Geopolítica Brasileira
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- Bourne
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Re: Geopolítica Brasileira
Não era para desaparecer, mas como muitos projetos de infraestrutura dos anos 1970, teve como destino a gaveta e o arquivo morto. Tinha um planejamento para ser uma alternativa ao traçado da BR-116 entre Curitiba e registro, ponto critico e extremamente acidentado. ,
Além disso, as duas principais rodoviais do país entre norte e sul, Br-116 e Br101, tem trechos inacabados, traçados inadequados ou ainda não foram duplicadas. Não me refiro as cidadezinhas no nordeste no meio do nada, mas sim trechos enormes no sul e sudeste.
Um trecho que passo toda semana é a subida da serra de Curitiba para quem vem de são paulo. Quase sempre tem acidente feio na madrugada. O traçado foi pensado para matar os motoristas. Só não é pior por ser subida e os veículos acidentados se escorarem nos barrancos. Foi o preço para cortas custos e não construir túneis e viadutos maiores. Em muitos locais tu percebe que era para ter um túnel e não uma subida/descida de montanha. O que é economia burra. O caminhão ao invés de levar seis horas, fica parado em congestionamento mais duas-três horas. Para ver como o Brasil tem uma infraestrutura insuficiente e muito recente.
Nos EUA, outro país continental com intenso uso de caminhões e viagens curtas de carro, tinha uma estrutura rodoviária enorme nos anos 1920s com estradas cruzando o país de leste-oeste e norte-sul. Nos anos 1950s, substituídas pelas interestaduais, adequadas ao tráfego mais intenso e caminhões modernos. Ainda assim continuam construindo e melhorando ouvi falar ( ) tenho o plano forte de construir mais uma ligação da Califórnia com leste devido as atuais serem insuficientes.
Além disso, as duas principais rodoviais do país entre norte e sul, Br-116 e Br101, tem trechos inacabados, traçados inadequados ou ainda não foram duplicadas. Não me refiro as cidadezinhas no nordeste no meio do nada, mas sim trechos enormes no sul e sudeste.
Um trecho que passo toda semana é a subida da serra de Curitiba para quem vem de são paulo. Quase sempre tem acidente feio na madrugada. O traçado foi pensado para matar os motoristas. Só não é pior por ser subida e os veículos acidentados se escorarem nos barrancos. Foi o preço para cortas custos e não construir túneis e viadutos maiores. Em muitos locais tu percebe que era para ter um túnel e não uma subida/descida de montanha. O que é economia burra. O caminhão ao invés de levar seis horas, fica parado em congestionamento mais duas-três horas. Para ver como o Brasil tem uma infraestrutura insuficiente e muito recente.
Nos EUA, outro país continental com intenso uso de caminhões e viagens curtas de carro, tinha uma estrutura rodoviária enorme nos anos 1920s com estradas cruzando o país de leste-oeste e norte-sul. Nos anos 1950s, substituídas pelas interestaduais, adequadas ao tráfego mais intenso e caminhões modernos. Ainda assim continuam construindo e melhorando ouvi falar ( ) tenho o plano forte de construir mais uma ligação da Califórnia com leste devido as atuais serem insuficientes.
- Duka
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Re: Geopolítica Brasileira
Pois é, temos muito o que melhorar. Mas nem tudo são espinhos, o trecho sul da 101 (entre RS e SC) está com um padrão fantástico, a unica pena é o atraso para a conclusão das obras. Mas onde foi terminado está padrão "Europa". Aqui no nordeste, tempos atrás peguei a 101 entre João Pessoa e Recife, e também me surpreendi com a qualidade. Fico com a impressão que os projetos mais recentes das BR's estão utilizando muito mais conceitos corretos de engenharia de construção rodoviária.
Abraços
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Re: Geopolítica Brasileira
Como não achei tópico sobre estradas e é está sendo falado aqui... Se não me engano, quando a Dutra foi privatizada a não sei quantos anos era para terem feito logo essa obra, mas embolsaram o dinheiro até hoje. Vai ficar legal, mas duvido que saia para as Olimpíadas.
...
- Hermes
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Re: Geopolítica Brasileira
Como não consegui postar o vídeo, vai o link. Duplicação da Serra das Araras.
...
- Bourne
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Re: Geopolítica Brasileira
São Paulo tem uma posição central na estrutura e integração econômica do país. Se a Regis Bittencourt é a ligação com sul, a Dutra é o caminho para sudeste e nordeste. As duas tem que ser impecáveis. Usar traçados dos anos 1950s cheio de "economias burras" se transforma em acidentes, problemas e custos.
O trecho da serra do 90 entre são paulo e registro está saindo. As soluções baseadas em túneis e viadutos. Parece que saí em 2015 ou 2016. Está menos problemáticos passar por lá. Porém os problemas de traçado e sobrecarregamento da ligação persistem. No futuro serão necessário reconstruir trechos.
A Br-101 entre entre Garuva e florianopolis, estendida "artificialmente" entre Garuva e Curitiba pela BR-376, está impecável. Voltei de Floripa hoje e tu consegue manter 100 - 110 km/h durante a viagem. Fiz mais o menos em 3 horas o trecho rodoviário. Existem problemas de asfalto, desnível em pontes, mas em geral está bem melhor na média que a BR-116.
Na ida/volta de Floripa é perceptível como a estrada boa viabilizou os portos e outros negócios industriais da região. Praticamente, só tem caminhão com produto manufaturado, químicos e os que transportam minério na região. Por isso que projeto de ligação ferroviária e rodoviária entre santa catarina, paraná e rio grande é considerada estratégica. A infraestrutura tem uma força grande de criar incentivos para desenvolvimento e atividades da região.
No futuro não me parece que rota de transporte de grãos e fertilizantes use portos do sudeste e sul para seus negócio, devido ao custo. A opção mais viável é sair por norte e sul com os mega portos, com grande parte da distância coberta por trem ou balsa. Os portos do sul e sudeste ficariam relegados a produtos manufaturados e industriais.Uma estrutura que faz mais sentido.
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*A BR-376 corta o paraná na transversal até mato grosso. Dizem, mas não é a BR-101.
O trecho da serra do 90 entre são paulo e registro está saindo. As soluções baseadas em túneis e viadutos. Parece que saí em 2015 ou 2016. Está menos problemáticos passar por lá. Porém os problemas de traçado e sobrecarregamento da ligação persistem. No futuro serão necessário reconstruir trechos.
A Br-101 entre entre Garuva e florianopolis, estendida "artificialmente" entre Garuva e Curitiba pela BR-376, está impecável. Voltei de Floripa hoje e tu consegue manter 100 - 110 km/h durante a viagem. Fiz mais o menos em 3 horas o trecho rodoviário. Existem problemas de asfalto, desnível em pontes, mas em geral está bem melhor na média que a BR-116.
