Programa Espacial Brasileiro

Área para discussão de tudo que envolve a aviação civil e atividades aeroespaciais em geral como aeronaves, empresas aéreas, fabricantes, foguetes entre outros.

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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#196 Mensagem por Marechal-do-ar » Qui Jan 08, 2015 7:26 pm

Passados mais de 50 anos, não só ficamos para trás, como colecionamos vários fracassos e corremos o risco de ser ultrapassados por África do Sul e Israel. Por que somos tão ruins em mandar nossas naves e satélites para o espaço?
O Reino Unido e o Japão já colocaram satélites em órbita, na 4ª e 5ª tentativa respectivamente, quantos acertaram na primeira? Que programa espacial não teve falhas, em especial no início? O que faltou foi tentar de novo, ao invés disso, após cada falha tudo era praticamente congelado e o conhecimento jogado fora.

O Leandro vai discordar aqui, mas não tinha nada de tão errado com o VLS-1 para ele não funcionar, um pouco grande, mas nada tão fora dos padrões, e combustível sólido, como a maioria dos foguetes desse porte, 4 foguetes no primeiro estágio, assim como o primeiro foguete a colocar um satélite em órbita.

O que realmente estava errado era não entender que esse tipo de coisa as vezes falha, tem que aprender e tentar de novo, o conta gotas é a pior saída possível, períodos completamente sem verbas fazem o conhecimento (os profissionais experientes) irem embora e ai não da para reparar jogando mais dinheiro depois.
A dupla finalidade — civil e militar — do programa espacial brasileiro também é responsável pelo excesso de lentidão. De 1971 a 1994, o programa foi vinculado às Forças Armadas. Só há 20 anos, com a criação da AEB, autarquia hoje subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o programa passou a ter uma finalidade civil. Mesmo assim, parte da pesquisa, como a do Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA), um dos principais laboratórios aeroespaciais do país, ainda é ligada à Aeronáutica. No Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), outro órgão militar, se forma a maioria dos técnicos espaciais.
Mais de 20 anos, e que pelo trabalho os civis tem feito hein?

A ligação com o ITA é óbvia, de que adianta tirar o vinculo com os militares se não existem universidades exclusivamente civis para preencher as vagas?




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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#197 Mensagem por LeandroGCard » Sex Jan 09, 2015 11:34 am

Marechal-do-ar escreveu:O Leandro vai discordar aqui, mas não tinha nada de tão errado com o VLS-1 para ele não funcionar, um pouco grande, mas nada tão fora dos padrões, e combustível sólido, como a maioria dos foguetes desse porte, 4 foguetes no primeiro estágio, assim como o primeiro foguete a colocar um satélite em órbita.
Na verdade não discordo, o VLS pode perfeitamente funcionar, ele não é mais complexo do que ASLV indiano e apenas um pouco mais do que o lamba japonês. O fato dele usar combustível sólido também não é em si um problema, embora torne sua construção e operação na configuracão "cluster" mais complicadas do que outros foguetes de mesma configuração usando combustível líquido, como o citado Lançador-A russo (que colocou o primeiro Sputnik em órbita).

O problema do VLS é ter sido concebido como experimento tecnológico e não como produto (até hoje não se fabricam os motores dele em escala, com normas, gabaritos e procedimentos de controle de qualidade - eles são feitos de forma praticamente artesanal pelos próprios cientistas e engenheiros que os projetam). Além disso outro erro grave foi ter-se tentado pular etapas, lançando primeiro a configuração mais complexa (o VLS-1) antes da mais simples (que seria o VLM). A Índia, por exemplo, fez exatamente o contrário.

O que realmente estava errado era não entender que esse tipo de coisa as vezes falha, tem que aprender e tentar de novo, o conta gotas é a pior saída possível, períodos completamente sem verbas fazem o conhecimento (os profissionais experientes) irem embora e ai não da para reparar jogando mais dinheiro depois.
Sim, falhas acontecem, e o importante é continuar tentando até se atingir o objetivo. E este é o maior problema do programa espacial brasileiro, causa de todos os demais: NÃO EXISTE UM OBJETIVO. Não há um programa sério de atividades espaciais a serem desenvolvidas com prazos definidos, no máximo um "wish list" a ser perseguido para quando Deus quiser. Deseja-se por exemplo um satélite para monitorar a Amazônia (satélite Amazônia-1), mas ninguém de fato conta com isso para uma data específica. Quer-se lançar uma plataforma de gravidade zero (satélite Sara), mas quando for possível, e o projeto não tem o tamanho que deveria para ser empregado de forma plena, mas sim o que cabe no VLS-1. A MB gostaria de ter um satélite de observação naval, mas não tem planos objetivos de dispor dele no futuro previsível. O próprio VLS reconhecidamente é pequeno demais para atender a qualquer a qualquer satélite realmente aplicativo, mas ninguém fala a sério sobre sucessores maiores e mais práticos (o programa Cruzeiro do Sul foi puro "smokeware"). E por aí vai.

