30/08/2014 - 08:32
Diplomacia
O silêncio dos Brics
Em artigo, Jaswant Singh cobra dos países emergentes, incluindo o Brasil, uma postura enérgica contra os abusos de Vladimir Putin na Ucrânia
Os países emergentes do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) (Sabelo Mngoma/AP/VEJA)
O mundo, ao que parece, está dominado por uma anomia geopolítica. Nenhum líder, grupo de líderes ou instituição reúne autoridade suficiente para restaurar algo parecido com a paz e a ordem internacionais. Para muitos, esta falta de direção global faz lembrar a caminhada sonâmbula da Europa rumo à catástrofe de 100 anos atrás.
Há certamente algumas semelhanças incríveis entre os acontecimentos de hoje e os daquele momento fatídico. A queda do voo MH17 da Malaysia Airlines no leste da Ucrânia ecoou o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, em 1914, por sua imprudência – isso sem mencionar o fracasso dos governos e cidadãos em reconhecer que a rivalidade diplomática rapidamente pode dar lugar à violência.
De fato, mesmo após a Rússia anexar a Crimeia e fomentar movimentos separatistas no leste da Ucrânia, as companhias aéreas não consideraram necessário replanejar as rotas dos voos. Isto refletiu na reação da comunidade internacional – ou na falta dela – aos desdobramentos ameaçadores. Com as forças russas tendo agora participação direta na agitação do leste ucraniano, o fósforo aceso pelo presidente Vladimir Putin pode acender a chama de um conflito.
Muita fumaça é vista sobre o fogo na cidade de Novoazovsk, na região de Donetsk, ao sul da Ucrânia, em 27/08/2014. O país solicitou ajuda da OTAN depois de relatar que um grande comboio de tanques e armamentos russos estava se movendo ao sudeste das fronteiras ucranianas - Sergei Grits/AP
Pouco antes de a União Soviética se dissolver por completo, perguntei a Zbigniew Brzezinski, que foi conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos durante o mandato do presidente Jimmy Carter, o que o mundo deveria esperar da Rússia pós-URSS. Ele respondeu que a dissolução da União Soviética traria uma nova era de paz mundial, se – e apenas nessas condições – a Rússia se mantivesse dentro de seus limites geográficos.
Este é um caminho que evidentemente não interessa a Putin, que agora comanda a mais recente cruzada russa, depois da sua guerra com a Geórgia, em 2008, para resgatar parte de seu império perdido. A “história” que, segundo Francis Fukuyama, era para ter acabado com o colapso do comunismo, ganhou novo fôlego. No capitalismo autoritário de Putin – similar ao chinês – a democracia liberal, ao estilo ocidental, que deveria reinar triunfante, tem um novo rival.
Do ponto de vista de Putin, faz sentido a Rússia ter como foco a Ucrânia. A subordinação da Ucrânia é essencial para a tentativa de Putin de estabelecer a União Eurasiana, com a Rússia como líder, como uma alternativa à União Europeia. Além disso, os líderes russos sempre viram a Ucrânia como uma zona de segurança importante, também por ser uma rota para a exportação de energia, da qual depende a economia russa.
Esta não é a primeira vez que Putin preocupa-se com uma virada da Ucrânia para o Ocidente. Durante a Revolução Laranja do país, em 2004, Putin acreditava que a CIA estava por trás dos protestos generalizados que bloquearam a tentativa de Viktor Yanukovych de roubar as eleições presidenciais. Mas a escala dos protestos, junto com o apoio do Ocidente aos manifestantes, obrigou Putin a se abster de intervir diretamente. Em vez de iniciar uma campanha militar – explícita ou não – ele usou as exportações de energia e incentivos financeiros para manter o governo da Ucrânia sob controle.
Desta vez, Putin escolheu a intervenção militar – uma decisão que se mostrou devastadora para a Rússia. As sanções ocidentais impulsionaram a fuga de capitais em uma escala similar no país apenas àquela dos primeiros anos que seguiram a transição para o comunismo.
Além disso, a decisão do banco central de não defender o rublo, em forte queda, junto com a proibição de Putin à importação de alimentos do Ocidente, levará a um brusco declínio do padrão de vida e crescente sentimento de isolamento global. Como resultado, é provável que diminua o apoio ao presidente russo.
O conflito no leste da Ucrânia lembra uma guerra de gangues, sem leis ou limites. E a União Europeia absteve-se por muito tempo de tomar uma ação decisiva que fosse comprometer os interesses econômicos de membros influentes como França, Alemanha e Reino Unido. Pouco antes de a União Europeia finalmente reforçar as suas sanções, em fins de julho, Marietje Schaake, uma deputada holandesa, observou que praticamente todas as nações europeias haviam “voluntariamente empoderado o Sr. Putin, permitindo que jogasse os países uns contra os outros”.
Assim, logo após a queda do voo MH17, o presidente americano Barack Obama, como explicou Geoff Dyer, estava “dividido entre uma estratégia de caminhar junto com a Europa e o clamor para uma resposta americana decisiva”.
Se a resposta do Ocidente para a crise na Ucrânia foi fraca e mal orientada, a reação das potências mundiais emergentes foi de cegueira deliberada. A China, por exemplo, apoiou efetivamente a anexação russa da Crimeia e a intervenção no leste ucraniano. Isso devia ter alarmado a Índia, dadas às reivindicações chinesas de grandes porções de territórios soberanos do país, mas ainda não há sinal de que alguém tenha notado.
Levando em consideração a história da Índia, isto não é nada chocante. Quando a União Soviética invadiu o Afeganistão em 1979, a Índia não expressou explicitamente sua desaprovação. De fato, a Índia repetidamente absteve-se das resoluções das Nações Unidas, que exigiam a retirada das forças soviéticas – resoluções que tiveram apoio total de outros países não alinhados.
No fim dos anos 1980, quando a União Soviética buscou uma saída segura e honrada do Afeganistão, a Índia já não tinha autoridade para ajudar. Quando os soviéticos se foram, o país já não podia ter um papel importante no futuro do Afeganistão.
Quando os alicerces da ordem mundial são ameaçados, as potências não devem assumir uma política de inércia e silêncio. De sua parte, potências emergentes como Índia, Brasil, África do Sul e Turquia devem, no mínimo, defender categórica e ruidosamente as regras fundamentais do sistema internacional que os permitiu crescer e prosperar. Caso contrário, quando os líderes mundiais finalmente acordarem e agirem, podem descobrir que esbarraram em mais uma catástrofe global.
Jaswant Singh é ex-ministro de Finanças, das Relações Exteriores e da Defesa da Índia e autor dos livros 'Jinnah: Índia - Partilha - Independência' e 'Índia em Risco: Erros, Ideias Errôneas e Aventuras Mal Conduzidas na Política de Segurança'.
(Tradução: Roseli Honório)
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Re: GEOPOLÍTICA
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Re: GEOPOLÍTICA
Eu parei por aqui. As potencias do ocidente deveria pensar em direitos humanos e refletir sobre abusos antes de jogar a líbia no caos institucional. Antes de promover o derramamento de sangue na Síria e o caos e pela guerra civil na Ucrânia e no Iraque.akivrx78 escreveu:30/08/2014 - 08:32
Diplomacia
O silêncio dos Brics
Em artigo, Jaswant Singh cobra dos países emergentes, incluindo o Brasil, uma postura enérgica contra os abusos de Vladimir Putin na Ucrânia
Os direitos humanos e preocupação com abusos só ocorrem quando convém aos poderes que emanam de Washington e seus capachos.
O único abuso que eu vejo aqui é os países do ocidente fazendo promessas e criando ilusões no governo de Kiev.
Todo mundo sabe que a aceitação da ucrânia na OTAN ou na União Européia não é algo automático. Existe um longo processo e o governo ucraniano terão que cumprir uma série de requisitos e fazer a lição de casa. O Governo da Ucrânia terá que trabalhar duro, e passar por dolorosas reformas até que a integração deles a UE seja de fato encarada com mais seriedade.
Ao manter ilusões vivas no governo ucraniano a UE prejudica qualquer esforço politico que visa alcançar a paz e terminar definitivamente com a guerra civil.
Isolar a Rússia como querem alguns é uma irresponsabilidade, o tipo de isolamento proposto pelas potencias ocidentais soa como uma declaração de guerra, ainda bem que os BRICS não estão dispostos a compactuar com uma insanidade destas.
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Re: GEOPOLÍTICA
Canhões de agosto
Em setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia com uma desculpa esfarrapada, a mesma usada hoje por Putin
Francisco G. Basterra 31 AGO 2014 - 12:30 BRT
Agosto é um mês propício para os canhões. Faz um século quando eles soaram na Europa para desencadear a Primeira Guerra Mundial. O fusível definitivo que provocou a guerra para acabar com todas as guerras foi a violação das fronteiras da pequena Bélgica por parte dos exércitos da Alemanha do kaiser Guilherme II. No começo de setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia violando sua fronteira com uma desculpa esfarrapada e com a filosofia de proteger os alemães em uma nação vizinha, a mesma que Putin usa hoje na Ucrânia.
