Turquia x Síria

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augustoviana75
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Turquia x Síria

#1 Mensagem por augustoviana75 » Sáb Out 06, 2012 5:02 pm

O Parlamento da Turquia aprovou nesta quinta-feira a realização de operações militares em território sírio. A decisão é válida por um ano e autoriza tropas turcas a cruzarem a fronteira, além de abrir a possibilidade de ataques aéreos.


A posição dos parlamentares turcos chega após uma reunião de emergência do governo, que requisitou o direito de atacar a Síria em retaliação à ofensiva das tropas sírias em uma cidade de fronteira que resultou na morte de duas mulheres e três crianças.

As tropas turcas já vêm bombardeando alvos em território sírio há dois dias.

O governo turco, no entanto, disse que não pretende declarar guerra ao país vizinho.

A autorização foi aprovada por 320 votos favor e 129 contra.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve convocar uma reunião de emergência para debater o assunto, após um pedido do governo turco para que o órgão tome "ações necessárias" para interromper "agressão" síria.

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), da qual a Turquia é membro, convocou reunião de emergência e exigiu a “interrupção imediata dos atos de agressão contra um aliado”.

Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e União Europeia condenaram as ações da Síria e a Rússia, aliada ao regime do presidente Bashar al-Assad, pediu a Damasco que apresente desculpas oficiais à Turquia e manifeste que os ataques além da fronteira foram um "trágico acidente que não deve se repetir".


Fonte:http://www.defesanet.com.br/geopolitica ... rio-sirio-




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Clermont
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Re: Turquia x Síria

#2 Mensagem por Clermont » Seg Out 08, 2012 12:19 pm

A TURQUIA PERDE TOTALMENTE A FRIEZA SOBRE A SÍRIA.

Eric Margolis - 8.10.12.

Brinque com fogo e você acabará queimado. Uma bomba de morteiro disparada da Síria, seja por tropas governamentais ou rebeldes, como provocação, matou cinco aldeãos turcos na fronteira. A artilharia pesada turca respondeu, matando soldados sírios. O parlamento da Turquia autorizou ação militar contra a Síria. Quase se pode ouvir o trovão dos tambores de guerra otomanos que anunciavam a chegada dos exércitos do sultão e seus ferozes guerreiros janízaros.

O líder da Turquia, primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, tem saído-se tão brilhantemente, na última década, que, provavelmente, seria inevitável que ele, finalmente, cometesse um erro realmente grande. Ele cometeu. E ele chama-se Síria.

Erdogan e seu talentoso ministro de assuntos estrangeiros, Ahmet Davutoglu, arquitetaram e implementaram uma política externa muito bem sucedida, depois de chegarem ao poder, conhecida como "Sem Problemas", que forjou relações fecundas com todos os vizinhos da Turquia - exceto Israel.

Por difícil que seja imaginar hoje, apenas um ano atrás, a Turquia estava sendo saudada como a nova líder do mundo árabe (turcos e árabes são de diferentes etnicidade e cultura). Até a era Erdogan, muitos árabes ainda desconfiavam da Turquia, legado do defunto Império Otomano. Após resistir à Israel e domar seus generais, Erdogan tornou-se o mais popular líder no Oriente Médio e um modelo para a boa governança democrática.

Antes que Erdogan e seu Partido AK empurrassem os problemáticos militares da Turquia de volta para seus quartéis, a política externa turca refletia as animosidades regionais da América: Ancara era uma cimitarra desembainhada contra a Síria, Irã, os palestinos e o Hezbollah. Por contraste, os generais da Turquia tratavam o estabelecimento militar de Israel com luva de pelica. O Pentágono americano parecia ter mais influência sobre as poderosas forças armadas turcas do que seus fracos primeiro-ministros.

O namoro da Turquia com sua vizinhança acabou logo após a Síria irromper em guerra civil. Por razões que ainda permanecem obscuras, Erdogan descartou sua política "ama teu vizinho" e começou a apoiar, ativamente, os insurgentes da Síria.

Até o levante sírio, a Turquia tinha gozado de boas relações políticas e comerciais com Damasco. A Síria tinha, mais ou menos, abandonado suas pretensões à província de Hatay, governada pelos turcos e mandado sua minoria curda não criar problemas para os turcos. Hatay e seu estratégico porto de Iskenderun, eram parte da Síria histórica (como eram o Líbano e a Palestina), mas passaram, com auxílio francês, para o domínio turco, no século passado. Se as relações entre Ancara e Damasco continuarem a piorar, esta espinhosa questão pode, de novo, pegar fogo.

