GEOPOLÍTICA

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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Re: GEOPOLÍTICA

#5596 Mensagem por pt » Dom Ago 03, 2014 7:14 am

Comparado como a Alemanha, o Brasil seria pouco mais que um território controlado por Washington.
Os americanos têm em termos económicos uma capacidade devastadora para dominar o Brasil através da economia.
Já a Alemanha tem uma economia uma cinquenta vezes mais independente, embora também possa ser alvo de pressões economicas.

Logo, se o Brasil, com uma economia que está literalmente nas mãos de Washington pode encontrar-se com as ditaduras da Russia e da China e com a India (encontrar-se, porque os BRIC não são mais que um grupo de países, onde a China manda, mas finge que apenas tem influência) então a Alemanha não teria qualquer razão para o fazer se quisesse.

Os americanos têm bases na Alemanha e os alemães queixam-se sempre quando os americanos querem ir embora.
Na última retirada, dezenas de prefeitos alemães protestaram e governadores regionais voaram para Washington a pedir aos americanos para que não fossem embora.

A NATO é uma organização defensiva das democracias, que é ainda hoje, a única verdadeira força capaz de defender os paíse democraticos, e por isso tantos países limitrofes da Russia querem fazer parte da NATO para se defenderem.
A Alemanha não sai da NATO, porque precisa dela e não teria absolutamente nenhuma vantagem. Sair da NATO implicaria sair da UE. Se a Alemanha fizesse isso, então podia aliar-se a quem quisesse.
Afinal, sempre que lemos o nome ALEMANHA, podemos ler também PRUSSIA. e PRUSSIA é RÚSSIA, com mais um P.

Quanto à possibilidade de um conflito na Europa isso não é possível.
Para lá de todo o absurdo que isso implicaria, há países como a França.
Há alguns anos, perguntaram a um general francês se ele achava que seria possível uma nova guerra entre a França e a Alemanha.
Ele respondeu, que a França ganhava a guerra com um só de seus submarinos nucleares transportadores de mísseis balísticos. Um só míssil transporta 10 ogivas, um submarino transporta 16 mísseis.
Cada submarino pode destruir 160 cidades alemãs com uma explosão de 100kt (quatro a cinco vezes Hiroshima) em cada uma.




Ah ....
Faltou uma coisa

Alguém acreditou que a Alemanha poderia querer fazer parte de algum grupo de BRICS ? :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:




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Sterrius
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Re: GEOPOLÍTICA

#5597 Mensagem por Sterrius » Dom Ago 03, 2014 12:21 pm

Alguém acreditou que a Alemanha poderia querer fazer parte de algum grupo de BRICS ?
No curto prazo (5-10 anos) sem chance

No medio (11-30 anos) talvez.

No longo (31-100) anos sei la :lol:

Tem que rolar muita água no rio pra ver onde os Brics e UE vão. (Pq eu tb não acredito na Alemanha largando o "filho" que criou e que lhe da tanto lucro nem no curto, médio ou longo prazo, mais fácil expulsar as personas non gratas que sair por si só).

Alemanha é forte mas ainda é apenas 1 país. E a geopolítica desse século não é mais para apenas 1 país sozinho. Mesmo que ele se chame EUA.




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mmatuso
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Re: GEOPOLÍTICA

#5598 Mensagem por mmatuso » Dom Ago 03, 2014 1:53 pm

Alemanha não ficar alinhada com os EUA será difícil, distanciar da Europa nem faz sentido sendo que são a maior economia.

Agora o BRICS é compostos de países completamente diferentes e que nem ao menos são alinhados: Rússia sempre está em atrito com os EUA, China parece ser mais low profile e não mete o bedelho ou da opinião de nada desde que possa ganhar dinheiro, India tem alinhamento as vezes de um lado ou outro, mas claramente o governo atual falou que o interesse mais importante agora é a relação com o a Japão e jogaram os EUA lá para o fim da fila, mesmo a Rússia também não é grande prioridade. Brasil não é alinhado com ninguém e recebe o vice presidente dos EUA querendo aumentar os laços um dia, outros depois faz uma cúpula do BRICS e depois recebe o premier japonês.

São países com objetivos completamente individuais completamente diferentes mas que acredito pensarem em uma nova ordem mundial menos polarizada no futuro e poderia sim ter outros países no grupo que pensam de forma diferente.

Acredito que outros países possam entrar para o grupo no futuro, mas a Alemanha é mais atrelada ao status quo e a EUA não sei se entraria em um grupo que tenta ser uma "segunda via" e pensa diferente do que eles fazem há pelos menos 60 anos.




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Viktor Reznov
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Re: GEOPOLÍTICA

#5599 Mensagem por Viktor Reznov » Dom Ago 03, 2014 5:11 pm

chris escreveu: EM TEMPO: Eu sempre me questionei o porquê do povo de Israel concordar com tantos crimes perpetrados em Gaza. Um dia, navegando pela internet, descobri a resposta: o povo de Israel sofre absoluta manipulação da mídia, que transforma qualquer ato de defesa dos palestinos em ataque terrorista; e qualquer ato terrorista de Israel em ato defensivo. A imprensa israelense demoniza os palestinos e absolve os crimes de Israel, deturpando os fatos e repetindo mentiras. E o povo de Israel, que em essência é bom, como todo povo de qualquer nação em essência é, acaba concordando, apoiando e morrendo por tais crimes. Para vocês verem como a coisa é séria.
Cara, isso não acontece. Pode ter certeza que os Israelenses estão plenamente cientes das enormes baixas civis em Gaza.

Na condição de nação democrática, a imprensa em Israel é livre e frequentemente crítica do governo e das decisões israelenses na Palestina; o que acontece é que os Israelenses se tornaram tão insensíveis à situação dos Palestinos depois de terem sofrido imensamente nas incessáveis ondas de ataques terroristas, que eles simplesmente não se importam mais com o que acontece com os Palestinos. Da mesma forma, se você for dar uma passeada em Gaza ou na Cisjordânia, você verá que a população odeia completamente Israel e seus habitantes. É o resultado trazido por décadas de conflitos sem fim.

