'Mentiricídio’No curso desta campanha, Dilma precisará dizer que não vai fazer aquilo que, dizem, consideraria necessário para depois
Os países da Zona do Euro, mais a Inglaterra, sendo democracias — e boas democracias — entraram num intenso debate para encontrar um programa de saída da crise, aquela de 2008/09. A coisa ficou ainda mais complicada porque, ao problema do momento, somaram-se as dificuldades estruturais do modelo europeu — gasto público excessivo, inclusive com previdência, muitos impostos para pagar, exagerada presença do Estado a inibir o setor privado, custo alto de produzir por lá etc.
Não por acaso, o debate se prolongou. E as críticas tornaram-se constantes. Dizia-se: além de tudo, os europeus estão num impasse político que bloqueia as decisões.
Era verdade, mas foi o então primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, quem colocou o dilema mais claramente. Ele perdeu a paciência no debate e saiu-se com esta: “Ora, todo mundo aqui sabe o que precisa ser feito; o que ninguém sabe é como ganhar as eleições depois.”
O pacote de maldades — como aplicá-lo de modo que o eleitor perceba que aquilo é para o bem do povo e mantenha seu voto? —, eis a questão com a qual os líderes políticos se defrontam com frequência.
Não é fácil. Aplicar a seco as medidas de ajuste, com frequência, provoca uma grande resistência popular que, numa democracia, leva à derrota no Parlamento e nas eleições.
Aí não adiantou nada, nem para o governante nem para a população. O ajuste não só se interrompe pelo caminho, como fica amaldiçoado.
O medo de cair nessa situação leva ao imobilismo governante menos esclarecido e determinado. Ele trata de empurrar com a barriga, adiar medidas o máximo possível — e esse é o caminho certo para mergulhar numa crise cada vez pior.
Esse tipo de governo, de direita ou esquerda, cai numa sequência de improvisos: aumenta um imposto aqui, corta outro que suscitou mais protesto, eleva o preço da energia elétrica, segura a gasolina, corta investimento, aumenta gasto com salários, atrasa obras, concede mais benefícios, sobe juros para uns, diminui para outros e assim vai.
A política econômica perde eficiência, a insatisfação se generaliza.
Reconheceram? Pois é.
Também é comum uma outra tentativa: o candidato sabe o que precisa ser feito, não diz para não perder votos, mas trata de fazer depois de eleito.
Em geral, é um conselho de marqueteiros. Por exemplo: pessoal do entorno da presidente Dilma comentou que ela não vai fazer “sincericídio”. Com isso, se queria dizer que ela também sabe que o país precisa de ajustes, mas que não vai sair por aí anunciando “medidas impopulares’’. Mais que isso: sua estratégia será a de dizer que a oposição prepara essas maldades.
Se for assim, não vai dar certo. No curso desta campanha, Dilma também precisará dizer que não vai fazer aquilo que, dizem, consideraria necessário para depois. De certo modo, ela já está fazendo isso, ao deixar para depois das eleições medidas como aumento do preço da gasolina e do imposto da cerveja.
Ou seja, ela cai num “mentiricídio”. Não dá para ganhar a eleição assim e depois dizer que, bem, brasileiras e brasileiros, vamos precisar de algum sacrifício... Dizem que seria seu último mandato, o que a liberaria para as maldades. Não é assim: o governante não é só ele, é ele mais a sua turma, que vai continuar aí.
Tudo considerado, é mínima a chance de a presidente Dilma, ganhando, mudar o curso de sua política econômica.
E como a oposição lida com esse dilema? Fica para a próxima.
Carlos Alberto Sardenberg
fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/mentiricidio-12489679
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
E o povo brasileiro continua cometendo o "fudicídio".cassiosemasas escreveu:'Mentiricídio’No curso desta campanha, Dilma precisará dizer que não vai fazer aquilo que, dizem, consideraria necessário para depois
Os países da Zona do Euro, mais a Inglaterra, sendo democracias — e boas democracias — entraram num intenso debate para encontrar um programa de saída da crise, aquela de 2008/09. A coisa ficou ainda mais complicada porque, ao problema do momento, somaram-se as dificuldades estruturais do modelo europeu — gasto público excessivo, inclusive com previdência, muitos impostos para pagar, exagerada presença do Estado a inibir o setor privado, custo alto de produzir por lá etc.
Não por acaso, o debate se prolongou. E as críticas tornaram-se constantes. Dizia-se: além de tudo, os europeus estão num impasse político que bloqueia as decisões.
Era verdade, mas foi o então primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, quem colocou o dilema mais claramente. Ele perdeu a paciência no debate e saiu-se com esta: “Ora, todo mundo aqui sabe o que precisa ser feito; o que ninguém sabe é como ganhar as eleições depois.”
O pacote de maldades — como aplicá-lo de modo que o eleitor perceba que aquilo é para o bem do povo e mantenha seu voto? —, eis a questão com a qual os líderes políticos se defrontam com frequência.
Não é fácil. Aplicar a seco as medidas de ajuste, com frequência, provoca uma grande resistência popular que, numa democracia, leva à derrota no Parlamento e nas eleições.
Aí não adiantou nada, nem para o governante nem para a população. O ajuste não só se interrompe pelo caminho, como fica amaldiçoado.
O medo de cair nessa situação leva ao imobilismo governante menos esclarecido e determinado. Ele trata de empurrar com a barriga, adiar medidas o máximo possível — e esse é o caminho certo para mergulhar numa crise cada vez pior.
Esse tipo de governo, de direita ou esquerda, cai numa sequência de improvisos: aumenta um imposto aqui, corta outro que suscitou mais protesto, eleva o preço da energia elétrica, segura a gasolina, corta investimento, aumenta gasto com salários, atrasa obras, concede mais benefícios, sobe juros para uns, diminui para outros e assim vai.
A política econômica perde eficiência, a insatisfação se generaliza.
Reconheceram? Pois é.
Também é comum uma outra tentativa: o candidato sabe o que precisa ser feito, não diz para não perder votos, mas trata de fazer depois de eleito.
Em geral, é um conselho de marqueteiros. Por exemplo: pessoal do entorno da presidente Dilma comentou que ela não vai fazer “sincericídio”. Com isso, se queria dizer que ela também sabe que o país precisa de ajustes, mas que não vai sair por aí anunciando “medidas impopulares’’. Mais que isso: sua estratégia será a de dizer que a oposição prepara essas maldades.
Se for assim, não vai dar certo. No curso desta campanha, Dilma também precisará dizer que não vai fazer aquilo que, dizem, consideraria necessário para depois. De certo modo, ela já está fazendo isso, ao deixar para depois das eleições medidas como aumento do preço da gasolina e do imposto da cerveja.
Ou seja, ela cai num “mentiricídio”. Não dá para ganhar a eleição assim e depois dizer que, bem, brasileiras e brasileiros, vamos precisar de algum sacrifício... Dizem que seria seu último mandato, o que a liberaria para as maldades. Não é assim: o governante não é só ele, é ele mais a sua turma, que vai continuar aí.
Tudo considerado, é mínima a chance de a presidente Dilma, ganhando, mudar o curso de sua política econômica.
E como a oposição lida com esse dilema? Fica para a próxima.
Carlos Alberto Sardenberg
fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/mentiricidio-12489679
Não é nada meu. Não é nada meu. Excelência eu não tenho nada, isso é tudo de amigos meus.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Eu vou votar contra PT, só para mudar o governo atual para isto aiEnlil escreveu:O futuro é uma escolha
Qui, 15/05/2014 - 09:25 - Atualizado em 15/05/2014 - 11:51
Por Johnny Gonçalves
Já vou avisando: este texto é meio comprido. Se você é daqueles que não conseguem ler qualquer coisa com mais de vinte linhas, procure fazer uma forcinha. Vou tentar o possível para não complicar. Se as suas forças estão fracas pra isso, ainda mais para pensar em temas horrorosos como política e economia, volta para o facebook, ninguém vai ficar magoado, de vez em quando eu também vou pra lá.
Dizem que a oposição não tem projeto de governo. Discordo. Projeto eles têm. O problema de Aécio Neves – e aderentes – é que eles defendem um produto vencido. Vou falar um pouquinho sobre esse projeto/produto mais à frente. No caso, a palavra vencido pode ser aplicada em dois sentidos: vencido porque ultrapassado, com data prescrita, como um remédio velho e amargo que ficou no fundo da gaveta; e vencido, também, porque já exposto em três eleições presidenciais e sucessivamente rejeitado pelo eleitor brasileiro.
