País banana, justiça banana...

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Re: País banana, justiça banana...

#691 Mensagem por prp » Dom Jun 14, 2015 12:42 am

Túlio escreveu:
prp escreveu:Ginger é barriga verde, ainda vai aprender rsrsr

Nós, mais experientes, temos que ajudar. Minha colaboração:

:arrow: Seja qual for o grau de periculosidade do preso, tenha ele cara de assassino ou de santinho, a gente só lhe tira as algemas dentro do EP após ele estar de um lado da grade e nós, do outro. Isso é "feijão com arroz".

:arrow: Ainda sobre segurança e uso de algemas, tem aquilo de escolta. Em geral são de 3 tipos: hospitalar (emergência, ambulatorial ou internação), transferência para outro EP e a pior de todas, audiência em Foro. Vou citar um caso que me aconteceu em cada uma:

HOSPITAL - O médico, para variar, me disse para tirar as algemas do preso. Era atendimento ambulatorial, o cara se queixava de dores no peito. Como eu conhecia o vago e o bom doutor não, sabia que o cara era de surtar e arrumar encrenca, então recusei (meu dupla até me sugeriu - depois, claro - que deveria ter tirado, o vago provavelmente ia atacar o médico e/ou sua assistente, não nós, armados até os dentes). Daí o gentil Esculápio disse que então não iria atender. "Sem problemas, doutor, apenas (já pegando meu celular) o senhor aguarde um minutinho, vou ligar pra Brigada acusando o senhor de omissão de socorro, tri? Se eu voltar pra Modulada com esse cara morto, quem vai responder é o senhor". Resolvido.

TRANSFERÊNCIA - Tinha ficado sabendo de um preso que tinha pulsos finos e mãos pequenas, mas era um corisco para brigar e doido de pedra. Numa escolta para o IPF (Instituto Psiquiátrico Forense, a "cadeia de doido" do RS), no que abriram a porta do xadrez da VTR, ele já tinha tirado as algemas e pulou nos colegas, um dos quais teve de ser atendido com o nariz quebrado (fora as semanas de pavor que o índio passou, pois o vago ainda por cima era soropositivo). Daí, num belo dia me dão o comando da escolta para levá-lo para novos "exames" no mesmo IPF (está entre aspas porque nunca ficavam com o biruta, apenas o enchiam de "sossega-leão" e mandavam de volta para o EP de origem). Ninguém queria ir junto. Na verdade NEM EU queria ir mas ordens são ordens. Sabem como fiz (sugestão de um colega mais experiente)? Fui à enfermaria do EP e pedi um rolo de atadura e outro de esparadrapo. Daí paguei pro doidinho que era para as algemas não lhe machucarem os pulsos. Assim, enrolei tudo, colei com quase todo o esparadrapo do rolo e por cima botei as algemas, tacando o resto de esparadrapo por cima delas. Só lá pelo meio da viagem pra Porto Alegre que lhe caiu a ficha, daí foi aquilo, o cara lá atrás a berrar e chutar tudo e, como sabia meu nome, me chamar de tudo quanto era barbaridade. No IPF, no momento de desembarcar o vago, apenas falei (ainda seguindo a sugestão do Veterano) ao Colegas para ficar metade de um lado e metade do outro, ninguém na frente da porta. Ah, pedi um colchão véio pros Colegas de lá e botei diante da porta, no chão.

Foi uma risada só, no que estiquei o braço lateralmente e abri a porta, o biruta saltou como uma mola mas, ainda com as mãos atadas às costas, caiu de cara, só não se machucando por causa do colchão. O mais engraçado foi que, no que caiu, se imobilizou por alguns instantes, então rolou, sentou, piscou os olhos umas vezes, olhando em volta, depois virou para mim e me tapou de desaforo. Quando os Colegas do IPF finalmente desengasgaram de rir, juntaram o cara e o levaram para dentro do pavilhão.

