Operações Policiais e Militares
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Re: Operações Policiais e Militares
E indenizar a família do falecido.henriquejr escreveu:Se o Brasil fosse um país sério, depois deste ocorrido, todos os coletes da CBC deveriam ser recolhidos, até que se comprove que a falha foi só no colete do PRF, caso mais coletes apresentasse problemas de confiabilidade, a fabricante deveria ser obrigada a substituir todos eles!
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Re: Operações Policiais e Militares
Entrevista com o delegado Orlado Zaccone
Ele dá uma informação que me deixou curioso e que merece confirmação: Os deputados que votam contra a restrição à publicidade de bebidas alcoólicas são os mesmos que advogam pelo proibicionismo. A esta política resta apenas o poder (do dinheiro, da "caneta", e das armas), a lógica já se foi faz tempo se é que houve.
abraços
Ele dá uma informação que me deixou curioso e que merece confirmação: Os deputados que votam contra a restrição à publicidade de bebidas alcoólicas são os mesmos que advogam pelo proibicionismo. A esta política resta apenas o poder (do dinheiro, da "caneta", e das armas), a lógica já se foi faz tempo se é que houve.
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Re: Operações Policiais e Militares
Policiais pagam fiança de homem que roubou carne para dar ao filho.
Após constatar que eletricista desempregado não comia há 2 dias, agentes ainda fizeram compras para pai e filho no Distrito Federal.
Tulio Kruse, O Estado de S. Paulo - 15/05/2015.
Preso em flagrante após tentar roubar uma peça de dois quilos de carne na tarde de quarta-feira, 13, o eletricista Mário Ferreira Lima, de 47 anos, foi encaminhado à 20ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal, onde comoveu agentes da Polícia Civil com sua história.
Desempregado há mais de dois meses, sem condições de ajudar a esposa convalescente e de sustentar o filho de 12 anos, Lima estava sem comer há dois dias quando foi detido. Saiu da delegacia com a fiança paga pelos próprios policiais, que o levaram novamente a um supermercado e o presentearam com alimentos e produtos de higiene.
"Ele escondeu a carne em um momento de fraqueza", disse o agente Francisco Sena, que atendeu o caso. No supermercado, foi comprar pães, mortadela, presunto e queijo, além da peça de carne, mas percebeu que tinha apenas R$14 em sua conta bancária. Segundo o relato feito aos policiais, ele tentou pagar pelos outros itens e colocou a carne em sua bolsa, movimento que foi imediatamente repreendido pelo segurança do local.
Após constatar que eletricista desempregado não comia há 2 dias, agentes ainda fizeram compras para pai e filho no Distrito Federal.
Tulio Kruse, O Estado de S. Paulo - 15/05/2015.
Preso em flagrante após tentar roubar uma peça de dois quilos de carne na tarde de quarta-feira, 13, o eletricista Mário Ferreira Lima, de 47 anos, foi encaminhado à 20ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal, onde comoveu agentes da Polícia Civil com sua história.
Desempregado há mais de dois meses, sem condições de ajudar a esposa convalescente e de sustentar o filho de 12 anos, Lima estava sem comer há dois dias quando foi detido. Saiu da delegacia com a fiança paga pelos próprios policiais, que o levaram novamente a um supermercado e o presentearam com alimentos e produtos de higiene.
"Ele escondeu a carne em um momento de fraqueza", disse o agente Francisco Sena, que atendeu o caso. No supermercado, foi comprar pães, mortadela, presunto e queijo, além da peça de carne, mas percebeu que tinha apenas R$14 em sua conta bancária. Segundo o relato feito aos policiais, ele tentou pagar pelos outros itens e colocou a carne em sua bolsa, movimento que foi imediatamente repreendido pelo segurança do local.
- prp
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Re: Operações Policiais e Militares
Esses coletes tem uma distância do disparo, acho que se for a queima roupa não segura.
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Re: Operações Policiais e Militares
Um nível IIIA tem que parar um .38 mesmo a queima roupa, pelo que parece, o colete falhou feio mesmo.prp escreveu:Esses coletes tem uma distância do disparo, acho que se for a queima roupa não segura.