A Rússia de Putin ameaça a Europa. A história dá um passo atrás em sua pior acepção, a militar
Hoje o mundo é completamente diferente e ninguém imagina que estejamos à beira de uma hecatombe dessas proporções. No entanto, os canhões voltaram a ressoar neste agosto de 2014 na fronteira oriental da Europa, onde uma antiga superpotência, que busca recuperar seu prestígio e sua influência imperiais, persiste em sua tentativa de desestabilização de uma nação soberana e viola as fronteiras da Ucrânia com repetidas invasões militares.
A Rússia de Putin ameaça estrategicamente a Europa, que sofre uma explosão procedente do passado, na descrição do ex-ministro alemão de Relações Exteriores, Joschka Fischer. É evidente o princípio de que os territórios não se adquirem pela força. A Rússia engoliu a Crimeia diante do espanto da Europa. Em julho, um míssil terra-ar russo derrubou um avião civil com 300 passageiros sobre um campo de girassóis da Ucrânia. A União Europeia negociou várias sanções contra Putin. Excepcionalmente parecia que as velhas nações europeias tinham uma estratégia comum diante da constante violação da integridade da Ucrânia.
A OTAN, despertada pela crise ucraniana, estuda reforçar militarmente os países bálticos em fronteira com a Rússia. A história dá um passo atrás em sua pior acepção, a militar, enquanto os satélites espiões detectam a entrada na Ucrânia de artilharia autopropulsada, veículos blindados e sofisticados mísseis terra-ar russos. Uma tempestade se aproxima para uma União Europeia ainda presa pelo vírus da crise econômica, de um crescimento anêmico e de um desemprego insuportável.
Os canhões de agosto também soaram no arco do Oriente Médio, uma região vizinha à Europa capaz de exportar para a região a ameaça islâmica. Obama, o prudente, compreendeu o fim da onipotência dos EUA para apagar os fogos internacionais, depois de duas guerras perdidas no Iraque e no Afeganistão e a surpreendente aparição do Estado Islâmico. Mas é consciente da necessidade de deter o islamismo terrorista e seu projeto de califado mundial, assim como o expansionismo de Putin. Mas sem uma confrontação militar norte-americana com a Rússia ou na Síria. A inaceitável escalada de Putin na Ucrânia será respondida com o aperto das sanções econômicas e com a mobilização da comunidade internacional. Obama estará na Europa na próxima semana na reunião da OTAN em Cardiff. Os canhões de agosto terão uma resposta política.
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Re: GEOPOLÍTICA
Sem querer defender as ações recentes da Rússia, que são tão ruins quanto a incitação da UE e principalmente dos EUA à derrubada do governo ucraniano anterior, a comparação da intervenção russa atual com as invasões alemães da Bélgica na PGM e da Polônia na SGM são totalmente descabidas.akivrx78 escreveu:Canhões de agosto
Em setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia com uma desculpa esfarrapada, a mesma usada hoje por Putin
Francisco G. Basterra 31 AGO 2014 - 12:30 BRT
Agosto é um mês propício para os canhões. Faz um século quando eles soaram na Europa para desencadear a Primeira Guerra Mundial. O fusível definitivo que provocou a guerra para acabar com todas as guerras foi a violação das fronteiras da pequena Bélgica por parte dos exércitos da Alemanha do kaiser Guilherme II. No começo de setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia violando sua fronteira com uma desculpa esfarrapada e com a filosofia de proteger os alemães em uma nação vizinha, a mesma que Putin usa hoje na Ucrânia.
A invasão da Bélgica em 1914 foi apenas o início de uma guerra total contra França que incluiu não só a ocupação do território belga mas também da Holanda (ações que arrastaram a Inglaterra para a guerra) e a entrada em massa de exércitos alemães no norte da França. E a invasão da Polônia foi apenas o início de uma tentativa de conquista territorial do leste da Europa visando a ocupação do território por alemães, e incluindo a escravização e o extermínio das populações eslavas locais.
É um total disparate querer comparar isso com a ação limitada e envergonhada dos russos agora para evitar que seus aliados na região leste da Ucrânia sejam totalmente desbaratados e o governo de Kiev se volte livremente para um engajamento total com o ocidente. Fora a retomada da Crimeia (que era russa de fato a até pouco tempo atrás e é uma região geográfica estratégica para a Rússia) não há indícios de que Putin deseje (ou sequer possa) estender a guerra para outras regiões da Ucrânia, e muito menos invadir qualquer outro país que seja. Isso é muito mais propaganda do que qualquer outra coisa.
Leandro G. Card
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Re: GEOPOLÍTICA
ONU pede respeito à Constituição após possível golpe em Lesoto
Redação São Paulo - 31/08/2014 - 12h46
Primeiro-ministro do país fugiu para a África do Sul após militares tomarem controle de polícia e telecomunicações; Exército nega que tenha dado golpe
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu neste domingo (31/08) que a ordem constitucional em Lesoto seja respeitada. No sábado (30/08), militares tomaram ações que o governo do país encravado na África do Sul classificou como “golpe de Estado”.
Ban Ki-moon sinalizou, também, que gostaria que ambas as partes "se abstivessem de cometer atos de violência e trabassem juntas a favor de uma solução de suas diferenças pacífica e duradoura".
Agência Efe
Ban Ki-moon pediu respeito à ordem constitucional em Lesoto
O primeiro-ministro de Lesoto, Thomas Thabane, fugiu no sábado para África do Sul e ali denunciou um golpe militar no país, depois que tropas militares tomaram o controle do quartel da polícia e estações de rádio e telecomunicações.
No entanto, o porta-voz dos militares, Ntlele Ntoi, negou que tenha havido um golpe, e assegurou que só se tratou de uma operação para evitar que a polícia vendesse armas a alguns partidos.
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Re: GEOPOLÍTICA
Modi e Abe em turnê em Kyoto com a ascensão da China na agenda Indiana
Líderes Desconfiam de atividades marítimas de Pequim, indianos e japoneses buscam atualizar laços de segurança
ATUALIZADO: segunda-feira, 1 de setembro, 2014, 04:23
Agence France-Presse em Kyoto
Narendra Modi e Shinzo Abe visitar o Templo Toji em Kyoto. Foto: AP
Primeiro-Ministro indiano Narendra Modi visitou a antiga cidade japonesa de Kyoto, ontem, no segundo dia de uma visita destinada a reforçar a segurança e as relações económicas e contra uma China cada vez mais assertiva.
Modi foi acompanhado pelo primeiro-ministro Shinzo Abe em sua visita a um templo histórico, um dia depois ele teve um jantar privado com o líder japonês.
É incomum para um primeiro-ministro japonês ir cumprimentar um convidado estrangeiro fora de Tóquio.
Os dois líderes visitaram o templo budista de 1.200 anos de Toji, Património Mundial da Humanidade, e ofereceu orações em frente de estátuas antigas na manhã de ontem.
Eles também levaram a uma curta caminhada perto de um templo de cinco andares, na companhia de um padre. Budismo, nascido no subcontinente indiano, foi trazido para o Japão através da China e da Coréia no século VI. No final do dia Modi conheceu vencedor do Prêmio Nobel pesquisador de células-tronco Shinya Yamanaka, que dirige o Centro de iPS Cell Research and Application na Universidade de Kyoto e informou o líder indiano sobre a investigação de ponta que está sendo realizado.
Modi realizará uma cúpula oficial com Abe em Tóquio hoje, bem como reuniões com líderes empresariais. Ambas as nações esperam conter a alta atividade de Pequim no Oriente, Sul da China e no Oceano Índico.
Em Nova Délhi, o primeiro-ministro indiano disse a mídia japonesa em uma entrevista na semana passada que os dois países poderiam fazer um "upgrade" das suas relações em matéria de defesa e segurança.
"Eu vejo nas recentes mudanças nas políticas e regulamentos a possibilidade de se envolver em uma nova era de cooperação em matéria de tecnologia de defesa de ponta e equipamentos de exportação de defesa do Japão", disse ele.
Na cúpula dos dois premiers são susceptíveis de chegar a acordo sobre o lançamento de um quadro consultivo "dois mais dois" de segurança envolvendo os ministros das Relações Exteriores e de Defesa, de acordo com a mídia japonesa. Índia e Japão também vai tentar concluir as negociações sobre um acordo nuclear civil que permita Tóquio para exportar tecnologia nuclear relacionados com a Nova Delhi, segundo relatos.
Eles também são esperados para decidirem em colaborar em produzir terras raras que podem ser exportados para o Japão, um movimento que iria reduzir ainda mais a dependência do Japão sobre a China para o fornecimento de tais minerais.