AUDIÊNCIA - Daí é sodas! O que mais tem em Sala de Audiência é gente que pensa que manda em nós. De estagiário de curso de Direito a Juiz, todo mundo acha que peida arco-íris. A qualquer AP: NÃO HÁ GRAU DE SUBORDINAÇÃO, o preso é do Juiz, nós não! E lá estava eu, de novo comandando uma escolta bem simples, um sujeito do tipo que não incomoda ninguém e que caíra em cana por porte ilegal (caçador, não vago). Entramos na sala com o índio e, para variar, nem Juiz, nem Promotor, sequer o Advogado do cara, só uns estagiários. Daí começou, uma era uma loirinha linda que começou a resmungar sobre aquela "desumanidade" de o sujeito estar grampeado. PUTZ, nem ele reclamava, sabia como era. Então outro do grupo, um magrela com cara de nerd se levantou e (provavelmente querendo aparecer pra guria) falou para um Colega algo como "solta ele". Ah, esqueci, eu estava conduzindo um grupo de APs novatos, é comum fazer isso em casos de presos de periculosidade quase nula, aos poucos a gurizada vai pegando as manhas. Mas se cumpre os procedimentos à risca, para a tigrada já começar sabendo o jeito CERTO! Bueno, o novato apenas me olhou. Falei pro nerd que não e fim. Sei lá o que deu nele, se empolgou e começou a dar discurso. Ia mandá-lo pra PQP mas nisso entrou o Advogado, meu cupincha, aliás (anos depois me representou no meu último divórcio e não cobrou um tusta, ficou pelo churrasco e a cerveja mesmo). Perguntou o que era aquilo e respondi algo como "Doutor, tem gente aqui com TPM e surtando, pelo jeito". Até a loirinha (Paula) deu risada, o preso, todo mundo. O nerd aloprou mas o Advogado lhe disse para sossegar, o que acabou fazendo. Então, se chegou para mim e pediu para tirar os grampos do cara. Recusei e nem estiquei a charla, apenas "o senhor sabe, não depende de mim" e ele sossegou. Daí entra o Promotor (novo na Comarca, ao menos eu não o conhecia), o Advogado chega nele e ele me chama, pedindo a mesma coisa. A essa altura eu estava já de saco cheio, estava treinando novatos a usar os procedimentos corretos e aquele QRM todo, que josta! Recusei de novo. Aí pronto, o cara vem pra intimidação, quer saber por escrito meu nome completo, cargo, matrícula, o escambau. Até o Advogado pareceu chocado (o lado dele eu entendia, seu cliente era um tipo relativamente comum aqui no Litoral, um sujeito parrudo, meio feiote e todo esmulambado mas vai ver quantas propriedades ele tem e o tamanho da conta bancária). E o MP dê-le me pagar de valente. Me estendeu um papel e caneta, ordenando que eu escrevesse ali todos os dados que exigia, sob pena de prisão. Continuei como estava, parado e com a mão direita repousando sobre a caixa da culatra da MT-40 (a única que tinha na PMO, não durou nem dois meses e levaram embora), sem dizer uma palavra, apenas olhando para ele. O cara estava verde, daí me perguntou se eu não iria cumprir sua ordem. "Não", respondi, e acrescentei "não sou obrigado a cumprir ordem de ninguém a quem eu não esteja subordinado" ou algo assim. Pensei que o cara ia pular em mim, daí me virou as costas e se enfiou na Sala do Juiz.

Devo, a bem da verdade, dizer que, embora me esforçando ao máximo para parecer imperturbável, eu estava é bufando de raiva. POWS, eu ali, nas buenas, querendo fazer bem meu trabalho e treinar direito os novatos, daí todo mundo vinha se encarnar em mim? PQP! Mas, se tem como ficar pior, então fica, já dizia o véio Murphy...

Da Sala do Juiz sai o belicoso Promotor e outro cara que eu também não conhecia. Que maldito momento para todos os titulares DA 1ª Vara Criminal/VEC tirarem férias! Mas esperava que fizessem o normal, ocuparem seus assentos, o Juiz chamar o réu para o banco onde ninguém quer estar, depois me dizer para tirar as algemas, eu ia fazer isso e todo mundo ficar feliz.

