RÚSSIA
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Russos começaram a duvidar da liderança do país na área de espaço.
O número de russos que reconhecem a liderança de nosso país na exploração do espaço, ao longo dos quatro anos reduziu duas vezes, segundo a sondagem realizada pelo fundo Opinião Pública.
De acordo com os dados adquiridos, 33% dos entrevistados acreditam que a Rússia é o líder da corrida espacial, no entanto, em 2008, 56% compartilharam esta opinhão. 47% dos entrevistados acreditam que a Rússia perdeu a liderança nesta área.
No início de agosto, a Agência Espacial Federal realizou o lançamento fracassado de dois satélites, usando a foguete portador Proton-M, infelizmente, o caso não foi único.
A pesquisa revelou que 16% acreditam que a principal razão destes fracassos foi a falta de especialistas, e 12% acusam os funcionários irresponsáveis do departamento.
http://portuguese.ruvr.ru/2012_08_22/85905889/
O número de russos que reconhecem a liderança de nosso país na exploração do espaço, ao longo dos quatro anos reduziu duas vezes, segundo a sondagem realizada pelo fundo Opinião Pública.
De acordo com os dados adquiridos, 33% dos entrevistados acreditam que a Rússia é o líder da corrida espacial, no entanto, em 2008, 56% compartilharam esta opinhão. 47% dos entrevistados acreditam que a Rússia perdeu a liderança nesta área.
No início de agosto, a Agência Espacial Federal realizou o lançamento fracassado de dois satélites, usando a foguete portador Proton-M, infelizmente, o caso não foi único.
A pesquisa revelou que 16% acreditam que a principal razão destes fracassos foi a falta de especialistas, e 12% acusam os funcionários irresponsáveis do departamento.
http://portuguese.ruvr.ru/2012_08_22/85905889/
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
“A Rússia é nosso principal parceiro estratégico”
22/08/2012
Rossiyskaya Gazeta
Na última segunda-feira (20), o conselheiro de Estado da China, Dai Bingguo, concordou em conceder uma entrevista por escrito ao jornal russo “Rossiskaia Gazeta” antes da convocação da sétima rodada de consultas sobre segurança estratégica China-Rússia. Além de abordar a parceria com a Rússia e táticas para resolução do conflito sírio, diplomata chinês comentou sobre possíveis caminhos para convivência pacífica com os EUA.
Rossiyskaya Gazeta: É de conhecimento geral que as relações sino-russas alcançaram níveis sem precedentes nos últimos anos e os dois países tornaram-se verdadeiros parceiros estratégicos. No futuro, quais são as principais áreas em que as partes pretendem fortalecer os laços?
Dai Bingguo: A China e a Rússia estão passando por uma fase importante. Ambas as partes apresentam boas oportunidades de desenvolvimento, além de complementares. Por serem os principais parceiros em termos de cooperação, o relacionamento bilateral tem um potencial enorme. E os dois países devem permanecer firmes no desenvolvimento de um amplo relacionamento estratégico.
No futuro próximo, a tarefa central é implementar planos de desenvolvimento para as relações sino-russas ao longo da próxima década, bem como fazer com que seus líderes cheguem a um consenso sobre as perspectivas de cooperação.
Entre as atividades a serem colocadas em prática, devemos ampliar o apoio político mútuo para preservar nossas respectivas soberanias nacionais, segurança, desenvolvimento e outros interesses centrais.
Também é preciso aproveitar ao máximo a cooperação pragmática, sobretudo em grandes projetos estratégicos, aumentando a qualidade e a escala da parceria econômica, e esforçando-se para alcançar a meta de US$ 100 bilhões em comércio bilateral antes de 2015.
Além disso, devemos aumentar o intercâmbio cultural, sobretudo entre os jovens, aprofundando a compreensão mútua e a amizade entre os povos, assim como fortalecer a coordenação em assuntos internacionais. Nosso trabalho conjunto deve promover o desenvolvimento da ordem internacional em uma direção mais justa e ponderada, incentivando a paz, a segurança e a estabilidade não só da região, mas do mundo inteiro.