01 de setembro de 2014
Japão vai injetar $ 33 bi um empurrão na infraestrutura, Modi tem esperança de acordo nuclear
imagem Reuters
O primeiro-ministro indiano disse que tinha tomado decisões que só iria reforçar os laços entre as duas nações.
Ele apontou para a promessa de maior investimento como um sinal de melhorar os laços entre as duas nações.
Os acordos assinados entre os dois países mostrou que poderia haver cooperação entre os dois países em diversas áreas e estaria ligado às aspirações do povo, disse Modi.
"Eu acredito que este é um novo amanhecer em nossas relações", disse Modi.
O primeiro-ministro disse que houve progresso em um acordo nuclear civil e não tinha havido discussões sobre o assunto.
"Nós pedimos funcionários em nossa extremidade para levá-la para a frente de modo que não pode haver cooperação estratégica sobre a questão", disse Modi.
O primeiro-ministro disse que espera que algumas sanções a empresas indianas seria levantado e disse que o acordo sobre equipamentos de defesa mostrou que as relações entre os dois países tinha melhorado.
O primeiro-ministro indiano disse que a melhoria das relações entre os dois países seria melhor para o mundo e reiterou que o mundo tinha certeza de que o século 20 seria pertencem à Ásia.
"No entanto, o que importa são as relações entre a Índia eo Japão e como eles tomam suas relações para a frente", disse Modi.
Ele disse que a cooperação entre os dois países poderiam se beneficiar outros países e não apenas na Ásia.
Modi agradeceu Abe por sua hospitalidade e disse que a amizade do Japão importava muito para a Índia para o futuro.
O primeiro-ministro indiano disse que a coisa mais importante que surgiu entre as duas nações foi a parceria estratégica e global especial que eles tinham concordado em forjar.
"Na minha opinião estes não são apenas palavras ou uma mudança na categoria. Estamos muito sério sobre isso e estamos confiantes de que esta nova parceria terá um papel importante a desempenhar no futuro", disse Modi.
Modi disse que Abe prometeu que o Japão vai participar do plano da Índia para o desenvolvimento inclusivo.
O primeiro-ministro indiano saudou a decisão do primeiro-ministro japonês a investir Rs 2.10 lakh crore na economia indiana, através de fundos públicos e privados para o financiamento de infra-estrutura.
Modi disse que a promessa de investimento foi um sinal de que o primeiro-ministro japonês entendeu a visão que ele teve para o país. Ele disse que havia sido prometido completa cooperação na purificação do rio Ganges pelo primeiro-ministro japonês.
O primeiro-ministro japonês disse que o país irá dobrar seu investimento na Índia nos próximos cinco anos.
O primeiro-ministro japonês também reafirmou a cooperação para o projeto do trem-bala na Índia.
"Acima de cooperação nuclear tem havido progressos ao longo dos últimos meses. Que eu era capaz de ter discussões com PM Modi sobre a questão e nós fomos capazes de aprofundar nossa compreensão de ambos os lados", disse Abe.
Ele disse que tanto Modi e ele pediu funcionários para acelerar o processo de reforçar a sua parceria.
Chamando-o de seu "velho amigo", o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, disse que as relações entre a Índia eo Japão
"Nós concordamos em acordos globais de defesa e cooperação de segurança", disse Abe.
Isso inclui o fornecimento de veículos anfíbios e uma maior coordenação em matéria de segurança marítima.
O Japão também manifestou a sua disposição para fornecer apoio financeiro, técnico e operacional para introduzir trens-bala na Índia. Portanto, parece que o projeto será na via rápida, afinal.
PTI informou que o Japão anunciou que vai dar 3,5 trilhões de ienes (mais de US$ 33,58 bilhões)
para a Índia, em cinco anos para financiar projetos de infra-estrutura, incluindo e construção de cidades inteligentes.
O primeiro-ministro Narendra Modi, que está em uma viagem de cinco dias ao Japão, garantiu hoje delegados de negócios em Tóquio que o governo indiano decidiu criar uma equipe especial do Gabinete do Primeiro-Ministro para facilitar investimentos japoneses para a Índia.
Falando em uma cúpula em Tóquio, Modi prometeu aos investidores que a boa governação e facilidade de negócio são suas prioridades, a fim de facilitar o investimento no país.
"Folga única janela faz parte da boa governação e todas as iniciativas tomadas pelo nosso governo nos últimos 100 dias já está mostrando resultados .. Eu posso prometer-lhe que nos próximos dias você vai ter a mesma velocidade e resposta como você testemunhou em Gujarat ", disse Modi hoje.
Ele também disse que a Índia quer seguir modelo de desenvolvimento de competências e de pesquisa do Japão, a fim de cumprir a exigência da força de trabalho mundial até 2020.
"O século 21 pertencerá à Ásia. Todo o mundo a aceite. A questão em minha mente é-Como é que vai ser? Temos de dar esta resposta .. e Índia e Japão precisam aprofundar os laços a fim de conseguir isso", disse Modi.
Índia precisa de crescimento económico mais rápido para criar trabalho para os um milhão de jovens que entram no mercado de trabalho a cada mês.
O governo Modi já permitiu investidores estrangeiros a investir até 100 por cento em projectos ferroviários e com um olho em angariar interesse em construir a resposta da Índia para a alta velocidade do Japão trens 'bala'. Ele também está cortejando investimentos japoneses em um ambicioso "corredor" industrial entre Delhi e Mumbai.
Modi prometeu hoje os investidores de que desde que a Índia tem um governo central, com uma maioria de votos, após 30 anos, a prestação de contas e responsabilidade também são as principais conventos do governo.
Com um tal governo orientado por políticas que não favorecem uma corporativo sobre o outro, ele vai ajudar a empresa ajuda e investimento no país, acrescentou.
Do Japão Honda Motor Co Ltd, Suzuki Co Ltd, Sony Corp e Toyota Motor Corp são nomes conhecidos na Índia. No entanto, a Índia representa apenas 1,2 por cento do investimento externo total do Japão direto estrangeiro.
Modi, em sua primeira grande visita ao exterior desde que uma vitória eleitoral esmagadora maio, chegou no sábado no Japão para uma viagem de cinco dias com o objectivo de capitalizar uma afinidade pessoal com a japonesa Prime Minsiter Shinzo Abe para reforçar a segurança e negócios laços em face da uma China assertiva.
Também em discussão será apresentada uma proposta para formalizar uma "dois mais dois" formato para conversações que reúnem os ministros das Relações Exteriores e da Defesa dos dois países, ea possível venda de uma aeronave anfíbia para a Marinha da Índia.
Índia e Japão também provavelmente vai concordar em realizar exercícios conjuntos regulares em defesa marítima, alguns dos quais irão envolver os Estados Unidos, bem como, de acordo com um relatório.
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Re: GEOPOLÍTICA
China May Be Biggest Winner From Ukraine Crisis
Talks in July between Russia's President Vladimir Putin, second from left, with his Chinese counterpart, Xi Jinping, right, in Fortaleza, Brazil, came as the two countries find an increasing number of areas of policy overlap.
September 01, 2014 9:26 AM
Thousands of miles away from the Ukrainian battlefields of Donetsk and Novoazovsk sits the country that may end up being the largest beneficiary of the turmoil along Russia’s southwest border: China.
With Russian President Vladimir Putin rewriting the playbook on security in post-Cold War Europe, Beijing has watched warily 3,700 miles to the east, though without protest or interference.
Its abstention from a U.N. Security Council resolution vote in March that condemned Russia’s annexation of Crimea was unusual, given Beijing’s traditional stance on such votes, but it comes as bilateral ties have been on the upswing for years now.
Two generations ago, ties between Leonid Brezhnev’s Russia and Mao Zedong’s China were fraught. The two fought small-scale skirmishes in 1969 along the Ussuri River border (the Wusuli in Chinese) that almost resulted in war.
That’s a distant memory now.
“China may win out” from the Ukraine crisis? asked Martha Brill Olcott, a longtime scholar of Russia and Central Asian politics. “I think the word is ‘will.’ China ‘will’ absolutely benefit.”
Strategic goals
Where neighboring countries are concerned, the only nation with a military currently capable of taking on Russia’s full scale is China.
Russia has plenty to be wary of: tens of millions of Chinese live across the border from a Russian region that is virtually devoid of people and home to an astounding wealth of natural resources.
Most of the population is packed into the tiny sliver of land on the Pacific coast known as Primorye, a sliver that blocks China from having access to the Sea of Japan.
Goodwill with Beijing is important, and by keeping China unthreatened, Moscow helps secure its “strategic rear,” said Andrew Kuchins, director of the Russia and Eurasia program at the Center for Strategic and International Studies.
“It’s important for them, and I think particularly for Russia, to create mutual vulnerabilities which helps to secure those rears so that China will not move in the direction of Russia in a military way,” Kuchins said at a recent roundtable discussion in Washington.
Where China benefits from the Ukraine crisis most is because of the distraction, said Robert Daly, who heads the Wilson Center’s Kissinger Institute on China and the United States.