O importante agora é perceber que tudo parece ausência de projeto porque a oposição se envergonha dele, daí defendê-lo com meias palavras, em linguagem cifrada. Dia desses, por exemplo, o candidato tucano reuniu-se com a nata do empresariado brasileiro e disse que, caso eleito, adotaria medidas impopulares. Bati três vezes na madeira. A tal da nata presente aplaudiu com efusividade. Lógico, as tais medidas impopulares, como o próprio nome diz, valeriam apenas para o povo, um grupelho abjeto ao qual não pertencem, portanto nada a ver com eles. Vou escrevendo e percebo que me saem umas palavras irritantes para os tucanos. Povo é uma delas, tucano é outra. Tem um jornal que não aceita o termo tucano. Pelo menos não aceitava. Faz tempo que deixei de comentar por lá. A gente precisava escrever tu.ca.no, assim, separado por pontinhos, senão o filtro moderador (?) tesourava. Ora, o tucano é o símbolo do PSDB. Eles passaram a se envergonhar da própria marca. Do produto, então, nem se fala. Sem marca e sem produto, parece que não têm projeto. Só que têm.
O modelito proposto por tucanos – e aderentes – chama-se neoliberalismo. Quando a gente usa essa palavra, os caras também piram. Pior pra eles. Aí é que a gente usa mais ainda o chulo da política. Afinal, não somos tão bonzinhos assim. Todo mundo sabe que a verdade pode doer, principalmente quando ela desenterra velhos fantasmas do passado, sofrimentos que foram esquecidos desde a passagem do século. Neoliberais empedernidos, neoliberais relutantes, neoliberais e ponto. Se a gente chamar essas pessoas apenas de liberais, tudo bem, aceitam numa boa. Alguns lembram-se orgulhosos de Adam Smith, David Ricardo e até de Hayek. Chiques. Mas, se botarmos o “neo” na frente, ficam tiriricas da vida. Não que isso signifique lhes atribuir alguma deficiência de caráter. No meio dessa turminha, tem gente bem intencionada, mas que resiste bravamente a qualquer tipo de mudança. Falo aqui da mudança verdadeira, que mexe com os brios de classe, diferente daquela proposta pelo rei no Gatopardo de Lampedusa (já leu?), em que se deve mudar para que tudo continue igual.
Boa parte dessa gente bem intencionada que odeia o atual governo petista (ressalve-se aí uma contradição entre ódio e boa intenção) insere-se no perfil denominado conservador, outra palavrinha incômoda. Além de ser um rótulo besta, ninguém quer mostrar o desejo de conservar nada, já que vivemos na era das revoluções vazias. Quando anéis reluzentes estão em jogo, então, é melhor não dar bandeira. A outra parcela dos bem intencionados – constituida principalmente por jovens de pouca leitura - não sabe muito bem o que quer, apenas segue tangida como gado pelas manchetes azedas da grande mídia. Somos náufragos desorientados na superfície de cacos flutuantes denominada internet. Sofremos da comichão perturbadora dos tempos modernos. Uma raiva funda e inexplicável, você sabe como é. No meio de campo, entre uns e outros, fulgura a tal da velha mídia. Esta, sim, sabe muito bem o que quer: identifica-se com o primeiro grupo, de fato é integrante do mesmo, conhece as ferramentas sofisticadas da ilusão, domina a arte de persuadir.
Mas, em termos práticos, no que consiste o projeto neoliberal? Basta rever o filme ou, para quem é novinho e está boiando, basta assistir pela primeira vez. O que foi feito nos anos 90 em nosso Brasil varonil? Basicamente, o país saía de uma longa ditadura que mantinha a renda concentrada a ferro e fogo, deixando uma herança perversa chamada inflação. Era preciso combater o monstro. O método aplicado foi “lampedúsico”: mudar para deixar tudo igual – ou até pior.
Diziam: o problema está no tamanho do Estado, que é gastador e ineficiente. Empresas públicas passaram a ser execradas, a sociedade precisava de liberdade para o empreendimento individual, urgia uma nova liberdade (daí o termo neoliberal) que expurgasse as interferências do Estado corrupto. Compramos a fórmula. A bem da verdade, importamos a fórmula. Sabe aquele esmalte de unha que a apresentadora platinada recomenda nos comerciais de televisão, mas não usa? Foi assim. Todos os países tidos como desenvolvidos possuíam Estado forte, mas o nosso tinha que ser mínimo. E para ser mínimo, tinha que arrancar pedaços. Vieram as privatizações e desregulamentações. Caramba, este texto está se transformando numa fieira de palavrões horríveis. Os pedaços do Estado foram arrancados e entregues para aqueles mesmos que defendiam sua redução. As amarras sufocantes da lei foram afrouxadas, para não atrapalhar. No frigir dos ovos, vendemos quase tudo aquilo que nossos pais e nossos avós construíram com tanto suor. Ficamos quase pelados, tudo em nome da tal liberdade, e tudo para fazer caixa, uma vez que o passivo da nação era imenso. Só que vendemos as chamadas joias da coroa por um precinho camarada, mas não adiantou, saímos com roupa de mendigos. O tal espírito empreendor não desabrochou e o caixa do governo afundou no vermelho. O FMI mandava fazer a lição de casa, o noticiário falava toda hora em remédio amargo. Por quê?
Aí entra a parte mais interessante do projeto neoliberal-tucano-conservador. Putz, nessa hora vejo alguns dos meus leitores imaginários franzirem o cenho e encerrarem a leitura, contrariados. Sem problema, vamos em frente. Para baixar a inflação, os caras precisavam reduzir o consumo. Dizem os sábios que quando a oferta de produtos não é suficiente para atender a demanda (procura), os preços sobem. Como reduzir o consumo? Isso é fácil: basta reduzir os salários. Sem grana, ninguém compra nada. Nos dias de hoje, o consumismo é desbragado. Serve até para aplacar as nossas angústias. A turminha que ontem defendia os baixos salários reclama hoje do consumismo, e olha que se dizem capitalistas! Não veem que ainda tem muita gente para entrar na festa. Tem muita gente que ainda lava roupa no tanque, que esquenta comida na lenha, que não tem casa, carro e sapato bonito. A ideia de que o consumo é um erro do governo parte daqueles mesmos que consumiam nos tempos de Fernando Henrique e continuam a consumir hoje, dos mesmos que viajavam confortáveis em seus aviões, sem a companhia repelente da plebe. Falar de aumento do salário mínimo, para eles, significa aumentar o gasto público, um horror. Foi o que fizeram nos anos 90. Assim, o salário não aumentava nem a pau, Juvenal.
Outra maneira de reduzir o consumo é aumentar os juros. Quando o salário está apertado, quase todo mundo arruma um jeito de descolar um empréstimo para comprar o carrinho em suaves prestações. Se os juros sobem, o bicho pega, pois a prestação não cabe no pequeno salário. Aquilo que os mercados chamam de política contracionista deixa um efeito colateral terrível: os mais ricos, aqueles que conseguem juntar bastante dinheiro, deixam sua grana aplicada a juros altos e ficam ainda mais ricos. Só eles podem receber as suas bolsas, disfarçadas com o nome pomposo de taxa Selic.
Com salários baixos e juros altos, a economia do país vai esfriando. As empresas não vendem, não investem em novas máquinas para produzir mais, os lucros diminuem. Adivinhe o que acontece? As empresas demitem seus trabalhadores. Ocorre algo que, felizmente, já estamos esquecendo: o desemprego. O Brasil vive hoje uma situação de pleno emprego. Falta mão de obra qualificada para preencher as vagas. Ontem mesmo, ouvi no rádio que empresas brasileiras estavam contratando haitianos para trabalhar na construção civil e em restaurantes. Nos tempos de Fernando Henrique, a coisa fedia. Não havia emprego nem a pau, Juvenal.
Já deu para perceber que, com salários arrochados, negócios em baixa e desemprego galopante, a inflação pode até cair, mas a vida se torna um inferno. Até o Maluf, que é um cara antiquado e conservador, dizia que é preciso pedalar para que a bicicleta fique de pé. Os resultados das políticas neoliberais dos anos 90 foram malignos. Uma verdadeira desgraça. O Brasil ficou sem patrimônio, sem reservas, com uma dívida gigante e uma inflação latente (com Plano Real e tudo o mais, Lula assumiu o governo e pegou 12,5% de inflação – hoje está pela metade e o pessoal reclama). A tal herança maldita (novamente eles piram) significou índices de desemprego assustadores, renda concentrada, muita pobreza e o escambau. No fim das contas, os brasileiros ficaram de saco cheio. Já podiam votar mesmo, botaram os tucanos pra correr, resolveram encarar o metalúrgico de nove dedos e o país deslanchou.
