Ucrânia
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- cabeça de martelo
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Re: Ucrânia
Ora heis uma coisa que deixa-me um pouco aparvalhado, eu vejo nas noticias em Portugal não sei quantas manifestações de Ucranianos anti-Russia e nem uma pró-Russia, estranho não?!
E o que eu vejo não é os Ucranianos a serem retratados como santinhos (eles não o são), mas sim um Presidente que começou a fazer acordos, leis e alianças que a maior parte dos cidadãos desse país não concordavam. Depois mostram a 50.ª moradia de luxo descoberta no país, e o pessoal só pensa de onde veio o dinheiro.
Atenção, eu desde a Revolução Laranja que não acredito que dali saia algo de sério, desde os maus passando pelos bons, andam todos a meter dinheiro ao bolso, isso é inegável. Nisto tudo que se lixa é o mexilhão (povo).
E o que eu vejo não é os Ucranianos a serem retratados como santinhos (eles não o são), mas sim um Presidente que começou a fazer acordos, leis e alianças que a maior parte dos cidadãos desse país não concordavam. Depois mostram a 50.ª moradia de luxo descoberta no país, e o pessoal só pensa de onde veio o dinheiro.
Atenção, eu desde a Revolução Laranja que não acredito que dali saia algo de sério, desde os maus passando pelos bons, andam todos a meter dinheiro ao bolso, isso é inegável. Nisto tudo que se lixa é o mexilhão (povo).
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Re: Ucrânia
Os estados bálticos estão condenados a viver sob a influência russa quer queiram ou não, fazer parte da OTAN é um detalhe, a comunidade russa em cada uma das ex-repúblicas soviéticas só faz crescer e sabemos bem o modus operandi da Rússia.
Por outro lado, para OTAN manter aquelas repúblicas é um fardo bem oneroso, visto que até a guarda municipal da da Crimeia é mais poderosa. mas isso é outro fato, a ser tratado pelo urso em futuro oportuno(não muito distante).
Saudações
Por outro lado, para OTAN manter aquelas repúblicas é um fardo bem oneroso, visto que até a guarda municipal da da Crimeia é mais poderosa. mas isso é outro fato, a ser tratado pelo urso em futuro oportuno(não muito distante).
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- cabeça de martelo
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Re: Ucrânia
Influência cultural? Sim.
Militar? Cada vez menos.
Já agora de onde é que tiraste que as comunidades Russas não param de crescer nesses países?
Militar? Cada vez menos.
Já agora de onde é que tiraste que as comunidades Russas não param de crescer nesses países?
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Re: Ucrânia
cabeça de martelo escreveu:Ora heis uma coisa que deixa-me um pouco aparvalhado, eu vejo nas noticias em Portugal não sei quantas manifestações de Ucranianos anti-Russia e nem uma pró-Russia, estranho não?!
E o que eu vejo não é os Ucranianos a serem retratados como santinhos (eles não o são), mas sim um Presidente que começou a fazer acordos, leis e alianças que a maior parte dos cidadãos desse país não concordavam. Depois mostram a 50.ª moradia de luxo descoberta no país, e o pessoal só pensa de onde veio o dinheiro.
Atenção, eu desde a Revolução Laranja que não acredito que dali saia algo de sério, desde os maus passando pelos bons, andam todos a meter dinheiro ao bolso, isso é inegável. Nisto tudo que se lixa é o mexilhão (povo).
Engraçado, cá acontece o mesmo. Bora para o Terreiro do Paço arrancar pedras da calçada e erguer barricadas?????
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Re: Ucrânia
só precisam de conseguir lá chegar
Ucrânia iniciará a dissolvição do parlamento da Crimeia
http://noticias.terra.com.br/mundo/euro ... aRCRD.html
Ucrânia iniciará a dissolvição do parlamento da Crimeia
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Triste sina ter nascido português
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Re: Ucrânia
Nem todos em Portugal estão felizes com a austeridade proposta pela UE para controlar as contas, vejamos (futuramente) o que os ucranianos vão achar quando souberem as condições para receber dinheiro.
- FOXTROT
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Re: Ucrânia
cabeça de martelo escreveu:Influência cultural? Sim.
Militar? Cada vez menos.
Já agora de onde é que tiraste que as comunidades Russas não param de crescer nesses países?
Não percebeu ainda? Quando os russo querem, emitem passaportes e suas comunidades se multiplicam!
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Re: Ucrânia
Isto agora está realmente ficando preocupante.P44 escreveu:só precisam de conseguir lá chegar
Ucrânia iniciará a dissolvição do parlamento da Crimeia
http://noticias.terra.com.br/mundo/euro ... aRCRD.html
É a integridade territorial do país que está em jogo, e quando isso acontece é comum os ânimos se exaltarem. Se por um lado o governo interino da Ucrânia decidir dissolver o parlamento da Criméia e ignorar a decisão deste de se unir à Rússia, e por outro lado os russos decidirem aceitar a união, estará formada uma confusão realmente assustadora.
Leandro G. Card
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Re: Ucrânia
Desde que essa crise tomou o noticiário (uns 15 dias) que eu falo, a Ucrânia como conhecemos não existe mais, a Crimeia já não lhes pertence, penso que não fui levado a sério...... De fato a Crimeia não e mais ucraniano e em breve de direito também.
Mas o pior não é isso, existe o risco da Ucrânia desaparecer por completo, muitas regiões estão se manifestando pró-Rússia e o que sobrar abriga contingentes de outras nacionalidades.....
Saudações
Mas o pior não é isso, existe o risco da Ucrânia desaparecer por completo, muitas regiões estão se manifestando pró-Rússia e o que sobrar abriga contingentes de outras nacionalidades.....
