GEOPOLÍTICA
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Re: GEOPOLÍTICA
Mas agora é fácil dizer SE, e SE, e novamente SE... Ora, o Brizola nos jogaria nos braços dos soviéticos? Conta outra. Só pra constar: falavam EXATAMENTE A MESMA coisa do Lula, que o país daria uma guinada à esquerda, que o pessoal teria que dividir a casa com mais três famílias de leprosos, confisco de patrimônio, loteamento das terras dos agricultores... puah!
Editado pela última vez por GustavoB em Ter Mar 25, 2014 4:37 pm, em um total de 1 vez.
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Re: GEOPOLÍTICA
Bobagem,rodrigo escreveu:Opinião cada um tem a sua. A quebra da hierarquia militar, assim como a influência dos espertíssimos Brizola e Darcy Ribeiro sobre fraquíssimo Jango, nos jogariam nos braços soviéticos em questão de meses, não sem antes uma guerra civil terrível, de um lado a direita apoiada pelos americanos, do outro a esquerda apoiada pelos soviéticos. Foi assim aqui no Brasil, com mais ou menos o mesmo cenário no Chile. Era golpe ou guerra civil.
Nem Brizola nem Darcy Ribeiro queriam o país como satélite soviético, eles tinham posições esquerdistas mas nunca foram paus-mandados da URSS. O Darcy inclusive era muito mais um intelectual do que um político. Talvez o Carlos Prestes se encaixasse mais nesta definição, mas em 1964 ele já era um velho desencantado a caminho dos 70 anos, e não tinha mais nem controle dos comunistas brasileiros, que haviam se dividido entre o PCB e o PC do B em 19612.
Outro ponto sem base alguma é esta história do apoio da URSS a alguma facção em uma guerra civil no Brasil. A União Soviética não tinha absolutamente nenhuma capacidade de apoiar forças de maior envergadura longe do continente Eurasiano, pois para isso teria que atravessar oceanos completamente dominados pelas marinhas americana e européias ocidentais. No máximo eles conseguiriam contrabandear algum dinheiro e umas poucas armas leves, algo que nem em Cuba teria feito muita diferença não fosse o próprio governo americano retirar o apoio ao ditador Fulgêncio Batista em 1958, impondo inclusive um embargo de armas que prejudicou seriamente as suas forças. Com o comando do exército brasileiro firmemente ao lado das forças da direita qualquer tentativa de uso da violência pela esquerda teria que se limitar a algo semelhante ao que ocorreu durante a guerrilha do Araguaia, onde apesar de todo o estardalhaço que se fez depois a coisa nunca passou de um movimento com uns 80 pobres-coitados perdidos no meio do nada tentando sem sucesso convencer camponeses analfabetos a montar um exército, e que provavelmente teria desaparecido sozinho se o exército não tivesse se dado ao trabalho de ir até lá .
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Re: GEOPOLÍTICA
O ´´intelectual`` e o presidente corajoso:
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/63
Eu dizia ao Jango: “Presidente, o brigadeiro Teixeira tem aí, no aeroporto tal, Santa Cruz, cinco aviões com metralhadora na asa e eu já falei com ele e está pronto. Manda lamber a tropa do Mourão. A tropa do Mourão tinha três meses de quartel, é meninada que o Mourão mandou e que não tinha ideologia nenhuma e que se lambesse por fora, voltava para o quartel chorando. Mas o Jango dar uma ordem de fogo era muito difícil.LeandroGCard escreveu:O Darcy inclusive era muito mais um intelectual do que um político.
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/63
Apoiaram Angola com um envio de material bélico impressionante, superando em muito o envio de material e dinheiro pelos americanos aos sulafricanos e guerrilhas angolanas de direita. Só não mandaram tropas porque os cubanos se voluntariaram na esperança da internacionalização da revolução, e os soviéticos já estavam suficientemente enrolados no Afeganistão para se aventurar mais longe.LeandroGCard escreveu:A União Soviética não tinha absolutamente nenhuma capacidade de apoiar forças de maior envergadura longe do continente Eurasiano, pois para isso teria que atravessar oceanos completamente dominados pelas marinhas americana e européias ocidentais.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
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Re: GEOPOLÍTICA
Sim, claro, um grande estrategista e político preparado que diz coisas como "cinco aviões com metralhadora na asa" e "Manda lamber a tropa do Mourão". de forma alguma parece a declaração de um completo leigo em assuntos militares e estratégicos... .rodrigo escreveu:Eu dizia ao Jango: “Presidente, o brigadeiro Teixeira tem aí, no aeroporto tal, Santa Cruz, cinco aviões com metralhadora na asa e eu já falei com ele e está pronto. Manda lamber a tropa do Mourão. A tropa do Mourão tinha três meses de quartel, é meninada que o Mourão mandou e que não tinha ideologia nenhuma e que se lambesse por fora, voltava para o quartel chorando. Mas o Jango dar uma ordem de fogo era muito difícil.