Falar que deslanchou tem um pouco de exagero, pois ainda existem grandes dificuldades. Tudo tem que ser negociado arduamente, pois vivemos a chamada democracia de coalizão, uma verdadeira bosta. Para conseguir tocar adiante os projetos de governo, tem que ceder muito. Se não ceder, já viu, volta pra casinha. Pra levar um projeto que é exatamente o oposto de tudo o que falei acima, tem que aguentar o PMDB, o PP, o PR, a Rede Globo, o Álvaro Dias e o diabo a quatro. Teve que fazer Carta aos Brasileiros. Teve que, no início, nomear como presidente do Banco Central um tucano de carteirinha. Apesar dos solavancos, a renda do brasileiro cresceu, o desemprego praticamente sumiu, a fome desapareceu do Jornal Nacional. A miséria absoluta está quase extinta.
Restou o discurso oposicionista contra a corrupção, como se a oposição não abrigasse corruptos, como se a corrupção fosse um problema recente. A maioria dos brasileiros desconfia desse discurso eivado de hipocrisia. Não que concorde com a roubalheira. Ela vê as notícias na TV falando de desvios de dinheiro, fica indignada, mas sabe que isso é conversa pra boi dormir. Não fique puto com corrupção se você já deu um dinheirinho para tirar a carteira de motorista, se você molhou a mão do fiscal da prefeitura, se corrompeu o policial rodoviário, se ficou quieto com um troco errado a seu favor, se trafegou pelo acostamento. O PT também não é perfeito. É feito de seres humanos como você. Existirá um governo perfeito? Difícil, né?
A diferença está no projeto, na maneira de ver o mundo, uma questão ideológica, até o Cazuza falava nisso. Vão dizer que é tudo a mesma coisa, que esquerda e direita não existem. Só que sim! Se você acha que direita e esquerda não existem, ou ainda não estudou bem o assunto, ou é de direita. Basicamente, a direita diz que é preciso primeiro crescer para depois distribuir. A esquerda tenta fazer o contrário. Um lado acha que o individual é mais importante, o outro acha que é o conjunto. Essas visões de mundo já nascem conosco, são difíceis de mudar. Tudo é parte de um processo civilizatório, que busca lentamente domesticar aquilo que o sócio-biólogo Richard Dawkins (já leu?) chamou de gene egoísta. Ainda somos todos macacos. Existe esquerda e direita, existe o muro e até o ET de Varginha. São estas visões que estão em jogo. O que você prefere?
http://jornalggn.com.br/blog/johnnygo/o ... ma-escolha
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
tenho pra mim, ele apontou uma solução, mas não mostrou como fazer isso, pois assim sendo prefiro a segunda opção, pois ja sabemos que o contrario não rolou e não foi por falta de tempo!!!A diferença está no projeto, na maneira de ver o mundo, uma questão ideológica, até o Cazuza falava nisso. Vão dizer que é tudo a mesma coisa, que esquerda e direita não existem. Só que sim! Se você acha que direita e esquerda não existem, ou ainda não estudou bem o assunto, ou é de direita. Basicamente, a direita diz que é preciso primeiro crescer para depois distribuir. A esquerda tenta fazer o contrário.
no Brasil a distribuição de renda foi uma piada no governo da "direita" ja na esquerda a coisa rolou bastante...agora pergunte a um miserável o que ele prefere?
dai alguns vão dizer que isso é uma forma de ganhar o pobre, acho que sim, mas o que aconteceu com a direita quando teve oportunidade de fazer, o que ela fez? a renda foi centralizada, mas isso não quer dizer que eles não possam fazer isso...o problema é querer fazer!
PS: isso não quer dizer que eu seja petista ou esquerdista! mas entre deixar um miserável ter o que comer e não ter porque temos que fazer o país crescer primeiro, sou da opinião de dar oportunidade a quem nunca teve. Ou seja deixe o miserável se alimentar!
...
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Se essa é a definição de direita e esquerda do autor, o autor precisa estudar muito mais.
Pode começar com o plano de reforma agrária, construção da rede de proteção social, previdência social, fundos de financiamento imobiliário e outras medidas de "esquerda" realizadas no governo Castelo Branco (1964-67), que via na distribuição como fator importante para criar uma dinâmica interna e paz social, necessária para retorno à democracia. Depois demonizadas e distorcidas por Costa e Silva e Medici. Emergindo com o discurso de crescer para depois distribuir, e que a rede de proteção social é coisa de vagabundo.
Outra perspectiva é visitar o Hoover Institute < http://www.hoover.org/ > e ler como a direita americana, passando por Hoover, Milton Friedman, Eisenhower sobre a necessidade da distribuição de renda como forma de reduzir a pobreza e fortalecer as bases de uma sociedade liberal e a liberdade. Sim, existe uma base de direita e conservadora que pensa nos EUA, eclipsada pelos populistas do Tea Party. Do outro lado do Atlântico, o partido conservador inglês em muitas ocasiões defendeu políticas de redistribuição de renda, na Europa continental era comum.
Recentemente, o livro do francês sobre desigualdade virou tema central de debate nos EUA.
Nos clássicos do desenvolvimento e políticas que orientaram o crescimento nos países como Brasil, a distribuição de renda é vista como empecilho ao crescimento por não incentivar os ricos a gastarem e investir, levando a insuficiência de demanda. Portanto, os impostos devem ser regressivos, provenientes de recursos dos trabalhadores e consumo, o imposto de renda abominado. Disso que vem a história de "crescer para depois distribuir que o Delfim Netto se referia. O que hoje em dia é considerada uma visão heterodoxa de inspiração keynesiana-kaldoriana.
Nos modelos convencionais do mainstream malvadão, a distribuição de renda é potencialmente benéfica. Apesar de não ser o ponto chave para o crescimento de longo prazo, mas sim como estruturar a demanda para ampliar a produção, estoque de capital e tecnologia. Para isso, necessitando de investimentos (públicos e privados), na formação de capital humano e melhor na produtividade dos fatores, traduzidos em educação e melhor infraestrutura e ambiente institucional.
Mais ainda, isso mostra a esquizofrenia da briga ideológica e doutrinária entre Carta Capital e Veja. As duas se agarraram, respectivamente, a heterodoxia como representante política da esquerda e ortodoxia como representante da direita. Simplesmente muito, mais muito errado. Não só pela divisão entre os dois ser muito subjetiva, mas mesmo que exista a heterodoxia é e sempre foi irrelevante. Os governos de esquerda se baseiam no mainstream para desenhar políticas, fazer consultas técnicas e pedir conselhos.
Esses dias a Veja publicou uma matéria exaltando as qualidades técnicas de Armínio Fraga em relação ao Mantega. Véio, na boa, os dois são de medíocres para ruins, possuem destaque pelas qualidades de político e ser o que interessa as lideranças. O pessoal realmente bom não aparece, menos ainda os que trabalham com planejamento e micro aplicada nas estranhas da estrutura estatal, montando estudos e sugerindo mudanças pontuais na burocracia que não interessam a mídia. Por exemplo, conheço de perto um membro atual do CADE, cheio de contribuições relevantes e chefia um grupo da pesada, está uns seis meses lá e nunca deu uma entrevista.
Pode começar com o plano de reforma agrária, construção da rede de proteção social, previdência social, fundos de financiamento imobiliário e outras medidas de "esquerda" realizadas no governo Castelo Branco (1964-67), que via na distribuição como fator importante para criar uma dinâmica interna e paz social, necessária para retorno à democracia. Depois demonizadas e distorcidas por Costa e Silva e Medici. Emergindo com o discurso de crescer para depois distribuir, e que a rede de proteção social é coisa de vagabundo.
Outra perspectiva é visitar o Hoover Institute < http://www.hoover.org/ > e ler como a direita americana, passando por Hoover, Milton Friedman, Eisenhower sobre a necessidade da distribuição de renda como forma de reduzir a pobreza e fortalecer as bases de uma sociedade liberal e a liberdade. Sim, existe uma base de direita e conservadora que pensa nos EUA, eclipsada pelos populistas do Tea Party. Do outro lado do Atlântico, o partido conservador inglês em muitas ocasiões defendeu políticas de redistribuição de renda, na Europa continental era comum.
Recentemente, o livro do francês sobre desigualdade virou tema central de debate nos EUA.
Agora vou chocá-losCapital in the Twenty-First Century
Thomas Piketty
Hardcover: 696 pages
Publisher: Belknap Press; First Edition edition (March 10, 2014)
Language: English
ISBN-10: 067443000X
ISBN-13: 978-0674430006
Product Dimensions: 9.6 x 6.6 x 1.9 inches
What are the grand dynamics that drive the accumulation and distribution of capital? Questions about the long-term evolution of inequality, the concentration of wealth, and the prospects for economic growth lie at the heart of political economy. But satisfactory answers have been hard to find for lack of adequate data and clear guiding theories. In Capital in the Twenty-First Century, Thomas Piketty analyzes a unique collection of data from twenty countries, ranging as far back as the eighteenth century, to uncover key economic and social patterns. His findings will transform debate and set the agenda for the next generation of thought about wealth and inequality.