Só que não. O FÉLADAP*** movido a pilha veio direto em mim, com o Promotor a tiracolo, e começou a me passar descompostura. Eu vermelho como um pimentão, a julgar pelo calor do rosto. Os Colegas sem saber onde enfiar a cara. No fim da xixada, me mandou tirar o grampo do cara e, elevando a voz, acrescentou um ! Lembro como se fosse agora, respirei fundo, voltei a cabeça para os Colegas e comandei "Equipe, pra fora da sala, acelerado". Um deles foi em direção ao preso e falei "não, ele fica, é do Juiz". Só então completei, a voz tremendo de raiva "Excelência, é meu direito lhe pedir isso por escrito. Me dê o papel e vou soltar as algemas e ficar fora da sala. A responsabilidade pelo que acontecer passa a ser sua, não minha".

Cara, parece um filme. O Juiz (substituto e novato) olhou pro tamanho do preso, a má aparência (como expliquei, só aparência, gente buena e endinheirada ainda por cima) e...amarelou na hora. Ficar na mesma sala, à mercê de um brutamontes mal-encarado daqueles, respondendo por porte ilegal ainda por cima? NUNQUINHA, FIO! :lol: :lol: :lol: :lol:

Daí é que ficou estranho mesmo. O Promotor comentou venenosamente que o Juiz podia escolher entre me prender ali mesmo ou me tacar na Corregedoria. Até ambos. A essa altura eu já estava literalmente amotinado e respondi em cima "o Judiciário também tem Corregedoria, testemunha não me falta e duvido que alguém lá aprove o que está acontecendo aqui". Então se completou a ópera-bufa: O JUIZ CANCELOU A AUDIÊNCIA!

PS: um dia depois eu já estava sendo ouvido pela Corregedoria (me chamaram em casa, nem era obrigado a ir mas fui). Citei tudo o que escrevi acima e dei os nomes de todas as testemunhas. Pelo menos UMA vez a CGSP não me desapontou, tendo me absolvido e enviado queixa contra a VEC com cópia do processo todo ao Judiciário, em Porto Alegre. Lembro que, pelo resto daquele mês, não me mandaram fazer audiência na VEC. Daí em diante nunca mais vi nenhum dos dois.

PS2: na audiência seguinte, feita por outros Colegas, o réu foi autorizado a responder em liberdade. O Advogado era mesmo dos buenos (como disse, me representou no divórcio), tacou um processo contra o Estado, baseado no fato de que bastaria ter sido ouvido naquele dia para ter saído (ou algo assim). Fui uma de suas testemunhas, mais adiante. Não sei no que deu o processo, menos de um ano após começar ele morreu num acidente de carro (bebia e dirigia, isso às vezes acaba mal), sodas...
Você tem que ver na época da edição da súmula das algemas pelo STF. :lol:
Foi um festival de horrores. :mrgreen:
No BOE tinhamos e ainda tem que colocar sempre as justificativas das algemas (risco de fuga, alta periculosidade erc.)
Com o juiz sempre a mesma frase: "o senhor quer que soltamos as algemas do preso, caso queira nós não podemos garantir a segurança dos presentes". Normalmente bastava para manter todos os anjinhos algemados.

Certa vez fizemos uma escolta em outra cidade, procedimento padrão, chegamos na sala de audiência e já soltamos para o juiz a frase, o juiz na mesma hora mandou retirar as algemas.

O promotor, sentado ao lado, perguntou aos agentes o que eles recomendariam sobre as algemas, ma mesma hora o lider da escolta respondeu que como dito, era para o preso permanecer algemado.

O promotor virou para o juiz e disse - MM juiz, o Ministério Público requer que as algemas sejam mantidas no preso.
O juiz. - Indefiro, nos termos da súmula vinculante n. tal
O promotor - MM juiz, o Ministério Público entende que súmula do STF é inconstitucional, portanto reitera o pedido e informa que caso negado o Ministério Público não participará da audiencia, por falta de segurança :mrgreen: . (a maioria dos juristas entende que a súmula das algemas é inconstitucional, em razão da forma em que ela foi editada)
O juiz - Indefiro!
O promotor levantou e foi embora e o juiz cancelou a audiência. [003] [003] [003]

Tudo isso, bem formal e lançado na ata.

