Assad arredou ou está querendo ganhar tempo:
Assad promete aderir a convenção antiarmas químicas e divulgar dados
Mas presidente sírio diz que isso só ocorrerá se EUA cessarem ameaças.
Potências tentam costurar acordo para evitar possível ataque americano.
O presidente da Síria, Bashar al-Assad, disse nesta quinta-feira (12) que espera começar a entregar as informações sobre o arsenal químico do país aos organismos internacionais um mês após Damasco aderir à convenção internacional contra armas químicas, o que deve ocorrer "nos próximos dias".
Em entrevista à TV estatal russa, Assad também apelou para que os EUA deixem de ameaçar seu governo e de ajudar os rebeldes que combatem o regime, na sangrenta guerra civil que já matou mais de 110 mil pessoas em 30 meses.
Ele afirmou que só cumprirá o acordo de entrega do arsenal químico proposto pela Rússia se os americanos cessarem as ameaças de atacar a síria.
"É um processo bilateral", declarou o presidente sírio, segundo a tradução em russo de suas declarações. "Quando virmos que os Estados Unidos querem efetivamente a estabilidade na região, que deixa de ameaçar e tentar atacar, e entregar armas aos terroristas, então consideraremos que podemos realizar os procedimentos até o final e que serão aceitáveis para a Síria."
Assad negou ter cedido à negociação por conta das ameaças americanas.
"A Síria está colocando suas armas químicas sob controle internacional por causa da Rússia. As ameaças dos EUA não influenciam a decisão", disse.
A proposta da Rússia de que o regime sírio entregue suas armas químicas está sendo discutida diplomaticamente com os EUA, que aceitaram adiar um possível ataque militar às forças sírias por conta da negociação.
Os EUA acusam o regime sírio de ter realizado um ataque químico que matou pelo menos 1.429 civis, nos subúrbios de Damasco, em 21 de agosto.
O presidente americano, Barack Obama, anunciou que iria atacar as forças sírias em represália ao ataque químico. Mas ele resolveu dar tempo à diplomacia para analisar a proposta russa, apesar de a encarar com "ceticismo".
O regime sírio nega responsabilidade pelo ataque químico e diz que é vítima de terroristas ligados à rede da Al-Qaeda, que tentam "desestabilizar" o país.
A guerra civil síria criou uma crise humanitária e de refugiados e ameaça a estabilidade política da região, além de ter revivido o fantasma da Guerra Fria, colocando Rússia e EUA em campos opostos.
EUA e Rússia negociam
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, desembarcou nesta quinta em Genebra para tomar conhecimento dos detalhes dos planos da Rússia.
Autoridades dos EUA dizem que Kerry insistirá que o eventual acordo obrigue Damasco a tomar atitudes rápidas para mostrar a seriedade do seu compromisso, a começar pela apresentação de um inventário público e completo do arsenal a ser inspecionado e neutralizado.
Damasco nunca aderiu aos tratados que proíbem a posse de armas químicas, e nunca confirmou se as possuía.
A Síria, no entanto, é signatária de uma convenção quase centenária que proíbe o uso de armas químicas.
Falando antes da reunião de Kerry com o chanceler russo, Sergei Lavrov, uma fonte oficial dos EUA disse, sob anonimato, que o objetivo do norte-americano é "ver se há realidade aqui ou não".
As fontes dos EUA disseram ter a esperança de que Kerry e Lavrov definam os termos de uma proposta de resolução a ser votada nos próximos dias pelo Conselho de Segurança da ONU.O presidente russo, Vladimir Putin, tradicionalmente apontado como um vilão pelos governos ocidentais por fornecer armas a Assad e evitar qualquer esforço da ONU para desalojá-lo do poder, publicou um artigo no "New York Times" manifestando oposição à intervenção militar.
Ele argumentou à opinião pública dos EUA que um ataque a Assad ajudaria combatentes da rede terrorista da Al-Qaeda que lutam ao lado da oposição síria. Segundo Putin, há "poucos paladinos da democracia" na Síria, "mas há mais do que suficientes combatentes da Al-Qaeda e extremistas de todos os tipos enfrentando o governo".
A intervenção norte-americana, acrescentou, "aumentaria a violência e desencadearia uma nova onda de terrorismo", além de possivelmente "abalar os esforços multilaterais para resolver o problema nuclear iraniano e o conflito israelo-palestino, e desestabilizar ainda mais o Oriente Médio e o Norte da África. Isso poderia desequilibrar todo o sistema do direito internacional."
"Uma nação que confia em seus direitos, em vez de confiar em seus soldados, engana-se a si mesma e prepara sua própria queda."
Rui Barbosa