E não esqueça, na mesma entrevista, o seguinte trecho:
Matinas Suzuki: "Senador, o senhor acha que o comunismo não daria certo aqui no Brasil"?
Darcy Ribeiro: "Um Estado brasileiro poderia até fazer dar certo, podia doer muito… Mas ia acabar como acabou na Rússia, não é? Eu acho o seguinte: eu acho que os comunistas levantaram uma série de questões básicas, como a defesa dos interesses nacionais, a defesa do povo, a defesa da reforma agrária, a denúncia da brutalidade da sociedade brasileira e representaram um papel bonito. Mas, visivelmente… E houve um momento, aqui em São Paulo, quando o partido foi à legalidade porque ele teve 600 mil membros... Podia, se assumisse uma feição democrática, podia ter tido futuro, mas ele se fechou."
Então Darcy Ribeiro não era um simples antropólogo, leigo em assuntos militares, com uma visão estratégica mínima e um posicionamento comunista mas independente, e sim um astuto e brilhante estrategista e ferrenho defensor da ditadura do proletariado e do regime russo da época. Um dos grandes líderes que iam dirigir a transformação do Brasil em uma república soviética, pois não? Então tá então .
A independência de Angola se deu em 1975, com os portugueses concordando em passar o controle do país para o MPLA (mesmo com muita gente discordando desta decisão). A ONU reconheceu o país e o governo do MPLA já no ano seguinte, embora os EUA se recusasse até 1993. Para todos os efeitos Angola era uma nação soberana reconhecida pela grande maioria da comunidade internacional, inclusive o europeus ocidentais, sob o presidente Jonas Savimbi. Neste contexto a ajuda da URSS (e de Cuba) à Angola era o apoio de uma nação soberana a outra, dentro de todas as regras internacionais e, portanto, livre, executada de forma aberta. Já o apoio dos EUA às forças da UNITA era o suporte a um grupo guerrilheiro sem reconhecimento internacional e a um governo estrangeiro altamente criticado (o da África do Sul durante o Apartheid) que ocupava ilegalmente território que não lhe pertenciam (Namíbia e a extremidade sul de Angola). Nestas condições não há porque se admirar de que a ajuda soviética ao MPLA fosse muito mais volumosa do que a Americana às forças rebeldes.Apoiaram Angola com um envio de material bélico impressionante, superando em muito o envio de material e dinheiro pelos americanos aos sulafricanos e guerrilhas angolanas de direita. Só não mandaram tropas porque os cubanos se voluntariaram na esperança da internacionalização da revolução, e os soviéticos já estavam suficientemente enrolados no Afeganistão para se aventurar mais longe.
Já no caso do Brasil seria exatamente o contrário. O governo estabelecido não poderia fazer nenhum movimento demasiado incisivo à esquerda pois estava praticamente sob a tutela dos militares que tinham apoio total dos EUA. E se as forças de esquerdistas tentassem apelar para a força seriam elas o movimento ilegal. Como a URSS poderia apoiá-las então?
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Re: GEOPOLÍTICA
Concordo Gustavo, mas lembro que o Lula foi bem menos radical nas campanhas contra FHC, Serra e Alckmin, do que quando enfrentou o Collor.GustavoB escreveu:Mas agora é fácil dizer SE, e SE, e novamente SE... Ora, o Brizola nos jogaria nos braços dos soviéticos? Conta outra. Só pra constar: falavam EXATAMENTE A MESMA coisa do Lula, que o país daria uma guinada à esquerda, que o pessoal teria que dividir a casa com mais três famílias de leprosos, confisco de patrimônio, loteamento das terras dos agricultores... puah!
Re: GEOPOLÍTICA
Com certeza, precisou um "banho de loja" para ficar mais "palatável" a nossa conservadora e manipulável opinião pública. Mas, a bem da verdade, o PT jogou o jogo e venceu.
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Re: GEOPOLÍTICA
Bom se o comunismo tivesse sido implantado no Brasil, o que duvido muito mesmo sem o golpe.
Poderíamos ser uma Cuba? Poderia!
Mas se fossemos uma China? Bem dai aqui ninguém estaria reclamando.
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Re: GEOPOLÍTICA
Meu caro, melhor reler tudo de novo. Savimbi era da UNITA, apoiado pelos EUA, tudo ao contrário.Para todos os efeitos Angola era uma nação soberana reconhecida pela grande maioria da comunidade internacional, inclusive o europeus ocidentais, sob o presidente Jonas Savimbi.