Na ida/volta de Floripa é perceptível como a estrada boa viabilizou os portos e outros negócios industriais da região. Praticamente, só tem caminhão com produto manufaturado, químicos e os que transportam minério na região. Por isso que projeto de ligação ferroviária e rodoviária entre santa catarina, paraná e rio grande é considerada estratégica. A infraestrutura tem uma força grande de criar incentivos para desenvolvimento e atividades da região.
No futuro não me parece que rota de transporte de grãos e fertilizantes use portos do sudeste e sul para seus negócio, devido ao custo. A opção mais viável é sair por norte e sul com os mega portos, com grande parte da distância coberta por trem ou balsa. Os portos do sul e sudeste ficariam relegados a produtos manufaturados e industriais.Uma estrutura que faz mais sentido.
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*A BR-376 corta o paraná na transversal até mato grosso. Dizem, mas não é a BR-101.
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Re: Geopolítica Brasileira
uma empresa do grande satã nos ajudou a saltar o mega porto do Eike.
Grupo americano garante compromissos assumidos por Eike Batista no Porto do Açu
URL: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economi ... s-por-eike
17/02/2014 19h35Rio de Janeiro
Nielmar de Oliveira - Repórter da Agência Brasil Edição: Stênio Ribeiro
Controladora da empresa que assumiu e passou a desenvolver o Porto do Açu, a empresa Prumo Logística Global, do grupo americano EIG, vai manter todos os compromissos assumidos quando o empreendimento ainda se chamava LLX e pertencia ao empresário Eike Batista – inclusive os acordos estabelecidos com trabalhadores da região, como pescadores e agricultores.
A informação foi dada pelo diretor de implantação da empresa, Luis Baroni, durante audiência pública realizada hoje (17), pela Comissão Especial do Porto do Açu, da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em São João da Barra, no norte do estado.
A audiência pública foi convocada pela Comissão Especial da Alerj para discutir a continuidade das obras de implantação do porto e obter garantias de que os compromissos assumidos - como a construção do complexo pesqueiro – não venham a ser interrompidos, com as alterações na composição acionária do empreendimento.
Para o presidente da comissão, deputado Roberto Henriques (PSD), a empresa que está assumindo o empreendimento já deu a certeza de que o projeto vai ter continuidade, mas que é preciso amarrar em detalhes todas as questões envolvendo a obra para que nenhum dos segmentos por ela beneficiados seja prejudicado.
“A comissão apresentou os questionamentos da população aos representantes da empresa e do estado. A maior parte da demanda foi esclarecida na reunião. A partir dessas audiências, chegamos à conclusão de que o empreendimento vai prosperar”, disse Henriques.
Durante a audiência, a presidenta da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin), Maria da Conceição Ribeiro, informou que já foram atendidos os pedidos dos agricultores, como o fim das desapropriações e a concessão aos agricultores de um auxílio produção, até que eles recebam as indenizações pelos terrenos.
Ela acrescentou que "já foram atendidas com o programa 330 famílias, totalizando um auxílio de R$ 7 milhões, mas mesmo assim queremos ouvir os agricultores que não estão sendo beneficiados, ou que se sintam prejudicados de alguma forma", para que se encontre uma solução para o problema.
Para o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Julio Bueno, o projeto de construção do Porto do Açu é uma realidade: “A obra andou, é uma realidade e não tem volta. Já temos pontos irreversíveis acontecendo na cidade. O primeiro que podemos destacar é o mineroduto, onde foram investidos US$ 10 bilhões. Só isso já justificaria a importância do Porto do Açu para a região. Ainda serão investidos R$ 1,2 bilhão no projeto até o final do ano, além dos 6 mil empregos gerados até hoje pelo empreendimento”.
O secretário destacou a importância do empreendimento para as atividades de exploração e produção de petróleo e gás da região do pré-sal na Bacia de Santos. “O Porto do Açu vai se tornar uma âncora importantíssima do pré-sal", pois, de acordo com sua avaliação, a produção brasileira de petróleo vai dobrar até 2016, e triplicar até 2020, com o pré-sal.
- Bourne
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Re: Geopolítica Brasileira
Por que o separatismo permanece vivo no Estado
Reação a um gesto da cantora Shana Müller reabre a discussão sobre os motivos da ambivalência do Rio Grande do Sul em relação ao Brasil
Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/pr ... 43932.html
por Carlos André Moreira e Larissa Roso
Por que o separatismo permanece vivo no Estado Rafael Ocaña/Zero Hora
Entre duas bandeiras: posições separatistas veem conflito entre identidade brasileira e rio-grandense
Foto: Rafael Ocaña / Zero Hora
Levantar uma bandeira do Brasil em dia de jogo da Seleção é algo tão comum – principalmente em tempos de Copa – que a cantora Shana Müller se confessou surpresa quando uma foto sua fazendo o mesmo gesto publicada nas redes sociais provocou uma onda de críticas e ofensas de alguns mais radicais. Muitos desencavaram até o léxico farroupilha para criticar a “falta de patriotismo” da artista – que deveria, na opinião de alguns desses críticos, sentir-se antes gaúcha e só depois brasileira. A polêmica desencava um debate que volta e meia reaparece no Rio Grande, o ímpeto separatista e os argumentos defendidos por aqueles que acreditam que o Estado estaria melhor sozinho, separado da federação que compõe o Brasil. Para muitos estudiosos do fenômeno, a chave para compreender esse sentimento é vê-lo como um tipo de resposta às mudanças pelas quais o Brasil – e o Estado dentro dele – passaram no último século.
– Esse anseio é calcado na saudade de uma época imaginada. A partir dos anos 1950, houve um êxodo rural muito forte, a pecuária foi entrando em declínio, o tipo sociológico do gaúcho foi desaparecendo. O tipo gaúcho foi incorporado na cidade, estilizado, moderno, quando o tipo real estava desaparecendo. O pessoal se apega a essas fantasias, imaginar uma comunidade que historicamente não houve. O separatismo cobre uma lacuna, um vazio existencial, uma saudade de uma época imaginada do gaúcho – diz o historiador Paulo Fagundes Visentini, professor titular de Relações Internacionais da UFRGS.
>>> Shana Müller: "Quem se manifestou foram pessoas confusas quanto ao significado do tradicionalismo
As frases dirigidas a Shana fazem eco, em temática e em argumentos, a mais de uma movimentação em favor do separatismo surgida no Estado desde o fim do século passado. Nos anos 1990, ganhou destaque nacional o movimento lançado por Irton Marx, autor do livro Vai Nascer um Novo País: República do Pampa, que defendia a separação. Com as redes sociais, é fácil encontrar várias outras manifestações de inconformidade com o fato de o Rio Grande do Sul fazer parte do Brasil, desde O Rio Grande É o Meu País (frase aliás recorrente dentre as críticas à cantora) até O Sul É o Meu País, movimento que preconiza a cisão dos três Estados do Sul. Muitos ganham adeptos ou simpatia entre pessoas mais jovens, algumas sequer nascidas quando o santa-cruzense Marx lançou seu libelo localista.
