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Mensagem
por FCarvalho » Ter Dez 31, 2013 3:17 pm
Marechal, quando falo das dificuldades de P&D no Brasil, o faço em sentido genérico. Os mesmos problemas que a Polaris tem/teve em relação a investimento e/ou interesse governamental quanto ao seu produto, se repetem, mormente em maior ou menor medida em todos os outros setores envolvidos com ciência no Brasil.
A questão é que P&D só apresenta resultados em longuíssimo prazo, e visto isso, é quase impossível você observar no Brasil empresas, privadas ou públicas, investindo na área simplesmente porque o retorno é pífio e/ou inseguro, tanto de parte do mercado, quando de parte da iniciativa estatal quanto a formação, qualificação e incentivo à pesquisa na área.
Como não temos e nunca tivemos uma política pública capaz e condizente para a formação de um modelo previsível e estável de P&D no Brasil, fica difícil não só defender como manter constantes investimentos na área. Simplesmente porque não temos um mercado que justifique com uma margem de segurança plausível os investimentos no desenvolvimento de novas tecnologias.
A área de defesa é prolífica em termos de exemplo, como vemos, no que compete à P&D.
É aquela coisa. "Todo mundo" sabe que dominar a tecnologia de turbinas é algo imprescindível para uma maior autonomia tecnológica e industrial de um país que se queria respeitar seriamente. Mas o mercado é restrito, muito fechado, e praticamente dominado por um oligopólio de empresas americanas, russas e europeias. Daí a pergunta: se é assim tão difícil, e sendo mais econômico e produtivo adquirir-se o produto lá fora, do que desenvolver aqui, para um mercado que sequer sabemos será capaz de absorver tal oferta, porque então gastar dinheiro público ou o já anêmico orçamento da defesa brasileira em algo que podemos simplesmente comprar lá fora?
Tal é a questão do investimento em P&D no Brasil. Para quê e para quem queremos este tipo de tecnologia? Vale o esforço? Não seria melhor continuar como estamos, se está tudo bem assim, do jeito que sempre foi?
O dinheiro investido, quem pagará depois? De quem é a responsabilidade por fomentar o mercado para a tecnologia nacional. Precisamos sempre ou só em casos particulares em que a defesa esteja envolvida? Qual o lucro pressumível e/ou possível na área. Justifica-se financeiramente? E por aí vai...
Não sei se a turbina em questão é bom ou mal produto. Se tem aplicação comercial e/ou viabilidade tecnológica e financeira. Mas sei que uma iniciativa como esta, num campo do conhecimento científico tão ou mais importante quanto o nuclear, espacial e cibernético para um país como o nosso, e mesmo assim, não consegue angariar o comprometimento, ou mesmo a atenção, do Estado, para o seu suporte, minimamente, no que diz respeito ao seu desenvolvimento e pesquisa contínuo, fico pensando se para outras coisas mais básicas da vida nossa cotidiana, como saúde, educação, justiça e ordenamento urbano, qual não será a mentalidade do Estado sobre.
abs.
Carpe Diem