Crise Econômica Mundial
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Re: Crise Econômica Mundial
Ha-Joon Chang. economista sul-coreano avalia os desafios do atual sistema capitalista
http://g1.globo.com/globo-news/milenio/ ... 1481237582
Nenhuma novidade para mim, mas para vocês e público em geral creio que sim.
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Re: Crise Econômica Mundial
Super Mario e a crise na Europa.
O euro caminha para uma “balcanização”?
http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=20923
O projeto original do euro se baseava em que a unificação monetária iria emparelhar economias desiguais, como a Alemanha e a Grécia, ao baratear o preço do crédito para todos. Entre 2002 e 2009 os países financiaram investimentos e gastos com taxas de juros similares. A festa terminou com a crise da dívida grega, em 2010; hoje a zona do euro é um terreno balcanizado, no qual o custo do dinheiro é diferente para cada país. Neste sentido, o euro já não existe. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.
Marcelo Justo, de Londres
Londres - Em um ano de turbulências financeiras, os mercados parecem ter se estabilizado com o anúncio do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, há duas semanas. O plano de Super Mario – como a mídia europeia o batizou – tem uma varinha mágica que encantou os investidores: o anúncio de uma compra “ilimitada” de títulos das dívidas soberanas em caso de necessidade. Com esta varinha Super Mario conseguiu o que ninguém tinha alcançado: uma queda imediata dos juros das dívidas da Espanha e da Itália. Mas a indecisão do governo de Mariano Rajoy sobre a demanda de um resgate está começando a mostrar as primeiras fissuras no plano de Draghi.
O plano exige que o estado solicite ajuda e se limita à “estrita condicionalidade” que se lhe seja imposta em troca do resgate. A suposta “compra ilimitada” e a renúncia ao direito de titularidade em seus empréstimos (pelo qual, em caso de default, o BCE não é um credor privilegiado) foram muito bem recebidos pelos mercados, mas segundo o diretor da consultoria londrina Strategy Economics, Matthew Lynn, o plano é só um respiro. “O plano não resolve o desequilíbrio que existe entre o centro e a periferia da zona do euro no que respeita à competitividade. Sem resolver isso, não há crescimento e, portanto, não há futuro. O BCE comprou tempo. Quanto? Não se sabe”, disse Lynn a Carta Maior.
Na análise da Strategy Economics, os desequilíbrios internos entre os países do norte e do sul europeus já afetaram o euro de maneira irreversível. “A moeda deixa de cumprir sua função quando se converte num risco. É o que está se passando com o euro. Um exportador a Grécia não sabe se o contrato findará sendo pago em euros ou em dracmas: este risco já está presente em toda a zona do euro”, explica Lynn.
A balcanização do euro
O projeto original do euro se baseava em que a unificação monetária iria emparelhar economias desiguais, como a Alemanha e a Grécia, ao baratear o preço do crédito para todos. Entre 2002 e 2009 os países financiaram investimentos e gastos com taxas de juros similares. A festa terminou com a crise da dívida grega, em 2010; hoje a zona do euro é um terreno balcanizado, no qual o custo do dinheiro é diferente para cada país. Neste sentido, o euro já não existe.
O plano de Mario Draghi é uma tentativa de ganhar tempo para avançar em direção a uma política fiscal e bancária unificada, que permita recuperar o paraíso perdido. Esta dupla unificação resolveria uma anormalidade que, segundo muitos economistas, é o pecado original do euro: administrar a mesma moeda com políticas orçamentárias diferentes para cada país.
Essa não é uma hipótese partilhada por todos. No círculo restrito dos 17 países da zona do euro e no mais amplo, dos 27 países membros da EU têm ocorrido fortes questionamentos à unificação bancária que, para muitos, é uma “mutualização da dívida de fato” (o BCE estaria atuando como supervisor de uns seis mil bancos da zona do euro e atuando como um emprestador de última instância).
Para além dos méritos dessa suposta resolução dos problemas do euro, as economias têm de voltar a crescer e, para fazê-lo, precisam recuperar a sua competitividade. A competitividade de uma nação ou de uma empresa depende de sua produtividade, de seu nível tecnológico, da qualidade dessas coisas e do preço de seus produtos. A desvalorização da moeda é uma das ferramentas para se ganhar competitividade no preço: o problema é que, dado o fato de se ter uma moeda única, as nações periféricas da zona do euro não dispõem dessa arma. A única maneira de baratear um produto em relação a Alemanha é reduzindo o custo salarial nele embutido.
Esse é o caminho que, de mãos dadas com a austeridade, foi tomado desde o começo da crise em 2010, com resultados desastrosos. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a economia italiana será retraída em 2,4% neste ano. Na Espanha, o desemprego dos jovens supera os 50% e a Grécia está em seu quinto ano consecutivo de recessão.
O euro não tem tempo
A Espanha é o caso exemplar do plano Draghi. Seu primeiro objetivo está se cumprindo: o governo de Mariano Rajoy e a zona do euro estão ganhando tempo com a queda do prêmio de risco (a taxa adicional de juros sobre os títulos alemães, considerados os mais seguros). A aposta dos mercados é que a Espanha recorrerá ao BCE, visto que lhe emprestar se tornou um negócio menos arriscado. Mass na linguagem do superortodoxo “Super Mario”, as “estritas condicionalidades” que o BCE exigirá do país, para desembolsar o valor, implicam novas medidas de austeridade. Esta semana o presidente do conselho dos ministros das finanças da EU, Jean Claude Juncker, não se conteve ao sublinhar o que o espera em Madri: “Imporemos condições muito duras a Espanha”, assinalou.
O governo já se comprometeu com o corte de mais de 100 bilhões de euros para o ano de 2014, mas Rajoy disse que não aceitará que se toque nas aposentadorias, um tema que constituiu parte de suas promessas eleitorais e, aparentemente, uma condição que o BCE inevitavelmente imporia. A aposta do governo espanhol é que a atual queda do prêmio de risco se sustente no tempo. Em outubro a Espanha tem de desembolsar 30 bilhões de euros para pagamento de dívidas e suas necessidades financeiras até o fim do ano são três vezes essa soma. Nesta quinta (20) haverá uma prova de fogo com o seu pedido de socorro aos mercados, para que estes coloquem o vencimento dos títulos do governo com vencimento daqui a 10 anos.
Mas a vulnerabilidade da zona do euro não se limita a Espanha: a rede pode romper-se em vários pontos. Na Grécia ainda continua a pressão da Troika pelos cortes orçamentários na casa dos 12 bilhões de dólares. Tem havido alguns sinais de que a Troika concederá mais tempo a Grécia, o que poderia evitar um “default” neste mês. Mas segundo o economista grego Costas Lapavitsas, autor de “Crise na Zona do Euro”, a única saída para a Grécia é romper com o euro. “A única maneira de recompor a economia e a sociedade é com uma cessação de pagamentos e a saída da zona do euro”, disse Lapavitsas a Carta Maior.
O descontentamento com o euro não se limita aos países periféricos da UE. Em fins de julho, uma pesquisa de opinião na Alemanha mostrou que a maioria considerava que o país estaria melhor fora do euro. Numa entrevista à Carta Maior, publicada há uma semana, o alemão Gunnar Beck, especialista em temas legais europeus do SOAS, da Universidade de Londres, disse que, em um ano a própria Alemanha apresentaria problemas fiscais. “Nossa própria credibilidade estará em jogo. Não somos os Estados Unidos, não temos essa potência locomotora para tracionar o resto dos países. A Alemanha está adiando o momento em que deverá reconhecer que os resgates não serviram e que esse dinheiro investido se perdeu”, disse Beck.
Se as soluções tecnocráticas ao estilo Draghi não vão além de acalmar os mercados, dando-lhes um pouco de oxigênio financeiro, vozes como as de Lapavitsas e de Beck se tornarão majoritárias no sul e no norte europeu.
Tradução: Katarina Peixoto
- Bourne
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Re: Crise Econômica Mundial
Corte alemã decide se fundo de resgate europeu é constitucional ou não
Nesta quarta, a Corte Constitucional alemã decide sobre a constitucionalidade do Mecanismo de Estabilidade Europeu, um fundo permanente de resgate de 700 bilhões de euros que, para entrar em vigor, ainda depende da aprovação de Alemanha, Itália e Estônia. Para Gunnar Beck, especialista em temas legais europeus, decisão deve ser favorável, apesar de violar lei alemã e europeia. O artigo é de Marcelo Justo.
Marcelo Justo - Direto de Londres
http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=20865
Londres - O plano do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, conseguiu o que parecia impossível: uma abrupta queda das taxas de juros pagas por Espanha e Itália. Mas, passada a euforia inicial, começam a aparecer os primeiros problemas. É possível compatibilizar a “estrita condicionalidade” de um resgate financeiro e a negativa do governo de Mariano Rajoy a tocar nas aposentadorias?
Nesta quarta-feira abre-se outra ameaça indireta com a decisão da Corte Constitucional alemã sobre o Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEDE), um fundo permanente de resgate de 700 bilhões de euros que, para entrar em funcionamento, ainda depende da aprovação de três países: Alemanha, Itália e Estônia.
Sobre esse tema, a Carta Maior conversou com Gunnar Beck, especialista em temas legais europeus de SOAS, Universidade de Londres.
Na sua avaliação, qual deverá ser a decisão da Corte alemã?
Decidirá a favor, apesar de ser inconstitucional e violar tanto a lei alemã quanto a europeia. Nos dois episódios prévios que ocorreram – o de Lisboa e o do primeiro resgate a Grécia – a Corte aprovou estas medidas sempre que se respeitaram em decisões futuras a autonomia fiscal do Parlamento alemão. Mas a pressão política é muito grande e não se deve esquecer que os membros da Corte foram nomeados com o apoio de diferentes partidos políticos. Todos os partidos políticos estão a favor desta medida porque estão casados com a ideia do euro. O euro é um totem, do mesmo modo que a União Europeia. A classe política vive sob a culta eterna do nazismo. E o governo alemão mente.
Em que sentido está mentindo?
O governo alemão disse que o MEDE estipula um limite para a exposição da Alemanha que não superará os 190 bilhões de euros. Isso não é assim. Os políticos não leram o tratado ou não querem dizer a verdade. Juntamente com o fundo de 700 bilhões, o MEDE pode pedir dinheiro emprestado seja aos mercados de capital seja ao banco Central Europeu (BCE). Não há limites para isso. De modo que as obrigações envolvidas não têm um teto.
Se dois países da eurozona, por exemplo, se tornarem insolventes ou se retirarem da zona, a exposição alemão crescerá para algo entre 400 e 500 bilhões de euros. O orçamento federal alemão é de cerca de 350 bilhões de euros. Nossa dívida subiria rapidamente para 110% do PIB.
Mas é um momento histórico extraordinário no qual a própria sobrevivência do euro está em jogo. Não são necessárias medidas excepcionais?
É o que dizem os que estão a favor desta medida. O problema é que não se pode ignorar a lei. No caso de um indivíduo que cometeu um delito se falaria o máximo de fatores mitigatórios, mas ele seria condenado mesmo assim. Se a União Europeia tivesse respeitado as leis que ela própria criou não estaríamos nesta situação. Estou de acordo com que as condições do Pacto de Estabilidade e Crescimento do Tratado de Maastritcht eram muito restritivas, mas uma vez firmado deveria ter sido respeitado porque senão se perde credibilidade para sempre.
Que impacto terá uma aprovação do MEDE no plano desenhado pelo presidente do BCE, Mario Draghi?
Cai como uma luva. Draghi já disse que se o MEDE adquirir bônus soberanos isso será a luz verde para deixar de lado o artigo 123 do Tratado de Funcionamento da União Europeia, que proíbe a emissão de dinheiro para financiar governos e autoridades locais. O governo alemão se opõe à mutualização da dívida nacional, mas o MEDE é precisamente isso, a mutualização da dívida nacional sem teto algum. E o problema é que vai chegar o momento em que os países do norte europeu não poderão financiar mais essa aquisição de bônus. Meu cálculo é que, em um ano, a Alemanha começará a ter problemas fiscais. Sua própria credibilidade estará em jogo porque a Alemanha não é os Estados Unidos, não tem essa potência de locomotiva para tracionar o resto. Não esqueçamos que, há oito anos, todos pensavam que a Alemanha era o paciente enfermo da Europa. No momento, a Alemanha está adiando o momento em que deverá reconhecer que os resgates não serviram e que esse dinheiro investido foi perdido.
Se a situação é essa, não seria melhor abrir todo o jogo agora e realizar uma reestruturação da dívida?
De acordo. Isso implicaria que os bancos e credores assumissem parte das perdas e que não se dissimulasse mais a realidade da situação. Isso melhorará a situação quanto á dívida, mas não resolverá os problemas de competitividade que há nos países do sul europeu. Eu creio que é inevitável que alguns países como a Grécia saiam do euro e outros, como pode ser o caso da Espanha, o façam de maneira temporária até resolver seus problemas de competitividade. Neste sentido, creio que o Euro pode sobreviver como uma moeda débil ou como uma moeda em nível mundial. Neste último caso, será necessária a saída de alguns membros.
