NOTÍCIAS POLÍTICAS
Moderador: Conselho de Moderação
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Deus o ouça.
Zuenir Ventura, O Globo - 21.05.14.
Em meio ao baixo-astral e ao pessimismo generalizados, eis que surge um espécime raro: um otimista, na figura do motorista de táxi do qual sou freguês. Ele desmente todos os estereótipos preconceituosos.
Mulato escuro, baixa instrução formal, é um lúcido analista da conjuntura política sem qualquer vinculação partidária ou ideológica. Bem informado, sabe tudo o que está acontecendo pelo rádio, televisão e jornal. Lê, vê e ouve diariamente noticiários e debates. E aí tira suas próprias conclusões, que nem sempre têm a ver com as nossas, dos chamados “formadores de opinião”.
Gosto de escutá-lo. No Rio, por exemplo, ele e sua família vão fazer “voto útil”, que, como se sabe, é aquela opção por um candidato que, não sendo o ideal, pode evitar um mal maior. No caso, a volta ao governo de um político que ele considera um “desastre”.
Nas últimas eleições, ajudou a eleger um deputado estadual que, agora, não vai receber o seu voto, porque “está muito radical”. Na mais recente corrida, voltou a criticar o governo federal e seus desmandos, principalmente a corrupção, mas não participa dessa onda apocalíptica de que não adianta, não tem jeito, está tudo perdido.
Sua crença na democracia é inabalável. Não acredita no suposto perigo de golpe militar, e acha que, ao fim e ao cabo, ela é capaz de resolver todos os problemas. “Só que ela exige paciência.”
Quando penso que ele vai me apoiar no meu mau humor causado pelo caos na cidade, já que é uma vítima diária dos engarrafamentos e dos buracos, ele me chama a atenção: “Mas são obras que trazem benefício. Daqui a dois anos as pessoas vão esquecer os transtornos de agora.”
Pergunta se eu já fui ver a Praça Quinze depois da derrubada do viaduto da Perimetral. “É um Rio de Janeiro que estava escondido. Um espaço lindo.” Jurei que ia ver.
E a Copa, vai ou não vai ter?
Ele acha uma “arrogância” inútil desses grupos quererem impedir um evento que é apoiado pela maioria da população. Dá como argumento o fato de que os ingressos já estão quase todos esgotados.
“Esses radicais vão atrapalhar, tumultuar, mas não impedir. O senhor acha que as pessoas vão deixar de assistir aos jogos, mesmo quando concordam com os protestos contra os gastos suntuosos e excessivos?” Digo que, a julgar pelo Rio, que não enfeitou suas ruas e fachadas, como sempre fez, há um evidente desinteresse pelos jogos.
“Não é por desinteresse, mas por medo”, ele garante, “medo de represália, de ataque dos vândalos. Mas a paixão acaba vencendo o medo, e todo mundo vai estar torcendo entusiasmado nos estádios ou diante da televisão”.
Deus o ouça.
Zuenir Ventura, O Globo - 21.05.14.
Em meio ao baixo-astral e ao pessimismo generalizados, eis que surge um espécime raro: um otimista, na figura do motorista de táxi do qual sou freguês. Ele desmente todos os estereótipos preconceituosos.
Mulato escuro, baixa instrução formal, é um lúcido analista da conjuntura política sem qualquer vinculação partidária ou ideológica. Bem informado, sabe tudo o que está acontecendo pelo rádio, televisão e jornal. Lê, vê e ouve diariamente noticiários e debates. E aí tira suas próprias conclusões, que nem sempre têm a ver com as nossas, dos chamados “formadores de opinião”.
Gosto de escutá-lo. No Rio, por exemplo, ele e sua família vão fazer “voto útil”, que, como se sabe, é aquela opção por um candidato que, não sendo o ideal, pode evitar um mal maior. No caso, a volta ao governo de um político que ele considera um “desastre”.
