Coreia do Sul
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Coreia do Sul
SEUL - As primeiras pesquisas boca de urna na Coreia do Sul apontam para uma estreita vantagem da conservadora Park Geun-hye. Park tem 50,1% dos votos contra 48,9% do esquerdista Moon Jae-in. O chamado “milagre econômico” da Coreia do Sul, que impulsionou o país como a quarta maior economia da Ásia, e as relações com a Coreia do Norte foram temas recorrentes na campanha, em uma das disputas mais acirradas da história do país.
- Vou restaurar a classe média destruída e inaugurar uma era em que eles representem 70% da população - disse Park, do partido Saenuri, durante uma coletiva em Seul.
O discurso se referia à agitação social pelo abismo crescente entre ricos e pobres e à deterioração da classe média.
Também na capital, Moon, do Partido Democrático Unificado (PDU), prometeu “ficar ao lado do povo” e “dar prioridade à equidade e à justiça”, em uma mensagem de mudança após cinco anos de governo conservador de Lee Myung-bak.
As pesquisas antes da votação já indicavam um estreita vitória a Park Geun-hye, 60 anos, filha do ditador Park Chung-hee, que governou o país nos anos 60 e 70. Solteira e sem filhos, Park dedicou grande parte de sua vida à política desde que, em 1974, com apenas 22 anos, assumiu o papel de primeira-dama depois que um terrorista norte-coreano matou sua mãe, Yuk Young-soo.
A candidata, que aspira a ser a primeira presidente mulher na curta história do país - fundado em 1948 - é impulsionada por uma vitória esmagadora nas eleições parlamentares de abril, que deu ao seu partido 152 dos 300 assentos na Assembleia Nacional.
Aos 51 anos, Moon Jae-in, antigo braço-direito do ex-presidente Roh Moo-hyun, durante seu mandato (2003-2008), se autointitula como “candidato de princípios”, graças a sua longa história como advogado em defesa dos direitos humanos. Paradoxalmente, Moon, ativista da democracia nos anos 70, foi preso por atividades subversivas durante a ditadura do pai de sua rival eleitoral.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/boca-de-u ... z2FUxztIQh
A ascensão de governos nacionalistas é a tendência asiática com discurso pró-classe média.
- Vou restaurar a classe média destruída e inaugurar uma era em que eles representem 70% da população - disse Park, do partido Saenuri, durante uma coletiva em Seul.
O discurso se referia à agitação social pelo abismo crescente entre ricos e pobres e à deterioração da classe média.
Também na capital, Moon, do Partido Democrático Unificado (PDU), prometeu “ficar ao lado do povo” e “dar prioridade à equidade e à justiça”, em uma mensagem de mudança após cinco anos de governo conservador de Lee Myung-bak.
As pesquisas antes da votação já indicavam um estreita vitória a Park Geun-hye, 60 anos, filha do ditador Park Chung-hee, que governou o país nos anos 60 e 70. Solteira e sem filhos, Park dedicou grande parte de sua vida à política desde que, em 1974, com apenas 22 anos, assumiu o papel de primeira-dama depois que um terrorista norte-coreano matou sua mãe, Yuk Young-soo.
A candidata, que aspira a ser a primeira presidente mulher na curta história do país - fundado em 1948 - é impulsionada por uma vitória esmagadora nas eleições parlamentares de abril, que deu ao seu partido 152 dos 300 assentos na Assembleia Nacional.
Aos 51 anos, Moon Jae-in, antigo braço-direito do ex-presidente Roh Moo-hyun, durante seu mandato (2003-2008), se autointitula como “candidato de princípios”, graças a sua longa história como advogado em defesa dos direitos humanos. Paradoxalmente, Moon, ativista da democracia nos anos 70, foi preso por atividades subversivas durante a ditadura do pai de sua rival eleitoral.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/boca-de-u ... z2FUxztIQh
A ascensão de governos nacionalistas é a tendência asiática com discurso pró-classe média.
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
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Re: Coreia do Sul
Presidente eleita na Coreia do Sul promete recuperação econômica
Park Geun-hye foi eleita nesta quarta após derrotar centro-esquerdista.
Ela é filha de ditador que comandou o país 18 anos antes de ser morto.
A vencedora das eleições presidenciais da Coreia do Sul, Park Geun-hye, disse nesta quarta-feira (19) que sua vitória vai ajudar a economia do país a se recuperar.