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Re: Ucrânia
Eu acho justo que Crimeia, sendo ja autonoma, que sendo votado em referendo e ganhando, se anexe a Russia, sem intromissão externa.
A Ucrania resolveu andar por outro caminho e tb deve ser respeitada, mas aceitar a separação territorial da parte pró - Russia.
Sds Coloradas!
Major Fraguas!
A Ucrania resolveu andar por outro caminho e tb deve ser respeitada, mas aceitar a separação territorial da parte pró - Russia.
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- P44
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Re: Ucrânia
A UE aka Alemanha a impor sanções á russia,quando ela está a desgraçar os países do sul,com desemprego,miséria e fome.
Triste sina ter nascido português
- FOXTROT
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Re: Ucrânia
http://portuguese.ruvr.ru/2014_03_06/Cr ... n-as-6937/
Crimeia e Kosovo – quais são as diferenças?
kosovo, crimeia, ucrânia, eua, rússia, ocupação, intervenção, crise política
Colagem: Voz da Rússia
A Crimeia e o Kosovo têm muita coisa em comum: um estatuto de autonomia, bases militares estrangeiras em seu território e a aspiração à independência por parte da maioria da população. Mas também existem diferenças, nomeadamente os seus protetores.
Nos últimos dias muitas pessoas comparam os acontecimentos da Crimeia com a agressão da OTAN contra a Iugoslávia em 1999, mas cada um interpreta os acontecimentos à sua maneira. O antigo embaixador dos EUA em Moscou Michael McFaul, por exemplo, afirmou na CNN que a intervenção militar da Rússia é inadmissível porque existe uma grande diferença entre a situação na Crimeia e a que existia no Kosovo em 1999: “Não se deve comparar a Crimeia e a Ucrânia com o Kosovo e a Sérvia. A Sérvia ameaçava os kosovares, enquanto a Ucrânia não ameaça ninguém”.
Parlamento da Crimeia aprovou unanimemente decisão de aderir à Rússia
Mas poderá um país ameaçar uma parte do seu próprio território? Na província autônoma do Kosovo vivem sérvios, albaneses, turcos e outros. Não existe um povo chamado “kosovares”. Quem protegiam aí os EUA? No Kosovo não vive um único estadunidense, mas na Crimeia há 1,5 milhões de russos. Isso é uma grande diferença.
Para a mídia ocidental, no entanto, há muito em comum entre a Crimeia e o Kosovo. Segundo escreveu Ian Traynor no The Guardian: “A tática e a metodologia usadas por Milosevic durante a guerra na antiga Iugoslávia e no Kosovo são aqui evidentes. Se Putin decidiu se tornar em novo Milosevic, o Ocidente irá assistir a uma nova divisão na Europa”.
Slobodan Milosevic queria o melhor, mas o resultado foi o de sempre. Ele não tinha forças para resistir ao avanço da OTAN para Leste. Ao querer expandir as suas forças para o Leste da Europa, os Estados Unidos elegeram a região autônoma do Kosovo e Metohija para a criação da sua base estratégica. Com essa finalidade eles usaram o Exército de Libertação do Kosovo (ELK), que até então figurava na lista norte-americana de organizações terroristas.
Voluntários sérvios querem defender Sevastopol
A operação antiterrorista das forças especiais sérvias contra o ELK no povoado de Racak em janeiro de 1999 foi usada como pretexto para os bombardeamentos da Iugoslávia sem a correspondente autorização da ONU. A mídia ocidental apresentou a operação no povoado de Racak como um assassinato em massa de população civil e apelaram aos EUA para que estes reagissem e protegessem as pessoas inocentes.
Dez anos depois, Helena Ranta, uma médica legista finlandesa, escreveu na sua autobiografia que tinha escrito o relatório sobre esse incidente sob pressão do então chefe da missão da OSCE no Kosovo William Walker e do Ministério das Relações Exteriores da Finlândia e que se tratava dos corpos de terroristas albaneses e não de civis.
Depois de as forças da OTAN terem entrado no Kosovo, os EUA construíram aí a sua segunda maior base militar na Europa – Bondsteel. Ela permite aos EUA controlar a área costeira do Mediterrâneo e do mar Negro, assim como as rotas do Oriente Médio, do Norte de África e do Cáucaso e o trânsito de matérias-primas combustíveis a partir da região do mar Cáspio e da Ásia Central. Para eles ter uma base na Sérvia é perfeitamente legítimo e muito útil. Os norte-americanos não pagam pela utilização dos terrenos públicos no Kosovo.
Ao que pode levar o cataclismo ucraniano
A Rússia, ao contrário dos norte-americanos no Kosovo, paga pela sua base naval 100 milhões de dólares por ano e a Frota do Mar Negro da marinha russa está na Crimeia já há 230 anos. “A Frota do mar Negro não é qualquer sem-teto. Sua casa é Sevastopol”, sublinhou o vice-premiê da Rússia Dmitri Rogozin. Ainda há 50 anos a Crimeia fazia parte da URSS, enquanto os EUA recorreram à agressão militar para simplesmente ocupar parte do território sérvio e fazem tudo para criar aí um estado-fantoche.
Os laços históricos, econômicos e culturais com a Ucrânia dão à Rússia pleno direito de intervir para proteger o seu povo. Mas o que fazem os EUA em território sérvio?
Crimeia e Kosovo – quais são as diferenças?
kosovo, crimeia, ucrânia, eua, rússia, ocupação, intervenção, crise política
Colagem: Voz da Rússia
A Crimeia e o Kosovo têm muita coisa em comum: um estatuto de autonomia, bases militares estrangeiras em seu território e a aspiração à independência por parte da maioria da população. Mas também existem diferenças, nomeadamente os seus protetores.