Nas últimas eleições, ajudou a eleger um deputado estadual que, agora, não vai receber o seu voto, porque “está muito radical”. Na mais recente corrida, voltou a criticar o governo federal e seus desmandos, principalmente a corrupção, mas não participa dessa onda apocalíptica de que não adianta, não tem jeito, está tudo perdido.
Sua crença na democracia é inabalável. Não acredita no suposto perigo de golpe militar, e acha que, ao fim e ao cabo, ela é capaz de resolver todos os problemas. “Só que ela exige paciência.”
Quando penso que ele vai me apoiar no meu mau humor causado pelo caos na cidade, já que é uma vítima diária dos engarrafamentos e dos buracos, ele me chama a atenção: “Mas são obras que trazem benefício. Daqui a dois anos as pessoas vão esquecer os transtornos de agora.”
Pergunta se eu já fui ver a Praça Quinze depois da derrubada do viaduto da Perimetral. “É um Rio de Janeiro que estava escondido. Um espaço lindo.” Jurei que ia ver.
E a Copa, vai ou não vai ter?
Ele acha uma “arrogância” inútil desses grupos quererem impedir um evento que é apoiado pela maioria da população. Dá como argumento o fato de que os ingressos já estão quase todos esgotados.
“Esses radicais vão atrapalhar, tumultuar, mas não impedir. O senhor acha que as pessoas vão deixar de assistir aos jogos, mesmo quando concordam com os protestos contra os gastos suntuosos e excessivos?” Digo que, a julgar pelo Rio, que não enfeitou suas ruas e fachadas, como sempre fez, há um evidente desinteresse pelos jogos.
“Não é por desinteresse, mas por medo”, ele garante, “medo de represália, de ataque dos vândalos. Mas a paixão acaba vencendo o medo, e todo mundo vai estar torcendo entusiasmado nos estádios ou diante da televisão”.
Deus o ouça.
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Índice de desaprovação de Dilma é igual ao de Fernando Henrique.
Ricardo Noblat - Blog do Noblat - 22.05.14.
“Aprova ou desaprova a maneira como o presidente Fernando Henrique Cardoso vem administrando o país?” – perguntou o Ibope em pesquisa nacional de junho de 2002.
43% responderam que aprovavam contra 48% que desaprovavam.
Em outubro daquele ano, Lula se elegeu pela primeira vez.
A mesma pergunta foi repetida em maio de 2010 com relação ao presidente Lula.
86% responderam que aprovavam contra 11% que desaprovavam.
Em outubro daquele ano, Lula elegeu Dilma para sucedê-lo.
Na pesquisa Ibope divulgada hoje, a pergunta foi feita com relação à presidente Dilma.
47% responderam que aprovam a maneira como ela vem administrando o país contra 48% que desaprovam.
O índice de desaprovação, pois, é igual ao do ex-presidente Fernando Henrique mais ou menos nessa mesma época.
Por mais que os assessores dela neguem, a luz amarela está acesa nos bastidores da campanha de Dilma. E se tornou mais intensa.
Ricardo Noblat - Blog do Noblat - 22.05.14.
“Aprova ou desaprova a maneira como o presidente Fernando Henrique Cardoso vem administrando o país?” – perguntou o Ibope em pesquisa nacional de junho de 2002.
43% responderam que aprovavam contra 48% que desaprovavam.
Em outubro daquele ano, Lula se elegeu pela primeira vez.
A mesma pergunta foi repetida em maio de 2010 com relação ao presidente Lula.
86% responderam que aprovavam contra 11% que desaprovavam.
Em outubro daquele ano, Lula elegeu Dilma para sucedê-lo.
Na pesquisa Ibope divulgada hoje, a pergunta foi feita com relação à presidente Dilma.
47% responderam que aprovam a maneira como ela vem administrando o país contra 48% que desaprovam.
O índice de desaprovação, pois, é igual ao do ex-presidente Fernando Henrique mais ou menos nessa mesma época.