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Re: GEOPOLÍTICA
Tem razão, confundi os nomes ao escrever. O primeiro presidente de Angola era Agostinho Neto .rodrigo escreveu:Meu caro, melhor reler tudo de novo. Savimbi era da UNITA, apoiado pelos EUA, tudo ao contrário.Para todos os efeitos Angola era uma nação soberana reconhecida pela grande maioria da comunidade internacional, inclusive o europeus ocidentais, sob o presidente Jonas Savimbi.
Mas de resto é o que está dito.
Pois é, também seria uma possibilidade, e dadas as características dos países talvez até mais provável. Afinal, com o tamanho, a população, a base industrial e a quantidade de recursos que tem o Brasil parece mais com a China do que com Cuba . Ainda se o Brasil se restringisse ao estado de Alagoas ou Sergipe... aí sim Cuba seria um modelo mais próximo .EDSON escreveu:Bom se o comunismo tivesse sido implantado no Brasil, o que duvido muito mesmo sem o golpe.
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Re: GEOPOLÍTICA
Não é não. O MPLA não era o representante de Angola. As três facções ainda sentavam-se à mesa quando decidiram resolver na guerra. Os EUA apoiaram a FNLA, a URSS apoiou o MPLA, e a China e África do Sul apoiaram a UNITA. Os soviéticos realizaram maciços envios de material bélico, assim como cada outro padrinho, e na impossibilidade de enviar tropas, por causa do atoleiro no Afeganistão, enviaram dezenas de milhares de tropas cubanas. Modelo incontestável de possibilidade de intervenção no Brasil, caso houvesse uma ponte. A rápida e eficiente intervenção militar, tanto no Brasil como no Chile, não permitiu que se formasse uma resistência com o devido patrocínio, que ficou restrito a cursos de formação de guerrilha nos países comunistas.Mas de resto é o que está dito.
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Re: GEOPOLÍTICA
Não havia nenhum equilíbrio de forças em Angola após sua independência como seu post faz parecer. O MPLA tinha o controle de 11 das 15 regiões em que se dividia o país, e foi reconhecido por Portugal e pela ONU como o legítimo governo representativo de Angola. O FNLA nunca controlou muita coisa dentro do território angolano, já estava muito fraco mesmo no momento da independência e teve participação mínima durante a guerra civil, basicamente como apêndice da UNITA e das forças sul-africanas. E a UNITA só sobreviveu por conta do suporte da África do Sul, que além de invadir Angola invadiu também a Namíbia e Zâmbia (uma intervenção estrangeira em territórios que não pertenciam ao país).rodrigo escreveu:Não é não. O MPLA não era o representante de Angola. As três facções ainda sentavam-se à mesa quando decidiram resolver na guerra. Os EUA apoiaram a FNLA, a URSS apoiou o MPLA, e a China e África do Sul apoiaram a UNITA. Os soviéticos realizaram maciços envios de material bélico, assim como cada outro padrinho, e na impossibilidade de enviar tropas, por causa do atoleiro no Afeganistão, enviaram dezenas de milhares de tropas cubanas. Modelo incontestável de possibilidade de intervenção no Brasil, caso houvesse uma ponte. A rápida e eficiente intervenção militar, tanto no Brasil como no Chile, não permitiu que se formasse uma resistência com o devido patrocínio, que ficou restrito a cursos de formação de guerrilha nos países comunistas.
O apoio dos EUA à ambas as facções que lutavam contra o governo do MPLA era velado e tinha inclusive oposição dentro do próprio gabinete dos EUA (foi aprovada até uma lei federal proibindo-o, a qual foi desrespeitada pelo executivo americano ). Para todos os efeitos a situação era a de um governo estabelecido e reconhecido mundialmente (o do MPLA em Angola) lutando contra uma invasão estrangeira (da África do Sul) e guerrilheiros patrocinados sub-repticiamente por outros países. A princípio a URSS nem queria se envolver, e Cuba enviou suas tropas como resposta à invasão da África do Sul sem apoio dos soviéticos (os cubanos ainda estavam na onda de exportar a revolução socialista para o mundo ). Só depois de descobertas as ações americanas é que os russos passaram a apoiar os cubanos e angolanos diretamente.
Qual a similaridade disso com o Brasil da época da revolução? Que forças internas existiam que pudessem se contrapor ao nosso exército, cujo comando era praticamente todo anti-esquerdista ou no mínimo legalista? Que país fronteiriço iria dar apoio a eventuais rebeldes contra o governo de Brasília, servindo de base para o fornecimento de armas e equipamentos? Onde seriam encontrados estes rebeldes para começar, que movimento armado similar ao MPLA, à UNITA ou ao FNLA existia no país em 1964? Se Cuba decidisse apoiar algum (inexistente) movimento armado para tomar o poder no Brasil, ela o faria atravessando a Amazônia? O que havia aqui na época era um governo eleito que tentava aplicar reformas de viés social-democrata e se recusava inclusive a adotar medidas mais duras contra seus opositores. Como chegaríamos deste ponto a nos tornarmos uma república soviética?
