MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3826 Mensagem por Marechal-do-ar » Sáb Jun 15, 2013 1:09 am

Sterrius, pra que esse valor simbólico que não vai pagar nem a burocracia gerada pela cobrança?




"Quando um rico rouba, vira ministro" (Lula, 1988)
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Sterrius
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3827 Mensagem por Sterrius » Sáb Jun 15, 2013 3:42 am

Ae depende das empresas se valerá ou não a pena marechal!

Mas a ideia geral é de que transporte público tem que ser bancado também por quem não usa o serviço, pois eles se beneficiam da redução do trafego.

Pela falta dos rais custos de manter 1 onibus fica dificil fazer estimativas.

Mas um imposto de 365 reais anuais estilo IPTU. (1 real por dia). Iria render a Sâo Paulo 4,3 bilhões. Se nao me engano SP está gastando 12 pra manter a 3,20.




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Bourne
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3828 Mensagem por Bourne » Sáb Jun 15, 2013 9:50 pm


Paulo Sandroni

Fonte: http://sandroni.com.br/?p=457

Durante o mandato de Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo (1989-1992) o Executivo enviou uma proposta de Tarifa Zero à Câmara de Vereadores. A ideia foi do Lucio Gregori então Secretario de Transportes coadjuvado pelo Jairo Varoli então Presidente do CET. Como Presidente da CMTC, empresa pública encarregada da operação e gestão do serviço de ônibus em São Paulo encampei imediatamente a proposta por reconhecer as enormes vantagens não apenas sociais, mas também econômicas e políticas que ela significava. Levamos a proposta à Luzia Erundina que imediatamente deu luz verde para que transformássemos a ideia em um projeto de lei a ser rapidamente encaminhado á Câmara de Vereadores. Percebendo o impacto do projeto e especialmente seus alcances políticos, a oposição que no momento mantinha maioria na Câmara de Vereadores rejeitou a proposta, e a tarifa zero não pode ser colocada em prática.

A logica da proposta era seguinte. O transporte seria gratuito e as empresas privadas que atuavam no setor seriam pagas pelo custo dos serviços prestados. Como acontece, por exemplo, com o serviço de limpeza pública. Os recursos para o financiamento sairiam de um forte aumento do IPTU incidente sobre as famílias mais ricas, e um aumento moderado sobre as famílias de classe média. O IPTU das familias mais pobres não sofreira alteração. A classe média seria compensada, pois os membros da família que não possuissem carro – seus filhos, ou mesmo empregadas domésticas – não pagariam pelo transporte público.

A frota de ônibus aumentaria cerca de 50%. Os 10 mil ônibus então em circulação seriam acrescidos de mais 5 mil para fazer frente ao aumento da demanda. Este aumento teria origem nas pessoas que não podendo pagar a tarifa percorriam longos trajetos a pé no circuito casa-trabalho-casa, ou por aqueles que usando outros meios de transporte (carros p. ex.) passariam a andar de ônibus.

O transporte seria desta forma democratizado – todos que desejassem teriam acesso a ele gratuitamente – tivessem ou não recursos para custear seus deslocamentos.

Alívio no trânsito

O novo sistema ajudaria a aliviar o transito. Todos sabemos que os vilões dos congestionamentos são os carros particulares. O espaço ocupado por um ônibus é cerca de 30 vezes menor do que carros que transportem passageiros equivalentes. A tarifa zero atrairia para o transporte coletivo aqueles proprietários de carros de classe média baixa para quem a manutenção de um carro velho é muito elevada em relação à sua renda. Existe uma “lei” do trânsito que se 10% dos carros não circularem durante dias úteis o transito melhoraria em cerca de 15%. Ao contrário, se a frota de carros particulares aumentar 10% o trânsito pioraria estes mesmos 15%. A retirada de carros das ruas provoca um efeito mais do que proporcional na melhora do trânsito.

Para retirar carros de famílias de classe média foi criada uma alternativa diferente: os ônibus especiais. De cor verde e prateado estes ônibus climatizados, e com lugares só sentados e musica ambiental tinham a missão de fornecer uma alternativa melhor a quem quisesse deixar seu carro em casa mas não estivesse disposto a enfrentar a “tigrada” nos ônibus comuns.

Estes teriam que pagar uma tarifa cerca de 3 vezes maior do que a vigente na época quando fizemos a proposta da tarifa zero. Estes ônibus especiais poderiam circular nos corredores dando uma alternativa rápida e confortável para a classe média. Considerávamos que os mais ricos não renunciariam a seus carros e sua mais provável iniciativa de “up grade” seria no sentido de contratar o serviço de helicopteros, como acontece hoje em São Paulo. Mas se os sistemas gratuito (ônibus comuns) e especiais tirassem carros das ruas o objetivo de fazer os ônibus circularem mais rapidamente seria alcançado aumentando a produtividade do sistema e baixando seus custos. Embora a tarifa zero não tivesse aprovada, os ônibus especiais foram, e várias linhas estavam operando em 1992 no final da gestão de Luiza Erundina.

A melhor prova que estavam tirando uma certa quantidade de carros das ruas não vinha apenas de entrevistas periódicas que fazíamos com os usuários. Vinha do fato destes ônibus estarem desviando clientes dos taxis. E, como sabemos, o taxi é uma alternativa para quem tem carro e na eventualidade de não poder usá-lo recorre a este serviço embora pagando um preço bem mais elevado. Com a vitoria de Paulo Maluf em 1993 os taxistas fizeram pressão sobre o novo Prefeito para acabar com as linhas de ônibus especiais, pois estes estavam roubando seus clientes. O novo Prefeito os atendeu, e estas linhas foram desaparecendo aos poucos.

Complementando esta mudança estrutural começamos a desenvolver também o projeto de corredores para o ônibus de cinco portas: três pela direita e duas pela esquerda. Este verdadeiro ovo de Colombo criado em São Paulo e utilizado em Curitiba (e hoje em várias cidades latinoamericanas com destaque para Bogotá p.ex.) significa que o custo de implantação de um corredor se reduz a quase um terço em relação aos corredores tradicionais que exigiam enormes intervenções no viário. Alterar o ônibus colocando mais duas portas pela esquerda é muito mais barato do que fazer custosas alterações em avenidas e ruas. Esta nova abordagem permitia que os ônibus utilizassem as faixas da esquerda, de maior velocidade, recebendo e desembarcando passageiros. Nos corredores com este novo sistema, cujo custo de implantação era bem mais baixo, a velocidade média aumentava sensivelmente o que constituía entre outros benefícios um diferencial importante para que as pessoas deixassem seus carros em casa. Inclusive uma fração de usuários de classe média poderiam optar por esta alternativa, mesmo que ali o conforto não fosse o mesmo que nos ônibus especiais.