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Re: Operações Policiais e Militares
Uma quadrilha foi presa na noite desta quinta-feira (14) dentro do hotel que estava hospedada em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. O grupo só foi descoberto porque no mesmo hotel estavam hospedados cerca de 30 policiais rodoviários que participavam de um treinamento. Um dos policiais resolveu checar as placas dos carros estacionados nas imediações e descobriu que três deles eram roubados. Dentro dos carros foram apreendidos 25 kg de maconha, além de uma quantidade não divulgada em dólares. Três pessoas foram presas, dois homens e uma mulher. Dois filhos da mulher, um de oito anos e outro de um ano e meio, também estavam no local e devem ser encaminhados ao Conselho Tutelar, até que outros membros da família sejam localizados. Os presos foram encaminhados para a Delegacia de Polícia.
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Re: Operações Policiais e Militares
Brasileiro escreveu:Entrevista com o delegado Orlado Zaccone
Ele dá uma informação que me deixou curioso e que merece confirmação: Os deputados que votam contra a restrição à publicidade de bebidas alcoólicas são os mesmos que advogam pelo proibicionismo. A esta política resta apenas o poder (do dinheiro, da "caneta", e das armas), a lógica já se foi faz tempo se é que houve.
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Ele foi meu Professor de Direito Penal.
Grande Delegado!
Abraços.
"A aplicação das leis é mais importante que a sua elaboração." (Thomas Jefferson)
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Re: Operações Policiais e Militares
Italiano condenado por chefiar máfia é preso no Recife pela Interpol e PF
Ele é acusado de extorsão, mais de vinte homicídios e porte ilegal de armas. Pasquale Scotti tinha CPF e título de eleitor e se dizia empresário no Recife.
Atualizado em 26/05/2015 11h45
O italiano Pasquale Scotti, de 56 anos, condenado à prisão perpétua por ligação com a máfia, foi preso no Recife nesta terça-feira (26), mais de vinte anos depois de ser condenado pela Justiça de seu país. A ação foi realizada, em conjunto, pela Polícia Federal e Interpol. Scotti ainda está na sede da PF, no Recife, onde presta depoimento desde as 9h. As autoridades italianas darão início ao processo de extradição dele para a Itália.
Segundo a PF, o cidadão italiano é chefe da máfia e está foragido desde 1986. No entanto, a prisão dele foi decretada pela justiça italiana apenas em 1991. Ele foi condenado pelos crimes de porte ilegal de armas de fogo, resistência, extorsão e mais de vinte homicídios, crimes cometidos entre 1980 e 1983. O pedido de prisão foi feito pelos delegados federais da Interpol e autorizado pelo Supremo Tribunal Federal em menos de 24h.
Scotti tem dois filhos com uma brasileira -- dois meninos de 13 e 15 anos -- e foi preso quando os levava à escola. Ele se apresentava como Francisco de Castro Visconti, se dizia empresário, dono de uma empresa de importação de alimentos e entretenimento e sócio de uma boate. Ele morava há 28 anos no bairro do Sancho, Zona Oeste do Recife. Ele usava identidade falsa e tinha CPF e até título de eleitor ilegais. A identificação dele foi possível pela comparação de impressões digitais, mas os detalhes sobre a família não serão divulgados. À PF, ele disse que a família brasileira não sabia de sua identidade real e que resolveu fugir da Itália para não ser morto.
http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/ ... -e-pf.html
Ele é acusado de extorsão, mais de vinte homicídios e porte ilegal de armas. Pasquale Scotti tinha CPF e título de eleitor e se dizia empresário no Recife.
Atualizado em 26/05/2015 11h45
O italiano Pasquale Scotti, de 56 anos, condenado à prisão perpétua por ligação com a máfia, foi preso no Recife nesta terça-feira (26), mais de vinte anos depois de ser condenado pela Justiça de seu país. A ação foi realizada, em conjunto, pela Polícia Federal e Interpol. Scotti ainda está na sede da PF, no Recife, onde presta depoimento desde as 9h. As autoridades italianas darão início ao processo de extradição dele para a Itália.
Segundo a PF, o cidadão italiano é chefe da máfia e está foragido desde 1986. No entanto, a prisão dele foi decretada pela justiça italiana apenas em 1991. Ele foi condenado pelos crimes de porte ilegal de armas de fogo, resistência, extorsão e mais de vinte homicídios, crimes cometidos entre 1980 e 1983. O pedido de prisão foi feito pelos delegados federais da Interpol e autorizado pelo Supremo Tribunal Federal em menos de 24h.
