington, o êxito da TPP acende "um sinal de alerta para a política comercial brasileira".
Ele diz que, para o Brasil, o acordo apresenta dois grandes riscos. O primeiro é reduzir o ímpeto das negociações por um acordo maior na Organização Mundial do Comércio (OMC), uma das grandes prioridades da diplomacia brasileira.
"Com o TPP, economias que respondem por metade do PIB mundial acordarão regras que vão além das negociadas na OMC, o que põe a organização em segundo plano", ele diz.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) coordenado pelos professores Lucas Ferraz e Vera Thorstensen diz que a TPP e o acordo comercial em negociação entre Estados Unidos e União Europeia "são iniciativas revolucionárias para o sistema de comércio".
Bom para uns, incerto para os demais
Os autores dizem que as parcerias beneficiarão seus integrantes, mas criarão um cenário incerto para todos os outros países: "Por causa de seu tamanho, (os acordos) estabelecerão um novo sistema de regras, provavelmente em conflito com a OMC porque diferenciarão membros dessas parcerias de não-membros".
Em dezembro de 2013, todos os 159 membros da OMC aprovaram um acordo com 10% das regras previstas da Rodada Doha, principal negociação multilateral para a liberalização do comércio global.
Ainda que considerada tímida por especialistas, a aprovação deu fôlego à aposta do Brasil por negociações multilaterais (entre vários países) para ampliar a participação de produtos brasileiros no exterior.
Outro limitador à participação do Brasil em acordos extrarregionais é o Mercosul, que só permite a seus países negociar acordos de livre comércio em conjunto. O bloco é integrado por Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela.
O estudo da FGV diz, porém, que as dificuldades de fazer a Rodada Doha avançar levaram várias nações a apostar em grandes negociações comerciais entre grupos de países, como a TPP e o acordo EUA-União Europeia.
As regras negociadas nesses acordos vão além das tratadas pela OMC, incluindo regulações sobre propriedade intelectual, serviços, meio ambiente, mudanças climáticas e legislação trabalhista.
Especialistas dizem que OMC, chefiada pelo brasileiro Roberto Azevêdo, pode ficar em 2º plano
A conclusão dos acordos, diz o estudo, deixará o Brasil para trás "nas negociações de regras comerciais internacionais, perdendo o seu papel atual de relevante definidor de regras globais, (e) assumindo um papel secundário de aceitador passivo das regras".
Para João Augusto de Castro Neves, o segundo risco da TPP para o Brasil é a perda de mercados na América Latina. México, Chile e Peru pertencem ao bloco, e é possível que a Colômbia passe a integrá-lo no futuro.
Com a TPP, diz Castro Neves, as rotas comerciais no Pacífico tendem a se fortalecer em detrimento das do Atlântico.
México, Peru, Chile e Colômbia já vêm incrementando suas trocas comerciais a partir da criação da Aliança do Pacífico, em 2012.
Ao favorecer o comércio no Pacífico, o analista da Eurasia diz que a TPP pode forçar o Mercosul a flexibilizar suas regras para permitir que membros aumentem os laços com vizinhos que não pertençam ao bloco.
Obstáculos à implementação
Para Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV em São Paulo, a TPP ainda enfrentará muitos desafios para sair do papel.
Para vigorar, o acordo terá de ser chancelado pelos Parlamentos de seus integrantes.
Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama enfrentará a oposição de parte da bancada do seu próprio partido (Democrata) para aprová-lo. Stuenkel diz que em outros países, como o Vietnã, a aprovação interna da parceria também é incerta.
Mesmo assim, o professor diz que o acordo é um grande sinal de que poderemos ter "uma liberalização mais ampla do comércio nos próximos anos" no mundo.
"Ele cria uma pressão política sobre a União Europeia e deve facilitar um consenso para que os europeus fechem o acordo com os Estados Unidos", afirma. "O Brasil em algum momento terá de se perguntar se vale a pena apostar em acordos multilaterais ou se começa a se envolver em negociações."