A Turquia tropeçou para dentro da guerra civil da Síria logo após ela ter início, em março de 2011. Ancara permitiu a grupos insurgentes sírios, bancados e armados pela Arábia Saudita, França, Grã-Bretanha e Qatar, que operassem a partir de seu território. A CIA estabeleceu uma importante base logística e de comunicações para os insurgentes, na basea aérea americana de Incirlik, na Turquia. Forças especiais americanas, britânicas e francesas, sediadas na Turquia, discretamente, juntaram-se à guerra para derrubar o regime Assad em Damasco - tudo parte da não-declarada, mas muito real e intensificada, guerra multidimensional contra o Irã, o mais próximo aliado da Síria.

Cada dia que passa na brutal guerra civil síria, aumenta o risco de que a Turquia envie suas forças armadas para dentro da Síria, seja para criar os chamados "corredores civis" ou zonas de exclusão aérea, para neutralizar a força aérea do regime Assad. Uma intervenção total da OTAN, liderada pelos EUA pode ocorrer, depois da eleição presidencial americana.

Enquanto isso, o sitiado regime Assad perdeu o controle da região da fronteira norte, habitada por 2 milhões de curdos étnicos, que se tornaram autônomos. Ancara, que se depara com um virtual estado curdo independente no norte do Iraque e seu próprio levante, de longa efervescência, por sua minoria curda, está profundamente alarmada pelo espectro do nacionalismo curdo.

A guerra na Síria acentuou o sério problema curdo da Turquia. Este escritor cobriu o conflito curdo-turco na Anatólia oriental, uma década atrás, no qual mais de 40 mil morreram, apenas por volta de 1992. A Turquia achou que havia colocado um fim à insurgência do PKK curdo, ao capturar seu líder, Abdullah Ocalan, em 1999. A base principal do PKK era na Síria.

Ocalan permanece na prisão. Mas o movimento de independência curdo despertou para a vida, de novo. A Síria, muito provavelmente, retomará o auxílio aos combatentes curdos do PKK para obter vingança pela Turquia estar acolhendo guerrilheiros anti-regime. Este é um problema enorme para a Turquia, já que os curdos constituem entre 15-20 porcento de sua população.

Ao alimentar a guerra civil da Síria, Erdogan chutou o ninho de vespas curdo.

O conflito na Síria está colocando sua minoria de alauítas (uma ramificação do Islã xiita), que dominam o regime Assad, contra a, longamente reprimida, maioria sunita. Enquanto os alauítas da Síria combatem por aquilo que alguns acreditam ser suas vidas, sua luta está reverberando no Líbano, onde os xiitas constituem a maior comunidade religiosa. Os alevitas, há muito tempo marginalizados na Turquia, que são outra ramificação distante do Islã xiita e próximos aos alauítas da Síria, e que são considerados pela maioria sunita como heréticos, também estão sentindo as reverberações do conflito sírio. Os alevitas podem constituir tanto quanto 15 porcento da população de 74 milhões da Turquia.

Recentes revelações de um massacre de alevitas em 1938, no fim da era do homem-forte turco, Ataturk, tem inflamado as emoções alevitas na Turquia e aprofundado seu senso de perseguição e injustiça histórica.

Portanto, o conflito sírio está reabrindo algumas das profundas fissuras no corpo político da Turquia, justamente num momento quando sua estimulada economia está gozando de uma taxa de crescimento de 7 porcento - não muito longe daquela da China - e a Turquia tornou-se o país mais influente do Oriente Médio.

Agora, a Síria contamina todos os envolvidos.

A Síria pode estar rumando para a mesma espécie de feroz e permanente guerra civil que amaldiçoou o Líbano, de 1975-1990. Os vários grupos étnico/religiosos da Síria tem muito a perder, muitas contas para acertar e nenhum lugar para se retirar. Para dentro deste sorvedouro está correndo o primeiro-ministro Erdogan. A Síria pode, muito bem, provar-se uma maldição para a Turquia e um dreno para seus recursos.