- cabeça de martelo
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Re: Crise Econômica Mundial
John Perkins. “Portugal está a ser assassinado, como muitos países do terceiro mundo já foram”
Chamou-se a si próprio assassino económico no livro “Confessions of an Economic Hit Man”, que se tornou bestseller do “New York Times
Em tempos consultor na empresa Chas. T. Main, John Perkins andou dez anos a fazer o que não devia, convencendo países do terceiro mundo a embarcar em projectos megalómanos, financiados com empréstimos gigantescos de bancos do primeiro mundo. Um dia, estava nas Caraíbas, percebeu que estava farto de negócios sujos e mudou de vida. Regressou a Boston e, para compensar os estragos que tinha feito, decidiu usar os seus conhecimentos para revelar ao mundo o jogo que se joga nos bastidores financeiros.
Como se passa de assassino económico a activista?
Em primeiro lugar é preciso passar-se por uma forte mudança de consciência e entender o papel que se andou a desempenhar. Levei algum tempo a compreender tudo isto. Fui um assassino económico durante dez anos e durante esse período achava que estava a agir bem. Foi o que me ensinaram e o que ainda ensinam nas faculdades de Gestão: planear grandes empréstimos para os países em desenvolvimento para estimular as suas economias. Mas o que vi foi que os projectos que estávamos a desenvolver, centrais hidroeléctricas, parques industriais, e outras coisas idênticas, estavam apenas a ajudar um grupo muito restrito de pessoas ricas nesses países, bem como as nossas próprias empresas, que estavam a ser pagas para os coordenar. Não estávamos a ajudar a maioria das pessoas desses países porque não tinham dinheiro para ter acesso à energia eléctrica, nem podiam trabalhar em parques industriais, porque estes não contratavam muitas pessoas. Ao mesmo tempo, essas pessoas estavam a tornar--se escravos, porque o seu país estava cada mais afundado em dívidas. E a economia, em vez de investir na educação, na saúde ou noutras áreas sociais, tinha de pagar a dívida. E a dívida nunca chega a ser paga na totalidade. No fim, o assassino económico regressa ao país e diz-lhes “Uma vez que não conseguem pagar o que nos devem, os vossos recursos, petróleo, ou o que quer que tenham, vão ser vendidos a um preço muito baixo às nossas empresas, sem quaisquer restrições sociais ou ambientais”. Ou então, “Vamos construir uma base militar na vossa terra”. E à medida que me fui apercebendo disto a minha consciência começou a mudar. Assim que tomei a decisão de que tinha de largar este emprego tudo foi mais fácil. E para diminuir o meu sentimento de culpa senti que precisava de me tornar um activista para transformar este mundo num local melhor, mais justo e sustentável através do conhecimento que adquiri. Nessa altura a minha mulher e eu tivemos um bebé. A minha filha nasceu em 1982 e costumava pensar como seria o mundo quando ela fosse adulta, caso continuássemos neste caminho. Hoje já tenho um neto de quatro anos, que é uma grande inspiração para mim e me permite compreender a necessidade de viver num sítio pacífico e sustentável.
Houve algum momento em particular em que tenha dito para si mesmo “não posso fazer mais isto”?
Sim, houve. Fui de férias num pequeno veleiro e estive nas Ilhas Virgens e nas Caraíbas. Numa dessas noites atraquei o barco e subi às ruínas de uma antiga plantação de cana-de-açúcar. O sítio era lindo, estava completamente sozinho, rodeado de buganvílias, a olhar para um maravilhoso pôr do Sol sobre as Caraíbas e sentia-me muito feliz. Mas de repente cheguei à conclusão que esta antiga plantação tinha sido construída sobre os ossos de milhares de escravos. E depois pensei como todo o hemisfério onde vivo foi erguido sobre os ossos de milhões de escravos. E tive também de admitir para mim mesmo que também eu era um esclavagista, porque o mundo que estava a construir, como assassino económico, consistia, basicamente, em escravizar pessoas em todo o mundo. E foi nesse preciso momento que me decidi a nunca mais voltar a fazê--lo. Regressei à sede da empresa onde trabalhava em Boston e demiti-me.
E qual foi a reacção deles?
De início ninguém acreditou em mim. Mas quando se aperceberam de que estava determinado tentaram demover-me. Fizeram-me propostas muito interessantes. Mas fui-me embora à mesma e deixei por completo de me envolver naquele tipo de negócios.
Diz que os assassinos económicos são profissionais altamente bem pagos que enganam os países subdesenvolvidos, recorrendo a armas como subornos, relatórios falsificados, extorsões, sexo e assassinatos. Pode explicar às pessoas que não leram o seu livro como tudo isto funciona?
Basicamente, aquilo que fazíamos era escolher um país, por exemplo a Indonésia, que na década de 70 achávamos que tinha muito petróleo do bom. Não tínhamos a certeza, mas pensávamos que sim. E também sabíamos que estávamos a perder a guerra no Vietname e acreditávamos no efeito dominó, ou seja, se o Vietname caísse nas mãos dos comunistas, a Indonésia e outros países iriam a seguir. Também sabíamos que a Indonésia tinha a maior população muçulmana do mundo e que estava prestes a aliar-se à União Soviética, e por isso queríamos trazer o país para o nosso lado. Fui à Indonésia no meu primeiro serviço e convenci o governo do país a pedir um enorme empréstimo ao Banco Mundial e a outros bancos, para construir o seu sistema eléctrico, centrais de energia e de transmissão e distribuição. Projectos gigantescos de produção de energia que de forma alguma ajudaram as pessoas pobres, porque estas não tinham dinheiro para pagar a electricidade, mas favoreceram muito os donos das empresas e os bancos e trouxeram a Indonésia para o nosso lado. Ao mesmo tempo, deixaram o país profundamente endividado, com uma dívida que, para ser refinanciada pelo Fundo Monetário Internacional, obrigou o governo a deixar as nossas empresas comprarem as empresas de serviços básicos de utilidade pública, as empresas de electricidade e de água, construir bases militares no seu território, entre outras coisas. Também acordámos algumas condicionantes, que garantiam que a Indonésia se mantinha do nosso lado, em vez de se virar para a União Soviética ou para outro país que hoje em dia seria provavelmente a China.
Trabalhou de muito perto com o Banco Mundial?
Muito, muito perto. Muito do dinheiro que tínhamos vinha do Banco Mundial ou de uma coligação de bancos que era, geralmente, liderada pelo Banco Mundial.
Sugere no seu livro que os líderes do Equador e do Panamá foram assassinados pelos Estados Unidos. No entanto, existem vários historiadores que defendem que isso não é verdade. O que acha que aconteceu com Jaime Roldós e Omar Torrijos?
Não existem provas sólidas quer do que aconteceu no Equador, com Roldós, quer do que se passou no Panamá, com Torrijos. Porém, existem muitas provas circunstanciais. Por exemplo, Roldós foi o primeiro a morrer, num desastre de avião em Maio de 1981, e a área do acidente foi vedada, ninguém podia ir ao local onde o avião se despenhou, excepto militares norte-americanos ou membros do governo local por eles designados. Nem a polícia podia lá entrar. Algumas testemunhas-chave do desastre morreram em acidentes estranhos antes de serem chamadas a depor. Um dos motores do avião foi enviado para a Suíça e os exames mostram que parou de funcionar quando estava ainda no ar e não ao chocar contra a montanha. Isto é, existem provas circunstanciais tremendas em torno desta morte, e além disso todos estavam à espera que Jaime Roldós fosse derrubado ou assassinado porque não estava a jogar o nosso jogo. Logo depois de o seu avião se ter despenhado, Omar Torrijos juntou a família toda e disse: “O meu amigo Jaime foi assassinado e eu vou ser o próximo, mas não se preocupem, alcancei os objectivos que queria alcançar, negociei com sucesso os tratados do canal com Jimmy Carter e esse canal pertence agora ao povo do Panamá, tal como deve ser. Por isso, depois de eu ser assassinado, devem sentir-se bem por tudo aquilo que conquistei.” A verdade é que os EUA, a CIA e pessoas como o Henry Kissinger admitiram que o nosso país tinha derrubado Salvador Allende, no Chile; Jacobo Arbenz, na Guatemala; Mohammed Mossadegh, no Irão; participámos no afastamento de Patrice Lumumba, no Congo; de Ngô Dinh Diem, no Vietname. Existem inúmeros documentos sobre a história dos EUA que provam que fizemos estas coisas e continuamos a fazê-las. Sabe-se que estivemos profundamente envolvidos, em 2009, no derrube no presidente Manuel Zelaya, nas Honduras, e na tentativa de afastar Rafael Correa, no Equador, também há não muito tempo. Os EUA admitiram muitas destas coisas e pensar que eles não estiveram envolvidos nos homicídios de Roldós e Torrijos... Estes dois homens foram assassinados quase da mesma forma, num espaço de três meses. Ambos tinham posições contrárias aos EUA e às suas empresas e estavam a assumir posições fortes para defender os seus povos – é pouco razoável pensar o contrário.
Algumas pessoas acusam-no de ser um teórico da conspiração. O que tem a dizer sobre isso?
Bem, não sou, de modo nenhum, um teórico da conspiração. Não acredito que exista uma pessoa ou um grupo de pessoas sentadas no topo a tomar todas as decisões. Mas torno muito claro no meu último livro, “Hoodwinked” (2009), e também em “Confessions of an Economic Hit Man” (2004) – editado em Portugal pela Pergaminho em 2007 com o título “Confissões de Um Mercenário Económico: a Face Oculta do Imperialismo Americano” –, que as multinacionais são movidas por um único objectivo que é maximizar os lucros, independentemente das consequências sociais e ambientais. Estes últimos são novos objectivos que não eram ensinados quando estudei Gestão, no final dos anos 60. Ensinaram-me que havia apenas este objectivo entre muitos outros, por exemplo tratar bem os funcionários, dar-lhes uma boa assistência na saúde e na reforma, ter boas relações com os clientes e os fornecedores, e também ser um bom cidadão, pagar impostos e fazer mais que isso, ajudar a construir escolas e bibliotecas. Tudo se agravou nos anos 70, quando Milton Friedman, da escola de economia de Chicago, veio dizer que a única responsabilidade no mundo dos negócios era maximizar os lucros, independentemente dos custos sociais e ambientais. E Ronald Reagan, Margaret Thatcher e muitos outros líderes mundiais convenceram-se disso desde então. Todas estas empresas são orientadas segundo este objectivo e quando alguma coisa o ameaça, seja um acordo de comércio multilateral seja outra coisa qualquer, juntam--se para garantir que o mesmo é protegido. Isto não é uma conspiração, uma conspiração é ilegal, isto que fazem não é. No entanto, é extremamente prejudicial para a economia mundial.
Também escreveu que o objectivo último dos EUA é construir um império global. Como vê a recente estratégia norte-americana contra a China e o Irão?
Actualmente, podemos dizer que o novo império não é tanto americano como formado por multinacionais. Penso que a ditadura das grandes empresas e dos seus líderes forma hoje a versão moderna desse império. Repito, isto não é uma conspiração, mas todos eles são movidos por esse objectivo de que falámos anteriormente.
Mas vários especialistas defendem que estamos num cenário de terceira guerra mundial, com a China, a Rússia e o Irão de um lado e os EUA, a União Europeia (UE) e Israel do outro. E que toda a conversa de Washington em torno do programa nuclear iraniano não passa de uma grande mentira.
Não acredito que todo este conflito seja motivado por armas nucleares. Na verdade, vários estudos recentes, alguns deles das mais respeitadas agências de informações norte-americanas, mostram que não existem armas nucleares no Irão. E acredito que tudo isto não se deve apenas aos recursos iranianos mas também à ameaça de Teerão de vender petróleo no mercado internacional numa moeda que não o dólar, uma ameaça também feita por Muammar Kadhafi, na Líbia, e Saddam Hussein, no Iraque. Os nort-americanos não gostam que ameacem o dólar e não gostam que ameacem o seu sistema bancário, algo que todos esses líderes fizeram – o líder do Irão, o líder do Iraque, o líder da Líbia. Derrubaram dois deles e o terceiro ainda lá está. Penso que é disto que se trata. Não tenho dúvidas de que a Rússia está a gostar de ver a agitação entre a UE e o Irão, porque Moscovo tem muito petróleo e, se os fornecedores iranianos deixarem de vender, o preço do petróleo vai subir, o que será uma grande ajuda para a Rússia. É difícil acreditar que qualquer destes países queira mesmo entrar numa terceira guerra mundial. No fundo, o que querem é estar constantemente a confundir as pessoas, parecendo que querem entrar em conflito e ajudar a alimentar as máquinas de guerra, porque isso ajuda uma série de grandes empresas.
Como durante a Guerra Fria?
