sapao escreveu:Atualmente se pensa em 3 camadas diferentes, tanto para a utilização de aeronaves como para sistemas terrestres: alta, media e baixa (performance ou altura ). Como você ressaltou, a camada interna deve se focar mais na capacidade de destruição ou neutralização do alvo, haja vista que detectar e identificar são funçoes basicas das outras camadas.
Acredito que na prática a detecção e identificação acabam formando um sistema praticamente paralelo ligando sensores (radares, detectores IR, observadores avançados e etc.) e centros de comandos de forma a fornecer a melhor e mais integrada consciência situacional possível a cada unidade envolvida com a defesa, dos quartéis generais e base aéreas às unidades de tiro individuais.
Mas obviamente cada unidade também deve possuir a capacidade de detectar, identificar e rastrear alvos dentro da sua área de ação de forma independente, para não "engessar" o sistema com a necessidade de gerenciar um excesso de informações e para poder continuar operando em caso de falha nas comunicações, o que é esperado.
Não só devem possuir baixo custo mas tambem alta capacidade de remuniciamento, e o sistema de tiro deve ter uma alta taxa de atualização.
Vejo alternativas, mas acho que atualmente algo que não utilizasse radiofrequencia atenderia esses requisitos.
Verdade, a capacidade de efetuar disparos em cadência rápida e engajamentos múltiplos é fundamental para a camada interna de defesa, que enfrentará as munições. O uso de radiofrequência pode complicar atingir este objetivo, por ex: os sistemas ACLOS possuem limitações de número de canais simultâneos, e os de radiocomando são mais sensíveis à contramedidas. Sistemas óticos por outro lado podem ter dificuldades em acompanhar certos alvos, e radar passivo/ativo tendem a exigir mísseis maiores e mais caros.
É uma equação complicada.
Bom, o alcance em si depedende do tipo de lançador tambem.
Se estivermos falando de um sistema que receba dados de outros elos de defesa (como preconiza a Doutrina), eles deverão estar dispostos de maneira a fechar um circulo ao redor do objetivo, e esses circulos devem ser concentricos partindo do sistema de maior alcance para o de menor alcance; e todos capazes de se comunicar entre si e com enlace de dados, seubordinados a um unicao comando mas com execução descentralizada.
A escolha de se espalhar as baterias pelos provaveis eixos de ataque deve ser tomada somente em situações especificas e com resslavas na sua utilização porque as aeronaves, como se sabe, podem se aproximas de qualquer direção.
Na verdade em um cenário em que os atacantes podem vir de qualquer direção então todas as direções são eixos de ataque prováveis, e a defesa tem que assumir a disposição circular que você mencionou. Em outros casos a distância, a disposição das próprias defesas (por exemplo, as área de cobertura da CAP) e outros fatores podem limitar os eixos de aproximação. Eu apenas não quis entrar em um nível muito grande de detalhes e usei o conceito genérico.
E desde a Operação no Vale do Beqaa em 82, é sabido que as primeiras levas de aeronaves serão sempre no sentido de engodo, seja por aeronaves tripuladas ou não; uma vez levantadas as posições dos sistemas de longo e medio alcance, os eixos são decididos de maneira a se evitar ao maximo a exposição das aeronaves a AAe. Portanto ao espalharmos as defesas pelo terreno, perdemos a redundancia que teriamos colocando um dentro do alcance do outro e teremos brechas nas defesas que podem ser exploradas pelos atacantes.
Na minha opinião, isso só seria possivel de ser feito caso nossos sistemas tivessem uma capacidade de mobilidade que compensasse essa disposição no terreno ( sendo facil de serem movimentadas) ou estivessem utilizando sensores passivos ou enlaces de sistemas com alcance mais longo, deixando seus sistemas ativos desligados até que a aeronave atacante estivesse dentro do seu alcance de emprego.
A elevada mobilidade dos sistemas é um ponto em que eu sempre insisto. Se o sistema estiver fixo cedo ou tarde ele será detectado (mesmo que seja por abater um inimigo) e aí se converterá em alvo fácil. Os lançadores precisam estar mudando de posição o tempo todo pelo perímetro de defesa. E os sensores quando possível devem fazer o mesmo. No caso destes últimos isso pode não ser tão simples, alguns sensores podem ser muito grandes e complexos para ficarem se movendo, e neste caso sua defesa de curto alcance precisa ser bastante reforçada.
O enlace de dados e a sobreposição dos campos de tiro também devem ser características do dispositivo de defesa AAe.
Discordo.
Caberia a camada externa abater tantos quanto fossem possiveis dentro da sua aerea de responsabilidade, pois cada vez que uma aeronave passa por ela teremos uma camada a menos de defesa no sistema. Devemos imaginar que cada camada interna é um backup da imediatamente externa, e não seu complemento.
As taxas de atrito são dificeis de prever, pois não sabemos até que ponto o inimigo estara disposta a sacrificar suas aeronaves em prol do alvo desejavel. Se el achar que destruindo o objetivo pode mudar o curso do conflito, talvez ele possa se dar ao luxo da considerar a perda de 90% das suas aeronaves atacantes ( um bom exemplo seria o Irã matar Sadam Hussein ou a Argentina afundar um Nae Ingles).
Por isso acho perigoso trabalharmos com porcentagens nesse tipo de planejamento, pois nunca podemos dizer o quanto o inimigo será capaz de aceitar de perdas.