Interessantemente, pesquisas mostram que uma maioria dos turcos opõe-se às políticas intervencionistas sírias de Erdogan, como perigosas e desnecessárias. Oponentes na esquerda acusam Erdogan de restaurar o papel da Turquia na Guerra Fria, como o policial da América no Oriente Médio. Outros vêem um plano secreto de Ancara para restaurar o governo da era otomana sobre a Síria. A França também está entornando a panela na Síria, ansiosa para reafirmar sua antiga influência no Levante. A América quer enfiar um dedo no olho do Irã. Os britânicos estão lá para recolherem as sobras.

"Nada de bom vem da Síria", diz um antigo ditado militar romano. O primeiro-ministro Erdogan faria bem em ouvir esta máxima. A Turquia devia estar buscando forjar uma resolução pacífica da guerra civil e conter a crescente intromissão estrangeira neste medonho conflito. Agora, não é tempo para um recrudescimento da construção de impérios otomana.




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Re: Turquia x Síria

#3 Mensagem por rodrigo » Seg Out 08, 2012 12:24 pm

A Síria não representa mais nada, é um fantoche nas mãos iranianas e russas. Qualquer movimento tem que levar em conta a presença desses atores. E são quem garantem Assad, senão essa questão já teria sido resolvida faz tempo, pelo envolvimento de interesses israelenses mais sólidos que na Líbia.




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Re: Turquia x Síria

#4 Mensagem por EDSON » Seg Out 08, 2012 6:48 pm

Se Assad conseguiu realmente transformar em Guerra religiosa; infelizmente a Turquia não pode fazer mais nada, isto ainda vai longe eu avisei que o sangue iria rolar até os calcanhares.




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Re: Turquia x Síria

#5 Mensagem por FoxTroop » Seg Out 08, 2012 7:45 pm

Um excelente post do nosso caro Clermont. Toda uma sequência de perguntas deveriam ser feitas com base nesta acertada e incisiva análise mas é melhor as tiradas Lapalissianas de e sobre chineses, russos e outros comedores de criancinhas......... Realmente onde já se esteve.....




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Re: Turquia x Síria

#6 Mensagem por prp » Ter Out 09, 2012 1:50 am





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Re: Turquia x Síria

#7 Mensagem por marcelo l. » Qua Out 10, 2012 12:57 pm

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"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
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Re: Turquia x Síria

#8 Mensagem por cassiosemasas » Qua Out 10, 2012 7:15 pm

[destacar]Após suspeita, Turquia ordena pouso de avião sírio de passageiros
Autoridades turcas acreditam que aeronave levava equipamento militar.
Rebelião anti-Assad na Síria abalou relações entre os antigos aliados[/destacar].


A Turquia forçou um avião de passageiros da Síria, voando de Moscou para Damasco, a pousar em Ancara nesta quarta-feira (10) por suspeita de que ele estava transportando equipamento militar destinado às forças do contestado presidente sírio, Bashar al-Assad, disse o chanceler turco.
Aviões de combate turcos escoltaram o avião sírio, que levava cerca de 30 passageiros, até o aeroporto de Ancara, depois que autoridades turcas receberam informações de que ele estava transportando "carga não civil" que não havia sido registrada.

"Estamos determinados a controlar as transferências de armas para um regime que realiza massacres brutais contra civis. É inaceitável que essa transferência seja feita usando o nosso espaço aéreo", disse o chanceler turco, Ahmet Davutoglu.
"Hoje recebemos a informação de que este avião transportava carga de uma natureza que não poderia estar em conformidade com as regras da aviação civil", disse ele na televisão turca.
Imagem
Avião sírio de passageiros parado no aeroporto de Ancara, na Turquia, nesta quarta-feira (10) (Foto: AFP)