Menos, muito menos. Estes exageros sobre a situação da época são apenas tentativas canhestras de justificar o injustificável golpe militar.
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Re: GEOPOLÍTICA
Seria a China a versão contemporânea da Alemanha do começo do século XX? E, pior, tão inábil quanto em relação aos vizinhos e outras potencias para se estabelecer política e militarmente no mudo? A Ásia atual seria a europa pré-1914?
Aguardemos e veremos.
Cientista político afirma que Primeira Guerra teve caráter de alerta
Fonte: http://www.dw.de/cientista-pol%C3%ADtic ... a-17495930
Em entrevista, Herfried Münkler, professor de Ciências Políticas da Universidade Humboldt de Berlim, reflete sobre a importância de se pensar hoje sobre a Primeira
Guerra Mundial.
Autor do volume Der Grosse Krieg: Die Welt 1914 - 1918 (A Grande Guerra: O Mundo entre 1914 e 1918), o cientista político Herfried Münkler fala à Deutsche Welle sobre a memória da Primeira Guerra, o papel desempenhado pela Alemanha no contexto do conflito armado e as lições que a Guerra deixou.
Münkler é um dos mais importantes especialistas alemães que se dedicaram a uma análise profunda da Primeira Guerra Mundial e do significado do conflito para a história posterior da humanidade.
Deutsche Welle: Desde o início de 2014 a mídia tem lembrado a eclosão da Primeira Guerra Mundial, há 100 anos. A razão disso é realmente o centenário da Guerra ou estamos vivenciando uma nova forma de elaboração da história?
Herfried Münkler: Uma coisa não exclui a outra. Muitas vezes essas comemorações são uma oportunidade de se debruçar com calma e de maneira mais profunda sobre um tema. E isso mostra que a "Grande Guerra", como os britânicos, franceses e italianos chamam o conflito, deu o tom da violência que assolaria o século 20. É possível aprender muito estudando sobre a guerra, sobretudo sobre o que não se deve fazer. Penso que este tenha sido realmente um grande acontecimento, ao qual a Europa deve se deter para avaliar o que aconteceu de errado no século 20, e fazer melhor no século 21.
Na Alemanha, chamamos essa guerra que aconteceu entre 1914 e 1918 de "Primeira Guerra Mundial". Por que o título do seu livro é "A Grande Guerra"?
O conceito "Grande Guerra" tem, a princípio, algo estranho. E tem também um caráter de alerta, pelo menos para os ouvidos alemães. Pois foi a Guerra que, como guerra europeia, determinou o século 20. É possível dizer: sem esta guerra, não teria havido a Segunda Guerra Mundial, possivelmente também não teria havido o nazismo, nem o stalinismo, nem a tomada de poder bolchevique em Petrogrado [hoje São Petersburgo]. Ou seja, teria sido um século totalmente diferente. De forma que o termo "Grande Guerra" é adequado.
Se a Primeira Guerra Mundial teve esse efeito de alerta para todo o século 20 que se seguiu, por que ela é tão pouco presente na elaboração do passado alemão? Pelo menos muito menos que a Segunda Guerra Mundial.
É preciso diferenciar: nos países vizinhos da Europa Ocidental, como Itália, França e Reino Unido, a Primeira Guerra Mundial está muito presente como a Grande Guerra. Isso tem a ver com o fato de que as perdas humanas causadas por esta guerra foram maiores para estes países do que as da Segunda Guerra.
Na Alemanha isso é diferente, pois a Segunda Guerra Mundial estava atrelada a deslocamentos forçados, às destruições causadas pelos bombardeios, aos crimes praticados pelos alemães e à culpa alemã. Quanto mais você se locomove rumo ao Leste Europeu, mais presente é a Segunda Guerra Mundial na memória. É possível falar de um abismo entre Leste e Oeste na cultura da memória na Europa.
Um século depois da eclosão da Guerra, ressurge o debate sobre a culpa pelo conflito. O livro Os Sonâmbulos, do historiador australiano Christopher Clark, desencadeou esta discussão. Ele revida a tese, aceita há tempos, de que a culpa teria sido somente dos alemães, apontando como as grandes potências estavam inaptas a evitar a Guerra que começou nos Bálcãs. Qual é sua posição nesse debate sobre a culpa pela Guerra? Esse debate leva a algum lugar?
