31 de Janeiro, 2015 - 11:00 ( Brasília )
CHINA QUER AMPLIAR INFLUÊNCIA COM FROTA PRÓPRIA DE PORTA-AVIÕES
Primeira unidade está prevista para 2020. Aventuroso e ilícito, o caminho de Pequim até seus próprios porta-aviões começou em 1998. Negociante envolvido relata uma história de corrupção, traição e pirataria.
Tamanho, prestígio, poderio militar: no mundo da marinha, os porta-aviões evocam todas essas associações. Não é de espantar que o líder chinês Mao Tsé-Tung já considerasse a possibilidade de construir essas embarcações em seu país.
Mas, como se trata de um tipo de armamento extremamente complexo e custoso, até 25 de setembro de 2012 a China era o único membro permanente do Conselho de Segurança da ONU sem porta-aviões condizentes com seu status.
Naquele dia, foi colocado em operação o Liaoning, com 300 metros de comprimento, velocidade de mais de 50 quilômetros por hora, 1.500 tripulantes – e originalmente construído na Ucrânia.
Só através de muitos truques a Marinha da China entrou em posse do navio, originalmente batizado Varyag, como relatou recentemente o negociante Xu Zengping ao jornal South China Morning Post, de Hong Kong: uma história de corrupção, traição e álcool.
Movido a aguardente chinesa
Antes de se projetar no mundo dos negócios, Xu foi jogador de futebol profissional da Marinha, tendo, portanto, ligações estreitas com a instituição. Com o fim de contornar a resistência ucraniana a vender o Varyag para fins militares, ele fundou uma empresa de jogos de azar.
Munido da licença comercial recém-adquirida, ele voou em janeiro de 1998 para a Ucrânia, alegando a intenção de transformar o porta-aviões num cassino flutuante. Nas próprias palavras de Xu, um de seus recursos de argumentação eram os "montes de cédulas de dólar" para a diretoria do estaleiro, além de mais de 50 garrafas da mais forte aguardente chinesa.
Depois de quatro dias de negociações banhados a álcool, o acordo estava fechado: por 20 milhões de dólares o Varyag mudou de dono. Ele vinha acompanhado de 40 toneladas das próprias plantas de construção. Por via das dúvidas, Xu as enviou imediatamente para a China por terra, em oito caminhões.
Viagem acidentada
Apesar desse e de outros episódios de desconfiança, e de atrasos ditados pela crise financeira na Ásia, a transação veio acompanhada por uma boa surpresa: os sistemas de propulsão ainda estavam a bordo e intactos. Provavelmente ainda hoje o Liaoning navega com as máquinas originais ucranianas.
O trajeto para casa, por sua vez, foi longo e acidentado. A Turquia interditou a travessia do estreito do Bósforo ao porta-aviões, que ficou retido no Mar Negro. O clima político só clareou depois da visita a Ancara do então presidente chinês, Jiang Zemin.
Em 2001, o Varyag iniciou viagem: através do Mar Mediterrâneo, passando pelo estreito de Gibraltar e contornando o extremo sul da África – não para Macau, mas sim direto para o nordeste da China. Segundo a revista econômica Caixin, a licença para transformação em cassino foi retirada exatamente no dia da entrada no porto de Dalian, 3 de março de 2002.
Modelo para frota chinesa
Segundo Michael Paul, do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla original), sediado em Berlim, a compra da embarcação militar originalmente soviética foi "enormemente importante" para a China, por representar um ganho de tempo.
Tendo o Liaoning como modelo, o primeiro porta-aviões de fabricação chinesa é aguardado para o ano de 2020. "Ao todo, esperamos uma frota de quatro porta-aviões. Isso representaria uma significativa projeção de poder, irradiando não só para a região da Ásia-Pacífico, como também para o Oceano Índico", avalia o especialista em política de segurança.
No entanto, diante do posicionamento mais agressivo de Pequim nas disputas territoriais nos mares do Sul e do Leste da China, seus vizinhos estão apreensivos, assim como os Estados Unidos.
Hegemonia americana abalada
Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA são a tradicional potência protetora e hegemônica do Pacífico Oeste, explica Michael Paul. No entanto, o relatório do fim de 2014 da americana China Economic and Security Review Commission constata objetivamente:
"A ascensão da China a potência militar de maior porte coloca em xeque décadas de dominância regional dos EUA no ar e em alto mar, na qual Washington deposita interesses substanciais de economia e segurança."
A recomendação da comissão é que, para reforçar sua presença no Pacífico, a Marinha americana não só construa novos navios, como também transfira 60% de suas frotas para a região.
No momento, porém, o Liaoning não está preparado para o combate. Bernt Berger, do Instituto de Segurança e Política de Desenvolvimento (ISDP, na sigla em inglês) sediado em Estocolmo, explica não se tratar de um porta-aviões realmente apto à mobilização militar, mas antes "um projeto de exercício, treinamento e desenvolvimento tecnológico".
Ele permite aos pilotos de combate chineses exercitarem o pouso e decolagem numa embarcação em movimento, duas das manobras militares mais difíceis de executar. Os pilotos voam com o caça J-15, apelidado "Tubarão Voador", cópia ilegal chinesa do russo Sukhoi SU-33. A China havia comprado um avião desse tipo no início do século 21 – igualmente da Ucrânia.
FONTE: DW
http://www.defesanet.com.br/china/notic ... ta-avioes/
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