As relações entre a Turquia e a Síria, uma vez aliados próximos, tornaram-se cada vez mais tensas durante a rebelião síria contra o presidente Assad.
Davutoglu disse que a Turquia estava dentro de seus direitos para investigar aviões suspeitos de estar transportando materiais militares e que o avião teria permissão para continuar seu voo se nada fosse encontrado. Ele se recusou a comentar sobre quais materiais proibidos poderiam ser.
O chanceler disse que a Turquia vai continuar a investigar aviões civis sírios que usam o seu espaço aéreo.
O chanceler também afirmou que o espaço aéreo sírio não era mais seguro e que os aviões de passageiros turcos não devem voar por essa rota. Uma testemunha da Reuters na fronteira viu pelo menos um avião de passageiros se virar ao se aproximar da Síria e voltar para a Turquia nesta quarta-feira.
As Forças Armadas da Turquia têm reforçado a sua presença ao longo dos 900 quilômetros de fronteira e têm revidado desde a semana passada a tiros e bombardeios vindos do norte da Síria, onde as forças de Assad combatem os rebeldes que controlam faixas do território.
O governo sírio tem feito uso pesado do poder aéreo e de artilharia para deter avanços rebeldes no conflito, que já dura 19 meses e matou mais de 32 mil pessoas, em sua maioria civis.




...
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Re: Turquia x Síria

#9 Mensagem por romeo » Qua Out 10, 2012 8:06 pm

Pega... Pega... Morde... Morde...

Puxa.. Como é bom ter um cãozinho adestrado.




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Re: Turquia x Síria

#10 Mensagem por pt » Qua Out 10, 2012 8:36 pm

Não entendo muito bem.

Afinal o Erdogan era o campeão do anti-americanismo, até fez frente aos americanos com o Brasil por causa do enriquecimento de urânio iraniano.
A Turquia fez frente a Israel e mantém relações tensas com o estado norte-americano de Israel.
O governo turco não mudou. O presidente é o mesmo, o primeiro ministro idem...

Então se a Turquia alterou as suas posições, não será normal considerar que foi condicionada pela situação internacional em seu redor, nomeadamente porque foi atacada em seu próprio território ?



Há que pegar pelas pontas as peças desse Margolis pois não podemos deixar de considerar que se trata de um jornalista ligado à extrema-direita americana que quer dar a impressão de que o Obama quer ir para a guerra. Vejam a frase:
Margolis escreveu:Uma intervenção total da OTAN, liderada pelos EUA pode ocorrer, depois da eleição presidencial americana.


Depois, a Turquia nunca foi vista como potêncial líder do mundo árabe (exatamente porque não é um país árabe). A Turquia foi e é vista isso sim como um modelo para os países árabes.
E alguém acredita que os turcos se meteriam nessa situação achando que não teriam problemas no Curdistão ?

Somos todos super inteligentes, entendemos todos que a Turquia tem no Curdistão o seu calcanhar de Aquiles, mas IMAGINEM, os turcos que são burros, não tinham entendido isso e não tinham pensado nisso :roll: :roll:

Os turcos interpretaram a «primavera árabe» à sua maneira. Eles não podem influenciar a evolução das monarquias absolutas árabes, mas podem influenciar o destino das republicas árabes ex-socialistas, principalmente a que mais diretamente está relacionada com a Turquia.

É engraçado ouvir falar na Turquia histórica que recebeu uma provincia síria com o apoio da França, quando sabemos que toda a Síria fazia parte do império otomano... :roll: :roll: :roll:

A Turquia não pode agora (que a porcaria chegou ao ventilador), olhar para o lado.
Se os turcos criaram uma imagem de potência no mundo islâmico, com capacidade de liderança, como fica a imagem da Turquia se não intervém para regularizar a situação nem no seu quintal do lado ?
Um país que quer ser respeitado internacionalmente pode ficar quieto quando há uma guerra civil num país vizinho e as bombas começam a cair no seu território ?

Nestas coisas há que optar, e os turcos optaram. Eles acreditam que Bashar Al-Assad está tão acabado quanto Mubarak, Ben-Ali ou Kadafi.
Então a melhor coisa é ficar logo do lado que acabará por ganhar, ainda mais quando é preciso controlar esse lado, para evitar que os extremistas assumam o controlo total da resistência.

A Síria tem um problema, como a Líbia tinha um problema.
Esse problema chama-se Bashar Al-Assad. Ele tem que ir embora e com ele todo o seu governo.

Desde o inicio que eu disse que este problema só pode ser resolvido pela Turquia, que é o único país com peso e força para fazer alguma coisa na região. Mas uma democracia não pode ir para a guerra só porque sim.
Muita gente critica já este governo turco acusando-o de politica pró-americana, o que é estranhíssimo porque o partido do Erdogan é o menos pró-ocidental das últimas décadas.