O professor diz que há sinais de que o governo considera flexibilizar sua postura comercial. A presidente Dilma Rousseff iniciou neste ano negociações para um acordo comercial com o México e tentou destravar as conversas para um acordo entre o Mercosul e a União Europeia, lançadas em 1999.
O professor afirma, no entanto, que os gestos parecem partir do Ministério da Fazenda, que considera a abertura econômica uma das ferramentas para lidar com a crise.
Segundo Stuenkel, outros órgãos do governo – entre os quais o Ministério das Relações Exteriores – ainda não estão alinhados com a estratégia.
"Esta será uma das decisões mais difíceis para a política externa brasileira nos próximos anos. Será complicado o Brasil não se mexer agora que outras grandes economias apostam em grandes acordos."
João Fellet - @joaofellet
Da BBC Brasil em Washington
5 outubro 2015
Para especialistas, Brasil terá de rever política comercial após aprovação da TPP, que inclui 12 países
A aprovação da Parceria Trans-Pacífica (TPP, na sigla em inglês), histórico acordo comercial entre Estados Unidos, Japão e outros dez países no Pacífico, acende um alerta para o Brasil e pode deixar o país ainda mais isolado no comércio internacional, dizem analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Assinada nesta segunda-feira em Atlanta (EUA) após cinco anos de negociações, a parceria reduzirá as barreiras comerciais entre 12 países responsáveis por 40% da economia mundial.
Além de EUA e Japão, o grupo inclui Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã.
Para João Augusto de Castro Neves, diretor de América Latina da consultoria Eurasia baseado em Washington, o êxito da TPP acende "um sinal de alerta para a política comercial brasileira".
Ele diz que, para o Brasil, o acordo apresenta dois grandes riscos. O primeiro é reduzir o ímpeto das negociações por um acordo maior na Organização Mundial do Comércio (OMC), uma das grandes prioridades da diplomacia brasileira.
"Com o TPP, economias que respondem por metade do PIB mundial acordarão regras que vão além das negociadas na OMC, o que põe a organização em segundo plano", ele diz.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) coordenado pelos professores Lucas Ferraz e Vera Thorstensen diz que a TPP e o acordo comercial em negociação entre Estados Unidos e União Europeia "são iniciativas revolucionárias para o sistema de comércio".
Bom para uns, incerto para os demais
Os autores dizem que as parcerias beneficiarão seus integrantes, mas criarão um cenário incerto para todos os outros países: "Por causa de seu tamanho, (os acordos) estabelecerão um novo sistema de regras, provavelmente em conflito com a OMC porque diferenciarão membros dessas parcerias de não-membros".
Em dezembro de 2013, todos os 159 membros da OMC aprovaram um acordo com 10% das regras previstas da Rodada Doha, principal negociação multilateral para a liberalização do comércio global.
Ainda que considerada tímida por especialistas, a aprovação deu fôlego à aposta do Brasil por negociações multilaterais (entre vários países) para ampliar a participação de produtos brasileiros no exterior.
Outro limitador à participação do Brasil em acordos extrarregionais é o Mercosul, que só permite a seus países negociar acordos de livre comércio em conjunto. O bloco é integrado por Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela.
O estudo da FGV diz, porém, que as dificuldades de fazer a Rodada Doha avançar levaram várias nações a apostar em grandes negociações comerciais entre grupos de países, como a TPP e o acordo EUA-União Europeia.
As regras negociadas nesses acordos vão além das tratadas pela OMC, incluindo regulações sobre propriedade intelectual, serviços, meio ambiente, mudanças climáticas e legislação trabalhista.
Especialistas dizem que OMC, chefiada pelo brasileiro Roberto Azevêdo, pode ficar em 2º plano
A conclusão dos acordos, diz o estudo, deixará o Brasil para trás "nas negociações de regras comerciais internacionais, perdendo o seu papel atual de relevante definidor de regras globais, (e) assumindo um papel secundário de aceitador passivo das regras".