Por mais que os assessores dela neguem, a luz amarela está acesa nos bastidores da campanha de Dilma. E se tornou mais intensa.
-
- Sênior
- Mensagens: 2627
- Registrado em: Dom Ago 02, 2009 1:16 pm
- Agradeceu: 203 vezes
- Agradeceram: 147 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
A Veja de hoje traz as imagens de quem visitava o doleiro. De tudo, conclui-se a falência da nação chamada Brasil. Estamos nas mãos de quadrilhas, cada uma com uma sigla diferente, mas que juntas, estão destruindo a nação. A continuar como está, não vejo outra saída senão a força para nos livrarmos dos vermes que corroem a nação. Nossa passividade será o nosso carrasco.
Não é nada meu. Não é nada meu. Excelência eu não tenho nada, isso é tudo de amigos meus.
- suntsé
- Sênior
- Mensagens: 3167
- Registrado em: Sáb Mar 27, 2004 9:58 pm
- Agradeceu: 232 vezes
- Agradeceram: 154 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Golpe militar???nveras escreveu:A Veja de hoje traz as imagens de quem visitava o doleiro. De tudo, conclui-se a falência da nação chamada Brasil. Estamos nas mãos de quadrilhas, cada uma com uma sigla diferente, mas que juntas, estão destruindo a nação. A continuar como está, não vejo outra saída senão a força para nos livrarmos dos vermes que corroem a nação. Nossa passividade será o nosso carrasco.
não obrigado
- rodrigo
- Sênior
- Mensagens: 12891
- Registrado em: Dom Ago 22, 2004 8:16 pm
- Agradeceu: 221 vezes
- Agradeceram: 424 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Desde 1985 os civis dividiram o bolo da corrupção. A ideologia serve apenas para os peões agitarem bandeiras. Estava lendo hoje sobre o esquema de corrupção investigado pela PF no Mato Grosso. Em poucos anos, apenas um empresário movimentou R$ 500 milhões, UM EMPRESÁRIO DO ESQUEMA! E isso no MT, imaginem as quantias desviadas em estados mais ricos, além do governo federal. A cleptocracia reina.nveras escreveu:A Veja de hoje traz as imagens de quem visitava o doleiro. De tudo, conclui-se a falência da nação chamada Brasil. Estamos nas mãos de quadrilhas, cada uma com uma sigla diferente, mas que juntas, estão destruindo a nação. A continuar como está, não vejo outra saída senão a força para nos livrarmos dos vermes que corroem a nação. Nossa passividade será o nosso carrasco.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
- Clermont
- Sênior
- Mensagens: 8842
- Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
- Agradeceu: 632 vezes
- Agradeceram: 644 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Que já dividiam desde 31 de março de 1964... E sem imprensa livre pra meter o bedelho.rodrigo escreveu:Desde 1985 os civis dividiram o bolo da corrupção.
(pra não falar de épocas muito, muito antes dessas acima citadas.)
Reina. Reinou. E reinará até quando?A cleptocracia reina.
-
- Sênior
- Mensagens: 2627
- Registrado em: Dom Ago 02, 2009 1:16 pm
- Agradeceu: 203 vezes
- Agradeceram: 147 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Nem pensar. Os que elegem estas bostas que se virem para limpar a merda. Se eu ainda fosse militar me recusaria a defender qualquer dos lados. O povo que se vire.suntsé escreveu:Golpe militar???nveras escreveu:A Veja de hoje traz as imagens de quem visitava o doleiro. De tudo, conclui-se a falência da nação chamada Brasil. Estamos nas mãos de quadrilhas, cada uma com uma sigla diferente, mas que juntas, estão destruindo a nação. A continuar como está, não vejo outra saída senão a força para nos livrarmos dos vermes que corroem a nação. Nossa passividade será o nosso carrasco.
não obrigado
Não é nada meu. Não é nada meu. Excelência eu não tenho nada, isso é tudo de amigos meus.