Olhar para a Turquia com olhos americanos dá nisto. Contradição e falta de entendimento.

O realinhamento das forças está a fazer-se e a Turquia tem que controlar a Síria ou colocar em Damasco um governo dócil para com Ankara. Depois também há que acompanhar com cuidado a situação na Jordania.

Só não entende o que se passa, quem não leu o discurso do Erdogan, no dia em que ganhou as eleições.




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Re: Turquia x Síria

#11 Mensagem por romeo » Qui Out 11, 2012 4:00 am

Um pais ajudar a fomentar uma guerra civil no quintal do vizinho que lhe é fronteiriço só faria sentido se o vizinho fosse seu inimigo declarado. Não me consta ser este o caso da Turquia com a Síria.

O Erdogan está agindo como o Menem, e como o ex-presidente argentino vai se desgastar a troco de uns tapinhas nas costas, e só.

No frigir dos ovos - se cai o regime sírio - vai ficar tendo que lidar com uma vizinhança de milicianos sem controle, como ora acontece na desestabilizada Líbia, e recheada de radicais.

Creio que ele esta sendo instigado pelos que visam o enfraquecimento do Irã ( e não me refiro a Israel ), sendo certo que acresce a própria Turquia ter objetivos próprios nesta contenção dos persas, já que presume-se almejam também os turcos o predomínio regional.

De qualquer modo é um risco...

Gosto neste aspecto de ver a atitude dos EUA... Guerra só bem longe deles... Nada de confusão no quintal, que pode alguem entrar com o pé sujo aqui na sala.




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Re: Turquia x Síria

#12 Mensagem por Lirolfuti » Qui Out 11, 2012 2:00 pm

Tambores de Guerra - Força aérea síria tem ordem para intercetar aviões turcos

A Força Aérea síria recebeu ordem para intercetar e mandar pousar quaisquer aviões turcos que entrem no espaço aéreo da Síria, informa hoje o diário libanês Ad Diyar.

O comando do exército sírio deu esta ordem “em resposta à aterrissagem do avião sírio na Turquia”.

Por sua vez, a Turquia proibiu seus aviões de atravessar a fronteira síria, adianta o jornal libanês.

Segundo a BBC: Turquia ordena pouso de avião de passageiros da Síria

Caças turcos obrigaram nesta quarta-feira um avião de passageiros da Síria a pousar no aeroporto de Ancara para averiguação.

O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, afirmou que o avião foi forçado a aterrissar depois que o serviço de inteligência do país constatou que a aeronave estava carregando o que ele chamou de "carga não-civil".

Davutoglu acrescentou que a Turquia determinou a proibição de qualquer transferência de armas para o governo sírio através de seu espaço aéreo.

O incidente ocorreu em meio à escalada de tensão na fronteira entre os dois países
http://www.defesanet.com.br/geopolitica ... oes-turcos




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Re: Turquia x Síria

#13 Mensagem por Lirolfuti » Qui Out 11, 2012 3:39 pm

Avião sírio forçado a pousar tinha munição russa, diz Turquia
Governo sírio descreveu ação turca como ato de 'pirataria aérea'.
Incidente aumentou a tensão entre os ex-aliados.



O primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, disse nesta quinta-feira (11) que um avião de passageiros da Síria que foi forçado por caças de combate a pousar em Ancara na véspera levava munições de fabricação russa destinadas ao Ministério da Defesa da Síria, elevando as tensões com o país vizinho que está em guerra.

O governo sírio afirmou que o avião transportava carga legítima e descreveu as ações da Turquia como um ato de "pirataria aérea", enquanto a Rússia acusou Ancara de pôr em risco a vida de passageiros russos quando interceptou o jato na noite de quarta-feira.

O pouso do avião foi mais um sinal da crescente assertividade da Turquia sobre a crise na Síria, depois que o chefe do Estado-Maior da Turquia advertiu, na quarta-feira, que os militares usariam mais força se bombas sírias continuassem a cair na Turquia.

"Estas eram munições do equivalente russo à nossa Corporação da Indústria Mecânica e Química sendo enviadas para o Ministério da Defesa da Síria", disse Erdogan em uma entrevista coletiva na capital Ancara, referindo-se a uma fabricante estatal turca que fornece armas para o Exército do país.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia se recusou a comentar imediatamente as declarações, mas a agência de exportação de armas já tinha afirmado que não havia carga sua no voo, enquanto a agência de notícias Interfax citou Yelena Kara-Sal, uma alta funcionária consular russa, dizendo que a carga apreendida pelas autoridades turcas não era de origem russa.