Passado duas semanas um preso, sendo escoltado pela PC, tira da calça um suxo e põe em cima da mesa da juíza e vira pra ela e fala que foi lá só para matar ela, mas não ia fazer isso não. (segundo a escrivão o preso estava algemado, mas com as algemas para frente)

Depois disso fiquei sabendo que o juiz que mandou soltar as algemas nunca mais soltou algemas de ninguém. Quem tem cu, tem medo!




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Re: País banana, justiça banana...

#692 Mensagem por Túlio » Dom Jun 14, 2015 1:15 am

Cupincha véio e Colega, só charla de algema e Foro já ia render um talagaço daquele de CERVASSS. Qualquer um que trabalhou/trabalha por um tempão em SegPub tem montes de histórias (muitas do arco da véia de tão malucas) só sobre isso (fora AS OUTRAS). Tem, por exemplo, o causo do Melara, por muitos anos o preso de maior periculosidade do RS.

Certa vez, em um Foro da Serra (Caxias do Sul, se não me engano), uns colegas do meu EP (dessa eu escapei) foram escalados para levar o índio em audiência. Chegaram lá, o Juiz mandou tirar as algemas. O Chefe da Escolta quis argumentar sobre a periculosidade, o Juiz (gringo de uns dois metros de puro músculo) educadamente disse "por favor, os senhor apenas tire as algemas". Pê da cara, o Glamir - antigão, do tempo que Juiz era Deus - não discutiu, tirou. Me contou que o Melara olhou para ele, deu uma risadinha e disse, com aquela voz fininha de colono "o senhor não se preocupe, Seu Glamir, vou ficar na minha com vocês". Isso foi lá pela segunda metade dos 80.

Bueno, começa a audiência, o Melara ali sentado, a escolta com os nervos à flor da pele (ele já tinha matado dois de outra escolta, em 85). Após aquele ditado chato ao Escrivão sobre "aos tantos dias do mês...", faz a primeira pergunta ao preso. Este:
- Ah, quer saber, vai tomar no etc, juizeco de m*!
- O senhor queira se comportar, seu depoimento é a chave de sua def...
- Ah, pára, vai te f*, cara...

E por aí seguiu, o Juiz imperturbável, fazendo suas perguntas e engolindo deboche e desaforo sem parar, nem a Mãe dele escapou. Até que, esgotados os palavrões (acho eu), o Melara disse a primeira que lhe veio à cabeça, ante nova pergunta:
- Mas p*, tu não te ligou ainda que não vou responder m* nenhuma, FDP? Quer me condenar condena logo, vou fugir mesmo...MALUFISTA!

Pra quê. O hôme se levantou de um pulo, ergueu o dedo em riste e começou um berreiro com o preso:

MALUFISTA NÃO, MALUFISTA NÃO, EU NEM SOU DO PARTIDO DESSE SENHOR!

Olhou para o atônito AP Glamir e berrou de novo:
- O senhor me leve esse mal-educado daqui, acabou a audiência!

Rindo às gargalhadas, o Melara se deixou algemar sem problemas e a escolta retornou sem outras novidades.

Rimos disso por anos na PEJ, pior que o Juiz era muito benquisto por todos nós, sempre cordial e educado... :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:




“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”

P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: País banana, justiça banana...

#693 Mensagem por gingerfish » Dom Jun 14, 2015 11:43 am

Hahahahahaha, adoooroooo!

Aí, PRP, já empossado, tal, olha eu aí, operacional pra caramba! Já estou chefiando o Pavilhão 1 da Penitenciária de Muriaé, Ecko 5.

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A vida do homem na Terra é uma guerra.
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Re: País banana, justiça banana...

#694 Mensagem por Clermont » Ter Jun 16, 2015 6:32 pm

Cunha faz acordo com PSDB, e redução da maioridade deve passar na Câmara.

Ranier Bragon - Folha de São Paulo, 16.06.15.

Após barrar o acerto entre os rivais PT e PSDB sobre o tema, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fechou nesta terça-feira (16) o acordo com os tucanos para aprovar a redução da maioridade penal no Brasil de 18 para 16 anos.