Pintura de William Newenham Montague Orpen representa assinatura do Tratado de Versalhes
Não acho que o conceito de culpa seja útil neste contexto. Trata-se de um conceito moral ou talvez jurídico, formulado no artigo 231 do Tratado de Versalhes, segundo o qual toda a culpa é creditada à Alemanha. Mas esta é uma discussão que não precisamos levar adiante hoje em dia. Ou seja, faz mais sentido falar sobre a responsabilidade e voltar os olhos para as estimativas e decisões incorretas daquele momento. Isso é o que acredito ser útil hoje para aprender alguma coisa 100 anos depois da Guerra.
Qual foi o papel do Império Alemão naquela época na Europa Central?
A Alemanha não compreendeu seu papel peculiar de centro geopolítico. Não se pode dizer que não teria acontecido uma guerra aqui ou outra acolá no século 20, mas teria sido possível localizar essas guerras. O que os alemães fizeram foi reunir diversos caldeirões de conflito, ou seja, o conflito manifesto nos Bálcãs, com o conflito latente, mas de forma alguma agudo em torno da Alsácia-Lorena, e também o conflito em torno do controle do Mar do Norte. Isso foi uma burrice política óbvia.
O senhor diz que não se deve perder a periferia de vista. Devemos nos preocupar atualmente com o que acontece na Crimeia? Pode eclodir lá uma nova guerra mundial, 100 anos depois da Primeira?
Precisamos nos preocupar, mas não por causa da ameaça de uma guerra, mas pelas tensões políticas e pelas consequências das sanções econômicas. Mas principalmente porque fica claro aqui que o poder militar ainda é um fator determinante da política europeia – naturalmente apenas na periferia. O governo alemão não deixou o conflito acontecer, mas se envolveu em suas diversas etapas várias vezes como mediador – e isso não porque tenha relevância militar, mas apenas por causa de seu peso econômico e político.
No seu livro, o senhor aponta também a Ásia como região de conflito em potencial. O senhor chega a comparar a China de hoje com o Império Alemão da época.
Digno de nota é o fato de a China ser um país tão grande e tão forte, sobretudo economicamente, embora não se sinta reconhecida do ponto de vista político. Essa é uma situação que se assemelha em muitos aspectos ao Império Alemão de 1914. Pode-se dizer: muita coisa que deu errado na Europa de 1914 poderia também dar errado na China hoje. Ou seja, os políticos e estadistas chineses deveriam analisar detalhadamente a história que precedeu a Primeira Guerra Mundial e a Crise de Julho [desencadeada pelo atentado contra o casal herdeiro da coroa austríaca] a fim de não cometerem os mesmos erros de então.
Ressurgiu na Alemanha a discussão a respeito de uma participação mais intensa do país nas missões militares europeias. Como o senhor vê isso, tendo em vista nosso próprio passado? Fica bem para a Alemanha participar destas missões exatamente por causa do seu passado? Ou não?
Invertemos a pergunta: Fica bem para a Alemanha, tendo em vista seu passado, ficar de fora de tudo e, aos olhos dos vizinhos europeus, parecer covarde ou oportunista? Os outros puxam o carro em que os alemães seguem sentados e vão ficando cada vez mais gordos e se deliciando. Ou seja, acredito que esse papel especial, que tanto a Alemanha Ocidental quanto a extinta Alemanha Oriental desempenharam ,e com razão, precisa definitivamente acabar 25 anos depois da Queda do Muro de Berlim. Precisamos ser um povo, uma nação como as outras. Não precisamos nos destacar, mas não devemos fugir da raia quando somos requisitados.
Herfried Münkler é professor de Ciências Políticas na Universidade Humboldt de Berlim.?É autor de A Grande Guerra: O mundo entre 1914 e 1918. Editora Rowohlt, 2013.
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Re: GEOPOLÍTICA
LeandroGCard escreveu: (...)
Qual a similaridade disso com o Brasil da época da revolução? Que forças internas existiam que pudessem se contrapor ao nosso exército, cujo comando era praticamente todo anti-esquerdista ou no mínimo legalista? Que país fronteiriço iria dar apoio a eventuais rebeldes contra o governo de Brasília, servindo de base para o fornecimento de armas e equipamentos? Onde seriam encontrados estes rebeldes para começar, que movimento armado similar ao MPLA, à UNITA ou ao FNLA existia no país em 1964? Se Cuba decidisse apoiar algum (inexistente) movimento armado para tomar o poder no Brasil, ela o faria atravessando a Amazônia? O que havia aqui na época era um governo eleito que tentava aplicar reformas de viés social-democrata e se recusava inclusive a adotar medidas mais duras contra seus opositores. Como chegaríamos deste ponto a nos tornarmos uma república soviética?