- Viktor Reznov
- Sênior
- Mensagens: 6834
- Registrado em: Sex Jan 15, 2010 2:02 pm
- Agradeceu: 1967 vezes
- Agradeceram: 799 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
E voto no Bolsonaro. Haters gonna hate.
I know the weakness, I know the pain. I know the fear you do not name. And the one who comes to find me when my time is through. I know you, yeah I know you.
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Os vermes dos outros são melhores.nveras escreveu:A Veja de hoje traz as imagens de quem visitava o doleiro. De tudo, conclui-se a falência da nação chamada Brasil. Estamos nas mãos de quadrilhas, cada uma com uma sigla diferente, mas que juntas, estão destruindo a nação. A continuar como está, não vejo outra saída senão a força para nos livrarmos dos vermes que corroem a nação. Nossa passividade será o nosso carrasco.
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
E antes de 1985 o bolo era dividido como? Ideologia, bla-bla-blá, denúncias mais, denúncias menos, etc, já ouviu a expressão "É a economia, estúpido?"rodrigo escreveu:Desde 1985 os civis dividiram o bolo da corrupção. A ideologia serve apenas para os peões agitarem bandeiras. Estava lendo hoje sobre o esquema de corrupção investigado pela PF no Mato Grosso. Em poucos anos, apenas um empresário movimentou R$ 500 milhões, UM EMPRESÁRIO DO ESQUEMA! E isso no MT, imaginem as quantias desviadas em estados mais ricos, além do governo federal. A cleptocracia reina.nveras escreveu:A Veja de hoje traz as imagens de quem visitava o doleiro. De tudo, conclui-se a falência da nação chamada Brasil. Estamos nas mãos de quadrilhas, cada uma com uma sigla diferente, mas que juntas, estão destruindo a nação. A continuar como está, não vejo outra saída senão a força para nos livrarmos dos vermes que corroem a nação. Nossa passividade será o nosso carrasco.
- Wingate
- Sênior
- Mensagens: 5130
- Registrado em: Sex Mai 05, 2006 10:16 am
- Localização: Crato/CE
- Agradeceu: 819 vezes
- Agradeceram: 239 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
É bem por aí. No tempo da ditadura militar os governadores, prefeitos e o presidente nos eram empurrados goela abaixo, além dos tais senadores biônicos e similares. Era aceitar ou tomar porrada...nveras escreveu:Nem pensar. Os que elegem estas bostas que se virem para limpar a merda. Se eu ainda fosse militar me recusaria a defender qualquer dos lados. O povo que se vire.suntsé escreveu: Golpe militar???
não obrigado
Agora não há desculpa, é o povo que escolhe mas ainda precisa aprender a lidar com as consequências de uma má (ou boa, se um dia houver) escolha...
Wingate
- Sávio Ricardo
- Sênior
- Mensagens: 2990
- Registrado em: Ter Mai 01, 2007 10:55 am
- Localização: Conceição das Alagoas-MG
- Agradeceu: 128 vezes
- Agradeceram: 181 vezes
- Contato:
- Penguin
- Sênior
- Mensagens: 18983
- Registrado em: Seg Mai 19, 2003 10:07 pm
- Agradeceu: 5 vezes
- Agradeceram: 374 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Mudança de regime por decreto
29.05.2014 | 02:09
O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff quer modificar o sistema brasileiro de governo. Desistiu da Assembleia Constituinte para a reforma política - ideia nascida de supetão ante as manifestações de junho passado e que felizmente nem chegou a sair do casulo - e agora tenta por decreto mudar a ordem constitucional. O Decreto 8.243, de 23 de maio de 2014, que cria a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), é um conjunto de barbaridades jurídicas, ainda que possa soar, numa leitura desatenta, como uma resposta aos difusos anseios das ruas. Na realidade é o mais puro oportunismo, aproveitando os ventos do momento para impor velhas pretensões do PT, sempre rejeitadas pela Nação, a respeito do que membros desse partido entendem que deva ser uma democracia.