O programa inteiro ainda é visto e tratado como um simples estudo acadêmico (como foi idealizado no início), dirigido pela vontade dos próprios pesquisadores acadêmicos envolvidos e a ser executado se e quando for possível, caso algum governante ache que a verba pode ser gasta (isso mesmo, gasto e não investimento). Se não fossem os europeus nem foguetes de sondagem teríamos mais lançado desde a explosão do último VLS. E sendo assim é algo que pode ser até interessante, mas que não trará nada de útil ao desenvolvimento tecnológico nacional no futuro previsível, mesmo que um ou outro lançamento do VLS venha a ser bem sucedido.

Por isso volto mais uma vez a dizer: Na minha opinião o melhor caminho é encerrar tudo de vez, e recomeçar do zero daqui a cinco ou dez anos, partindo de outras bases.


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P.S.: E é sempre bom lembrar que o ASLV indiano e o Lambda japonês também foram apenas experimentos tecnológicos em sua época, e que foram logo abandonados em função de foguetes lançadores "de verdade". Se o programa espacial brasileiro fosse a sério o VLS também já teria sido abandonado faz muito tempo.




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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#198 Mensagem por Lucas Lasota » Sex Jan 09, 2015 11:43 am

Os amigos já viram o site da Alcântara Cyclone Space?

http://www.alcantaracyclonespace.com/pt

Imagem

Há informações bem interessantes, como esse detalhado pdf:





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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#199 Mensagem por Bolovo » Sex Jan 09, 2015 11:46 am

Tem que mandar um pdf detalhado pra essa galera falando da guerra civil ucraniana. [003]




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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#200 Mensagem por Lucas Lasota » Sex Jan 09, 2015 11:52 am

Olha o que eles pensam disso:
Os atuais acontecimentos na Ucrânia não vêm impactando o desenvolvimento do Projeto Cyclone-4. Hoje, o desenvolvimento do Veículo de Lançamento está avançando conforme previsto, e o mesmo estará disponível para ser enviado à Alcântara no segundo semestre de 2015. Uma parcela significativa das obras do Sítio de Lançamento foi concluída. A maioria dos meios de apoio do solo foi contratada e alguns, inclusive, já estão em Alcântara.
http://www.alcantaracyclonespace.com/pt ... do-projeto
:?




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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#201 Mensagem por LeandroGCard » Sex Jan 09, 2015 12:21 pm

Lucas,

A Alcântara Cyclone Space não tem nada a ver com o Programa Espacial Brasileiro fora o fato de efetuar os lançamentos à partir da base de Alcântara. Existe um tópico específico sobre ela:

viewtopic.php?f=10&t=13363&start=300


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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#202 Mensagem por Lucas Lasota » Sex Jan 09, 2015 12:24 pm

Muito obrigado, Leandro.

:oops:




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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#203 Mensagem por Penguin » Dom Fev 15, 2015 10:58 pm

Projeto de foguete em parceria com Ucrânia ruma ao fracasso

APÓS GASTOS DE R$ 477 MILHÕES, NÃO HÁ PREVISÃO PARA LANÇAMENTO DO CYCLONE-4

POR ROBERTO MALTCHIK

ClippingNEWS-PARIO – O primeiro é cilíndrico e repousa em solo ucraniano. O Cyclone-4 é revestido por uma vasta carcaça metálica de 40 metros de comprimento e, teoricamente, seria capaz de levar satélites de quase quatro toneladas a cerca de 400 quilômetros da superfície da Terra. O segundo adormece no Maranhão. Não menos imponente, o canteiro de obras, encravado em uma área cedida pela Aeronáutica no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), serviria de base para que o foguete europeu rompesse a barreira atmosférica e completasse sua missão no espaço.