Menos, muito menos. Estes exageros sobre a situação da época são apenas tentativas canhestras de justificar o injustificável golpe militar.
Leandro G. Card
Sinceramente, o Brasil nunca teve um grupo comunista realmente revolucionário que replicar a experiencia soviética. O mais doido é que os marxistas são revolucionários e nem os que usaram os conceitos básicos para analisar o subdesenvolvimento brasileiro.
A grande vantagem do brasil em relação a argentina e outros países em desenvolvimento ao redor do mundo foi ter coerência e união interna sobre objetivos chaves. O destaque é para sempre se ver como grande demais para ser aliado carnal de qualquer potencial, a necessidade de industrialização e modernização, integração nacional e inclusão social. Esses pontos estão presentes a flor da pela em praticamente todos os grupos desde os anos 1920, se alterando com o tempo, sem perder a essência.
O Golpe foi a proposta de resolver os entraves para reformas básicas na pancada. O medo da revolução comunista era propaganda e depois justificativa para quebra institucional. Não recebendo apoio empírico e factual em lugar nenhum.
O medo da ameaça comunista voltou a moda esses dias no Brasil, tem muito a ver com a esquizofrenia e falta de base do que é ser conservador e/ou direita no Brasil atual.
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Debate sobre 1964 nunca foi tão presente, mas ainda é limitado
Fonte: http://www.dw.de/debate-sobre-1964-nunc ... a-17523282
Somente uma parcela da sociedade se interessa em debater o golpe e a ditadura, dizem especialistas. "Brasileiros têm o péssimo hábito de não ajustar contas com o passado."
Cinquenta anos depois do golpe militar que marcou o início da ditadura no Brasil, em 31 de março de 1964, o debate público sobre os Anos de Chumbo é mais forte do que nunca, mas sociólogos e historiadores afirmam que, mesmo assim, ele ainda é muito limitado.
Grande parte da sociedade brasileira, argumentam, não participa da discussão, que fica restrita às parcelas mais intelectualizadas. Além disso, os arquivos oficiais da época não foram abertos para o público e muitos assuntos são considerados tabus.
Com a aproximação do cinquentenário do golpe, a pauta se tornou mais presente na ordem do dia, com reportagens especiais na imprensa, manifestações e palestras sobre o tema.
Em 22 de março, uma reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que em 1964 reuniu dezenas de milhares de pessoas em São Paulo, acabou em fiasco, com pouco mais 500 participantes. O ato, que entre outras coisas pedia o retorno dos militares ao poder, foi realizado também em outras capitais, como o Rio de Janeiro, com público ainda mais reduzido.
Em reação à marcha, outra manifestação foi convocada para o mesmo dia, também na região central de São Paulo, e também com reduzida participação popular. Cerca de 800 pessoas compareceram à Marcha Antigolpista e Antifascista, que contou com a participação de militantes de partidos de esquerda, sindicatos e black blocs.
Além das manifestações, a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e a previsão de entrega, ainda este ano, do relatório final do grupo também contribuíram para intensificar as reflexões sobre a ditadura.
A exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart – figura-chave para os desdobramentos que levaram ao golpe – foi um desses eventos marcantes. Ainda sem resultados concretos, a reabertura do túmulo foi iniciativa da CNV em novembro do ano passado e teve grande repercussão nacional.
Reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade reuniu cerca de 500 pessoas no centro de São Paulo
Investigações sobre outros casos emblemáticos – como o do desaparecimento do deputado Rubens Paiva e as atividades na Casa da Morte de Petrópolis – funcionam como combustíveis para a discussão histórica.
As eleições, em outubro deste ano, também são um fator para a ascensão do debate. "Os atores políticos se valem da memória para se posicionarem, o ano eleitoral necessariamente cria um clima mais quente no plano político", avalia o pesquisador Américo Freire, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas.
Restrições ao debate
Mas, para especialistas ouvidos pela DW, o alcance do debate sobre a ditadura não é tão amplo como deveria ser. "É um evento de óbvia natureza política, mas é mais circunscrito aos que participam de um debate público de uma maneira geral", explica Freire.
Outro complicador é a falta de transparência sobre os arquivos oficiais da ditadura, que continuam fechados para o público. "Antes havia um certo receio das Forças Armadas, mas hoje elas não têm influência política nenhuma. Acho que falta mesmo determinação e convencimento de que, para a democracia brasileira, é fundamental a liberdade de acesso aos arquivos", afirma o historiador e sociólogo Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos.
Para ele, os brasileiros perderam uma oportunidade histórica de realizar o debate logo após a redemocratização. "O correto teria sido fazer essa discussão quando o Sarney assumiu a presidência. Naquele momento, todos os arquivos estavam ali, e as pessoas estavam vivas."