"Esta é uma vitória trazida pela esperança do povo para superar a crise e pela recuperação econômica", afirmou a conservadora Park a repórteres em Seul.
A Coreia do Sul viu seu crescimento cair para pouco mais de 2% este ano, de uma média anual de 5,5% durante as décadas de crescimento meteórico, quando se transformou de uma nação em desenvolvimento para a quarta maior economia da Ásia.
Park, 60 anos, filha de Park Chung-Hee, ditador que comandou o país durante 18 anos até seu assassinato em 1979, venceu, segundo a Comissão Eleitoral.Ela derrotou o centro-esquerdista Moon Jae-In, que já admitiu a derrota.
Os simpatizantes da candidata receberam com entusiasmo o anúncio da vitória. Em um dia eleitoral que foi feriado, 40,5 milhões de sul-coreanos estavam registrados para comparecer às urnas.
As pesquisas antes da votação já mostravam uma disputada apertada entre Park, do PNF, e Moon, do Partido Democrata Unido (DUP, centro-esquerda, principal partido de oposição).
Park Heun-Hye é a filha de Park Chung-Hee, um brutal autocrata, que promoveu a industrialização forçada do país e que permaneceu no poder até o assassinato em 1979.
A mãe dela foi morta em 1970 por um militante favorável à Coreia do Norte, que tinha a intenção de atingir o ditador com seus tiros.
"Estimulo os eleitores a desafiar o frio e votar para abrir uma nova era neste país", declarou Park depois de depositar seu voto em Seul, onde a temperatura era de 10 graus negativos.
Moon Jae-In, 59 anos, é uma das principais figuras da oposição no período sombrio do país e um adversário notório dos militares. Ele foi preso nos anos 1970 por defender a democracia.
Os dois tentaram atrair a classe média e os mais desfavorecidos, com promessas de combater as crescentes desigualdades na quarta economia asiática.
A Coreia do Norte não foi sequer um tema da campanha eleitoral, apesar de Pyongyang ter executado um lançamento de foguete na semana passada, coincidindo com o primeiro aniversário da morte do dirigente comunista Kim Jong-Il.
Park e Moon manifestaram o desejo de estimular as relações entre as duas Coreias. Park foi mais reservada, no entanto, porque os conservadores defendem há muito tempo uma linha intransigente com Pyongyang.
Moon defende a retomada da ajuda sem condições à Coreia do Norte e pediu uma reunião com o dirigente deste país, Kim Jong-Un, filho de Kim Jong-Il.
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/ ... omica.html
Park Geun-hye foi eleita nesta quarta após derrotar centro-esquerdista.
Ela é filha de ditador que comandou o país 18 anos antes de ser morto.
A vencedora das eleições presidenciais da Coreia do Sul, Park Geun-hye, disse nesta quarta-feira (19) que sua vitória vai ajudar a economia do país a se recuperar.
"Esta é uma vitória trazida pela esperança do povo para superar a crise e pela recuperação econômica", afirmou a conservadora Park a repórteres em Seul.
A Coreia do Sul viu seu crescimento cair para pouco mais de 2% este ano, de uma média anual de 5,5% durante as décadas de crescimento meteórico, quando se transformou de uma nação em desenvolvimento para a quarta maior economia da Ásia.
Park, 60 anos, filha de Park Chung-Hee, ditador que comandou o país durante 18 anos até seu assassinato em 1979, venceu, segundo a Comissão Eleitoral.Ela derrotou o centro-esquerdista Moon Jae-In, que já admitiu a derrota.
Os simpatizantes da candidata receberam com entusiasmo o anúncio da vitória. Em um dia eleitoral que foi feriado, 40,5 milhões de sul-coreanos estavam registrados para comparecer às urnas.
As pesquisas antes da votação já mostravam uma disputada apertada entre Park, do PNF, e Moon, do Partido Democrata Unido (DUP, centro-esquerda, principal partido de oposição).
Park Heun-Hye é a filha de Park Chung-Hee, um brutal autocrata, que promoveu a industrialização forçada do país e que permaneceu no poder até o assassinato em 1979.
A mãe dela foi morta em 1970 por um militante favorável à Coreia do Norte, que tinha a intenção de atingir o ditador com seus tiros.
"Estimulo os eleitores a desafiar o frio e votar para abrir uma nova era neste país", declarou Park depois de depositar seu voto em Seul, onde a temperatura era de 10 graus negativos.