Um dos momentos mais gratificantes de minha vida como administrador público ocorreu nos primeiros dias de funcionamento do corredor Vila Nova Cachoeirinha na zona norte de São Paulo, o primeiro a utilizar o ônibus de cinco portas. Ás cinco da manhã fui verificar se estava tudo correndo bem. Havia uma fila de umas trinta pessoas trazidas por ônibus menores de linhas alimentadoras, e uma série de ônibus no terminal esperando o horário para começar a funcionar. A primeira da fila era uma jovem que não quis entrar quando o primeiro ônibus chegou. Achei aquilo estranho: uma pessoa se recusar a entrar num ônibus absolutamente vazio com fartos lugares para sentar etc. Três minutos depois um novo ônibus parou e a jovem que continuava em primeiro na fila também se recusou a entrar. Não resisti e fui indagar porque ela não havia entrado. A resposta foi simples. Ela disse que não entrava porque chegaria muito cedo no serviço e o local onde trabalhava ainda estaria fechado, não sendo seguro ficar do lado de fora. Perguntei então porque ela chegara tão cedo? Ela disse que ainda não tinha confiança no sistema… O trajeto, que antes do corredor demorava quase uma hora, agora ela poderia fazer em 25 minutos!.

Os dois prefeitos seguintes – Maluf e Pitta – não deram continuidade no projeto de construção de novos corredores. Se isso tivesse acontecido seria irresistível para setores da classe média deixar de usar um transporte rápido e gratuito ( no caso da tarifa zero ter sido aprovada) para utilizar carros que demorariam muito mais e que seriam muito custosos em função da renda de seus proprietários. Mas isto infelizmente não ocorreu. Os corredores foram retomados na gestão de Marta Suplicy mas não na escala prometida e necessária. Nas gestões seguintes de Serra e Kassab a construção de corredores foi praticamente abandonada. O círculo virtuoso – mais transporte público gratuito, melhora no transito, melhora no transporte publico gratuito – que poderia ter sido um ponto de inflexão com a vitoria do público sobre o privado simplesmente não aconteceu.

A Racionalidade Econômica

A proposta tinha também um elemento econômico importante que consistia na eliminação dos custos de cobrança da tarifa. A eliminação dos salários e encargos pagos aos cobradores dispensados (que seriam reciclados tornando-se motoristas dos ônibus adicionais), da vigilância, da contabilidade, da emissão de bilhetes, dos roubos e assaltos, que somados representavam na época cerca de 22% do custo da tarifa permitiria um menor comprometimento da receita tributária para financiar o sistema. A produtividade aumentaria: um numero menor de trabalhadores transportaria um numero maior de passageiros.

A medida portanto traria enormes benefícios para a maior parte da população e a cidade funcionaria melhor e com menores custos. Alem disso, os mais pobres não tendo que pagar tarifa teriam algum dinheiro extra para melhorar a alimentação, a saúde a educação, e a moradia. Os que pagariam pelo financiamento do sistema seriam aqueles que podem pagar: os que vivem em autenticas mansões suspensas. Sendo um imposto direto sobre o patrimônio não seria repassados a custos ou preços não causando nenhum efeito colateral de desestimular o crescimento geral da economia.

Hoje o transporte nas grandes cidades representa o terceiro maior gasto entre os assalariados no país. E o transporte por ônibus é ruim, desconfortável, demorado e não muito confiável, alem de caro para o poder aquisitivo da população. O movimento que hoje se manifesta em torno do passe livre talvez esteja sinalizando que a situação chegou a um limite. Mas talvez fosse a hora de pensarmos em termos estratégicos e buscar soluções estruturais e não apenas alternativas pontuais como a de revogar o atual reajuste. No caso de revogação a Prefeitura teria que aumentar o subsídio subtraindo recursos de outros setores essenciais como a saúde e a educação. E isto não me parece conveniente.

O melhor seria pensar desde já em como evitar um reajuste tarifário em 2014. Proponho que se pense e discuta a intensificação do IPTU progressivo para as famílias de maior renda, aquelas situadas no topo da pirâmide da riqueza, de tal maneira a cobrir o aumento de custos (*) que teremos inevitavelmente nos próximos 12 meses, permitirndo que a tarifa permaneça inalterada por mais tempo beneficiando a grande maioria da população.

(*) – Os interessados na questão da tendência do aumento de custos dos serviços públicos remeto a meu artigo neste blog no setor Urban Development Papers,
“La dinámica del desarrollo urbano: expansión espacial, costos de los servicios públicos y captura de plus valías, un abordaje teórico”.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3829 Mensagem por Sterrius » Sáb Jun 15, 2013 10:51 pm

Imagem

Foto resume bem o problema do transporte público nos ultimos anos.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3830 Mensagem por LeandroGCard » Sáb Jun 15, 2013 11:33 pm

Artigo ao mesmo tempo interessante e desanimador.

O uso indiscriminado e por tempo demasiado longo da âncora cambial durante os governos FHC e Lula deixou de fato o valor do real em um patamar totalmente distorcido, e agora estamos em uma armadilha. Ele não pode continuar tão valorizado com tem estado há anos, mas também não pode baixar.

Esta armadilha é terrível, no andar da carruagem vamos acabar estrangulando nosso setor produtivo tentando evitar uma explosão do dólar até não conseguirmos mais, e em seguida ele se desvalorizará de forma brusca acabando de destruir nossas referências de preços, trazendo o caos ao setor produtivo e inflação elevada.

E não parece haver saída para escapar da armadilha, o artigo neste ponto é bem revelador ao apontar o problema mas se eximir de sugerir soluções.