Para João Augusto de Castro Neves, o segundo risco da TPP para o Brasil é a perda de mercados na América Latina. México, Chile e Peru pertencem ao bloco, e é possível que a Colômbia passe a integrá-lo no futuro.
Com a TPP, diz Castro Neves, as rotas comerciais no Pacífico tendem a se fortalecer em detrimento das do Atlântico.
México, Peru, Chile e Colômbia já vêm incrementando suas trocas comerciais a partir da criação da Aliança do Pacífico, em 2012.
Ao favorecer o comércio no Pacífico, o analista da Eurasia diz que a TPP pode forçar o Mercosul a flexibilizar suas regras para permitir que membros aumentem os laços com vizinhos que não pertençam ao bloco.
Obstáculos à implementação
Para Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV em São Paulo, a TPP ainda enfrentará muitos desafios para sair do papel.
Para vigorar, o acordo terá de ser chancelado pelos Parlamentos de seus integrantes.
Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama enfrentará a oposição de parte da bancada do seu próprio partido (Democrata) para aprová-lo. Stuenkel diz que em outros países, como o Vietnã, a aprovação interna da parceria também é incerta.
Mesmo assim, o professor diz que o acordo é um grande sinal de que poderemos ter "uma liberalização mais ampla do comércio nos próximos anos" no mundo.
"Ele cria uma pressão política sobre a União Europeia e deve facilitar um consenso para que os europeus fechem o acordo com os Estados Unidos", afirma. "O Brasil em algum momento terá de se perguntar se vale a pena apostar em acordos multilaterais ou se começa a se envolver em negociações."
O professor diz que há sinais de que o governo considera flexibilizar sua postura comercial. A presidente Dilma Rousseff iniciou neste ano negociações para um acordo comercial com o México e tentou destravar as conversas para um acordo entre o Mercosul e a União Europeia, lançadas em 1999.
O professor afirma, no entanto, que os gestos parecem partir do Ministério da Fazenda, que considera a abertura econômica uma das ferramentas para lidar com a crise.
Segundo Stuenkel, outros órgãos do governo – entre os quais o Ministério das Relações Exteriores – ainda não estão alinhados com a estratégia.
"Esta será uma das decisões mais difíceis para a política externa brasileira nos próximos anos. Será complicado o Brasil não se mexer agora que outras grandes economias apostam em grandes acordos."
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
E onde está neste receituário todo a obrigação de que a taxa de juros tem que ser a única ferramenta para tentar (e não está funcionando) segurar a inflação?Bourne escreveu:O problema é que precisa de um plano de curto prazo para fazer funcionar em semanas e apagar o incêndio. E essa mangueirada tem que vir do fiscal e lá está origem da queda do pib, inflação e alta do risco em geral da economia.
Até agora o governo não conseguiu aprovar de fato pacote fiscal nenhum. Por que estamos pagando os subsídios e despesas dos últimos quatro anos e vão continuar caindo na conta do tesouro até por 2020. Somados a estrutura de gastos que está pré-contratada e não pode ser cortada sem mudar a legislação. Por exemplo, aprovar a idade mínima de aposentadoria e desindexar o salário mínimo.
As medidas estruturais dariam um enorme alivio para os próximos anos. Esse seria o grosso do ajuste e indicativo que vamos fazer o estado e despesas caberem no orçamento e na carga tributária. O efeito seria em cadeia derrubando inflação, juros e possibilidade de fuga de capitais, retirava pressão sobre o câmbio e dava para respirar.
No entanto, na prática, está caindo em cortar investimento, despesas custeio e adiar aumento de funcionalismo, pagamento de bolsa de estudos e restituição do orçamento para tentar fazer caixa. E agora apelar para elevar imposto. O que é uma forma de ajuste muito ruim e que deprime mais a economia e contribui com inflação. Não só a CPMF, mas outras taxas e alíquotas que começaram a subir na surdina. A oposição do PSDB não se importa, vota para mais gastos e contra as medidas para ferrar o governo. Ou, pior, os membros do PT atacando a política do governo e se distanciando da política. Não é hora nem de fazer oposição "quando pior melhor" e nem de política de grêmio estudantil.