RG: A Rússia e a China têm assumido uma postura consistente em votações sobre a Síria na ONU, atitude condenada por alguns países ocidentais. Que medidas a China deve adotar na próxima reunião das Nações Unidas?
DB: A situação síria torna-se cada vez mais grave, pois a crise continua atenuada e gera preocupação em todos nós. A China se opõe e condena todas as formas de terrorismo e quaisquer atos de violência contra civis inocentes.
Para resolvermos o problema de uma vez por todas, devemos nos concentrar em uma solução política, e pressionar todos os lados a aceitar o cessar-fogo imediato. O comportamento da comunidade internacional sobre a questão da Síria deve respeitar os objetivos e princípios da Cartilha das Nações Unidas e as normas básicas das relações internacionais.
É preciso ajudar a acalmar a situação tensa na Síria, promover o diálogo político, resolver o conflito e preservar a paz e a estabilidade no Oriente Médio.
A China não tem interesses próprios nessa questão e sempre manteve uma posição justa e objetiva. Respeitamos a escolha do povo sírio, sem tomar partidos, e somos contra interferir na política interna de outros países e forçar a mudança de regime.
Com responsabilidade e compromisso, assumimos uma postura ativa na promoção de negociações de paz. Participamos de forma construtiva das discussões da ONU, utilizando a nossa posição para apoiar e cooperar com os esforços de mediação de Kofi Annan, enviado especial da ONU e da Liga dos Países Árabes.
Realizamos todos os esforços possíveis para implementar as resoluções do Conselho de Segurança e do relatório apresentado pelos ministros das Relações Exteriores do Grupo de Ação sobre a Síria.
RG: Como o lado chinês vai responder à mudança estratégica dos Estados Unidos em direção à região Ásia-Pacífico?
DB: A crise financeira internacional ainda apresenta consequências profundas e a recuperação da economia mundial caminha a passos lentos.
Nesse contexto, a Ásia-Pacífico mantém um ritmo de crescimento relativamente estável e rápido e as perspectivas são geralmente boas, tornando a região uma importante força motriz da recuperação e do crescimento da economia mundial.
Esse é o resultado dos esforços coletivos dos países dessa área, e reflete o fato de que a paz, a estabilidade e o desenvolvimento são tendências comuns na região.
Esperamos que os Estados Unidos estejam em sintonia com as tendências atuais da Ásia-Pacífico, bem como alinhados com as aspirações dos países da região. É preciso preservar a estabilidade, reforçar a cooperação e estabelecer um desenvolvimento comum. Temos expectativa de que os EUA respeite e proteja os interesses e as preocupações legítimas desses povos, e que contribua para sua estabilidade e prosperidade.
Os EUA estão de um lado do Oceano Pacífico e China está do outro. Ambos devem trabalhar em conjunto, explorar modelos de ganho mútuo e de convivência pacífica, concorrência construtiva e interação positiva na região Ásia-Pacífico.
http://gazetarussa.com.br/articles/2012 ... 15277.html
22/08/2012
Rossiyskaya Gazeta
Na última segunda-feira (20), o conselheiro de Estado da China, Dai Bingguo, concordou em conceder uma entrevista por escrito ao jornal russo “Rossiskaia Gazeta” antes da convocação da sétima rodada de consultas sobre segurança estratégica China-Rússia. Além de abordar a parceria com a Rússia e táticas para resolução do conflito sírio, diplomata chinês comentou sobre possíveis caminhos para convivência pacífica com os EUA.
Rossiyskaya Gazeta: É de conhecimento geral que as relações sino-russas alcançaram níveis sem precedentes nos últimos anos e os dois países tornaram-se verdadeiros parceiros estratégicos. No futuro, quais são as principais áreas em que as partes pretendem fortalecer os laços?