A mãe das distorções

Celso Ming - O Estado de S.Paulo

Cada um do seu modo, um grande número de economistas brasileiros entende que a mãe de todas as distorções da economia é o câmbio excessivamente valorizado.

É um preço muito alto em dólares para a moeda brasileira, que encarece demais em moeda estrangeira o produto exportável e barateia demais em reais os importados.

Entre aqueles que mais vêm advertindo para o problema estão os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo, Yoshiaki Nakano e Luiz Carlos Bresser-Pereira.

Argumentam tratar-se de um fator central, que distorce os preços relativos na economia. Essa distorção produz outras: enfraquece a indústria, obriga o governo a compensar a falta de competitividade com favores tributários (desonerações) e subsídios com juros. É também o que vem combalindo gradativamente o balanço de pagamentos, porque reduz as exportações e aumenta as importações. É, ainda, o que destrói o equilíbrio fiscal, puxa a inflação e obriga o Banco Central a empurrar os juros para cima e a evitar novas desvalorizações da moeda (alta do dólar) porque a prioridade passa a ser combater a inflação.

Que o câmbio é preço central e estratégico da economia não há dúvida. E se nele há um desvirtuamento, isso extravasa para toda a economia.

No entanto, é preciso observar que, anterior ao câmbio fora de lugar, há o fato de que a indústria brasileira sempre teve baixa competitividade, porque está obrigada a enfrentar custos desproporcionalmente mais altos do que a indústria dos países riscos e, até mesmo, de muitos emergentes. Até recentemente, em vez de corrigir essas distorções originais (impostos altos demais, infraestrutura cara e ruim, altos custos trabalhistas, etc.), o governo preferiu compensar com "mais câmbio". O problema é que, de uns tempos para cá, essa manobra ficou bem mais difícil, não propriamente por perversão dos administradores da economia, mas por outros motivos: porque o governo gasta demais, não poupa e não investe; porque a economia cresce pouco e arrecada pouco para o tamanho das contas públicas; porque a indústria está atrasada e descuidou de sua inserção na rede global de produção e suprimentos; porque os juros, por um punhado de razões, são altos demais e atraem capital externo que, por sua vez, valoriza o real; porque... Enfim, a lista é enorme.

Também é preciso entender que a desvalorização cambial pretendida não pode ser produto de um ato de vontade política. Mesmo que o governo queira, e isso está sendo visto no atual arranjo da economia, há limites estreitos para um movimento que procurasse desvalorizar a moeda e recolocar o câmbio "no lugar". Novas distorções aconteceriam: como dependem de suprimento de peças, conjuntos, componentes e capital de giro do exterior, uma desvalorização mais forte do câmbio produziria uma devastação nas finanças das empresas, como os balanços passados da Petrobrás bem demonstraram. Além disso, puxaria para cima a inflação, aumentaria a dívida externa em moeda nacional e desestimularia o investimento externo.
Leandro G. Cardoso




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3831 Mensagem por Bourne » Dom Jun 16, 2013 12:07 am

Estranho... Segundo o Arnaldo Jabor e Sardenberg o pais vive uma crise de confiança e está com fuga de capitais. Assim, a solução é elevar os juros para frear a desvalorização do câmbio e atacar a inflação, também com déficit zero. :roll:

Procurem os trabalhos de Frederico Gonzaga Jayme Junior, Gilberto de Assis Libânio, paulo Gala, Daniella Magalhães Prates, André Cunha, José Luis Oreiro, Barry Eichengreen. Esses são os caras top no momento em relação aos problemas externos e de inflação.
Propostas para fazer do crescimento uma certeza
Por Cyro Andrade | Valor

Política e economia começam a confluir para um só campo de observação e movimentos, dentro e fora do governo. A aproximação do ano eleitoral, com sua carga de indagações sobre o futuro aumentada pela antecipação da campanha presidencial, explica incertezas e ansiedades. A depender dos novo-desenvolvimentistas — economistas acadêmicos de formação heterodoxa não marxista, líderes industriais e políticos do governo e da oposição — uma agenda para o Brasil, capaz de tranquilizar espíritos hoje tomados pela inquietação, poderia inspirar-se no que chamam de “macroeconomia estruturalista do desenvolvimento”. As soluções estão ali, para agora e para o futuro.

O livro “Macroeconomia do Desenvolvimento” oferece uma visão ampla e detalhada do que é essa estratégia de desenvolvimento, “uma espécie de síntese entre a macroeconomia keynesiana e a teoria estruturalista do desenvolvimento”, como explica José Luís Oreiro, professor da Universidade de Brasília e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um dos organizadores do livro.

Parte fundamental dessa estratégia está no fortalecimento da indústria, em contraposição ao que seria uma espécie de “reprimarização” da economia brasileira. É preciso reverter o processo de “desindustrialização” — processo que economistas de outras tendências, ditas ortodoxas, também enxergam. Divergem, porém, dos novos-desenvolvimentistas, que veem a redução da participação da indústria no PIB como efeito da apreciação cambial causada pela abertura da conta de capital do balanço de pagamentos e pela “doença holandesa”. “Trata-se, portanto”, segundo Oreiro, “de um processo que resulta de um modelo de política macroeconômica que privilegia o setor financeiro e o setor primário-exportador”.

Um dos pressupostos da macroeconomia estruturalista do desenvolvimento, que fundamenta o novo-desenvolvimentismo, é que existe uma relação de causalidade do crescimento do setor industrial para o crescimento da economia como um todo em função do fato de que a indústria não é um setor como outro qualquer, mas apresenta certas características estruturais que fazem dela a fonte dos retornos crescentes de escala, essenciais para o crescimento de longo prazo.

“A indústria brasileira, após uma recuperação na forma de “V” dos efeitos da crise mundial de 2008, entrou numa fase de estagnação a partir de 2011”, observa Oreiro. “Desde então, a economia brasileira perdeu dinamismo, apresentando taxas medíocres de crescimento. Acredito que isso seja a demonstração cabal da importância do dinamismo industrial para o crescimento de longo prazo.”

Valor: Várias outras questões, decisivas para a definição dos termos de competitividade da indústria (e da economia) brasileira permanecem pendentes, sem melhor equacionamento à vista, como as referentes à carga tributária e às deficiências de infraestrutura, entre outras. Em que medida a questão cambial acaba, talvez, sendo supervalorizada como decorrência da falta de medidas de correção de rumos nessas outras áreas?