Nos últimos dias muitas pessoas comparam os acontecimentos da Crimeia com a agressão da OTAN contra a Iugoslávia em 1999, mas cada um interpreta os acontecimentos à sua maneira. O antigo embaixador dos EUA em Moscou Michael McFaul, por exemplo, afirmou na CNN que a intervenção militar da Rússia é inadmissível porque existe uma grande diferença entre a situação na Crimeia e a que existia no Kosovo em 1999: “Não se deve comparar a Crimeia e a Ucrânia com o Kosovo e a Sérvia. A Sérvia ameaçava os kosovares, enquanto a Ucrânia não ameaça ninguém”.
Parlamento da Crimeia aprovou unanimemente decisão de aderir à Rússia
Mas poderá um país ameaçar uma parte do seu próprio território? Na província autônoma do Kosovo vivem sérvios, albaneses, turcos e outros. Não existe um povo chamado “kosovares”. Quem protegiam aí os EUA? No Kosovo não vive um único estadunidense, mas na Crimeia há 1,5 milhões de russos. Isso é uma grande diferença.
Para a mídia ocidental, no entanto, há muito em comum entre a Crimeia e o Kosovo. Segundo escreveu Ian Traynor no The Guardian: “A tática e a metodologia usadas por Milosevic durante a guerra na antiga Iugoslávia e no Kosovo são aqui evidentes. Se Putin decidiu se tornar em novo Milosevic, o Ocidente irá assistir a uma nova divisão na Europa”.
Slobodan Milosevic queria o melhor, mas o resultado foi o de sempre. Ele não tinha forças para resistir ao avanço da OTAN para Leste. Ao querer expandir as suas forças para o Leste da Europa, os Estados Unidos elegeram a região autônoma do Kosovo e Metohija para a criação da sua base estratégica. Com essa finalidade eles usaram o Exército de Libertação do Kosovo (ELK), que até então figurava na lista norte-americana de organizações terroristas.
Voluntários sérvios querem defender Sevastopol
A operação antiterrorista das forças especiais sérvias contra o ELK no povoado de Racak em janeiro de 1999 foi usada como pretexto para os bombardeamentos da Iugoslávia sem a correspondente autorização da ONU. A mídia ocidental apresentou a operação no povoado de Racak como um assassinato em massa de população civil e apelaram aos EUA para que estes reagissem e protegessem as pessoas inocentes.
Dez anos depois, Helena Ranta, uma médica legista finlandesa, escreveu na sua autobiografia que tinha escrito o relatório sobre esse incidente sob pressão do então chefe da missão da OSCE no Kosovo William Walker e do Ministério das Relações Exteriores da Finlândia e que se tratava dos corpos de terroristas albaneses e não de civis.
Depois de as forças da OTAN terem entrado no Kosovo, os EUA construíram aí a sua segunda maior base militar na Europa – Bondsteel. Ela permite aos EUA controlar a área costeira do Mediterrâneo e do mar Negro, assim como as rotas do Oriente Médio, do Norte de África e do Cáucaso e o trânsito de matérias-primas combustíveis a partir da região do mar Cáspio e da Ásia Central. Para eles ter uma base na Sérvia é perfeitamente legítimo e muito útil. Os norte-americanos não pagam pela utilização dos terrenos públicos no Kosovo.
Ao que pode levar o cataclismo ucraniano
A Rússia, ao contrário dos norte-americanos no Kosovo, paga pela sua base naval 100 milhões de dólares por ano e a Frota do Mar Negro da marinha russa está na Crimeia já há 230 anos. “A Frota do mar Negro não é qualquer sem-teto. Sua casa é Sevastopol”, sublinhou o vice-premiê da Rússia Dmitri Rogozin. Ainda há 50 anos a Crimeia fazia parte da URSS, enquanto os EUA recorreram à agressão militar para simplesmente ocupar parte do território sérvio e fazem tudo para criar aí um estado-fantoche.
Os laços históricos, econômicos e culturais com a Ucrânia dão à Rússia pleno direito de intervir para proteger o seu povo. Mas o que fazem os EUA em território sérvio?
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Re: Ucrânia
A Segunda Guerra Fria – entrevista com Luiz Alberto Moniz Bandeira
O brasileiro que se desligou do mundo e caiu na folia durante o Carnaval tem motivos para um certo déjà vu ao voltar à realidade nesta quarta-feira de Cinzas. Em um lugar de nome esquisito e bem longe do Brasil, Estados Unidos e Rússia travam uma batalha diplomática que corre o risco de descambar para as armas. Aliados a forças locais distintas de um país em ebulição, Moscou e Washington lutam para que o poder caia nas mãos de um governo alinhado. E parece não haver meio termo: ou se está afinado com um lado ou com o outro. A Guerra Fria ressuscitou?
A crise na Ucrânia, aguçada com a queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em 22 de fevereiro, tem muitos dos ingredientes da disputa “capitalistas x comunistas” que rachou o globo após a II Guerra Mundial. No sábado 1°, o parlamento russo autorizou o presidente Vladimir Putin a enviar tropas à Ucrânia para defender instalações militares e cidadãos russos naquele país, cuja parte leste tem forte identidade com Moscou. Na terça-feira 4, Putin chamou de “golpe de Estado” a queda de Yanukovich e admitiu usar a autorização parlamentar. No mesmo dia, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, foi à Ucrânia manifestar o apoio de Washington ao governo de transição e acenar com 1 bilhão de dólares de ajuda.
Estes lances encaixam-se no que se poderia chamar de uma “segunda guerra fria”. À diferença do conflito original do século XX, porém, não se alimenta de ideologia, mas de interesses estratégicos dos EUA. O fenômeno foi descrito no livro “A Segunda Guerra Fria”, lançado no ano passado pelo cientista político, historiador e professor aposentado de política exterior do Brasil Luiz Alberto Moniz Bandeira.