Piketty shows that modern economic growth and the diffusion of knowledge have allowed us to avoid inequalities on the apocalyptic scale predicted by Karl Marx. But we have not modified the deep structures of capital and inequality as much as we thought in the optimistic decades following World War II. The main driver of inequality--the tendency of returns on capital to exceed the rate of economic growth--today threatens to generate extreme inequalities that stir discontent and undermine democratic values. But economic trends are not acts of God. Political action has curbed dangerous inequalities in the past, Piketty says, and may do so again.
A work of extraordinary ambition, originality, and rigor, Capital in the Twenty-First Century reorients our understanding of economic history and confronts us with sobering lessons for today.
Nos clássicos do desenvolvimento e políticas que orientaram o crescimento nos países como Brasil, a distribuição de renda é vista como empecilho ao crescimento por não incentivar os ricos a gastarem e investir, levando a insuficiência de demanda. Portanto, os impostos devem ser regressivos, provenientes de recursos dos trabalhadores e consumo, o imposto de renda abominado. Disso que vem a história de "crescer para depois distribuir que o Delfim Netto se referia. O que hoje em dia é considerada uma visão heterodoxa de inspiração keynesiana-kaldoriana.
Nos modelos convencionais do mainstream malvadão, a distribuição de renda é potencialmente benéfica. Apesar de não ser o ponto chave para o crescimento de longo prazo, mas sim como estruturar a demanda para ampliar a produção, estoque de capital e tecnologia. Para isso, necessitando de investimentos (públicos e privados), na formação de capital humano e melhor na produtividade dos fatores, traduzidos em educação e melhor infraestrutura e ambiente institucional.
Mais ainda, isso mostra a esquizofrenia da briga ideológica e doutrinária entre Carta Capital e Veja. As duas se agarraram, respectivamente, a heterodoxia como representante política da esquerda e ortodoxia como representante da direita. Simplesmente muito, mais muito errado. Não só pela divisão entre os dois ser muito subjetiva, mas mesmo que exista a heterodoxia é e sempre foi irrelevante. Os governos de esquerda se baseiam no mainstream para desenhar políticas, fazer consultas técnicas e pedir conselhos.
Esses dias a Veja publicou uma matéria exaltando as qualidades técnicas de Armínio Fraga em relação ao Mantega. Véio, na boa, os dois são de medíocres para ruins, possuem destaque pelas qualidades de político e ser o que interessa as lideranças. O pessoal realmente bom não aparece, menos ainda os que trabalham com planejamento e micro aplicada nas estranhas da estrutura estatal, montando estudos e sugerindo mudanças pontuais na burocracia que não interessam a mídia. Por exemplo, conheço de perto um membro atual do CADE, cheio de contribuições relevantes e chefia um grupo da pesada, está uns seis meses lá e nunca deu uma entrevista.
Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Anti-copa, anti-eleição & anti-jornalismo
Paulo Moreira Leite
Havia mais gente num ato do Planalto para anunciar condições de trabalho na Copa do que na maioria dos protestos anti-Copa
Só é possível entender a importância atribuída pelos meios de comunicação aos protestos anti-Copa, ontem, como parte do esforço para colocar o governo Dilma na defensiva quando faltam cinco meses para a eleição presidencial. É isso e só isso.
Na maioria dos protestos realizados do país, havia menos gente do que no Palácio do Planalto, às 15 horas da tarde de ontem, quando o governo, entidades patronais e as centrais sindicais – inclusive a Força Sindical – assinaram um acordo pelo trabalho decente durante da Copa do Mundo.
Você pode achar burocrático. Mas veja as consequências práticas.
No final do dia, em Brasília, grandes redes de alimentação e hotéis – estamos falando de McDonalds e Habibs, Accor, por exemplo – haviam firmado um acordo que, soube depois, era inédito no mundo.
Um total de 1600 empresas (o plano é chegar a 6000 nas próximas semanas), que empregam alguns dezenas de milhares de trabalhadores, firmou um compromisso para a Copa. Reforçar direitos trabalhistas, criar formas legais de evitar que trabalho temporário seja sinônimo de trabalho precário e impedir o avanço da exploração sexual de crianças e adolescentes, tão comum em situação desse tipo.
Sabe a preocupação social? Sabe aquele esforço para impedir que a Copa transforme o país num grande bordel? Pois é.
Você pode até achar que tudo isso é café pequeno diante das imensas causas e carências do país. É mesmo. Também pode se perguntar para que falar de iniciativas modestas, limitadas, quando a rua arde em chamas de pneus revolucionários.
São, definitivamente, iniciativas menos que reformistas, para falar em linguagem conhecida. Populistas, para usar um termo típico de quem não tem voto nem consegue comunicar-se com o povo. Eleitoreiras, é claro. Mas eu acho que os fatos de ontem ensinam muita coisa sobre o Brasil de hoje.
A menos que se acredite que em 2014 o Brasil se encontra às portas de uma revolução, numa situação que coloca questões econômicas como a expropriação dos meios privados de produção e criação de uma república de conselhos operários e populares, convém admitir que nossos meios de comunicação resolveram construir um embuste político em torno dos protestos e apresentar manifestações de rua fracassadas como se fosse um elemento da realidade.
Não seja Ney Matogrosso: leia os orçamentos, compare os gastos, veja as prioridades. Entre no debate real.
Veja quem defende, a portas fechadas, as “medidas impopulares”. Quem já se rendeu ao capital financeiro e quer entregar o Banco Central – isto é, a moeda dos brasileiros – aos mercados, para que possam jogar com ela, especular, comprar e vender. Não acredite na lorota de austeridade, de defesa da moeda acima da política e dos interesses sociais em eterno conflito. O que se quer é mais cassino em vez de mais salário mínimo. (Quase rimou...)
No cassino está o filé – que é sempre para poucos. E quando alguém falar no exemplo dos países desenvolvidos, recorde: no mármore da entrada do FED, o BC americano, está escrito que a instituição tem dois compromissos – defender a moeda do país e o emprego dos cidadãos. Lá, no coração do capitalismo, o BC tem essa função – ou missão, como dizem os RHs de hoje em dia. Toda luta pela independência do Fed consiste em lutar para revogar o compromisso com a defesa do emprego.
Numa conjuntura pré-eleitoral onde cada rua interrompida, cada pedrada, cada confronto desnecessário com a polícia e cada pequena labareda representa um desgaste das instituições políticas construídas democraticamente no fim da ditadura militar, o que se pretende é atingir um governo que toma medidas parciais, mas concretas em defesa da maioria e favorecer uma restauração conservadora. O capítulo final do embuste -- por isso é embuste -- é este. Criar uma imagem, um borrão, um ruído, que embaralhe o debate da eleição.
No país real de 2014, as alternativas são duas. E todos sabem quais são. E é por causa delas que a revolta policial do Recife, ontem, recebeu o tratamento de um episódio menor e passageiro, não é mesmo?
Na região Sudoeste de São Paulo, ontem, os trabalhadores cruzaram os braços em seis empresas. Mais tarde, avançaram por uma das pistas da Via Anchieta e fizeram o protesto por meia hora. Olha a falta de charme radical-televisivo dessa turma. Olha o tédio concreto de suas reivindicações. A monotonia. Certíssimo.
Ligados à indústria de autopeças, querem a manutenção do IPI que ajuda a vender automóveis, até hoje o setor da indústria que possui a cauda mais longa na produção de empregos diretos e indiretos. No país real, onde vive a maioria dos brasileiros, uma das prioridades é e sempre foi esta: emprego, que permite pagar a conta do fim do mês.
A reivindicação dos metalúrgicos não era improvisada. E nada tem a ver com anti-Copa, movimento que ignoram porque gostam de futebol, não querem perder a oportunidade de torcer pela seleção brasileira em seu próprio país e até admitem que os empregos que a Copa criou ajudaram no orçamento de amigos, parentes e vizinhos.
Os sindicatos querem sentar com os empresários e o governo para discutir medidas que a CUT e a Força Sindical trouxeram da Alemanha, onde trabalhadores, empresas e governo repartem custos que ajudam a manter o emprego mesmo nas situações que a economia esfria – esse tipo de pacto é um dos motivos que explica a vitória eleitoral de Angela Merkel, que não aplica contra seu povo a política de austeridade que exige dos países mais fracos da União Europeia.