O chefe da companhia aérea síria dona do avião, Ghaida Abdulatif, disse a repórteres em Damasco que o avião levava equipamento elétrico civil.

A Turquia tornou-se um dos críticos mais severos do presidente sírio, Bashar al-Assad, durante uma rebelião de 18 meses que já matou cerca de 32 mil pessoas, proporcionando refúgio para oficiais rebeldes e pressionando por uma zona de segurança protegida por forças estrangeiras dentro da Síria.

A Rússia manteve o apoiado a Assad e uma fonte da indústria de armas disse que Moscou não tinha parado suas exportações de armas a Damasco.

Jatos militares turcos escoltaram o Airbus A-320, que transportava cerca de 30 passageiros para o aeroporto de Ancara, depois que a Turquia recebeu uma pista da inteligência afirmando que o voo transportava carga militar. O Ministério das Relações Exteriores turco informou que o avião tinha recebido a oportunidade de voltar para a Rússia enquanto ainda voava sobre o mar Negro, mas que o piloto optou por não fazê-lo.

"Este ato turco hostil e deplorável é uma indicação adicional da política hostil do governo de Erdogan", declarou o Ministério das Relações Exteriores da Síria, em um comunicado, acusando Ancara de "abrigar terroristas" e permitir que eles se infiltrem na Síria.

O presidente russo, Vladimir Putin, deveria visitar a Turquia no início da próxima semana, mas autoridades turcas disseram horas antes de o avião pousar que a Rússia havia solicitado adiamento da visita, citando agenda de trabalho pesada.

Questionado se o adiamento estava ligado ao pouso forçado, o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, disse que Putin e Erdogan haviam discutido uma nova data por telefone na segunda-feira, dois dias antes do incidente, e que o dia 3 de dezembro é o mais provável. Ele não fez outros comentários.

A Turquia avisou que iria parar mais aeronaves civis sírias que usassem o seu espaço aéreo se necessário, e instruiu os aviões de passageiros turcos a evitar o espaço aéreo sírio, dizendo que não era mais seguro.

"Estamos determinados a controlar as transferências de armas para um regime que realiza tais massacres brutais contra civis. É inaceitável que essa transferência seja feita através de nosso espaço aéreo", disse o chanceler Ahmet Davutoglu.
http://g1.globo.com/revolta-arabe/notic ... rquia.html




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Re: Turquia x Síria

#14 Mensagem por Clermont » Sex Out 12, 2012 9:51 am

FIQUEMOS DE FORA DO SORVEDOURO SÍRIO.

Patrick J. Buchanan - 11.10.12.

"Na Síria, trabalharei... para identificar e organizar aqueles membros da oposição que compartilhem de nossos valores e assegurar que obtenham os armamentos que precisem para derrotar os tanques, helicópteros e os jatos de Assad."

Este comprometimento por Mitt Romney, em seu discurso no Instituto Militar da Virgínia, eletrizou os neocons, tanto como intranqüilizou os realistas em seu campo.

E as razões para o alarma destes últimos são aparentes.

Ano passado, aviões americanos rumaram para defender Benghazi contra os "tanques, helicópteros e jatos" do coronel Khadaffi. Agora, estamos investigando os assassinatos de nosso embaixador e três americanos na cidade que salvamos.

Derrubar helicópteros e jatos exigirá os F-16 americanos sobre a Síria, ou colocar mísseis antiaéreos nas mãos dos rebeldes. Realmente, queremos repassar "Stingers" numa terra de ninguém, onde agentes da al-Qaida poderão comprar uns poucos para abater aviões de passageiros americanos?

O que Romney propõe é um ato de guerra. Antes que entremos em nossa quarta guerra em 12 anos, vamos considerar os antagonistas.

Esta é, primeiramente, uma guerra religiosa com os regimes xiitas - Hezbollah, Irã e os iraquianos que botamos no poder - alinhados por trás do presidente sírio Bashar Assad.