Scotti tem dois filhos com uma brasileira -- dois meninos de 13 e 15 anos -- e foi preso quando os levava à escola. Ele se apresentava como Francisco de Castro Visconti, se dizia empresário, dono de uma empresa de importação de alimentos e entretenimento e sócio de uma boate. Ele morava há 28 anos no bairro do Sancho, Zona Oeste do Recife. Ele usava identidade falsa e tinha CPF e até título de eleitor ilegais. A identificação dele foi possível pela comparação de impressões digitais, mas os detalhes sobre a família não serão divulgados. À PF, ele disse que a família brasileira não sabia de sua identidade real e que resolveu fugir da Itália para não ser morto.
http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/ ... -e-pf.html
"Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo."
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Re: Operações Policiais e Militares
'Maré devia estar sob estado de sítio', diz coronel que ajudou a ocupar Alemão.
Coronel Fernando Montenegro, hoje na reserva, defende teses polêmicas sobre como deveria ser a atuação da tropa na região.
JULIANA DAL PIVA - O Dia - 31 de maio de 2015.
Rio - O coronel Fernando Montenegro comandou uma das duas forças-tarefa que ocuparam o Complexo do Alemão em 2010. Agora, na reserva, conta com exclusividade detalhes da organização da missão e defende teses polêmicas sobre como deveria ser a atuação da tropa na Maré. Para ele, o governo deveria decretar uma espécie de estado de sítio na região.
Após a missão de pacificação no Complexo do Alemão, o coronel Fernando Montenegro decidiu ir para a reserva e trabalhar como consultor de segurança. Além disso, convidou um amigo para escrever um livro de ficção sobre a experiência vivida no Rio.
A obra levou o nome de ‘Comando Verde’. Segundo ele, o título foi escolhido em função da maneira como o Exército passou a ser chamado no Alemão depois da ocupação. “Em alusão ao Comando Vermelho”, conta o militar.
Montenegro diz que aproveitou a obra para contar de modo romanceado diversos detalhes da operação. “O livro fala muita coisa dos bastidores, de forma diluída e ficcional porque, como protagonista, não posso dizer ao vivo e a cores tudo que eu sei”, explica.
No fim do ano passado, ele se mudou para Portugal. Mas segue em contato com antigos comandados que agora trabalham na Maré. Em artigo publicado na última semana, ele diz ter ficado sabendo que o tráfico de drogas na região reduziu o lucro de R$15 milhões mensais para R$300 mil.
O DIA: Qual a diferença entre o trabalho das Forças Armadas e da Polícia no Alemão e na Maré?
CORONEL MONTENEGRO: O Exército fica no terreno ocupando 24 horas. Não reduz efetivo. Do soldado até o general, todos ficam lá dormindo dentro da base. Você não vai para casa. É como se estivesse no Haiti. É uma coisa extremamente desgastante. A Polícia tem um sistema de rodízio. O policial fica ali um tempo e depois vai embora. Muitos deles fazem atividade paralela, onde têm uma outra fonte de renda e muitas vezes dão mais prioridade para aquilo que ao serviço. Alguns, todo mundo sabe, gostam de ser policiais para poder ter a arma. Enfim, isso não me interessa. O que quero caracterizar é que a forma de atuação do Exército é muito diferente. Foi uma realização, mas muita coisa tinha que ser feita para arrendondar a operação.
Como o quê?
Praticamente o mesmo que teria que arrendondar na Maré: uma regra de engajamento que permita fazer o trabalho que tem que ser feito. A situação em que se pode fazer o uso da força.
E qual seria a situação?
Uma regra para uma tropa nessa situação tem que ser similar a uma área com situação de anormalidade, estado de defesa ou de sítio ou alguma coisa que se aproxime disso. Isso é uma decisão no nível político. As Forças Armadas acatam, mas está sendo um desrespeito (não declarar estado de sítio) com a Constituição.
Foi assim que funcionou no Alemão?