Sim, como durante a Guerra Fria, porque isso é bom para os negócios. No fundo, estes países estão todos a servir os interesses das grandes empresas. Há algumas centenas de anos, a geopolítica era maioritariamente liderada por organizações religiosas; depois os governos assumiram esse poder. Agora chegámos à fase em que a geopolítica é conduzida em primeiro lugar pelas grandes multinacionais. E elas controlam mesmo os governos de todos os países importantes, incluindo a Rússia, a China e os EUA. A economia da China nunca poderia ter crescido da forma que cresceu se não tivesse estabelecido fortes parcerias com grandes multinacionais. E todos estes países são muito dependentes destas empresas, dos presidentes destas empresas, que gostam de baralhar as pessoas, porque constroem muitos mísseis e todo o tipo de armas de guerra. É uma economia gigante. A economia norte-americana está mais baseada nas forças armadas que noutra coisa qualquer. Representa a maior fatia do nosso orçamento oficial e uma parte maior ainda do nosso orçamento não oficial. Por isso tanto a guerra como a ameaça de guerra são muito boas para as grandes multinacionais. Mas não acredito que haja alguém que nos queira ver de facto entrar em guerra, dada a natureza das armas. Penso que todas as pessoas sabem que seria extremamente destrutivo.
Como avalia o trabalho de Barack Obama enquanto presidente dos EUA?
Penso que se esforçou muito por agir bem, mas está numa posição extremamente vulnerável. Assim que alguém entra na Casa Branca, sejam quais forem as suas ideias políticas, os seus motivos ou a sua consciência, sabe que é muito vulnerável e que o presidente dos EUA, ou de outro país importante, pode ser facilmente afastado. Nalgumas partes do mundo, como a Líbia ou o Irão, talvez só com balas o seu poder possa ser derrubado, mas em países como os EUA um líder pode ser afastado por um rumor ou uma acusação. O presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, ver a sua carreira destruída por uma empregada de quarto de um hotel, que o acusou de violação, foi um aviso muito forte a Obama e a outros líderes mundiais. Não estou a defender Strauss-Kahn – não faço a mínima ideia de qual é a verdade por trás do que aconteceu, mas o que sei é que bastou uma acusação de uma empregada de quarto para destruir a sua carreira, não só como director do FMI mas também como potencial presidente francês. Bill Clinton também foi afastado por um escândalo sexual, mas no tempo de John Kennedy estas coisas não derrubavam presidentes. Só as balas. Porém, descobrimos com Bill Clinton que um escândalo sexual – e não é preciso ser uma coisa muito excitante, porque aparentemente ele nem sequer teve sexo com a Monica Lewinsky, fizeram uma coisa qualquer com um charuto que já não me lembro – foi o suficiente para o descredibilizar. Por isso Obama está numa posição muito vulnerável e tem de jogar o jogo e fazer o melhor que pode dentro dessas limitações. Caso contrário, será destruído.
No fim do ano passado escreveu um artigo onde afirmava que a Grécia estava a ser atacada por assassinos económicos. Acha que Portugal está na mesma situação?
Sim, absolutamente, tal como aconteceu com a Islândia, a Irlanda, a Itália ou a Grécia. Estas técnicas já se revelaram eficazes no terceiro mundo, em países da América Latina, de África e zonas da Ásia, e agora estão a ser usadas com êxito contra países como Portugal. E também estão a ser usadas fortemente nos EUA contra os cidadãos e é por isso que temos o movimento Occupy. Mas a boa notícia é que as pessoas em todo o mundo estão a começar a compreender como tudo isto funciona. Estamos a ficar mais conscientes. As pessoas na Grécia reagiram, na Rússia manifestam-se contra Putin, os latino-americanos mudaram o seu subcontinente na última década ao escolher presidentes que lutam contra a ditadura das grandes empresas. Dez países, todos eles liderados por ditadores brutais durante grande parte da minha vida, têm agora líderes democraticamente eleitos com uma forte atitude contra a exploração. Por isso encorajo as pessoas de Portugal a lutar pela sua paz, a participar no seu futuro e a compreender que estão a ser enganadas. O vosso país está a ser saqueado por barões ladrões, tal como os EUA e grande parte do mundo foi roubado. E nós, as pessoas de todo o mundo, temos de nos revoltar contra os seus interesses. E esta revolução não exige violência armada, como as revoluções anteriores, porque não estamos a lutar contra os governos mas contra as empresas. E precisamos de entender que são muito dependentes de nós, são vulneráveis, e apenas existem e prosperam porque nós lhes compramos os seus produtos e serviços. Assim, quando nos manifestamos contra elas, quando as boicotamos, quando nos recusamos a comprar os seus produtos e enviamos emails a exigir-lhes que mudem e se tornem mais responsáveis em termos sociais e ambientais, isso tem um enorme impacto. E podemos mudar o mundo com estas atitudes e de uma forma relativamente pacífica.
Mas as próprias empresas deviam ver que a ditadura das multinacionais é um beco sem saída.
Bem, penso que está absolutamente certa. Há alguns meses estive a falar numa conferência para 4 mil CEO da indústria das telecomunicações em Istambul e vou regressar lá, dentro de um mês, para uma outra conferência de CEO e CFO de grandes empresas comerciais, e digo-lhes a mesma coisa. Falo muitas vezes com directores-executivos de empresas e sou muitas vezes chamado a dar palestras em universidades de Gestão ou para empresários e também lhes digo o mesmo. Aquilo que fizemos com esta economia mundial foi um fracasso. Não há dúvida. Um exemplo disso: 5% da população mundial vive nos EUA e, no entanto, consumimos cerca de 30% dos recursos mundiais, enquanto metade do mundo morre à fome ou está perto disso. Isto é um fracasso. Não é um modelo que possa ser replicado em Portugal, ou na China ou em qualquer lado. Seriam precisos mais cinco planetas sem pessoas para o podermos copiar. Estes países podem até querer reproduzi-lo, mas não conseguiriam. Por isso é um modelo falhado e você tem razão, porque vai acabar por se desmoronar. Por isso o desafio é como mudamos isto e como apelar às grandes empresas para fazerem estas mudanças. Obrigando-as e convencendo-as a ser mais sustentáveis em termos sociais e ambientais. Porque estas empresas somos basicamente nós, a maioria de nós trabalha para elas e todos compramos os seus produtos e serviços. Temos um enorme poder sobre elas. Por definição, uma espécie que não é sustentável extingue-se. Vivemos num sistema falhado e temos de criar um novo. O problema é que a maior parte dos executivos só pensa a curto prazo, não estão preocupados com o tipo de planeta que os seus filhos e os seus netos vão herdar.
Podemos afirmar que esta crise mundial foi provocada por assassinos económicos e rotular os líderes da troika como serial killers?
Penso que é justo dizer que os assassinos económicos são os homens de mão, nós, os soldados, e os presidentes das grandes multinacionais e de organizações como o Banco Mundial, o FMI ou Wall Street, os generais.
Ainda há dias o “Financial Times” divulgou que os gestores financeiros de Wall Street andavam a tomar testosterona para se tornarem ainda mais competitivos. Isto faz parte do beco sem saída de que está a falar?
A sério?! Ainda não tinha ouvido isso, mas não me surpreende nada. No entanto, aquilo que precisamos hoje em dia é de um lado feminino, temos de caminhar na direcção oposta e livrar-nos dessa testosterona. Precisamos de mais líderes mulheres, mulheres reais – não homens vestidos com roupas de mulher, por assim dizer – para trazerem com elas os valores de receptividade e do apoio e encorajarem os homens a cultivar isso neles próprios. Nós, homens, temos de estar muito mais ligados ao nosso lado feminino.
Se fôssemos apresentar esta crise económica à polícia, quem seriam os criminosos a acusar?
Pense em qualquer grande multinacional e à frente dessa multinacional estará alguém responsável pela ditadura empresarial, seja a Goldman Sachs, em Wall Street, seja a Shell, a Monsanto ou a Nike. Todos os líderes dessas empresas estão profundamente envolvidos em tudo isto e, da mesma forma, estão os líderes do FMI, do Banco Mundial e de outras grandes instituições bancárias. Detesto estar a dar nomes, estas pessoas estão sempre a mudar de emprego, por isso prefiro apontar os cargos. Eles estão sempre em rotação, por exemplo, o nosso antigo presidente, George W. Bush, veio da indústria petrolífera. A sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, também veio da indústria petrolífera. Já Obama tem a sua política financeira concebida por Wall Street, maioritariamente pela Goldman Sachs. Mudaram-se da empresa para a actual administração norte-americana. A sua política de agricultura é feita por pessoas da Monsanto e de outras grandes empresas do sector. E a parte triste é que assim que o seu tempo expirar em Washington voltam para essas empresas. Vivemos num sistema incrivelmente corrupto. Aquilo a que chamamos política das portas giratórias é só uma outra designação de corrupção extrema.
http://www.ionline.pt/mundo/john-perkin ... o-ja-foram
Chamou-se a si próprio assassino económico no livro “Confessions of an Economic Hit Man”, que se tornou bestseller do “New York Times
Em tempos consultor na empresa Chas. T. Main, John Perkins andou dez anos a fazer o que não devia, convencendo países do terceiro mundo a embarcar em projectos megalómanos, financiados com empréstimos gigantescos de bancos do primeiro mundo. Um dia, estava nas Caraíbas, percebeu que estava farto de negócios sujos e mudou de vida. Regressou a Boston e, para compensar os estragos que tinha feito, decidiu usar os seus conhecimentos para revelar ao mundo o jogo que se joga nos bastidores financeiros.
Como se passa de assassino económico a activista?
Em primeiro lugar é preciso passar-se por uma forte mudança de consciência e entender o papel que se andou a desempenhar. Levei algum tempo a compreender tudo isto. Fui um assassino económico durante dez anos e durante esse período achava que estava a agir bem. Foi o que me ensinaram e o que ainda ensinam nas faculdades de Gestão: planear grandes empréstimos para os países em desenvolvimento para estimular as suas economias. Mas o que vi foi que os projectos que estávamos a desenvolver, centrais hidroeléctricas, parques industriais, e outras coisas idênticas, estavam apenas a ajudar um grupo muito restrito de pessoas ricas nesses países, bem como as nossas próprias empresas, que estavam a ser pagas para os coordenar. Não estávamos a ajudar a maioria das pessoas desses países porque não tinham dinheiro para ter acesso à energia eléctrica, nem podiam trabalhar em parques industriais, porque estes não contratavam muitas pessoas. Ao mesmo tempo, essas pessoas estavam a tornar--se escravos, porque o seu país estava cada mais afundado em dívidas. E a economia, em vez de investir na educação, na saúde ou noutras áreas sociais, tinha de pagar a dívida. E a dívida nunca chega a ser paga na totalidade. No fim, o assassino económico regressa ao país e diz-lhes “Uma vez que não conseguem pagar o que nos devem, os vossos recursos, petróleo, ou o que quer que tenham, vão ser vendidos a um preço muito baixo às nossas empresas, sem quaisquer restrições sociais ou ambientais”. Ou então, “Vamos construir uma base militar na vossa terra”. E à medida que me fui apercebendo disto a minha consciência começou a mudar. Assim que tomei a decisão de que tinha de largar este emprego tudo foi mais fácil. E para diminuir o meu sentimento de culpa senti que precisava de me tornar um activista para transformar este mundo num local melhor, mais justo e sustentável através do conhecimento que adquiri. Nessa altura a minha mulher e eu tivemos um bebé. A minha filha nasceu em 1982 e costumava pensar como seria o mundo quando ela fosse adulta, caso continuássemos neste caminho. Hoje já tenho um neto de quatro anos, que é uma grande inspiração para mim e me permite compreender a necessidade de viver num sítio pacífico e sustentável.
Houve algum momento em particular em que tenha dito para si mesmo “não posso fazer mais isto”?
Sim, houve. Fui de férias num pequeno veleiro e estive nas Ilhas Virgens e nas Caraíbas. Numa dessas noites atraquei o barco e subi às ruínas de uma antiga plantação de cana-de-açúcar. O sítio era lindo, estava completamente sozinho, rodeado de buganvílias, a olhar para um maravilhoso pôr do Sol sobre as Caraíbas e sentia-me muito feliz. Mas de repente cheguei à conclusão que esta antiga plantação tinha sido construída sobre os ossos de milhares de escravos. E depois pensei como todo o hemisfério onde vivo foi erguido sobre os ossos de milhões de escravos. E tive também de admitir para mim mesmo que também eu era um esclavagista, porque o mundo que estava a construir, como assassino económico, consistia, basicamente, em escravizar pessoas em todo o mundo. E foi nesse preciso momento que me decidi a nunca mais voltar a fazê--lo. Regressei à sede da empresa onde trabalhava em Boston e demiti-me.
E qual foi a reacção deles?
De início ninguém acreditou em mim. Mas quando se aperceberam de que estava determinado tentaram demover-me. Fizeram-me propostas muito interessantes. Mas fui-me embora à mesma e deixei por completo de me envolver naquele tipo de negócios.