Alinhados do lado contrário, estão a Arábia Saudita e Qatar, que tem enviado armamentos para os rebeldes, e a Turquia, que permitiu essa transferência de armamentos.

O Egito não está envolvido, mas o presidente Mohammed Morsi da Confraria Muçulmana, tem exigido que Assad caia.

Entre o rebeldes enfrentando Assad, no entanto, há jihadistas islâmicos de todo o Oriente Médio e da al-Qaida. E, se Assad cair, seu sucesssor, provavelmente, será um favorito sunita da Confraria Muçulmana.

A Confraria "compartilha nossos valores"?

Se Damasco cair diante da Confraria, os cristãos que Assad protegia, enfrentarão o destino dos coptas no Egito e dos cristãos no Iraque: terror, perseguição, expulsão. Os alauítas, a minoria xiita de onde vem Assad, irão para o paredão.

Também há um componente étnico nesta guerra. Se o regime e o estado desabarem, os curdos da Síria poderão emular seus primos no Iraque e Turquia e unirem-se para lutar por um Curdistão independente no coração do Oriente Médio.

Então, há interesses estratégicos. Se Assad cair, o crescente xiita - Irã, Iraque, Síria e o Hezbollah no Líbano - estará rompido. A marinha de Vladimir Putin, cuja última base no Mediterrâneo está em Tartus, na costa síria, sofrerá uma derrota estratégica.

Quinta-feira, os turcos forçaram o pouso de um avião de passageiros sírio, voando de Moscou para Damasco e removeram o que os turcos descreveram como equipamento militar. Uma Moscou enfurecida protestou.

E Israel? Embora nada agradasse mais os israelenses do que uma derrota estratégica do Irã, Assad e seu pai mantiveram a paz em Golan por quarenta anos. E, enquanto o Sinai se converte numa terra de ninguém com o desaparecimento de Hosni Mubarak e a Confraria Muçulmana no poder, o mesmo não poderá acontecer em Golan, quando Assad se for?

E como os turcos se beneficiarão de seu envolvimento? Ao alinharem-se contra Assad, eles transformaram um amigo num inimigo mortal. Em retaliação, Assad afrouxou as rédeas sobre os curdos da Síria, cujos parentes são 20 porcento da população da Turquia. Os alauítas na Turquia, árabes étnicos, numeram outros 15 milhões. A linha dura assumida por Recep Tayyip Erdogan está ficando cada mais impopular com seu povo.

Quanto tempo irão os americanos apoiar uma administração que nos envolva neste sorvedouro?

Na semana passada, granadas vindas da Síria caíram em solo turco. Estaria o exército sírio fazendo isto, de forma deliberada? Isso não faz sentido nenhum.

Estas bombas de morteiro caindo na Turquia resultam de duelos de artilharia entre o exército sírio e os rebeldes? Ou estes últimos estão fazendo isto, deliberadamente, para provocar a entrada da Turquia na guerra?

A posição turca para com a Síria está ficando cada vez mais beligerante. Estarão os turcos procurando um choque com o exército sírio, de modo que Ankara possa invocar o Artigo V do tratado da OTAN e forçar os Estados Unidos a juntarem-se à Turquia na derrubada de Assad, até mesmo numa marcha sobre Damasco?

Num mundo árabe que não sente nostalgia pelo Império Otomano, cujo coração estava na Turquia, isto não pegaria bem.

A guerra civil síria pode acabar subitamente, com a queda de Assad. Mas também pode se alargar com a Turquia e o Hezbollah envolvendo-se diretamente, e a Rússia, Irã e Iraque enviando auxílio militar para manter seu aliado. A região inteira pode irromper em chamas.

Ainda assim, quais interesses vitais americanos estão em quem governa Damasco para justicar ainda outra guerra dos Estados Unidos no Oriente Médio?

Embora os Assad sejam déspotas, George H. W. Bush fez do pai um aliado na DESERT STORM e Ehud Barak ofereceu devolver as Colinas de Golan para Hafez Assad em troca de um acordo de paz.

Se a América tem algum interesse vital nesta guerra multilateral, este interesse é servido ficando de fora dela, como temos feito até agora.

E como, exatamente, nós sofremos por não ter entrado nela?