A dupla, fruto de uma parceria entre Brasil e Ucrânia, já consumiu, entre 2007 e 2014, R$ 477 milhões do contribuinte brasileiro e atingiu um impasse crítico, que reúne todos os elementos para transformá-la no maior esqueleto da história do Programa Espacial Brasileiro. Oficialmente, o governo nega que tenha jogado a toalha, mas dá pistas de que o fracasso é iminente.

Para que fosse viável comercialmente, o projeto, liderado pela binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), deveria ser lucrativo desde 2010, com o lançamento de satélites produzidos nos cinco continentes, ao preço unitário de US$ 50 milhões. Porém, passados cinco anos, o foguete nunca saiu da fábrica. Ainda não rendeu um tostão.

OBRAS PARADAS HÁ PELO MENOS UM ANO

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) reconhece que a empreitada requer “investimentos adicionais que alteram profundamente os custos iniciais”. E informa que “não há previsão” sequer para conclusão das obras em Alcântara. Muito menos para o primeiro lançamento.

As obras do complexo espacial de Alcântara estão paradas há pelo menos um ano, quando o Palácio do Planalto travou a liberação de dinheiro para o consórcio constituído por Odebrecht e Camargo Corrêa, que ganhou o contrato em 2010, sem licitação. Muitos operários já abandonaram a cidade, descrentes da conclusão do empreendimento, que chegou a reunir, ao mesmo tempo, cerca de dois mil trabalhadores.

Já o foguete está com cerca de 87% de desenvolvimento; entretanto, sua conclusão depende da evolução da contraparte brasileira – e dos ajustes que serão necessários para que ele possa disputar uma fatia do mercado. Hoje, não há mercado para o Cyclone-4. A comunidade espacial da Ucrânia, que já apostou alto no projeto, agora desdenha da parceria com o Brasil.

Há seis meses, a partir de um diagnóstico devastador apresentado pelo ex-ministro Marco Antônio Raupp, o Planalto criou uma comissão interministerial para salvar o projeto. Mas fontes indicam que não há solução à vista.

Pelo contrário: o MCTI não tem dinheiro reservado para o projeto Cyclone este ano. O orçamento na área espacial está dedicado ao monitoramento da Terra, dado o impacto dos efeitos da estiagem que assola o Sudeste. Isso sem contar que o Brasil ainda não firmou o acordo com os Estados Unidos para que componentes tecnológicos americanos sejam operados no Brasil.

Apesar do naufrágio lento e gradual da missão Cyclone, sua concepção continua sangrando os cofres públicos, quase ao largo da fiscalização estatal. Em 2014, nenhum centavo entrou para pagar as empreiteiras, embora R$ 13 milhões tenham irrigado o pagamento de diretores, de conselheiros, de funcionários e de encargos administrativos.

Em parecer emitido em 9 de julho de 2014, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), ao manifestar-se sobre pontos que seriam discutidos na assembleia geral da ACS, salienta aspectos curiosos das contas da binacional, relacionados à remuneração de funcionários e às obras em Alcântara.

Em 31 de dezembro de 2013, a ACS acusou a Agência Espacial Brasileira de não repassar R$ 132,6 milhões para pagar gastos assumidos na base de lançamento, teoricamente, sob responsabilidade do Brasil. Porém, a auditoria independente contratada para analisar as contas daquele ano apontou que Brasil e Ucrânia sequer haviam definido o tamanho da responsabilidade brasileira no projeto, ou dos custos e o retorno financeiro na empreitada.

“Não obtivemos evidências totais sobre definição técnica, acerca dos orçamentos da origem financeira e de capital suficiente para retomada e conclusão das obras. Em vista disso, não temos como opinar, como não opinamos, sobre o referido saldo, sobre os efeitos que a incerteza poderá ocasionar na capacidade de continuidade operacional da Binacional, devido à falta de definição da retomada das obras, dos recursos totais necessários para realização do projeto, do orçamento do fluxo de caixa e, consequentemente, sobre o retorno dos investimentos realizados, podendo ocasionar reduções relevantes no ativo e no resultado da Binacional”, diz a auditoria.

No que diz respeito ao pagamento de honorários, a PGFN concluiu que, em 2013, a ACS superou em R$ 12 mil o limite de R$ 4,49 milhões com o pagamento de 22 diretores e conselheiros, fiscais e de administração, dos quais metade é brasileira e a outra, ucraniana. Nesse parecer, a PGFN explicou que os administradores da ACS recebem gratificação natalina, adicional de férias, seguro saúde e auxílio moradia.