Diz que os assassinos económicos são profissionais altamente bem pagos que enganam os países subdesenvolvidos, recorrendo a armas como subornos, relatórios falsificados, extorsões, sexo e assassinatos. Pode explicar às pessoas que não leram o seu livro como tudo isto funciona?
Basicamente, aquilo que fazíamos era escolher um país, por exemplo a Indonésia, que na década de 70 achávamos que tinha muito petróleo do bom. Não tínhamos a certeza, mas pensávamos que sim. E também sabíamos que estávamos a perder a guerra no Vietname e acreditávamos no efeito dominó, ou seja, se o Vietname caísse nas mãos dos comunistas, a Indonésia e outros países iriam a seguir. Também sabíamos que a Indonésia tinha a maior população muçulmana do mundo e que estava prestes a aliar-se à União Soviética, e por isso queríamos trazer o país para o nosso lado. Fui à Indonésia no meu primeiro serviço e convenci o governo do país a pedir um enorme empréstimo ao Banco Mundial e a outros bancos, para construir o seu sistema eléctrico, centrais de energia e de transmissão e distribuição. Projectos gigantescos de produção de energia que de forma alguma ajudaram as pessoas pobres, porque estas não tinham dinheiro para pagar a electricidade, mas favoreceram muito os donos das empresas e os bancos e trouxeram a Indonésia para o nosso lado. Ao mesmo tempo, deixaram o país profundamente endividado, com uma dívida que, para ser refinanciada pelo Fundo Monetário Internacional, obrigou o governo a deixar as nossas empresas comprarem as empresas de serviços básicos de utilidade pública, as empresas de electricidade e de água, construir bases militares no seu território, entre outras coisas. Também acordámos algumas condicionantes, que garantiam que a Indonésia se mantinha do nosso lado, em vez de se virar para a União Soviética ou para outro país que hoje em dia seria provavelmente a China.
Trabalhou de muito perto com o Banco Mundial?
Muito, muito perto. Muito do dinheiro que tínhamos vinha do Banco Mundial ou de uma coligação de bancos que era, geralmente, liderada pelo Banco Mundial.
Sugere no seu livro que os líderes do Equador e do Panamá foram assassinados pelos Estados Unidos. No entanto, existem vários historiadores que defendem que isso não é verdade. O que acha que aconteceu com Jaime Roldós e Omar Torrijos?
Não existem provas sólidas quer do que aconteceu no Equador, com Roldós, quer do que se passou no Panamá, com Torrijos. Porém, existem muitas provas circunstanciais. Por exemplo, Roldós foi o primeiro a morrer, num desastre de avião em Maio de 1981, e a área do acidente foi vedada, ninguém podia ir ao local onde o avião se despenhou, excepto militares norte-americanos ou membros do governo local por eles designados. Nem a polícia podia lá entrar. Algumas testemunhas-chave do desastre morreram em acidentes estranhos antes de serem chamadas a depor. Um dos motores do avião foi enviado para a Suíça e os exames mostram que parou de funcionar quando estava ainda no ar e não ao chocar contra a montanha. Isto é, existem provas circunstanciais tremendas em torno desta morte, e além disso todos estavam à espera que Jaime Roldós fosse derrubado ou assassinado porque não estava a jogar o nosso jogo. Logo depois de o seu avião se ter despenhado, Omar Torrijos juntou a família toda e disse: “O meu amigo Jaime foi assassinado e eu vou ser o próximo, mas não se preocupem, alcancei os objectivos que queria alcançar, negociei com sucesso os tratados do canal com Jimmy Carter e esse canal pertence agora ao povo do Panamá, tal como deve ser. Por isso, depois de eu ser assassinado, devem sentir-se bem por tudo aquilo que conquistei.” A verdade é que os EUA, a CIA e pessoas como o Henry Kissinger admitiram que o nosso país tinha derrubado Salvador Allende, no Chile; Jacobo Arbenz, na Guatemala; Mohammed Mossadegh, no Irão; participámos no afastamento de Patrice Lumumba, no Congo; de Ngô Dinh Diem, no Vietname. Existem inúmeros documentos sobre a história dos EUA que provam que fizemos estas coisas e continuamos a fazê-las. Sabe-se que estivemos profundamente envolvidos, em 2009, no derrube no presidente Manuel Zelaya, nas Honduras, e na tentativa de afastar Rafael Correa, no Equador, também há não muito tempo. Os EUA admitiram muitas destas coisas e pensar que eles não estiveram envolvidos nos homicídios de Roldós e Torrijos... Estes dois homens foram assassinados quase da mesma forma, num espaço de três meses. Ambos tinham posições contrárias aos EUA e às suas empresas e estavam a assumir posições fortes para defender os seus povos – é pouco razoável pensar o contrário.
Algumas pessoas acusam-no de ser um teórico da conspiração. O que tem a dizer sobre isso?
Bem, não sou, de modo nenhum, um teórico da conspiração. Não acredito que exista uma pessoa ou um grupo de pessoas sentadas no topo a tomar todas as decisões. Mas torno muito claro no meu último livro, “Hoodwinked” (2009), e também em “Confessions of an Economic Hit Man” (2004) – editado em Portugal pela Pergaminho em 2007 com o título “Confissões de Um Mercenário Económico: a Face Oculta do Imperialismo Americano” –, que as multinacionais são movidas por um único objectivo que é maximizar os lucros, independentemente das consequências sociais e ambientais. Estes últimos são novos objectivos que não eram ensinados quando estudei Gestão, no final dos anos 60. Ensinaram-me que havia apenas este objectivo entre muitos outros, por exemplo tratar bem os funcionários, dar-lhes uma boa assistência na saúde e na reforma, ter boas relações com os clientes e os fornecedores, e também ser um bom cidadão, pagar impostos e fazer mais que isso, ajudar a construir escolas e bibliotecas. Tudo se agravou nos anos 70, quando Milton Friedman, da escola de economia de Chicago, veio dizer que a única responsabilidade no mundo dos negócios era maximizar os lucros, independentemente dos custos sociais e ambientais. E Ronald Reagan, Margaret Thatcher e muitos outros líderes mundiais convenceram-se disso desde então. Todas estas empresas são orientadas segundo este objectivo e quando alguma coisa o ameaça, seja um acordo de comércio multilateral seja outra coisa qualquer, juntam--se para garantir que o mesmo é protegido. Isto não é uma conspiração, uma conspiração é ilegal, isto que fazem não é. No entanto, é extremamente prejudicial para a economia mundial.
Também escreveu que o objectivo último dos EUA é construir um império global. Como vê a recente estratégia norte-americana contra a China e o Irão?
Actualmente, podemos dizer que o novo império não é tanto americano como formado por multinacionais. Penso que a ditadura das grandes empresas e dos seus líderes forma hoje a versão moderna desse império. Repito, isto não é uma conspiração, mas todos eles são movidos por esse objectivo de que falámos anteriormente.
Mas vários especialistas defendem que estamos num cenário de terceira guerra mundial, com a China, a Rússia e o Irão de um lado e os EUA, a União Europeia (UE) e Israel do outro. E que toda a conversa de Washington em torno do programa nuclear iraniano não passa de uma grande mentira.
Não acredito que todo este conflito seja motivado por armas nucleares. Na verdade, vários estudos recentes, alguns deles das mais respeitadas agências de informações norte-americanas, mostram que não existem armas nucleares no Irão. E acredito que tudo isto não se deve apenas aos recursos iranianos mas também à ameaça de Teerão de vender petróleo no mercado internacional numa moeda que não o dólar, uma ameaça também feita por Muammar Kadhafi, na Líbia, e Saddam Hussein, no Iraque. Os nort-americanos não gostam que ameacem o dólar e não gostam que ameacem o seu sistema bancário, algo que todos esses líderes fizeram – o líder do Irão, o líder do Iraque, o líder da Líbia. Derrubaram dois deles e o terceiro ainda lá está. Penso que é disto que se trata. Não tenho dúvidas de que a Rússia está a gostar de ver a agitação entre a UE e o Irão, porque Moscovo tem muito petróleo e, se os fornecedores iranianos deixarem de vender, o preço do petróleo vai subir, o que será uma grande ajuda para a Rússia. É difícil acreditar que qualquer destes países queira mesmo entrar numa terceira guerra mundial. No fundo, o que querem é estar constantemente a confundir as pessoas, parecendo que querem entrar em conflito e ajudar a alimentar as máquinas de guerra, porque isso ajuda uma série de grandes empresas.
Como durante a Guerra Fria?
Sim, como durante a Guerra Fria, porque isso é bom para os negócios. No fundo, estes países estão todos a servir os interesses das grandes empresas. Há algumas centenas de anos, a geopolítica era maioritariamente liderada por organizações religiosas; depois os governos assumiram esse poder. Agora chegámos à fase em que a geopolítica é conduzida em primeiro lugar pelas grandes multinacionais. E elas controlam mesmo os governos de todos os países importantes, incluindo a Rússia, a China e os EUA. A economia da China nunca poderia ter crescido da forma que cresceu se não tivesse estabelecido fortes parcerias com grandes multinacionais. E todos estes países são muito dependentes destas empresas, dos presidentes destas empresas, que gostam de baralhar as pessoas, porque constroem muitos mísseis e todo o tipo de armas de guerra. É uma economia gigante. A economia norte-americana está mais baseada nas forças armadas que noutra coisa qualquer. Representa a maior fatia do nosso orçamento oficial e uma parte maior ainda do nosso orçamento não oficial. Por isso tanto a guerra como a ameaça de guerra são muito boas para as grandes multinacionais. Mas não acredito que haja alguém que nos queira ver de facto entrar em guerra, dada a natureza das armas. Penso que todas as pessoas sabem que seria extremamente destrutivo.
Como avalia o trabalho de Barack Obama enquanto presidente dos EUA?
Penso que se esforçou muito por agir bem, mas está numa posição extremamente vulnerável. Assim que alguém entra na Casa Branca, sejam quais forem as suas ideias políticas, os seus motivos ou a sua consciência, sabe que é muito vulnerável e que o presidente dos EUA, ou de outro país importante, pode ser facilmente afastado. Nalgumas partes do mundo, como a Líbia ou o Irão, talvez só com balas o seu poder possa ser derrubado, mas em países como os EUA um líder pode ser afastado por um rumor ou uma acusação. O presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, ver a sua carreira destruída por uma empregada de quarto de um hotel, que o acusou de violação, foi um aviso muito forte a Obama e a outros líderes mundiais. Não estou a defender Strauss-Kahn – não faço a mínima ideia de qual é a verdade por trás do que aconteceu, mas o que sei é que bastou uma acusação de uma empregada de quarto para destruir a sua carreira, não só como director do FMI mas também como potencial presidente francês. Bill Clinton também foi afastado por um escândalo sexual, mas no tempo de John Kennedy estas coisas não derrubavam presidentes. Só as balas. Porém, descobrimos com Bill Clinton que um escândalo sexual – e não é preciso ser uma coisa muito excitante, porque aparentemente ele nem sequer teve sexo com a Monica Lewinsky, fizeram uma coisa qualquer com um charuto que já não me lembro – foi o suficiente para o descredibilizar. Por isso Obama está numa posição muito vulnerável e tem de jogar o jogo e fazer o melhor que pode dentro dessas limitações. Caso contrário, será destruído.
No fim do ano passado escreveu um artigo onde afirmava que a Grécia estava a ser atacada por assassinos económicos. Acha que Portugal está na mesma situação?
Sim, absolutamente, tal como aconteceu com a Islândia, a Irlanda, a Itália ou a Grécia. Estas técnicas já se revelaram eficazes no terceiro mundo, em países da América Latina, de África e zonas da Ásia, e agora estão a ser usadas com êxito contra países como Portugal. E também estão a ser usadas fortemente nos EUA contra os cidadãos e é por isso que temos o movimento Occupy. Mas a boa notícia é que as pessoas em todo o mundo estão a começar a compreender como tudo isto funciona. Estamos a ficar mais conscientes. As pessoas na Grécia reagiram, na Rússia manifestam-se contra Putin, os latino-americanos mudaram o seu subcontinente na última década ao escolher presidentes que lutam contra a ditadura das grandes empresas. Dez países, todos eles liderados por ditadores brutais durante grande parte da minha vida, têm agora líderes democraticamente eleitos com uma forte atitude contra a exploração. Por isso encorajo as pessoas de Portugal a lutar pela sua paz, a participar no seu futuro e a compreender que estão a ser enganadas. O vosso país está a ser saqueado por barões ladrões, tal como os EUA e grande parte do mundo foi roubado. E nós, as pessoas de todo o mundo, temos de nos revoltar contra os seus interesses. E esta revolução não exige violência armada, como as revoluções anteriores, porque não estamos a lutar contra os governos mas contra as empresas. E precisamos de entender que são muito dependentes de nós, são vulneráveis, e apenas existem e prosperam porque nós lhes compramos os seus produtos e serviços. Assim, quando nos manifestamos contra elas, quando as boicotamos, quando nos recusamos a comprar os seus produtos e enviamos emails a exigir-lhes que mudem e se tornem mais responsáveis em termos sociais e ambientais, isso tem um enorme impacto. E podemos mudar o mundo com estas atitudes e de uma forma relativamente pacífica.