Por outro lado, o decorrer do tempo permitiu que a sociedade se sentisse mais à vontade para tratar do tema, avalia o historiador Virgílio Caixeta, da Universidade de Brasília. "Cada vez mais, menos participantes da época estão presentes no cenário político e administrativo, de modo que o assunto se torna menos 'pesado'."
Para o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política da Universidade de São Paulo, os brasileiros têm o péssimo hábito de não ajustar contas com o passado. "O Brasil discutiu muito pouco a ditadura, assim como a escravidão, a colônia e a monarquia. É um problema sério do país."
Freire vê na sustentação civil do regime militar, que se reflete até hoje na sociedade, uma das dificuldades para o aprofundamento da discussão. "O regime militar brasileiro teve uma base social considerável, junto a determinados setores das elites, e parece que não é interessante por parte do governo levar muito adiante um debate acirrado sobre essas questões."
Janine Ribeiro concorda. "Pelo menos em relação à ditadura de 64, uma parcela da população ainda é favorável a ela. E essa parte tem dinheiro e acesso à mídia. Por isso a existência da Comissão Nacional da Verdade incomoda tanto."
Já para o sociólogo e historiador Marco Antonio Villa, posicionamentos políticos e ideológicos também impediriam um debate mais amplo. "A ditadura varguista matou mais que a ditadura militar, mas isso é completamente ignorado. É permitido falar sobre os êxitos econômicos de Vargas, mas não do regime militar. Uma é demonizada, e a outra, não. Acho que temos de falar das duas ditaduras em seu conjunto", diz.
Para Villa, o autoritarismo e a violência do Estado brasileiro são anteriores à ditadura, e isso deveria estar no centro das reflexões. "Não é acidental que o Brasil foi o ultimo país a abolir a escravidão. Essa herança de repressão está presente no Estado", afirma. "Na República Velha, dezenas de líderes anarquistas foram presos, torturados e expulsos. É uma infeliz tradição brasileira, presente tanto na esquerda quando na direita do país."
Comissão Nacional da Verdade
Apesar de todas as críticas, é inegável que instalação da Comissão Nacional da Verdade contribuiu para elevar o debate sobre a ditadura. "A CNV mostra verdades inconvenientes. Boa parte da sociedade brasileira prefere esconder esse passado. Muita gente pensa que o golpe precisou acontecer para chegar aonde estamos", afirma Janine Ribeiro.
Apesar disso, a CNV é constantemente questionada a respeito dos procedimentos e objetivos que quer alcançar. "A comissão é um iniciativa interessante, mas a estrutura dela aparenta ser insuficiente para apurar, num prazo tão exíguo, tantas questões", opina Caixeta, ao defender que a CNV funcionasse mais tempo para investigar e registrar os fatos.
Freire reconhece a importância da Comissão, mas lembra que os poderes da CNV são limitados por ela estar focada mais no direito à memória do que na responsabilização penal.
Saudosistas do golpe
Os especialistas concordam que manifestações como a Marcha da Família foram um fracasso e têm pouca expressão no cenário político. "São grupos minoritários e isolados", diz Villa.
Freire também não acredita que as manifestações favoráveis ao regime repercutam de maneira ampla na sociedade. "Acho que não há ressonância nem mesmo junto aos grupos militares de qualquer perspectiva golpista", opina.
Caixeta avalia que esses grupos lembram com saudosismo do regime não necessariamente por sua face violenta. "Eles podem ter algum tipo de nostalgia em função do crescimento econômico, em função de um período de desenvolvimento de infraestrutura, enfim, de algo que os beneficiou individual ou coletivamente."
Ainda que não veja riscos à democracia na atual polarização da sociedade brasileira, incentivada por setores extremistas, ela prejudica o sistema político, afirma Janine Ribeiro. "Mesmo minoritários, esses grupos fazem barulho no debate público e criam um clima muito ruim para a democracia. Um acusa o outro de corrupto e ladrão, desclassificando o adversário. Não resta nenhum tipo de respeito na discussão política."
No Parlamento, as manifestações favoráveis ao regime são pontuais, segundo os analistas. "Há um consenso geral entre os políticos de que o que aconteceu há 50 anos foi errado. Muito poucos defenderiam uma solução autoritária. No Congresso só há um: o deputado Jair Bolsonaro", comenta Janine Ribeiro.
"O regime democrático permite que uma parcela da população eleja elementos radicais, mas o peso desses parlamentares no cotidiano é muito pequeno", concorda Caixeta.
Janine Ribeiro ainda afirma que a sociedade brasileira aprendeu com o golpe. "O PT e o PSDB entenderam que precisam conviver com o diferente. A direita mais conservadora há muito tempo não disputa a presidência. Quem defendia a ditadura, qualquer que fosse, ficou isolado."