Esse site na internet que alega a população Israelense ser manipulada pela mídia, te vendeu uma mentira cabeluda. Se você quiser comprovar o que eu falo, se cadastra no MilitaryPhotos.Net e bate um papo com os Israelenses que postam por lá, como por exemplo o usuário Climber, que é judeu argentino mas mora em Israel.




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Re: GEOPOLÍTICA

#5600 Mensagem por Marechal-do-ar » Dom Ago 03, 2014 5:20 pm

O que conheço do povo de Israel pode ser dividido em dois:
1) Pessoas de fora que foram para Israel ou filhos desses que sofreram forte influência: Esses são os mais radicais, realmente querem queimar todos os palestinos e adoram quando uma bomba acerta uma escola matando dezenas de crianças;
2) Pessoas que nasceram em Israel e não herdaram o ódio dos que vieram de fora: São pessoas normais, que entendem que o que o governo está fazendo é terrorismo e gostariam que isso parasse, aceitariam numa boa os vizinhos palestinos.

Em Israel a maior parte dos políticos e pessoas com poder ou dinheiro faz parte do primeiro grupo, mas não saberia dizer sobre a parcela da população total.




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Re: GEOPOLÍTICA

#5601 Mensagem por Lirolfuti » Dom Ago 10, 2014 4:54 pm

América Latina e Israel

MAC MARGOLIS

Há poucos meses, quando a Faixa de Gaza ainda estava coberta de azul e não de pólvora, tudo corria bem entre Israel e seus novos melhores amigos nas Américas. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu anunciara um plano de US$ 14,5 milhões para fortalecer os laços econômicos com a América Latina. Israel acabara de reabrir sua embaixada no Paraguai, fechada há uma década, e de abrir novos consulados no continente.

Israel ainda comemorava sua integração, como estado observador, à Aliança do Pacífico, o mais novo bloco comercial sul-americano, e um pacto bilateral com a Colômbia, a estrela emergente das economias latinas. "Eu teria orgulho se chamassem meu país do Israel da América Latina", afirmou o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, à época.

Foi bom enquanto durou. Com a recente operação Limite Protetor, na Faixa de Gaza, Netanyahu comprou um abriga também no outro lado do Atlântico. Hoje, a América Latina engrossa o refrão global contra a ofensiva israelense, da praça pública à internet.

A presidente Dilma Rousseff, que começa a gostar do jogo internacional, criticou o "massacre" da ofensiva "desproporcional". Veio a resposta de Yigal Palmor, porta-voz do chanceler israelense, que desdenhou o Brasil como país "irrelevante" na diplomacia.

Malandragem do israelense. A ofensa foi, na verdade, um plágio de Jorge Castañeda, ex-ministro das Relações Exteriores do México, que em entrevista ao Estado, estranhou o melindre do Brasil frente aos flagrantes de censura e abusos de direitos humanos na Venezuela. Uma postura digna de um "gigante econômico e anão moral", disse.

Mas os latinos fecharam com Brasília. Na última cúpula do Mercosul, em julho, os países do bloco clamaram à ONU para investigar os "crimes de guerra" de Israel. Em poucos dias, Argentina, Chile, El Salvador e Peru chamaram seus embaixadores em Tel-Aviv para consultas e o Congresso chileno congelou as negociações de um tratado bilateral de comércio.

Os países bolivarianos não deixaram por menos. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ofereceu receber palestinos, vítimas dos ataques à Gaza. Evo Morales decidiu exigir vistos para visitantes israelenses, rasgando um acordo de fronteiras abertas de 1972.

O mau humor diplomático ainda promete. Mas até quando? Quem apostar no cancelamento de tratados e acordos comerciais pode se dar mal. Israelenses e latinos têm laços compridos e ninguém está a fim de desatá-los. Sem os países da América do Sul e Central, talvez Israel nem existisse. Dos 33 votos exigidos para a criação do Estado Judeu, em 1947, 12 vieram dos latinos.

O elo comercial cresce a cada ano. À América Latina, Israel vende US$1,5 bilhão por ano em eletrônicos, maquinaria agrícola, medicamentos e consultoria em segurança. Destaque para os US$604 milhões em armamentos.

Já a diplomacia tomou um caminho mais acidentado. A partir da década de 70, a América Latina abraçou a causa palestina e, na década passada, se uniu em favor da criação de um Estado Palestino.

Com a ascensão do caudilhismo pelo continente, o libelo anti-Israel tornou-se estridente, quando não sinistro, como na Argentina, onde o comentarista da rede CNN, Pedro Brieger, justificou o assassinato de três jovens israelenses por extremistas em Gaza.

A fúria impressiona, mas muitas vezes, toma ares de uma querela fora de lugar, na qual a imagem de Israel se confunde com a dos EUA. "Alguns líderes populistas do momento têm pouco discernimento do cenário internacional e jogam para a plateia interna", diz Jaime Aparicio, ex-embaixador boliviano em Washington. Em tempo: Nicolás Maduro foi à TV para bradar contra Israel pela destruição de "mais de 50 sinagogas...Perdão, mesquitas".

Enquanto a conflagração em Gaza continua, o tiroteio contra Israel pode até crescer, com mais algumas baixas. No campo de retórica.
http://www.defesanet.com.br/geopolitica ... -e-Israel/




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Re: GEOPOLÍTICA

#5602 Mensagem por Lirolfuti » Sáb Ago 16, 2014 1:01 pm

:roll: :roll: :roll:


Serviço secreto da Alemanha espionou Kerry e a Turquia, diz revista
'Der Spiegel' não revelou fonte da informação.
Telefonema do secretário americano teria sido interceptado por 'acidente'.
O serviço secreto alemão (BND) espionou pelo menos um telefonema do secretário de Estado americano, John Kerry, e vigia há anos a Turquia, informou a revista alemã "Der Spiegel".