Mas as próprias empresas deviam ver que a ditadura das multinacionais é um beco sem saída.
Bem, penso que está absolutamente certa. Há alguns meses estive a falar numa conferência para 4 mil CEO da indústria das telecomunicações em Istambul e vou regressar lá, dentro de um mês, para uma outra conferência de CEO e CFO de grandes empresas comerciais, e digo-lhes a mesma coisa. Falo muitas vezes com directores-executivos de empresas e sou muitas vezes chamado a dar palestras em universidades de Gestão ou para empresários e também lhes digo o mesmo. Aquilo que fizemos com esta economia mundial foi um fracasso. Não há dúvida. Um exemplo disso: 5% da população mundial vive nos EUA e, no entanto, consumimos cerca de 30% dos recursos mundiais, enquanto metade do mundo morre à fome ou está perto disso. Isto é um fracasso. Não é um modelo que possa ser replicado em Portugal, ou na China ou em qualquer lado. Seriam precisos mais cinco planetas sem pessoas para o podermos copiar. Estes países podem até querer reproduzi-lo, mas não conseguiriam. Por isso é um modelo falhado e você tem razão, porque vai acabar por se desmoronar. Por isso o desafio é como mudamos isto e como apelar às grandes empresas para fazerem estas mudanças. Obrigando-as e convencendo-as a ser mais sustentáveis em termos sociais e ambientais. Porque estas empresas somos basicamente nós, a maioria de nós trabalha para elas e todos compramos os seus produtos e serviços. Temos um enorme poder sobre elas. Por definição, uma espécie que não é sustentável extingue-se. Vivemos num sistema falhado e temos de criar um novo. O problema é que a maior parte dos executivos só pensa a curto prazo, não estão preocupados com o tipo de planeta que os seus filhos e os seus netos vão herdar.
Podemos afirmar que esta crise mundial foi provocada por assassinos económicos e rotular os líderes da troika como serial killers?
Penso que é justo dizer que os assassinos económicos são os homens de mão, nós, os soldados, e os presidentes das grandes multinacionais e de organizações como o Banco Mundial, o FMI ou Wall Street, os generais.
Ainda há dias o “Financial Times” divulgou que os gestores financeiros de Wall Street andavam a tomar testosterona para se tornarem ainda mais competitivos. Isto faz parte do beco sem saída de que está a falar?
A sério?! Ainda não tinha ouvido isso, mas não me surpreende nada. No entanto, aquilo que precisamos hoje em dia é de um lado feminino, temos de caminhar na direcção oposta e livrar-nos dessa testosterona. Precisamos de mais líderes mulheres, mulheres reais – não homens vestidos com roupas de mulher, por assim dizer – para trazerem com elas os valores de receptividade e do apoio e encorajarem os homens a cultivar isso neles próprios. Nós, homens, temos de estar muito mais ligados ao nosso lado feminino.
Se fôssemos apresentar esta crise económica à polícia, quem seriam os criminosos a acusar?
Pense em qualquer grande multinacional e à frente dessa multinacional estará alguém responsável pela ditadura empresarial, seja a Goldman Sachs, em Wall Street, seja a Shell, a Monsanto ou a Nike. Todos os líderes dessas empresas estão profundamente envolvidos em tudo isto e, da mesma forma, estão os líderes do FMI, do Banco Mundial e de outras grandes instituições bancárias. Detesto estar a dar nomes, estas pessoas estão sempre a mudar de emprego, por isso prefiro apontar os cargos. Eles estão sempre em rotação, por exemplo, o nosso antigo presidente, George W. Bush, veio da indústria petrolífera. A sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, também veio da indústria petrolífera. Já Obama tem a sua política financeira concebida por Wall Street, maioritariamente pela Goldman Sachs. Mudaram-se da empresa para a actual administração norte-americana. A sua política de agricultura é feita por pessoas da Monsanto e de outras grandes empresas do sector. E a parte triste é que assim que o seu tempo expirar em Washington voltam para essas empresas. Vivemos num sistema incrivelmente corrupto. Aquilo a que chamamos política das portas giratórias é só uma outra designação de corrupção extrema.
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Re: Crise Econômica Mundial
Eu acho que não é um bom momento para pedir uma vaga na Universidade de Barcelona.
Na Espanha, cadeados nas latas de lixo
Com cada vez mais pessoas vivendo de restos, prefeitura tranca as latas como medida de saúde pública
27 de setembro de 2012 | 3h 07
http://www.estadao.com.br/noticias/impr ... 6476,0.htm
SUZANNE, DALEY, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
Artigo
Numa noite recente, uma jovem vasculhava uma pilha de caixas do lado de fora de um mercado de frutas e legumes no bairro operário de Vallecas.
À primeira vista, parecia uma empregada do mercado. Mas não. Ela procurava restos de frutas e legumes jogados no lixo para sua refeição.
Separou algumas batatas que achou boas para comer e colocou-as no carrinho parado ao lado.
"Quando você não tem dinheiro, é isso que há", disse ela.
A jovem de 33 anos disse que trabalhava numa agência dos Correios, mas que o prazo de recebimento do salário-desemprego esgotou e ela agora vivia com 400 por mês. Estava morando num imóvel ocupado com alguns amigos, onde ainda havia água e eletricidade, enquanto recolhia "um pouco de tudo" do lixo depois de as lojas fecharem e as ruas ficarem desertas.
Essa tática de sobrevivência é cada vez mais comum em Madri, que tem uma taxa de desemprego de mais de 50% entre os jovens e cada vez mais famílias com adultos desempregados. Esse ato de vasculhar as latas de lixo se tornou tão difundido que uma cidade espanhola decidiu instalar cadeados nas latas de lixo dos supermercados, como medida de saúde pública.
Relatório da entidade católica Cáritas informou que quase 1 milhão de espanhóis em 2010 recebeu ajuda, duas vezes mais do que em 2007. Em 2011, mais 65 mil pessoas foram incluídas na lista.
O governo, recentemente, aumentou o imposto sobre valor agregado em 3% sobre muitos produtos e em 2% no caso de muitos alimentos, tornando a vida ainda mais difícil para as pessoas já em dificuldade. E não há nada em vista que possa aliviar a situação, uma vez que os governos regionais do país, enfrentando crises no seu próprio orçamento, vêm reduzindo gradativamente uma série de serviços anteriormente oferecidos gratuitamente, incluindo almoços nas escolas para alunos de famílias de baixa renda.
Sobrevivência. Para um número cada vez maior de espanhóis, o alimento encontrado nas latas de lixo é a sua sobrevivência.
Num enorme mercado de frutas e legumes nos arredores da cidade, operários carregavam o lixo para caminhões. Mas basicamente em cada plataforma de carga homens e mulheres apanhavam o que caía nas canaletas.
"É contra a dignidade dessas pessoas sair em busca de comida dessa maneira", disse Eduardo Berloso, da prefeitura de Girona, cidade que colocou cadeados nas latas de lixo dos supermercados.
Berloso propôs a medida no mês passado, depois de ser informado por assistentes sociais e ver diretamente "o gesto de uma mãe com os filhos olhando em volta antes de vasculhar as latas de lixo".
O relatório da Cáritas também informou que 22% das famílias espanholas vivem na pobreza e que 600.000 não possuem nenhuma renda. E esses números devem aumentar nos próximos meses.
Cerca de um terço daqueles que procuram ajuda, segundo o relatório, nunca frequentaram locais que servem comida de graça antes da crise. Para muitos, pedir ajuda é profundamente vergonhoso. Em alguns casos, as famílias vão a esses locais em cidades vizinhas para que amigos e parentes não os vejam.
Em Madri, recentemente, quando um supermercado se preparava para fechar, no distrito de Vallecas, uma pequena multidão reunida, pronta para saltar sobre as latas de lixo, logo depois ficou um tanto descontrolada. Muitos reagiram furiosamente à presença de jornalistas.
No final, alguns conseguiram tirar alguma coisa antes de os caminhões partirem com o lixo.
Mas pela manhã, no ponto de ônibus na frente do mercado, homens e mulheres de todas as idades aguardavam, carregando o que conseguiram recolher. Alguns insistiram que haviam comprado comida, embora aquele fosse um mercado atacadista que não vende para pessoas físicas. Outros admitiram ter vasculhado o lixo. Victor Victorio, 67 anos, imigrante do Peru, afirmou que vinha regularmente ali para procurar frutas e legumes no lixo. Victor, que perdeu seu emprego no setor da construção em 2008, morava com sua filha e disse que levava o que encontrasse, - e nesse dia conseguira pimentões, tomates e cenouras - para a casa.
"É a minha pensão", afirmou.
Para os atacadistas, ver as pessoas vasculhando o lixo é duro.
"Não é bom ver o que ocorre com estas pessoas", disse Manu Gallego, gerente da Canniad Fruit. "Não devia ser assim."
Saúde. Em Girona, Berloso disse que, ao colocar cadeados nas latas de lixo, seu objetivo foi preservar a saúde das pessoas e forçá-las a procurar locais que servem comida gratuitamente. Com os cadeados colocados nas latas de lixo, a cidade agora está enviando agentes civis com cupons instruindo as pessoas a se registrarem para obter ajuda alimentar e serviços sociais.
Ele disse que entre 80 e 100 pessoas regularmente vasculhavam o lixo até a adoção das medidas, mas é muito provável que muitos mais estão vivendo da comida jogada fora. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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Re: Crise Econômica Mundial
Economia da China perde seu brilho
Autor: Yang Chen & Gary Pansey Data: setembro 27, 2012
Investimento, importação e exportação indicam contração
Tubulações de aço utilizadas para andaimes ficam do fora de uma construção apoiando um anúncio que mostra o horizonte da cidade de Pequim em 2 de setembro de 2012. (Mark Ralston/AFP/Getty Images)
Estatísticas recém-lançadas e tensões comerciais crescentes estão se combinando para mostrar uma economia chinesa que está amolecendo e perdendo sua atratividade pelo investimento estrangeiro. Observações recentes de investidores qualificados e exigentes apontam para a necessidade de baixas expectativas.
O investimento estrangeiro direto (IED) na China caiu em agosto 1,4%, em comparação com o mesmo período no ano anterior, tornando-se o terceiro mês consecutivo de declínio.
Outros números do comércio continuam a enfraquecer. As importações em agosto não cresceram pela primeira vez nos últimos sete meses. A taxa de crescimento das exportações também permaneceu fraca em agosto. A Reuters previu que o crescimento do PIB da China em 2012 pode cair para 7%, abaixo do todo-importante 8%, e o mais baixo desde 1999.
O Financial Times relata que a economia da China abrandou e caracteriza a demanda doméstica como insuficiente, as exportações como preocupantes, a eficiência de alocação de capital como caindo e os lucros como escorregando, enquanto a inadimplência sobe e a bolha econômica está estourando.
Investidores proeminentes, sentindo que estas estatísticas sem brilho ilustram que a perspectiva econômica chinesa sempre-vista-como-cor-de-rosa não existe mais e que o fenômeno de crescimento rápido está acabado, parecem estar dispostos a encarar a realidade.
Terceiro declínio consecutivo
O IED foi de 8,326 bilhões de dólares em agosto, uma queda de 1,4% em comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo o Ministério do Comércio. Houve um total de 2.100 empresas estrangeiras recém-criadas na China, um declínio ano-a-ano de 12,72%.
De janeiro a agosto deste ano, 74,994 bilhões de dólares em IED chegaram à China, 3,4% a menos do que 2011. Durante este mesmo período, os investimentos da União Europeia (UE) e dos EUA na China mostraram uma queda de 4,1 e 2,9%, respectivamente. Somente o Japão contrariou a tendência, com um aumento de 16,2% em seu investimento na China.
Este terceiro mês consecutivo de declínio no IED é um mau sinal, já que maio foi o único mês deste ano que o IED mostrou um aumento positivo sobre o ano passado. O Ministério do Comércio também comentou que as perspectivas para o comércio exterior parecem sombrias, pois incertezas múltiplas e fatores instáveis estão afetando o ambiente de negócios. Para os próximos meses, o IED pode ser até pior do que o período entre janeiro e agosto.
Tensão em ebulição
Atualmente, a tensão está em ebulição entre parceiros comerciais da China, a UE, os EUA e o Japão e isso lançará uma sombra sobre as perspectivas do IED uma vez que esses são os maiores investidores estrangeiros.
Em 6 de setembro, a UE iniciou uma investigação sobre o suposto dumping de painéis solares da China “no que equivaleria a maior investigação antidumping da história por valor”, segundo o New York Times. Isso é certamente um tema espinhoso entre os dois parceiros comerciais.
O presidente Obama anunciou formalmente que os EUA apresentarão uma queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC), que diz que o subsídio fornecido pelo governo chinês para autopeças e automóveis está prejudicando os interesses dos fabricantes estadunidenses, segundo a CNN.
