bcorreia escreveu:só acho que deveriam haver mais satélites para a criação de um sistema de navegação por satélite regional, talvez com alcance sobre toda a America do Sul e Atlântico Sul.
Um sistema de navegação destes demandaria um número razoável de satélites, mas de um tipo completamente diferente deste SGB que está sendo licitado, operando em outras órbitas. Seria necessariamente um programa independente.
Isso chegou a ser cogitado há algum tempo, a colocação de 12 ou mais satélites de navegaçao em órbita baixa equatorial para a montagem de um sistema que cobriria quase todo o Brasil (pelo que me lembro o extremo do RS ficaria de fora). Mas não temos e nem teremos no futuro previsível nenhum foguete capaz de lançar estes satélites, e mesmo o desenvolvimento deles seria muito difícil na situação atual do IAE (veja abaixo). Pelo que sei esta idéia já foi abandonada mais de 15 anos atrás
![Crying or Very sad :cry:](./images/smilies/icon_cry.gif)
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A verdade e que os programas genuinamente brasileiros de acesso e utilização do espaço (onde não se inclui o SGB, que será a compra de um produto lá de fora - tanto o satelite em si como o lançamento) estão praticamente mortos e mumificados, a única excessão que conheço é o VLM, que tem a motivação de uma encomenda alemã. O resto só anda a passos de zumbi, tentando realizar para algum dia indefinido o que já deveria ter sido feito a 20 ou 25 anos atrás.
O Instituto de Pesquisas Espaciais está no fundo do poço
Criado em 1961, o órgão desenvolve pesquisas nas áreas de Ciências Espaciais e Atmosféricas, previsão do tempo e Engenharia Espacial e oferece cursos de mestrado e doutorado
O Estado de S.Paulo - 03 de junho de 2013
HERTON ESCOBAR
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) "está no fundo do poço", segundo seu ex-diretor Gilberto Câmara, que pediu demissão do cargo há um ano. Não só o Inpe, diz, como vários outros institutos e universidades federais que se esforçam para produzir ciência e tecnologia, mas não conseguem, por causa de uma legislação "arcaica". Indignado, Câmara escreveu um artigo para o Jornal da Ciência, publicado na edição online em 22 de maio. Na sequência, conversou com exclusividade com o Estado.
O que o senhor quer dizer com "fundo do poço"?
Gilberto Câmara - Que o Inpe perdeu a capacidade de cumprir suas missões porque os meios necessários são limitados pelo sistema de administração direta e pelo controle da Advocacia-Geral da União (AGU), Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU), em que predomina a regra do 'não pode' e funcionários são contratados para a vida eterna.
O Inpe opera nesse sistema há muito tempo. O que mudou?
Gilberto Câmara - O sistema ficou muito mais apertado. Até certo tempo atrás, havia certa tolerância, por exemplo, em relação à captação de recursos externos via fundações e ao uso da lei de licitações para compra de bens tecnológicos. Mas essa tolerância está cada vez menor.
Quando as dificuldades começaram?
Gilberto Câmara - De uns cinco anos para cá, quando a AGU passou a interpretar leis de forma mais estrita. A posição é que qualquer recurso que entre nas universidades tem de ir para o orçamento da União e ser gasto segundo a lei de licitações. Essa posição liquida as instituições, tirando delas o mínimo de autonomia que existia.
Como ser mais eficiente?
Gilberto Câmara - O certo seria cultivar um sistema de mérito, só que isso é impossível na administração direta. Há incompatibilidade entre cultura de mérito e sistema baseado no controle dos meios - por exemplo, com licitações baseadas em menor preço e contratação de funcionários vitalícios. Não dá para comprar satélite como se compra carro, comparando três modelos e escolhendo o mais barato. Quero contratar pessoas por tempo determinado, não funcionários para o resto da vida.
O que o senhor quer dizer com cultura de mérito?
Gilberto Câmara - Uma cultura de mérito pressupõe que quem recebe recurso recebe para produzir determinado resultado. O sistema atual é totalmente antagonista à cultura de mérito necessária à produção de conhecimento. A exceção é São Paulo, porque a Fapesp julga fins, não meios. AGU, CGU e TCU não estão nem aí para resultados.
Qual seria a solução?
Gilberto Câmara - Essencialmente, um novo regime administrativo para institutos e universidades - e o melhor regime para isso hoje é o de organização social (OS). Não é o melhor que poderíamos criar, mas é o melhor que temos.
Quais são os reflexos no Inpe?
Gilberto Câmara - Há paralisia total nas decisões. Todos os editais do CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), por exemplo, estão sendo feitos pela Agência Espacial Brasileira, porque a AGU disse que o Inpe não pode mais contratar para o programa CBERS.
Os serviços prestados pelo Inpe estão ameaçados?
Gilberto Câmara - O risco é mais sutil. Serviços continuarão a ser prestados, mas não serão melhorados. A previsão do tempo não deixará de ser feita, mas a capacidade do Inpe de melhorar essa previsão está comprometida. O mesmo vale para o monitoramento da Amazônia: não vai acabar, mas não vai melhorar. Em resumo, o sistema está bichado.
Leandro G. Card