Em sua edição de domingo, a revista afirma, sem citar suas fontes, que uma conversa de Kerry foi interceptada "acidentalmente" em 2013 peli BND. O secretário de Estado falava sobre as tensões no Oriente Médio por meio de uma conexão via satélite.

O semanário também garante que o governo alemão ordenou que o BND espionasse partir de 2009 a Turquia, seu parceiro no âmbito da Otan.

Os alvos da vigilância são atualizados a cada quatro anos em Berlim e as prioridades atuais - incluindo a Turquia - não foram modificadas após o escândalo de espionagem americana, de acordo com a Der Spiegel.

Vários meios de comunicação alemães indicaram na sexta-feira que os serviços secretos também espionaram "por engano" pelo menos um telefonema da ex-secretária de Estado americano, Hillary Clinton.

As revelações no ano passado sobre a espionagem do celular da chefe do governo alemão, Angela Merkel, pela CIA ainda afetam as relações entre a Alemanha e os Estados Unidos.
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/ ... vista.html




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Re: GEOPOLÍTICA

#5603 Mensagem por wagnerm25 » Qua Ago 20, 2014 9:38 am

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motumbo
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Re: GEOPOLÍTICA

#5604 Mensagem por motumbo » Qua Ago 20, 2014 10:02 am

wagnerm25 escreveu:Imagem
Gente boa pra caramba.




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Re: GEOPOLÍTICA

#5605 Mensagem por Duka » Qui Ago 21, 2014 9:24 pm

http://www.cartacapital.com.br/revista/ ... -8160.html


Ótima entrevista, "leitura obrigatória".




Abraços
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Re: GEOPOLÍTICA

#5606 Mensagem por Viktor Reznov » Qui Ago 21, 2014 10:00 pm

Duka escreveu:http://www.cartacapital.com.br/revista/ ... -8160.html


Ótima entrevista, "leitura obrigatória".
Eu não visito o Carta Capital nem sob ameaça de castração.




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Re: GEOPOLÍTICA

#5607 Mensagem por cassiosemasas » Sex Ago 22, 2014 1:24 am

Cross escreveu:
Duka escreveu:http://www.cartacapital.com.br/revista/ ... -8160.html


Ótima entrevista, "leitura obrigatória".
Eu não visito o Carta Capital nem sob ameaça de castração.

então ela vem até você...rs...

Especial 20 anos
Sociedade

Multipolar, contraditória e beligerante


Assim se constitui a nova ordem mundial, descreve o cientista político José Luís Fiori. E o Brasil nesta história? Terá muitos desafios

por Sergio Lirio — publicado 21/08/2014 04:40, última modificação 21/08/2014 04:40

fonte: http://www.cartacapital.com.br/revista/ ... -8160.html

Imagem

Um mundo multipolar será necessariamente um ambiente conflituoso, afirma o cientista político José Luís Fiori. Enquanto os Estados Unidos tentam exercer seu poder de forma mais indireta, as potências regionais buscam firmar sua influência e, em último grau, se unem em estratégias comuns contra o império. Dessa contradição nascem as possibilidades de conflito. “O sistema interestatal capitalista se estabiliza por meio de sua própria expansão contínua e, portanto, em última instância, através das guerras”, afirma. Na entrevista a seguir, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o mais arguto analista de relações internacionais do País, analisa as mudanças globais e o papel do Brasil na nova ordem.

CartaCapital: O Brasil tem atuado, por meio de grupos como o G-20 e o BRICS, de forma a fazer a governança global mais democrática. Quais são os limites dessa iniciativa? E como avaliar seu poder real frente ao grupo do G7?

José Luís Fiori: O G20 e o BRICS são dois grupos ou organismos internacionais absolutamente diferentes, pela sua origem, natureza e significado dentro do sistema internacional. Considero que eles não têm a ver com democracia. O G20 nasceu em 1999, à sombra das crises financeiras da década de 90 e adquiriu um significado emergencial com a crise de 2008/09, envolvendo a participação de chefes de Estado, ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais de 19 países e mais a representação da União Europeia. Sua importância naquele momento deveu-se muito à gravidade da crise, e ao forte apoio inicial dos EUA. Mas esses dois fatores perderam força depois que o Congresso norte-americano bloqueou a reforma da estrutura de tomada de decisões do FMI, decidida pelo G20 em Seul, em 2010. Depois disso, o G20 foi esvaziado progressivamente e hoje está transformado num fórum informal de debate e consultas, sem nenhuma capacidade de decisão importante, e sem nenhum instrumento concreto de ação. Foi uma resposta emergencial à crise e serviu como âncora na hora do naufrágio, mas está fadado a ser mais uma instância mundial de troca anual de ideias inúteis, em geral bem intencionadas. Por outro lado, o grupo do BRICS, como sabemos, nasceu de forma inteiramente diferente, quase acidental, mas foi adquirindo progressivamente uma dimensão cada vez mais interessante, por sua própria conta, e também por conta de outras transformações paralelas do panorama geopolítico mundial. Essas mudanças deram um destaque cada vez mais importante ao grupo. Ainda é um clube informal, mas reúne quatro das sete maiores economias do mundo, com cerca de 50% da população e 26% da massa do planeta, além de já produzir atualmente 25% do PIB mundial. Para além do campo econômico, o BRICS tem aparecido cada vez mais como o único polo real e alternativo de poder no mundo frente ao G7, cada vez mais parecido a um grupo de amigos íntimos incondicionais dos EUA. Efetivamente, não há mais como explicar a presença de países como a Itália ou o Canadá neste verdadeiro “comité central” das antigas potências do mundo euro-americano. O avanço do BRICS aponta para um processo longo e talvez para um exercício mais equilibrado e oligárquico do poder global, mas com certeza isto não tem nada a ver com democracia.

CC: É possível manter essa iniciativa sem incomodar os Estados Unidos? Como atuar para diluir o poder de influência norte-americano?