Moon Jae-In, 59 anos, é uma das principais figuras da oposição no período sombrio do país e um adversário notório dos militares. Ele foi preso nos anos 1970 por defender a democracia.
Os dois tentaram atrair a classe média e os mais desfavorecidos, com promessas de combater as crescentes desigualdades na quarta economia asiática.
A Coreia do Norte não foi sequer um tema da campanha eleitoral, apesar de Pyongyang ter executado um lançamento de foguete na semana passada, coincidindo com o primeiro aniversário da morte do dirigente comunista Kim Jong-Il.
Park e Moon manifestaram o desejo de estimular as relações entre as duas Coreias. Park foi mais reservada, no entanto, porque os conservadores defendem há muito tempo uma linha intransigente com Pyongyang.
Moon defende a retomada da ajuda sem condições à Coreia do Norte e pediu uma reunião com o dirigente deste país, Kim Jong-Un, filho de Kim Jong-Il.
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/ ... omica.html
- rodrigo
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Re: Coreia do Sul
A esquerda lá é responsável igual à chilena ou demagoga igual à brasileira?
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
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Re: Coreia do Sul
Para não passar vergonha nem penso em comparar com Austrália, Chile, Cingapura, Coreia do Sul, Nova Zelândia principalmente em política que sempre estivemos muito mal representados.rodrigo escreveu:A esquerda lá é responsável igual à chilena ou demagoga igual à brasileira?
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
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Re: Coreia do Sul
A eleita é do mesmo partido de centro-direita que o atua presidente, não?
O candidato derrotada é de centro-esquerda e, ao menos pelo discurso parece mais moderado e responsável do que a senhora eleita.
Mas como confiar? Os dois são políticos a anos...
O candidato derrotada é de centro-esquerda e, ao menos pelo discurso parece mais moderado e responsável do que a senhora eleita.
Mas como confiar? Os dois são políticos a anos...
"Quando um rico rouba, vira ministro" (Lula, 1988)
- marcelo l.
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Re: Coreia do Sul
Sobre o Park e por que a reforma dele apesar da corrupção conseguiu bons resultados em comparação até de países que tentaram competir saiu um artigo do Acemoglu e James Robinson.
http://whynationsfail.com/blog/2013/1/2 ... -park.html
As we noted in our last post, there is a far more charitable account of the Marcos dictatorship after 1972 in the Philippines than brought to mind by Imelda’s 3,000 pairs of shoes.
Marcos himself argued that the move to autocracy was needed to discipline the oligarchs and discipline them he did.
The Lopez family was one of these. Before martial law Marcos had Fernando Lopez as his vice president as part of a strategy to co-opt the oligarchs. But after 1972 Marcos discarded him and expropriated his assets, sugar estates, media empire and power generating plants. He cowed the rest of the sugar oligarchs into submission. He also centralized the state and embarked on an attempt to promote industrial exports.
In these strategies and aspirations Marcos was quite similar to Park Chung-Hee in South Korea. Park rose to power in a coup in 1961 and one of his first acts was to arrest and lock up business oligarchs on the grounds that they were “illicit profiteers”. Park similarly abandoned the attempt to keep himself in power through elections in 1972, just as Marcos did. He also famously launched an ambitious export-driven industrialization plan.
The difference between the Marcos and the Park experiences, however, is that while the latter was a huge economic success, the first collapsed into an orgy of rent seeking and looting of the state. Why the difference?
This takes us back to the history and in particular the history of the construction of the state. As we saw in our previous post, the state in the Philippines was built from the bottom up in a way which facilitated its capture by the oligarchy. This captured state was highly patrimonial, largely lacking meritocratic recruitment and promotion of the bureaucracy for example. Appointments were made on the basis of political criteria, for example, ability to help win elections.
The history of the state in South Korea was very different. As Peter Evans pointed out in his seminal book on comparative economic development, Embedded Autonomy, the Korean state developed by Park was able to tap into a rich history of meritocracy dating back to an examination system which the pre-colonial Korean state had adopted from imperial China. Both Park and Marcos tried to build the state, but they worked in the context of very different historical legacies and contemporary politics. In Korea, land reform had obliterated much of the traditional elites.
Ultimately, both Park and Marcos attempted to launch what we call “extractive growth” in Why Nations Fail. This was a success in Korea but not in the Philippines because Marcos did not have the type of state that was capable for generating economic growth from above. In Korea, Park was able to create hard budget constraints, and credible rewards and punishments for economic success and failure. Marcos had no such option with his captured patrimonial state. Perhaps the looting started because he realized that Korean style industrialization was not an option in the Philippines (though in fact there is evidence that it dates back to the 1960s).