Dai Bingguo: A China e a Rússia estão passando por uma fase importante. Ambas as partes apresentam boas oportunidades de desenvolvimento, além de complementares. Por serem os principais parceiros em termos de cooperação, o relacionamento bilateral tem um potencial enorme. E os dois países devem permanecer firmes no desenvolvimento de um amplo relacionamento estratégico.
No futuro próximo, a tarefa central é implementar planos de desenvolvimento para as relações sino-russas ao longo da próxima década, bem como fazer com que seus líderes cheguem a um consenso sobre as perspectivas de cooperação.
Entre as atividades a serem colocadas em prática, devemos ampliar o apoio político mútuo para preservar nossas respectivas soberanias nacionais, segurança, desenvolvimento e outros interesses centrais.
Também é preciso aproveitar ao máximo a cooperação pragmática, sobretudo em grandes projetos estratégicos, aumentando a qualidade e a escala da parceria econômica, e esforçando-se para alcançar a meta de US$ 100 bilhões em comércio bilateral antes de 2015.
Além disso, devemos aumentar o intercâmbio cultural, sobretudo entre os jovens, aprofundando a compreensão mútua e a amizade entre os povos, assim como fortalecer a coordenação em assuntos internacionais. Nosso trabalho conjunto deve promover o desenvolvimento da ordem internacional em uma direção mais justa e ponderada, incentivando a paz, a segurança e a estabilidade não só da região, mas do mundo inteiro.
RG: A Rússia e a China têm assumido uma postura consistente em votações sobre a Síria na ONU, atitude condenada por alguns países ocidentais. Que medidas a China deve adotar na próxima reunião das Nações Unidas?
DB: A situação síria torna-se cada vez mais grave, pois a crise continua atenuada e gera preocupação em todos nós. A China se opõe e condena todas as formas de terrorismo e quaisquer atos de violência contra civis inocentes.
Para resolvermos o problema de uma vez por todas, devemos nos concentrar em uma solução política, e pressionar todos os lados a aceitar o cessar-fogo imediato. O comportamento da comunidade internacional sobre a questão da Síria deve respeitar os objetivos e princípios da Cartilha das Nações Unidas e as normas básicas das relações internacionais.
É preciso ajudar a acalmar a situação tensa na Síria, promover o diálogo político, resolver o conflito e preservar a paz e a estabilidade no Oriente Médio.
A China não tem interesses próprios nessa questão e sempre manteve uma posição justa e objetiva. Respeitamos a escolha do povo sírio, sem tomar partidos, e somos contra interferir na política interna de outros países e forçar a mudança de regime.
Com responsabilidade e compromisso, assumimos uma postura ativa na promoção de negociações de paz. Participamos de forma construtiva das discussões da ONU, utilizando a nossa posição para apoiar e cooperar com os esforços de mediação de Kofi Annan, enviado especial da ONU e da Liga dos Países Árabes.
Realizamos todos os esforços possíveis para implementar as resoluções do Conselho de Segurança e do relatório apresentado pelos ministros das Relações Exteriores do Grupo de Ação sobre a Síria.
RG: Como o lado chinês vai responder à mudança estratégica dos Estados Unidos em direção à região Ásia-Pacífico?
DB: A crise financeira internacional ainda apresenta consequências profundas e a recuperação da economia mundial caminha a passos lentos.
Nesse contexto, a Ásia-Pacífico mantém um ritmo de crescimento relativamente estável e rápido e as perspectivas são geralmente boas, tornando a região uma importante força motriz da recuperação e do crescimento da economia mundial.
Esse é o resultado dos esforços coletivos dos países dessa área, e reflete o fato de que a paz, a estabilidade e o desenvolvimento são tendências comuns na região.
Esperamos que os Estados Unidos estejam em sintonia com as tendências atuais da Ásia-Pacífico, bem como alinhados com as aspirações dos países da região. É preciso preservar a estabilidade, reforçar a cooperação e estabelecer um desenvolvimento comum. Temos expectativa de que os EUA respeite e proteja os interesses e as preocupações legítimas desses povos, e que contribua para sua estabilidade e prosperidade.