Russia’s actions divert attention from China’s own simmering internal conflicts.
Equally, Beijing benefits because Washington is focused on the security needs of its European allies, rather than the four-year-old “pivot to Asia” that some in China viewed as threatening.
“The single biggest benefit is that for China, events in Ukraine, Iraq, Syria; these are the latest major events that distract the United States from carrying out the rebalance to the East,” Kuchins said.
Geographic aims
In former Soviet Central Asia – home to countries like Kazakhstan and Uzbekistan – Russia and China, and to a lesser degree the United States, Turkey and Europe, have been engaged in a slow-motion chessboard shuffle, trying to build new relationships or bolster old ones.
The Kremlin’s influence over its former republics isn’t what it used to be, but Moscow has sought to build on longstanding cultural, linguistic, economic and social ties to make sure it can still pull levers when it has to.
China joined a Russia-led security group comprised mainly of Central Asian nations known as the Shanghai Cooperation Organization.
Set up in 2001, the SCO was ostensibly aimed at monitoring regional terrorist threats, though many analysts viewed it also as a way for the two rivals to keep a close eye on one another.
It’s also a way to minimize influence of the United States, which fostered close military ties with Kyrgyzstan and Uzbekistan after the Sept. 11 attacks but whose influence has since diminished.
The Ukraine crisis was a wake-up call for Central Asian leaders, experts say, particularly for those countries with sizable Russian populations like Kazakhstan.
“Internally, in Central Asia, at high levels, there’s really been the sense that there’s a crisis time coming in Russia, and the question was when,” said Olcott, who has ties to many of the region’s elites.
“It’s going to make it easier for the Chinese to get what they want. It certainly will change how the SCO is going to operate, leaving Russia potentially even more isolated both in the SCO and Central Asia more broadly," she said.
“The Central Asians are clearly afraid of Russia, but it’s not clear the Russians have the ability. ... The question for the Central Asians will be: Does Russia have the capacity to do this at the same time?” Olcott added.
Economic needs
The Kremlin has looked to the East for years as a hedge against the possibility that European markets might suddenly be less welcoming to Russian products.
Above all, this is about oil and gas. Russia is currently the dominant source for Europe’s energy needs. But disputes with Ukraine that predate the current crisis have led to calls in European capitals to diversify away from Russian sources.
So Russia has turned east. Gas from the Pacific island of Sakhalin is flowing via the Primorye region, and a spur cutting south from the Eastern Siberia Pacific Ocean pipeline brings more than 300,000 barrels a day south into the industrial city of Daqing.
The $400 billion, 30-year deal signed in May to bring gas from Siberian fields into China’s northern industrial regions is the biggest example to date of Russia’s turn to eastern markets. Most industry watchers, however, think Beijing got the better deal.
“With Putin, he was very much on the back foot here, big time. He wanted to say to the Europeans, we don’t have to sell it to you. He wanted to say to the Europeans that you can stick your gas where the sun don’t shine,” said Malcolm Graham-Wood, with the British energy consultancy HydroCarbon Capital.
"But “it’s massively Chinese weighted. Putin is selling Russian gas on the cheap, at a big discount… The clear winner is China. They’re taking the long view on this,” he said.
Oil and gas may be primary, but there are other trade opportunities lurking.
The Kremlin’s imposition of retaliatory sanctions last month barred many consumer products from European and North American countries.
Chinese entrepreneurs are already gearing up to fill the holes in Russian supermarkets shelves, said one executive at a company called Shandong Goodfarmer, the largest Chinese exporter of apples, garlic and ginger.
“With an entire year of the ban, the Russian produce market is bound to experience a shortage of supply in the coming year, which is a huge opportunity for the Chinese produce industry,” Lu Zuoqi told the trade publication, freshfruitportal.com, on Aug. 12.
Military means
China’s military doesn’t want for manpower. With an estimated 2.2 million personnel, the People’s Liberation Army is the world’s largest.
Where its shortcomings are is in sophisticated technologies that would make another military superpower think twice about intervening in places that Beijing considers its core strategic interest.
Russia’s military spending is on the upswing: up 92 percent in nominal terms since 2010, according to IHS Jane’s Defence Weekly. Russia’s weapons makers – think Sukhoi, MiG, Zvezda, Almaz-Antey – are happy to benefit from this largesse, but the Defense Ministry isn’t their only client.
State-run arms dealer Rosoboronexport has been expanding its customer base for years, trying to gain market share from the world’s largest arms dealer, the United States.
Moscow has sold diesel attack submarines to Vietnam and Sukoi fighter jets and Mil helicopters to India in past years.
The Stockholm International Peace Research Institute estimates that since 2009, half of all Russian arms sales went to India and China.
China is also opening the budget spigots for military spending.
Its 2014 military budget was set at 12.2 percent over previous years. Stepping up purchases is a priority, but so is developing indigenous systems, particularly for theater-specific weapons known as “access-denial.”
The idea is to build an arsenal that can keep unwanted intruders (think the United States) out of places China doesn’t want it to be (think the Taiwan Strait). Russian-built S-300 anti-aircraft defense systems or Kh-35 anti-ship missiles fit that bill nicely
Submarines as well as aircraft carriers fit that bill, too. China’s first is a Soviet ship inherited by Ukraine after 1991 and then overhauled and sold to Beijing.
The idea is “to raise the cost of US/NATO intervention virtually anywhere,” Kuchins, of CSIS, said. “That’s useful for the Chinese, that’s useful for the Syrians, that’s useful for a number of other clients. This puts an emphasis on anti-air, and anti-ship technologies, key for Russian arms sales.”
Domestic agenda
China has been less than happy about Putin’s decision to foment insurgency in another country. That’s because China has plenty of internal unrest of its own to handle: the Tibetans, the Uighurs, for example, analysts say.
The Ukraine crisis may end up changing that calculus as Russia, seeking to build goodwill with Beijing, moves to openly back China in its own territorial disputes. East China Sea, anyone?
“The Russians may move from their studied neutral opposition vis-a-vis Chinese territorial disputes in the East in order that the Chinese might support the Russians so that they have more running room in the areas that the Russians are more concerned about,” Kuchins said.
At the Security Council vote, when Western powers pushed a resolution condemning Russia for annexing Crimea, Beijing abstained rather than vetoed the measure alongside Moscow. Some experts interpreted that as a rebuke to Russia.
Others, however, said the abstention, along with Beijing’s unwillingness to join in Western sanctions against Russia, is a better indicator of the emerging policy between the two giants.
“Such a stance by China should be interpreted as nothing other than benevolent neutrality toward the Kremlin,” said Artyom Lukin, deputy director of the School of Regional and International Studies at Russia’s Far Eastern Federal University, in an article published in March.
“One may suspect that, in exchange, Beijing would expect from Moscow the same kind of ‘benevolent neutrality,’ for example, regarding its actions in East Asia and the Western Pacific,” he said.
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Re: GEOPOLÍTICA
Ucrânia, Iraque e a estratégia do Mar Negro
Os Estados Unidos precisam pensar a crise na Ucrânia e a ação do Estado Islâmico no Iraque não mais como conflitos separados, mas como aspectos de um teatro de operações muito maior.
Por George Friedman - Texto do Stratfor
Tradução, adaptação e edição - Nicholle Murmel
O Estados Unidos estão, neste momento, desestabilizados. O país enfrenta desafios no teatro Síria-Iraque, bem como na Ucrânia, e não tem respostas claras para nenhum dos casos. Não se sabe como seria o sucesso nos dois fronts, quais recursos estão prontos para serem investidos em cada um, nem se as consequências de uma derrota seriam gerenciáveis.
Um dilema desse tipo não é incomum para uma potência global. A própria abrangência dos interesses e a extensão desse poder amricano dão precedentes para eventos que geram incerteza e confusão. A geografia e o poder dos EUA permitem um grau de incerteza sem que se chegue ao desastre, mas criar uma estratégia coerente e integrada é necessário, mesmo que essa estratégia seja apenas se afastar e deixar que os acontecimentos se desenrolem. Não estou sugerindo essa opção, mas proponho que, em algum momento, a confusão precisa seguir seu rumo e intensões claras devem surgir. E quando surgirem, o resultado será a coerência de um novo mapa estratégico que engloba esses dois conflitos.
A questão mais crítica para os EUA é criar um plano integrado que considere os desafios mais urgentes. Esse plano deve começar pela definição de um teatro de operações coerente o bastante em termos geográficos, para que se possa integrar manobrabilidade política e planejamento militar. Do ponto de vista tático, pode não ser possível atuar nos dois cenários ao mesmo tempo, mas é essencial estabelecer um centro de gravidade de onde partem as operações. E está cada vez mais claro que esse centro é o Mar Negro.