José Luís Oreiro: O câmbio não é tudo, mas é quase tudo. Com o ciclo de elevação do preço das commodities internacionais, a partir de 2004, a taxa real de câmbio no Brasil vem se apreciando consideravelmente, tendo retornado ao nível prevalecente durante o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Se olharmos para a relação câmbio efetivo/salário, a situação ainda é pior: o câmbio hoje se encontra mais valorizado do que naquela época. O problema do câmbio apreciado é que se traduz em redução da margem de lucro das empresas, o que desestimula o investimento. Como as novas tecnologias estão incorporadas em máquinas e equipamentos recentemente produzidas, ao invés de serem uma espécie de maná que cai do céu, como nos modelos neoclássicos de crescimento, uma baixa taxa de investimento implica uma baixa modernização do parque industrial, o que contribui para o crescimento baixo da produtividade do trabalho na indústria, o que reforça a perda de competitividade. Está claro que uma parte da perda de competitividade da indústria deve-se a infraestrutura deficiente, o que termina por tornar os produtos brasileiros ainda mais caros.

Valor: A indústria tornou-se global. Fala-se hoje em cadeias de produção. Isso exige abertura da economia para fora e para dentro. Persistem, no entanto, certas tendências protecionistas em políticas de governo, como a de preferência pelo produto nacional, que acabam excluindo o Brasil daquelas cadeias, com prejuízo para a absorção de fatores de inovação. Como vê essa questão, no contexto mais amplo da competitividade ainda não alcançada pela indústria brasileira, possibilidades de que venha a alcançá-la e importância do câmbio para que isso aconteça?

Oreiro: Não sou favorável a políticas de proteção comercial à indústria. O que a indústria brasileira necessita é de igualdade de condições com seus concorrentes no exterior, o que demanda uma taxa real de câmbio competitiva e a realização de grandes investimentos em infraestrutura. Meu colega Nelson Marconi, da EESP [Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas], estima que a taxa de câmbio dólar/real necessária para tornar a indústria brasileira competitiva esteja em torno de R$ 2,70. Acredito que se um ajuste cambial dessa magnitude for realizado e a taxa de câmbio for mantida num patamar competitivo por um período de tempo suficiente, as empresas do setor industrial brasileiro voltarão a investir, modernizando seu parque produtivo, fazendo com que a produtividade do trabalho volte a crescer. Mas para que isso ocorra é necessário que o empresário nacional tenha confiança na estabilidade da taxa de câmbio num patamar competitivo. Não é isso o que ocorre hoje. A administração da taxa de câmbio no governo Dilma parece oscilar entre a necessidade de dar competitividade à indústria e a manutenção da inflação em patamares baixos. Isso faz com que a taxa de câmbio não seja nem suficientemente depreciada para estimular a indústria nem suficientemente apreciada para estabilizar a inflação, de forma que ficamos no pior dos dois mundos: inflação alta com indústria pouco competitiva.

Valor: Alguns países vêm passando por um processo de perda de peso relativo da indústria na composição do PIB, que alguns chamam de reindustrialização. Não seria essa uma tendência para que, por caminhos naturais de uma espécie de reorganização industrial global, movida a avanços tecnológicos contínuos, se estabeleça a competitividade de uma ‘nova indústria’, “puxada” por articulações com outros segmentos do setor de serviços? Como se integraria a essas mudanças, que parecem bastante consistentes, o fator cambial como visto no pensamento novo-desenvolvimentista? Manteria sua própria consistência e peso relativo?

Oreiro: Existem dois tipos de desindustrialização, a natural, ocorrida nos países desenvolvidos a partir de meados dos anos 1970, e a precoce. A desindustrialização natural é uma decorrência do próprio processo de desenvolvimento econômico, uma vez que o aumento contínuo do nível de renda per capita faz com que, a partir de certo patamar de renda, a demanda por serviços cresça mais rapidamente do que a demanda por produtos industriais, fazendo com que a participação do setor de serviços no PIB aumente, ao passo que a participação do setor industrial se reduz. Na desindustrialização precoce, o que ocorre é uma redução da participação da indústria no PIB a patamares de renda per capita inferiores aos observados nos países desenvolvidos quando começaram a sua desindustrialização. Essa desindustrialização não é natural, mas resulta da apreciação cambial causada pela abertura da conta de capital do balanço de pagamentos e pela “doença holandesa”. Trata-se, portanto, de um processo que resulta de um modelo de política macroeconômica que privilegia o setor financeiro e o setor primário-exportador. [Os novo-desenvolvimentistas consideram a “doença holandesa” uma “falha de mercado” que se origina na existência de recursos naturais ou humanos baratos e abundantes que mantêm a taxa de câmbio sobrevalorizada e impede a produção de bens comercializáveis usando tecnologia no estado da arte. É um obstáculo ao crescimento do lado da demanda agregada porque limita as oportunidades de investimento. Isso aconteceu na Holanda nos anos 1960, quando o aumento do preço do gás atraiu capitais e valorizou o câmbio]

Valor: O setor primário exportador tem garantido parcela relevante do crescimento brasileiro. Sem essa contribuição, a evolução do PIB parece correr o risco de cair até para números negativos. Isso representa uma espécie de ‘reprimarização’ de parte considerável da economia brasileira que deva ser considerada uma expressão de retrocesso ou se trataria também de um reflexo de reacomodação intersetorial no uso de fatores de produção?