Com o apoio de pelo menos outros seis partidos, a adesão à proposta foi selada em um almoço na residência oficial do presidente da Câmara. Ela deve ser aprovada nesta quarta-feira (17) na comissão especial da Casa e, na próxima semana, será levada a votação no plenário da Câmara.

O texto acertado entre Cunha e tucanos prevê a redução da maioridade para os casos de crime hediondo (como estupro e latrocínio), lesão corporal grave e roubo quilificado (quando há sequestro ou participação de dois ou mais criminosos, entre outras circunstâncias).

Por pressão de Cunha, o PSDB aceitou também ceder e será retirado do projeto que serviu de base para o acordo, do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o ponto que daria ao Ministério Público o poder, na análise caso a caso, de não aplicar a redução.

Pelo projeto original, caberia ao Ministério Público avaliar, em cada caso e a depender do crime cometido, se aquele jovem de 16 e 17 anos era passível de ser julgado como adulto (pelas regras do Código Penal) ou não, ou seja, se deveria continuar sob as rédeas do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), cuja pena máxima é de três anos de internação.

Com o acordo, a redução da maioridade é automática para os crimes listados acima, cabendo ao Ministério Público denunciar –ou sugerir o arquivamento– esses jovens com base no Código Penal.

RESISTÊNCIA.

Tema que envolve uma polêmica antiga, a redução da maioridade penal é rejeitada pelo PT e pelo governo Dilma Rousseff. Mas essas duas forças políticas estão fragilizadas atualmente e têm sofrido seguidas derrotas aplicadas por Eduardo Cunha, que é evangélico e aliado da chamada bancada da bala.

Após Cunha anunciar a iminência da votação do tema, o governo montou uma operação de emergência, enviando ministros ao Congresso, para tentar barrar a redução.

Chegou a alinhavar um acordo com o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) em torno de uma proposta intermediária –o aumento do tempo máximo de internação dos menores infratores, de três para oito anos, mas Cunha contra-atacou.

Para fechar o acordo com a bancada de deputados federais do PSDB, o presidente da Câmara se beneficiou da resistências dos tucanos em negociar com o PT, além da disputa surda entre Alckmin e o presidente da legenda, Aécio Neves (MG), pela candidatura presidencial da sigla em 2018.


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Re: País banana, justiça banana...

#695 Mensagem por Clermont » Ter Jun 16, 2015 10:38 pm

Promotor de Justiça desmascara governo Dilma: “Ampliar internação será inócuo. Prazo de 3 anos já é fantasioso”.

Blog Felipe Moura Brasil - Veja, 16.06.15.
"A proposta de ampliação do prazo de internação [para bandidos menores de idade] será inócua, o que me faz chegar a apenas duas conclusões possíveis em relação àqueles que a defendem: ou estão mal assessorados ou estão agindo de má-fé, buscando iludir seus colegas parlamentares e a população.”


A declaração é do promotor de Justiça da Infância e da Juventude no estado do Rio de Janeiro, Afonso Henrique Reis Lemos Pereira, que enviou um longo texto sobre o assunto de sua especialidade e experiência diária para este blog, afirmando “concordo integralmente com suas ponderações” sobre o tema da redução da maioridade penal.

O governo do PT optou justamente pelo placebo: decidiu apoiar o aumento do tempo máximo de internação de três para oito anos em casos de crimes hediondos ‘mediante violência ou grave ameaça’. É a posição de Dilma Rousseff, segundo seu advogado administrativo José Eduardo Cardozo (foto), ocupante da pasta da Justiça (do Foro de São Paulo). O PSDB de José Serra apoia a mesma medida, embora finja não ser cúmplice do PT apoiando também a redução da maioridade para 16 anos em casos de crimes hediondos, apenas.

Afonso Henrique desmascara a proposta do governo, explicando por que ela não funciona. Reproduzo o trecho de seu texto a respeito e guardo as confissões que os bandidos lhe fazem para outros posts.

“Na prática, nenhum adolescente nem sequer permanece dois anos internado e praticamente não há casos de adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação por período superior a 1 ano, ainda que tenha estuprado e matado dezenas de crianças e explico o porquê.

