FCarvalho escreveu:
Olá Thor, algumas considerações.
Concordo plenamente. Mas é sempre bom lembrar que equacionar da forma necessária, e não apenas ou tão somente possível, e/ou exequível, tais requisitos da nossa defesa aérea, é uma obrigação do Estado brasileiro, para muito além das velhas desculpas e alienação de sempre. Mas não há movimento uniforme neste sentido no Brasil para que tal mudança advir. Até quando o país aguenta essa dicotomia, o tempo e a história dirão.
Concordo 100%. Bem-vindo ao Brasil. Também estou esperando essa mudança da Nação.
Thor, aqui discordo da doutrina atual da FAB. Se a questão fundamenta-se no tempo de reação, com a atual, e previsível estrutura que teremos no médio/longo prazo, tal premissa continuará sendo válida apenas para as regiões cobertas pelo raio de ação dos caças nas bases aérea do sul, sudeste, além de, pontualmente, em AN e MN. Mas jamais para o restante do país, que diga-se de passagem, equivale a mais de 70% do território nacional, e que continuará à mercê do improviso de uma estrutura de defesa aérea; por mais tempo que se tenha para montá-la e dispor da mesma na localidade. Mais aí entramos em outra questão longeva na FAB: cobre-se os pés, ao tempo que se descobre a cabeça. E vice-e-versa.
Neste sentido, sou de opinião, até levando em consideração a questão do tempo de reação aludida, que cada Comar tenha o seu próprio grupo de caça. Horas, se há dificuldades e/ou limitações financeiras de toda ordem para alcançar um padrão necessário, bom, a resposta para isso é o que a própria FAB já vem comprometendo-se a fazer, que é realocar os atuais esquadrões ao longo das bases existentes no norte e centro-oeste, e possivelmente no nordeste no longuíssimo prazo. Não podemos, ou queremos, dispor de um esquadrão de caças no padrão FX, tudo bem, mas que se tenha efetivamente ao menos um por COMAR para que a FAB possa cumprir efetivamente o seu papel. E neste sentido, entendo, a questão do raio de ação dos Gripen é pouco relevante, pois que se tal realocação for realmente levada a efeito, tenho certeza que tais caças poderão cobrir sem maiores problemas ou limitações suas funções de defesa aérea nas ao longo do país, e sem que isso necessariamente seja entendido como uma defesa integral da totalidade do espaço aéreo sob nossa responsabilidade. Até pelo contrário, seria a manutenção do equilíbrio necessário a uma defesa aérea minimamente digna do nome.
Aí eu volto ao que comentei, a realidade geográfica do país. Por exemplo, para esse hipótese imaginada de um conflito inédito em que não haverá escalada de tensões, um Esquadrão apenas no COMAR7 é pouco. Exemplificando, suponha que o Esquadrão de Gripen NG (só para manter o tópico
) esteja localizado em Manaus, e um presidente boliviano ordene seus modernos K-8 bombardear a novíssima hidrelétrica nas proximidades de Porto Velho, por algum motivo qualquer, imprevisto pelo Estado Brasileiro. Ao percebemos a invasão de nosso espaço aéreo, acionaremos os caças F-39E de Manaus. Bem, os K-8 agora estão a 80 Nm de seu alvo, os pilotos do Gripen estão correndo para as aeronaves. Navegando a M .7, os K-8 precisarão de 12 minutos para lançar suas bombas burras. Com doze minutos após o acionamento, os F-39 estarão em subida, ainda na Terminal Manaus, afinal são mais de 400 milhas até o ponto em questão. Por sorte, nossos Gripen tem capacidade supercruise, e podem ir a M1,1 sem precisar acionar PC. Se precisasse, nesse cenário fictício, acredito que nenhuma aeronave seria capaz de ir com PC, combater e voltar em segurança. Graças a isso, considerando 10 minutos de acionamento, subida e ajustes, mais a navegação em super cruise, após 50 minutos os F-39 chegariam no local. Onde estão os K-8? Provavelmente estariam na final para o pouso em suas bases. Agora faça essa reflexão pensando em defender Boa Vista, radares em São Gabriel da Cachoeira e espalhados pela Amazônia.