Oreiro: Não tenho dúvida de que se trata de um retrocesso. Alguns economistas, inclusive de formação heterodoxa, dizem que essa reprimarização não seria problemática, haja vista que hoje em dia parte considerável das atividades primárias é altamente intensiva em tecnologia. Esse argumento não me convence. Durante a época colonial, o Brasil se especializou na produção de açúcar, uma atividade que utilizava a mais elaborada tecnologia então existente para a moagem de cana. Além disso, era uma atividade bastante intensiva em capital, algo inexistente na Colônia. Nas 13 colônias inglesas, que mais tarde se constituiriam nos Estados Unidos, as atividades produtivas, ao menos no Norte, se concentraram na produção de produtos manufaturados, inicialmente com um nível tecnológico bastante rudimentar e pouco intensiva em capital. Com o passar do tempo, o modelo primário-exportador implantado no Brasil levou à estagnação do crescimento da produtividade, ao passo que o modelo adotado pelas 13 Colônias levou ao seu enriquecimento. Em 1822, quando o Brasil se torna independente, nosso nível de renda per capita já era bastante inferior ao dos Estados Unidos e essa diferença continuará se aprofundando até a década de 1930, quando o Brasil começa a se industrializar. No período 1930-1980, o hiato de renda per capita entre Estados Unidos e Brasil se reduz de forma considerável. Com a “década perdida” e os anos neoliberais do governo Fernando Henrique, esse processo de “catching-up” foi interrompido e nunca mais retomado. Coincidentemente ou não, no mesmo período verificou-se o aprofundamento do processo de desindustrialização da economia brasileira .

Valor: É fundamental o peso da produtividade como fator de definição dos termos de durabilidade de processos de desenvolvimento econômico. O que se pode dizer, especificamente, a respeito da involução recente da produtividade na indústria e, portanto, da redução de sua contribuição para a produtividade da economia como um todo, considerando os efeitos da desindustrialização a que costumam se referir os novo-desenvolvimentistas?

Oreiro: A queda da produtividade da indústria nos anos recentes se deve ao “labor hoarding”, ou “entesouramento de trabalho”, resultante da estagnação da produção industrial. Devido aos custos de contratação e demissão de trabalhadores, as empresas, face a uma queda temporária da demanda por seus produtos, podem optar por manter ociosa ou semiociosa parte de sua força de trabalho, para evitar uma elevada rotatividade da mão de obra, economizando, assim, os custos de demitir e contratar novos trabalhadores. No Brasil, além desses custos, temos uma situação de “pleno emprego”, devida à demanda alta no setor de serviços, o que faz com que as empresas industriais fiquem ainda mais relutantes em demitir trabalhadores, com receio de que não sejam capazes de contratá-los novamente se e quando a demanda por produtos industrias se elevar.

Além do “labor hoarding”, a produtividade da indústria se encontra estagnada devido à falta de investimentos na ampliação/modernização do parque industrial. Isso decorre da apreciação cambial, que impõe uma queda na margem de lucro das empresas do setor industrial, desestimulando o investimento.

Valor: O pensamento novo-desenvolvimentista é marcadamente orientado para o longo prazo. É um pensamento “de estratégia”. Naturalmente, o longo prazo é feito de seguidos curtos prazos… É preciso agir de imediato, em função de objetivos que se vão distribuindo no tempo. O que faz um país como o Brasil, pressionado, de um lado, por necessidades prementes de crescimento e, de outro, envolvido por restrições impostas a políticas de desenvolvimento, como se pressupõe devam ser as políticas com foco no longo prazo, no contexto de um ambiente internacional assinalado por incertezas e instabilidades ainda decorrentes da crise financeira de 2007/2008? Quais são os limites hoje impostos à autonomia decisória do Estado-nação por essas condições adversas do cenário global?

Oreiro: Não acho que as condições adversas do cenário global estejam impondo uma restrição à adoção da estratégia novo-desenvolvimentista. Pelo contrário, esse cenário global se caracteriza por um período de taxas de juros internacionais excepcionalmente baixas por um período prolongado de tempo. Isso torna extremamente improvável um cenário de estrangulamento externo devido a uma interrrupção brusca de fluxos de capitais. Além disso, esse cenário externo viabilizou a forte redução da taxa de juros Selic entre 2011 e 2012. Sendo assim, o cenário externo jogou a favor da adoção de uma estratégia novo-desenvolvimentista. Mas essa estratégia não foi adotada no Brasil. O que vemos no governo Dilma Rousseff é um conjunto de políticas descoordenadas, sem um norte claro. A desvalorização cambial iniciada em 2012 parou no meio do caminho, o investimento em infraestrutura não decola, a inflação se acelera devido aos aumentos salariais acima da produtividade do trabalho e o lado fiscal se deteriora a olho nu, em função da adoção crescente da assim chamada “”contabilidade criativa”. Isso não tem nada que ver com o novo-desenvolvimentismo.

Valor: Lê-se no livro: ‘No Brasil, por conta de anos de adoção de políticas neoliberais, o Estado parece ter perdido sua capacidade de induzir o crescimento, o que requer um novo aprendizado”. O que haveria de mais essencial, nesse aprendizado, que, como se lê no livro, pressupõe a construção de um Estado “forte e fiscalmente responsável”, para caracterizar um progresso significativo, em termos de expressão e durabilidade, que possa ser sugerido pelo modo de pensar novo-desenvolvimentista? Como se qualifica o Estado brasileiro hoje, a seu ver, numa escala de aplicação desses dois adjetivos, e com quais consequências para a saúde da economia brasileira, a julgar pelos indicadores mais recentes?

Oreiro: Um Estado fiscalmente forte é um Estado que adota a regra de ouro da política fiscal: “Só te endividarás para realizar investimentos, nunca para pagar gastos correntes”. É aqui que o Estado Brasileiro se mostra fiscalmente fraco. Em 1999, para fazer frente ao descalabro fiscal imposto pela desvalorização cambial num contexto no qual boa parte da dívida pública era indexada à taxa de câmbio (um completo “non-sense”) a política fiscal brasileira se pautou pela obtenção de metas de superávit primário com o objetivo de estabilizar/reduzir a dívida pública como proporção do PIB. Esse objetivo foi atingido, mas não atentamos para o fato de que o Estado brasileiro ainda tinha uma poupança negativa. Dessa forma, a estabilização do endividamento público não mudou a prática de tomar dinheiro emprestado para pagar gastos correntes. Esse modelo de ajuste fiscal é perverso para o desenvolvimento de longo prazo, porque faz com que a variável de ajuste nas contas públicas seja o investimento (e, em menor grau, a carga tributária), em vez dos gastos correntes. O Brasil precisa mudar urgentemente o seu modelo de política fiscal, de modo a pautá-lo por metas de poupança pública, em vez de metas de superávit primário. Isso permitirá uma mudança na composição do gasto público, diminuindo a participação dos gastos correntes e aumentando a participação do investimento. Isso não significa, como dizem alguns, que essa mudança de modelo implicaria uma contração fiscal sem paralelo na economia brasileira. Isso é um “nonsense”. Trata-se de mudar a composição do gasto público, não necessariamente a sua magnitude.