A Ucrânia e o complexo Síria-Iraque
São dois os pontos de ação militar com ampla relevância potencial. Um é a Ucrânia, onde os russos lançaram contraofensivas na região da Crimeia. O outro engloba Síria e Iraque, onde forças do Estado Islâmico (EI) lançaram ataques para, no mínimo, controlar áreas específicas nos dois países e, no máximo, dominar o território entre o Levante e o Irã.
De modo geral, não há conexão entre esses dois cenários. No entanto, os russos têm problemas constantes do alto Cáucaso e há relatos de analistas chechenos trabalhando junto ao Estado Islâmico. Nesse sentido, os russos estão muito mais à vontade com o que acontece na Síria e no Iraque. Ao mesmo tempo, qualquer coisa que desvie a atenção americana da Ucrânia beneficia a Rússia. Já no Oriente Médio, o EI se oporá a Moscou no longo prazo. Porém, seu problema mais imediato é o poder estadunidense na região, então qualquer coisa que distraia Washington favorece o califado fundamentalista.
É importante considerar que a crise na Ucrânia tem uma dinâmica política completamente diferente do que acontece no Iraque. As forças russas e as do EI não têm nenhuma forma de coordenação, e, no fim, a vitória para um deles se chocaria com os interesses do outro. Mas para os Estados Unidos, que precisam ter cuidado ao direcionar atenção, vontade política e poder militar, as duas crises precisam ser pensadas de forma conjunta.
Os EUA estão no processo de limitar seu envolvimento no Oriente Médio enquanto tentam lidar com a instabilidade na Ucrânia. O governo Obama busca criar um Iraque integrado e livre de jihadistas, e ao mesmo tempo levar a Rùssia a ceitar uma Ucrânia pró-Ocidente. O país também não quer deslocar grandes contingentes militares para nenhum dos locais. O dilema é como atingir esses objetivos sem riscos. E se não for possível, quais riscos os EUA estão dispostos ou serão obrigados a aceitar?
Estratégias que minimizem os riscos e gerem máxima influência são algo racional a se almejar, e deveriam fazer parte da política externa de qualquer país. Segundo essa lógica, as ações americanas deve ser voltada a manter o equilíbrio de poder nas regiões através de representantes locais, e fornecer apoio material a esses representantes, mas evitando envolvimento militar direto até que não haja opção. O mais importante é garantir apoio de modo a acabar com a necessidade de intervenção direta.
No teatro Síria-Iraque, Washington trocou a busca por um Estado secular unificado pelo equilíbrio de forças entre alauítas e jihadistas. No Iraque, os EUA procuravam estabelecer um governo único centrado em Bagdá, mas agora tentam conter o Estado Islâmico com o mínimo de forças americanas possível apoiando contingentes curdos, xiitas e alguns representantes sunitas. Se essa estratégia falhar, a atuação estadunidense no Iraque será a mesma adotada na Síria - buscar equilíbrio entre as facções. E talvez não haja outra forma de operação. A ocupação americana no Iraque em 2003 não trouxe uma solução militar, e não está claro se uma reedição de 2003 seria bem sucedida também. Qualquer ação bélica deve ser tomada tendo em mente resultados claros e expectativas razoáveis de que os meios usados atinjam esses resultados. Sob uma perspectiva realista, poder aéreo e forças especiais em terra provavelmente não serão o pastante para fazer o EI capitular ou se dissolver.
Já a Ucrânia tem uma dinâmica diferente, é claro. Os Estados Unidos perceberam os acontecimentos em Kiev como oportunidade para um posicionament moral, bem como um golpe estratégico na segurança nacional da Rússia. sob ambas as perspectivas, o resultdo foi o mesmo - criaram-se empecilhos para interesses fundamentais de Moscou, e o presidente Vladimir Putin ficou em uma posição perigosa. Seu serviço de inteligência falhou completamente em prever e administrar os eventos no país vizinho, e também foi incapaz de instigar um levante pró-Russia significativo na fronteira entre as duas nações. Além diso,os ucranianos já vinham derrotando as forças pró-Moscou - sendo que a distinção entre essas forças e tropas russas propriamente ditas se perde a cada dia. Prorém, era óbvio que a Rússia não iria simplesmente deixar a nova realidade da Ucrâia se consumar, haveria contra ataques. Mas mesmo então, o país perdeu a capacidade de moldar a política de Kiev e sua influência se limita agora a uma pequena porção do território vizinho. Sendo assim, Moscou mantém a postura agressiva na aposta de recuperar o poder perdido.
A lógica americana na Ucrânia segue a mesma linha do Oriente Médio. Primeiro, atuar via representantes locais. Segundo, prover apoio material. Terceiro, evitar envolvimento militar direto. Em ambos os casos, parte-se do princípio de que os adversários - o Estado Islâmico no Iraque e a Rússia em relação à Ucrânia - são incapazes de organizar uma campanha decisiva de ataque, ou que qualquer ofensiva possa ser suplantada com poder aéreo. Mas para dar certo, a estratégia americana também assume que haja forças coerentes de resistência tanto contra o EI em Bagdá, quanto contra Putin em Kiev. E se esse fator não acontecer, ou se dissolver, todo o planejamento se dissolve também.
Washington está apostando em aliados voláteis, e o resultado dessa aposta é importante no longo prazo. A estratégia estadunidense antes das Guerras Mundiais era limitar o envolvimento até que a única opção fosse uma intervenção massiva. Durante a Guerra Fria, os EUA passaram a adotar uma lógica preventiva de “pré-comprometimento” de alguns efetivos, o que se mostrou mais eficaz. Washington não é invulnerável a ameaças estrangeiras, apesar de essas ameaças ainda precisarem evoluir muito para representar perigo genuíno, e intervir mais cedo se mostrou menos oneroso do que enviar contingentes no último minuto. Nem o Estado Islâmico nem a Rússia são uma ameaça tão dramática aos EUA, e é bem provável que o equilíbrio de poder contenha essas forças em suas respectivas regiões. Mas se não for esse o caso, as duas crises podem se transformar em risco mais direto. E orquestrar esse balanço de poderes requer esforço e ao menos alguns riscos.
O Mar Negro e o equilíbrio de poder
A manobra mais racional para países como Romênia, Hungria e Polônia é acomodar a Rússia a menos que tenham garantias significativas de agentes externos. E, por mais injusto que possa parecer, apenas os Estados Unidos podem dar essas garantias. O mesmo vale para os xiitas e curdos no Oriente Médio - ambos grupos abandonados por Washington nos últimos anos, pois se pensava que não manteriam sozinhos.
A questão para os EUA agora é como estruturar apoio. Ucrânia e Iraque parecem dois teatros de operações distintos e completamente desconexos, e o poder americano é limitado. Sendo assim, a concepção estratégica americana precisa evoluir e se afastar dessa visão de dois cenários separados, e passar a enxergá-los como aspectos diferentes de um único ambiente: o Mar Negro.
Se consultarmos um mapa, percebemos que o Mar Negro é o organizador geográfico das duas regiões. O mar é a fronteira sul entre a Ucrânia, a Rússia europeia e o Cáucaso, onde forças de Moscou, jihadistas e o poder iraniano convergem. Já o norte o Iraque e a Síria estão a menos de 650 quilômetros do Mar Negro. Os Estados Unidos já adotaram estratégias centradas no Atlântico Norte, no Caribe, no Oeste do Pacífico, e assim por diante. E não se tratava apenas de estratégia naval, mas de um sistema integrado de projeção de poder militar que dependia de meios navais para abastecimento, envio de tropas e base para meios aéreos. Essa configuração permitia que a estrutura de comando irradiasse suporte em várias direções.
Washington tem um problema que pode ser tratado como dois ou mais focos desconexos que exigirão medidas redundantes, ou um quadro único que requer uma solução integrada. É bem verdade que nem o Estado Islâmico nem a Rússia se veem como parte de um único cenário. Mas os oponentes não podem definir o teatro de operações para os Estados Unidos. O primeiro passo para traçar uma estratégia adequada é definir o mapa a fim de permitir aos estrategistas pensar em termos de unidade de forças e unidade de apoio. O que também permite pensar as relações sóciopolíticas regionais como parte dessa abordagem integrada.
Vamos partir do princípio de que a Rússia intervenha no Cáucaso novamente, de que os jihadistas deixem a Chechênia e o Daguestão e vão para a Georgia e o Azerbaijão, ou que Irã avance para o norte. O desdobramento desses acontecimentos seria de extrema importância para os Estados Unidos. Sob a atual configuração estratégica, em que as autoridades com poder de decisão parecem incapazes de conceber as duas questões internacionais já existentes, uma terceira crise seria demais.
Mas pensando em termos do que vou chamar aqui de “a Grande Bacia do Mar Negro”, teríamos então a estrutura adequada para lidar com o desafio atual. Uma estratégia centrada no Mar Negro definiria a significância, por exemplo, da Georgia, na costa leste desse mar. E mais importante, elevaria o Azerbaijão ao nível de relevância que o país deveria ter aos olhos dos EUA. Sem o país, a Georgia tem pouco peso, e com o Azerbaijão, há uma força contrapondo os jhadistas no Cáucaso.
