Permitam-me uns dois centimos de opinião, sobre a questão da qualidade do terreno.
Eu acompanhei na altura à distância e bastante por alto, os planos para a contrução e desenvolvimento do Osório. Lembro-me que havia um projeto concorrente, mais parecido com o M41 e que tanto poderia ter uma peça de 76mm como de 105mm, o Tamoyo.
A questão que muita gente levantava na altura era tanto a das estradas como das pontes.
Na altura, década de 1980, as estradas eram um problema muito maior que agora. O número de estradas de terra era muito superior e não havia uma rede como hoje.
Havia cidades no Mato Grosso, no Pará e no Acre que eram autênticas ilhas e a ligação era por estrada de terra.
A verdade, é que com estradas desse tipo, mesmo um tanque com 28t é demasiado problemático.
O tanque até pode andar em terreno semi-alagado, o problema é que atrás do tanque tem que ir uma parafernália de meios de apoio, que precisam da estrada que o tanque já destruiu.
Com uma rede de estradas melhor, a situação muda um pouco, principalmente quando utilizamos o carro de combate pesado como uma arma defensiva e não como uma arma ofensiva, com grandes movimentações blindadas nas planicies como na Europa ou no norte de África (no Brasil, este tipo de cenário só seria viável no sul, ou melhor, entre o sul de Minas Gerais e a fronteira com o Uruguai).
Um simples grupo, com apenas 5 tanques, cinco ou dez VBTP, viaturas de comunicação, carro oficina, e uns dez carros para transporte de combustível e água, pode controlar uma área grande, onde viaturas blindadas inimigas podem ser um problema.
Na segunda guerra mundial, a invasão da União Soviética, foi completamente condicionada pela área alagada do rio Pripet. Os alemães nem sequer pensaram em atacar ali e circundaram essa região por centenas de quilometros, exactamente porque nem os tanques de 20t dos alemães não passavam lá sem problemas.
Os russos, chegaram a enviar uma divisão inteira para o sul dessa área, tendo-se perdido centenas de tanques T-26 e BT-7 atolados na lama. O
tanque T-26S tem 10.3t e o
tanque BT-7tem 13.8t.
Portanto, a questão do peso da viatura, é pouco significativa, pois mesmo carros relativamente leves, sofrem com as condições do terreno. Seriam muito mais eficazes por exemplo, esteiras largas, que melhorassem a distribuição do peso, mas mesmo assim, continua sempre a haver o problema da destruição das estradas para o resto das viaturas.
Os tanques não são as únicas viaturas que se movem. E o que mais afeta a movimentação de uma unidade blindada não é necessáriamente o transporte dos tanques, mas sim o gigantesco grupo de apoio que é necessário mover, para garantir a operação mesmo de um pequeno numero de viaturas blindadas pesadas.
A complexidade da movimentação, resultante de meios de apoio pouco eficientes, chegou a ser apontada como a maior dor de cabeça. A outra questão era a inexistência de uma força contrária, que realmente tornasse imprescindível a aquisição de uma viatura blindada pesada muito sofisticada.
A ideia que ficou desde a década de 1980 foi a de que o exército brasileiro, foi atrás do Osório, não o contrário.