Valor: Recentemente, armou-se grande celeuma a propósito de erros, simplesmente de tabulação, mas também de análise, cometidos por Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff em “paper”, de 2010, no qual estabeleciam relações entre dívida pública e crescimento. Comentou-se, então, que o trabalho dos dois renomados economistas teria contribuído para a orientação equivocada de políticas fiscais adotadas em vários países, dando-lhes um caráter de contenção excessiva. A seu ver, qual é a maneira correta de se compreender essa relação, se é que existe?

Oreiro: Essa relação entre crescimento e endividamento é mera correlação, que não implica uma relação definida de causalidade. Assim, uma leitura mais keynesiana seria que um baixo crescimento econômico leva a maior endividamento público, por reduzir o ritmo de crescimento das receitas fiscais e elevar o ritmo de crescimento das despesas, em função do aumento dos pagamentos de seguro-desemprego, por exemplo. Acredito que os acontecimentos na Europa estejam endossando essa interpretação. Consideremos o caso da Espanha, por exemplo. Até 2007, o governo tinha superávit nominal e a dívida pública como proporção do PIB era inferior a 40%. Com a crise, as receitas tributárias caíram e as despesas com seguro-desemprego e obras públicas para conter os efeitos da crise aumentaram, levando ao aumento do déficit e da dívida pública. A partir de 2010, os mercados começaram a desconfiar da solvência da Espanha e outros países, passando a exigir taxas de juros mais altas para a rolagem da dívida pública. Atingido esse ponto e dada a relutância inicial do Banco Central Europeu em comprar títulos da dívida soberana desses países, a única saída para evitar o colapso do euro foi a austeridade fiscal. O problema é que se trata de uma política “self-defeating”: a austeridade fiscal leva a um aprofundamento da recessão, que leva a uma deterioração do quadro fiscal, exigindo assim novas rodadas de austeridade.

Valor: O momento do debate econômico, no Brasil, lhe parece produtivo? Quais resultados se pode esperar do confronto de posições entre o pensamento “mainstream” e os inovadores, como os novo-desenvolvimentistas? O novo-desenvolvimentismo teria ganhado expressão de consistência significativa na disciplina?

Oreiro: Houve considerável evolução nos últimos anos. Até 2005, o debate econômico feito na grande mídia se resumia ao modus operandi do regime de metas de inflação e ao valor numérico da meta de superávit primário. Tudo mais seria “resolvido” pelo mercado. Hoje, a discussão se concentra na análise das condições necessárias para a retomada do desenvolvimento da economia brasileira em bases sustentáveis. Isso é um bom sinal. O problema central passou a ser o desenvolvimento, não a estabilização da economia, como era nos anos 1980 e 90. O confronto entre “novo-desenvolvimentistas’ e ortodoxos tem feito com que estes revejam algumas de suas posições. Por exemplo, quando o debate sobre a desindustrialização da economia brasileira começou, em 2005/2006, os economistas ortodoxos se dividiam em negar a ocorrência desse processo ou afirmar que seria irrelevante para as perspectivas de longo prazo da economia brasileira. Atualmente, os mesmos economistas que negavam a desindustrialização ou pontificavam sobre a sua irrelevância inseriram-se ativamente no debate a respeito do que deve ser feito para estimular o dinamismo da indústria. Para mim, isso é um sinal inequívoco de que a agenda do debate econômico é cada vez mais pautada pelos novo-desenvolvimentistas.

Atualmente, estou concluindo, em conjunto com Luiz Carlos Bresser-Pereira e Nelson Marconi, uma livro-texto sobre a macroeconomia estruturalista do desenvolvimento, que será publicado provavelmente no final de 2013, pela Editora Routdlege na Inglaterra. Será mais um reforço ao desenvolvimento teórico dessa disciplina.

Leia mais em:

http://www.valor.com.br/cultura/3148436 ... z2VFK5iORE




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3832 Mensagem por Marechal-do-ar » Dom Jun 16, 2013 1:27 am

Sterrius, que eu saiba o faturamento das empresas de Ônibus (previsto para 2013) é metade disso, de onde você pegou essa informação de R$12 bilhões?

De qualquer jeito, sim, de uma forma geral falta de dinheiro não serve de desculpa para nada em São Paulo, com essa ideia de pegar 1 real de alguma coisa para melhorar da para melhorar tudo, um exemplo de estimativa que fiz a algum tempo atrás (porém não lembro bem dos detalhes...), se pegasse 1 real de cada passagem do metrô para linhas novas daria para extender a rede em x quilômetros por ano, não lembro justamente qual o valor do x, mas lembro que é muito maior que as promessas do Alckmin.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3833 Mensagem por Túlio » Dom Jun 16, 2013 7:11 pm

Dívida bilionária | 14/06/2013 20:12

STJ suspende pagamento da Petrobras até decisão da Justiça

Gonçalves reavaliou sua decisão de ontem (13), que era contrária à petroleira, pois entendeu que há fatos novos no processo que precisam ser considerados

Débora Zampier, da
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DIVULGAÇÃO PETROBRAS / GERALDO FALCÃO

O ministro lembra que já houve pronunciamentos favoráveis à Petrobras na Justiça Federal do Rio de Janeiro, com “forte indicativo” de que a sentença que determinou a cobrança poderá ser reformada

Brasília – O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Benedito Gonçalves suspendeu no início desta noite (14) a decisão que obrigava a Petrobras (PETR4) a pagar R$ 7,39 bilhões à Receita Federal. Ele reavaliou sua decisão de ontem (13), que era contrária à petroleira, pois entendeu que há fatos novos no processo que precisam ser considerados.

“Os riscos derivados da imediata exigibilidade do crédito em questão ultrapassam os limites da própria lide [disputa judicial], na medida em que podem atingir o próprio abastecimento nacional de combustíveis, que é de utilidade pública”, destacou o ministro.