A fórmula não é muito original. O decreto cria um sistema para que a "sociedade civil" participe diretamente em "todos os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta", e também nas agências reguladoras, através de conselhos, comissões, conferências, ouvidorias, mesas de diálogo, etc. Tudo isso tem, segundo o decreto, o objetivo de "consolidar a participação social como método de governo". Ora, a participação social numa democracia representativa se dá através dos seus representantes no Congresso, legitimamente eleitos. O que se vê é que a companheira Dilma não concorda com o sistema representativo brasileiro, definido pela Assembleia Constituinte de 1988, e quer, por decreto, instituir outra fonte de poder: a "participação direta".
Não se trata de um ato ingênuo, como se a Presidência da República tivesse descoberto uma nova forma de fazer democracia, mais aberta e menos "burocrática". O Decreto 8.243, apesar das suas palavras de efeito, tem - isso sim - um efeito profundamente antidemocrático. Ele fere o princípio básico da igualdade democrática ("uma pessoa, um voto") ao propiciar que alguns determinados cidadãos, aqueles que são politicamente alinhados a uma ideia, sejam mais ouvidos.
A participação em movimentos sociais, em si legítima, não pode significar um aumento do poder político institucional, que é o que em outras palavras estabelece o tal decreto. Institucionaliza-se assim a desigualdade, especialmente quando o Partido (leia-se, o Governo) subvenciona e controla esses "movimentos sociais".
O grande desafio da democracia - e, ao mesmo tempo, o grande mérito da democracia representativa - é dar voz a todos os cidadãos, com independência da sua atuação e do seu grau de conscientização. Não há cidadãos de primeira e de segunda categoria, discriminação que por decreto a presidente Dilma Rousseff pretende instituir, ao criar canais específicos para que uns sejam mais ouvidos do que outros. Ou ela acha que a maioria dos brasileiros, que trabalha a semana inteira, terá tempo para participar de todas essas audiências, comissões, conselhos e mesas de diálogo?
Ao longo do decreto fica explícito o sofisma que o sustenta: a ideia de que os "movimentos sociais" são a mais pura manifestação da democracia. A História mostra o contrário. Onde não há a institucionalização do poder, há a institucionalização da lei do mais forte. Por isso, o Estado Democrático de Direito significou um enorme passo civilizatório, ao institucionalizar no voto individual e secreto a origem do poder estatal. Quando se criam canais paralelos de poder, não legitimados pelas urnas, inverte-se a lógica do sistema. No mínimo, a companheira Dilma e os seus amigos precisariam para esse novo arranjo de uma nova Constituição, que já não seria democrática. No entanto, tiveram o descaramento de fazê-lo por decreto.
Querem reprisar o engodo totalitário, vendendo um mundo romântico, mas entregando o mais frio e cinzento dos mundos, onde uns poucos pretendem dominar muitos. Em resumo: é mais um ato inconstitucional da presidente Dilma. Que o Congresso esteja atento - não apenas o STF, para declarar a inconstitucionalidade do decreto -, já que a mensagem subliminar em toda essa história é a de que o Poder Legislativo é dispensável.
29.05.2014 | 02:09
O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff quer modificar o sistema brasileiro de governo. Desistiu da Assembleia Constituinte para a reforma política - ideia nascida de supetão ante as manifestações de junho passado e que felizmente nem chegou a sair do casulo - e agora tenta por decreto mudar a ordem constitucional. O Decreto 8.243, de 23 de maio de 2014, que cria a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), é um conjunto de barbaridades jurídicas, ainda que possa soar, numa leitura desatenta, como uma resposta aos difusos anseios das ruas. Na realidade é o mais puro oportunismo, aproveitando os ventos do momento para impor velhas pretensões do PT, sempre rejeitadas pela Nação, a respeito do que membros desse partido entendem que deva ser uma democracia.