– O separatismo é um fenômeno absolutamente atual. Temos movimentos separatistas fortíssimos no mundo todo. Mesmo no Brasil, o Rio Grande não é o único a abrigar esse tipo de manifestação. Uma das explicações, claramente, é a globalização, essa situação em que se exige que tudo seja global, homogêneo, que falemos a mesma língua e se conjugue a mesma identidade cultural. É inevitável que nasça no interior desse processo um contramovimento a essa exigência de homogeneidade, uma tentativa de marcar uma identidade diversa. Algo que se comunica com o jovem, naturalmente inseguro diante das pressões contemporâneas – comenta Caroline Kraus Luvizotto, socióloga, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e autora de Cultura Gaúcha e Separatismo no Rio Grande do Sul (Unesp, 2009).
Mestre em comunicação e informação pela UFRGS, Érika Caramello, autora de uma dissertação estudando o debate sobre separatismo em uma comunidade virtual direcionada aos cultores do tradicionalismo, também aponta que essa necessidade de afirmação pela diferença é o motor de manifestações sectárias no território aparentemente sem fronteiras da internet. E ainda identifica o crescimento dos anseios de separação como uma forma de compensar a progressiva queda de importância do Estado nos rumos econômicos e políticos do país.
– Há um sentimento, dentro do Estado, de que o Rio Grande está à margem do centro das decisões, mesmo tendo na presidência uma mulher formada no Estado. Acho muito interessante a forma como a cultura gaúcha é documentada pelo MTG. A gente não vê isso em outras manifestações culturais. Os gaúchos se preocupam demais com a representação de seu passado, e acho que às vezes isso gera uma forçação de barra em querer ser diferente a qualquer custo, quando a própria característica do Brasil como país é sua variedade.
Se algumas vozes clamam por separatismo, não o fazem de dentro das instâncias “oficiais” do gauchismo. Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Manoelito Savaris argumenta que a instituição não apoia nenhum viés separatista – as solenidades oficiais, como cavalgadas e o próprio acampamento farroupilha, sempre contam com o hino e a bandeira do Brasil, sem gritedo.
– O MTG não dá guarida a nenhuma manifestação de separatismo. Não trabalhamos com essa ideia. Nosso pensamento é de integração. Para nós, o Brasil começa pelo Estado – diz Savaris.
Apesar disso, parte das críticas aos laivos separatistas ainda encontrados na sociedade rio-grandense se dirige justamente à noção de Estado à parte muitas vezes incentivada pela entidade, que tem no bairrismo local sua porção folclórica e, talvez, no separatismo seu exacerbamento. Crítico da ideologia do tradicionalismo, o pesquisador Tau Golin, da Universidade Passo Fundo (UPF), também reconhece que o movimento como instituição não insufla o separatismo como política, mas adverte que sua insistência na diferenciação pode ter, sim, esse efeito colateral.
– No episódio da Shana as manifestações não estavam clamando pela valorização do Rio Grande do Sul, mas expressando o desejo de não ser brasileiro, a vontade de ter uma distinção europeia. Não está em jogo se a Shana é menos rio-grandense por ser brasileira, por se colocar dentro de um país. O que está em jogo é o poder sobre o imaginário – comenta Golin.
A Construção do Mito Farroupilha
Com uma ou outra alteração, o hino e a bandeira do Estado hoje ainda são os mesmos da República do Piratini, durante a Revolução Farroupilha – o conflito que, sob o título de “decênio heroico”, foi transformado em uma espécie de mito fundador de uma identidade geral gaúcha. Mas, como sempre quando se fala de História, o discurso construído ao redor de um episódio não necessariamente o resume. O historiador Mario Maestri, por exemplo, é um dos pesquisadores que argumentam que, logo após a rendição de Ponche Verde, a revolução foi durante longo tempo relegada ao esquecimento, na tentativa de pacificação do território.
Está presente no mito farroupilha também a ideia de um Rio Grande unido contra as forças imperiais, quando boa parte do Estado, na Capital e no litoral, não só não aderiu à revolução como a combateu com ímpeto. Para Maestri, é apenas durante a Revolução Federalista, em 1893, que a Revolução Farroupilha, com seus aspectos republicanos e separatistas, passa a ser apresentada como um ideal comum a unir os gaúchos. O interessante, como lembra o historiador Günter Axt, é que o conflito escolhido pelo tradicionalismo do século 20 como basilar para a tradição gaúcha seja o de 1835, e não o de 1893, mais curto mas, segundo ele, muito mais cruento.
– A Revolução Federalista foi mais curta, mas, sob muitos aspectos, foi mais importante. Foi uma guerra civil brasileira, não uma revolta regional, houve um governo paralelo localizado na cidade de Cerro, em Florianópolis... E nela pereceu, segundo alguns historiadores, 1% da população gaúcha. Talvez não se olhe com tanta atenção para essa guerra em particular porque se tem uma dificuldade muito grande de explicar os níveis de violência que nela se estabeleceram – comenta Axt.
Que país é esse?
> No dia 23 de junho, a cantora Shana Müller publicou, em seu perfil no Facebook, uma foto em que está cantando e segurando uma bandeira do Brasil. “Hoje é dia de torcer pela nossa seleção! Vamos juntos vestir nossas cores e abrir o peito gritando GOL!”, escreveu, em referência ao jogo Camarões x Brasil pela Copa do Mundo. A imagem foi curtida 1.999 vezes, teve 57 compartilhamentos e 88 comentários. Críticos condenaram a escolha do símbolo nacional em lugar do estadual, e defensores repudiaram o teor separatista de algumas manifestações.
> Em seu espaço mensal como colunista do Segundo Caderno de Zero Hora, Shana comentou o caso em 28 de junho. Sob o título Eu Sou Brasileira, Sim Senhor!, a autora diz que, de início, foi pega de surpresa pela repercussão. No site do jornal, as matérias relacionadas renderam outras centenas de comentários.
> No mesmo dia, ela voltou a divulgar a foto no Facebook, com um link para o texto de ZH. “Hoje dia de jogo da seleção, escrevo sobre o amor pelo meu país! Com muito orgulho, levanto a bandeira do meu país, o Brasil, e repudio toda manifestação que nos negue como um estado desta Federação”, escreveu, na ocasião do confronto da Seleção Brasileira com o Chile. O post alcançou 2.696 curtidas e 164 compartilhamentos. Depois de quase 300 comentários, Shana postou: “Gente tão jovem e tão ignorante. Uma pena. Discussão encerrada por aqui. Um abraço a todos
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Re: Geopolítica Brasileira
Sobre o tema acima, atualmente penso que a maioria dos movimentos separatistas no mundo decorrem de prévia anexação. Ou seja, os separatismos, no fundo são movimentos no sentido de voltar a um estado de independência que existia anteriormente e que remonta às origens da população/local separatista, ou à ampliação de uma ampla autonomia já a muito tempo estabelecida.