Novamente, concordo que precisaríamos de mais aeronaves de caça com a possibilidade de mais bases espalhadas por toda a fronteira. Continuo esperando uma mudança de mentalidade da nação, junto com todos os brasileiros aqui deste fórum. Enquanto isso não vem, é assim que será. É assim que o mundo todo faz, basta pesquisar todos os conflitos recentes. Os deslocamentos para o TO são necessários. No Golfo, foram meses de preparação para a coalizão. Inúmeras aeronaves foram deslocadas para a Arábia e três porta aviões para o Golfo Pérsico. Nos balcãs, as aeronaves foram deslocadas para bases na Itália. E por aí vai... O que existe é a preparação para tal. O que podemos fazer é preparar e deixar algo encaminhado, e treinar muito para isso, enquanto não temos uns 20 Esquadrões na região. Deve ser por isso que a COMARA prepara, num trabalho incansável na inóspita amazonia, várias pistas de desdobramento, mesmo sem haver uma base aérea em pleno funcionamento. Deve ser por isso que existe plano da FAB de criar núcleos de bases de Vilhena. Por isso temos o Destacamento de São Gabriel da Cachoeira, que sempre recebe vários esquadrões para treinamentos e missões reais. Por isso que há unidades da FAB espalhada por toda a região para fornecer suporte básico de infraestrutura para operação aérea. São inúmeros destacamentos (Sinop, Eirunepé, Tabatinga, Cruzeiro do Sul, São Gabriel, e outros tantos que nem me lembro).
Creio que todos nós sabemos que a idéia nunca foi essa Thor. Não existe defesa inexpugnável e muito menos defesa capaz de prever, e prover, inclusive, todos os cenários e ameaças possíveis.
Neste sentido, como já comentei, um esquadrão por COMAR já estaria mais do que de bom tamanho para mantermos um nível de prontidão e eficácia da nossa defesa aérea, dando-nos inclusive maior e melhor capacidade de tempo de reação. E para isso, eu pessoalmente acredito que os 120 caças que se diz serão adquiridos do Gripen E/F sejam mais que suficientes para oquê proponho.
Thor, aqui um questionamento sério que faço. Será que nossos militares acreditam mesmo nisso? Será que realmente estamos treinando supondo que teremos todo o tempo do mundo para, quando for necessário , aí sim iremos nos mobilizarmos e organizar a nossa defesa? É isso? Sinceramente, se for, é como eu já disse acima. Ainda estamos pensando a nossa defesa aérea, aliás, não só ela, mas toda ela, como se ainda estivéssemos em 1942 e a capital fosse o Rio de Janeiro e que nada existe além do eixo rio-sp vale a pena se investir. Ou seja, a velha mania brasileira de remediar, ao invés de prevenir.
Eu tinha quase certeza que nossos militares tinham superado essa estranha dicotomia reinante no mundo civil nacional.
Com os meios que temos, infelizmente é essa a realidade. E no mundo, são raríssimas as exceções onde não se pensa em mobilidade. Exemplo disso é a Coreia do Sul, que tem sua doutrina de decolar de suas bases atuais para combater o inimigo declarado. Nem revo eles possuem, mas essa é a realidade daquele cenário. As ordens deles já estão montadas para os primeiros 7 dias de combate. Eles já estão mobilizados. Mas e se a crise com a Coreia do Norte acabar e a ameaça voltar para o Japão? Será que continuarão assim, e se mobilizarão novamente de maneira diferente? Receio dizer, mas essa "estupidez" e pensamento de 1942 não é exclusividade da FAB. Todos pensam assim, e não há maneira diferente de pensar, seja por limitações da física, seja pelo estudo das relações internacionais.
Ele não é pequeno em função disso Thor, é pequeno antes de tudo, em relação as nossas reais necessidades. Enquanto não tratarmos o tema com a devida responsabilidade, ninguém lá fora irá nos levar a sério. Com ou sem caças de 5a geração...
Acho bem legal uma parte da introdução da END, com o qual finalizo esse Off Topic, antes que a moderação delete nossos posts.
Porém, se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe no mundo, precisará estar
preparado para defender-se não somente das agressões, mas também das ameaças.
Vive-se em um mundo em que a intimidação tripudia sobre a boa fé. Nada substitui o
envolvimento do povo brasileiro no debate e na construção da sua própria defesa.
Pelo menos nós, do Fórum DB, fazemos a nossa parte.
Abraços