Desde os anos 90, diz o livro, os EUA dão importância crescente à Eurásia, região onde está a Ucrânia. Em 1994, o Departamento de Energia norte-americano identificou o Mar Cáspio, próximo da Ucrânia, como uma das maiores fontes de petróleo do globo. Uma baita descoberta para quem não sobrevive sem petróleo importado. E mais ainda porque a principal fonte conhecida, o Golfo Pérsico, é um caldeirão de antiamericanismo islâmico. Dali em diante, diz Moniz Bandeira, a prioridade geopolítica dos EUA consistiu em atrair os governos de países da região do Cáucaso, alguns dos quais pertenciam à ex-URSS. Washington fez isso inclusive mediante o envolvimento militar e uma política de regime change, ou seja, desestabilizando governos eleitos.
Na década passada, houve uma leva de vitoriosas “revoluções coloridas” contra regimes na região do Cáucaso: a Rosa na Georgia (2003), a Lilás no Quirquistão (2005) e a Laranja na Ucrânia (2004/2005). As três, diz Moniz Bandeira, foram incentivadas pelos EUA com um modus operandi batizado de “guerra fria revolucionária”: ONGs defensoras dos valores norte-americanos instigaram as populações locais contra os governos e as estimularam a ir às ruas, tudo descrito pela mídia internacional como revoltas espontâneas e democráticas.
O que acontece agora na Ucrânia, diz Moniz Bandeira, é uma reedição da “Revolução Laranja” de dez anos atrás. O problema – não só no caso da Ucrânia como nas demais revoluções coloridas – é que as turbulências ocorrem muito perto das fronteiras da Rússia. Um país que, sob Putin, superou a crise econômica decorrente do colapso da URSS e voltou a pensar-se como superpotência.
A seguir, o leitor confere os principais trechos da entrevista concedida por e-mail por Moniz Bandeira, que mora na Alemanha.
CartaCapital: Os EUA estão por trás das turbulências na Ucrânia?
Moniz Bandeira: Essa participação na subversão dos regimes na Eurásia é comprovadamente antiga. Na edição de 24 de novembro de 2003, o Wall Street Journal atribuiu o movimento contra o regime na Georgia a operações de um grande número de “organizações não-governamentais (…) apoiadas por fundações americanas e por outras fundações ocidentais”. E não pode haver maior evidência agora do que a participação aberta de dois senadores americanos – John McCain (Partido Republicano) e Christopher Murphy (Partido Democrata) – como líderes nas manifestações em Kiev. O economista Paul Craig Roberts, que foi secretário assistente do Tesouro no governo Reagan (1981-1989), escreveu que “a Ucrânia ou a parte ocidental do país está cheia de ONGs mantidas por Washington cujo objetivo é entregar a Ucrânia às garras da União Europeia, para que os bancos da União Europeia e dos Estados Unidos possam saquear o país como saquearam, por exemplo, a Letônia; e simultaneamente enfraquecer a Rússia, roubando-lhe uma parte tradicional e convertendo esta área em área reservada para bases militares de Estados Unidos-OTAN”.
CC: Que interesses norte-americanos o governo deposto da Ucrânia ameaçaria? Que evidências disso o sr. apontaria?
MB: Não se trata de “ameaça”. Nenhum país, evidentemente, ameaça os EUA. O problema é que o governo da Ucrânia não atende e não se submete aos interesses econômicos, geopolíticos e estratégicos de Washington. O presidente Viktor Yanukovych recusou-se a aderir à União Europeia e tendia a incorporar-se à União Econômica Eurasiana, cujo tratado o presidente Putin, como um grande estadista, está a negociar com as antigas repúblicas soviéticas. Esse tratado permitirá à Rússia conquistar dimensão estratégica e geopolítica de igual dimensão à da extinta União Soviética e voltar a constituir outro polo de poder internacional. O problema é a rivalidade dos EUA com a Rússia. A questão não é ideológica. É geoestratégica.
CC: Diria que a crise na Ucrânia é um prolongamento da Revolução Laranja?
MB: Claro que é uma nova Revolução Laranja. E não terminou. A Ucrânia está na órbita de gravitação da Rússia. E o governo que substitua o de Yushchenko não terá condições de resistir à sua vis attractiva [força atrativa], principalmente porque os EUA e a União Européia não têm condições de bancar financeiramente os problemas da Ucrânia e ainda por cima pagar a conta do gás que o país recebe da Rússia, com a qual tem enorme débito. Yushchenko era a favor do Ocidente quando assumiu a presidência da Ucrânia, porém, tal como seu antecessor, Leonid Kuchma, que solicitara adesão à OTAN em 2002, teve de mudar sua posição, diante da realidade geopolítica. A queda de Yushchenko seria certa se ele consumasse a adesão à OTAN. A Rússia não vai admitir a integração da Ucrânia na União Europeia. Ela possui uma base naval em Sebastobol e mais um porto em Odessa desde o reinado de Catarina, a Grande (1762 e 1796). A frota russa, baseada na península da Crimeia, controla o Mar Negro e as comunicações de importantes zonas energéticas (de reservas de gás e petróleo) através dos estreitos de Bósforo e Dardanelos com o Mar Mediterrâneo. A Criméia pertenceu à Rússia até 1954, e o povo em Kiev, com a queda de Yushchenko, está a demandar a secessão. A Rússia, decerto, não apoiará, abertamente, o separatismo. Porém, milhares de pessoas já estão nas ruas de Sebastopol a clamar “Rússia, Rússia, Rússia” com a bandeira russa e a gritar “Não nos renderemos a esse fascistas”. A Crimeia tem cerca de 2 milhões de habitantes etnicamente russos, que não se submeterão ao governo dos fascistas em Kiev, apoiado pelo Ocidente. Em Simferopol, capital da Crimeia, com cerca de 350 mil habitantes, já estão sendo organizadas milícias para resistir a qualquer força de Kiev.