No mundo real, vivemos a época do capitalismo rastejante, como definiu um dos dirigentes políticos de minha juventude. Cada emprego é uma epopeia, todo benefício social é um suadouro, garantir um horizonte de segurança para a família é uma utopia.
O que nossos conversadores mais reacionários pretendem é um confronto com todas as armas – inclusive o embuste -- com um governo que, com todos os limites, falhas e erros clamorosos, tem conseguido aliviar o sofrimento dos mais pobres.
Numa fase da história em que a renda se concentra nos principais países do planeta, gerando uma desigualdade que bons estudiosos indicam como caminho seguro para novas catástrofes, até mais frequentes, o Brasil conseguiu avançar na direção contrária. O plano era fazer virar uma Grécia. Virou... o Brasil.
Vamos lembrar de 1964. Num país polarizado, com um governo que havia chegado ao limite possível, a revolta dos sargentos, e dos cabos, a radicalização dos camponeses, a campanha sistemática de denuncia dos políticos e do Congresso envolvia causas justas e corretas – mas seu efeito real foi abrir caminho para o golpe de Estado e uma derrota de 20 anos.
Lembrem de 1933, na Alemanha. Convencido de que havia chegado a hora do assalto ao poder, o Partido Comunista Alemão, orientado por Josef Stalin, estimulou uma política sectária de denúncia da social-democracia. Rompeu a unidade dos trabalhadores e passou a acusar os social-democratas de social-fascistas. O saldo foi Hitler – uma derrota que só seria revertida pela II Guerra Mundial.
A história mudou bastante, de lá para cá. Mas convém entender que algumas lições permanecem.
Paulo Moreira Leite
Havia mais gente num ato do Planalto para anunciar condições de trabalho na Copa do que na maioria dos protestos anti-Copa
Só é possível entender a importância atribuída pelos meios de comunicação aos protestos anti-Copa, ontem, como parte do esforço para colocar o governo Dilma na defensiva quando faltam cinco meses para a eleição presidencial. É isso e só isso.
Na maioria dos protestos realizados do país, havia menos gente do que no Palácio do Planalto, às 15 horas da tarde de ontem, quando o governo, entidades patronais e as centrais sindicais – inclusive a Força Sindical – assinaram um acordo pelo trabalho decente durante da Copa do Mundo.
Você pode achar burocrático. Mas veja as consequências práticas.
No final do dia, em Brasília, grandes redes de alimentação e hotéis – estamos falando de McDonalds e Habibs, Accor, por exemplo – haviam firmado um acordo que, soube depois, era inédito no mundo.
Um total de 1600 empresas (o plano é chegar a 6000 nas próximas semanas), que empregam alguns dezenas de milhares de trabalhadores, firmou um compromisso para a Copa. Reforçar direitos trabalhistas, criar formas legais de evitar que trabalho temporário seja sinônimo de trabalho precário e impedir o avanço da exploração sexual de crianças e adolescentes, tão comum em situação desse tipo.
Sabe a preocupação social? Sabe aquele esforço para impedir que a Copa transforme o país num grande bordel? Pois é.
Você pode até achar que tudo isso é café pequeno diante das imensas causas e carências do país. É mesmo. Também pode se perguntar para que falar de iniciativas modestas, limitadas, quando a rua arde em chamas de pneus revolucionários.
São, definitivamente, iniciativas menos que reformistas, para falar em linguagem conhecida. Populistas, para usar um termo típico de quem não tem voto nem consegue comunicar-se com o povo. Eleitoreiras, é claro. Mas eu acho que os fatos de ontem ensinam muita coisa sobre o Brasil de hoje.
A menos que se acredite que em 2014 o Brasil se encontra às portas de uma revolução, numa situação que coloca questões econômicas como a expropriação dos meios privados de produção e criação de uma república de conselhos operários e populares, convém admitir que nossos meios de comunicação resolveram construir um embuste político em torno dos protestos e apresentar manifestações de rua fracassadas como se fosse um elemento da realidade.
Não seja Ney Matogrosso: leia os orçamentos, compare os gastos, veja as prioridades. Entre no debate real.
Veja quem defende, a portas fechadas, as “medidas impopulares”. Quem já se rendeu ao capital financeiro e quer entregar o Banco Central – isto é, a moeda dos brasileiros – aos mercados, para que possam jogar com ela, especular, comprar e vender. Não acredite na lorota de austeridade, de defesa da moeda acima da política e dos interesses sociais em eterno conflito. O que se quer é mais cassino em vez de mais salário mínimo. (Quase rimou...)
No cassino está o filé – que é sempre para poucos. E quando alguém falar no exemplo dos países desenvolvidos, recorde: no mármore da entrada do FED, o BC americano, está escrito que a instituição tem dois compromissos – defender a moeda do país e o emprego dos cidadãos. Lá, no coração do capitalismo, o BC tem essa função – ou missão, como dizem os RHs de hoje em dia. Toda luta pela independência do Fed consiste em lutar para revogar o compromisso com a defesa do emprego.
Numa conjuntura pré-eleitoral onde cada rua interrompida, cada pedrada, cada confronto desnecessário com a polícia e cada pequena labareda representa um desgaste das instituições políticas construídas democraticamente no fim da ditadura militar, o que se pretende é atingir um governo que toma medidas parciais, mas concretas em defesa da maioria e favorecer uma restauração conservadora. O capítulo final do embuste -- por isso é embuste -- é este. Criar uma imagem, um borrão, um ruído, que embaralhe o debate da eleição.
No país real de 2014, as alternativas são duas. E todos sabem quais são. E é por causa delas que a revolta policial do Recife, ontem, recebeu o tratamento de um episódio menor e passageiro, não é mesmo?
Na região Sudoeste de São Paulo, ontem, os trabalhadores cruzaram os braços em seis empresas. Mais tarde, avançaram por uma das pistas da Via Anchieta e fizeram o protesto por meia hora. Olha a falta de charme radical-televisivo dessa turma. Olha o tédio concreto de suas reivindicações. A monotonia. Certíssimo.
Ligados à indústria de autopeças, querem a manutenção do IPI que ajuda a vender automóveis, até hoje o setor da indústria que possui a cauda mais longa na produção de empregos diretos e indiretos. No país real, onde vive a maioria dos brasileiros, uma das prioridades é e sempre foi esta: emprego, que permite pagar a conta do fim do mês.
A reivindicação dos metalúrgicos não era improvisada. E nada tem a ver com anti-Copa, movimento que ignoram porque gostam de futebol, não querem perder a oportunidade de torcer pela seleção brasileira em seu próprio país e até admitem que os empregos que a Copa criou ajudaram no orçamento de amigos, parentes e vizinhos.
Os sindicatos querem sentar com os empresários e o governo para discutir medidas que a CUT e a Força Sindical trouxeram da Alemanha, onde trabalhadores, empresas e governo repartem custos que ajudam a manter o emprego mesmo nas situações que a economia esfria – esse tipo de pacto é um dos motivos que explica a vitória eleitoral de Angela Merkel, que não aplica contra seu povo a política de austeridade que exige dos países mais fracos da União Europeia.
No mundo real, vivemos a época do capitalismo rastejante, como definiu um dos dirigentes políticos de minha juventude. Cada emprego é uma epopeia, todo benefício social é um suadouro, garantir um horizonte de segurança para a família é uma utopia.
O que nossos conversadores mais reacionários pretendem é um confronto com todas as armas – inclusive o embuste -- com um governo que, com todos os limites, falhas e erros clamorosos, tem conseguido aliviar o sofrimento dos mais pobres.
Numa fase da história em que a renda se concentra nos principais países do planeta, gerando uma desigualdade que bons estudiosos indicam como caminho seguro para novas catástrofes, até mais frequentes, o Brasil conseguiu avançar na direção contrária. O plano era fazer virar uma Grécia. Virou... o Brasil.
Vamos lembrar de 1964. Num país polarizado, com um governo que havia chegado ao limite possível, a revolta dos sargentos, e dos cabos, a radicalização dos camponeses, a campanha sistemática de denuncia dos políticos e do Congresso envolvia causas justas e corretas – mas seu efeito real foi abrir caminho para o golpe de Estado e uma derrota de 20 anos.
Lembrem de 1933, na Alemanha. Convencido de que havia chegado a hora do assalto ao poder, o Partido Comunista Alemão, orientado por Josef Stalin, estimulou uma política sectária de denúncia da social-democracia. Rompeu a unidade dos trabalhadores e passou a acusar os social-democratas de social-fascistas. O saldo foi Hitler – uma derrota que só seria revertida pela II Guerra Mundial.
A história mudou bastante, de lá para cá. Mas convém entender que algumas lições permanecem.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Cenários da crise.