No caso do Brasil, isso não existe. Sempre fomos um Estado unitário que, por decisão administrativa, foi transformado em Estado Federativo. As velhas províncias foram, na "canetada", elevadas à condição de Estados Federados, com um pequeno grau de autonomia administrativa e legislativa, mas não judicial.
Não há, por exemplo, um histórico anterior de "goianidade" que conflite com a nacionalidade brasileira; logo, não há um sentimento, no povo goiano, de aspiração à "independência perdida" ou aos "velhos tempos do Reino de Goeás". Além disso, a Constituição é clara: "a União é indissolúvel".
---
Quanto à questão gaúcha especificamente, faço a seguinte análise:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos ... s_e_causas
Em resumo, caso não queiram ler tudo:
MAS!
De qualquer forma, com o fim do Império e a chegada da República, o RS conseguiu uma das suas mais fortes reivindicações: o fim do Estado Unitário no Brasil. Assim, elevado à condição de Estado-membro da Federação (como eu já disse, estes entes gozam de autonomia administrativa e legislativa, dentro dos limites da Constituição Federal), e com uma ampla diversidade econômica (não sofre como antes os efeitos da dependência do charque), já não tem mais NENHUMA justificativa para cultivar idéias separatistas.
No caso do Brasil, isso não existe. Sempre fomos um Estado unitário que, por decisão administrativa, foi transformado em Estado Federativo. As velhas províncias foram, na "canetada", elevadas à condição de Estados Federados, com um pequeno grau de autonomia administrativa e legislativa, mas não judicial.
Não há, por exemplo, um histórico anterior de "goianidade" que conflite com a nacionalidade brasileira; logo, não há um sentimento, no povo goiano, de aspiração à "independência perdida" ou aos "velhos tempos do Reino de Goeás". Além disso, a Constituição é clara: "a União é indissolúvel".
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Quanto à questão gaúcha especificamente, faço a seguinte análise:
Observe: essa província, que sempre foi parte da colônia, e depois do Império, resolveu tentar se tornar independente, sem nenhum histórico anterior de nacionalidade ou de ampla autonomia, pelas seguintes razões:Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha são os nomes pelos quais ficou conhecida a revolução ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos ... s_e_causas
Em resumo, caso não queiram ler tudo:
Ou seja (resumo do resumo), mais uma briga de ricos (estancieiros gaúchos x fazendeiros do resto da nação) por supremacia econômica. Não sei se o povo do RS tinha muito ou pouco a ganhar com uma inversão da balança econômica para os estancieiros, mas com certeza deve ter perdido muito em mortes durante as guerras separatistas. De qualquer forma, é possível dizer, de forma impessoal, que a província queria se dar bem às custas do resto do império. Pra mim, não é uma aspiração apta/justa/etc a legitimar um movimento separatista.A justificativa original para a revolta baseia-se no conflito político entre os liberais, que propugnavam modelo de estado com maior autonomia às províncias,e o modelo imposto pela constituição de 1824, de caráter unitário.
Diferentemente de outras províncias, cuja produção de gêneros primários se voltava para o mercado externo, como o açúcar e o café, a do Rio Grande do Sul produzia principalmente para o mercado interno. A região, desse modo, encontrava-se muito dependente do mercado brasileiro de charque, que com o câmbio supervalorizado, e benefícios tarifários, podia importar o produto por custo mais baixo. Consequentemente, o charque rio-grandense tinha preço maior do que o similar oriundo da Argentina e do Uruguai. A tributação da concorrência externa era uma exigência dos estancieiros e charqueadores; porém essa tributação não era do interesse dos principais compradores brasileiros pois veriam reduzida a lucratividade das mesmas, por maior dispêndio na manutenção dos escravos.
MAS!
De qualquer forma, com o fim do Império e a chegada da República, o RS conseguiu uma das suas mais fortes reivindicações: o fim do Estado Unitário no Brasil. Assim, elevado à condição de Estado-membro da Federação (como eu já disse, estes entes gozam de autonomia administrativa e legislativa, dentro dos limites da Constituição Federal), e com uma ampla diversidade econômica (não sofre como antes os efeitos da dependência do charque), já não tem mais NENHUMA justificativa para cultivar idéias separatistas.
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Re: Geopolítica Brasileira
Como sabem, eu sou Gaúcho. Vejo a Revolução Farroupilha como um gesto de desespero dos estancieiros daqui contra o Império, a partir de quando passaram a ser desfavorecidos para dar vantagem aos castelhanos. Tanto que não começou como uma ação separatista e sim uma simples revolta armada contra UM ATO do Império, além de uma tentyativa de recuperar prestígio e poder político para o meio rural, que o estava perdendo para o urbano (principalmente Porto Alegre, não à toa denominada "cidade muy leal e valerosa" pelo próprio Imperador). Aliás, nem foi Bento Gonçalves que proclamou a República do Rio Grande do Sul (tema de nossa bandeira até hoje) e sim um de seus oficiais, o General Netto.
E a coisa toda - como inclusive as demais revoltas e guerras internas que tivemos aqui - teve sempre como pano de fundo e razão fulcral brigas entre politiqueiros (em linhas gerais, liberais e conservadores), ou seja o separatismo sempre foi apenas desculpa para intere$$es outros.
Ah, e conheci pessoalmente o Irton Marx em meados dos anos 90, quando cursava Direito na UNISC. Era um sujeito meio que folclórico (leia-se BIRUTA ) e sobretudo, por mais que negasse (e nega até hoje), neonazista ferrenho. O cara estava pouco ligando para nossas Tradições, o lance dele era, em primeiro lugar, APARECER, e em segundo, criar um grupinho de acólitos (o nome do "secretário particular" dele era Giovanni com um sobrenome cheio de consoantes) para ficar debatendo sobre como seria legal uma República Federal da Alemanha...errr...do Pampa, abrangendo toda a Região Sul e dando um jeito de correr com os negros, mulatos, índios, hispânicos, em suma, toda a tigrada que não fosse de ascendência germânica. Aliás, tratava todo mundo por kamerad. Mostrava alguma tolerância para com descendentes de tugas como eu, alegando que provínhamos de uns tales de Suevos, aparentados com a "raça" dele (ou eu jamais teria sido admitido em uma reunião). Ganhou espaço na mídia principalmente quando o então governador Alceu Collares (PDT) usou o ultraexagerado (pela mídia) separatismo para chantagear o GF. Ainda sobre o Marx, chegou a ser vereador em Santa Cruz. Atualmente, anda mais apagado que lampião de cego...
Já essa cantora aí eu não sei nem quem é mas aparentemente está aproveitando a oportunidade para se tornar conhecida. Nunca tive conhecimento de qualquer cantora com esse nome, nem sei qual gênero de música escolheu.