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Re: Turquia x Síria

#15 Mensagem por EDSON » Dom Out 14, 2012 11:21 am

A crise na Síria e a política da Turquia

Tags: conflito, Curdistão, Oriente Médio, Irã, Síria, Comentários, Turquia
Alexei Pilko
13.10.2012, 23:01


© Colagem: Voz da Rússia
O início de outubro foi marcado por nova espiral de contraposição na Síria.
Após recuperar do ataque inesperado dos combatentes da oposição em duas grandes cidades do país Damasco e Aleppo em julho, as forças governamentais começaram a vencer seus adversários em todo o país. Em algumas regiões, por exemplo, na capital, isto ocorre com mais êxito. Mas em Aleppo e nas províncias do norte, o exército sírio tem sérias dificuldades.

Os combates no norte têm sido especialmente violentos. Além disso, um poderoso fator que contêm os esforços das tropas fiéis a Assad é a Turquia. No território turco encontraram asilo muitos refugiados, entre os quais há civis e adversários armados do líder sírio. Através da fronteira turco-síria passa uma torrente ininterrupta de armas para as forças oposicionistas.

Ancara, aproveitando-se do incidente trágico na região de Akçacale, passou para a táctica de desfechar ataques de artilharia contra as posições das tropas sírias perto da fronteira. A morte de cidadãos turcos formalmente dá à Turquia o direito a tal reação, apesar de Damasco ter admitido oficialmente a culpa e pedido desculpas. Entretanto, deve-se reconhecer que, dando apoio à oposição armada, a Turquia é responsável pela escalada da violência na Síria e suas consequências (inclusive os incidentes com projéteis).

A análise da situação mostra que Ancara não quer combater com a Síria. Se a direção política turca tivesse a intenção de se envolver no conflito armado, ela o teria feito em 22 de junho, quando a defesa anti-aérea síria abateu um avião-espião da Força Aérea da Turquia. Por enquanto, nem mesmo se trata das chamadas operações trans-fronteiriçasa, permissão para as quais foi dada pelo parlamento turco.

Até mesmo o incidente com o sequestro do avião sírio, que realizava um voo de Moscou a Damasco não pode ser classificado como bloqueio aéreo da Síria. Sua introdução seria de fato declaração de guerra. O mais provável é que a Turquia simplesmente queira aumentar a pressão sobre Damasco, inclusive psicológica.

Provavelmente, Ancara por enquanto é contida por algumas circunstâncias.Em primeiro lugar não está clara a posição dos EUA. É pouco provável que Washington se decida a envolver-se no conflito armado no Oriente Médio antes das eleições presidenciais de novembro. Ora, sem o apoio americano a Turquia não começará operações de combate de envergadura contra a Síria.

Em segundo lugar, é muito difícil para a Turquia agora definir sua linha estratégica se não for envolvida no conflito militar direto com Damasco. O preço da vitória militar não será pequeno e o resultado é duvidoso. Pois, a julgar pelas ações da oposição armada, em suas fileiras há muitos elementos radicais, que podem transformar por muito tempo a região em barril de pólvora, sendo que os dividendos para Ancara serão muito duvidosos.

Finalmente, a Turquia é obrigada a considerar a posição do Irã. Teerã já declarou que não ficará de fora em caso de ataque militar contra a Síria. A direção iraniana, não sem fundamentos, supõe que o próximo da fila será justamente o Irã. Por isso envida todos os esforços para apoiar Bashar al-Assad.

A Síria e o Irã já acionaram no mínimo uma alavanca de pressão sobre a Turquia – a curda. Damasco praticamente concedeu ampla autonomia às suas províncias curdas. Desse modo, no mapa do Oriente Médio, além do Curdistão iraquiano autônomo, pode surgir perfeitamente o Curdistão sírio.

Na própria Turquia agravou-se bruscamente a contraposição entre o exército turco e os grupos armados curdos. Por enquanto, não há quaisquer fatos que indiquem diretamente que a Síria ou o Irã estão por trás disto. O mais provável é que os líderes dos curdos turcos estejam a reagir à situação geral na região, supondo que em breve pode surgir o momento propício para atingir seus objetivos.

Nestas condições, é muito duvidoso que a Turquia queira uma guerra com a Síria, pelo menos neste momento. Mas a situação pode mudar já em um futuro próximo. O jogo em torno de Damasco, no qual está envolvida uma série de atores com grandes ambições geopolíticas, está longe de terminar.




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