Eu quis trazer para cá este comentário lá do tópico sobre o Japão, apenas para ressaltar aos colegas do fórum que quando um país tem consciência e atua com responsabilidade, e vontade, na área de defesa, números passam a ser fatores menos retóricos/ideológicos e mais objetivos quanto práticos, de acordo com a vontade nacional, e a consequente indução do poder público em alcançar tais objetivos.
Para aqueles que crêem que o fato da MB desejar cerca de 30 escoltas para se reequipar ser algo absurdo e totalmente fora da realidade, desejo este aliás que já vem desde os anos sessenta, quando se elaboraram os primeiros planos de reequipamento da MB, ou seja, não é nenhuma novidade tal quantidade, pelo contrário, é preciso notar que um poder naval crível não se constrói somente com boas intenções, apertos de mão e afinidades de idéias.
Mas antes, é preciso observar as reais necessidades do país, e não somente o possível, ou o "mais adequado" como pensam alguns, na seara naval, e que no nosso caso não são poucas, e dar-lhes o dimensionamento adequado as suas potencialidades concretas, como também, porque não dizer, prerrogativas nos objetivos políticos nacionais, como quem sabe e tem a consciência de que a perda do controle marítimo do AS significaria também a perda de nossa soberania continental e regional, e pior, o estrangulamento sobre pressões externas tanto no campo econômico como diplomático e militar.
Vejam, não estou a defender uma esquadra para o Brasil à moda americana e nem chinesa, mas uma esquadra do tamanho das nossas reais necessidades do poder naval. Para o hoje, e principalmente, para o amanhã. E isto penso hoje, não se conseguirá com "apenas" 30 escoltas, que era o ideal a 50 anos atrás. O PAEMB foi elaborado pelo de forma muito responsável pelo almirantado tendo em vista o possível e o viável, cientes da realidade brasileira que são, e dentro daquela velha máxima da defesa no Brasil de que é melhor ter poucos e bons recursos, do que ter muitos, mas nem tão bons assim. O exemplo da guerra da lagosta, dentre outros, cala fundo até hoje no pensamento do planejamento naval brasileiro. E que bom que é assim. Construir somente navios não é solução ideal para a concretização de um poder naval crível e verdadeiramente efetivo. Neste mister também a MB tem demonstrado que aprendeu a lição, e que um aporte de longo prazo da industria e do envolvimento político na manutenção de nossa esquadra é condição sine quo non para que qualquer esquadra brasileira perdure.
Infelizmente, apesar dos discursos que se ouve aqui e ali no planalto central, toda essa retórica ainda não conseguiu sair do campo da teoria, e das boas intenções, se é que algum dia o pretenderam realmente. Ao menos sabemos que a discussão sobre a criação e manutenção de um poder militar naval hoje para o Brasil saiu dos quartéis e chegou ao congresso; seja por causa das picuinhas em torno do discurso da propaganda governamental, seja por motivos bem mais concretos, como o pré-sal, embora não se possa resumir tão somente num único e exclusivo motivo a justificativa da manutenção de um esquadra capaz e eficiente em defesa de nossos interesses no mar. O nossos interesses e necessidades sempre foram e vão muito além do pré-sal. E para isso precisamos de uma esquadra bem resolvida e equilibrada.
O Japão está aumentando o número das suas escoltas, segundo a notícia acima para cerca de 54 navios. Uma esquadra formada principalmente por belonaves do quilate de destróyers, e portanto bem diferente do que se nos aprouve o PAEMB, que visa principalmente fragatas, e quiçá corvetas e derivados nacionais. O Japão não tem, salvo engano, uma área muito maior que a nossa em termos de proteção de seus recursos e interesses navais. Na verdade o problema maior japonês é manter as suas extensas linhas de contato entre as ilhas que formam o seu arquipélago abertas, assim como as vias de contato marítimo comercial, posto que sem isso, seriam tragados pela iminente falta de recursos naturais que importam, e que mantém a sua economia funcionando, assim como os chineses hoje.
Tal é a nossa mesma situação em relação ao Atlântico Sul, só que diferente daqueles países orientais, historicamente voltamos as costas para o mar, dentro de uma cultura interiorista e míope, mais preocupada com seus limites internos. Isso na verdade desde a independência, pois que, infelizmente, esta consciência coletiva sobre a importância do mar não herdamos dos portugueses. Perdeu-se no tempo e no esquecimento da falta de memória nacional.
Por fim, vamos manter a esperança e pensar que se amanhã ou depois quiçá uma nova consciência nos sobrevenha por meio das próximas gerações, sobre a importância do mar a nossa frente, e comecemos a entendê-lo e dispor do mesmo como um bem que nos deva servir para mais do que infantis práticas de topless e peladas de final de semana na areia.
Como já se dizia por aí: "esquadras não se improvisam". Mesmo que nós estejamos sempre tentados a fazê-lo por aqui no Brasil.
Quem sabe tomemos esta consciência antes que a desgraça nos venha bater a porta, e tenhamos que lamentar perdas que poderiam ser facilmente evitadas.
abs.