JLF: Não, não é possível. Neste ponto o sistema interestatal e capitalista criado, difundido e liderado pelos europeus e pelos EUA nos últimos quatro séculos, não deixa nenhuma dúvida nem alternativa. Neste sistema, quem não sobe, cai, e quem está em cima bloqueia de todas maneiras possíveis a tentativa de subir dos novos pretendentes que se propõem a alcançar a condição de potencias regionais ou globais. É o que se vê hoje, por exemplo, com relação à reivindicação dos chamados “emergentes” a respeito do acesso e participação nas decisões do FMI e do Banco Mundial. Ou de forma mais crua e dura, com relação ao esforço norte-americano de contenção da expansão política da China, da Alemanha, do Irã ou mesmo da Rússia. Neste sentido, o Brasil também não tem como escapar a esta regra geral na medida em que suas iniciativas internacionais o afastem do seu antigo alinhamento incondicional ao lado das potências anglo-saxônicas, e dos EUA, em particular. Sua crescente projeção econômica e politica regional dentro da América do Sul não tem como não preocupar os EUA, que sempre foram a potência líder inquestionável de todo o chamado “hemisfério ocidental”. Mas isto não significa de maneira alguma que o Brasil tenha de confrontar os EUA, porque já hoje o Brasil faz parte de um pequeno grupo de potências que podem - e devem - fazer alianças de todo tipo e com todo e qualquer país, dependendo apenas dos seus objetivos políticos e institucionais, dos seus valores éticos e dos seus interesses econômicos.

CC: Que papel o Brasil viria a desempenhar em uma nova ordem?

JLF: No século XX, o Brasil deu um salto gigantesco. No início daquele século, era apenas um país agrário, com um Estado fraco, fragmentado, e um poder econômico e militar muito inferior ao da Argentina. Neste início do século XXI, é a sétima maior economia do mundo, a maior da América Latina e tem um potencial de crescimento sem paralelo no continente. Na primeira década deste novo século, deu passos importantes para assumir sua liderança sul-americana e projetar sua influência para fora do seu próprio continente, sobretudo na África e nos países chamados de “emergentes”. Mas esse caminho de expansão e projeção da presença e da liderança brasileira no mundo, ética, política e econômica, não será fácil, pelas dificuldades próprias de uma época de grande turbulência e transformação mundial, e pela oposição permanente e poderosa de um segmento da elite intelectual e de muitos grupos de interesse internos que se opõem à estratégia de autonomização internacional do Brasil. Esses grupos se utilizam, em geral, de uma ideologia globalizante e cosmopolita, mas de fato defendem uma volta atrás e um alinhamento econômico e político mais estreito com os EUA, e mais subordinado à estratégia de poder global das potências anglo-saxônicas. Uma volta atrás que hoje teria um imenso custo para o Brasil e sua imagem internacional.

CC: Há décadas o Brasil fala sobre a reforma do Conselho de Segurança da ONU e sua possível entrada. Esta ainda é uma pauta factível? O País não deveria buscar outras alternativas, como atuar de forma intensa em missões da ONU?

JLF: Acho que o Brasil não precisa mudar sua pauta, desde que tenha claro que se trata de uma bandeira de mobilização internacional talvez útil para criar alianças e avançar negociações, mas que não há nenhuma possibilidade de conquistar esta cadeira permanente no Conselho de Segurança, a menos de uma situação emergencial de ruptura internacional, e mesmo que o Brasil se alinhe de forma incondicional ao lado dos EUA dentro do Conselho. O resto faz parte de uma encenação internacional importante como afirmação da vontade brasileira de ascender na ordem hierárquica internacional, sabendo que ninguém lhe dará passagem gratuitamente, nem mesmo seus sócios do BRICS ou da Unasul.

CC: Nessa iniciativa de reformar a governança global, a Unasul ainda parece ter um papel pouco importante. O senhor acha que a Unasul deveria ter um papel mais ativo?

JLF: Como lhe disse, não acredito que esteja em curso qualquer processo de “reforma” da governança mundial. O que está em curso é uma disputa cada vez mais intensa, em todos os tabuleiros regionais do mundo, pela hegemonia e pela liderança política econômica e militar dentro de cada uma destas regiões, envolvendo sempre os EUA, porque é a única potência global existente no mundo neste momento. Dentro do sistema mundial em que vivemos as “reformas” são sempre o produto final de longos conflitos que em geral passam em algum momento por alguma guerra que acaba desequilibrando o jogo e obrigando uma mudança nas instituições e regras de governança mundial. Neste sistema ninguém abre mão de nada gratuitamente. Neste contexto, a criação da Unasul foi um passo muito importante de construção e afirmação da liderança brasileira do processo de integração da América do Sul. Todos estes processos são muito longos e demandam enorme tenacidade, e não será diferente no caso da Unasul. Não depende apenas dela ter um papel mais ou menos importante no mundo. Depende de sua capacidade de superar suas divisões e lutas internas e de sua capacidade coletiva de aproveitar as brechas criadas pelo terremoto geopolítico e geoeconômico que está em pleno curso dentro do sistema interestatal capitalista.

CC: Como o senhor imagina o balanço das forças no mundo multipolar que aparentemente se desenha? Como se configuraria o planeta sem um império único?

JLF: Nos últimos anos, os Estados Unidos tentam construir uma nova estratégia internacional em todos os grandes “tabuleiros geopolíticos” do sistema mundial. Seu objetivo não é o de abandonar sua posição imperial, ou seu poder global. É exercê-lo de forma mais indireta por meio da promoção ativa das divisões e dos “equilíbrios de poder” regionais, segundo o modelo clássico da administração imperial da Grã-Bretanha durante o século XIX. Mesmo se os EUA tiverem sucesso nesse intento de “terceirização” de poder, isso não impedirá a existência e a multiplicação de guerras e conflitos localizados, a envolvê-los em última instância, pois as demais potências regionais e/ou “emergentes” deverão seguir no trabalho de construir blocos e coalizões capazes de resistir, equilibrar e algum dia superar o poder local dos EUA, e quem sabe, mais à frente, desafiar a própria hegemonia global norte-americana.