CC: O sr. parece identificar um padrão de intervenção não-violenta por parte dos EUA no pós-guerra fria. Um padrão a combinar a ação de ONGs e de líderes oposicionistas financiados por Washington com propaganda midiática. Diria que esta combinação está presente hoje na Ucrânia?
MB: Não há nenhum padrão de intervenção não-violenta dos EUA no pós-Guerra Fria. Os EUA intervém militarmente, de forma unilateral ou sob o manto da OTAN, quando podem. Intervieram na Líbia, mas não tiveram condições de fazê-lo na Síria, devido à oposição da Rússia e da China, embora continuem a financiar os rebeldes – na realidade, terroristas de Al Qa’ida e organizações similares. A guerra fria, portanto, continua, em uma etapa histórica superior, como demonstram os acontecimentos na Ucrânia, na Síria e nos demais países do Oriente Médio. Os EUA não deixaram de perceber a Rússia como seu principal adversário. De fato, a Rússia não perdeu, militarmente, nenhuma guerra. O que lá ocorreu foi a implosão de um regime socialista autárquico, inserido em uma economia internacional de mercado capitalista, da qual dependia e não podia desprender-se. Como sucessora jurídica da URSS, a Rússia herdou todo o seu potencial militar: cerca de 1.800 ogivas nucleares estratégicas operacionais e reservas de 2.700 ogivas, contra 1.950 ogivas operacionais e 2.500 ogivas de reserva dos EUA. O poderio militar das duas potências era equivalente. Após a dura crise econômica e política que atravessou nos anos 1990, a Rússia recuperou-se economicamente sob o governo Putin. E outra guerra fria, assim, recomeçou, uma vez que os EUA se empenham em implantar o full spectrum dominance [domínio de espectro total]. Na Ucrânia, um dos teatros onde as ONGs ocidentais impulsaram a cold revolutionary war em 2004-2005, a guerra fria reacendeu em 2013, uma vez que o governo recuou nas negociações para incorporar o país à União Europeia, o que podia abrir as portas para o estacionamento de tropas da OTAN dentro do seu território, conforme os EUA pretendem.
CC: Quais as ONGs vinculadas a Washington que mais se destacam na desestabilização de governos não-alinhados com os EUA?
MB: Essas ONGs, que promovem a política de export of democracy [exportação de democracia], são muito variadas, assumem nomes diferentes, embora os patrocinadores sejam virtualmente os mesmos: National Endowment for Democracy (NED), CIA e entidades civis, entre as quais Freedom House, a USAID [United States Agency for Cooperation International], o Open Society Institute (renomeado Open Society Foundations em 2011) do megainvestidor George Soros. Estas e outras organizações não-governamentais são uma fachada para promover mudança de governo sem que pareça golpe de Estado. Na Ucrânia, operam ONGs financiadas pela União Europeia.
CC: A crise na Ucrânia teria o mesmo peso e a mesma importância sem a cobertura dada pelas mídias locais e pela mídia mundial? Por quê?
MB: A Ucrânia é um país econômica e financeiramente muito debilitado. Seu governo, por diversos fatores e em distintas circunstâncias, cometeu muitos erros. E Washington trata de aproveitar as forças domésticas de oposição para fazer avançar seus interesses econômicos e geoestratégicos, através de ONGs financiadas pela NED, USAID, CIA e outras instituições públicas e privadas. Elas representam a mão invisível Washington nessas crises. Consciente ou inconscientemente, a mídia internacional serve como instrumento de psychological warfare [guerra psicológica], ao repetir e reproduzir como se tudo fossem demonstrações de massas e revoltas espontâneas. Isso vale particularmente para a BBC, a CNN e a Fox News. O fato é que o governo Obama continua a implementar uma estratégia para consolidar o full spectrum dominance estabelecido desde o governo George H. W. Bush. No atual contexto, isto significa que não interessa a Washington que a Ucrânia integre a União Econômica Eurasiana promovida pela Rússia.
CC: É possível para governos de países como a Ucrânia resistir à ofensiva da “guerra fria revolucionária” patrocinada por Washington? Por quê?
MB: Tudo depende das circunstâncias. É difícil prever. Apesar da decadência, os EUA são e serão uma superpotência por muitas décadas, enquanto o dólar for a moeda de reserva internacional. Militarmente, sem dúvida, os EUA nunca seriam derrotados. Mas uma superpotência devedora, cuja dívida pública se iguala ou mesmo supera sua produção de bens e serviços, uma superpotência que depende das importações, inclusive de capitais de outros países, para financiar guerras, sem as quais sua indústria bélica e toda a cadeia produtiva de tecnologia podem quebrar, não poder sustentar indefinidamente um sistema assim. Um dia, certamente, entrará em colapso. Certamente não mais estarei vivo. Mas o Império Americano, como todos os impérios, perecerá.
CC: Que desfecho considera mais provável para a crise na Ucrânia?