Começou com uma operação de impacto e sem aviso. Não deu tempo dos traficantes saírem de lá. Logo em seguida foi concedido um mandado de busca e apreensão coletivo em que a tropa poderia entrar em todas as casas. Você anda pelo Alemão e vai ver um paraquedas pintado na porta de vários barracos e casas. Aquilo ali significava que a tropa tinha entrado nas casas para fazer revista em busca de drogas e armas. Achou-se muita coisa. Depois, pintava-se do lado de fora do barraco um paraquedinhas para mostrar que aquela casa já tinha sido inspecionada. Era mais por uma questão de gestão e organização. Você tinha uma liberdade que não tem comparação. Na Maré, a tropa não tem liberdade para entrar nas casas. No Alemão, funcionou assim por quatro ou cinco meses.
Funcionava como um estado de sítio?
O que tinha era o mandado. O estado de sítio vai muito além. Tem toque de recolher e várias coisas como a proibição de fazer reunião. É bem mais limitativo. Só que essa mania do brasileiro de fazer o jeitinho deixa mais complicado de você fazer a coisa funcionar do jeito que tem que ser. As Forças Armadas não podem errar porque depois não tem ninguém para chamar.
Mas não fica difícil para controlar casos de abuso?
O bandido tem muito mais liberdade do que a tropa para atuar. Teria que ter uma liberdade pelo menos similar a do bandido. Ele tem a vantagem da invisibilidade porque ele está diluído na população. Existem princípios de uso proporcional da força. Se uma pessoa está para te dar uma facada, você não pode dar um tiro nela. Isso é muito complicado.
Isso não criaria uma situação de confronto extremo em meio à população?
Já deu tempo suficiente para perceber que do jeito que está não vai funcionar. A sociedade precisa decidir qual é o preço que ela quer pagar para ter segurança. Isso logicamente envolve desgaste e envolve uma escolha mais inteligente dos políticos.
Não é uma guerra no meio da cidade?
O Rio é o único lugar do mundo onde você tem grupos de 40 pessoas andando com fuzil por becos e vielas e se diz que aquilo é uma situação de normalidade. A gente chama isso de democracia? Já é uma guerra.
Nenhum país venceu o tráfico de drogas. Esse esforço não é inútil?
Na Inglaterra, EUA, Israel e França a polícia atua de uma forma muito mais confortável e nem por isso fica uma caça às bruxas. Tem que dar uma resposta proporcional à violência que está ocorrendo. Nesses países tem um protocolo de atuação que não é tão questionado quanto os dos órgãos brasileiros quando tem que fazer o uso da força.
Nos EUA há grande contestação à atuação policial em mortes envolvendo negros.
O contexto social é diferente. Lá tem muito mais segurança que no Brasil. Tem policiais que cometem erros. Mas nos EUA, se você desrespeita um policial como acontece aqui, qual a primeira coisa que ele faz ? Saca a arma e aponta para você, vai um outro para cima e te empacota todo, imobiliza e já te bota com a cara no chão. Isso aí no Brasil, você vai botar a mão não pode: ‘imagina, só porque ele xingou’.
A Polícia brasileira é uma das que mais mata no mundo.
É porque tem uma escalada de violência dos dois lados. Se a polícia não tem um protocolo que respalde ela, começa a fazer coisas em paralelo. Mas a polícia brasileira é um capítulo à parte. Tem que ser reinventada.
Mesmo com esse esforço o Alemão ainda registra conflitos. O que faltou?
É preciso que se entenda que as UPPs são completamente diferentes das Forças de Pacificação comandadas pelas Forças Armadas. Já se percebe que as UPPs necessitam de ajustes de acordo com o lugar para ter eficácia.
Coronel Fernando Montenegro, hoje na reserva, defende teses polêmicas sobre como deveria ser a atuação da tropa na região.
JULIANA DAL PIVA - O Dia - 31 de maio de 2015.
Rio - O coronel Fernando Montenegro comandou uma das duas forças-tarefa que ocuparam o Complexo do Alemão em 2010. Agora, na reserva, conta com exclusividade detalhes da organização da missão e defende teses polêmicas sobre como deveria ser a atuação da tropa na Maré. Para ele, o governo deveria decretar uma espécie de estado de sítio na região.
Após a missão de pacificação no Complexo do Alemão, o coronel Fernando Montenegro decidiu ir para a reserva e trabalhar como consultor de segurança. Além disso, convidou um amigo para escrever um livro de ficção sobre a experiência vivida no Rio.