Ruy Fabiano - Blog do Noblat, 17.05.14.
A política convive desde sempre com um paradoxo: não é um campo propício a profecias – elas quase sempre falham -, mas os que nela se movem nutrem-se de prospecções. Não se dá um passo sem se pensar antes no que se desenha para o futuro.
Magalhães Pinto dizia que política é como nuvem: a cada momento adquire uma forma diferente.
Um acontecimento banal, uma declaração infeliz podem desencadear mudanças consideráveis. Ciro Gomes, por exemplo, ia muito bem na campanha eleitoral de 2006 quando declarou, num de seus momentos zen, que o papel de sua mulher na campanha era dormir com ele. Serrou assim o galho em que estava sentado.
Nas eleições de 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN, saiu de cena ao declarar que não precisava do voto dos marmiteiros. Luiz Carlos Prestes, então senador do Partido Comunista, levou sua legenda à ilegalidade, na Constituinte de 1946, ao dizer que ficaria do lado da União Soviética na hipótese de uma guerra com o Brasil. Mordeu a isca da provocação.
Há inúmeros exemplos semelhantes, que obviamente, pelo inusitado, não constaram das projeções analíticas. Fiquemos, pois, com os dados disponíveis. Cenário 1: Dilma vence as eleições. Como será o day after? Pelo que está expresso em documentos recentes do PT, teremos a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte para fazer a reforma política, de que constam, entre outras coisas, financiamento público de campanha e voto em lista.
Sabe-se também que o partido sonha com a tal democracia direta, que, na Venezuela, levou Chávez a construir seu regime bolivariano, pontuado por plebiscitos, em que apenas o governo tinha acesso aos meios de propaganda. Ali também liberou-se a reeleição sem limites. O limite de Chávez foi a própria vida.
Também constam das pretensões do partido duas metas, uma há muito não mencionada – a extinção do Senado – e outra, sempre mencionada: a regulamentação da mídia. A primeira poria fim à federação, centralizando ainda mais o poder no governo central, e a segunda estabeleceria a censura aos veículos de comunicação, como já ficou demonstrado em numerosas análises, inclusive aqui, neste blog.
Cenário 2: vence alguém da oposição. Terá que promover ajustes profundos na economia, sobretudo na máquina estatal, hoje aparelhada pelo PT e aliados. Serão medidas em grande parte impopulares, mas inevitáveis. O futuro presidente terá que contar com uma oposição violenta e vingativa, que se empenhará em manter as ruas em sobressalto e sabotar, dentro e fora do Congresso, iniciativas do governo, como já fazia no passado.
Doze anos de poder conferiram mais substância à militância petista, que não admite a hipótese de derrota; diante dela, se dispõe à guerra total, como não cansa de repetir o chamado núcleo duro do partido. Quem o frequenta – e não é o meu caso, embora converse com quem o faz – garante que não passa pela cabeça dos comandantes do PT perder; mas, se ocorrer, não se pense em transmissão passiva ou pacífica do poder, inerente aos ritos democráticos. No parecido, não se fala em campanha, mas em guerra eleitoral.
Apertem os cintos, o piloto pirou.
São essas as projeções, nada agradáveis, que aqui resumo, na expectativa de que falhem.
Ruy Fabiano - Blog do Noblat, 17.05.14.
A política convive desde sempre com um paradoxo: não é um campo propício a profecias – elas quase sempre falham -, mas os que nela se movem nutrem-se de prospecções. Não se dá um passo sem se pensar antes no que se desenha para o futuro.
Magalhães Pinto dizia que política é como nuvem: a cada momento adquire uma forma diferente.
Um acontecimento banal, uma declaração infeliz podem desencadear mudanças consideráveis. Ciro Gomes, por exemplo, ia muito bem na campanha eleitoral de 2006 quando declarou, num de seus momentos zen, que o papel de sua mulher na campanha era dormir com ele. Serrou assim o galho em que estava sentado.
Nas eleições de 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN, saiu de cena ao declarar que não precisava do voto dos marmiteiros. Luiz Carlos Prestes, então senador do Partido Comunista, levou sua legenda à ilegalidade, na Constituinte de 1946, ao dizer que ficaria do lado da União Soviética na hipótese de uma guerra com o Brasil. Mordeu a isca da provocação.
Há inúmeros exemplos semelhantes, que obviamente, pelo inusitado, não constaram das projeções analíticas. Fiquemos, pois, com os dados disponíveis. Cenário 1: Dilma vence as eleições. Como será o day after? Pelo que está expresso em documentos recentes do PT, teremos a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte para fazer a reforma política, de que constam, entre outras coisas, financiamento público de campanha e voto em lista.
Sabe-se também que o partido sonha com a tal democracia direta, que, na Venezuela, levou Chávez a construir seu regime bolivariano, pontuado por plebiscitos, em que apenas o governo tinha acesso aos meios de propaganda. Ali também liberou-se a reeleição sem limites. O limite de Chávez foi a própria vida.
Também constam das pretensões do partido duas metas, uma há muito não mencionada – a extinção do Senado – e outra, sempre mencionada: a regulamentação da mídia. A primeira poria fim à federação, centralizando ainda mais o poder no governo central, e a segunda estabeleceria a censura aos veículos de comunicação, como já ficou demonstrado em numerosas análises, inclusive aqui, neste blog.
Cenário 2: vence alguém da oposição. Terá que promover ajustes profundos na economia, sobretudo na máquina estatal, hoje aparelhada pelo PT e aliados. Serão medidas em grande parte impopulares, mas inevitáveis. O futuro presidente terá que contar com uma oposição violenta e vingativa, que se empenhará em manter as ruas em sobressalto e sabotar, dentro e fora do Congresso, iniciativas do governo, como já fazia no passado.
Doze anos de poder conferiram mais substância à militância petista, que não admite a hipótese de derrota; diante dela, se dispõe à guerra total, como não cansa de repetir o chamado núcleo duro do partido. Quem o frequenta – e não é o meu caso, embora converse com quem o faz – garante que não passa pela cabeça dos comandantes do PT perder; mas, se ocorrer, não se pense em transmissão passiva ou pacífica do poder, inerente aos ritos democráticos. No parecido, não se fala em campanha, mas em guerra eleitoral.
Apertem os cintos, o piloto pirou.
São essas as projeções, nada agradáveis, que aqui resumo, na expectativa de que falhem.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
O espírito de Chavez tomou conta do corpo da Dona Dilma ou voltamos aos anos 1950.
Esse plano do PT deve ser tão maligno que nem os membros da hierarquia média tem acesso ou sabem que existe. Na verdade, nem os possíveis quadros de alto escalão e íntimos da Dona Dilma confessam tais planos.
Sobre a oposição séria e democrática tucada, a experiência de São paulo, Minas e Paraná diga o contrário. Pelo menos, aqui in paraná, a frança brasileira, a parentada está em todos os lugares, privilégios dos coronéis aos montes, e a campanha compeçou em 2011.
Depois citam o blog do noblat como piada e não precisa justificar por que.
Esse plano do PT deve ser tão maligno que nem os membros da hierarquia média tem acesso ou sabem que existe. Na verdade, nem os possíveis quadros de alto escalão e íntimos da Dona Dilma confessam tais planos.
Sobre a oposição séria e democrática tucada, a experiência de São paulo, Minas e Paraná diga o contrário. Pelo menos, aqui in paraná, a frança brasileira, a parentada está em todos os lugares, privilégios dos coronéis aos montes, e a campanha compeçou em 2011.
Depois citam o blog do noblat como piada e não precisa justificar por que.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Essa vai ser a eleição do século.
TODOS CONTRA DILMA!!!!
Quem vai se fuder é o povo, que vai tomar na rabiola, caso o PSDB ganhe as eleições.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
O cenário acima é de um cara que não conhece o Brasil e não tem noção de como funciona o sistema político nacional. Por mais falho que seja, o Brasil é um dos poucos que instituições suficientemente fortes para aguentar alternância de poder na América Latina. O que falta é uma oposição relativamente forte, que parece surgir com o Campos.
Uma coisa é certa. O ajuste virá com ou sem Dilma. No caso do PT vem a limpeza interna e exclusão de nomes se mostraram ruins. O Mantega seria um deles e um contingente grande da Unicamp também. Eles sabem que serão realocados ou demitidos. Enquanto outro seria chamados para assumir ou retornar ao governo com carta branca. Dizem as más e boas linguás que o combate para saber quem vai assumir os cargos já começou.