CC: Essa mudança está em curso?

JLF: Do meu ponto de vista é o jogo jogado em todo o mundo: de um lado, os EUA a se distanciar, interessados mais no papel de interventores de última instância, e, de outro, as demais potências regionais na tentativa de escapar do “cerco americano” por meio de coalizões de poder que neutralizem o divisionismo estimulado por Washington. Em particular, a China faz um movimento explícito e militarizado de afirmação do seu poder e de disputa da supremacia no mar do Sul do Pacífico e em todo o Leste Asiático. Além de tomar posições cada vez mais nítidas e expansivas na África e na América Latina. O mesmo faz a Rússia na Europa Central e em toda a Eurásia. A Alemanha, na Europa Ocidental e também na Europa Central. A Índia, no sul da Ásia. O Irã, no Oriente Médio. O Brasil, na América do Sul. E em menor escala, a África do Sul e a Indonésia em suas zonas imediatas de influência. A própria expansão do poder americano fortalece a maior parte das potências que deverão competir com os EUA nas próximas décadas pelas hegemonias regionais do mundo.

CC: É um movimento contraditório.

JLF: Sim. E é preciso compreendê-lo. A expansão constante da potência hegemônica fortalece continuamente seus futuros adversários, ao mesmo tempo que desestabiliza o próprio sistema. Não há como desmontar essa armadilha, pois a competição generalizada cria a energia responsável pelo movimento contínuo de expansão do sistema mundial. Por isso também, no horizonte desse sistema, não há nenhuma possibilidade de paz ou estabilidade perpétua. O sistema interestatal capitalista se estabiliza por meio de sua própria expansão contínua e, portanto, em última instância, através das guerras. E se o sistema parasse de se expandir, tampouco haveria paz perpétua. Haveria entropia e desordem, pois sua ordem nasce do seu movimento.

CC: Vladimir Putin tenta recuperar a influência, ainda que limitada, da Rússia no cenário internacional. Até onde ele pode chegar?

JLF: A Rússia já foi atacada, invadida e destruída várias vezes ao longo de sua história milenar, mas sempre voltou a se levantar, se reconstruir e reocupar uma posição de destaque entre os grandes poderes mundiais. A partir de 1991, parecia impossível que isso voltasse a acontecer, depois da derrota soviética e da destruição liberal da economia russa. Vinte e três anos depois, a Rússia está de novo de pé e volta a preocupar o “mundo ocidental”. Logo depois da Segunda Guerra Mundial, Hans Joachim Morgenthau, o pai da teoria política internacional realista, norte-americana, formulou a tese de que a causa das guerras tem a ver com a vontade dos derrotados de recuperar sua posição anterior à derrota, para retomar seu lugar na hierarquia do poder mundial.

CC: Seria essa a situação da Rússia?

JFL: Desde Alexandre I, que governou de 1825 a 1855, a Rússia já perdeu perto de um quinto do seu território e quase metade de sua população, e deverá tentar de todas as maneiras recuperar esses territórios ocupados, em muitos casos, pelas forças da Otan. A Rússia atual não tem mais a força e a projeção ideológica global da União Soviética, e só se propõe a ser uma grande potência eurasiana. Mas não se deve esquecer que, mesmo retaliada e diminuída, a Rússia atual segue sendo o maior Estado territorial do planeta, dona da maior reserva energética e do segundo arsenal atômico do mundo. E é o único país europeu com capacidade real de intervenção estratégica e de disputa hegemônica em todo o continente eurasiano. Foi isso que percebeu o grande geopolítico inglês Halford John Mackinder, ao propor, no início do século XX, e antes do nascimento da União Soviética, a necessidade de cercar e conter a Rússia de forma permanente. No século XX, a necessidade de “conter o comunismo” caiu como luva para a estratégia geopolítica de longo prazo dos países de língua inglesa, a mesma nesta segunda década do século XXI.

CC: A crise na União Europeia se atenuou um pouco, mas o desemprego continua altíssimo e não há sinais de uma recuperação mais vigorosa. O senhor considera que a ideia da União Europeia ainda continua sob risco?

JLF: Independentemente das flutuações da crise econômica conjuntural, o verdadeiro problema de longo prazo da União Europeia é que ela tem uma “falha de origem” e é prisioneira, há muito tempo, de uma armadilha circular. Ela precisaria de um poder centralizado para poder se transformar numa verdadeira unidade politica e econômica capaz de hierarquizar seus próprios objetivos de curto e longo prazo. Mas ela não tem nem terá jamais este poder centralizado enquanto seus principais Estados nacionais seguirem bloqueando este processo de centralização. Porque, no fundo, a Europa sempre esteve dividida e está cada vez mais dividida, entre os projetos estratégicos de seus três principais sócios, a França, a Alemanha e a Inglaterra. E este quadro piorou depois do fim da Guerra Fria, quando a Alemanha se transformou na maior potência demográfica e econômica do continente, e passou a ter uma política externa independente, centrada nos seus próprios interesses nacionais, que incluem o fortalecimento dos seus laços econômicos e financeiros com a Europa Central, e com a Rússia. Este comportamento alemão acentuou o declínio da França, que tem cada vez menos importância internacional, e favoreceu o fortalecimento do “euroceticismo” britânico, reacendendo a competição e a luta hegemônica dentro da União Europeia, e trazendo de volta as suas velhas fraturas e divisões seculares.

CC: E a relação da Europa com os Estados Unidos?