All that being said, as we also point out in Why Nations Fail, even Korean growth could not have been sustained without the transition to inclusive political institutions and away from Park’s authoritarian regime.
But equally importantly, the Philippines experience also suggests that extractive growth is not even a transitory option for countries lacking the type of centralized state that Park inherited and strengthened.
http://whynationsfail.com/blog/2013/1/2 ... -park.html
As we noted in our last post, there is a far more charitable account of the Marcos dictatorship after 1972 in the Philippines than brought to mind by Imelda’s 3,000 pairs of shoes.
Marcos himself argued that the move to autocracy was needed to discipline the oligarchs and discipline them he did.
The Lopez family was one of these. Before martial law Marcos had Fernando Lopez as his vice president as part of a strategy to co-opt the oligarchs. But after 1972 Marcos discarded him and expropriated his assets, sugar estates, media empire and power generating plants. He cowed the rest of the sugar oligarchs into submission. He also centralized the state and embarked on an attempt to promote industrial exports.
In these strategies and aspirations Marcos was quite similar to Park Chung-Hee in South Korea. Park rose to power in a coup in 1961 and one of his first acts was to arrest and lock up business oligarchs on the grounds that they were “illicit profiteers”. Park similarly abandoned the attempt to keep himself in power through elections in 1972, just as Marcos did. He also famously launched an ambitious export-driven industrialization plan.
The difference between the Marcos and the Park experiences, however, is that while the latter was a huge economic success, the first collapsed into an orgy of rent seeking and looting of the state. Why the difference?
This takes us back to the history and in particular the history of the construction of the state. As we saw in our previous post, the state in the Philippines was built from the bottom up in a way which facilitated its capture by the oligarchy. This captured state was highly patrimonial, largely lacking meritocratic recruitment and promotion of the bureaucracy for example. Appointments were made on the basis of political criteria, for example, ability to help win elections.
The history of the state in South Korea was very different. As Peter Evans pointed out in his seminal book on comparative economic development, Embedded Autonomy, the Korean state developed by Park was able to tap into a rich history of meritocracy dating back to an examination system which the pre-colonial Korean state had adopted from imperial China. Both Park and Marcos tried to build the state, but they worked in the context of very different historical legacies and contemporary politics. In Korea, land reform had obliterated much of the traditional elites.
Ultimately, both Park and Marcos attempted to launch what we call “extractive growth” in Why Nations Fail. This was a success in Korea but not in the Philippines because Marcos did not have the type of state that was capable for generating economic growth from above. In Korea, Park was able to create hard budget constraints, and credible rewards and punishments for economic success and failure. Marcos had no such option with his captured patrimonial state. Perhaps the looting started because he realized that Korean style industrialization was not an option in the Philippines (though in fact there is evidence that it dates back to the 1960s).
All that being said, as we also point out in Why Nations Fail, even Korean growth could not have been sustained without the transition to inclusive political institutions and away from Park’s authoritarian regime.
But equally importantly, the Philippines experience also suggests that extractive growth is not even a transitory option for countries lacking the type of centralized state that Park inherited and strengthened.
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
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Re: Coreia do Sul
Ensinar uma história de sucesso devia ser fácil? Na Coreia do Sul não é
06 DE DEZEMBRO DE 2015
Leonídio Paulo Ferreira
Centro de Seul assistiu a uma gigantesca manifestação em novembro contra as políticas educativa e laboral do governo
Governo diz que manuais são enviesados para a esquerda e quer impor um. Oposição acusa os conservadores de luta ideológica
Quando se fala do sistema educativo sul-coreano costuma ser para elogiar, afinal nos testes internacionais os alunos surgem sempre no topo. Mas por estes dias, os livros escolares tornaram-se um foco de polémica na Coreia do Sul, graças ao projeto governamental de criar um manual único para o ensino da História, criticado pela esquerda. Entre os temas divisíveis estão o relato da colonização japonesa, a visão da guerra entre as Coreias de 1950-1953 e o legado de Park Chung-hee, assunto picante por ser o pai da atual chefe do Estado.