Uma coisa é certa. O ajuste virá com ou sem Dilma. No caso do PT vem a limpeza interna e exclusão de nomes se mostraram ruins. O Mantega seria um deles e um contingente grande da Unicamp também. Eles sabem que serão realocados ou demitidos. Enquanto outro seria chamados para assumir ou retornar ao governo com carta branca. Dizem as más e boas linguás que o combate para saber quem vai assumir os cargos já começou.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Vantagens e desvantagens de Dilma, Aécio e Campos a cinco meses da eleição.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014 ... icao.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/infografic ... a-um.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014 ... icao.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/infografic ... a-um.shtml
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Um país diferente e incrível.
Gaudêncio Torquato, Blog do Noblat - 18.05.14.
Uma no cravo: “não apareça pensando que o Brasil é a Alemanha”. Outra na ferradura: “O Brasil é um país incrível”. Os dois conceitos, expressos pela mesma boca em menos de uma semana, mostram como a verdade, por estas plagas, é tão relativa como as projeções que os brasileiros fazem do desempenho da seleção canarinho na Copa.
O francês Jérôme Valcke, secretário da FIFA, tem sido um dos melhores intérpretes de modus faciendi nacional, ora criticando a lentidão das obras nas 12 arenas esportivas que sediarão os jogos, ora alertando turistas contra a insegurança e a precária infraestrutura: “na Alemanha você pode dormir no carro, mas você não pode fazer isso (no Brasil); não apareça pensando que é fácil se locomover”; ora incentivando as torcidas: “podem esperar um país que tem música, samba e uma série de coisas que o tornam único no mundo”. Há alguns meses, esse cavaleiro andante já prometera “dar um chute no traseiro do Brasil”.
Desculpas esfarrapadas não desfizeram a impressão de que respingos da fala toldaram a bandeira de nossa soberania. Há tempos, porém, florescem por aqui a leniência, a cultura do “deixa prá lá”, a mania de esconder sujeira por baixo do tapete.
O fato é que o país tem decaído no ranking da reputação internacional. A própria organização da Copa tem contribuído para as manchas que se acumulam na imagem brasileira, decorrentes da torrente expressiva em torno de construções inacabadas em quase todos os setores da infraestrutura, nas frentes da mobilidade urbana, nas áreas de portos e aeroportos e nas obras inconclusas dos estádios, principalmente em São Paulo, Curitiba e a Cuiabá.
Debaixo dessa aparente teia que une os fios da morosidade, da burocracia, falta de planejamento, alterações de projetos, improvisação, visões díspares, Valcke deve se sentir confortável para, vez ou outra, apertar os calos das autoridades, possivelmente imaginando que seu conterrâneo, Charles De Gaulle, teria mesmo declarado: “o Brasil não é um país sério”.
(A bem da verdade, o general nunca disse isso, sendo Carlos Alves de Souza Filho, genro do ex-presidente Artur Bernardes, o autor, na época em que era embaixador na França, entre 1956 e 1964; a referência teve como motivo a Guerra da Lagosta, envolvendo a captura de lagostas por embarcações francesas).
Também é fato que o país não tem reagido no mesmo tom às ferinas cutucadas que recebe, ou por não desejar pôr lenha na fogueira, preferindo driblar as controvérsias com a diplomática crença do ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, para quem “o objetivo comum do Brasil e da FIFA é a realização da melhor Copa do Mundo de todos os tempos”, sob o argumento de que “somos a sexta economia do mundo, temos protagonismo importante nas relações internacionais e já fizemos muita coisa mais importante do que organizar uma copa de futebol”. Nesse ponto, o ministro saltou além das pernas. Já não somos tão protagonistas como antes.
Há cinco anos, o então presidente Luiz Inácio, por ocasião da reunião do G20, em Londres, era cumprimentado efusivamente por Barack Obama com o chiste amistoso: “esse é o cara”. O Brasil orgulhava-se de ter liquidado seu débito com o FMI e exibir um dos mais eficazes programas de distribuição de renda do planeta.
A situação, hoje, mostra o país deixando de ser a sexta economia – posição que ostentou apenas por alguns meses em 2012 – devendo encolher 2,1 trilhões em dólares, este ano, para ocupar o 9º lugar, atrás da Índia e da Rússia, membros dos Brics.
O brilho com que o país se apresentava nos foros internacionais ganha densa camada de pó. A fosforescência que iluminava sua aura parece se apagar, engolfada na poeira dos movimentos de ruas e esmaecida pelo rufar de escândalos, denúncias de corrupção e ecos retumbantes da Ação Penal 470, tudo a indicar altas doses de efervescência e disposição de grupos para desfraldar as bandeiras pintadas de demandas.
Intensificam-se os movimentos que, esta semana, foram às ruas em cerca de 50 cidades; até policiais federais cruzam os braços. Pode-se compreender o animus animandi da sociedade quando se abrem as cortinas eleitorais e as portas dos estádios que abrigarão o maior evento esportivo mundial. Fica claro que parcela ponderável das correntes que gritam palavras de ordem quer aproveitar os ventos favoráveis do clima pré-Copa.
Os ecos tornam-se mais fortes, as demandas, mais audíveis, e os ouvidos dos atores políticos, mais atenciosos. A algaravia se estabelece, com troca de sinais entre concorrentes e adversários, cada qual imprimindo força ao discurso, sem compromisso com coerência ou consistência ideológica.
O Brasil é mesmo o país do vice-versa. Quem pregava, antes de ontem, a lição do medo? O PSDB da era Fernando Henrique. Deu certo. Quem pregava, ontem, a lição da esperança contra o medo? O PT da era Luiz Inácio. Deu certo.
Hoje, petistas usam o medo e tucanos, a esperança, como alavanca das urnas. Nada como um dia após o outro para se ver a troca de posição entre os opostos. A ética? Ora, uma questão de ponto de vista. O trigo de um é o joio do outro.
Com os polos se invertendo, a paisagem institucional se vê tomada por uma crise de autoridade, perceptível em atos de vandalismo, invasões de espaços e devastação de patrimônios, a denotar estado de anomia.
Por fim, a inferência. Seja qual for o desempenho da seleção brasileira no tão aguardado evento, uma coisa parece certa: o Brasil não será o mesmo. O tal “legado da Copa” suscitará polêmicas: algumas arenas se transformarão em elefantes brancos? Haverá recursos para sua manutenção?
À luz da arquitetura futurista dos estádios, como serão vistas escolas, hospitais, vias de acesso no entorno? A precariedade do Brasil em desmanche não contrastará com a exuberância do Brasil monumental? Jerome Valcke, de longe, mas pertinho dos cofres locupletados da FIFA, deverá abrir um sorriso: “que Brasil incrível; o passo maior que as pernas vai lhe dar dor de cabeça”.
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Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação
Gaudêncio Torquato, Blog do Noblat - 18.05.14.
Uma no cravo: “não apareça pensando que o Brasil é a Alemanha”. Outra na ferradura: “O Brasil é um país incrível”. Os dois conceitos, expressos pela mesma boca em menos de uma semana, mostram como a verdade, por estas plagas, é tão relativa como as projeções que os brasileiros fazem do desempenho da seleção canarinho na Copa.
O francês Jérôme Valcke, secretário da FIFA, tem sido um dos melhores intérpretes de modus faciendi nacional, ora criticando a lentidão das obras nas 12 arenas esportivas que sediarão os jogos, ora alertando turistas contra a insegurança e a precária infraestrutura: “na Alemanha você pode dormir no carro, mas você não pode fazer isso (no Brasil); não apareça pensando que é fácil se locomover”; ora incentivando as torcidas: “podem esperar um país que tem música, samba e uma série de coisas que o tornam único no mundo”. Há alguns meses, esse cavaleiro andante já prometera “dar um chute no traseiro do Brasil”.
Desculpas esfarrapadas não desfizeram a impressão de que respingos da fala toldaram a bandeira de nossa soberania. Há tempos, porém, florescem por aqui a leniência, a cultura do “deixa prá lá”, a mania de esconder sujeira por baixo do tapete.
O fato é que o país tem decaído no ranking da reputação internacional. A própria organização da Copa tem contribuído para as manchas que se acumulam na imagem brasileira, decorrentes da torrente expressiva em torno de construções inacabadas em quase todos os setores da infraestrutura, nas frentes da mobilidade urbana, nas áreas de portos e aeroportos e nas obras inconclusas dos estádios, principalmente em São Paulo, Curitiba e a Cuiabá.
Debaixo dessa aparente teia que une os fios da morosidade, da burocracia, falta de planejamento, alterações de projetos, improvisação, visões díspares, Valcke deve se sentir confortável para, vez ou outra, apertar os calos das autoridades, possivelmente imaginando que seu conterrâneo, Charles De Gaulle, teria mesmo declarado: “o Brasil não é um país sério”.