A decisão informa que “há suficientes razões jurídicas e econômicas” para a suspensão do pagamento até o posicionamento final da Justiça sobre a validade da cobrança. O ministro lembra que já houve pronunciamentos favoráveis à Petrobras na Justiça Federal do Rio de Janeiro, com “forte indicativo” de que a sentença que determinou a cobrança poderá ser reformada.

A discussão judicial sobre a dívida tributária da Petrobras começou em 2003, quando a empresa foi autuada pela Receita por não ter recolhido Imposto de Renda sobre as remessas de valores ao exterior para pagar afretamentos de plataformas petrolíferas móveis entre 1999 e 2002. Para a Petrobras, o imposto não é devido porque as plataformas devem ser consideradas como embarcações, cuja alíquota de imposto é zero.

De acordo com o ministro do STJ, a exigência imediata dos valores “ostenta uma potencialidade danosa às atividades normais da empresa”. Ele destaca que, embora a estatal tenha grande poder econômico, a quantia “é por demais elevada para pressupor eventual facilidade na pronta apresentação de garantias suficientes para fazer frente a esse débito”.

O ministro considera que o impasse fica “ainda mais dramático” pelo fato de a Petrobras desempenhar papel relevante na economia nacional. Atualmente, o não pagamento da dívida fez a petroleira ter cancelada sua Certidão Negativa de Débitos, o que pode prejudicar operações de importação e exportação, entre outras dificuldades comerciais.


http://exame.abril.com.br/negocios/noti ... da-justica




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P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3834 Mensagem por delmar » Dom Jun 16, 2013 8:02 pm

Há muitas distorções no transporte público. Uma delas é a "gratuidade" para alguns grupos de usuários, o mais recente é para os jovens. Os governantes e políticos em geral adoram dar passagem grátis para determinados segmentos da sociedade. Estas passagens não tem nada de grátis, na realidade o governo e os políticos apenas mandam que os demais passageiros, que pagam passagem, passem a pagar mais um pouco para custear a "gratuidade". Na minha opinião a isenção do pagamento para um determinado grupo de pessoas deveria ser coberto pelo poder (prefeitura, estado ou união) que deu a isenção, os demais passageiros, que continuam pagando, não deveriam ser penalizados com aumento da tarifa, especialmente pelo fato dos usuários de transporte coletivos não serem ricos. Rico não anda de ônibus ou metrô.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3835 Mensagem por Sterrius » Seg Jun 17, 2013 9:53 am

Artigo ao mesmo tempo interessante e desanimador.

O uso indiscriminado e por tempo demasiado longo da âncora cambial durante os governos FHC e Lula deixou de fato o valor do real em um patamar totalmente distorcido, e agora estamos em uma armadilha. Ele não pode continuar tão valorizado com tem estado há anos, mas também não pode baixar.

Esta armadilha é terrível, no andar da carruagem vamos acabar estrangulando nosso setor produtivo tentando evitar uma explosão do dólar até não conseguirmos mais, e em seguida ele se desvalorizará de forma brusca acabando de destruir nossas referências de preços, trazendo o caos ao setor produtivo e inflação elevada.

E não parece haver saída para escapar da armadilha, o artigo neste ponto é bem revelador ao apontar o problema mas se eximir de sugerir soluções.
Pode-se usar "pequenos pulos' deixando o dolar subir a cada X meses alguns centavos. Isso causará alguns problemas mas ira parecer "evento ocasional" pra maioria e não ter reflexos suficientes pra gerar o caos que foi 1998.

Por exemplo. A cada 1 ano o governo "esquece" e deixa o dolar subir uns 10 centavos. E entra forte em seguida pra manter essa taxa e esperar o mercado se ajustar pra dar outro pulo.

Seria ao invés de ir com um carro bater a 200km hora vc usar o guardrail pra ir reduzindo a velocidade e bater no final a 70km. Onde seu airbag vai lhe salvar.

Pra mim economia a unica rota sem saída é não fazer nada! O Resto é apenas decidir que remédio e como tomar. Tudo ou tratamento light :P.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3836 Mensagem por LeandroGCard » Seg Jun 17, 2013 11:52 am

Sterrius escreveu:Pode-se usar "pequenos pulos' deixando o dolar subir a cada X meses alguns centavos. Isso causará alguns problemas mas ira parecer "evento ocasional" pra maioria e não ter reflexos suficientes pra gerar o caos que foi 1998.

Por exemplo. A cada 1 ano o governo "esquece" e deixa o dolar subir uns 10 centavos. E entra forte em seguida pra manter essa taxa e esperar o mercado se ajustar pra dar outro pulo.

Seria ao invés de ir com um carro bater a 200km hora vc usar o guardrail pra ir reduzindo a velocidade e bater no final a 70km. Onde seu airbag vai lhe salvar.

Pra mim economia a unica rota sem saída é não fazer nada! O Resto é apenas decidir que remédio e como tomar. Tudo ou tratamento light :P.
A meu ver a estratégia deveria ser mesmo algo assim como você sugere, uma desvalorização lenta mas constante e de preferência previsível.

O problema é que estamos ficando sem margem de manobra. Com uma desvalorização de 10% ao ano junto com uma inflação média de 5% levaria uns 10 anos para que o valor do dólar chegasse ao equivalente a 2,8 (aos valores de hoje), e segundo muitos economistas o patamar de equilíbrio ideal já está acima disso (fala-se em 3 reais por dólar ou até mais). E durante todo este período o crescimento do país teria que ser mantido baixo, para evitar uma explosão da inflação e uma deterioração mais séria de nosso balanço de pagamentos. Ou seja, faríamos 10 anos de sacrifício e ainda não chegaríamos a uma situação realmente equilibrada. E enquanto isso nossa indústria ficaria dez anos mais defasada e o restante do mundo 10 anos mais a nossa frente.

É bem possível que a oportunidade para usar esta estratégia de desvalorização "suave" já tenha passado. O problema é que estratégias "de choque" seriam extremamente complicadas e arriscadas, e o governo que está aí não vai fazer marola justamente agora que estamos entrando em período eleitoral. Na verdade eu nem acredito mais que ele tivesse competência para gerenciar qualquer estratégia que fosse, ainda mais uma complexa e arriscada. O governo trabalha para reagir às notícias do dia-à-dia, não existe planejamento nem para o período de uma semana. Ou seja, o mais provável é ficarmos mais dois anos sem fazer nada mesmo, e depois seja o que Deus quiser.