Finalmente, sobre separatismo, é coisa que todo mundo aqui gosta de falar mas ninguém está realmente interessado em fazer. O que mudaria, a rigor? Nossos politiqueiros são todos tão PATIFES quanto os do resto do Brasil, ou seja, liderança de josta que nos deixaria no mesmo lugar que estamos, senão pior. Propagou-se por muito tempo, mesmo em eras pré-internet, que sustentávamos o NE, o que depois se provou ser MENTIRA! Outra mentira é essa charla de sermos mais desenvolvidos, cultos e trabalhadores que o resto dos Brasileiros. Tá todo mundo no mesmo balaio...
Mostrem-se um Gaúcho separatista e lhes mostro um índio que OU é Gaúcho OU é separatista. Pois ser Gaúcho não se resume a ter nascido aqui. Ser Gaúcho implica conhecimento e respeito pela Tradição e esta JAMAIS foi de separatismo, sendo este fenômeno puro senso politiqueiro de oportunidade, mesmo no caso do General Netto, ao tentar tomar a liderança para si...
E a coisa toda - como inclusive as demais revoltas e guerras internas que tivemos aqui - teve sempre como pano de fundo e razão fulcral brigas entre politiqueiros (em linhas gerais, liberais e conservadores), ou seja o separatismo sempre foi apenas desculpa para intere$$es outros.
Ah, e conheci pessoalmente o Irton Marx em meados dos anos 90, quando cursava Direito na UNISC. Era um sujeito meio que folclórico (leia-se BIRUTA ) e sobretudo, por mais que negasse (e nega até hoje), neonazista ferrenho. O cara estava pouco ligando para nossas Tradições, o lance dele era, em primeiro lugar, APARECER, e em segundo, criar um grupinho de acólitos (o nome do "secretário particular" dele era Giovanni com um sobrenome cheio de consoantes) para ficar debatendo sobre como seria legal uma República Federal da Alemanha...errr...do Pampa, abrangendo toda a Região Sul e dando um jeito de correr com os negros, mulatos, índios, hispânicos, em suma, toda a tigrada que não fosse de ascendência germânica. Aliás, tratava todo mundo por kamerad. Mostrava alguma tolerância para com descendentes de tugas como eu, alegando que provínhamos de uns tales de Suevos, aparentados com a "raça" dele (ou eu jamais teria sido admitido em uma reunião). Ganhou espaço na mídia principalmente quando o então governador Alceu Collares (PDT) usou o ultraexagerado (pela mídia) separatismo para chantagear o GF. Ainda sobre o Marx, chegou a ser vereador em Santa Cruz. Atualmente, anda mais apagado que lampião de cego...
Já essa cantora aí eu não sei nem quem é mas aparentemente está aproveitando a oportunidade para se tornar conhecida. Nunca tive conhecimento de qualquer cantora com esse nome, nem sei qual gênero de música escolheu.
Finalmente, sobre separatismo, é coisa que todo mundo aqui gosta de falar mas ninguém está realmente interessado em fazer. O que mudaria, a rigor? Nossos politiqueiros são todos tão PATIFES quanto os do resto do Brasil, ou seja, liderança de josta que nos deixaria no mesmo lugar que estamos, senão pior. Propagou-se por muito tempo, mesmo em eras pré-internet, que sustentávamos o NE, o que depois se provou ser MENTIRA! Outra mentira é essa charla de sermos mais desenvolvidos, cultos e trabalhadores que o resto dos Brasileiros. Tá todo mundo no mesmo balaio...
Mostrem-se um Gaúcho separatista e lhes mostro um índio que OU é Gaúcho OU é separatista. Pois ser Gaúcho não se resume a ter nascido aqui. Ser Gaúcho implica conhecimento e respeito pela Tradição e esta JAMAIS foi de separatismo, sendo este fenômeno puro senso politiqueiro de oportunidade, mesmo no caso do General Netto, ao tentar tomar a liderança para si...
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Geopolítica Brasileira
O Brasil é um estado-nação extremamente jovem. A unidade atual foi acelerada com Getúlio Vargas e consolidada no governo militar com centralização do poder, modernização das estruturas de estado e construção de um país de fato. Isso não é nem meio século.
Antes de 1930, o Brasil conseguiu algo muito importante que foi se manter unido, devido a ação do governo imperial e republicano em dois aspectos. O primeiro deixar as oligarquias rurais livres para fazerem seus negócios e se perpetuarem no poder. O segundo de dar pancada quando foi necessário para evitar revoltas da população e parte da oligarquia. Porém não representava uma unidade de fato devido à não ter integração econômica, política, infraestrutura e tudo mais. Os estados chegavam a ter tropas regionais sob seu comando, mais tarde deram origem as políticas militares em outras bases.
O Brasil teve uma trajetória até tranquila em comparação com Argentina que teve uma guerra civil de verdade ao longo do século XIX. Antes de ocorrer a centralização em Buenos Aires. Depois da independência no começo do século XIX, a América latina pegou fogo, guerras civis e conflitos eram normais. Só acalmou no século XX. Não basta ter na constituição que a unidade nacional é sagrada. Por que toda a constituição prevê isso para autorizar o uso da força na manutenção da unidade nacional. A constituição em si representa a estrutura de estado escolhida pela nação. Se isso não vale quebra a ordem e introduz outra.
No começo do século XX, os mais empolgados em São Paulo defendiam o separatismo do Brasil, pois eles se consideravam a locomotiva do país, modernos e urbanos. O motivo é que o café e exportação impulsionaram o desenvolvimento do estado muito além do resto do país e outras oligarquias. O que criou nos anos 1920 problemas sérios contra o governo central e entre as oligarquias contra São Paulo, dando margem para Vargas chegar ao poder. Seguido pela revolução constitucionalista de 1932 e inicio das transformações estruturais profundas de industrialização, urbanização, integração nacional e centralização de poder na capital federal.
Os militares em 1964 colocaram a criação de uma unidade nacional como fundamental. Como era um rompimento institucional, tiveram liberdade para fazer reformas profundas nas forças armadas, estrutura de estado e composição de forças regionais, apoiado em cima das elites regionais. Dessa época vem as estrutura de políticas militares e forte relação com exercito, cantar o hino nacional nas escolas, criar a integração nacional, incentivar a descentralização da industrialização e urbanização com centros regionais, avanço da agricultura e ocupação do centro oeste. Provavelmente, um governo civil faria coisas semelhantes, pois era um consenso que a integração e criação de uma nação seria necessária para futuro do país.
Lembrem que o fantasma da fragmentação estava viva com a segunda guerra mundial. O Brasil esteve próximo de se quebrar como palco dos conflitos e interesses entre EUA e Alemanha. Em 1964, os estrategistas ficavam de cabelo em pé quando lembravam do risco potencial, fazia menos de duas décadas. Além de estar na Guerra Fria, a Alemanha e Coreia foram divididas e jogadas uma contra outra, imagina se estourasse uma guerra civil no Brasil e as super potencias impusessem um acordo de paz com fragmentação de áreas. Ou, pior, apoiassem lados opostos e colocassem regiões em guerra com apoio da população e elites regionais.