A fórmula não é muito original. O decreto cria um sistema para que a "sociedade civil" participe diretamente em "todos os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta", e também nas agências reguladoras, através de conselhos, comissões, conferências, ouvidorias, mesas de diálogo, etc. Tudo isso tem, segundo o decreto, o objetivo de "consolidar a participação social como método de governo". Ora, a participação social numa democracia representativa se dá através dos seus representantes no Congresso, legitimamente eleitos. O que se vê é que a companheira Dilma não concorda com o sistema representativo brasileiro, definido pela Assembleia Constituinte de 1988, e quer, por decreto, instituir outra fonte de poder: a "participação direta".
Não se trata de um ato ingênuo, como se a Presidência da República tivesse descoberto uma nova forma de fazer democracia, mais aberta e menos "burocrática". O Decreto 8.243, apesar das suas palavras de efeito, tem - isso sim - um efeito profundamente antidemocrático. Ele fere o princípio básico da igualdade democrática ("uma pessoa, um voto") ao propiciar que alguns determinados cidadãos, aqueles que são politicamente alinhados a uma ideia, sejam mais ouvidos.
A participação em movimentos sociais, em si legítima, não pode significar um aumento do poder político institucional, que é o que em outras palavras estabelece o tal decreto. Institucionaliza-se assim a desigualdade, especialmente quando o Partido (leia-se, o Governo) subvenciona e controla esses "movimentos sociais".
O grande desafio da democracia - e, ao mesmo tempo, o grande mérito da democracia representativa - é dar voz a todos os cidadãos, com independência da sua atuação e do seu grau de conscientização. Não há cidadãos de primeira e de segunda categoria, discriminação que por decreto a presidente Dilma Rousseff pretende instituir, ao criar canais específicos para que uns sejam mais ouvidos do que outros. Ou ela acha que a maioria dos brasileiros, que trabalha a semana inteira, terá tempo para participar de todas essas audiências, comissões, conselhos e mesas de diálogo?
Ao longo do decreto fica explícito o sofisma que o sustenta: a ideia de que os "movimentos sociais" são a mais pura manifestação da democracia. A História mostra o contrário. Onde não há a institucionalização do poder, há a institucionalização da lei do mais forte. Por isso, o Estado Democrático de Direito significou um enorme passo civilizatório, ao institucionalizar no voto individual e secreto a origem do poder estatal. Quando se criam canais paralelos de poder, não legitimados pelas urnas, inverte-se a lógica do sistema. No mínimo, a companheira Dilma e os seus amigos precisariam para esse novo arranjo de uma nova Constituição, que já não seria democrática. No entanto, tiveram o descaramento de fazê-lo por decreto.
Querem reprisar o engodo totalitário, vendendo um mundo romântico, mas entregando o mais frio e cinzento dos mundos, onde uns poucos pretendem dominar muitos. Em resumo: é mais um ato inconstitucional da presidente Dilma. Que o Congresso esteja atento - não apenas o STF, para declarar a inconstitucionalidade do decreto -, já que a mensagem subliminar em toda essa história é a de que o Poder Legislativo é dispensável.
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
Carlo M. Cipolla
- Bourne
- Sênior
- Mensagens: 21087
- Registrado em: Dom Nov 04, 2007 11:23 pm
- Localização: Campina Grande do Sul
- Agradeceu: 3 vezes
- Agradeceram: 21 vezes
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Esse é manjador do que é democracia e instituições democráticas.
Considerar que os representantes são capazes de representar a totalidade das demandas da população e são o único meio em uma democracia representativa é, no mínimo, uma enorme ingenuidade. Ou, melhor, desconhecer os princípios básico do que uma democracia contemporânea trabalha. Sem a participação direta da sociedade civil, a tendência de conflitos, a falta de legitimidade e descolamento do estado e sociedade se tornam insustentável.