No parecer, é citada a necessidade de “fixar em um décimo da remuneração média” dos dirigentes os honorários pagos aos conselheiros, bem como de “vedar o pagamento de qualquer item de remuneração não liberado” pela assembleia geral. A PGFN não detalha a razão dessas observações. Ainda frisou que a remuneração do atual exercício foi apresentada sem “manifestação favorável do Ministério Supervisor nem do Conselho de Administração”.

O GLOBO procurou o MCTI, a PGFN e a Controladoria Geral da União (CGU) para saber quem fiscaliza os gastos da ACS. A CGU e a PGFN asseguraram, por escrito, que não têm mandato para fiscalizar a empresa. O MCTI não respondeu quem fiscaliza a ACS. Também não se manifestou sobre como avalia a eficiência e o controle dos recursos públicos usados no projeto.

Nenhum representante da política espacial aceitou falar sobre os desdobramentos do projeto Cyclone-4 e o que pode ser feito para salvá-lo.

FONTE: O Globo




Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#204 Mensagem por cassiosemasas » Dom Fev 15, 2015 11:07 pm

Penguin escreveu:Projeto de foguete em parceria com Ucrânia ruma ao fracasso

APÓS GASTOS DE R$ 477 MILHÕES, NÃO HÁ PREVISÃO PARA LANÇAMENTO DO CYCLONE-4

POR ROBERTO MALTCHIK

ClippingNEWS-PARIO – O primeiro é cilíndrico e repousa em solo ucraniano. O Cyclone-4 é revestido por uma vasta carcaça metálica de 40 metros de comprimento e, teoricamente, seria capaz de levar satélites de quase quatro toneladas a cerca de 400 quilômetros da superfície da Terra. O segundo adormece no Maranhão. Não menos imponente, o canteiro de obras, encravado em uma área cedida pela Aeronáutica no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), serviria de base para que o foguete europeu rompesse a barreira atmosférica e completasse sua missão no espaço.

A dupla, fruto de uma parceria entre Brasil e Ucrânia, já consumiu, entre 2007 e 2014, R$ 477 milhões do contribuinte brasileiro e atingiu um impasse crítico, que reúne todos os elementos para transformá-la no maior esqueleto da história do Programa Espacial Brasileiro. Oficialmente, o governo nega que tenha jogado a toalha, mas dá pistas de que o fracasso é iminente.

Para que fosse viável comercialmente, o projeto, liderado pela binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), deveria ser lucrativo desde 2010, com o lançamento de satélites produzidos nos cinco continentes, ao preço unitário de US$ 50 milhões. Porém, passados cinco anos, o foguete nunca saiu da fábrica. Ainda não rendeu um tostão.

OBRAS PARADAS HÁ PELO MENOS UM ANO

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) reconhece que a empreitada requer “investimentos adicionais que alteram profundamente os custos iniciais”. E informa que “não há previsão” sequer para conclusão das obras em Alcântara. Muito menos para o primeiro lançamento.

As obras do complexo espacial de Alcântara estão paradas há pelo menos um ano, quando o Palácio do Planalto travou a liberação de dinheiro para o consórcio constituído por Odebrecht e Camargo Corrêa, que ganhou o contrato em 2010, sem licitação. Muitos operários já abandonaram a cidade, descrentes da conclusão do empreendimento, que chegou a reunir, ao mesmo tempo, cerca de dois mil trabalhadores.

Já o foguete está com cerca de 87% de desenvolvimento; entretanto, sua conclusão depende da evolução da contraparte brasileira – e dos ajustes que serão necessários para que ele possa disputar uma fatia do mercado. Hoje, não há mercado para o Cyclone-4. A comunidade espacial da Ucrânia, que já apostou alto no projeto, agora desdenha da parceria com o Brasil.

Há seis meses, a partir de um diagnóstico devastador apresentado pelo ex-ministro Marco Antônio Raupp, o Planalto criou uma comissão interministerial para salvar o projeto. Mas fontes indicam que não há solução à vista.