Os EUA estão de um lado do Oceano Pacífico e China está do outro. Ambos devem trabalhar em conjunto, explorar modelos de ganho mútuo e de convivência pacífica, concorrência construtiva e interação positiva na região Ásia-Pacífico.
http://gazetarussa.com.br/articles/2012 ... 15277.html
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Por um império midiático próprio
23/08/2012
Evguêni Chestakov, analista político
Segundo articulista, situação na Síria está normalizada e Ocidente cria em estúdios e cenários cinematográficos notícias de guerra no país. Para ele, estratégia de manipulação faz parte de guerra da informação contra a Rússia, que precisa reagir criando impérios de comunicação internacionais.
Com a situação síria, a Rússia se tornou alvo de uma guerra da informação e não consegue, assim como durante o conflito russo-georgiano, resistir a provocações.
É sabido que os opositores do governo de Damasco usam os veículos de imprensa da Arábia Saudita e do Qatar para divulgar suas opiniões entre os árabes comuns.
As técnicas usadas nessa guerra da informação também são conhecidas: uma rede de televisão exibe, por exemplo, imagens de uma Bagdá destruída por militares norte-americanos durante a campanha contra Saddam Hussein, fazendo-se passar por uma síria atacada pelo exército regular.
Já não é segredo também que foi construído no Qatar um pavilhão com cenários imitando as ruas de Damasco. Lá são filmadas cenas de violência alegadamente praticada por partidários do presidente Bashar Assad contra sunitas.
O objetivo desses “documentários” é demonstrar à comunidade internacional e aos países árabes que a rebelião na Síria tem fins nobres.
Um vídeo real filmado pela oposição nas cidades tomadas, porém, mostra o contrário. Destinado a animar a oposição síria e elevar seu espírito combativo, o vídeo, que casou verdadeiro choque no Ocidente, mostra rebeldes decapitando um homem de mãos atadas e olhos vendados, fuzilando e jogando prisioneiros do telhado.
Na semana passada, jornalistas do Azerbaijão revelaram que os serviços secretos turcos avisaram a oposição síria que iriam parar de ajudá-la se outras imagens de torturas e execuções aparecessem na internet.
A reação da Turquia é completamente lógica. Imagens como essas levam a comunidade internacional a encarar de uma forma diferente o apoio prestado pelo governo turco à oposição síria.
Depois que um vídeo chocante registrando os últimos momentos da vida do coronel Kadafi nas mãos dos revolucionários locais apareceu na internet no ano passado, muitos no Ocidente começaram a refletir sobre quem chegou ao poder na Líbia com a ajuda de armas europeias.
É difícil dizer qual teria sido a reação da opinião pública ocidental se um vídeo mostrando as atrocidades praticadas pelos opositores de Kadafi tivesse circulado na internet no meio da operação militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) naquele país.
No entanto, os políticos da Europa e dos EUA sabem fazer vista grossa aos fatos desagradáveis, recuperando a vista só quando os governos incovenientes acabam derrubados.
A Rússia poderia ter previsto que seria usada na campanha antissíria. Isso ficou claro após a TV árabe noticiar a suposta morte na Síria de um general russo, cuja carteira de identidade teria sido encontrada com o corpo.
No entanto, no mesmo dia, soube-se que o russo com o nome mencionado se encontrava há muito tempo em Moscou e a reportagem não passava de fotomontagem.
Mas isso já não tinha nenhuma importância para os árabes comuns, que receberam assim uma explicação “irrefutável” do porquê a Rússia e a China se opõem a uma intervenção militar estrangeira na Síria.
Outra notícia sensacionalista que não tardou a chegar foi a de que familiares do presidente sírio estava alegadamente ferido e que o próprio Bashar Assad teria a intenção de abandonar o país.
Como prova, os autores da notícia postaram na internet o áudio de uma entrevista com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Mikhail Bogdânov.