Essa nova abordagem também obrigaria Washington a definir relações importantes. Primeiro com a Turquia, maior potência no Mar Negro além da Rússia. Ancara tem interesses ao longo de toda a Grande Bacia, especificamente na Síria, no Iraque, Cáucaso, Rússia e Ucrânia. Sob a lógica da estratégia do Mar Negro, a Turquia se torna um dos aliados mais indispensáveis, uma vez que seus interesses fazem interface com interesses americanos na área. Alinhar as aspirações dos dois países significa alterações políticas de ambas as partes. No momento, as relações entre Estados Unidos e Turquia parecem ser baseadas na esquiva sistemática de realidades conflitantes. Tendo o Mar Negro como ponto central nos planos de ação, essa postura evasiva, que já não ajuda a criar estratégias realistas, seria impossível.
O papel central da Romênia
A segunda nação a ser considerada é a Romênia. A Convenção de Montreux (1936) restringe o trânsito de navios de guerra no Mar Negro pelo estreito de Bósforo, controlado pela Turquia. Porém, a Romênia é uma nação do Mar Negro, e nenhuma dessas sanções se aplica. No mais, seu poder naval se resume a algumas fragatas antigas apoiadas por meia dúzia de corvetas. Alem de assegurar uma potencial pase para operações aéreas na região, ajudar a Romênia a construir uma força naval significativa - potencialmente com navios anfíbios - resultaria em um agente de dissuasão contra a Rússia, e também moldaria o panorama do Mar Negro de modo que a Turquia atuasse ao lado da Romênia e, consequentemente, ao lado dos Estados Unidos.
Washington precisa retomar a lógica da Guerra Fria, composta de quatro etapas. Primeiro, na época esperava-se que os aliados dessem base geográfica e apoio substancial com tropas para responder a ameaças regionais. Segundo, os EUA forneceriam auxílio militar e econômico necessário para manter essa estrutura. Terceiro, os EUA pré-posicionariam tropas como garantia do comprometimento americano e também como apoio imediato. E por último, as forças americanas eram totalmente comprometidas a defender nações aliadas, apesar de nunca a quarta cláusula ter sido necessária.
No momento, as alianças americanas na Grande Bacia do Mar Negro não são mutuamente sustentáveis e não permitem aos EUA exercer poder coeso na região, dada a divisão teórica em três cenários de operação distintos. O país oferece auxílio, mas de forma inconsistente. Há tropas envolvidas, mas sua missão não é clara, não se sabe se estão nas posições certas, e também não se sabe bem qual é a política regional. “Estratégia do Mar Negro” é apenas um nome por enquanto, mas, às vezes, um nome é suficiente para direcionar o pensamento tático.
Enquanto os Estados Unidos pensarem na Ucrânia, na Síria e no Iraque como se estivessem em planetas diferentes, será impossível alcançar a logísica para uma estratégia integrada. Pensar no Mar Negro como pivô de uma única região heterogênea pode ancorar as ações americanas. Simplesmente embasar conceitos teóricos e estratégicos não vence os conflitos, nem os previne. Mas qualquer elemento que traga coerência aos planos dos Estados Unidos deve ser valorizado.
A Grande Bacia do Mar Negro, em sua definição mais ampla, já é objeto de envolvimento militar e político dos EUA, só não é percebida assim nos cálculos militares, políticos, e nem mesmo da mídia e do público. Mas deveria, pois essa perspectiva é bem mais alinhada com a realidade que se desenrola rapidamente diante de nós.
http://www.defesanet.com.br/geopolitica ... Mar-Negro/
Os Estados Unidos precisam pensar a crise na Ucrânia e a ação do Estado Islâmico no Iraque não mais como conflitos separados, mas como aspectos de um teatro de operações muito maior.
Por George Friedman - Texto do Stratfor
Tradução, adaptação e edição - Nicholle Murmel
O Estados Unidos estão, neste momento, desestabilizados. O país enfrenta desafios no teatro Síria-Iraque, bem como na Ucrânia, e não tem respostas claras para nenhum dos casos. Não se sabe como seria o sucesso nos dois fronts, quais recursos estão prontos para serem investidos em cada um, nem se as consequências de uma derrota seriam gerenciáveis.
Um dilema desse tipo não é incomum para uma potência global. A própria abrangência dos interesses e a extensão desse poder amricano dão precedentes para eventos que geram incerteza e confusão. A geografia e o poder dos EUA permitem um grau de incerteza sem que se chegue ao desastre, mas criar uma estratégia coerente e integrada é necessário, mesmo que essa estratégia seja apenas se afastar e deixar que os acontecimentos se desenrolem. Não estou sugerindo essa opção, mas proponho que, em algum momento, a confusão precisa seguir seu rumo e intensões claras devem surgir. E quando surgirem, o resultado será a coerência de um novo mapa estratégico que engloba esses dois conflitos.
A questão mais crítica para os EUA é criar um plano integrado que considere os desafios mais urgentes. Esse plano deve começar pela definição de um teatro de operações coerente o bastante em termos geográficos, para que se possa integrar manobrabilidade política e planejamento militar. Do ponto de vista tático, pode não ser possível atuar nos dois cenários ao mesmo tempo, mas é essencial estabelecer um centro de gravidade de onde partem as operações. E está cada vez mais claro que esse centro é o Mar Negro.
A Ucrânia e o complexo Síria-Iraque
São dois os pontos de ação militar com ampla relevância potencial. Um é a Ucrânia, onde os russos lançaram contraofensivas na região da Crimeia. O outro engloba Síria e Iraque, onde forças do Estado Islâmico (EI) lançaram ataques para, no mínimo, controlar áreas específicas nos dois países e, no máximo, dominar o território entre o Levante e o Irã.
De modo geral, não há conexão entre esses dois cenários. No entanto, os russos têm problemas constantes do alto Cáucaso e há relatos de analistas chechenos trabalhando junto ao Estado Islâmico. Nesse sentido, os russos estão muito mais à vontade com o que acontece na Síria e no Iraque. Ao mesmo tempo, qualquer coisa que desvie a atenção americana da Ucrânia beneficia a Rússia. Já no Oriente Médio, o EI se oporá a Moscou no longo prazo. Porém, seu problema mais imediato é o poder estadunidense na região, então qualquer coisa que distraia Washington favorece o califado fundamentalista.
É importante considerar que a crise na Ucrânia tem uma dinâmica política completamente diferente do que acontece no Iraque. As forças russas e as do EI não têm nenhuma forma de coordenação, e, no fim, a vitória para um deles se chocaria com os interesses do outro. Mas para os Estados Unidos, que precisam ter cuidado ao direcionar atenção, vontade política e poder militar, as duas crises precisam ser pensadas de forma conjunta.
Os EUA estão no processo de limitar seu envolvimento no Oriente Médio enquanto tentam lidar com a instabilidade na Ucrânia. O governo Obama busca criar um Iraque integrado e livre de jihadistas, e ao mesmo tempo levar a Rùssia a ceitar uma Ucrânia pró-Ocidente. O país também não quer deslocar grandes contingentes militares para nenhum dos locais. O dilema é como atingir esses objetivos sem riscos. E se não for possível, quais riscos os EUA estão dispostos ou serão obrigados a aceitar?
Estratégias que minimizem os riscos e gerem máxima influência são algo racional a se almejar, e deveriam fazer parte da política externa de qualquer país. Segundo essa lógica, as ações americanas deve ser voltada a manter o equilíbrio de poder nas regiões através de representantes locais, e fornecer apoio material a esses representantes, mas evitando envolvimento militar direto até que não haja opção. O mais importante é garantir apoio de modo a acabar com a necessidade de intervenção direta.
No teatro Síria-Iraque, Washington trocou a busca por um Estado secular unificado pelo equilíbrio de forças entre alauítas e jihadistas. No Iraque, os EUA procuravam estabelecer um governo único centrado em Bagdá, mas agora tentam conter o Estado Islâmico com o mínimo de forças americanas possível apoiando contingentes curdos, xiitas e alguns representantes sunitas. Se essa estratégia falhar, a atuação estadunidense no Iraque será a mesma adotada na Síria - buscar equilíbrio entre as facções. E talvez não haja outra forma de operação. A ocupação americana no Iraque em 2003 não trouxe uma solução militar, e não está claro se uma reedição de 2003 seria bem sucedida também. Qualquer ação bélica deve ser tomada tendo em mente resultados claros e expectativas razoáveis de que os meios usados atinjam esses resultados. Sob uma perspectiva realista, poder aéreo e forças especiais em terra provavelmente não serão o pastante para fazer o EI capitular ou se dissolver.