MB: Grande parte da oposição na Ucrânia é composta por elementos notoriamente fascistas. Eles são muito bem armados, muito bem organizados militarmente em companhias, patrulham as ruas em grupos de combate de dez pessoas, com capacetes e armas, alguns usando capacetes da divisão SS Galicia [região no Oeste da Ucrânia], que lutou ao lado dos nazistas alemães contra os soviéticos entre 1943 e 1945. Eles pertencem ao partido Svoboda, chefiado por Oleg Tiagnibog, forte especialmente no leste da Galícia, reduto da extrema-direita. Os chamados “ativistas” e “democratas” que fomentaram as demonstrações pro-União Europeia pertencem, em larga medida, a comandos do Svoboda e de outras tendências neonazistas e não escondem suas tendências xenófobas, racistas, anti-semitas e contra a Rússia. E foram com eles que os senadores americanos John McCain e Christopher Murphy se misturaram nas demonstrações contra o governo Yanukovych, democraticamente eleito e derrubado por um golpe, sob os aplausos dos EUA e da União Europeia. É muito provável que tais grupos neonazistas intentem a captura do poder em Kiev. Porém será difícil submeter a Crimeia.
CC: A Rússia jogou tudo o que podia diplomática e politicamente na atual crise na Ucrânia?
MB: A Rússia não jogou todas as suas cartas. O presidente Putin, que se revela o maior estadista da atualidade, sabe muito bem como dispor e lançar as pedras no xadrez da política internacional. Formado na KGB e havendo servido durante muitos anos na Alemanha Oriental, principal teatro do conflito Leste-Oeste, conhece muito bem como funciona a guerra nas sombras. A Ucrânia continuará ainda como cenário da segunda guerra fria e certamente a Rússia não aceitará, passivamente, que se integre na União Europeia. Haverá negociações ou derramamento de sangue. Quem viver verá.
FONTE: Carta Capital
O brasileiro que se desligou do mundo e caiu na folia durante o Carnaval tem motivos para um certo déjà vu ao voltar à realidade nesta quarta-feira de Cinzas. Em um lugar de nome esquisito e bem longe do Brasil, Estados Unidos e Rússia travam uma batalha diplomática que corre o risco de descambar para as armas. Aliados a forças locais distintas de um país em ebulição, Moscou e Washington lutam para que o poder caia nas mãos de um governo alinhado. E parece não haver meio termo: ou se está afinado com um lado ou com o outro. A Guerra Fria ressuscitou?
A crise na Ucrânia, aguçada com a queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em 22 de fevereiro, tem muitos dos ingredientes da disputa “capitalistas x comunistas” que rachou o globo após a II Guerra Mundial. No sábado 1°, o parlamento russo autorizou o presidente Vladimir Putin a enviar tropas à Ucrânia para defender instalações militares e cidadãos russos naquele país, cuja parte leste tem forte identidade com Moscou. Na terça-feira 4, Putin chamou de “golpe de Estado” a queda de Yanukovich e admitiu usar a autorização parlamentar. No mesmo dia, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, foi à Ucrânia manifestar o apoio de Washington ao governo de transição e acenar com 1 bilhão de dólares de ajuda.
Estes lances encaixam-se no que se poderia chamar de uma “segunda guerra fria”. À diferença do conflito original do século XX, porém, não se alimenta de ideologia, mas de interesses estratégicos dos EUA. O fenômeno foi descrito no livro “A Segunda Guerra Fria”, lançado no ano passado pelo cientista político, historiador e professor aposentado de política exterior do Brasil Luiz Alberto Moniz Bandeira.
Desde os anos 90, diz o livro, os EUA dão importância crescente à Eurásia, região onde está a Ucrânia. Em 1994, o Departamento de Energia norte-americano identificou o Mar Cáspio, próximo da Ucrânia, como uma das maiores fontes de petróleo do globo. Uma baita descoberta para quem não sobrevive sem petróleo importado. E mais ainda porque a principal fonte conhecida, o Golfo Pérsico, é um caldeirão de antiamericanismo islâmico. Dali em diante, diz Moniz Bandeira, a prioridade geopolítica dos EUA consistiu em atrair os governos de países da região do Cáucaso, alguns dos quais pertenciam à ex-URSS. Washington fez isso inclusive mediante o envolvimento militar e uma política de regime change, ou seja, desestabilizando governos eleitos.
Na década passada, houve uma leva de vitoriosas “revoluções coloridas” contra regimes na região do Cáucaso: a Rosa na Georgia (2003), a Lilás no Quirquistão (2005) e a Laranja na Ucrânia (2004/2005). As três, diz Moniz Bandeira, foram incentivadas pelos EUA com um modus operandi batizado de “guerra fria revolucionária”: ONGs defensoras dos valores norte-americanos instigaram as populações locais contra os governos e as estimularam a ir às ruas, tudo descrito pela mídia internacional como revoltas espontâneas e democráticas.
O que acontece agora na Ucrânia, diz Moniz Bandeira, é uma reedição da “Revolução Laranja” de dez anos atrás. O problema – não só no caso da Ucrânia como nas demais revoluções coloridas – é que as turbulências ocorrem muito perto das fronteiras da Rússia. Um país que, sob Putin, superou a crise econômica decorrente do colapso da URSS e voltou a pensar-se como superpotência.
A seguir, o leitor confere os principais trechos da entrevista concedida por e-mail por Moniz Bandeira, que mora na Alemanha.
CartaCapital: Os EUA estão por trás das turbulências na Ucrânia?
Moniz Bandeira: Essa participação na subversão dos regimes na Eurásia é comprovadamente antiga. Na edição de 24 de novembro de 2003, o Wall Street Journal atribuiu o movimento contra o regime na Georgia a operações de um grande número de “organizações não-governamentais (…) apoiadas por fundações americanas e por outras fundações ocidentais”. E não pode haver maior evidência agora do que a participação aberta de dois senadores americanos – John McCain (Partido Republicano) e Christopher Murphy (Partido Democrata) – como líderes nas manifestações em Kiev. O economista Paul Craig Roberts, que foi secretário assistente do Tesouro no governo Reagan (1981-1989), escreveu que “a Ucrânia ou a parte ocidental do país está cheia de ONGs mantidas por Washington cujo objetivo é entregar a Ucrânia às garras da União Europeia, para que os bancos da União Europeia e dos Estados Unidos possam saquear o país como saquearam, por exemplo, a Letônia; e simultaneamente enfraquecer a Rússia, roubando-lhe uma parte tradicional e convertendo esta área em área reservada para bases militares de Estados Unidos-OTAN”.