Pelo contrário: o MCTI não tem dinheiro reservado para o projeto Cyclone este ano. O orçamento na área espacial está dedicado ao monitoramento da Terra, dado o impacto dos efeitos da estiagem que assola o Sudeste. Isso sem contar que o Brasil ainda não firmou o acordo com os Estados Unidos para que componentes tecnológicos americanos sejam operados no Brasil.

Apesar do naufrágio lento e gradual da missão Cyclone, sua concepção continua sangrando os cofres públicos, quase ao largo da fiscalização estatal. Em 2014, nenhum centavo entrou para pagar as empreiteiras, embora R$ 13 milhões tenham irrigado o pagamento de diretores, de conselheiros, de funcionários e de encargos administrativos.

Em parecer emitido em 9 de julho de 2014, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), ao manifestar-se sobre pontos que seriam discutidos na assembleia geral da ACS, salienta aspectos curiosos das contas da binacional, relacionados à remuneração de funcionários e às obras em Alcântara.

Em 31 de dezembro de 2013, a ACS acusou a Agência Espacial Brasileira de não repassar R$ 132,6 milhões para pagar gastos assumidos na base de lançamento, teoricamente, sob responsabilidade do Brasil. Porém, a auditoria independente contratada para analisar as contas daquele ano apontou que Brasil e Ucrânia sequer haviam definido o tamanho da responsabilidade brasileira no projeto, ou dos custos e o retorno financeiro na empreitada.

“Não obtivemos evidências totais sobre definição técnica, acerca dos orçamentos da origem financeira e de capital suficiente para retomada e conclusão das obras. Em vista disso, não temos como opinar, como não opinamos, sobre o referido saldo, sobre os efeitos que a incerteza poderá ocasionar na capacidade de continuidade operacional da Binacional, devido à falta de definição da retomada das obras, dos recursos totais necessários para realização do projeto, do orçamento do fluxo de caixa e, consequentemente, sobre o retorno dos investimentos realizados, podendo ocasionar reduções relevantes no ativo e no resultado da Binacional”, diz a auditoria.

No que diz respeito ao pagamento de honorários, a PGFN concluiu que, em 2013, a ACS superou em R$ 12 mil o limite de R$ 4,49 milhões com o pagamento de 22 diretores e conselheiros, fiscais e de administração, dos quais metade é brasileira e a outra, ucraniana. Nesse parecer, a PGFN explicou que os administradores da ACS recebem gratificação natalina, adicional de férias, seguro saúde e auxílio moradia.

No parecer, é citada a necessidade de “fixar em um décimo da remuneração média” dos dirigentes os honorários pagos aos conselheiros, bem como de “vedar o pagamento de qualquer item de remuneração não liberado” pela assembleia geral. A PGFN não detalha a razão dessas observações. Ainda frisou que a remuneração do atual exercício foi apresentada sem “manifestação favorável do Ministério Supervisor nem do Conselho de Administração”.

O GLOBO procurou o MCTI, a PGFN e a Controladoria Geral da União (CGU) para saber quem fiscaliza os gastos da ACS. A CGU e a PGFN asseguraram, por escrito, que não têm mandato para fiscalizar a empresa. O MCTI não respondeu quem fiscaliza a ACS. Também não se manifestou sobre como avalia a eficiência e o controle dos recursos públicos usados no projeto.

Nenhum representante da política espacial aceitou falar sobre os desdobramentos do projeto Cyclone-4 e o que pode ser feito para salvá-lo.

FONTE: O Globo
this is Brasil, and now, Ucrânia. :( :cry:




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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#205 Mensagem por Wingate » Ter Fev 17, 2015 11:28 am

É muita má noticia...quando é que este país vai começar a virar o jogo?

Wingate :roll:




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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#206 Mensagem por LeandroGCard » Ter Fev 17, 2015 11:49 am

Wingate escreveu:É muita má noticia...quando é que este país vai começar a virar o jogo?

Wingate :roll:
A má notícia foi o GF ter bancado meio bilhão nesta brincadeira para nada. Com isso já poderíamos ter desenvolvido um lançador nacional realmente prático para substituir o VLS.

Agora, do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico e industrial nacional a notícia é completamente irrelevante. O programa Cyclone nunca teve nada a ver como nosso próprio programa espacial, nem nenhum potencial de alavancar nada em termos tecnológicos ou industriais no Brasil. As únicas empresas brasileiras envolvidas eram do setor de construção civil e infra-estrutura, que só usaram aquilo que já conheciam antes. Até a Copa do Mundo teve um efeito maior neste segmento. Fora isso, até o combustível do foguete seria importado :roll: .