Esses numeros são sim importantes para o planejamento das hipoteses de emprego, onde podemos pensar em quanto perderiamos versus o inimigo perderia em determinadas situações e tentar planejar quais seriam nossas opçoes nesses casos.
Abater todos os alvos possíveis seria o objetivo ideal, mas simplesmente não é realista acreditar que isso será possível em distâncias maiores, devido a uma série enorme de dificuldades que vão da detecção à capacidade de manobra dos mísseis em fase terminal de vôo. E os mísseis de maior alcance são caros demais para serem disparados em qualquer condição, como se deve fazer com os de curto alcance. Na Primeira Guerra do Iraque os iraquianos tentaram isso e dispararam mais de 100 mísseis de longo alcance logo nas primeiras horas do combate, e só depois da guerra descobriram que estavam atirando contra alvos falsos. O resultado é que seus estoques de mísseis caíram e com dificuldades de remuniciamento eles tiveram que passar a economizar de qualquer jeito, escolhendo com cuidado quando disparar e quando deixar a aeronave passar. E o mesmo aconteceu de novo na Sérvia.
Se um inimigo competente (e você nunca deve contar com a incompetência do inimigo - Sun Tzu) sabe que você vai disparar contra tudo o que identificar como alvo, pode ter certeza de que ele vai tentar arranjar para você alvos em que atirar, até você não ter mais com o quê. Isso é bem difícil contra mísseis de curto alcance baratos, mas nem tanto assim com os dispendiosos mísseis de maior alcance. Por isso esta camada externa deve evitar cair nesta armadilha e controlar sua ação. O correto é a ela criar um dispositivo que permita fechar as passagens livres para o inimigo e forçá-lo a correr riscos elevados em cada missão, mas disparar apenas quando as chances de realmente abater um alvo inimigo importante são elevadas. E enquanto isso a camada interna o obriga a retornar repetidas vezes para lidar com o mesmo alvo. Observe que com uma taxa de atrito de 15% o atacante perderá mais de 55% de sua força de combate após apenas 5 missões subsequentes. Nem mesmo os EUA conseguiriam manter uma campanha aérea assim!
É claro que no caso de um alvo primordial como Sadam ou um PA britânico a situação muda, nestes casos não dá para contar números, mas sempre que possível um contendor vai evitar se colocar na situação de poder ser derrotado com a destruição de um único alvo que esteja ao alcance do inimigo e na maioria das guerras isso não é possível. E nos casos mais usuais o adequado é que a defesa AAe se coloque ela mesma como alvo prioritário (o que aliás tende a acontecer por si mesmo quando a doutrina do atacante preconiza a obtenção da supremacia aérea) e seja montada de forma a causar uma taxa de desgaste do inimigo maior que a sua própria. Se o inimigo está atacando as defesas AAe e não os alvos importantes para a integridade do país, e se está perdendo capacidade de combate mais rápido que a própria AAe, então a guerra já está sendo ganha.
Concordo em partes.
Realmente atualmente a coisa evoluiu para as aeronaves, mas acredito que como todo avanço belico em breve teremos a contrapartida da AAe em sistemas mais capazes.
Então para o que eu quero hoje seria como você falou: cada um no seu quadrado, mas não devemos desconsiderar que no futuro talvez tenhamos algo no meio termo dos dois ou até mesmo para as duas funções.
Pode ser, mas hoje o que se observa é a entrada em operação de aeronaves stealth e o barateamento dos sistemas de armas inteligentes, então atendência atual é a oposta, de ficar cada vez mais difícil para a defesa e se passar a precisar de sistemas cada vez mais especializados para cada função. Algum desenvolvimento inesperado pode mudar esta tendência, mas não vislumbro nada neste sentido hoje, então por enquanto tenho que manter o que coloquei.
Eu pessoalmente não abriria mão das 3 camadas de defesa em nenhum caso, ainda mais quando temos sistemas que possuem uma certa mobilidade em função do seu alcance atualmente como o S-300.
E diria que para a camada mais interna eu utilizaria sensores passivos para complementar os ativos em utilização, de maneira a cobrir uma camada ainda maior do espectro eletromagnetico. Iso porque não tem como fugir: se é material, esta dentro do espectro. Portanto se sabemos que a arma utilizada vai se focar em determinada faixa, com certeza focaremos nossas contramedidas na mesma faixa; agora quando expandimos a faixa de utilização dos nossos sistemas de defesa obrigamos o inimigo a expandir tambem suas contramedidas.
Eu também pessoalmente gosto da idéia de manter uma camada mais externa ainda, com mísseis de alcance ultra-longo. Tenho até algumas idéias sobre como viabilizá-los com custos não tão altos. Mas aí a sobreposição com a defesa através de caças é muito nítida, e a escolha vai depender de diversas circunstâncias. Talvez em muitos casos seja melhor investir em mais aviões de combate aéreo do que nos mísseis com alcance maior do que 60 ou 80 km.
Com relação aos sensores, minha opinião é de que eles realmente nunca serão demais, e quanto mais espectros cobrirem melhor. Por exemplo, se o terreno tem profundidade o uso de sensores de som colocados em posições avançadas pode ser uma idéia muito boa, e nos alcances menores sistemas usando reconhecimemnto de imagens também tem um enorme potencial. E eu investiria também em sistemas alternativos de detecção ativa, como radares de baixa frequência e os multiestáticos.
Um grande abraço,
Leandro G. Card