(A bem da verdade, o general nunca disse isso, sendo Carlos Alves de Souza Filho, genro do ex-presidente Artur Bernardes, o autor, na época em que era embaixador na França, entre 1956 e 1964; a referência teve como motivo a Guerra da Lagosta, envolvendo a captura de lagostas por embarcações francesas).
Também é fato que o país não tem reagido no mesmo tom às ferinas cutucadas que recebe, ou por não desejar pôr lenha na fogueira, preferindo driblar as controvérsias com a diplomática crença do ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, para quem “o objetivo comum do Brasil e da FIFA é a realização da melhor Copa do Mundo de todos os tempos”, sob o argumento de que “somos a sexta economia do mundo, temos protagonismo importante nas relações internacionais e já fizemos muita coisa mais importante do que organizar uma copa de futebol”. Nesse ponto, o ministro saltou além das pernas. Já não somos tão protagonistas como antes.
Há cinco anos, o então presidente Luiz Inácio, por ocasião da reunião do G20, em Londres, era cumprimentado efusivamente por Barack Obama com o chiste amistoso: “esse é o cara”. O Brasil orgulhava-se de ter liquidado seu débito com o FMI e exibir um dos mais eficazes programas de distribuição de renda do planeta.
A situação, hoje, mostra o país deixando de ser a sexta economia – posição que ostentou apenas por alguns meses em 2012 – devendo encolher 2,1 trilhões em dólares, este ano, para ocupar o 9º lugar, atrás da Índia e da Rússia, membros dos Brics.
O brilho com que o país se apresentava nos foros internacionais ganha densa camada de pó. A fosforescência que iluminava sua aura parece se apagar, engolfada na poeira dos movimentos de ruas e esmaecida pelo rufar de escândalos, denúncias de corrupção e ecos retumbantes da Ação Penal 470, tudo a indicar altas doses de efervescência e disposição de grupos para desfraldar as bandeiras pintadas de demandas.
Intensificam-se os movimentos que, esta semana, foram às ruas em cerca de 50 cidades; até policiais federais cruzam os braços. Pode-se compreender o animus animandi da sociedade quando se abrem as cortinas eleitorais e as portas dos estádios que abrigarão o maior evento esportivo mundial. Fica claro que parcela ponderável das correntes que gritam palavras de ordem quer aproveitar os ventos favoráveis do clima pré-Copa.
Os ecos tornam-se mais fortes, as demandas, mais audíveis, e os ouvidos dos atores políticos, mais atenciosos. A algaravia se estabelece, com troca de sinais entre concorrentes e adversários, cada qual imprimindo força ao discurso, sem compromisso com coerência ou consistência ideológica.
O Brasil é mesmo o país do vice-versa. Quem pregava, antes de ontem, a lição do medo? O PSDB da era Fernando Henrique. Deu certo. Quem pregava, ontem, a lição da esperança contra o medo? O PT da era Luiz Inácio. Deu certo.
Hoje, petistas usam o medo e tucanos, a esperança, como alavanca das urnas. Nada como um dia após o outro para se ver a troca de posição entre os opostos. A ética? Ora, uma questão de ponto de vista. O trigo de um é o joio do outro.
Com os polos se invertendo, a paisagem institucional se vê tomada por uma crise de autoridade, perceptível em atos de vandalismo, invasões de espaços e devastação de patrimônios, a denotar estado de anomia.
Por fim, a inferência. Seja qual for o desempenho da seleção brasileira no tão aguardado evento, uma coisa parece certa: o Brasil não será o mesmo. O tal “legado da Copa” suscitará polêmicas: algumas arenas se transformarão em elefantes brancos? Haverá recursos para sua manutenção?
À luz da arquitetura futurista dos estádios, como serão vistas escolas, hospitais, vias de acesso no entorno? A precariedade do Brasil em desmanche não contrastará com a exuberância do Brasil monumental? Jerome Valcke, de longe, mas pertinho dos cofres locupletados da FIFA, deverá abrir um sorriso: “que Brasil incrível; o passo maior que as pernas vai lhe dar dor de cabeça”.
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Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Para quem perguntava, as diretrizes do programa do PSB/Rede para a eleição contam com um trecho sobre a defesa:
1.4 Política de defesa: soberania democrática
O Brasil tende a ter maior importância no cenário
internacional, em função de sua extensão e biodiversidade, das
reservas de recursos naturais que controla, como petróleo, os
volumes de água potável e os recursos hídricos presentes em
seu território. Temos grande disponibilidade de terras
agricultáveis, fato que permitiria ampliar de forma significativa
nossa condição de produtores de alimentos e de outros
gêneros vegetais que se prestam a aplicações energéticas e
industriais. Tal condição requer que o país desenvolva uma
política de defesa nacional vigorosa, compatível com sua
importância estratégica e com os interesses nacionais daquela
que é a 6ª economia do mundo.
- Desenvolver a base industrial de defesa, com a
aquisição de todas as tecnologias e capacidades
industriais necessárias para que o Brasil alcance a
necessária autonomia de avaliação, decisão e ação na
defesa de sua soberania.
- Implementar ações que fortaleçam setores como o
espacial (satélites e foguetes), naval, comunicações
estratégicas, ciberdefesa, radares, defesa aérea e
aviação avançada.
- Criar articulações com o setor privado, para que o
mesmo se interesse por investir em produtos e
processos de interesse da defesa nacional.
- Criar, fortalecer e articular centros de pesquisa que
apoiem tecnologicamente a política nacional de defesa.
- Valorizar os profissionais das forças armadas, tanto em
termos de remuneração, quanto de investimentos em
sua adequada formação para o exercício das funções de
defesa, em suas diferentes vertentes.
http://www.psb40.org.br/imprensa/diretrizes.pdf
Clichêzão, mas ao menos não esqueceram. Eu até fiquei surpreso quando vi.
1.4 Política de defesa: soberania democrática
O Brasil tende a ter maior importância no cenário
internacional, em função de sua extensão e biodiversidade, das
reservas de recursos naturais que controla, como petróleo, os
volumes de água potável e os recursos hídricos presentes em
seu território. Temos grande disponibilidade de terras
agricultáveis, fato que permitiria ampliar de forma significativa
nossa condição de produtores de alimentos e de outros
gêneros vegetais que se prestam a aplicações energéticas e
industriais. Tal condição requer que o país desenvolva uma
política de defesa nacional vigorosa, compatível com sua
importância estratégica e com os interesses nacionais daquela
que é a 6ª economia do mundo.
- Desenvolver a base industrial de defesa, com a
aquisição de todas as tecnologias e capacidades
industriais necessárias para que o Brasil alcance a
necessária autonomia de avaliação, decisão e ação na
defesa de sua soberania.
- Implementar ações que fortaleçam setores como o
espacial (satélites e foguetes), naval, comunicações
estratégicas, ciberdefesa, radares, defesa aérea e
aviação avançada.
- Criar articulações com o setor privado, para que o
mesmo se interesse por investir em produtos e
processos de interesse da defesa nacional.
- Criar, fortalecer e articular centros de pesquisa que
apoiem tecnologicamente a política nacional de defesa.
- Valorizar os profissionais das forças armadas, tanto em
termos de remuneração, quanto de investimentos em
sua adequada formação para o exercício das funções de
defesa, em suas diferentes vertentes.
http://www.psb40.org.br/imprensa/diretrizes.pdf
Clichêzão, mas ao menos não esqueceram. Eu até fiquei surpreso quando vi.
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Brasil é 3º pior em ranking de educação, aponta Economist ...prp escreveu:
Essa vai ser a eleição do século.
TODOS CONTRA DILMA!!!!
Quem vai se fuder é o povo, que vai tomar na rabiola, caso o PSDB ganhe as eleições.
exame.abril.com.br/brasil/.../brasil-so-nao-pior-em-educacao-que-mexic...
08/05/2014 - Confira nas fotos como os 30 lugares mais desenvolvidos do mundo cuidam da educação e também os dados do Brasil, 85º no ranking ...
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oglobo.globo.com/.../brasil-tem-16-cidades-no-grupo-das-50-mais-viole...
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www1.folha.uol.com.br/.../1458086-brasil-cai-em-ranking-mundial-de-c...
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g1.globo.com/.../ranking-de-corrupcao-coloca-brasil-em-72-lugar-entre-...
03/12/2013 - Estudo da Transparência Internacional analisa percepção de corrupção. Dinamarca e Nova Zelândia são as menos corruptas entre os ...
Temos batido recordes nos ranking de porcarias ultimamente. Será que na rabiola do País não é na rabiola do povo?
Não é nada meu. Não é nada meu. Excelência eu não tenho nada, isso é tudo de amigos meus.