ITAIPU - PARAGUAI QUER DESPERDIÇAR ENERGIA EM UM POLO DE ALUMÍNIO DA RIO TINTO
Em um kg de alumínio cerca de 60 a 70 % do seu valor é energia. Usar a energia de Itaipu para fundir alumínio é um contrasenso
Textos abaixo Agência Estado e do jornal Valor
Título e notas DefesaNet.
Em meio aos problemas do setor elétrico brasileiro, que teve apagões e empresas insatisfeitas com mudanças de regras, o Brasil pode sofrer mais um revés. Ontem, o presidente do Paraguai, Federico Franco, afirmou que o país vizinho consumirá mais energia com a futura instalação de uma fábrica de alumínio e, assim, deve exportar menos eletricidade ao Brasil e à Argentina.
Ou seja, além de pedir aumento dos preços, o governo paraguaio agora sinaliza a perspectiva de reduzir o volume de eletricidade vendida.
"O Brasil paga hoje US$ 240 milhões pela energia de nove turbinas de Itaipu que correspondem à parte paraguaia. Pela energia de apenas uma turbina, a Rio Tinto pagará muito mais do que as nove turbinas", disse, em entrevista ao canal de televisão Telefiituro na manhã de domingo, segundo o jornal ABC Color de Assunção.
Na conversa, o principal tema foi a instalação no país de uma fábrica da Rio Tinto Alcan, braço da anglo-australiana que produz alumínio. Com a unidade, a demanda paraguaia por energia aumentará e o volume disponível para exportação cairá, explicou o presidente.
A sinalização aconteceu menos de 48 horas após a assinatura de um protocolo de intenções entre o governo de Franco e a multinacional.
Conforme o documento assinado na sexta-feira, a Rio Tinto pretende instalar um complexo para fabricação de alumínio e pode consumir mais de uma turbina de Itaipu, cerca de 1.100 mega-watts, ou 7% da produção da usina binacional.
Durante a entrevista, segundo o ABC Color, Franco disse que a chegada da Rio Tinto ao Paraguai representa o início da "soberania energética" do país e que, com isso, "Brasil e Argentina começarão a respeitar o Paraguai".
Reação. O Ministério de Minas e Energia não comentou as declarações do presidente paraguaio. De acordo com a assessoria de imprensa, os técnicos responsáveis pela área que cuida de Itaipu não foram localizados por causa da folga de Natal.
A pasta, porém, pode emitir um posicionamento amanhã, quando as equipes retornarem do feriado.
Em outras ocasiões nas quais o presidente Franco ameaçou o País com a diminuição da venda de energia de Itaipu, a posição foi sempre a mesma os paraguaios têm o direito de utilizar até metade da eletricidade produzida pela usina binacional,
mas estão obrigados pelo tratado de construção da hidrelétrica a vender o restante para o Brasil.
Vanessa Dezem
O gigantesco projeto de produção de alumínio primário que a multinacional anglo-australiana RioTinto está desenhando para instalar no Paraguai, usando energia da hidrelétrica de Itaipu, está movimentando as autoridades do país. O objetivo, agora, é atrair empresas brasileiras transformadoras do metal para se instalarem no entorno e, assim, criar um polo de fabricação de itens como cabos e fios, componentes e peças fundidas e embalagens, entre outros produtos.
As negociações do governo paraguaio correm paralelas com a Rio Tinto e empresas brasileiras do setor. Segundo apurou o Valor, já existem companhias transformadoras com interesse em se estabelecer no Paraguai.
Um dos motivos é que a oferta do metal no Brasil estagnou. O país poderá enfrentar déficit a partir deste ano ou no mais tardar 2014. Devido aos custos elevados da energia, os atuais grupos produtores - Votorantim / CBA, Alcoa, BHP Billiton, Norsk Hydro e Novelis - não têm, até o momento, planos de expansão e muito menos de instalar novas fundições no país. Pelo contrário, corre-se o risco até de novos cortes na oferta.
A Rio Tinto, que comprou a antiga canadense Alcan em 2008, traçou caminho fora do Brasil. O governo paraguaio informou ao Valor que a Rio Tinto desenha um projeto com capacidade de produção de 674 mil toneladas de alumínio primário por ano. Deverão ser investidos US$ 3,5 bilhões para a construção da unidade de fundição. Ao se considerar os desembolsos necessários à infraestrutura do parque industrial, os recursos podem ultrapassar os US$ 4 bilhões, avalia o governo.
"É do interesse do governo do Paraguai atrair empresas brasileiras para criar uma área de produção industrial de produtos de alumínio usando o material primário da RioTinto", afirmou Diego Zavala, consultor para o Ministério da Indústria e Comércio do Paraguai para o projeto da Rio Tinto. Até agora, o governo recebeu cartas de intenção de 16 empresas consumidoras da matéria-prima, com interesse em se estabelecer no polo industrial.
A grande parte dessas empresas tem operações no Brasil. Entre os setores envolvidos estão laminação, extrusão (perfis para construção), fios e cabos elétricos, ligas de alumínio, reciclagem, gases industriais, ligas de aço, estruturas de metal e até de cimento.
"Levando em consideração que o parque industrial ainda está em etapa preliminar, o interesse crescente é encorajador", disse Zavala.
O projeto ainda está em fase de desenvolvimento e o governo do Paraguai está finalizando os estudos de impactos econômicos e na área de energia. Estão sendo analisados também a estrutura de impostos e a infraestrutura necessária para o parque industrial.
Segundo Zavala, a companhia foi atraída pela grande oferta de energia oferecida pelo país a baixo custo, além da proximidade de grandes mercados consumidores, como o Brasil e a Argentina. Energia é o insumo de maior peso na indústria de alumínio primário, podendo representar até um terço do custo de produção. Para os padrões mundiais, uma fundição do metal, para ser competitiva, não pode ter energia acima de US$ 30 por MWhora.
Os planos de investimentos da Rio Tinto no Paraguai podem ser considerados uma resposta à situação do mercado de alumínio global. Desde o início do ano, as principais produtoras do mundo, como Alcoa, BHP Billiton e a própria Rio Tinto, anunciaram cortes na produção do metal, que sofreu forte queda nos preços. No segundo semestre do ano passado a cotação no alumínio na Bolsa de Metais de Londres (LME) recuou 21,54%, variando entre US$ 2 mil e US$ 2,2 mil a tonelada..
Com o cenário da demanda pelo metal se degradando, diante da crise na Europa e da desaceleração do consumo da China, as empresas do setor - que enfrentam alta de custos de produção - passaram a rever suas estratégias. Elas buscam locais que possam oferecer baixos custos, principalmente de energia
"Não foi negociado ainda o preço da energia, mas o sistema elétrico do Paraguai tem energia em abundância e o governo quer estimular a instalação desse parque fabril", ressaltou Zavala. Para o Brasil, segundo ele, isso traria vantagens por se tornar uma plataforma industrial que serviria o país na oferta de alumínio primário e seus produtos, a preço competitivo.
A Rio Tinto afirmou que "não vai comentar os investimentos nessa fase" do projeto paraguaio.
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