Boa Noite Leandro,LeandroGCard escreveu:Acredito que a coisa tenha sido bem por aí mesmo.NovaTO escreveu:No meu entender, sobre os russos, foram eles que não levaram a sério o peso das Tots, especialmente com uma encomenda de 36. Se fosse 120, talvez a oferta deles teria sido outra.
36 está mais para 12 como os M-35 do que 120 (que pode até chegar a esse número o FX-2, com encomendas subsequentes, mas sem garantias por enquanto).
[]'s
Os russos não tem a tradição e a cultura de "vendedor" que existe nos países ocidentais e com a qual nosso pessoal está acostumado. Aquela velha e conhecida estória de prometer tudo, jamais dizer não, e depois entregar o mínimo possível e cobrar valores absurdos por tudo o que não estiver detalhado ao máximo nos contratos. Para eles transferência de tecnologia significa o que deveria significar, capacitar a desenvolver igual (sem as embromações de passar os programas das máquinas CNC ou o serviço de detalhamento de desenhos de manufatura, que isso não acrescenta absolutamente nada). Mas se o papo era de 36 aviões eles assumiram este número como ponto pacífico e concluíram que nenhuma transferência de tecnologia significativa seria economicamente viável, simples assim, e qualquer discussão sobre o tema era non-sense. E aposto que nenhum dos brasileiros presentes, que já não tinham nenhuma simpatia pelos russos ("O Inimigo" até bem pouco tempo) ou já estava "caindo de amores" pelos franceses se deu ao trabalho de mudar esta impressão deles (por sinal, pela lógica, correta - eles não tinham ideia do quão ilógico e passional é o nosso país).
Eu mesmo soube de primeira mão de uma história assim com os russos. Logo que o governo (acho que foi o Collor) liberou a importação de automóveis estrangeiros a companhia russa Lada foi uma das primeiras empresas a vir ao Brasil mostrar seus carros (que eram uma porcaria, mas tinham preços razoáveis). Um colega meu que era piloto de provas da empresa de motores diesel onde eu trabalhava na época foi indicado para testar o Lada Laika, em um circuito que ele já conhecia pelos testes que fazia de pickups equipadas com os nossos motores, seguindo os protocolos comuns deste setor. Ele me contou que no teste de aceleração ele estava pilotando enquanto um russo no banco do carona dava as instruções, através de um intérprete sentado no banco de trás ao lado do engenheiro que fazia as anotações.
No retão escolhido o carro acelerou bem, com desempenho bastante razoável até os 120Km/h, mas aí parou de acelerar e permaneceu nesta velocidade por mais que ele apertasse o acelerador. Meu colega ficou confuso, achando que poderia ser até um defeito no carro que até ali ia bem, e perguntou ao russo o que estava acontecendo. E o russo simplesmente respondeu que o limitador de velocidade havia entrado em ação e "travado" o carro em 120km/h, a velocidade máxima permitida pela lei brasileira! E contou orgulhoso que os engenheiros russos tinham trabalhado bastante para conseguir desenvolver este limitador barato, seguro e eficiente em tempo recorde, de forma que os testes no Brasil pudessem ser feitos no cronograma pré-agendado.
Em nenhum momento ocorreu aos russos que ninguém no Brasil em sã consciência compraria um automóvel que tivesse a velocidade máxima limitada aos 120km/h, mesmo que este fosse o limite legal no país! Para eles era mais do que evidente que todos adorariam ter no carro um sistema que seguisse automaticamente o que estava nas normas estabelecidas para o tráfego, evitando multas e acidentes. Claro que o teste acabou na hora, e não recomeçou até os russos desativarem o tal limitador de velocidade. Ou seja, no projeto (e na discussão sobre sua implantação) segue-se o que está escrito, não se sub-entende nada diferente.
Por isso eu não duvido nada de que tenha ocorrido algo assim quando os negociadores brasileiros foram a uma reunião com um número oficial de 36 aviões, nem quiseram falar sobre um número maior, e pediram ToT´s neste cenário. A conclusão lógica era mesmo que isso não era possível. Se o Brasil quisesse tecnologia para desenvolver seus próprios caças no futuro era isso que ele deveria ter pedido diretamente, e colocado a compra inicial de 36 unidades iniciais basicamente como um sinal de boa-vontade dentro de um escopo maior. E não insistir em discutir sobre apenas 36 aviões para complementar uma força aérea que na altura já estava até modernizando as demais aeronaves de combate que possuía para operá-las sabe-se lá por quantas décadas mais ou seja, dando a nítida impressão de que ia ficar só nestas 36 unidades mesmo, o que até prova em contrário são as únicas que temos com certeza intenção de adquirir no futuro previsível - ou na verdade nem tanta certeza assim já que nenhum contrato foi ainda assinado e amanhã podem vir falar em 24 ou mesmo apenas 12, que era a dotação de M-III do GDA. E o fato de estarmos construindo fábricas e tentando desenvolver fornecedores locais não quer dizer nada, simples canetadas já mataram programas deste mesmo tipo antes.