Todavia, o homem que falava na fita tinha um russo com forte sotaque estrangeiro. Evidentemente, não era Bogdânov que, segundo a diplomacia russa, não dera quasquer entrevistas ou comentários aos jornalistas sauditas.
Quem quer que tenha falado na fita em nome do alto diplomata russo, não se deu ao trabalho de desmentir oficialmente sua publicação, deixando os árabes comuns convictos de que as informações por eles divulgadas eram verdadeiras.
Nenhum líder poderá, no futuro, permanecer no poder se perder uma guerra da informação contra seu país, mesmo que derrote a oposição e retome o controle da situação.
Ao alcançar sucesso nos campos de batalha internos, o presidente Assad terá, de qualquer maneira, que abandonar o cargo, como exigido por uma oposição irreconciliável. Caso contrário, o governo de Damasco ficará isolado por completo tanto no mundo árabe quanto no Ocidente. Devemos admitir: permanecendo no poder, o líder sírio perdeu a batalha midiática.
A Rússia, por sua vez, deve pensar em criar um império midiático próprio. Hoje, para ser ouvido internacionalmente, o país precisa usar meios de comunicação de outros países e não tem condições para reagir devidamente a provocações midiáticas.
Prova disso foi o conflito russo-georgiano em torno da Ossétia do Sul, em 2008, quando não tínhamos meios de comunicação suficientes para promover internacionalmente nossa posição – enquanto os britânicos têm sua BBC; os americanos, a CNN; o Qatar, a Al-Jazeera. Esses canais de informação são capazes de transmitir a “verdade” de cada um de seus proprietários para todo o mundo.
A Rússia, por outro lado, encontra-se em uma situação de generais que não têm soldados e precisam pedir soldados emprestados a outros países para travar uma batalha. Ela pode, naturalmente, responder à altura das provocações das forças antissírias, mas nem sempre tem condições para levar rapidamente sua posição aos árabes comuns.
O país tem investido bilhões de dólares para modernizar seus equipamentos militares, mas talvez seja hora de investir também na construção de um império midiático ou, pelo menos, na aquisição de uma participação em meios de comunicação de massa estrangeiros.
A arma midiática já não é menos eficaz no cenário internacional do que as armas convencionais. A Rússia deveria pensar em melhorar seus recursos de informação para usá-los não só internamente.
Evguêni Chestakov - editor do balcão de política internacional na Rossiyskaya Gazeta.
http://gazetarussa.com.br/articles/2012 ... 15301.html
23/08/2012
Evguêni Chestakov, analista político
Segundo articulista, situação na Síria está normalizada e Ocidente cria em estúdios e cenários cinematográficos notícias de guerra no país. Para ele, estratégia de manipulação faz parte de guerra da informação contra a Rússia, que precisa reagir criando impérios de comunicação internacionais.
Com a situação síria, a Rússia se tornou alvo de uma guerra da informação e não consegue, assim como durante o conflito russo-georgiano, resistir a provocações.
É sabido que os opositores do governo de Damasco usam os veículos de imprensa da Arábia Saudita e do Qatar para divulgar suas opiniões entre os árabes comuns.
As técnicas usadas nessa guerra da informação também são conhecidas: uma rede de televisão exibe, por exemplo, imagens de uma Bagdá destruída por militares norte-americanos durante a campanha contra Saddam Hussein, fazendo-se passar por uma síria atacada pelo exército regular.
Já não é segredo também que foi construído no Qatar um pavilhão com cenários imitando as ruas de Damasco. Lá são filmadas cenas de violência alegadamente praticada por partidários do presidente Bashar Assad contra sunitas.
O objetivo desses “documentários” é demonstrar à comunidade internacional e aos países árabes que a rebelião na Síria tem fins nobres.
Um vídeo real filmado pela oposição nas cidades tomadas, porém, mostra o contrário. Destinado a animar a oposição síria e elevar seu espírito combativo, o vídeo, que casou verdadeiro choque no Ocidente, mostra rebeldes decapitando um homem de mãos atadas e olhos vendados, fuzilando e jogando prisioneiros do telhado.