CC: Que interesses norte-americanos o governo deposto da Ucrânia ameaçaria? Que evidências disso o sr. apontaria?
MB: Não se trata de “ameaça”. Nenhum país, evidentemente, ameaça os EUA. O problema é que o governo da Ucrânia não atende e não se submete aos interesses econômicos, geopolíticos e estratégicos de Washington. O presidente Viktor Yanukovych recusou-se a aderir à União Europeia e tendia a incorporar-se à União Econômica Eurasiana, cujo tratado o presidente Putin, como um grande estadista, está a negociar com as antigas repúblicas soviéticas. Esse tratado permitirá à Rússia conquistar dimensão estratégica e geopolítica de igual dimensão à da extinta União Soviética e voltar a constituir outro polo de poder internacional. O problema é a rivalidade dos EUA com a Rússia. A questão não é ideológica. É geoestratégica.
CC: Diria que a crise na Ucrânia é um prolongamento da Revolução Laranja?
MB: Claro que é uma nova Revolução Laranja. E não terminou. A Ucrânia está na órbita de gravitação da Rússia. E o governo que substitua o de Yushchenko não terá condições de resistir à sua vis attractiva [força atrativa], principalmente porque os EUA e a União Européia não têm condições de bancar financeiramente os problemas da Ucrânia e ainda por cima pagar a conta do gás que o país recebe da Rússia, com a qual tem enorme débito. Yushchenko era a favor do Ocidente quando assumiu a presidência da Ucrânia, porém, tal como seu antecessor, Leonid Kuchma, que solicitara adesão à OTAN em 2002, teve de mudar sua posição, diante da realidade geopolítica. A queda de Yushchenko seria certa se ele consumasse a adesão à OTAN. A Rússia não vai admitir a integração da Ucrânia na União Europeia. Ela possui uma base naval em Sebastobol e mais um porto em Odessa desde o reinado de Catarina, a Grande (1762 e 1796). A frota russa, baseada na península da Crimeia, controla o Mar Negro e as comunicações de importantes zonas energéticas (de reservas de gás e petróleo) através dos estreitos de Bósforo e Dardanelos com o Mar Mediterrâneo. A Criméia pertenceu à Rússia até 1954, e o povo em Kiev, com a queda de Yushchenko, está a demandar a secessão. A Rússia, decerto, não apoiará, abertamente, o separatismo. Porém, milhares de pessoas já estão nas ruas de Sebastopol a clamar “Rússia, Rússia, Rússia” com a bandeira russa e a gritar “Não nos renderemos a esse fascistas”. A Crimeia tem cerca de 2 milhões de habitantes etnicamente russos, que não se submeterão ao governo dos fascistas em Kiev, apoiado pelo Ocidente. Em Simferopol, capital da Crimeia, com cerca de 350 mil habitantes, já estão sendo organizadas milícias para resistir a qualquer força de Kiev.
CC: O sr. parece identificar um padrão de intervenção não-violenta por parte dos EUA no pós-guerra fria. Um padrão a combinar a ação de ONGs e de líderes oposicionistas financiados por Washington com propaganda midiática. Diria que esta combinação está presente hoje na Ucrânia?
MB: Não há nenhum padrão de intervenção não-violenta dos EUA no pós-Guerra Fria. Os EUA intervém militarmente, de forma unilateral ou sob o manto da OTAN, quando podem. Intervieram na Líbia, mas não tiveram condições de fazê-lo na Síria, devido à oposição da Rússia e da China, embora continuem a financiar os rebeldes – na realidade, terroristas de Al Qa’ida e organizações similares. A guerra fria, portanto, continua, em uma etapa histórica superior, como demonstram os acontecimentos na Ucrânia, na Síria e nos demais países do Oriente Médio. Os EUA não deixaram de perceber a Rússia como seu principal adversário. De fato, a Rússia não perdeu, militarmente, nenhuma guerra. O que lá ocorreu foi a implosão de um regime socialista autárquico, inserido em uma economia internacional de mercado capitalista, da qual dependia e não podia desprender-se. Como sucessora jurídica da URSS, a Rússia herdou todo o seu potencial militar: cerca de 1.800 ogivas nucleares estratégicas operacionais e reservas de 2.700 ogivas, contra 1.950 ogivas operacionais e 2.500 ogivas de reserva dos EUA. O poderio militar das duas potências era equivalente. Após a dura crise econômica e política que atravessou nos anos 1990, a Rússia recuperou-se economicamente sob o governo Putin. E outra guerra fria, assim, recomeçou, uma vez que os EUA se empenham em implantar o full spectrum dominance [domínio de espectro total]. Na Ucrânia, um dos teatros onde as ONGs ocidentais impulsaram a cold revolutionary war em 2004-2005, a guerra fria reacendeu em 2013, uma vez que o governo recuou nas negociações para incorporar o país à União Europeia, o que podia abrir as portas para o estacionamento de tropas da OTAN dentro do seu território, conforme os EUA pretendem.
CC: Quais as ONGs vinculadas a Washington que mais se destacam na desestabilização de governos não-alinhados com os EUA?