Leandro G. Card
Eu concordo contigo, mas acrescentaria que tal pragmatismo não se trata de uma característica exclusivamente russa, na realidade, País nenhum transfere tecnologia sensível, nem Rússia, nem EUA, nem França, nem Suécia, nem por 36 aeronaves e nem por 120, exceto quando há real interesse, dos envolvidos.
No máximo concedem licença para "fabricação" local (leia-se montagens de kits), como exemplo F-16 foi "fabricado" por Bélgica , Holanda, Turquia, Coréia do Sul e Japão, o Mirage por Austrália, Suíça e Bélgica, o SU-30 é "fabricado" sob licença pela Índia e como sabemos nenhum desses países tornou-se um fabricante mundial de aeronaves, pelo contrário, tornaram-se altamente dependentes dos "Jefes" numa relação de subordinação que beira a submissão.
Tem alguns aficionados que dizem "não, os indianos fabricam TUDO, de trem de pouso a estabilizador vertical, passando pelo motor", mas raciocine comigo, amigo, se de fato tivessem recebido e absorvido real ToT estariam capengando com o Tejas até hoje? ... e o Kavery? ... e como mencionei não é prerrogativa russa não, USA e França é a mesma coisa ... é ToT de apertar parafuso e olha lá.
Isso é muito diferente de co-desenvolvimento nos moldes do AMX que por mais criticado que seja, tornou o Brasil um fabricante mundial de aeronaves.
O caso suéco é uma daquelas oportunidades que acontecem uma única vez na vida, se você pegar, sorte sua, senão o cavalo passa arriado e depois não passa nunca mais e no caso do cavalo Gripen, acho que pegamos o bicho pelo rabo, já ia escapando ...
Penso, acredito, que o Gripen NG foi idealizado com um alvo certo para o FX brasileiro, no FX-1, foi muito bem avaliado, porém havia a reclamação unânime sobre o raio de ação e os suécos perceberam que para países com territórios grandes isso precisava ser sanado ... mas, estavam de olho principalmente em outros três fatores essenciais para o sucesso da sua indústria aeronáutica (Gripen), que por sua vez são deficientes para a Saab, são eles :
1) Uma base mundial de manutenção, no oriente, no ocidente, América Latina, enfim, o alcance mundial da Embraer que tem base de manutenção nos cinco continentes;
2) Essa base de manutenção teria que proporcionar a credibilidade necessária para dar confiança que o comprador seria atendido rapidamente em qualquer lugar do mundo, precisava de uma marca mundial e forte para o produto Gripen, EMBRAER, assim o segundo "fator essencial" é que houvesse um comprador que tenha uma indústria aeronáutica de ponta e mundialmente conhecida que reúna condições de absorção da tecnologia proposta.
3) Precisava de "Projeção Política Mundial" um grande País por trás, dando suporte político ao produto Gripen, a Saab sempre teve carência desse apoio político forte nos bastidores, assim como LM e Boeing tem o US Gvt, a Dassault tem a França, Sukhoi e Mig tem a Rússia, compra de armas envolve muito alinhamento político e geo-estratégico, a suéca Saab necessita MUITO do "emergente" peso político do Brasil, principalmente considerando o "público alvo" da aeronave, os não alinhados e novos emergentes que reúnem condições financeiras para aprimorar sua FA mas não de adquirir F-35, nem outros com preços similares. É exatamente a esfera de influência do Brasil.
Esse fatores já vem sendo reconhecidos pelos especialistas:
E é por isso e somente por isso, que houve uma proposta de REAL transferência de conhecimento sensível e co-desenvolvimento por parte dos suécos da Saab, porque há de fato REAL INTERE$$E, desses parceiros de se "associar" ao Brasil na produção e desenvolvimento do Gripen.As análises em geral, tanto no meio especializado aeronáutico e militar, e econômico e industrial, são convergentes ao avaliar que a decisão brasileira tem uma ascendência importante no futuro do mercado global de aeronaves de combate, e impacta profundamente (e positivamente) nos rumos da SAAB, sendo assim, de maior relevância estratégica para a Suécia, que propriamente ao Brasil.
http://www.defesanet.com.br/fia/noticia ... so-favor-/
Por isso falam em co-propriedade intelectual, por isso o mot "Orgulho de se Tornar Brasileiro", isso é de interesse de nossos parceiros, assim como, CLARO, também é de nosso interesse.
Se de fato, o mais importante no FX-2 é real ToT, não há dúvida sobre a escolha no FX-2.
Sds
kirk