As manifestações anti-Japão que engoliram a China desde a semana passada forçaram muitas grandes empresas japonesas a fecharem suas fábricas na China por medo de serem saqueadas ou danificadas. Isso tem preocupado muitos observadores que temem que o comércio sino-japonês sofrerá um impacto de longo termo.
PIB em baixa de 13 anos
Os dados do comércio global continuam a mostrar uma economia chinesa muito lenta. Dados divulgados pela Administração Geral das Alfândegas não mostram crescimento das importações no mês de agosto, mas uma queda de 2,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo a mídia estatal Xinhua.
Este valor foi muito inferior às previsões médias de ganho de 3,4% numa pesquisa da Dow Jones Newswire de 11 economistas e mostra que a demanda doméstica continua a definhar.
As exportações chinesas em agosto mostraram um crescimento anêmico de 2,7% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Como as exportações contribuem para 25% do PIB chinês e criam 200 milhões de empregos, dados econômicos fracos são devastadores para a economia chinesa.
Os economistas previram que esta recessão econômica chinesa durará pelo menos até o terceiro trimestre e o PIB para o ano de 2012 cairá para uma taxa de crescimento de 7,7%, a mais baixa registrada desde 1999, segundo a Reuters.
Investidores despertam para a realidade
“O mundo das previsões está excessivamente fixado na taxa de crescimento da China ficar em 8%? Certamente, os bancos de investimento nos últimos dias tropeçaram em si tentando adivinhar o tamanho do pacote de estímulo da China e se ele manterá a China no caminho certo com valor de crescimento padrão”, escreveu Rahul Jacob, um colunista do Financial Times, em seu blogue.
“Fraser Howie, coautor de Capitalismo Vermelho, recomenda cautela. Ele diz que, embora as pessoas tenham despertado para muitos dos riscos de investir na China nos últimos anos, muitos ainda são muito otimistas e ‘ainda há muitas ilusões’. Um dos equívocos mais perigosos ainda prevalente, diz ele, é a ideia de que o governo chinês é ‘todo-poderoso e que de alguma forma são melhores administradores da economia do que no Ocidente’”, segundo o Financial Times.
Ray Dalio, fundador da maior empresa do mundo de fundos de cobertura, a Bridgewater, previu que o crescimento diminuirá para menos de 5% num discurso proferido na semana passada no Conselho das Relações Exteriores em Nova York.
O pior é que os fatores que têm alimentado o rápido crescimento da economia chinesa na última década estão desaparecendo. Primeiro, o Yuan chinês não é mais considerado subvalorizado. Segundo, o crescimento da população está num impasse. Terceiro, o investimento, que antes contribuiu para mais de 50% do PIB, atingiu seus limites.
Os investidores estão se conscientizando da dura realidade econômica na China. O passado glorioso de incessante e rápido crescimento econômico pode muito bem agora ser uma memória distante.
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http://www.epochtimes.com.br/economia-d ... eu-brilho/
Autor: Yang Chen & Gary Pansey Data: setembro 27, 2012
Investimento, importação e exportação indicam contração
Tubulações de aço utilizadas para andaimes ficam do fora de uma construção apoiando um anúncio que mostra o horizonte da cidade de Pequim em 2 de setembro de 2012. (Mark Ralston/AFP/Getty Images)
Estatísticas recém-lançadas e tensões comerciais crescentes estão se combinando para mostrar uma economia chinesa que está amolecendo e perdendo sua atratividade pelo investimento estrangeiro. Observações recentes de investidores qualificados e exigentes apontam para a necessidade de baixas expectativas.
O investimento estrangeiro direto (IED) na China caiu em agosto 1,4%, em comparação com o mesmo período no ano anterior, tornando-se o terceiro mês consecutivo de declínio.
Outros números do comércio continuam a enfraquecer. As importações em agosto não cresceram pela primeira vez nos últimos sete meses. A taxa de crescimento das exportações também permaneceu fraca em agosto. A Reuters previu que o crescimento do PIB da China em 2012 pode cair para 7%, abaixo do todo-importante 8%, e o mais baixo desde 1999.
O Financial Times relata que a economia da China abrandou e caracteriza a demanda doméstica como insuficiente, as exportações como preocupantes, a eficiência de alocação de capital como caindo e os lucros como escorregando, enquanto a inadimplência sobe e a bolha econômica está estourando.
Investidores proeminentes, sentindo que estas estatísticas sem brilho ilustram que a perspectiva econômica chinesa sempre-vista-como-cor-de-rosa não existe mais e que o fenômeno de crescimento rápido está acabado, parecem estar dispostos a encarar a realidade.
Terceiro declínio consecutivo
O IED foi de 8,326 bilhões de dólares em agosto, uma queda de 1,4% em comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo o Ministério do Comércio. Houve um total de 2.100 empresas estrangeiras recém-criadas na China, um declínio ano-a-ano de 12,72%.
De janeiro a agosto deste ano, 74,994 bilhões de dólares em IED chegaram à China, 3,4% a menos do que 2011. Durante este mesmo período, os investimentos da União Europeia (UE) e dos EUA na China mostraram uma queda de 4,1 e 2,9%, respectivamente. Somente o Japão contrariou a tendência, com um aumento de 16,2% em seu investimento na China.
Este terceiro mês consecutivo de declínio no IED é um mau sinal, já que maio foi o único mês deste ano que o IED mostrou um aumento positivo sobre o ano passado. O Ministério do Comércio também comentou que as perspectivas para o comércio exterior parecem sombrias, pois incertezas múltiplas e fatores instáveis estão afetando o ambiente de negócios. Para os próximos meses, o IED pode ser até pior do que o período entre janeiro e agosto.
Tensão em ebulição
Atualmente, a tensão está em ebulição entre parceiros comerciais da China, a UE, os EUA e o Japão e isso lançará uma sombra sobre as perspectivas do IED uma vez que esses são os maiores investidores estrangeiros.
Em 6 de setembro, a UE iniciou uma investigação sobre o suposto dumping de painéis solares da China “no que equivaleria a maior investigação antidumping da história por valor”, segundo o New York Times. Isso é certamente um tema espinhoso entre os dois parceiros comerciais.
O presidente Obama anunciou formalmente que os EUA apresentarão uma queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC), que diz que o subsídio fornecido pelo governo chinês para autopeças e automóveis está prejudicando os interesses dos fabricantes estadunidenses, segundo a CNN.
As manifestações anti-Japão que engoliram a China desde a semana passada forçaram muitas grandes empresas japonesas a fecharem suas fábricas na China por medo de serem saqueadas ou danificadas. Isso tem preocupado muitos observadores que temem que o comércio sino-japonês sofrerá um impacto de longo termo.
PIB em baixa de 13 anos
Os dados do comércio global continuam a mostrar uma economia chinesa muito lenta. Dados divulgados pela Administração Geral das Alfândegas não mostram crescimento das importações no mês de agosto, mas uma queda de 2,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo a mídia estatal Xinhua.
Este valor foi muito inferior às previsões médias de ganho de 3,4% numa pesquisa da Dow Jones Newswire de 11 economistas e mostra que a demanda doméstica continua a definhar.
As exportações chinesas em agosto mostraram um crescimento anêmico de 2,7% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Como as exportações contribuem para 25% do PIB chinês e criam 200 milhões de empregos, dados econômicos fracos são devastadores para a economia chinesa.
Os economistas previram que esta recessão econômica chinesa durará pelo menos até o terceiro trimestre e o PIB para o ano de 2012 cairá para uma taxa de crescimento de 7,7%, a mais baixa registrada desde 1999, segundo a Reuters.
Investidores despertam para a realidade
“O mundo das previsões está excessivamente fixado na taxa de crescimento da China ficar em 8%? Certamente, os bancos de investimento nos últimos dias tropeçaram em si tentando adivinhar o tamanho do pacote de estímulo da China e se ele manterá a China no caminho certo com valor de crescimento padrão”, escreveu Rahul Jacob, um colunista do Financial Times, em seu blogue.
“Fraser Howie, coautor de Capitalismo Vermelho, recomenda cautela. Ele diz que, embora as pessoas tenham despertado para muitos dos riscos de investir na China nos últimos anos, muitos ainda são muito otimistas e ‘ainda há muitas ilusões’. Um dos equívocos mais perigosos ainda prevalente, diz ele, é a ideia de que o governo chinês é ‘todo-poderoso e que de alguma forma são melhores administradores da economia do que no Ocidente’”, segundo o Financial Times.
Ray Dalio, fundador da maior empresa do mundo de fundos de cobertura, a Bridgewater, previu que o crescimento diminuirá para menos de 5% num discurso proferido na semana passada no Conselho das Relações Exteriores em Nova York.
O pior é que os fatores que têm alimentado o rápido crescimento da economia chinesa na última década estão desaparecendo. Primeiro, o Yuan chinês não é mais considerado subvalorizado. Segundo, o crescimento da população está num impasse. Terceiro, o investimento, que antes contribuiu para mais de 50% do PIB, atingiu seus limites.
Os investidores estão se conscientizando da dura realidade econômica na China. O passado glorioso de incessante e rápido crescimento econômico pode muito bem agora ser uma memória distante.
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Re: Crise Econômica Mundial
Maria da Conceição: otimismo para Brasil, pessimismo para Europa
Fonte: http://www.jb.com.br/economia/noticias/ ... ra-europa/
Fonte: http://www.jb.com.br/economia/noticias/ ... ra-europa/
Economista participou de seminário sobre crise mundial
Jornal do Brasil
Carolina Mazzi
Há motivos para otimismo com o futuro do Brasil, mesmo diante do agravamento da crise econômica internacional. No caminho inverso, a Europa não parece encontrar soluções para os seus problemas e só há razões para “pessimismo”, principalmente para os países periféricos, ou seja, todos com exceção da França e Alemanha. Esta foi uma das muitas questões abordadas pela economista Maria da Conceição Tavares, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), durante o Seminário Internacional “A crise mundial e os desafios de um novo padrão de desenvolvimento”.
Uma das mais conceituadas economistas do Brasil, Conceição criticou duramente as políticas de austeridade promovidas pela Alemanha, que, segundo ela, não parece mais se importar com as condições dos outros países do continente. “Eles antigamente dependiam mais do mercado europeu, mas agora já ampliaram suas relações para a China e outros países. É o que acredito, porque se eles realmente fossem afetados iriam tomar alguma atitude”, afirmou.
A professora citou o alto grau de endividamento das nações europeias, que chega a 100% do PIB (Produto Interno Bruto) de suas economias, que acabou por engessar as políticas de investimento e expansão de crédito. “Não há confiança por parte dos bancos privados para emprestar, fazer empréstimos interbancários, nem para oferecimento de crédito. Os salários estão em queda”, analisou.
A falta de diálogo entre as autoridades do velho continente contribui para que não se tome nenhuma decisão no enfrentamento dos problemas, segundo ela.
E acrescentou: "as instituições estão se utilizando do mercado brasileiro, por exemplo, para manter seus lucros, é só olhar o aumento na remessa de lucros que ocorreu durante a crise. O Santander, por exemplo, 1/4 de seus ganhos está no Brasil".
Brasil
O Brasil, no entanto, está bem preparado para um possível agravamento nas condições externas, acredita Maria da Conceição. “Pela primeira vez temos reservas, não estamos endividados. As consequências em 2008, pelo menos para a população nas questões de emprego e renda, foram indolores, pois continuamos ampliando o mercado de trabalho”.
Segundo destacou, os bancos públicos tem papel essencial em momentos de turbulência econômica, já que fomentam o financiamento e o investimento.
"As políticas anti-cíclicas do governo, nas áreas fiscais e monetárias, contribuíram para que o país continuasse a crescer e expandir seu mercado. Mas é preciso que a taxa de juros caia ainda mais, fique em níveis internacionais, para que possamos aumentar o nível de investimento público e privado, que hoje, é o que mais precisamos", discursou.
Alguns aspectos da realidade nacional se mostram favoráveis no enfrentamento do momento europeu ruim, como a demanda por investimentos públicos, que acaba fomentando o mercado interno, a não-dependência em matérias-primas (como petróleo, por exemplo) e o baixo nível de endividamento. "O que precisamos é fazer proteção aos nossos produtos, implícito ou não. Vivemos em uma era extremamente competitiva", opinou.
Porém, o maior desafio para o país, segundo ela, é continuar com o processo de inclusão social e ataque as desigualdades de renda e sociais que começaram com o governo do presidente Lula (2003-2010). "Não adianta ter crescimento, sem que a população ganhe com isso", argumentou.
Mas, para a economista, um dos grandes riscos que o país corre com o agravamento do cenário externo é uma desnacionalização industrial.
Histórico e críticas
Na apresentação, a especialista ainda fez um breve apanhado histórico da economia nacional e criticou as políticas neoliberais implementadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) durante o seu governo. "Nós fizemos em quatro anos o que demorou 14 para a Tatcher, o que acabou interrompendo um processo de industrialização que acontecia fortemente no país", comentou.
