delmar escreveu:Como falei antes não acredito neste negócio. Quero, no entanto, levantar algumas objeções ao que os companheiros falaram, embora reconheça que eles são bem mais qualificados.
Em primeiro lugar não há comparação entre as corvetas Barroso e as Aleigh Burke. A Barroso tem 103 metros de comprimento e desloca 2.000 toneladas. A Arleigh tem 155 metros e 9.000 T, quatro vezes maior. São navios totalmente diferentes. Segundo que seriam apenas três navios, não uma esquadra, continuaremos necessitando de mais embarcações.
É mais do que evidente que contratorpedeiros (quase cruzadores) da classe Arleigh Burke são navios completamente diferentes de corvetas classe barroso-II, em tamanho capacidades e missões, isso nem precisa ser mencionado. Mas esta não é a questão para um país como o Brasil, que não tem inimigos a apontar no horizonte previsível e que portanto não imagina ter realmente que fazer uso de todas as capacidades de um AB durante pelo menos os próximos 10-15 anos (e depois disso suas capacidades estariam já degradadas de qualquer forma). Outros fatores são muito mais importantes para nós hoje, como menciono mais abaixo.
Me parece óbvio que não viriam os Tomahawk e, acredito, que o AEGIS se vier será totalmente degradado. Igualmente os mísseis podem não estar incluídos. Isto seria bom ou ruim para nós?
Se vierem com todo equipamento nós teremos grandes restrições na operação. Qualquer ajuste ou mudança nas caixa pretas terá que ser feita nos Estados Unidos, por técnicos americanos. O navio, na realidade, não será nosso.
Se vierem "peladas" sem caixas pretas, sem os mísseis e sem radares controlados, poderemos arma-las conforme nossas possibilidades e disponibilidades, é claro dependendo do que for contratado entre as partes.
O custo de se rearmar 3 AB´s, construídos em volta do sistema Aegis, com sistemas e armamentos diferentes dos que eles já operam e que justifiquem o tamanho de seu casco seria simplesmente absurdo, algo como o custo de todos os primeiros 5 navios do Prosuper (considerando barcos da classe das FREMM) ou mesmo mais. E se for para deixá-los sub-armados e ficar andando por aí com navios enormes equipados como fragatas ou mesmo corvetas então também não vale à pena o esforço de reformá-los, melhor partir logo para cascos novos de tamanho mais adequado. Os AB´s só seriam racionalmente justificáveis se fossem manter "o grosso" de seus equipamentos e armas originais.
E aí é que está a grande diferença entre Arleigh Burke´s e Barrosos-II. Os AB´s seriam simples aquisições de plataformas e sistemas prontos e usados, totalmente produzidos fora do país e sem levar em conta o planejamento da MB, forçando-a a gastar esforço e recursos para absorver enormes embarcações quase sem padronização com relação ao que a MB possui, conhece ou deseja. Já as Barroso-II seriam um início do renascimento da indústria naval militar brasileira, um primeiro passo para que no futuro possamos produzir nós mesmos as plataformas que forem mais adequadas às nossas necessidades e realidade, quem sabe até algo equivalente (e mais moderno na época) a um Arleigh Burke. E como bônus criaria a possibilidade de futuras exportações. Para um país que está sofrendo um sério problema de desindustrialização este fator é muito mais urgente do que a possibilidade de aumentar de imediato sua capacidade bélica.
Apenas no terreno das hipóteses e da fantasia, ser um bom ou mau negócio dependerá unicamente daquilo que for estabelecido entre as partes. Quanto à compra inviabilizar a construção das fragatas de 6.000 T, não vejo como. Não há nada no horizonte próximo que apontem para a construção deste navios por aqui nos próximos anos. Já as Barroso serão construídas de qualquer modo, com ou sem Arleigh.
Isto só seria verdade se os AB´s se enquadrassem nas necessidades identificadas pela MB, e isso eles não fazem. A MB já deixou bem claro que o que quer são navios menores, com outros sistemas e armamento diferente, e não importa qual acordo comercial seja feito, os Arleigh Burke não mudariam suas características em função disso. Então seriam sempre um custo adicional para a MB, com ou sem outros escoltas adquiridos posteriormente, até virem a ser definitivamente aposentados.
Concordo que o clima econômico/político dificilmente permitirá a aquisição das escoltas de 6.000 ton antes das próximas eleições (mesmo que eventualmente algum modelo seja selecionado antes disso), mas este mesmo clima também colocaria sob forte pressão o início da construção das Barroso-II logo após a MB receber 3 navios enormes que passariam a impressão de que ela se tornaria a maior marinha do hemisfério sul. Seria um prato cheio para a oposição apontar que o governo Dilma estaria iniciando uma corrida armamentista naval justamente em um período de dificuldades econômicas e em meio aos ainda existentes riscos de uma crise econômica mundial que agora todos percebem que nos afeta bem mais do que uma simples "marolinha".
Leandro G. Card