JLF: Esta falta de um poder central capaz de definir e impor objetivos e prioridades estratégicas comuns fica agravada pela submissão militar dos europeus à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e aos EUA, que foi quem impôs a expansão apressada da UE, em direção ao leste, logo depois de 1991, para “ocupar” os Estados que haviam pertencido ao Pacto de Varsóvia, e haviam estado sob controle russo. Presa dentro desta camisa de força, a União Europeia é hoje um “ente político” fraco, com uma moeda falsamente “forte”, e com muito pouca capacidade de iniciativa autônoma, dentro do sistema mundial. Por isto, a União Europeia está se transformando rapidamente numa “carta fora do baralho”, dentro da nova geopolítica mundial, desta primeira metade do século XXI, até porque, isoladamente, suas antigas grandes potências não têm mais a mesma importância que tiveram no passado e só se mantêm no topo do sistema graças a sua associação dependente dos Estados Unidos. Mesmo a Alemanha, que luta para se reafirmar no cenário geopolítico mundial, ainda segue sendo prisioneira do seu passado e de sua condição de “protetorado atômico” dos EUA.

CC: Os BRICS acabam de anunciar a criação de um banco de desenvolvimento e de um fundo de estabilização. Como o acordo entre os emergentes vai afetar a velha ordem econômica do planeta?

JLF: A criação do banco de desenvolvimento e do fundo de compensações representa uma mudança qualitativa na trajetória do grupo. É, de fato, sua primeira materialização concreta. A partir dessa decisão, por mais longo que venha a ser o seu processo de montagem e institucionalização, os BRICS deixaram de ser um grupo diplomático e político informal e passou a ter um instrumento concreto de ação econômica e administração conjunta. Talvez tenha sido a decisão mais importante no campo financeiro internacional das últimas décadas, e a primeira que escapa inteiramente aos desígnios da finança pública e privada anglo-americana, mesmo sem confrontá-la. Essa decisão não muda de forma imediata e radical a velha ordem monetário-financeira do planeta, liderada em um primeiro momento pela moeda inglesa e hoje pelo dólar norte-americano. Mas o mais importante é a forma em que foi dado esse passo, assumido como gesto simbólico e político, e como parte de uma estratégia de construção de circuitos monetários e financeiros paralelos e de contenção, não necessariamente contraditórios com a ordem monetária e financeira anglo-saxônica.

CC: O senhor vê alguma possibilidade de o dólar perder espaço para outras moedas, como o yuan, no futuro próximo?

JLF: Sim, em particular no circuito econômico asiático e em todas as áreas do mundo onde cresça a presença comercial e financeira dos chineses. Não quer dizer que as moedas regionais ou setoriais possam substituir a curto prazo o dólar como referência internacional. Moeda é uma criação do poder e um recurso fundamental na competição entre os Estados e as economias do sistema interestatal capitalista. Só houve até hoje duas moedas de referência internacional, a libra e o dólar, e as duas tiveram e continuam a ter papel decisivo na construção e na reprodução do poder global da Inglaterra e dos EUA. Nem a libra nem o dólar se transformaram em referência da noite para o dia, nem foi apenas uma escolha dos mercados. A libra só se generalizou dentro e fora da Europa a partir de 1870, quase dois séculos depois do início da escalada do poder da Inglaterra. E o dólar só ocupou espaço depois da Segunda Guerra Mundial e após mais de um século do início da escalada internacional do poder político, militar e comercial dos EUA

CC: E como a China está posicionada para lutar por esse espaço?

JLF: A conquista de um reconhecimento e aceitação supranacional por parte de uma moeda nacional envolve sempre um processo lento e uma luta contínua, passo a passo junto com a expansão do poder do seu Estado emissor, até se transformar numa potencia regional ou global como foi o caso da Inglaterra e dos Estados Unidos. No caso da China ainda falta muita estrada, mas não há dúvida que a China está seguindo uma estratégia paulatina de expansão do seu poder e do poder de sua moeda nacional. Neste sentido a decisão recente de criar o banco de desenvolvimento e o fundo de compensação do BRICS deve ser colocada ao lado de outras propostas e iniciativas chinesas. São os casos da criação do Asian Infraastructura Investment Bank (AII), da Chiang Mai Iniciative Multilateralization (CMIM) e do Asian Multilateral Research Organiztaion (AMRO), que já conta com um fundo de 240 bilhões de dólares, destinado a ajudar países asiáticos com dificuldades de balanço de pagamentos. Além disso, deve-se computar nesta mesma direção a iniciativa chinesa de criação do Asian Bond Market, destinado a mobilizar recursos de investimento na região, assim como o rápido desenvolvimento do chamado Dim-Sum Bonds, ou seja o mercado de título designados em yuan. O caminho será longo, porque o chineses parecem ter absoluta claridade que até hoje todos os que tentaram desafiar a supremacia monetário-financeira das duas potencias anglo-saxônicas foram bloqueados, derrotados ou destruídos.

CC: Há muitas críticas à crescente “sinodependência” do Brasil. Como o País poderia aproveitar melhor essa relação ou, de outro ponto-de-vista, evitar grandes perdas na aproximação com a China?

JLF: Da mesma forma que com qualquer outra grande potência maior, mais rica e mais poderosa do que o Brasil. Calculando cada passo político e econômico e mantendo sempre claros os objetivos e interesses fundamentais do Brasil naquela aliança circunstancial. Neste sistema não há alianças eternas nem lealdades indissolúveis, que não seja talvez, entre os países de fala e sangue inglês. Neste momento a China é um aliado fundamental do Brasil, em alguns campos, e com vistas a alguns objetivos comuns. Mas pode deixar de ser logo a frente e, mesmo hoje, pode ser em algumas coisas e em outras não. De qualquer maneira, do ponto de vista dos interesses econômicos fundamentais do Brasil, o Brasil tem de batalhar com todos os instrumentos a sua disposição para impedir que a integração econômica entre Brasil e China contribua para a desindustrialização brasileira e a transformação do país numa “periferia de luxo” chinesa, exatamente pelo mesmo motivo que o Brasil se opôs ao projeto norte-americano de criação da Alca.

CC: O Brasil tem uma participação muito pequena na corrente internacional de comércio. Como o País poderia se integrar de forma mais efetiva?