"O governo quer os manuais de história escritos com base em factos objetivos de forma que os jovens possam ter uma visão equilibrada da história", afirmou o ministro da Educação, Hwang Woo-yea, ao Chosun Ilbo. E para contrariar a ideia de que o governo conservador pretende reescrever a história nacional a seu bel-prazer, é garantido que uma equipa de 20 a 40 historiadores será envolvida no projeto. Outro ministro declarou que o objetivo é garantir que seja ensinada "a orgulhosa história da Coreia do Sul, que alcançou tanto a democratização como a industrialização no mais curto espaço de tempo da história mundial", uma referência ao salto do país em meio século, de quando era tão pobre como alguns Estados africanos até hoje, em que surge em 15.º no índice de desenvolvimento da ONU.
Múltiplas interpretações
A contestação não vem apenas da oposição, mas também de círculos académicos. "Porque deverá haver só uma versão num manual escolar? Precisamos de múltiplas visões para que os alunos possam escolher. A história pode ser objeto de múltiplas interpretações", disse à BBC Chung-In Moon, da Universidade Yonsei, em Seul. E, segundo o Chosun Ilbo, os críticos afirmam que qualquer enviesamento para a esquerda ou falta de rigor nos manuais é culpa do Ministério da Educação, que não os fiscalizou bem.
Até há poucos anos havia só um manual de História, tradição que vinha dos tempos ditatoriais e que se manteve depois de a Coreia do Sul se democratizar a passos acelerados na década de 1980. Depois foi entregue à iniciativa privada a produção, com oito editoras a criarem manuais que podem ser escolhidos pelas escolas. A intenção é que a partir de 2017 volte a haver um só manual, sem as tais "distorções".
Um ministro chamou a atenção para que um dos livros em uso pelos alunos classifica a Coreia do Norte de ditatorial apenas duas vezes, enquanto usa o mesmo termo 28 vezes para falar da Coreia do Sul. Divididas desde 1945, as duas Coreias começaram por ser ditaduras, mas enquanto a Norte se perpetuou a dinastia comunista dos Kim, a Sul existe hoje um país que o Democracy Index da Economist coloca em 21.º, entre o Japão e a Espanha.
Segundo a imprensa sul-coreana, uma dezena de universidades disseram já que vão boicotar o projeto. E a Associação para a História Moderna e Contemporânea da Coreia declarou nada querer ter que ver com este projeto da administração liderada por Park Geun-hye.
Apesar de contar com um primeiro-ministro, o sistema sul-coreano é presidencialista e a senhora Park, eleita em 2013, é que manda. Segundo o Financial Times, o manual único também gera polémica porque a presidente é acusada de querer dourar a imagem do pai, que governou entre 1961 e 1979, até ser assassinado. Hoje, o seu legado é misto, com a memória de ser um ditador viva mas também reconhecido o contributo para tornar o país da Samsung e da Hyunday um caso de sucesso.
Do Japão ao Texas
Na Ásia Oriental, estas polémicas com os manuais são comuns. Têm muito que ver com a forma como as sociedades olham para o seu passado recente. No Japão, o debate costuma ser sobre o modo como é descrita a política imperialista que levou à Segunda Guerra Mundial. Os historiadores conservadores defendem que o país não se limitou a ser um invasor e até enfrentou o colonialismo europeu.
Curiosamente, esta polémica na Coreia do Sul coincidiu com a denúncia por um estudante do Texas de que um livro de Geografia chamava "trabalhadores" aos escravos trazidos para os Estados Unidos. A editora já mandou rever os textos, mas o The New York Times publicou uma crítica arrasadora intitulada "Como o Texas ensina a História".
O historiador francês Marc Ferro tem um livro chamado As Falsificações da História, em que denuncia múltiplos casos de manipulação do passado. Nas ditaduras é regra. Mas mesmo nas democracias - como a Coreia do Sul, o Japão ou os Estados Unidos - o ensino da História pode transformar-se em terreno de batalha ideológica.
http://www.dn.pt/mundo/interior/ensinar ... 17421.html
06 DE DEZEMBRO DE 2015
Leonídio Paulo Ferreira
Centro de Seul assistiu a uma gigantesca manifestação em novembro contra as políticas educativa e laboral do governo
Governo diz que manuais são enviesados para a esquerda e quer impor um. Oposição acusa os conservadores de luta ideológica
Quando se fala do sistema educativo sul-coreano costuma ser para elogiar, afinal nos testes internacionais os alunos surgem sempre no topo. Mas por estes dias, os livros escolares tornaram-se um foco de polémica na Coreia do Sul, graças ao projeto governamental de criar um manual único para o ensino da História, criticado pela esquerda. Entre os temas divisíveis estão o relato da colonização japonesa, a visão da guerra entre as Coreias de 1950-1953 e o legado de Park Chung-hee, assunto picante por ser o pai da atual chefe do Estado.