A obra levou o nome de ‘Comando Verde’. Segundo ele, o título foi escolhido em função da maneira como o Exército passou a ser chamado no Alemão depois da ocupação. “Em alusão ao Comando Vermelho”, conta o militar.
Montenegro diz que aproveitou a obra para contar de modo romanceado diversos detalhes da operação. “O livro fala muita coisa dos bastidores, de forma diluída e ficcional porque, como protagonista, não posso dizer ao vivo e a cores tudo que eu sei”, explica.
No fim do ano passado, ele se mudou para Portugal. Mas segue em contato com antigos comandados que agora trabalham na Maré. Em artigo publicado na última semana, ele diz ter ficado sabendo que o tráfico de drogas na região reduziu o lucro de R$15 milhões mensais para R$300 mil.
O DIA: Qual a diferença entre o trabalho das Forças Armadas e da Polícia no Alemão e na Maré?
CORONEL MONTENEGRO: O Exército fica no terreno ocupando 24 horas. Não reduz efetivo. Do soldado até o general, todos ficam lá dormindo dentro da base. Você não vai para casa. É como se estivesse no Haiti. É uma coisa extremamente desgastante. A Polícia tem um sistema de rodízio. O policial fica ali um tempo e depois vai embora. Muitos deles fazem atividade paralela, onde têm uma outra fonte de renda e muitas vezes dão mais prioridade para aquilo que ao serviço. Alguns, todo mundo sabe, gostam de ser policiais para poder ter a arma. Enfim, isso não me interessa. O que quero caracterizar é que a forma de atuação do Exército é muito diferente. Foi uma realização, mas muita coisa tinha que ser feita para arrendondar a operação.
Como o quê?
Praticamente o mesmo que teria que arrendondar na Maré: uma regra de engajamento que permita fazer o trabalho que tem que ser feito. A situação em que se pode fazer o uso da força.
E qual seria a situação?
Uma regra para uma tropa nessa situação tem que ser similar a uma área com situação de anormalidade, estado de defesa ou de sítio ou alguma coisa que se aproxime disso. Isso é uma decisão no nível político. As Forças Armadas acatam, mas está sendo um desrespeito (não declarar estado de sítio) com a Constituição.
Foi assim que funcionou no Alemão?
Começou com uma operação de impacto e sem aviso. Não deu tempo dos traficantes saírem de lá. Logo em seguida foi concedido um mandado de busca e apreensão coletivo em que a tropa poderia entrar em todas as casas. Você anda pelo Alemão e vai ver um paraquedas pintado na porta de vários barracos e casas. Aquilo ali significava que a tropa tinha entrado nas casas para fazer revista em busca de drogas e armas. Achou-se muita coisa. Depois, pintava-se do lado de fora do barraco um paraquedinhas para mostrar que aquela casa já tinha sido inspecionada. Era mais por uma questão de gestão e organização. Você tinha uma liberdade que não tem comparação. Na Maré, a tropa não tem liberdade para entrar nas casas. No Alemão, funcionou assim por quatro ou cinco meses.
Funcionava como um estado de sítio?
O que tinha era o mandado. O estado de sítio vai muito além. Tem toque de recolher e várias coisas como a proibição de fazer reunião. É bem mais limitativo. Só que essa mania do brasileiro de fazer o jeitinho deixa mais complicado de você fazer a coisa funcionar do jeito que tem que ser. As Forças Armadas não podem errar porque depois não tem ninguém para chamar.
Mas não fica difícil para controlar casos de abuso?
O bandido tem muito mais liberdade do que a tropa para atuar. Teria que ter uma liberdade pelo menos similar a do bandido. Ele tem a vantagem da invisibilidade porque ele está diluído na população. Existem princípios de uso proporcional da força. Se uma pessoa está para te dar uma facada, você não pode dar um tiro nela. Isso é muito complicado.
Isso não criaria uma situação de confronto extremo em meio à população?
Já deu tempo suficiente para perceber que do jeito que está não vai funcionar. A sociedade precisa decidir qual é o preço que ela quer pagar para ter segurança. Isso logicamente envolve desgaste e envolve uma escolha mais inteligente dos políticos.