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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3837 Mensagem por Bourne » Seg Jun 17, 2013 12:58 pm

Nunca ouviram que o câmbio é flutuante, então ele flutua. :mrgreen:

No Brasil existe uma aberração chamada taxa de juros que é mais elevada que o resto do mundo em conjunto com um risco não correspondente. Em conjunto com a elevada liquidez internacional e liberdade na movimentação de capitais é muito comum os fluxos financeiros e ondas especulativas distorcerem a taxa de câmbio para cima ou para baixo. Então, nos tempos de bonança da economia mundial e baixos juros, os capitais veem atras de rendimento levando a valorização do câmbio e a expectativa que o câmbio continuará valorizado. Nesse ambiente que o câmbio veio se valorizando na década de 2000 e continua. Como também das empresas exportadoras terem se estrepado com operações especulativas apostando na crescente valorização cambial, mas o movimento foi quebrado com a Crise 2008-09.

Pelo menos na teoria, a expectativa é que a taxa de câmbio se ajuste no longo prazo com base em fatores reais da economia e anule os efeitos de distorção no curto prazo. O problema é que no Brasil a economia é volátil e está cheia de imperfeições que evitam que o ajuste ocorra. Já foi pior no Brasil com políticas suicidas em nome da manutenção da paridade cambial da primeira fase do real. Outros como a Argentina praticaram de fato o suicídio em que insistiram na receita até o fim. Na verdade esse tipo de distorção também ocorre nos países maduros, mas acabam de uma forma ou outra sendo menores exatamente por serem mais estáveis. Assim, as mudanças de juros são mais leves, da política monetária e econômica também.

No pós-crise 2007-08 os especuladores começaram a evitar países emergentes e se concentrar nos países estáveis como EUA, Japão e europa. Não se importavam em ganhar menos ou perder pouco para não ter prejuízos. Nos últimos meses começou um novo movimento de indicação que as autoridades monetárias mundiais vão começar a enxugar a liquidez injetada anteriormente para desencorajar a especulação e modelos de negócios arriscados. Não vai acontecer nada radical, mas o indicativo levou a refrear o fluxo de capitais para países emergentes como Brasil. Assim provou uma desvalorização da moeda que pode ser passageira ou não. Está ocorrendo o movimento de acomodação da economia mundial e ninguém sabe para onde vai.

Para o Brasil o problema não é a fuga de capitais. Isso é coisa do passado. A questão é como se livrar da valorização artificial e atrair investimentos de médio e longo prazo para reduzir a pressão de juros e alongar o perfil do endividamento do governo e empresas. O que se fez e está se fazendo direcionar os recursos para as áreas mais interessantes, elevar as taxas para os de natureza especulativa e criar entraves a movimentação especulativa. Existem propostas de permitir aos exportadores terem maior liberdade em aplicar e gerir as divisas em moeda estrangeiras, evitando que entrem no país e sejam transformadas em reais.

As reservas internacionais brasileiras são tão grandes que não se sabe o que fazer com elas, além de terem se transformado em um ônus financeiro para ser sustentado. A gestão de compra e venda de dólares, contratos de swap entre outros produtos financeiros não afetam a cotação no médio e longo prazo. Esses não criam entreves permanentes a variação da taxa de câmbio. são operações de mercado que servem pra suavizar a trajetória, mas que também podem ser encaradas como invetivadoras e fonte de lucro para os especuladores. O que muda e dá estabilidade a taxa de câmbio é o que afeta a rentabilidade, força o alongamento de prazos e cria a expetativa de longo prazo que existe um caminho. Inclui nesse contexto mudança de tributos e regras de aplicações que constituem entraves e direcionamento a aplicação de recursos.

Enfatizei bastante os "especuladores" por eles serem os principais responsáveis pelas flutuações no mercado de câmbio no curto prazo. Principalmente em países em desenvolvimento que não tem uma estrutura econômica e financeira madura. As exportações e empréstimos de longo prazo também influem, mas são mais fáceis de gerir e identificar. A questão gira em torno em como criar uma estrutura para que não ocorra as distorções ou, no mínimo, não permaneçam como meros reféns das flutuações internacionais.

------------

O curioso é a imprensa golpista toda agitada por que o dólar está acima de 2 reais. Já clamam fuga de capitais, crise externa e necessidade de elevar juros. O que me diz eles não entendem nada ou estão preocupados com a viagem de férias e guloseimas importadas. :twisted: :P




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3838 Mensagem por LeandroGCard » Seg Jun 17, 2013 1:40 pm

Bourne escreveu:O curioso é a imprensa golpista toda agitada por que o dólar está acima de 2 reais. Já clamam fuga de capitais, crise externa e necessidade de elevar juros. O que me diz eles não entendem nada ou estão preocupados com a viagem de férias e guloseimas importadas. :twisted: :P
E também com o preço de bugigangas eletrônicas como tablets e celulares. Já ví muita gente que confunde país desenvolvido com país onde estas tranqueiras são baratas, independentemente de quaisquer outros fatores. Mas danem-se todos, a opinião deles não me interessa.

Bourne, você discorreu sobre o câmbio flutuante e o que afeta sua cotação, mas nem mencionou o ponto mais importante que é o efeito de um câmbio sobrevalorizado durante anos ou décadas (nossso caso) sobre o setor produtivo e o crescimento do país. Dá para dar uma palha sobre isso?


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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3839 Mensagem por Sterrius » Seg Jun 17, 2013 7:35 pm

As reservas internacionais brasileiras são tão grandes que não se sabe o que fazer com elas
Não poderia se usar parte delas para fazer parte do superavit primario, liberando assim dinheiro do orçamento? Se brincar acho que ja fizeram isso não?




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#3840 Mensagem por Bourne » Seg Jun 17, 2013 9:15 pm

Não, não dá, não pode...

As reservas cambiais são operações monetárias que transformam a moeda nacional em ativos em moeda estrangeiras aplicados em algum lugar, normalmente títulos do governo estrangeiros. Como também pagam o retorno ridículo por ser de baixo risco. O dinheiro não faz parte do orçamento fiscal. Só o custo de mantê-lo.




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