JLF: O caminho, certamente, será longo e complexo, pois nesse campo, como no caso das moedas, não existem milagres ou soluções automáticas. E deve começar pelo correto entendimento de como funcionam os mercados internacionais, que mais se assemelham a uma guerra de movimentos entre forças desiguais do que a um jogo de troca-troca entre unidades iguais e bem informadas. Uma guerra assimétrica entre Estados e capitais que atuam como grandes predadores na luta pelo controle monopólico de posições de mercado, inovações tecnológicas e lucros extraordinários. Hoje, de novo, o problema não é o de se integrar nas correntes de comércio ou nas cadeias produtivas.

CC: Alguns analistas avaliam o Mercosul e a Aliança do Pacífico como blocos concorrentes. O senhor acredita que sejam mesmo? Se sim, de que forma a competição afeta o status da América do Sul no mundo?

JLF: Em algum momento escrevi que a Aliança do Pacífico tem mais importância estratégica e ideológica do que econômica, dentro da América do Sul, e esta importância seria sobretudo para os EUA e sua rede de apoios dentro do continente sul-americano. Fora disto, os três países sul-americanos que fazem parte da Aliança do Pacífico não representam nenhum ameaça ou competição para o Brasil. Pelo contrário, Colômbia, Chile e Peru já estão praticamente integrados com o mercado brasileiro e devem ter suas barreiras comuns eliminadas até no máximo 2018. Estes países são pequenas economias mono-exportadoras de commodities, sem escala para promover um processo de industrialização autônomo apoiado no seu mercado interno. A Colômbia exporta principalmente combustíveis minerais, que ocupam 66% de sua pauta de exportações; o Peru exporta minérios, metais preciosos e combustíveis minerais que constituem 63% de suas exportações; e, no caso do Chile, a exportação de cobre sozinha já representa 60% de suas exportações. No caso da Colômbia, a China já é seu segundo maior parceiro comercial; e no caso do Peru e do Chile, a China é o primeiro parceiro. Nenhum desses três países se propõe qualquer tipo de desafio econômico, nem representa uma ameaça para o Brasil. Nos três casos, a disputa do Brasil pelos seus mercados internos é com a China e os EUA, e todos os três ocupam um lugar importante como destino das exportações brasileiras de maior valor agregado. No médio prazo, o Brasil pode ganhar posições sem maior conflito, basta aumentar seu ritmo de crescimento e aprofundar a sua integração física com o Pacífico. O Brasil concentra hoje mais da metade do PIB sul-americano e possui uma indústria mais diversificada e uma economia mais sofisticada que a de todos os demais países do continente. Se for capaz de construir essa infraestrutura terá todas condições de se transformar, a médio prazo, no polo econômico de referência de toda esta região.

CC: Como o senhor avalia os resultados da intervenção dos EUA no Oriente Médio e quais os riscos da nova realidade na região?

JLF: Logo após o fim da Guerra Fria, em 1994, a Otan lançou um projeto de intercâmbio militar e de segurança com os países árabes do Norte da África, o chamado Diálogo Mediterrâneo. Dez anos depois, lançou uma nova Iniciativa de Cooperação de Istambul, centrada nos países do Oriente Médio. Nesse mesmo ano, o presidente George Bush, o pai, alargou os objetivos estratégicos americanos e da Otan, e falou pela primeira vez no Grande Médio Oriente, na reunião do G-8, em Sea Islands, nos EUA. A proposta de Bush pai era criar um novo espaço unificado de intervenção geopolítica, do Marrocos ao Paquistão, e deveria ser objeto da preocupação prioritária das chamadas potências ocidentais na sua guerra contra o “terrorismo islâmico”.

CC: Não deu certo.

JLF: Vinte anos depois da primeira iniciativa da Otan, a estratégia, pode-se dizer, foi um rotundo fracasso. A incapacidade demonstrada pelos EUA e europeus de controlar o mais recente ataque israelita à Faixa de Gaza é apenas a última gota de um desastre do tamanho do Grande Médio Oriente. Mesmo após as guerras do Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e, de novo, Afeganistão, ainda seguem em pleno curso vários conflitos civis e inúmeros processos avançados de desintegração de Estados e sociedades no próprio Afeganistão, Iraque, Síria, Líbano, Iêmen, Líbia, Sudão e Palestina, ao lado da desastrosa restauração militar no Egito, da crescente militarização da Arábia Saudita, da instabilidade crônica do Paquistão e do descontrole fundamentalista de Israel. Esse grande fracasso estratégico talvez possa ser considerado como o fim da desastrosa retaliação colonialista do Império Otomano feita por França e Inglaterra, responsáveis pela criação de fronteiras e Estados absolutamente artificiais em todo o Oriente Médio, nascidos para atender aos interesses econômicos e geopolíticos das duas potências e seus aliados. Esse talvez tenha sido um dos maiores atestados de incompetência e egoísmo da parte do “homem branco europeu”, deixando atrás de si um legado de violência na mesma região onde os turcos otomanos tinham demonstrado uma capacidade milenar de estabilização e aceitação pacífica da convivência religiosa. Uma história vergonhosa, mas talvez possamos assistir ao início de uma nova história a ser escrita pelos próprios povos, civilizações e sociedades que pertenceram ao antiquíssimo Império Otomano.

CC: Por que a Primavera Árabe não se tornou o “sopro de democracia” que o Ocidente imaginava?

JLF: A tal Primavera foi apenas mais uma invenção delirante do egocentrismo e da fantasia cinematográfica dos europeus e americanos.




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chris

Re: GEOPOLÍTICA

#5608 Mensagem por chris » Sex Ago 22, 2014 3:29 am

Duka escreveu:http://www.cartacapital.com.br/revista/ ... -8160.html


Ótima entrevista, "leitura obrigatória".
Ele diz exatamente as mesmas coisas que eu digo.

Ok, ele o faz com muito mais estilo, clareza, concisão e correção.