Já a Ucrânia tem uma dinâmica diferente, é claro. Os Estados Unidos perceberam os acontecimentos em Kiev como oportunidade para um posicionament moral, bem como um golpe estratégico na segurança nacional da Rússia. sob ambas as perspectivas, o resultdo foi o mesmo - criaram-se empecilhos para interesses fundamentais de Moscou, e o presidente Vladimir Putin ficou em uma posição perigosa. Seu serviço de inteligência falhou completamente em prever e administrar os eventos no país vizinho, e também foi incapaz de instigar um levante pró-Russia significativo na fronteira entre as duas nações. Além diso,os ucranianos já vinham derrotando as forças pró-Moscou - sendo que a distinção entre essas forças e tropas russas propriamente ditas se perde a cada dia. Prorém, era óbvio que a Rússia não iria simplesmente deixar a nova realidade da Ucrâia se consumar, haveria contra ataques. Mas mesmo então, o país perdeu a capacidade de moldar a política de Kiev e sua influência se limita agora a uma pequena porção do território vizinho. Sendo assim, Moscou mantém a postura agressiva na aposta de recuperar o poder perdido.
A lógica americana na Ucrânia segue a mesma linha do Oriente Médio. Primeiro, atuar via representantes locais. Segundo, prover apoio material. Terceiro, evitar envolvimento militar direto. Em ambos os casos, parte-se do princípio de que os adversários - o Estado Islâmico no Iraque e a Rússia em relação à Ucrânia - são incapazes de organizar uma campanha decisiva de ataque, ou que qualquer ofensiva possa ser suplantada com poder aéreo. Mas para dar certo, a estratégia americana também assume que haja forças coerentes de resistência tanto contra o EI em Bagdá, quanto contra Putin em Kiev. E se esse fator não acontecer, ou se dissolver, todo o planejamento se dissolve também.
Washington está apostando em aliados voláteis, e o resultado dessa aposta é importante no longo prazo. A estratégia estadunidense antes das Guerras Mundiais era limitar o envolvimento até que a única opção fosse uma intervenção massiva. Durante a Guerra Fria, os EUA passaram a adotar uma lógica preventiva de “pré-comprometimento” de alguns efetivos, o que se mostrou mais eficaz. Washington não é invulnerável a ameaças estrangeiras, apesar de essas ameaças ainda precisarem evoluir muito para representar perigo genuíno, e intervir mais cedo se mostrou menos oneroso do que enviar contingentes no último minuto. Nem o Estado Islâmico nem a Rússia são uma ameaça tão dramática aos EUA, e é bem provável que o equilíbrio de poder contenha essas forças em suas respectivas regiões. Mas se não for esse o caso, as duas crises podem se transformar em risco mais direto. E orquestrar esse balanço de poderes requer esforço e ao menos alguns riscos.
O Mar Negro e o equilíbrio de poder
A manobra mais racional para países como Romênia, Hungria e Polônia é acomodar a Rússia a menos que tenham garantias significativas de agentes externos. E, por mais injusto que possa parecer, apenas os Estados Unidos podem dar essas garantias. O mesmo vale para os xiitas e curdos no Oriente Médio - ambos grupos abandonados por Washington nos últimos anos, pois se pensava que não manteriam sozinhos.
A questão para os EUA agora é como estruturar apoio. Ucrânia e Iraque parecem dois teatros de operações distintos e completamente desconexos, e o poder americano é limitado. Sendo assim, a concepção estratégica americana precisa evoluir e se afastar dessa visão de dois cenários separados, e passar a enxergá-los como aspectos diferentes de um único ambiente: o Mar Negro.
Se consultarmos um mapa, percebemos que o Mar Negro é o organizador geográfico das duas regiões. O mar é a fronteira sul entre a Ucrânia, a Rússia europeia e o Cáucaso, onde forças de Moscou, jihadistas e o poder iraniano convergem. Já o norte o Iraque e a Síria estão a menos de 650 quilômetros do Mar Negro. Os Estados Unidos já adotaram estratégias centradas no Atlântico Norte, no Caribe, no Oeste do Pacífico, e assim por diante. E não se tratava apenas de estratégia naval, mas de um sistema integrado de projeção de poder militar que dependia de meios navais para abastecimento, envio de tropas e base para meios aéreos. Essa configuração permitia que a estrutura de comando irradiasse suporte em várias direções.
Washington tem um problema que pode ser tratado como dois ou mais focos desconexos que exigirão medidas redundantes, ou um quadro único que requer uma solução integrada. É bem verdade que nem o Estado Islâmico nem a Rússia se veem como parte de um único cenário. Mas os oponentes não podem definir o teatro de operações para os Estados Unidos. O primeiro passo para traçar uma estratégia adequada é definir o mapa a fim de permitir aos estrategistas pensar em termos de unidade de forças e unidade de apoio. O que também permite pensar as relações sóciopolíticas regionais como parte dessa abordagem integrada.
Vamos partir do princípio de que a Rússia intervenha no Cáucaso novamente, de que os jihadistas deixem a Chechênia e o Daguestão e vão para a Georgia e o Azerbaijão, ou que Irã avance para o norte. O desdobramento desses acontecimentos seria de extrema importância para os Estados Unidos. Sob a atual configuração estratégica, em que as autoridades com poder de decisão parecem incapazes de conceber as duas questões internacionais já existentes, uma terceira crise seria demais.
Mas pensando em termos do que vou chamar aqui de “a Grande Bacia do Mar Negro”, teríamos então a estrutura adequada para lidar com o desafio atual. Uma estratégia centrada no Mar Negro definiria a significância, por exemplo, da Georgia, na costa leste desse mar. E mais importante, elevaria o Azerbaijão ao nível de relevância que o país deveria ter aos olhos dos EUA. Sem o país, a Georgia tem pouco peso, e com o Azerbaijão, há uma força contrapondo os jhadistas no Cáucaso.
Essa nova abordagem também obrigaria Washington a definir relações importantes. Primeiro com a Turquia, maior potência no Mar Negro além da Rússia. Ancara tem interesses ao longo de toda a Grande Bacia, especificamente na Síria, no Iraque, Cáucaso, Rússia e Ucrânia. Sob a lógica da estratégia do Mar Negro, a Turquia se torna um dos aliados mais indispensáveis, uma vez que seus interesses fazem interface com interesses americanos na área. Alinhar as aspirações dos dois países significa alterações políticas de ambas as partes. No momento, as relações entre Estados Unidos e Turquia parecem ser baseadas na esquiva sistemática de realidades conflitantes. Tendo o Mar Negro como ponto central nos planos de ação, essa postura evasiva, que já não ajuda a criar estratégias realistas, seria impossível.
O papel central da Romênia
A segunda nação a ser considerada é a Romênia. A Convenção de Montreux (1936) restringe o trânsito de navios de guerra no Mar Negro pelo estreito de Bósforo, controlado pela Turquia. Porém, a Romênia é uma nação do Mar Negro, e nenhuma dessas sanções se aplica. No mais, seu poder naval se resume a algumas fragatas antigas apoiadas por meia dúzia de corvetas. Alem de assegurar uma potencial pase para operações aéreas na região, ajudar a Romênia a construir uma força naval significativa - potencialmente com navios anfíbios - resultaria em um agente de dissuasão contra a Rússia, e também moldaria o panorama do Mar Negro de modo que a Turquia atuasse ao lado da Romênia e, consequentemente, ao lado dos Estados Unidos.
Washington precisa retomar a lógica da Guerra Fria, composta de quatro etapas. Primeiro, na época esperava-se que os aliados dessem base geográfica e apoio substancial com tropas para responder a ameaças regionais. Segundo, os EUA forneceriam auxílio militar e econômico necessário para manter essa estrutura. Terceiro, os EUA pré-posicionariam tropas como garantia do comprometimento americano e também como apoio imediato. E por último, as forças americanas eram totalmente comprometidas a defender nações aliadas, apesar de nunca a quarta cláusula ter sido necessária.
No momento, as alianças americanas na Grande Bacia do Mar Negro não são mutuamente sustentáveis e não permitem aos EUA exercer poder coeso na região, dada a divisão teórica em três cenários de operação distintos. O país oferece auxílio, mas de forma inconsistente. Há tropas envolvidas, mas sua missão não é clara, não se sabe se estão nas posições certas, e também não se sabe bem qual é a política regional. “Estratégia do Mar Negro” é apenas um nome por enquanto, mas, às vezes, um nome é suficiente para direcionar o pensamento tático.
Enquanto os Estados Unidos pensarem na Ucrânia, na Síria e no Iraque como se estivessem em planetas diferentes, será impossível alcançar a logísica para uma estratégia integrada. Pensar no Mar Negro como pivô de uma única região heterogênea pode ancorar as ações americanas. Simplesmente embasar conceitos teóricos e estratégicos não vence os conflitos, nem os previne. Mas qualquer elemento que traga coerência aos planos dos Estados Unidos deve ser valorizado.
A Grande Bacia do Mar Negro, em sua definição mais ampla, já é objeto de envolvimento militar e político dos EUA, só não é percebida assim nos cálculos militares, políticos, e nem mesmo da mídia e do público. Mas deveria, pois essa perspectiva é bem mais alinhada com a realidade que se desenrola rapidamente diante de nós.