Não é uma guerra no meio da cidade?
O Rio é o único lugar do mundo onde você tem grupos de 40 pessoas andando com fuzil por becos e vielas e se diz que aquilo é uma situação de normalidade. A gente chama isso de democracia? Já é uma guerra.
Nenhum país venceu o tráfico de drogas. Esse esforço não é inútil?
Na Inglaterra, EUA, Israel e França a polícia atua de uma forma muito mais confortável e nem por isso fica uma caça às bruxas. Tem que dar uma resposta proporcional à violência que está ocorrendo. Nesses países tem um protocolo de atuação que não é tão questionado quanto os dos órgãos brasileiros quando tem que fazer o uso da força.
Nos EUA há grande contestação à atuação policial em mortes envolvendo negros.
O contexto social é diferente. Lá tem muito mais segurança que no Brasil. Tem policiais que cometem erros. Mas nos EUA, se você desrespeita um policial como acontece aqui, qual a primeira coisa que ele faz ? Saca a arma e aponta para você, vai um outro para cima e te empacota todo, imobiliza e já te bota com a cara no chão. Isso aí no Brasil, você vai botar a mão não pode: ‘imagina, só porque ele xingou’.
A Polícia brasileira é uma das que mais mata no mundo.
É porque tem uma escalada de violência dos dois lados. Se a polícia não tem um protocolo que respalde ela, começa a fazer coisas em paralelo. Mas a polícia brasileira é um capítulo à parte. Tem que ser reinventada.
Mesmo com esse esforço o Alemão ainda registra conflitos. O que faltou?
É preciso que se entenda que as UPPs são completamente diferentes das Forças de Pacificação comandadas pelas Forças Armadas. Já se percebe que as UPPs necessitam de ajustes de acordo com o lugar para ter eficácia.
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Re: Operações Policiais e Militares
'Nostalgia da ditadura': moradores de favelas repudiam visão de coronel sobre 'estado de sítio' na Maré.
Coronel Fernando Montenegro defendeu tese em relação ao complexo de favelas em entrevista ao DIA.
JULIANA DAL PIVA - O Dia - 3 de junho de 2015.
Rio - As declarações do coronel da reserva do Exército Fernando Montenegro foram recebidas com tristeza e perplexidade por moradores dos Complexos do Alemão e da Maré. Montenegro foi comandante em 2010 de uma das duas forças-tarefa da pacificação do Complexo do Alemão e defendeu ontem em entrevista ao DIA que fosse instalada uma espécie de estado de sítio na Maré.
“Como vai garantir o direito do cidadão à liberdade? Onde fica o ser humano vivendo numa favela sitiada?”, questionou Lúcia Cabral, moradora do Alemão e coordenadora do Centro de Referência dos Direitos Humanos do Complexo. Ela diz que ficou em choque ao ler a defesa das ações armadas feita pelo militar. “Achei assustador. O poder público vive dizendo que tem que garantir o direito de ir e vir, mas qual é o direito da favela? Não somos cidadãos?”, critica Lúcia.
O diretor e fundador da Redes da Maré, Edson Diniz, também disse ter ficado preocupado com o olhar do militar sobre o trabalho na comunidade. “É a visão de um exército combativo e uma população inimiga. Na Maré tem trabalhadores que movimentam a economia e a cultura da cidade. Não são um exército inimigo que pode ter suas casas invadidas”, observa Diniz.
Ele ressalta que um dos principais problemas na comunidade é a falta de protocolo no relacionamento com os moradores. “Depende do comando. Quando era preciso fazer alguma reclamação de violações, uns iam apurar. Com outros era difícil até de fazer o registro”, conta Diniz.
O deputado Marcelo Freixo (Psol) acredita que a opinião do coronel demonstra o despreparo do Exército para a atuação na segurança pública. “Ao menos, ele é honesto. É uma opinião que tem que ser debatida, mesmo discordando bastante. Isso só afirma o quanto o Exército não pode exercer o papel de polícia. Não é a sua função constitucional. Eles olham para qualquer conflito para eliminar o inimigo. Isso já custou muito caro nos 21 anos de ditadura”, afirma.