MB: Essas ONGs, que promovem a política de export of democracy [exportação de democracia], são muito variadas, assumem nomes diferentes, embora os patrocinadores sejam virtualmente os mesmos: National Endowment for Democracy (NED), CIA e entidades civis, entre as quais Freedom House, a USAID [United States Agency for Cooperation International], o Open Society Institute (renomeado Open Society Foundations em 2011) do megainvestidor George Soros. Estas e outras organizações não-governamentais são uma fachada para promover mudança de governo sem que pareça golpe de Estado. Na Ucrânia, operam ONGs financiadas pela União Europeia.
CC: A crise na Ucrânia teria o mesmo peso e a mesma importância sem a cobertura dada pelas mídias locais e pela mídia mundial? Por quê?
MB: A Ucrânia é um país econômica e financeiramente muito debilitado. Seu governo, por diversos fatores e em distintas circunstâncias, cometeu muitos erros. E Washington trata de aproveitar as forças domésticas de oposição para fazer avançar seus interesses econômicos e geoestratégicos, através de ONGs financiadas pela NED, USAID, CIA e outras instituições públicas e privadas. Elas representam a mão invisível Washington nessas crises. Consciente ou inconscientemente, a mídia internacional serve como instrumento de psychological warfare [guerra psicológica], ao repetir e reproduzir como se tudo fossem demonstrações de massas e revoltas espontâneas. Isso vale particularmente para a BBC, a CNN e a Fox News. O fato é que o governo Obama continua a implementar uma estratégia para consolidar o full spectrum dominance estabelecido desde o governo George H. W. Bush. No atual contexto, isto significa que não interessa a Washington que a Ucrânia integre a União Econômica Eurasiana promovida pela Rússia.
CC: É possível para governos de países como a Ucrânia resistir à ofensiva da “guerra fria revolucionária” patrocinada por Washington? Por quê?
MB: Tudo depende das circunstâncias. É difícil prever. Apesar da decadência, os EUA são e serão uma superpotência por muitas décadas, enquanto o dólar for a moeda de reserva internacional. Militarmente, sem dúvida, os EUA nunca seriam derrotados. Mas uma superpotência devedora, cuja dívida pública se iguala ou mesmo supera sua produção de bens e serviços, uma superpotência que depende das importações, inclusive de capitais de outros países, para financiar guerras, sem as quais sua indústria bélica e toda a cadeia produtiva de tecnologia podem quebrar, não poder sustentar indefinidamente um sistema assim. Um dia, certamente, entrará em colapso. Certamente não mais estarei vivo. Mas o Império Americano, como todos os impérios, perecerá.
CC: Que desfecho considera mais provável para a crise na Ucrânia?
MB: Grande parte da oposição na Ucrânia é composta por elementos notoriamente fascistas. Eles são muito bem armados, muito bem organizados militarmente em companhias, patrulham as ruas em grupos de combate de dez pessoas, com capacetes e armas, alguns usando capacetes da divisão SS Galicia [região no Oeste da Ucrânia], que lutou ao lado dos nazistas alemães contra os soviéticos entre 1943 e 1945. Eles pertencem ao partido Svoboda, chefiado por Oleg Tiagnibog, forte especialmente no leste da Galícia, reduto da extrema-direita. Os chamados “ativistas” e “democratas” que fomentaram as demonstrações pro-União Europeia pertencem, em larga medida, a comandos do Svoboda e de outras tendências neonazistas e não escondem suas tendências xenófobas, racistas, anti-semitas e contra a Rússia. E foram com eles que os senadores americanos John McCain e Christopher Murphy se misturaram nas demonstrações contra o governo Yanukovych, democraticamente eleito e derrubado por um golpe, sob os aplausos dos EUA e da União Europeia. É muito provável que tais grupos neonazistas intentem a captura do poder em Kiev. Porém será difícil submeter a Crimeia.
CC: A Rússia jogou tudo o que podia diplomática e politicamente na atual crise na Ucrânia?
MB: A Rússia não jogou todas as suas cartas. O presidente Putin, que se revela o maior estadista da atualidade, sabe muito bem como dispor e lançar as pedras no xadrez da política internacional. Formado na KGB e havendo servido durante muitos anos na Alemanha Oriental, principal teatro do conflito Leste-Oeste, conhece muito bem como funciona a guerra nas sombras. A Ucrânia continuará ainda como cenário da segunda guerra fria e certamente a Rússia não aceitará, passivamente, que se integre na União Europeia. Haverá negociações ou derramamento de sangue. Quem viver verá.
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Re: Ucrânia
Isso me lembra certas reservas indígenas situadas em faixa de fronteira de um certo país da América do Sul, onde ONGs também agem...CC: Quais as ONGs vinculadas a Washington que mais se destacam na desestabilização de governos não-alinhados com os EUA?
MB: Essas ONGs, que promovem a política de export of democracy [exportação de democracia], são muito variadas, assumem nomes diferentes, embora os patrocinadores sejam virtualmente os mesmos: National Endowment for Democracy (NED), CIA e entidades civis, entre as quais Freedom House, a USAID [United States Agency for Cooperation International], o Open Society Institute (renomeado Open Society Foundations em 2011) do megainvestidor George Soros. Estas e outras organizações não-governamentais são uma fachada para promover mudança de governo sem que pareça golpe de Estado. Na Ucrânia, operam ONGs financiadas pela União Europeia.
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Re: Ucrânia
Ué?LeandroGCard escreveu:Isto agora está realmente ficando preocupante.
"Agora" é que está ficando preocupante?
LeandroGCard, se algum dia eu estiver à bordo de um avião caindo no meio do Atlântico, quero você no banco do lado.
Vai ser muito reconfortante ter um otimista inveterado me acompanhando até os últimos dois metros acima do mar, o momento exato quando as coisas "realmente ficarão preocupantes"...