A inflação já anda rondando os 10% anualizado. É a barreira psicologia e depois para chegar a 15, 20, 30% ao ano é um passo. A aceleração oriunda dos problemas fiscais do governo e que o BC não consegue fazer nada. E lá na frente para quebrar o ciclo vai ser mais doloroso.
Mas o artigo é muito bom, ele alerta para que os gastos com juros estão insustentáveis e coloca a questão da importância da manutenção de uma taxa de câmbio compatível com o crescimento no longo prazo.
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Taxa de juros nã segura mais nada. Só os iluminados não enxergam.LeandroGCard escreveu:E onde está neste receituário todo a obrigação de que a taxa de juros tem que ser a única ferramenta para tentar (e não está funcionando) segurar a inflação?Bourne escreveu:O problema é que precisa de um plano de curto prazo para fazer funcionar em semanas e apagar o incêndio. E essa mangueirada tem que vir do fiscal e lá está origem da queda do pib, inflação e alta do risco em geral da economia.
Até agora o governo não conseguiu aprovar de fato pacote fiscal nenhum. Por que estamos pagando os subsídios e despesas dos últimos quatro anos e vão continuar caindo na conta do tesouro até por 2020. Somados a estrutura de gastos que está pré-contratada e não pode ser cortada sem mudar a legislação. Por exemplo, aprovar a idade mínima de aposentadoria e desindexar o salário mínimo.
As medidas estruturais dariam um enorme alivio para os próximos anos. Esse seria o grosso do ajuste e indicativo que vamos fazer o estado e despesas caberem no orçamento e na carga tributária. O efeito seria em cadeia derrubando inflação, juros e possibilidade de fuga de capitais, retirava pressão sobre o câmbio e dava para respirar.
No entanto, na prática, está caindo em cortar investimento, despesas custeio e adiar aumento de funcionalismo, pagamento de bolsa de estudos e restituição do orçamento para tentar fazer caixa. E agora apelar para elevar imposto. O que é uma forma de ajuste muito ruim e que deprime mais a economia e contribui com inflação. Não só a CPMF, mas outras taxas e alíquotas que começaram a subir na surdina. A oposição do PSDB não se importa, vota para mais gastos e contra as medidas para ferrar o governo. Ou, pior, os membros do PT atacando a política do governo e se distanciando da política. Não é hora nem de fazer oposição "quando pior melhor" e nem de política de grêmio estudantil.
A inflação já anda rondando os 10% anualizado. É a barreira psicologia e depois para chegar a 15, 20, 30% ao ano é um passo. A aceleração oriunda dos problemas fiscais do governo e que o BC não consegue fazer nada. E lá na frente para quebrar o ciclo vai ser mais doloroso.
Mas o artigo é muito bom, ele alerta para que os gastos com juros estão insustentáveis e coloca a questão da importância da manutenção de uma taxa de câmbio compatível com o crescimento no longo prazo.
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Na verdade no Brasil ela nunca segurou.nveras escreveu:Taxa de juros não segura mais nada. Só os iluminados não enxergam.
Esta ideia foi tomada de um receituário econômico criado por economistas nos EUA tentando criar uma fórmula para o desenvolvimento econômico de países emergentes, mas levando em conta a realidade dos países desenvolvidos que era o que eles conheciam. O resultado foi ruim onde quer que tenha sido aplicado, e estes economistas já se retrataram e pediram desculpas publicamente. Mas no Brasil virou "ortodoxia", e hoje é anátema, não se pode sequer discutir
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA
Só para lembrar que o BC considera o desempenho fiscal do governo na hora de estimar a trajetória de inflação e o impacto dos juros sobre a inflação. No momento, eles perceberam há tempos que não adianta subir juros e pouco podem fazer, caso contrário a taxa de juros básica estaria na estratosfera.