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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#207 Mensagem por cassiosemasas » Qua Mar 04, 2015 4:25 pm

mais uma péssima noticia para o nosso programa espacial que esta com o dois pés na cova e se segurando em um pé de alface para não cair logo na vala. [001]

Nanossatélite brasileiro de R$ 400 mil é declarado inoperante após falha
Falha na abertura da antena de telemetria impediu funcionamento do satélite.
Cubesat foi feito por equipes do Inpe e do ITA, em São José dos Campos.

Imagem
Imagem feita da Estação Espacial Internacional mostra
o momento em que o Cubesat é lançado no espaço (Foto: Divulgação/AEB)



A Agência Espacial Brasileira divulgou que o primeiro nanossatélite desenvolvido integralmente no Brasil, lançado ao espaço em fevereiro, foi considerado inoperante depois que uma falha em um dos sistemas impediu o funcionamento do equipamento.

A informação consta em comunicado divulgado pela AEB, com base em relatório elaborado pelo corpo técnico do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA, que construiu o equipamento em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe. As instituições ficam em São José dos Campos (SP).
Com investimento de R$ 400 mil, o Cubesat AESP-14 foi lançado em 5 de fevereiro da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).
A não abertura da antena de transmissão de telemetria (responsável por enviar dados do satélite para a Terra) causou o fracasso do projeto.
No relatório encaminhado à AEB, os técnicos do ITA afirmam que essa abertura deveria acontecer 30 minutos depois do lançamento da ISS.
Foram feitas várias tentativas de funcionamento até que a bateria do Cubesat se esgotasse, o que aconteceu cerca de 15 dias depois do objeto estar em órbita.
Imagem
Cubesat AESP-14 era o 1º satélite de pequeno
porte 100% feito no Brasil (Foto: Divulgação/ ITA)


'Satélite de treinamento'
A construção do nanossatélite tinha como objetivo a capacitação de mão de obra para fabricar esses equipamentos no país e a criação de um modelo que pudesse ser copiado em outras plataformas.
Com as dimensões de um cubo, o satélite tinha 10 centímetros nas laterais e pesava cerca de 700 gramas.
A vida útil do equipamento era de cerca de três meses, período em que a comunidade radioamadora receberia aleatoriamente a sequência de 100 arquivos armazenados digitalmente.

Imagem
Satélite Cubesat AESP-14 foi desenvolvido por alunos do ITA. (Foto: Reprodução/ Youtube)

Fonte da matéria




Editado pela última vez por cassiosemasas em Qui Mar 05, 2015 12:20 pm, em um total de 1 vez.
...
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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#208 Mensagem por Skyway » Qua Mar 04, 2015 10:38 pm

Hahauhauhauahahuaha... Isso é projeto de faculdade em outros países, e funciona. Aqui o corpo técnico do ITA e o do INPE, juntos, não conseguem fazer. Deus...

Já cansei de chorar por isso. A desgraça está feita, já fomos jogados a décadas de atraso e essa distância só aumenta. O pessoal tenta, mas a falta de Know-how é evidente e não adianta investir 400 mil em um nanosatélite sem que isso faça parte de um contexto maior de projetos e investimentos. Capacitar mão de obra com o nanosatélite? Por favor...isso é passo maior que a perna nesse momento.




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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#209 Mensagem por juarez castro » Sex Mar 06, 2015 7:32 am

E pensar que os Argies com todos os seus problemas projetaram e construíram seu próprio satélite geoestacionário que foi lançado e está operacional.

Grande abraço




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Re: A Evolução do Programa Espacial Brasileiro

#210 Mensagem por LeandroGCard » Sex Mar 06, 2015 8:56 am

Já disse e repito: Nosso programa espacial está em bases erradas, e por isso não tem como deslanchar.

A maneira mais rápida de colocar a coisa nos trilhos é fechar tudo, deixar o assunto esfriar por alguns anos e depois começar de novo do zero, com outro pessoal e em outras bases. Se isso tivesse sido feito lá atrás, por exemplo à época da explosão do terceiro VLS, teríamos economizado no mínimo cerca de R$ 1 bilhão (pois jamais teríamos entrado em coisas como a aventura tresloucada da ACS) e hoje já poderíamos estar recomeçando e tentando fazer a coisa direito desta vez.


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