Para Atila Roque, diretor da ONG Anistia Internacional, o coronel expressa uma certa “nostalgia da ditadura”. “O que a gente precisa é de um choque de direitos e de cidadania. Enquanto as pessoas não desfrutam isso, ninguém pode se dizer plenamente cidadão. A fala dele vai contra isso. É assustador ouvir de um alto oficial de Forças Armadas que a liberdade necessária para atuar teria que ser ‘pelo menos similar à de um bandido’. É se colocar no mesmo patamar do crime”, aponta Roque.
A diretora da ONG Justiça Global, Sandra Carvalho, conta que a organização chegou a documentar denúncias de abuso ocorridas na época da ocupação do Exército no Alemão. “Verificamos muitas violações que estão expressas na fala dele, como a entrada nas casas de forma ilegal. E mais: pessoas baleadas, espancamentos, pessoas mantidas em cárcere privado”, conta Sandra. Procurada, a Secretaria de Segurança não quis se manifestar.
Coronel Fernando Montenegro defendeu tese em relação ao complexo de favelas em entrevista ao DIA.
JULIANA DAL PIVA - O Dia - 3 de junho de 2015.
Rio - As declarações do coronel da reserva do Exército Fernando Montenegro foram recebidas com tristeza e perplexidade por moradores dos Complexos do Alemão e da Maré. Montenegro foi comandante em 2010 de uma das duas forças-tarefa da pacificação do Complexo do Alemão e defendeu ontem em entrevista ao DIA que fosse instalada uma espécie de estado de sítio na Maré.
“Como vai garantir o direito do cidadão à liberdade? Onde fica o ser humano vivendo numa favela sitiada?”, questionou Lúcia Cabral, moradora do Alemão e coordenadora do Centro de Referência dos Direitos Humanos do Complexo. Ela diz que ficou em choque ao ler a defesa das ações armadas feita pelo militar. “Achei assustador. O poder público vive dizendo que tem que garantir o direito de ir e vir, mas qual é o direito da favela? Não somos cidadãos?”, critica Lúcia.
O diretor e fundador da Redes da Maré, Edson Diniz, também disse ter ficado preocupado com o olhar do militar sobre o trabalho na comunidade. “É a visão de um exército combativo e uma população inimiga. Na Maré tem trabalhadores que movimentam a economia e a cultura da cidade. Não são um exército inimigo que pode ter suas casas invadidas”, observa Diniz.
Ele ressalta que um dos principais problemas na comunidade é a falta de protocolo no relacionamento com os moradores. “Depende do comando. Quando era preciso fazer alguma reclamação de violações, uns iam apurar. Com outros era difícil até de fazer o registro”, conta Diniz.
O deputado Marcelo Freixo (Psol) acredita que a opinião do coronel demonstra o despreparo do Exército para a atuação na segurança pública. “Ao menos, ele é honesto. É uma opinião que tem que ser debatida, mesmo discordando bastante. Isso só afirma o quanto o Exército não pode exercer o papel de polícia. Não é a sua função constitucional. Eles olham para qualquer conflito para eliminar o inimigo. Isso já custou muito caro nos 21 anos de ditadura”, afirma.
Para Atila Roque, diretor da ONG Anistia Internacional, o coronel expressa uma certa “nostalgia da ditadura”. “O que a gente precisa é de um choque de direitos e de cidadania. Enquanto as pessoas não desfrutam isso, ninguém pode se dizer plenamente cidadão. A fala dele vai contra isso. É assustador ouvir de um alto oficial de Forças Armadas que a liberdade necessária para atuar teria que ser ‘pelo menos similar à de um bandido’. É se colocar no mesmo patamar do crime”, aponta Roque.
A diretora da ONG Justiça Global, Sandra Carvalho, conta que a organização chegou a documentar denúncias de abuso ocorridas na época da ocupação do Exército no Alemão. “Verificamos muitas violações que estão expressas na fala dele, como a entrada nas casas de forma ilegal. E mais: pessoas baleadas, espancamentos, pessoas mantidas em cárcere privado”, conta Sandra. Procurada, a Secretaria de Segurança não quis se manifestar.
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Re: Operações Policiais e Militares
O Coronel está certíssimo, enquanto as favelas não forem colocadas em estado de sítio e a liberdade de ir-e-vir dos moradores for cerceada, combate eficiente aos traficantes não será empreendido
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