No brasil, ocorre não só a separação de estado e sociedade, cidades e estados têm governantes que agem como reis absolutistas. No Paraná, é comum os governadores pensarem assim, junto com assembleia legislativa, após eleitos agem como donos do estado. Assim, permitindo empregar a parentada, encontrar obras de ostentação que custam umas 10 vezes a mais do que uma solução convencional, usar diárias para viagens e compromissos pessoais.
Nem mesmo as instituições de classe e sindicatos representam os associados. Por exemplo, o Corecon (centro do economistas e bla-bla) que não vale nada, só se associa por obrigação (funcionário público com função de economista, basicamente), atrapalha e cria um protecionismo ruim na profissão e ótimos para aproveitadores. Para ter uma ideia ninguém da academia ou governo tem essa carteira, todos com PhD que são muito, mais muito mais economistas que os queridinhos que tem carteira do corecon. Ou sindicatos de classes em que a classe não é representada e a maioria ignora as determinações dos sindicalistas.
------------
A comunicação social do governo Dilma é pior que o ministro da fazenda e área de relações internacionais juntam. Ponham o Lula para essa tarefa ou tragam alguém que saiba argumentar.
No mundo civilizado e industrializado, especialmente europa, países da OCDE, a forte participação da sociedade é fundamental para que estrutura exista governabilidade, o estado tenha legitimidade e não ocorram mudanças radicais através do sequestro de entidades por grupos de interesse. Isso envolve de assembleias diretas em pequenas cidades ou bairros até membros em instituições nacionais e chaves para o país como banco central, agencias reguladoras e política fiscal.(...)
Ora, a participação social numa democracia representativa se dá através dos seus representantes no Congresso, legitimamente eleitos. O que se vê é que a companheira Dilma não concorda com o sistema representativo brasileiro, definido pela Assembleia Constituinte de 1988, e quer, por decreto, instituir outra fonte de poder: a "participação direta".
(...)
Considerar que os representantes são capazes de representar a totalidade das demandas da população e são o único meio em uma democracia representativa é, no mínimo, uma enorme ingenuidade. Ou, melhor, desconhecer os princípios básico do que uma democracia contemporânea trabalha. Sem a participação direta da sociedade civil, a tendência de conflitos, a falta de legitimidade e descolamento do estado e sociedade se tornam insustentável.
No brasil, ocorre não só a separação de estado e sociedade, cidades e estados têm governantes que agem como reis absolutistas. No Paraná, é comum os governadores pensarem assim, junto com assembleia legislativa, após eleitos agem como donos do estado. Assim, permitindo empregar a parentada, encontrar obras de ostentação que custam umas 10 vezes a mais do que uma solução convencional, usar diárias para viagens e compromissos pessoais.
Nem mesmo as instituições de classe e sindicatos representam os associados. Por exemplo, o Corecon (centro do economistas e bla-bla) que não vale nada, só se associa por obrigação (funcionário público com função de economista, basicamente), atrapalha e cria um protecionismo ruim na profissão e ótimos para aproveitadores. Para ter uma ideia ninguém da academia ou governo tem essa carteira, todos com PhD que são muito, mais muito mais economistas que os queridinhos que tem carteira do corecon. Ou sindicatos de classes em que a classe não é representada e a maioria ignora as determinações dos sindicalistas.
------------
A comunicação social do governo Dilma é pior que o ministro da fazenda e área de relações internacionais juntam. Ponham o Lula para essa tarefa ou tragam alguém que saiba argumentar.
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Isso sem falar que um dos graves problemas de nosso país reside justamente no Legislativo, diuturnamente criticado como se governo fosse. A participação da sociedade é sempre salutar, benéfica, oportuna e nada tem a ver com ameça aos poderes constituídos. Isso só existe na cabeça de jornalistas engajados politicamente. E, claro, tem de ser combatida por aqueles que andam no desvio, na ilegalidade, e temem perder suas benesses no ente público.Considerar que os representantes são capazes de representar a totalidade das demandas da população e são o único meio em uma democracia representativa é, no mínimo, uma enorme ingenuidade.