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Re: GEOPOLÍTICA
SEP 6, 2002
Are Islam's Values Really Different?
In the year since the terrorist attacks of September 11 th , questions about Islam - its nature, its distinctive identity, its potential threat to the West - have seized center stage in intellectual and political debates. While the 20 th century's major conflicts - with fascism, communism, and other "isms" - were primarily ideological, the terrorism of last September 11 th posed anew the specter of "culture wars" and "clashes of civilizations."
It is often claimed in the Islamic world that, because one of the five fundamental duties of a Muslim is Zakat (charity to the poor), Islamic society is less atomistic, which limits inequality and social exclusion. At the same time, Western observers often see in Islam a faith that disdains personal freedom, especially for women. Oriana Fallaci published a long rant along this line shortly after the attacks.
Facts on the ground do seem to support these perceptions. Muslim countries do tend to be characterized by lower levels of inequality and crime (a good proxy for social exclusion) than other countries at similar stages of economic development, such as those in Catholic Latin America. But do cold statistics about average income really tell us anything significant?
Not according to the political scientist Francis Fukuyama, who suggests that particular social outcomes (including income levels) result from the fact that countries are at different stages in a modernization process within which everyone and every society is converging towards a set of universal values. Harvard University's Samuel Huntington also thinks such comparisons wrong-headed, but disagrees with Fukuyama on the diagnosis.
Huntington sees something sinister at work within Islam - that Islam's social outcomes reflect, not its level of modernity, but the tenets of its faith. Because of Islam's messianic fusion of the political, religious and cultural dimensions, says Huntington, the West and Islam are destined to "clash" because the two systems are fundamentally irreconcilable.
But if we want to discover the role that a religion like Islam plays in determining a society's fundamental shape, we can indeed be led astray by making comparisons between different countries or global regions. We need to look at individuals within an individual country to understand the true power of "Islamic values" in shaping a society. To do so, we need a country with deep religious cleavages between Islam and Christianity and, unlike America's "melting pot," limited mixing among social groups.
Two studies that I conducted with colleagues at the University of Beirut use Lebanon to examine the relationship between religion and such social and cultural characteristics as inequality, preference for sons, and the degree of female labor market participation. Lebanon is an ideal social laboratory because it has a large number of geographically segregated religious groups and strongly enforced communal boundaries.
Indeed, more than religion divides the population. Some Lebanese see themselves as Phoenicians rather than as Arabs, and claim closer cultural affinity to France than to the Arab world.
We examined Christian Maronites (who hold beliefs akin to those of Roman Catholicism), Muslim Sunnis (the official religion of most Arab countries), and Muslim Shiites (the official religion of Iran and of Lebanon's Hizbullah movement), and found no evidence of lower inequality among Muslims or less discrimination against women among Christians. Were Islamic values as fateful as Huntington suggests, there should have been sharp differences in inequality and the treatment of women between these communities. There were not.
Our study of religion and social inequality in Lebanon examined social mobility rather than overall inequality. This is because societies in which opportunities and inequality are inherited are considered to be less fair than societies in which family background is less important. Social mobility in Lebanon, it seems, is extremely low and family background is a key factor in determining social outcomes.
This may explain why Lebanese college graduates of all faiths often include the name and profession of their parents in their resumes, or why one of the first Arabic words that a foreigner learns after settling in Lebanon is wasta (connections). Moreover, the Christian Maronite and the Muslim Shiite upper and middle classes tend to have similar levels of social mobility. In both groups social mobility is higher than among Sunni Muslims. Another mark against the notion of Islam's overwhelming power to determine a society's prevailing conditions.
The position of women also does not seem to be primarily determined by adherence to Islam. Indeed, we found that all Lebanese families strongly prefer sons over daughters. Families that have two daughters are 9% more likely to have a third child than families that have two sons. Statistically, this is a huge difference - nine times larger than in the US.
Indeed, just as our initial research uncovered no evidence of relative Muslim egalitarianism, we discovered no major difference between preference for sons among Christians and Muslims. If anything, bias toward males is stronger in Christian families.
The same holds true for female labor market participation, which in Lebanon is low but uniform across religious groups. While this does not guarantee that no relationship exists between religion and discrimination against women, it suggests that if such a tie does exist, it is unrelated to female labor market participation or preference for sons.
Of course, disproving the idea that different countries have different values is impossible. After all, Lebanon does have low social mobility, low female labor market participation, and a strong preference for sons, while other countries do not. Our work, however, strongly supports Fukuyama's theory that cultures and values take a back seat to the level of a country's modernity in determining its social conditions. So if the Islamic world is different from the West, it is so because it is backward, not because it is Muslim.
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