Não se preocupem com os juros. Graças ao rebaixamento da nota de crédito, estratégia defensiva dos bancos privados e corte dos recursos subsidiados dos bancos públicos, a tendência são os juros reais decolarem e a disponibilidade de fundos emprestáveis reduzir. É o efeito colateral do descontrole fiscal que vai afetar negativamente investimento e consumo privados.
Outra é que o regime de metas de inflação foi superado na crise de 2007-2008. O problema é que ninguém achou o que por no lugar e ainda está se tateando em como mudar na mecânica do regime. O que se faz atualmente é flexibilizar e considerar mais pontos como estabilidade financeira, nível de atividade e emprego.
Enquanto no Brasil não pode entrar como exemplo por que nunca implantou de fato o regime, especialmente por ignorar:
Autonomia do BC que é fundamental para deixar as autoridades mais confortáveis em perseguir a meta e ter flexibilidade para coordenação com a política fiscal e cambial. Incluindo mandato dos membros e do presidente do BC, se explicar de fato o que anda fazendo e se atingiu ou não os objetivos. No brasil, o governo Dilma inserviu descaradamente para reduzir a tjlp e selic à força e criou o custo de subsidio que o tesouro está pagando (selic menos tjlp) e um choque que distorceu a trajetória dos juros reais de redução.
Ter um conselho de decisão e avaliação da metas com membros do governo, empresários, sindicatos e que represente a sociedade. A ideia é que os diferentes grupos se equilibrem ao defenderem interesses diferentes. No Brasil, no conselho era dominado por agentes do mercado financeiro e burocratas do BC, atualmente pelo governo e os burocratas chapa branca do BC. O mais chapa branca é o Trombini que é pau mandado durante o governo Dilma I e permace lá por isso.
Na hora de decidir a meta e como persegui-la se olha também os choques sobre o nível de emprego e atividade econômica. A composição oriunda de um conselho mais democrático e distanciado da interferência política do governo corrente. No Brasil não acontece devido à composição do conselho monetário nacional que tende a ir mais para um lado e deixaram até ter uma meta. A meta nunca foi de 4%, mas de 5,5% ou 6%.
O regime de metas chegou torto, foi implantado na emergência e nunca foi rediscutido. O mesmo com a lei de responsabilidade fiscal que é cheia de furos. Nos dois casos quem deveria ter discutido isso era na gestão do Palocci lá em 2005 no sentido de aprimorar os mecanismos. No entanto, a Dilma dizia que era uma enorme bobagem e desnecessário como outras reformas estruturais. O resultado está aí.
Não se preocupem com os juros. Graças ao rebaixamento da nota de crédito, estratégia defensiva dos bancos privados e corte dos recursos subsidiados dos bancos públicos, a tendência são os juros reais decolarem e a disponibilidade de fundos emprestáveis reduzir. É o efeito colateral do descontrole fiscal que vai afetar negativamente investimento e consumo privados.
Outra é que o regime de metas de inflação foi superado na crise de 2007-2008. O problema é que ninguém achou o que por no lugar e ainda está se tateando em como mudar na mecânica do regime. O que se faz atualmente é flexibilizar e considerar mais pontos como estabilidade financeira, nível de atividade e emprego.
Enquanto no Brasil não pode entrar como exemplo por que nunca implantou de fato o regime, especialmente por ignorar:
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O regime de metas chegou torto, foi implantado na emergência e nunca foi rediscutido. O mesmo com a lei de responsabilidade fiscal que é cheia de furos. Nos dois casos quem deveria ter discutido isso era na gestão do Palocci lá em 2005 no sentido de aprimorar os mecanismos. No entanto, a Dilma dizia que era uma enorme bobagem e desnecessário como outras reformas estruturais. O resultado está aí.