Só com a constituição de 1988 pode falar que o Brasil é uma nação consolidada. Nas últimas duas décadas o país passou á funcionar integrado e proliferação de polos regionais industriais, serviços e urbanos. Nossas megacorporações surgiram nos anos 1970. Um processo que os Estados Unidos fizeram no século XIX, especialmente entre o fim da guerra civil e primeira guerra mundial em que resolveram os problemas entre estados e governo central. A comparação com os EUA se deve por serem muito mais parecidos com Brasil do que qualquer outro país do mundo, tanto que Celso Furtado usa como parâmetro para explicar o subdesenvolvimento brasileiros os EUA do século XIX. Não tem como comparar com Alemanha, Inglaterra, Rússia ou Canadá por que são muito diferentes.
Antes de 1930, o Brasil conseguiu algo muito importante que foi se manter unido, devido a ação do governo imperial e republicano em dois aspectos. O primeiro deixar as oligarquias rurais livres para fazerem seus negócios e se perpetuarem no poder. O segundo de dar pancada quando foi necessário para evitar revoltas da população e parte da oligarquia. Porém não representava uma unidade de fato devido à não ter integração econômica, política, infraestrutura e tudo mais. Os estados chegavam a ter tropas regionais sob seu comando, mais tarde deram origem as políticas militares em outras bases.
O Brasil teve uma trajetória até tranquila em comparação com Argentina que teve uma guerra civil de verdade ao longo do século XIX. Antes de ocorrer a centralização em Buenos Aires. Depois da independência no começo do século XIX, a América latina pegou fogo, guerras civis e conflitos eram normais. Só acalmou no século XX. Não basta ter na constituição que a unidade nacional é sagrada. Por que toda a constituição prevê isso para autorizar o uso da força na manutenção da unidade nacional. A constituição em si representa a estrutura de estado escolhida pela nação. Se isso não vale quebra a ordem e introduz outra.
No começo do século XX, os mais empolgados em São Paulo defendiam o separatismo do Brasil, pois eles se consideravam a locomotiva do país, modernos e urbanos. O motivo é que o café e exportação impulsionaram o desenvolvimento do estado muito além do resto do país e outras oligarquias. O que criou nos anos 1920 problemas sérios contra o governo central e entre as oligarquias contra São Paulo, dando margem para Vargas chegar ao poder. Seguido pela revolução constitucionalista de 1932 e inicio das transformações estruturais profundas de industrialização, urbanização, integração nacional e centralização de poder na capital federal.
Os militares em 1964 colocaram a criação de uma unidade nacional como fundamental. Como era um rompimento institucional, tiveram liberdade para fazer reformas profundas nas forças armadas, estrutura de estado e composição de forças regionais, apoiado em cima das elites regionais. Dessa época vem as estrutura de políticas militares e forte relação com exercito, cantar o hino nacional nas escolas, criar a integração nacional, incentivar a descentralização da industrialização e urbanização com centros regionais, avanço da agricultura e ocupação do centro oeste. Provavelmente, um governo civil faria coisas semelhantes, pois era um consenso que a integração e criação de uma nação seria necessária para futuro do país.
Lembrem que o fantasma da fragmentação estava viva com a segunda guerra mundial. O Brasil esteve próximo de se quebrar como palco dos conflitos e interesses entre EUA e Alemanha. Em 1964, os estrategistas ficavam de cabelo em pé quando lembravam do risco potencial, fazia menos de duas décadas. Além de estar na Guerra Fria, a Alemanha e Coreia foram divididas e jogadas uma contra outra, imagina se estourasse uma guerra civil no Brasil e as super potencias impusessem um acordo de paz com fragmentação de áreas. Ou, pior, apoiassem lados opostos e colocassem regiões em guerra com apoio da população e elites regionais.
Só com a constituição de 1988 pode falar que o Brasil é uma nação consolidada. Nas últimas duas décadas o país passou á funcionar integrado e proliferação de polos regionais industriais, serviços e urbanos. Nossas megacorporações surgiram nos anos 1970. Um processo que os Estados Unidos fizeram no século XIX, especialmente entre o fim da guerra civil e primeira guerra mundial em que resolveram os problemas entre estados e governo central. A comparação com os EUA se deve por serem muito mais parecidos com Brasil do que qualquer outro país do mundo, tanto que Celso Furtado usa como parâmetro para explicar o subdesenvolvimento brasileiros os EUA do século XIX. Não tem como comparar com Alemanha, Inglaterra, Rússia ou Canadá por que são muito diferentes.
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Re: Geopolítica Brasileira
Muito melhor que baboseiras de Norte ecológico, Nordeste mão de obra, Sul qualidade de vida, Sudeste locomotiva, Centro-Oeste celeiro etc etc é um BRASIL UNIDO com toda sua diferença, mistura, particularidade, força, união, ajuda e integração regionais ETC ETC ETC
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Re: Geopolítica Brasileira
União de forças emergentes
13 Jul 2014
Demanda por maior poder em fóruns globais dará o tom da cúpula do Brics em Fortaleza
Eliane Oliveira
Depois da Copa do Mundo, o Brasil se prepara para jogar em outro campo, desta vez junto com os demais integrantes do Brics (sigla do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em encontro de cúpula de chefes de Estado e governo, que começa amanhã em Fortaleza (CE). Os "adversários do grupo" - ausentes do evento, mas no centro da pauta - são as nações desenvolvidas, devido à baixa importância dada pelas potências ocidentais aos países emergentes. As mudanças na política monetária da União Europeia e dos EUA, que na última quarta-feira anunciaram o fim das medidas de estímulo à economia em outubro, serão o principal tema da reunião.
Os líderes do Brics estão preocupados com o crescimento de seus países, a liberalização do comércio e a maior participação nas decisões econômicas mundiais. Essa preocupação estará expressa na declaração final que será negociada pelos sherpas - como são chamados aqueles que organizam previamente o encontro - até a primeira hora de segunda-feira, quando passarão o bastão para os ministros da Economia e das Relações Exteriores do bloco. A Declaração de Fortaleza terá 50 artigos e será entregue aos chefes de Estado na terça-feira. Embora os países desenvolvidos não sejam citados no texto, eles serão criticados, especialmente pela paralisação do processo de reformas no sistema de cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A reunião de cúpula do Brics terá duas faces: a política, com a posição do grupo sobre temas delicados, como a situação no Oriente Médio e na Ucrânia; e a econômica, ponto forte do encontro. No segundo caso, os ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais se reúnem amanhã, quando o desenho do banco de desenvolvimento será concluído.
A instituição entrará em funcionamento dentro de um ano, segundo o Ministério da Fazenda, mas é fundamental sua aprovação pelo Legislativo brasileiro. Até a noite de sexta-feira, a expectativa era que a sede do banco, disputada por todos os membros, à exceção do Brasil, e a presidência da instituição, desejada pelo governo brasileiro e pelos demais integrantes do bloco, só serão decididas pelos chefes de Estado.