Maria da Conceição ainda citou o pré-sal como um investimento a longo prazo, e diminuiu a euforia em cima da riqueza. "Todo mundo queria um pouco, mas agora já se percebeu que isto é mais pro futuro. Eu discordo de algumas políticas em relação ao petróleo. Sou contra, por exemplo, a redução da carga fiscal, como quer a Maria das Graças Foster, por exemplo", analisou.
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Re: Crise Econômica Mundial
A proteção mencionada no primeiro ponto precisa ser muito bem estudada e por período perfeitamente definido, além de ser coordenada com muitas outras ações (de desonerações à política industrial de verdade), do contrário acabará nos levando de volta ao tempo das carroças e ábacos. O que precisaríamos seria alavancar nossa capacidade de desenvolver produtos competitivos que não precisassem de proteção.Paisano escreveu:Maria da Conceição: otimismo para Brasil, pessimismo para Europa
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"O que precisamos é fazer proteção aos nossos produtos, implícito ou não. Vivemos em uma era extremamente competitiva", opinou.
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Mas, para a economista, um dos grandes riscos que o país corre com o agravamento do cenário externo é uma desnacionalização industrial.
Mas aí entra em questão o segundo ponto. A desnacionalização industrial já é uma realidade na maioria dos campos de maior importância, e desta forma o sonho de uma indústria brasileira capaz de criar produtos competitivos se evapora. Acabei de saber por exemplo que o projeto de um novo automóvel que deveria ser iniciado ano que vem pela VW do Brasil foi transferido para a China, para ser desenvolvido pelos engenheiros e técnicos de lá e depois apenas produzido aqui. Só em termos de engenheiros de análise de processos e projetistas de ferramentas calculamos que uns 200 a 300 profissionais altamente especializados e bem remunerados seriam necessários pelos próximos dois anos apenas para o desenvolvimento das peças de chapa metálica deste projeto, sem falar em todo o resto (a empresa em que trabalho agora é dedicada à tecnologia de conformação de chapas de carroceria). Estas preciosas vagas de trabalho e o conhecimento a ser exercitado com elas vão ajudar no desenvolvimento da China e não ao do Brasil. Por causa de uma decisão tomada na Alemanha.
Leandro G. Card
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Re: Crise Econômica Mundial
A solução da Maria Conceição Tavares, Wilson Cano, Bresser-Pereira e outros idosos é "velha". Eles querem retomar o período em que o país era fechado as importações de produtos industrializados e ignorar se os produtos são piores e falta incentivo a competição. Além de proporem taxar as exportações os setores produtores de matérias-primas e por toda a culpa no câmbio. Praticamente, um retorno ao velho modelo de substituição de importações dos anos 1960.
Nos dias atuais o objetivo é diferente. A integração com a economia mundial é considerada fundamental, tal como, agregar valor e ser competitivo no cenário internacional. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, fez carreira defendendo esse tipo de política industrial e não é bobo. Outros nomes seguem o mesmo caminho. As desonerações, programas de inovação, privatização, direcionamento de crédito entre outras saíram da cabeças desse pessoal. Está aquém do que deveria, mas tem algum foco.
A própria proteção a industria e as medidas protecionistas pode ser usada como moeda de troca para direcionar a integração das cadeias produtivas no futuro. Por exemplo, nos últimos dias o governo dos EUA estão reclamando das medidas protecionistas brasileiras e, a Dilma, dos países desenvolvidos. Ambas as medidas estão dentro da margem de manobra proporcionada pelos acordos da OMC. Não existe como pedir uma retaliação. Então, a solução é conversar e costurar acordos. Na verdade o Brasil é um dos poucos países que os norte-americanos tem superávit comercial.
Nesta semana estava lendo um artigo do Samuel Pinheiro Guimarães sobre as possibilidades de um acordo de livre comércio com a China. Tive a forte impressão que ele vê com muito bons olhos ficar exportando commodities para China. Simplesmente por que é a China. Ainda bem que o lobby da industria e do resto do pessoal do governo é forte possuem fortes resistência na abertura comercial com os chineses.
Nos dias atuais o objetivo é diferente. A integração com a economia mundial é considerada fundamental, tal como, agregar valor e ser competitivo no cenário internacional. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, fez carreira defendendo esse tipo de política industrial e não é bobo. Outros nomes seguem o mesmo caminho. As desonerações, programas de inovação, privatização, direcionamento de crédito entre outras saíram da cabeças desse pessoal. Está aquém do que deveria, mas tem algum foco.
A própria proteção a industria e as medidas protecionistas pode ser usada como moeda de troca para direcionar a integração das cadeias produtivas no futuro. Por exemplo, nos últimos dias o governo dos EUA estão reclamando das medidas protecionistas brasileiras e, a Dilma, dos países desenvolvidos. Ambas as medidas estão dentro da margem de manobra proporcionada pelos acordos da OMC. Não existe como pedir uma retaliação. Então, a solução é conversar e costurar acordos. Na verdade o Brasil é um dos poucos países que os norte-americanos tem superávit comercial.
Nesta semana estava lendo um artigo do Samuel Pinheiro Guimarães sobre as possibilidades de um acordo de livre comércio com a China. Tive a forte impressão que ele vê com muito bons olhos ficar exportando commodities para China. Simplesmente por que é a China. Ainda bem que o lobby da industria e do resto do pessoal do governo é forte possuem fortes resistência na abertura comercial com os chineses.
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Re: Crise Econômica Mundial
http://www.imf.org/external/mmedia/view ... 0771689001
Video do FMI sobre a Letônia, um caso de "sucesso".
Video do FMI sobre a Letônia, um caso de "sucesso".
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
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Re: Crise Econômica Mundial
07/10/2012 às 08:00 - Atualizado em 07/10/2012 às 09:47
Mundo desacelera e ameaça ritmo de expansão do Brasil
Agência Estado Fernando Dantas
O mundo é uma ameaça ao crescimento do Brasil nos dois últimos anos do mandato da presidente Dilma Rousseff. Agora, porém, os riscos globais mudaram de natureza. O que preocupa não é mais algum desastre de grande proporção, como uma ruptura da zona do euro. Não que isso não possa acontecer ainda, mas é uma hipótese temporariamente afastada com o maior ativismo do Banco Central Europeu (BCE). O problema agora é que, mesmo sem nenhuma catástrofe, há a perspectiva de longos anos de crescimento baixo e estagnação no mundo avançado, além da desaceleração chinesa.
"Passamos uma fase aguda da crise, houve alguma recuperação, mas ela não se mostrou plena, e agora estamos na fase crônica da crise", diz José Julio Senna, sócio-diretor da MCM Consultores. Ele nota que a demanda interna dos Estados Unidos cresceu a um ritmo médio de 3,5% ao ano da década de 90 até 2007. Desde a crise de 2008 e 2009, porém, o avanço anual tem sido inferior a 2%.
Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra, observa que o Brasil está numa boa posição para crescer neste momento, com uma retomada que deve ter no terceiro trimestre o melhor desempenho econômico desde 2010. Ainda assim, ele projeta crescimento de 3,5% em 2013, inferior à média das previsões de mercado, de 4%.
Na quinta-feira, um discurso de Luiz Awazu Pereira da Silva, diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), causou impacto e fez as taxas de juros no mercado futuro desabarem, indicando, para alguns, que a queda da Selic poderia ir além dos 7,25% (com mais um corte de 0,25 ponto porcentual) previstos para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
No discurso, Awazu disse que "o que está talvez surgindo como uma nova questão mais recentemente é o efeito da persistência desse quadro de crescimento medíocre por um período mais prolongado do que originalmente se antecipava, uma espécie de extensão do Japão pós-bolha".
Recentemente, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, disse que a economia mundial vai levar pelo menos dez anos para emergir da crise financeira iniciada em 2008. Isso significa que haverá mais de cinco anos ainda pela frente.
Kawall nota que há uma aparente contradição entre os mercados, com o índice S&P dos Estados Unidos tendo atingido na sexta-feira o seu nível mais alto desde o início da crise, e as perspectivas da economia global. Ele atribui o desempenho do mercado à disposição do Federal Reserve (Fed, banco central americano) e do BCE de fazerem mais injeções de liquidez na economia.
No caso do Fed, é a terceira rodada de "afrouxamento quantitativo", ou compra de títulos de longo prazo em poder de mercado, o chamado QE3, da sigla em inglês. Já o BCE tem o OMT, siga em inglês para "transações diretas de mercado", que é um programa de compras ilimitadas de bônus emitidos pelos países da zona do euro. O OMT contribui bastante para reduzir o temor dos mercados de algum evento desastroso na Europa, como a ruptura do euro.
Reativação. O problema, porém, é que agora os mercados e os analistas começam a se dar conta de que remover o risco de um evento catastrófico não significa reativar a economia do mundo avançado.
Além das sucessivas decepções com a retomada americana (ainda que a taxa de desemprego tenha caído para 7,8% em setembro, o menor nível desde o início do governo de Barack Obama), há também o problema de que a crise do euro parece estar atingindo economias centrais, como a Alemanha e a França.
"As exportações da Alemanha já estão com crescimento praticamente zero", diz Senna, da MCM. Um problema adicional para as perspectivas de crescimento do mundo é a política fiscal dos países ricos. Grandes economias como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha e a França já estão fazendo ou devem fazer ajuste fiscal.
E há ainda os países com a dívida pública em trajetória insustentável, como lembra Kawall: "Já não estamos mais falando apenas da Grécia, mas também da Espanha e, eventualmente, da Itália, e de Portugal e Irlanda".
A China, finalmente, busca reequilibrar sua economia, com crescimento mais voltado ao consumo interno, e menos às exportações e investimentos. A desaceleração chinesa afeta os exportadores de matérias-primas, como Brasil e Austrália. No caso australiano, os sinais recentes de fraqueza da economia levaram o banco central do país a reduzir inesperadamente os juros na semana passada.
Apesar de o crescimento brasileiro estar em aceleração, baseado no mercado interno, e com a política de estímulos e redução de juros, Senna e Kawall acham que a influência da economia global não pode ser ignorada. Há a queda das exportações, e a competição dos importados no mercado nacional.
Um problema adicional, avalia Kawall, é que vários setores industriais estão sendo afetados pela capacidade ociosa no mundo, o que desestimula os investimentos. Ele cita segmentos como siderurgia, mineração, papel e celulose e indústria química pesada. "Esse é um fator que pune a nossa recuperação do investimento", conclui o economista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://eleicoes.odiario.com/economia/no ... do-brasil/
Mundo desacelera e ameaça ritmo de expansão do Brasil
Agência Estado Fernando Dantas
O mundo é uma ameaça ao crescimento do Brasil nos dois últimos anos do mandato da presidente Dilma Rousseff. Agora, porém, os riscos globais mudaram de natureza. O que preocupa não é mais algum desastre de grande proporção, como uma ruptura da zona do euro. Não que isso não possa acontecer ainda, mas é uma hipótese temporariamente afastada com o maior ativismo do Banco Central Europeu (BCE). O problema agora é que, mesmo sem nenhuma catástrofe, há a perspectiva de longos anos de crescimento baixo e estagnação no mundo avançado, além da desaceleração chinesa.
"Passamos uma fase aguda da crise, houve alguma recuperação, mas ela não se mostrou plena, e agora estamos na fase crônica da crise", diz José Julio Senna, sócio-diretor da MCM Consultores. Ele nota que a demanda interna dos Estados Unidos cresceu a um ritmo médio de 3,5% ao ano da década de 90 até 2007. Desde a crise de 2008 e 2009, porém, o avanço anual tem sido inferior a 2%.
Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra, observa que o Brasil está numa boa posição para crescer neste momento, com uma retomada que deve ter no terceiro trimestre o melhor desempenho econômico desde 2010. Ainda assim, ele projeta crescimento de 3,5% em 2013, inferior à média das previsões de mercado, de 4%.
Na quinta-feira, um discurso de Luiz Awazu Pereira da Silva, diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), causou impacto e fez as taxas de juros no mercado futuro desabarem, indicando, para alguns, que a queda da Selic poderia ir além dos 7,25% (com mais um corte de 0,25 ponto porcentual) previstos para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
No discurso, Awazu disse que "o que está talvez surgindo como uma nova questão mais recentemente é o efeito da persistência desse quadro de crescimento medíocre por um período mais prolongado do que originalmente se antecipava, uma espécie de extensão do Japão pós-bolha".
Recentemente, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, disse que a economia mundial vai levar pelo menos dez anos para emergir da crise financeira iniciada em 2008. Isso significa que haverá mais de cinco anos ainda pela frente.
Kawall nota que há uma aparente contradição entre os mercados, com o índice S&P dos Estados Unidos tendo atingido na sexta-feira o seu nível mais alto desde o início da crise, e as perspectivas da economia global. Ele atribui o desempenho do mercado à disposição do Federal Reserve (Fed, banco central americano) e do BCE de fazerem mais injeções de liquidez na economia.