A atual sistemática de aplicação das medidas socioeducativas é totalmente diversa da lógica do cálculo das penas privativas de liberdade impostas ao réu em processo criminal. Quando o Juiz da Infância e da Juventude julga procedente uma representação ajuizada em face de um adolescente, reconhecendo a prática de um ato infracional grave, a sentença não estabelece um prazo pré-fixado da medida socioeducativa de internação a lhe ser eventualmente imposta.

Assim, se um adolescente comete um ato infracional análogo a roubo, no qual tenha rendido a vítima com uma faca para subtrair seu aparelho de telefone celular, é muito provável que lhe seja aplicada a medida socioeducativa de internação, já que se trata de ato infracional grave perpetrado mediante o emprego de grave ameaça (art. 122, I do ECA). Neste caso, a sentença que julgar procedente a representação limitar-se-á a aplicar a medida socioeducativa de internação, sem mencionar qualquer prazo.

Analisando uma outra hipótese, podemos ter um segundo adolescente que tenha estuprado e matado dez crianças, sendo uma delas sua própria irmã recém-nascida. O juiz da mesma forma julgará a representação procedente e lhe aplicará a medida socioeducativa de internação, sem estabelecer qualquer prazo. A sentença, portanto, quanto à medida aplicada, será idêntica àquela proferida no processo do primeiro adolescente que praticou um roubo com o emprego de uma faca para intimidar a vítima.
Ora, os dois atos são graves, mas obviamente o segundo é infinitamente mais grave.

Porém, no atual sistema do ECA, a medida socioeducativa aplicada será igual. Caso estivéssemos diante de autores dos mesmos atos, porém já maiores de 18 (dezoito) anos, teríamos penas completamente diferentes aplicadas na sentença, com o criminoso homicida sendo condenado a uma pena privativa de liberdade infinitamente superior à sanção penal imposta ao autor do roubo.

A partir da sentença, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que a medida de internação, durante a sua execução, deverá ser reavaliada no máximo a cada seis meses, a partir de pareceres psicossociais elaborados pela equipe técnica da unidade onde o adolescente cumpre a medida, sendo que o artigo 42, §2º da Lei 12.594/2012, que regulamenta a execução de medidas socioeducativas, prevê que não poderá a decisão que negar a progressão da medida basear-se, tão somente, na gravidade do ato infracional praticado.

Em outras palavras, se o adolescente, durante os poucos meses de sua internação, mantiver um bom comportamento na unidade, o que na prática significa apenas não atentar contra a integridade física de outro interno ou funcionário, tendo mantido uma conduta disciplinada, fatalmente tal adolescente progredirá para semiliberdade ou até mesmo para liberdade assistida.

Não cabe ao Promotor de Justiça ou ao Juiz, portanto, alegar que o adolescente deve ser mantido internado porque estuprou e matou dez crianças. A gravidade do fato perpetrado pode até ser considerada, mas a não progressão deve ser fundamentada em algum fato ocorrido durante o cumprimento da medida.

Muitos juízes, especialmente na capital, sequer abrem o processo para saber o ato infracional praticado pelo adolescente, já que o relatório da equipe da unidade é o elemento preponderante a ser considerado.

Na prática, algumas vezes conseguimos manter o adolescente internado por mais seis meses, alegando que a gravidade do ato revela uma personalidade agressiva impossível de ser revertida em seis meses, o que na verdade é uma forma disfarçada de não progredir a medida com fundamento na gravidade do ato praticado.

Porém, se na segunda audiência de reavaliação novamente o relatório for favorável, o que em geral ocorre, até porque as unidades normalmente estão superlotadas e o interesse da Direção é esvaziá-las, fatalmente o adolescente terá a sua medida progredida, inclusive aquele que estuprou e matou dez crianças.

No mundo real, portanto, os adolescentes, em sua maioria, ficam apenas seis meses internados e, quando muito, apenas 1 ano, sendo o prazo de 3 anos fantasioso na prática.

Assim, diante do absurdo previsto no artigo 42, §2º da Lei nº 12.594/2012, pouco importa ampliar o prazo de internação para 8 ou 30 anos, já que na prática os adolescentes continuarão a progredir no máximo em 1 ano.”