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Re: GEOPOLÍTICA
03/09/2014 às 09h15 10
UE dá mais subsídio e ameaça parceiro que ocupar seu espaço na Rússia
Por Assis Moreira | Valor
GENEBRA - A União Europeia (UE) fez ameaça hoje a países exportadores agrícolas, como o Brasil, que tentarem se beneficiar do embargo da Rússia aos produtos agrícolas europeus para ampliar suas vendas para aquele mercado.
O comissário europeu de agricultura, Dacian Ciolos, anunciou em Bruxelas novo pacote de ajuda de 120 milhões de euros no total (incluindo a parte vinda do setor privado) para produtores europeus sobretudo de carnes e de lácteos buscarem novos mercados diante da interdição de entrada na Rússia.
“Vamos olhar atentamente o comportamento de nossos parceiros e agir em consequência”, disse Ciolos, em direção de países que podem tentar ocupar o espaço deixado pelos europeus no mercado russo.
O comissário lembrou que a UE tem acordos comerciais preferenciais com vários países, ou está em negociação com outros (como é o caso da tentativa de acordo UE-Mercosul).
“Se o Brasil e outros vão ocupar o espaço, é muito cedo para dizer. Não sei qual parte do mundo pode reorientar em alguns dias a produção para outro país”, comentou Ciolos.
Na semana passada, o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, assinou decreto para viabilizar exportações adicionais de carnes bovina e de frango do Brasil e outros países que devem se beneficiar do embargo imposto por Moscou a produtos de Estados Unidos, União Europeia, Canadá e Austrália.
A medida estabelece que os esses países atingidos pelo embargo – uma retaliação às sanções impostas à Rússia por causa do conflito na Ucrânia – tinham até 1º de setembro para preencher suas cotas para vender ao mercado russo. Como certamente não conseguiram, o governo russo passará, então, a fornecer licença de importação para outros países, não submetidos à retaliação imposta por Moscou.
Até agora, vários países esbarravam nos limites impostos pelas cotas de importação, boa parte delas detidas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, para aumentar suas exportações de carnes ao mercado russo no novo contexto.
Em entrevista coletiva em Bruxelas, transmitida pelo canal de TV da UE, o comissário europeu de agricultura anunciou o plano de dobrar a ajuda para a promoção de exportações agrícolas neste e em 2015.
A ideia é buscar mercados alternativos ao russo, principalmente para carnes e lácteos, segundo o comissário.
A UE dobrará a ajuda de 30 milhões de euros para 60 milhões de euros. Mas o pacote total chegará a 120 milhões de euros, com a parte que o setor privado colocará para buscar novos mercados.
Em retaliação a sanções do Ocidente contra a Rússia, no conflito da Ucrânia, Moscou interditou a entrada de vários tipos de produtos agrícolas da Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
No caso da UE, a medida afeta 5 bilhões de euros de exportações para a Rússia, segundo mercado para os produtos agrícolas europeus. O mercado russo era destino de 29% da produção de frutas e legumes da UE, 33% de queijo e 28% das exportações de manteiga, por exemplo.
Essa ajuda ocorre depois de anúncios de novos subsídios de 125 milhões de euros para produtores de frutas e legumes, e de 33 milhões de euros especificamente para produtores de pêssegos e nectarina.
http://www.valor.com.br/internacional/3 ... z3CGS5spl7
UE dá mais subsídio e ameaça parceiro que ocupar seu espaço na Rússia
Por Assis Moreira | Valor
GENEBRA - A União Europeia (UE) fez ameaça hoje a países exportadores agrícolas, como o Brasil, que tentarem se beneficiar do embargo da Rússia aos produtos agrícolas europeus para ampliar suas vendas para aquele mercado.
O comissário europeu de agricultura, Dacian Ciolos, anunciou em Bruxelas novo pacote de ajuda de 120 milhões de euros no total (incluindo a parte vinda do setor privado) para produtores europeus sobretudo de carnes e de lácteos buscarem novos mercados diante da interdição de entrada na Rússia.
“Vamos olhar atentamente o comportamento de nossos parceiros e agir em consequência”, disse Ciolos, em direção de países que podem tentar ocupar o espaço deixado pelos europeus no mercado russo.
O comissário lembrou que a UE tem acordos comerciais preferenciais com vários países, ou está em negociação com outros (como é o caso da tentativa de acordo UE-Mercosul).
“Se o Brasil e outros vão ocupar o espaço, é muito cedo para dizer. Não sei qual parte do mundo pode reorientar em alguns dias a produção para outro país”, comentou Ciolos.
Na semana passada, o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, assinou decreto para viabilizar exportações adicionais de carnes bovina e de frango do Brasil e outros países que devem se beneficiar do embargo imposto por Moscou a produtos de Estados Unidos, União Europeia, Canadá e Austrália.
A medida estabelece que os esses países atingidos pelo embargo – uma retaliação às sanções impostas à Rússia por causa do conflito na Ucrânia – tinham até 1º de setembro para preencher suas cotas para vender ao mercado russo. Como certamente não conseguiram, o governo russo passará, então, a fornecer licença de importação para outros países, não submetidos à retaliação imposta por Moscou.
Até agora, vários países esbarravam nos limites impostos pelas cotas de importação, boa parte delas detidas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, para aumentar suas exportações de carnes ao mercado russo no novo contexto.
Em entrevista coletiva em Bruxelas, transmitida pelo canal de TV da UE, o comissário europeu de agricultura anunciou o plano de dobrar a ajuda para a promoção de exportações agrícolas neste e em 2015.
A ideia é buscar mercados alternativos ao russo, principalmente para carnes e lácteos, segundo o comissário.
A UE dobrará a ajuda de 30 milhões de euros para 60 milhões de euros. Mas o pacote total chegará a 120 milhões de euros, com a parte que o setor privado colocará para buscar novos mercados.
Em retaliação a sanções do Ocidente contra a Rússia, no conflito da Ucrânia, Moscou interditou a entrada de vários tipos de produtos agrícolas da Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
No caso da UE, a medida afeta 5 bilhões de euros de exportações para a Rússia, segundo mercado para os produtos agrícolas europeus. O mercado russo era destino de 29% da produção de frutas e legumes da UE, 33% de queijo e 28% das exportações de manteiga, por exemplo.
Essa ajuda ocorre depois de anúncios de novos subsídios de 125 milhões de euros para produtores de frutas e legumes, e de 33 milhões de euros especificamente para produtores de pêssegos e nectarina.
http://www.valor.com.br/internacional/3 ... z3CGS5spl7
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Re: GEOPOLÍTICA
Boss escreveu: GENEBRA - A União Europeia (UE) fez ameaça hoje a países exportadores agrícolas, como o Brasil, que tentarem se beneficiar do embargo da Rússia aos produtos agrícolas europeus para ampliar suas vendas para aquele mercado.
Só tem que rir da UE mesmo.
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Re: GEOPOLÍTICA
Alguém sabe em enquanto está os subsídios que a UE da a seus agricultores que não são capazes de competir de igual com igual com produtos agrícolas de outros países? Pois eu direi. Está na casa dos 370 bilhões de euros. Um verdadeira escândalo.
- rodrigo
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Re: GEOPOLÍTICA
Um amigo visitou uma fazenda na Guiana Francesa, e o proprietário contou que lá pegam empréstimo de 10.000 euros no banco, financiamento agrícola, e só precisam pagar 9.000 depois.
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a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
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Re: GEOPOLÍTICA
Isso se chama CAPITALISMO .rodrigo escreveu:Um amigo visitou uma fazenda na Guiana Francesa, e o proprietário contou que lá pegam empréstimo de 10.000 euros no banco, financiamento agrícola, e só precisam pagar 9.000 depois.
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Re: GEOPOLÍTICA
Aqui vc pega 10000 tem que pagar 50000, o banco toma sua terra e no fim vc dá um tiro na própria cabeçarodrigo escreveu:Um amigo visitou uma fazenda na Guiana Francesa, e o proprietário contou que lá pegam empréstimo de 10.000 euros no banco, financiamento agrícola, e só precisam pagar 9.000 depois.
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Re: GEOPOLÍTICA
E a dívida fica pros seus filhos. No fim quando eles terminam de pagar, o MST invade, depreda tudo e o INCRA desapropria pra reforma agrária, te pagando só 9000.prp escreveu:Aqui vc pega 10000 tem que pagar 50000, o banco toma sua terra e no fim vc dá um tiro na própria cabeçarodrigo escreveu:Um amigo visitou uma fazenda na Guiana Francesa, e o proprietário contou que lá pegam empréstimo de 10.000 euros no banco, financiamento agrícola, e só precisam pagar 9.000 depois.
I know the weakness, I know the pain. I know the fear you do not name. And the one who comes to find me when my time is through. I know you, yeah I know you.