No caso do Fed, é a terceira rodada de "afrouxamento quantitativo", ou compra de títulos de longo prazo em poder de mercado, o chamado QE3, da sigla em inglês. Já o BCE tem o OMT, siga em inglês para "transações diretas de mercado", que é um programa de compras ilimitadas de bônus emitidos pelos países da zona do euro. O OMT contribui bastante para reduzir o temor dos mercados de algum evento desastroso na Europa, como a ruptura do euro.
Reativação. O problema, porém, é que agora os mercados e os analistas começam a se dar conta de que remover o risco de um evento catastrófico não significa reativar a economia do mundo avançado.
Além das sucessivas decepções com a retomada americana (ainda que a taxa de desemprego tenha caído para 7,8% em setembro, o menor nível desde o início do governo de Barack Obama), há também o problema de que a crise do euro parece estar atingindo economias centrais, como a Alemanha e a França.
"As exportações da Alemanha já estão com crescimento praticamente zero", diz Senna, da MCM. Um problema adicional para as perspectivas de crescimento do mundo é a política fiscal dos países ricos. Grandes economias como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha e a França já estão fazendo ou devem fazer ajuste fiscal.
E há ainda os países com a dívida pública em trajetória insustentável, como lembra Kawall: "Já não estamos mais falando apenas da Grécia, mas também da Espanha e, eventualmente, da Itália, e de Portugal e Irlanda".
A China, finalmente, busca reequilibrar sua economia, com crescimento mais voltado ao consumo interno, e menos às exportações e investimentos. A desaceleração chinesa afeta os exportadores de matérias-primas, como Brasil e Austrália. No caso australiano, os sinais recentes de fraqueza da economia levaram o banco central do país a reduzir inesperadamente os juros na semana passada.
Apesar de o crescimento brasileiro estar em aceleração, baseado no mercado interno, e com a política de estímulos e redução de juros, Senna e Kawall acham que a influência da economia global não pode ser ignorada. Há a queda das exportações, e a competição dos importados no mercado nacional.
Um problema adicional, avalia Kawall, é que vários setores industriais estão sendo afetados pela capacidade ociosa no mundo, o que desestimula os investimentos. Ele cita segmentos como siderurgia, mineração, papel e celulose e indústria química pesada. "Esse é um fator que pune a nossa recuperação do investimento", conclui o economista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Re: Crise Econômica Mundial
Bourne:
Por acaso este Samuel é ligado ao PSDB? Parece o sonho de FHC atrelar o Brasil a economia dos EUA, através da ALCA e vendermos commodities para os EUA, seriamos como Porto Rico. Graças a DEus deu errado.
Nesta semana estava lendo um artigo do Samuel Pinheiro Guimarães sobre as possibilidades de um acordo de livre comércio com a China. Tive a forte impressão que ele vê com muito bons olhos ficar exportando commodities para China. Simplesmente por que é a China. Ainda bem que o lobby da industria e do resto do pessoal do governo é forte possuem fortes resistência na abertura comercial com os chineses.
Por acaso este Samuel é ligado ao PSDB? Parece o sonho de FHC atrelar o Brasil a economia dos EUA, através da ALCA e vendermos commodities para os EUA, seriamos como Porto Rico. Graças a DEus deu errado.
- akivrx78
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Re: Crise Econômica Mundial
Japão evitou 'via europeia' e driblou crise com mais gastos
Rupert Wingfield-Hayes
Da BBC News em Tóquio
Atualizado em 10 de outubro, 2012 - 08:08 (Brasília) 11:08 GMT
Centro de Tóquio: economia está crescendo, mas a dívida pública também
Há vinte anos, o Japão teve de enfrentar uma situação de crise bancário semelhante à que a Europa e os EUA estão tentando contornar agora, mas não apelou para duras medidas de austeridade para resolver a situação.
Nos anos seguintes, o Japão viveu uma de suas piores crises, mas evitou o colapso vislumbrado por algumas economias europeias. As ruas de Tóquio não foram palco de manifestações violentas, o desemprego permaneceu baixo e a economia continuou a crescer, embora lentamente.
Como o Japão evitou o "caminho europeu"?
Para simplificar: o governo japonês tomou uma série de medidas para aumentar seus gastos e o nível de consumo na economia.
Painéis solares
Exemplos dessas medidas são visíveis pelo país. Em uma rua estreita, no sul de Tóquio, um grupo de jovens descarrega novos painéis solares de uma caminhonete para instalá-los no telhado de uma casa.
Hideharu Terasawa, dono da loja que vende os painéis, diz que as vendas só têm se mantido em níveis razoáveis graças a subsídios do governo.
O telhado pertence a uma jovem dona de casa que tem um bebê de um ano de idade. Motoyoshi pagaria pelos painéis US$ 25 mil (R$ 50,9 mil). Mas, em Tóquio, até metade dos custos são cobertos por esses subsídios governamentais.
"Quando ouvi que os subsídios poderiam acabar, decidi que era hora de instalar os painéis", diz Motoyoshi.
O esquema faz parte do mais recente plano do governo japonês para estimular o consumo.
A loja de produtos elétricos de Terasawa fica no norte de Tóquio e ele conta que os últimos anos têm sido complicados para os negócios. A venda e instalação de painéis solares foi uma exceção.
"Sem subsídios, não haveria negócios", diz ele. "Não sei como vou vender painéis quando a ajuda acabar."
Não há dúvidas, portanto, que o esquema é bom tanto para Motoyoshi quanto para Terasawa. Mas talvez não seja tão interessante para o filho de Motoyoshi, Ko Chan. Com um ano, ele já deve US$ 100 mil (R$ 203,5 mil) - a sua parte da dívida nacional japonesa.
Hideharu Terasawa diz que subsídios do governo ajudam os negócios
Gastos
A quantidade de recursos que o governo japonês gastou nos últimos 20 anos para impulsionar a economia é impressionante.
Só na década de 90, foram gastos cerca de US$ 2 trilhões (R$ 4 trilhões) em obras de infra-estrutura, rodovias, estradas, pontes e túneis. E a gastança continua.
O mais novo anel viário de Tóquio está a uma hora do centro da cidade e corta imensas montanhas verdes com túneis que chegam a dois quilômetros de extensão. Seu custo teria sido de US$ 1 milhão (R$ 2 milhões) por metro.
Yoshihiro Hashimoto vive em um desses vales que no passado eram áreas bucólicas, repletas de tranqüilidade. Hoje são cortados por rodovias.
Para ele, as novas estradas não são apenas desagradáveis para os olhos, mas também um desperdício de dinheiro.
Antes da construção, acreditava-se que 50 mil veículos passariam pelo novo anel viário todos os dia. Segundo Hashimoto, hoje o número de carros circulando por essa via não passa de 10 mil.
"O governo está construindo estradas como essa em todo o Japão", diz ele. "Temos trilhões de ienes em dívida, mas eles continuam a construir mais e mais. Estou realmente preocupado com o legado que estamos deixando para as próximas gerações."
Dívida
O índice de desemprego japonês, de 4,2%, é baixo se comparado ao da maioria dos países da OCDE e a economia do país está em expansão. Neste ano, o PIB deve crescer 2,2% - uma cifra que a maioria dos países europeus hoje adoraria alcançar.
Mas o Japão também está ficando famoso por sua sede de concreto. Há pontes que não levam a lugar nenhum e 70% da costa japonesa já está asfaltada.
Um dos exemplos mais infames de desperdício é um museu de arte moderna erguido na cidade de Nagoya.
Foram gastos tantos recursos na construção do edifício que não sobrou dinheiro para comprar as obras de arte que seriam expostas em suas salas e corredores.
O lado positivo da gastança é que o Japão não exibe hoje os traços típicos de uma economia em crise.
Essa é, inclusive, uma das primeiras coisas que os estrangeiros notam ao chegar em Tóquio. Os carros são novos, os trens, reluzentes e os edifícios, modernos.
Mas o custo desse crescimento é grande - a maior dívida pública do mundo, de US$ 13 trilhões (R$ 26 trilhões).
Tal nível de endividamento pode acabar criando uma nova crise. E, mesmo se esse risco for evitado, as contas que terão de ser pagas pela próxima geração são assustadoras.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... e_ru.shtml
Rupert Wingfield-Hayes
Da BBC News em Tóquio
Atualizado em 10 de outubro, 2012 - 08:08 (Brasília) 11:08 GMT
Centro de Tóquio: economia está crescendo, mas a dívida pública também
Há vinte anos, o Japão teve de enfrentar uma situação de crise bancário semelhante à que a Europa e os EUA estão tentando contornar agora, mas não apelou para duras medidas de austeridade para resolver a situação.
Nos anos seguintes, o Japão viveu uma de suas piores crises, mas evitou o colapso vislumbrado por algumas economias europeias. As ruas de Tóquio não foram palco de manifestações violentas, o desemprego permaneceu baixo e a economia continuou a crescer, embora lentamente.
Como o Japão evitou o "caminho europeu"?
Para simplificar: o governo japonês tomou uma série de medidas para aumentar seus gastos e o nível de consumo na economia.
Painéis solares
Exemplos dessas medidas são visíveis pelo país. Em uma rua estreita, no sul de Tóquio, um grupo de jovens descarrega novos painéis solares de uma caminhonete para instalá-los no telhado de uma casa.
Hideharu Terasawa, dono da loja que vende os painéis, diz que as vendas só têm se mantido em níveis razoáveis graças a subsídios do governo.
O telhado pertence a uma jovem dona de casa que tem um bebê de um ano de idade. Motoyoshi pagaria pelos painéis US$ 25 mil (R$ 50,9 mil). Mas, em Tóquio, até metade dos custos são cobertos por esses subsídios governamentais.
"Quando ouvi que os subsídios poderiam acabar, decidi que era hora de instalar os painéis", diz Motoyoshi.
O esquema faz parte do mais recente plano do governo japonês para estimular o consumo.
A loja de produtos elétricos de Terasawa fica no norte de Tóquio e ele conta que os últimos anos têm sido complicados para os negócios. A venda e instalação de painéis solares foi uma exceção.
"Sem subsídios, não haveria negócios", diz ele. "Não sei como vou vender painéis quando a ajuda acabar."
Não há dúvidas, portanto, que o esquema é bom tanto para Motoyoshi quanto para Terasawa. Mas talvez não seja tão interessante para o filho de Motoyoshi, Ko Chan. Com um ano, ele já deve US$ 100 mil (R$ 203,5 mil) - a sua parte da dívida nacional japonesa.
Hideharu Terasawa diz que subsídios do governo ajudam os negócios
Gastos
A quantidade de recursos que o governo japonês gastou nos últimos 20 anos para impulsionar a economia é impressionante.
Só na década de 90, foram gastos cerca de US$ 2 trilhões (R$ 4 trilhões) em obras de infra-estrutura, rodovias, estradas, pontes e túneis. E a gastança continua.
O mais novo anel viário de Tóquio está a uma hora do centro da cidade e corta imensas montanhas verdes com túneis que chegam a dois quilômetros de extensão. Seu custo teria sido de US$ 1 milhão (R$ 2 milhões) por metro.
Yoshihiro Hashimoto vive em um desses vales que no passado eram áreas bucólicas, repletas de tranqüilidade. Hoje são cortados por rodovias.
Para ele, as novas estradas não são apenas desagradáveis para os olhos, mas também um desperdício de dinheiro.
Antes da construção, acreditava-se que 50 mil veículos passariam pelo novo anel viário todos os dia. Segundo Hashimoto, hoje o número de carros circulando por essa via não passa de 10 mil.
"O governo está construindo estradas como essa em todo o Japão", diz ele. "Temos trilhões de ienes em dívida, mas eles continuam a construir mais e mais. Estou realmente preocupado com o legado que estamos deixando para as próximas gerações."
Dívida
O índice de desemprego japonês, de 4,2%, é baixo se comparado ao da maioria dos países da OCDE e a economia do país está em expansão. Neste ano, o PIB deve crescer 2,2% - uma cifra que a maioria dos países europeus hoje adoraria alcançar.
Mas o Japão também está ficando famoso por sua sede de concreto. Há pontes que não levam a lugar nenhum e 70% da costa japonesa já está asfaltada.
Um dos exemplos mais infames de desperdício é um museu de arte moderna erguido na cidade de Nagoya.
Foram gastos tantos recursos na construção do edifício que não sobrou dinheiro para comprar as obras de arte que seriam expostas em suas salas e corredores.
O lado positivo da gastança é que o Japão não exibe hoje os traços típicos de uma economia em crise.
Essa é, inclusive, uma das primeiras coisas que os estrangeiros notam ao chegar em Tóquio. Os carros são novos, os trens, reluzentes e os edifícios, modernos.
Mas o custo desse crescimento é grande - a maior dívida pública do mundo, de US$ 13 trilhões (R$ 26 trilhões).
Tal nível de endividamento pode acabar criando uma nova crise. E, mesmo se esse risco for evitado, as contas que terão de ser pagas pela próxima geração são assustadoras.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... e_ru.shtml
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Re: Crise Econômica Mundial
RESERVAS INTERNACIONAIS BRASILEIRAS em 08 de outubro de 2012: US$ 378,494 bilhões.
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)