Mas deixando de lado a gramática, a semântica e a estilística, em essência é praticamente a mesma coisa que sempre digo aqui.

chris




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Re: GEOPOLÍTICA

#5609 Mensagem por akivrx78 » Sex Ago 22, 2014 10:13 pm

A Cimeira Abe-Modi deve ser um sinal para a China
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Os dois líderes devem coordenar com a China e aumentar a cooperação econômica.
Por Kunal Singh
22 de agosto de 2014

O momento da visita do Primeiro-Ministro Narendra Modi para o Japão, agendado a partir de 31 agosto - 3 setembro, é um tarde. No entanto, o que se perdeu no tempo pode ser feita na retórica de uma declaração conjunta. A visita ao Japão, inicialmente prevista para 03 de julho a julho 5 Modi teve que adiar a visita devido ao Orçamento Sessão do Parlamento começando desde 7 de julho.

Se a visita inicial tivesse se materializado, considerando o cronologia dos acontecimentos que foram testemunhados:

1) Primeiro-ministro tibetano no exílio Lobsang Sangay visita a Índia para posse em cerimônia de Modi em 26 de maio;
2) Gabinete do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, anuncia uma reinterpretação do pacifista Constituição do país (especificamente o artigo 9) em 1 de Julho, que permitiria Forças japonesas de Autodefesa para vir em auxílio dos países aliados sob ataque;
3) Modi, que acredita-se que tem muito boas relações pessoais com Abe, em visita ao Japão em 3 de julho O impacto combinado desses três eventos em sucessão poderia ter enviado uma mensagem clara para Pequim, que o novo governo sob Modi não permitiria China a afirmar a sua supremacia na região.

A oportunidade perdida de não visitar o Japão cedo o suficiente agora deve ser compensada pela retórica de uma declaração conjunta. Os interesses convergentes geopolíticos da Índia e do Japão em conter a crescente assertividade da China na região da Ásia-Pacífico é certamente um dos principais fatores que ligam os dois países juntos. Enquanto a disputa de fronteira não resolvida entre a Índia e a China tem continuado por mais de seis décadas, uma postura relativamente nova agressiva por parte da China vis-à-vis Japão sobre a posse das ilhas Senkaku / Diaoyu no Mar do Leste da China, abriu novas oportunidades para cooperação entre a Índia e o Japão.

Índia e Japão também compartilham um compromisso básico com uma governança democrática liberal, o que os diferencia de autoritária da China. China também se opõe a Índia e o Japão sobre a ampliação de assentos permanentes no Conselho de Segurança das Nações Unidas. À luz dessas razões, uma declaração conjunta na próxima visita tem que ser elevado em retórica. A declaração vai fazer bem para reconhecer a Índia como um "amigo" do Japão, que será elegível para colher os benefícios da reinterpretação do artigo 9 da Constituição japonesa.

A declaração também deve adotar um mix de referências sutis e aberto a reivindicações chinesas no Mar da China, tanto no Oriente como os territórios indianos de Ladakh e Arunachal Pradesh. A declaração deve advertir contra qualquer tipo de aventureirismo unilateral adotado por qualquer país (leia-se China) para resolver disputas territoriais. A declaração conjunta deve dar um passo adiante para condenar qualquer tipo de invasão, incluindo "invasão cartográfica", um método com destreza e rotineiramente adotado pelos chineses. A declaração também deve reafirmar as demandas comuns da Índia e do Japão para se tornar membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Com John Kerry reafirmando o apoio dos Estados Unidos para a adesão do Conselho de Segurança da Índia, três das quatro maiores economias do mundo estão de acordo em ampliar a adesão do Conselho. China não deve ser autorizada a cancelar a proposta.

A ausência de uma disputa histórica amarga entre a Índia e o Japão permite Modi e Abe, dois primeiros-ministros nacionalistas, a aumentar a cooperação mútua. É verdade que a relação viu um período difícil após os testes nucleares Pokhran em 1998, com o Japão impondo várias sanções à Índia. O impasse foi resolvido mais tarde com reconsideração global de imperativos de segurança da Índia, e primeiro-ministro japonês Yoshiro Mori a fazer uma visita à Índia em 2000.

Enquanto o acordo de cooperação nuclear civil está sobre a mesa, devem ser feitos esforços para aumentar drasticamente o comércio entre os dois países. O atual volume de comércio de 19 bilhões de dólares pinta um quadro de oportunidades perdidas, entre a terceira e quarta maiores economias do mundo. A Índia também precisa do Japão para financiar seus projetos de infraestrutura ambiciosos, como a modernização da ferrovia, construção de rodovias, o Corredor industrial Delhi-Mumbai e na construção de cidades "inteligentes".

O potencial da cooperação econômica apoiada pela convergência de interesses geopolíticos, lança as bases de uma cooperação estratégica de longo prazo entre os dois países. Abe, em seu livro Para um Lindo País diz: "Não será uma surpresa se na próxima década as relações Japão-Índia ultrapassar o Japão e os Estados Unidos e os laços Japão-China". Enquanto oito anos se passaram desde que o livro foi publicado, a Índia e o Japão relações não aproximaram-se da visão de Abe. Se o comércio é um dos indicadores, os laços Japão-EUA (204 Bilhões de dólares) e Japão-China laços (312 Bilhões de dólares) estão muito à frente dos laços Japão e a Índia (19 Bilhões de dólares). A correção está em ordem.

Apesar de enfrentar a sessão conjunta do Parlamento indiano em 2007, Abe disse que a "relação Japão-Índia é abençoada com o maior potencial para o desenvolvimento de qualquer relação bilateral em qualquer lugar do mundo." Agora é a hora de traduzir essas palavras em ação.

Kunal Singh é um associado de pesquisa do Centro de Pesquisa de Política (CPR). Siga-o no Twitterkunaldrajput.

http://thediplomat.com/2014/08/the-abe- ... -to-china/




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Re: GEOPOLÍTICA

#5610 Mensagem por mmatuso » Sex Ago 22, 2014 10:51 pm

Interessante parece que o Japão também está começando a apostar nessas alianças tentando estreitar os laços, o Abe também esteve no Brasil há pouco tempo.

Estão se ligando que o mundo está mudando.




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