Fora da agenda oficial, a China voltará a insistir com a entrada de novos membros no bloco, começando pela Argentina - que vive uma das mais duras crises econômicas de sua história. O Brasil resiste a essa possibilidade. Argumenta que ainda é preciso dar uma roupagem melhor ao bloco. Os chineses conseguiram emplacar a África do Sul em 2011, mas não tiveram o mesmo êxito com México e Indonésia.
Há interesse dos países desenvolvidos na reunião de cúpula do Brics. O banco de desenvolvimento e o fundo de reservas para ajudar os países com problemas no balanço de pagamentos (contas com o resto do mundo), que também será criado, são competidores diretos do Banco Mundial e do FMI. Com isso, o bloco quer reafirmar sua posição de ter alternativas para o sistema financeiro mundial, fortemente questionado pelo grupo.
- Quanto mais competição, melhor - disse uma fonte da área econômica.
O governo brasileiro aposta nas reuniões bilaterais entre Dilma e o restante do Brics para fazer bons negócios. No encontro que terá com o presidente da China, Xi Jiping, Dilma pretende acertar a venda de 60 aeronaves da Embraer ao mercado chinês. Com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, será assinado um plano de ação, a ser executado até o fim de 2015, que prevê investimentos em projetos de ferrovias, portos, energia nuclear, petróleo e gás, entre outros.
Brasil e África do Sul negociam, de um lado, a liberação do ingresso de vinho sul-africano no Brasil e, de outro, acabar com os entraves à carne brasileira. Com a Índia, a ideia é expandir o comércio bilateral de US$ 9,5 bilhões em 2013 para US$ 15 bilhões até o fim de 2015.
- Cerca de 50% das exportações brasileiras para a Índia são do segmento de petróleo, e as importações, na sua maioria, são de óleo diesel, produtos que variam muito em função da oferta e do preço no mercado internacional - disse o subsecretário geral político do Itamaraty, embaixador José Alfredo Graça Lima, que também é o sherpa do Brasil.
Para o presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Sérgio Amaral, o Brics quer uma nova governança econômico-financeira, mas não se entende sobre a correção dos grandes desequilíbrios entre os países que exportam e têm superávits e os que importam e têm déficits. A superação desse obstáculo, afirmou Amaral, está relacionada à questão cambial, assunto que os integrantes do Brics não conseguem sequer discutir, porque a China não aceita incluí-la na agenda:
- Enquanto o Brics tem seu desempenho econômico menos expressivo, os países mais desenvolvidos estão saindo da crise, caso dos EUA e da União Europeia. Outro fator é que esse grupo original do Brics está sendo superado por alguns outros países em desenvolvimento com performance mais expressiva, como México, Coreia do Sul, Indonésia e Polônia. O que resta do Brics? O aspecto político.
Leonardo Paz, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, diz que ainda é difícil definir com clareza o perfil do Brics. Segundo ele, com a crise financeira mundial, o bloco idealizado pelo economista Jim O'Neill, no início dos anos 2000, acabou ganhando um tom mais político:
- O grupo precisará de um tempo para amadurecer.
13 Jul 2014
Demanda por maior poder em fóruns globais dará o tom da cúpula do Brics em Fortaleza
Eliane Oliveira
Depois da Copa do Mundo, o Brasil se prepara para jogar em outro campo, desta vez junto com os demais integrantes do Brics (sigla do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em encontro de cúpula de chefes de Estado e governo, que começa amanhã em Fortaleza (CE). Os "adversários do grupo" - ausentes do evento, mas no centro da pauta - são as nações desenvolvidas, devido à baixa importância dada pelas potências ocidentais aos países emergentes. As mudanças na política monetária da União Europeia e dos EUA, que na última quarta-feira anunciaram o fim das medidas de estímulo à economia em outubro, serão o principal tema da reunião.
Os líderes do Brics estão preocupados com o crescimento de seus países, a liberalização do comércio e a maior participação nas decisões econômicas mundiais. Essa preocupação estará expressa na declaração final que será negociada pelos sherpas - como são chamados aqueles que organizam previamente o encontro - até a primeira hora de segunda-feira, quando passarão o bastão para os ministros da Economia e das Relações Exteriores do bloco. A Declaração de Fortaleza terá 50 artigos e será entregue aos chefes de Estado na terça-feira. Embora os países desenvolvidos não sejam citados no texto, eles serão criticados, especialmente pela paralisação do processo de reformas no sistema de cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A reunião de cúpula do Brics terá duas faces: a política, com a posição do grupo sobre temas delicados, como a situação no Oriente Médio e na Ucrânia; e a econômica, ponto forte do encontro. No segundo caso, os ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais se reúnem amanhã, quando o desenho do banco de desenvolvimento será concluído.
A instituição entrará em funcionamento dentro de um ano, segundo o Ministério da Fazenda, mas é fundamental sua aprovação pelo Legislativo brasileiro. Até a noite de sexta-feira, a expectativa era que a sede do banco, disputada por todos os membros, à exceção do Brasil, e a presidência da instituição, desejada pelo governo brasileiro e pelos demais integrantes do bloco, só serão decididas pelos chefes de Estado.
Fora da agenda oficial, a China voltará a insistir com a entrada de novos membros no bloco, começando pela Argentina - que vive uma das mais duras crises econômicas de sua história. O Brasil resiste a essa possibilidade. Argumenta que ainda é preciso dar uma roupagem melhor ao bloco. Os chineses conseguiram emplacar a África do Sul em 2011, mas não tiveram o mesmo êxito com México e Indonésia.
Há interesse dos países desenvolvidos na reunião de cúpula do Brics. O banco de desenvolvimento e o fundo de reservas para ajudar os países com problemas no balanço de pagamentos (contas com o resto do mundo), que também será criado, são competidores diretos do Banco Mundial e do FMI. Com isso, o bloco quer reafirmar sua posição de ter alternativas para o sistema financeiro mundial, fortemente questionado pelo grupo.
- Quanto mais competição, melhor - disse uma fonte da área econômica.
O governo brasileiro aposta nas reuniões bilaterais entre Dilma e o restante do Brics para fazer bons negócios. No encontro que terá com o presidente da China, Xi Jiping, Dilma pretende acertar a venda de 60 aeronaves da Embraer ao mercado chinês. Com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, será assinado um plano de ação, a ser executado até o fim de 2015, que prevê investimentos em projetos de ferrovias, portos, energia nuclear, petróleo e gás, entre outros.
Brasil e África do Sul negociam, de um lado, a liberação do ingresso de vinho sul-africano no Brasil e, de outro, acabar com os entraves à carne brasileira. Com a Índia, a ideia é expandir o comércio bilateral de US$ 9,5 bilhões em 2013 para US$ 15 bilhões até o fim de 2015.