Na semana passada, jornalistas do Azerbaijão revelaram que os serviços secretos turcos avisaram a oposição síria que iriam parar de ajudá-la se outras imagens de torturas e execuções aparecessem na internet.
A reação da Turquia é completamente lógica. Imagens como essas levam a comunidade internacional a encarar de uma forma diferente o apoio prestado pelo governo turco à oposição síria.
Depois que um vídeo chocante registrando os últimos momentos da vida do coronel Kadafi nas mãos dos revolucionários locais apareceu na internet no ano passado, muitos no Ocidente começaram a refletir sobre quem chegou ao poder na Líbia com a ajuda de armas europeias.
É difícil dizer qual teria sido a reação da opinião pública ocidental se um vídeo mostrando as atrocidades praticadas pelos opositores de Kadafi tivesse circulado na internet no meio da operação militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) naquele país.
No entanto, os políticos da Europa e dos EUA sabem fazer vista grossa aos fatos desagradáveis, recuperando a vista só quando os governos incovenientes acabam derrubados.
A Rússia poderia ter previsto que seria usada na campanha antissíria. Isso ficou claro após a TV árabe noticiar a suposta morte na Síria de um general russo, cuja carteira de identidade teria sido encontrada com o corpo.
No entanto, no mesmo dia, soube-se que o russo com o nome mencionado se encontrava há muito tempo em Moscou e a reportagem não passava de fotomontagem.
Mas isso já não tinha nenhuma importância para os árabes comuns, que receberam assim uma explicação “irrefutável” do porquê a Rússia e a China se opõem a uma intervenção militar estrangeira na Síria.
Outra notícia sensacionalista que não tardou a chegar foi a de que familiares do presidente sírio estava alegadamente ferido e que o próprio Bashar Assad teria a intenção de abandonar o país.
Como prova, os autores da notícia postaram na internet o áudio de uma entrevista com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Mikhail Bogdânov.
Todavia, o homem que falava na fita tinha um russo com forte sotaque estrangeiro. Evidentemente, não era Bogdânov que, segundo a diplomacia russa, não dera quasquer entrevistas ou comentários aos jornalistas sauditas.
Quem quer que tenha falado na fita em nome do alto diplomata russo, não se deu ao trabalho de desmentir oficialmente sua publicação, deixando os árabes comuns convictos de que as informações por eles divulgadas eram verdadeiras.
Nenhum líder poderá, no futuro, permanecer no poder se perder uma guerra da informação contra seu país, mesmo que derrote a oposição e retome o controle da situação.
Ao alcançar sucesso nos campos de batalha internos, o presidente Assad terá, de qualquer maneira, que abandonar o cargo, como exigido por uma oposição irreconciliável. Caso contrário, o governo de Damasco ficará isolado por completo tanto no mundo árabe quanto no Ocidente. Devemos admitir: permanecendo no poder, o líder sírio perdeu a batalha midiática.
A Rússia, por sua vez, deve pensar em criar um império midiático próprio. Hoje, para ser ouvido internacionalmente, o país precisa usar meios de comunicação de outros países e não tem condições para reagir devidamente a provocações midiáticas.
Prova disso foi o conflito russo-georgiano em torno da Ossétia do Sul, em 2008, quando não tínhamos meios de comunicação suficientes para promover internacionalmente nossa posição – enquanto os britânicos têm sua BBC; os americanos, a CNN; o Qatar, a Al-Jazeera. Esses canais de informação são capazes de transmitir a “verdade” de cada um de seus proprietários para todo o mundo.
A Rússia, por outro lado, encontra-se em uma situação de generais que não têm soldados e precisam pedir soldados emprestados a outros países para travar uma batalha. Ela pode, naturalmente, responder à altura das provocações das forças antissírias, mas nem sempre tem condições para levar rapidamente sua posição aos árabes comuns.