Para não deixar nenhuma dúvida no ar, eu, Felipe, afirmo:

O governo, ciente de tudo isso, age de má-fé.




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Re: País banana, justiça banana...

#696 Mensagem por prp » Ter Jun 16, 2015 10:52 pm

Sou contra a redução da maioridade penal, mas também sou contra esse absurdo do ECA.
Agora é mais fácil mudar o ECA do que a constituição, basta os deputados aprovarem a mudança nesse artigo do ECA.
Então quem está agindo de má fé é esse promotor.




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Re: País banana, justiça banana...

#697 Mensagem por Clermont » Seg Jun 22, 2015 9:43 am

Nove em cada dez apoiam maioridade penal aos 16, aponta Datafolha.

Folha de São Paulo, 22.06.15.

Às vésperas de o plenário da Câmara decidir se reduz ou não a maioridade penal de 18 para 16 anos nos casos de crimes violentos, nove em cada dez brasileiros se dizem favoráveis a essa medida, segundo pesquisa Datafolha.

Entre os entrevistados pelo instituto na semana passada, 87% apoiam a alteração.
O percentual é exatamente o mesmo de pesquisa de abril, o maior desde o primeiro levantamento sobre o tema.

Aqueles que se manifestaram contra essa alteração na Constituição são 11%, além de 1% de indiferentes e 1% que não souberam responder.

Segundo o levantamento, 73% defendem a mudança para qualquer crime. Entre os 27% que apoiam a redução somente para determinados casos, porém, cresceu a defesa de alteração na lei para alguns tipos de crimes violentos.

Por exemplo: em abril, 41% queriam a redução para casos de estupro. Agora são 53%. Para os casos de sequestro, cresceu de 14% para 24%, assim como para homicídio, que passou de 75% para 80%.

Na quarta (17), uma comissão da Câmara aprovou texto que prevê a mudança só para casos de crimes violentos.

O texto é resultado de acordo entre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o PSDB. O PT e a presidente Dilma Rousseff são contra a diminuição.

O projeto agora será analisado no plenário da Casa. Se aprovado em duas votações, seguirá para o Senado.

Por se tratar de uma mudança constitucional, caso aprovado no Congresso, o texto será promulgado sem a possibilidade de análise ou veto do Palácio do Planalto.

Na semana passada, o Datafolha ouviu 2.840 pessoas em 174 municípios do país – a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O Nordeste teve a maior aprovação proporcional, com 89% dos questionados a favor. Já a região Centro-Oeste apresentou a maior reprovação, com 15% das respostas contrárias à mudança na idade.

A defesa da alteração na idade penal cai conforme o aumento da escolaridade. Entre os entrevistados apenas com ensino fundamental, por exemplo, o apoio é de 90%. Na fatia com curso superior, 78% defende uma mudança.

Os mais ricos também tendem a ser menos favoráveis à redução que os mais pobres.

Naqueles com família cuja renda mensal é de até cinco salários mínimos, 88% disseram ser a favor da redução, número que recua para 81% entre aqueles com renda de mais de dez salários mínimos.




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Re: País banana, justiça banana...

#698 Mensagem por Marechal-do-ar » Seg Jun 22, 2015 4:25 pm

Clermont escreveu:Naqueles com família cuja renda mensal é de até cinco salários mínimos, 88% disseram ser a favor da redução, número que recua para 81% entre aqueles com renda de mais de dez salários mínimos.
Isso é interessante... Em especial porque são justamente os jovens mais pobres que vão sentir a alteração na lei.




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Re: País banana, justiça banana...

