Luís Henrique escreveu:FIGHTERCOM escreveu:
Deveríamos aproveitar esse vacilo por parte do governo dos EUA e tentar extrair ao máximo nos acordos comerciais e quem sabe até em relação ao FX-2. Mesmo que eles não concordassem com todas as nossas pretensões de ToT, exigiria pelo menos as relativas aos motores F414 e a liberdade de integração de armamentos. Pronto. Já estaríamos em outro patamar... Muito melhor do que simplesmente adiar essa decisão pela n-enésima vez...
Abraços,
Wesley
O ideal seria tomar vergonha na cara, parar de ser paga pau dos EUA e tomar duas atitudes com relação aos caças:
1) comprar o Su-35 com o máximo que conseguir de tot (para o curto prazo)
2) iniciar um projeto de caça nacional (para o médio/longo prazo)
Prezado Luís,
Queira me desculpar, mas isso não é ser pragmático, e sim romântico. Quer queira ou não, ainda temos muita dependência em relação ao EUA e assim vamos continuar durante um longo tempo (o KC390 está aí). Podemos mudar essa realidade? Claro que sim, devemos. No entanto, a reforma deve começar pela base e não pelo teto.
Não adianta exigir ToT dos concorrentes se não estivermos aptos a recebê-las. Não temos empresas e muito menos pessoal qualificado em quantidade para tal empreitada. Isso é um fato e não adianta lamentar e muitos menos dizer que podemos recorrer aos russos. Independência tecnológica começa com uma educação de qualidade (em todos os níveis) e centros de pesquisa, não com ideologia. A China é o exemplo mais claro disso tudo.
Nesta semana estava conversando com colegas e discutindo justamente a evolução da engenharia no Brasil. O que se viu nos últimos anos foi uma proliferação de faculdades nos mais diversos cantos desse Brasil. No entanto, surgem dois problemas. O primeiro, é que a infraestrutura é precária. Estas "instituições", em sua maioria particulares, contam com pouquíssimos laboratórios e não incentivam pesquisa. Resultado, não geram tecnologia e muito menos conhecimento. Para piorar, o nível dos alunos é lastimável. Na minha época, logo no primeiro período do curso já começava com a disciplina de Cálculo. Hoje, essas instituições estão introduzindo no primeiro período a disciplina de matemática fundamental e português para nivelar o pessoal (Bizarro!). Como elas trabalham com a carga horária mínima de 3600 horas exigida pelo MEC, com certeza alguma disciplina importante para formação do engenheiro teve que ser excluída da grade do curso.
Esses "engenheiros" geralmente não exercem a engenharia e tão pouco estão aptos a desenvolver tecnologias. Na verdade vão ocupar cargos que poderiam muito bem serem preenchidos por técnicos.
As que ainda formam com alguma qualidade são as instituições federais e pouquíssimas particulares (Ex: Mackenzie e PUCs). Mas ao formarem, vão para a industria, que geralmente não possuem centro de desenvolvimento. No máximo uma salinha para treinamentos para familiarização com tecnologias japonesas, alemã, norte americana, etc. Além disso, ao analisar a grade curricular desses cursos percebe que sofreram pouca evolução nos últimos 10 anos, ou seja, a cada dia estamos mais atrasados. Quem ainda trabalha com algum desenvolvimento são os programas de pós-graduação (mestrado e doutorado), cujos alunos estão mais raros que mico leão dourado. Dia desses estava assistindo uma defesa de mestrado na PUC Minas e o professor da banca (da UFMG) convidou os alunos de mestrado para fazerem doutorado lá na Federal, tamanha é falta de alunos nessa área.
Esse é o retrato do Brasil que vocês querem que receba 100% de tecnologias quando ainda temos dificuldades para formar profissionais. Então, se a Boeing e governo dos EUA colocarem na mesa uma proposta que englobe a ToT dos motores e a integração de armamento, criação de um centro de pesquisa no Brasil e intercâmbio de estudantes/profissionais para aperfeiçoamento lá nos EUA, eu assino embaixo. Sabe por quê? Porque precisamos disso para ontem e sei que dificilmente o nosso governo fará algo parecido nos próximos 10 anos.
Abraços,
Wesley