"O governo quer os manuais de história escritos com base em factos objetivos de forma que os jovens possam ter uma visão equilibrada da história", afirmou o ministro da Educação, Hwang Woo-yea, ao Chosun Ilbo. E para contrariar a ideia de que o governo conservador pretende reescrever a história nacional a seu bel-prazer, é garantido que uma equipa de 20 a 40 historiadores será envolvida no projeto. Outro ministro declarou que o objetivo é garantir que seja ensinada "a orgulhosa história da Coreia do Sul, que alcançou tanto a democratização como a industrialização no mais curto espaço de tempo da história mundial", uma referência ao salto do país em meio século, de quando era tão pobre como alguns Estados africanos até hoje, em que surge em 15.º no índice de desenvolvimento da ONU.
Múltiplas interpretações
A contestação não vem apenas da oposição, mas também de círculos académicos. "Porque deverá haver só uma versão num manual escolar? Precisamos de múltiplas visões para que os alunos possam escolher. A história pode ser objeto de múltiplas interpretações", disse à BBC Chung-In Moon, da Universidade Yonsei, em Seul. E, segundo o Chosun Ilbo, os críticos afirmam que qualquer enviesamento para a esquerda ou falta de rigor nos manuais é culpa do Ministério da Educação, que não os fiscalizou bem.
Até há poucos anos havia só um manual de História, tradição que vinha dos tempos ditatoriais e que se manteve depois de a Coreia do Sul se democratizar a passos acelerados na década de 1980. Depois foi entregue à iniciativa privada a produção, com oito editoras a criarem manuais que podem ser escolhidos pelas escolas. A intenção é que a partir de 2017 volte a haver um só manual, sem as tais "distorções".
Um ministro chamou a atenção para que um dos livros em uso pelos alunos classifica a Coreia do Norte de ditatorial apenas duas vezes, enquanto usa o mesmo termo 28 vezes para falar da Coreia do Sul. Divididas desde 1945, as duas Coreias começaram por ser ditaduras, mas enquanto a Norte se perpetuou a dinastia comunista dos Kim, a Sul existe hoje um país que o Democracy Index da Economist coloca em 21.º, entre o Japão e a Espanha.
Segundo a imprensa sul-coreana, uma dezena de universidades disseram já que vão boicotar o projeto. E a Associação para a História Moderna e Contemporânea da Coreia declarou nada querer ter que ver com este projeto da administração liderada por Park Geun-hye.
Apesar de contar com um primeiro-ministro, o sistema sul-coreano é presidencialista e a senhora Park, eleita em 2013, é que manda. Segundo o Financial Times, o manual único também gera polémica porque a presidente é acusada de querer dourar a imagem do pai, que governou entre 1961 e 1979, até ser assassinado. Hoje, o seu legado é misto, com a memória de ser um ditador viva mas também reconhecido o contributo para tornar o país da Samsung e da Hyunday um caso de sucesso.
Do Japão ao Texas
Na Ásia Oriental, estas polémicas com os manuais são comuns. Têm muito que ver com a forma como as sociedades olham para o seu passado recente. No Japão, o debate costuma ser sobre o modo como é descrita a política imperialista que levou à Segunda Guerra Mundial. Os historiadores conservadores defendem que o país não se limitou a ser um invasor e até enfrentou o colonialismo europeu.
Curiosamente, esta polémica na Coreia do Sul coincidiu com a denúncia por um estudante do Texas de que um livro de Geografia chamava "trabalhadores" aos escravos trazidos para os Estados Unidos. A editora já mandou rever os textos, mas o The New York Times publicou uma crítica arrasadora intitulada "Como o Texas ensina a História".
O historiador francês Marc Ferro tem um livro chamado As Falsificações da História, em que denuncia múltiplos casos de manipulação do passado. Nas ditaduras é regra. Mas mesmo nas democracias - como a Coreia do Sul, o Japão ou os Estados Unidos - o ensino da História pode transformar-se em terreno de batalha ideológica.
http://www.dn.pt/mundo/interior/ensinar ... 17421.html