#699 Mensagem por delmar » Seg Jun 22, 2015 8:33 pm

Marechal-do-ar escreveu:
Clermont escreveu:Naqueles com família cuja renda mensal é de até cinco salários mínimos, 88% disseram ser a favor da redução, número que recua para 81% entre aqueles com renda de mais de dez salários mínimos.
Isso é interessante... Em especial porque são justamente os jovens mais pobres que vão sentir a alteração na lei.
Marechal, hoje tirei o dia para contrariar-te mas leve para o lado positivo, estou lendo as tuas mensagens com atencao. Agora a razao e simples, sao os mais pobres os quem mais sofrem com a violencia. Familias de trabalhadores que vivem em bairros pobres sao as maiores vitimas, seus filhos sao atacados no caminho da escola, perdem tenis, telefone, jaqueta, bone, etc.. As filhas e mulheres sao ameacadas de estupro, ofendidas.
Resido, em Porto Alegre, perto da Vila Cruzeiro. Nossa empregada, por mais de 30 anos, reside dentro da Vila onde criou seus dois filhos. La tambem residem seus irmaos, irmas e familiares. O medo da violencia sempre foi uma constante quando os filhos e sobrinhos estavam em idade escolar. Muitas vezes tiveram os pertences roubados e ate foram agredidos.




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Re: País banana, justiça banana...

#700 Mensagem por nveras » Seg Jun 22, 2015 9:25 pm

delmar escreveu:
Marechal-do-ar escreveu: Isso é interessante... Em especial porque são justamente os jovens mais pobres que vão sentir a alteração na lei.
Marechal, hoje tirei o dia para contrariar-te mas leve para o lado positivo, estou lendo as tuas mensagens com atencao. Agora a razao e simples, sao os mais pobres os quem mais sofrem com a violencia. Familias de trabalhadores que vivem em bairros pobres sao as maiores vitimas, seus filhos sao atacados no caminho da escola, perdem tenis, telefone, jaqueta, bone, etc.. As filhas e mulheres sao ameacadas de estupro, ofendidas.
Resido, em Porto Alegre, perto da Vila Cruzeiro. Nossa empregada, por mais de 30 anos, reside dentro da Vila onde criou seus dois filhos. La tambem residem seus irmaos, irmas e familiares. O medo da violencia sempre foi uma constante quando os filhos e sobrinhos estavam em idade escolar. Muitas vezes tiveram os pertences roubados e ate foram agredidos.
Ser pobre não é desculpa pra ser homicida, estuprador. A redução da maioridade não vai resolver, mas é justa.




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Re: País banana, justiça banana...

#701 Mensagem por Marechal-do-ar » Seg Jun 22, 2015 9:39 pm

Redução da maioridade seria justa, pode não ser certa ou não, mas seria justa, a redução da maioridade penal é injusta e contraditória, ou é maior de idade como um todo, o não é.




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Re: País banana, justiça banana...

#702 Mensagem por Túlio » Ter Jun 23, 2015 9:10 am

Marechal-do-ar escreveu:Redução da maioridade seria justa, pode não ser certa ou não, mas seria justa, a redução da maioridade penal é injusta e contraditória, ou é maior de idade como um todo, o não é.

Um milhão por cento de acordo!!!

Se já tem maioridade aos 16 para votar, se vai ter para ir preso, por que não para tirar CNH, por exemplo?




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Re: País banana, justiça banana...

#703 Mensagem por Clermont » Ter Jun 23, 2015 1:14 pm

Túlio escreveu:Se já tem maioridade aos 16 para votar, se vai ter para ir preso, por que não para tirar CNH, por exemplo?
Nos Estados Unidos, a idade para dirigir varia nos 50 estados entre 14 anos e 17 anos.

No Canadá é de 16 anos. Como também em outros países anglo-saxônicos.




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Re: País banana, justiça banana...

#704 Mensagem por Túlio » Ter Jun 23, 2015 1:37 pm

Clermont escreveu:
Túlio escreveu:Se já tem maioridade aos 16 para votar, se vai ter para ir preso, por que não para tirar CNH, por exemplo?
Nos Estados Unidos, a idade para dirigir varia nos 50 estados entre 14 anos e 17 anos.

No Canadá é de 16 anos. Como também em outros países anglo-saxônicos.


EUA é covardia: em vários Estados, presente de 12 anos pra guri é uma carabina .22... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:




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Re: País banana, justiça banana...

#705 Mensagem por nveras » Ter Jun 23, 2015 1:51 pm

A maioridade é seletiva para várias coisas: para votar, para casar, para ser preso, para comprar arma e etc. Não vejo problema algum nisso. Ou vamos permitir que se compre armas aos dezesseis anos?
E o título do tópico está ao contrário. É JUSTIÇA BANANA, PAÍS BANANA.




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