- Cerca de 50% das exportações brasileiras para a Índia são do segmento de petróleo, e as importações, na sua maioria, são de óleo diesel, produtos que variam muito em função da oferta e do preço no mercado internacional - disse o subsecretário geral político do Itamaraty, embaixador José Alfredo Graça Lima, que também é o sherpa do Brasil.
Para o presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Sérgio Amaral, o Brics quer uma nova governança econômico-financeira, mas não se entende sobre a correção dos grandes desequilíbrios entre os países que exportam e têm superávits e os que importam e têm déficits. A superação desse obstáculo, afirmou Amaral, está relacionada à questão cambial, assunto que os integrantes do Brics não conseguem sequer discutir, porque a China não aceita incluí-la na agenda:
- Enquanto o Brics tem seu desempenho econômico menos expressivo, os países mais desenvolvidos estão saindo da crise, caso dos EUA e da União Europeia. Outro fator é que esse grupo original do Brics está sendo superado por alguns outros países em desenvolvimento com performance mais expressiva, como México, Coreia do Sul, Indonésia e Polônia. O que resta do Brics? O aspecto político.
Leonardo Paz, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, diz que ainda é difícil definir com clareza o perfil do Brics. Segundo ele, com a crise financeira mundial, o bloco idealizado pelo economista Jim O'Neill, no início dos anos 2000, acabou ganhando um tom mais político:
- O grupo precisará de um tempo para amadurecer.
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Re: Geopolítica Brasileira
Bons ventos vêm do Brics
13 Jul 2014
As expectativas em torno da reunião de cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), esta semana, em Fortaleza, são de resultados bastante mais produtivos do que protocolares, o que, por si, é bom sinal. E o grupo demonstra ousadia. Vai anunciar oficialmente a criação de um banco de desenvolvimento e de um fundo de divisas com aportes iniciais totais de, respectivamente, US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões.
Mais: não se trata de blá-blá-blá. Certamente vai levar algum tempo até que as duas instituições passem pelo crivo dos parlamentos, tenham os acordos internacionais ratificados e virem realidade, mas as bases estão criadas depois de tão exaustivas quanto persistentes reuniões, num claro sinal da disposição conjunta de avançar. O prazo para começar a operar está previsto num horizonte de dois anos: nem tão curto que pareça irresponsável ou ilusório nem tão longo que passe a sensação de inalcançável.
Outro aceno importante a observar é que os estados membros se mostram abertos a outros países. Não por acaso, da capital cearense, os presidentes virão a Brasília, onde se encontrarão com colegas de países da América do Sul. Além disso, banco e fundo são lançados não para atender com exclusividade o Brics, mas como alternativa ao mundo em desenvolvimento, hoje dependente do Banco Mundial (Bird) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), historicamente comandados pelos Estados Unidos e pela Europa.
Aliás, outro acerto é fundar as instituições sem a pretensão de substituir as duas principais criações de Bretton Woods, grande acordo econômico mundial costurado no pós-Segunda Guerra pelos países aliados, vencedores do nazifascismo. Ou seja, quando o planeta insiste em seguir uma ordem ultrapassada, pré-globalização, o Brics oferece algo novo, sem a dimensão dos originais, mas também — ao menos teoricamente — sem a aspiração de concorrer com eles. Oxalá a anunciada intenção se confirme e as instituições surjam com viés global, livres de dirigismos ideológicos.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são realidades sociais, políticas, econômicas e culturais diversas. Essa, a maior pedra apontada pelos céticos como obstáculo intransponível à união dos cinco países num objetivo comum. O argumento, sem dúvida, é respeitável. Mas, por essa mesma razão, a curta caminhada até aqui é êxito inconteste. Cada uma a seu modo, são potências mundiais, duas delas (Rússia e China), inclusive, com poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
De resto, a União Europeia também se faz na soma de diferenças. E há lições a tirar de lá, como o esforço conjunto em prol dos menores e as associações com outros países. O Brics pode inspirar-se e ir além, transformando o potencial multiplicador das cinco economias no eixo de novo padrão de desenvolvimento, sobretudo, sustentável. E se o banco vem aí para financiar infraestrutura, é bom cuidar de priorizar igualmente — senão principalmente — a educação.
13 Jul 2014
As expectativas em torno da reunião de cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), esta semana, em Fortaleza, são de resultados bastante mais produtivos do que protocolares, o que, por si, é bom sinal. E o grupo demonstra ousadia. Vai anunciar oficialmente a criação de um banco de desenvolvimento e de um fundo de divisas com aportes iniciais totais de, respectivamente, US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões.
Mais: não se trata de blá-blá-blá. Certamente vai levar algum tempo até que as duas instituições passem pelo crivo dos parlamentos, tenham os acordos internacionais ratificados e virem realidade, mas as bases estão criadas depois de tão exaustivas quanto persistentes reuniões, num claro sinal da disposição conjunta de avançar. O prazo para começar a operar está previsto num horizonte de dois anos: nem tão curto que pareça irresponsável ou ilusório nem tão longo que passe a sensação de inalcançável.
Outro aceno importante a observar é que os estados membros se mostram abertos a outros países. Não por acaso, da capital cearense, os presidentes virão a Brasília, onde se encontrarão com colegas de países da América do Sul. Além disso, banco e fundo são lançados não para atender com exclusividade o Brics, mas como alternativa ao mundo em desenvolvimento, hoje dependente do Banco Mundial (Bird) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), historicamente comandados pelos Estados Unidos e pela Europa.
Aliás, outro acerto é fundar as instituições sem a pretensão de substituir as duas principais criações de Bretton Woods, grande acordo econômico mundial costurado no pós-Segunda Guerra pelos países aliados, vencedores do nazifascismo. Ou seja, quando o planeta insiste em seguir uma ordem ultrapassada, pré-globalização, o Brics oferece algo novo, sem a dimensão dos originais, mas também — ao menos teoricamente — sem a aspiração de concorrer com eles. Oxalá a anunciada intenção se confirme e as instituições surjam com viés global, livres de dirigismos ideológicos.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são realidades sociais, políticas, econômicas e culturais diversas. Essa, a maior pedra apontada pelos céticos como obstáculo intransponível à união dos cinco países num objetivo comum. O argumento, sem dúvida, é respeitável. Mas, por essa mesma razão, a curta caminhada até aqui é êxito inconteste. Cada uma a seu modo, são potências mundiais, duas delas (Rússia e China), inclusive, com poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
De resto, a União Europeia também se faz na soma de diferenças. E há lições a tirar de lá, como o esforço conjunto em prol dos menores e as associações com outros países. O Brics pode inspirar-se e ir além, transformando o potencial multiplicador das cinco economias no eixo de novo padrão de desenvolvimento, sobretudo, sustentável. E se o banco vem aí para financiar infraestrutura, é bom cuidar de priorizar igualmente — senão principalmente — a educação.