O país tem investido bilhões de dólares para modernizar seus equipamentos militares, mas talvez seja hora de investir também na construção de um império midiático ou, pelo menos, na aquisição de uma participação em meios de comunicação de massa estrangeiros.
A arma midiática já não é menos eficaz no cenário internacional do que as armas convencionais. A Rússia deveria pensar em melhorar seus recursos de informação para usá-los não só internamente.
Evguêni Chestakov - editor do balcão de política internacional na Rossiyskaya Gazeta.
http://gazetarussa.com.br/articles/2012 ... 15301.html
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
“Não sabemos qual é a intenção dos norte-americanos”
23/08/2012
Roman Kretsul, Vzgliad
Ex-comandante-chefe do Arsenal de Mísseis de Destinação Estratégica fala da ameaça dos aviões hipersônicos, capaz de alcançar uma velocidade seis vezes maior do que a do som.
Militares norte-americanos informaram sobre outro lançamento do avião hipersônico X-51A WaveRider não tripulado. Assim como os testes anteriores, a tentativa atual não obteve êxito, mas não se fala em suspensão do programa.
O ex-chefe do Estado-Maior do Arsenal de Mísseis de Destinação Estratégica, coronel-general Víktor Essin, explicou ao jornal russo “Vzgliad” as particularidades desse tipo de míssil e a ameaça representada por ele.
Vzgliad: Qual é o grau de ameaça dessa tecnologia?
Víktor Essin: É prematuro falar sobre o tipo de ameaça que ela pode trazer. Ainda não ficou claro o que os norte-americanos pretendem fazer com esse equipamento. Se o avião for carregado com armas comuns, e não nucleares, trata-se apenas de um recurso da chamada estratégia de ataque global rápido. Isso é menos perigoso para a Rússia.
Mas se o sistema for abastecido com ogivas nucleares, o cenário muda. Quero dizer, no entanto, que a Rússia também está trabalhando na criação desse tipo de jato hipersônico. Inclusive, já realizamos testes, um dos últimos em 2011. Nosso experimento também não foi bem-sucedido, mas essas pesquisas envolvem um campo científico ainda não explorado, por isso não são possíveis avanços imediatos.
A Rússia não está atrasada nesse campo, estamos mais ou menos no mesmo nível.
Vzgliad: Qual é o principal problema da criação do protótipo?
V.E.: O problema está em garantir a estabilidade da estrutura diante das cargas de calor e de força que surgem em resultado da velocidade. O avião fica superaquecido; o material utilizado, pelo visto, perde a estabilidade e se desmantela.
Vzgliad: Quando o equipamento estiver adequadamente desenvolvido, poderá haver algum impedimento ao uso de cargas nucleares?
V.E.: Em princípio pode haver, é claro. Mas não podemos dizer que os americanos tenham informado algo a esse respeito. De acordo com declarações oficiais, esse equipamento não se destina ao uso de ogivas nucleares. Por enquanto, eles dizem que o avião está sendo desenvolvido para atacar alvos pontuais com armas comuns.
Vzgliad: Caso sejam carregados com armas nucleares, até que ponto esses mísseis balísticos intercontinentais podem ser perigosos?
V. E.: O efeito hipersônico consiste em que o avião voa a uma altura de 80, 100 km ou mais. Isso dificulta a identificação do objeto pelo sistema de defesa do espaço aéreo. Por isso o projeto é útil.
Fica difícil acompanhar a ogiva e, consequentemente, ela atinge o alvo com maior êxito do que o foguete balístico intercontinental, cuja trajetória pode ser calculada, permitindo a intercepção através do sistema de defesa antimísseis.
Vzgliad: Existe pelo menos algum projeto de contra-ataque para combater esses jatos?
V. E.: Por enquanto não. Esse tipo de tecnologia é desenvolvida diante de uma ameaça real. Quando isso acontece, é preciso criar um novo sistema. Pode ser que já tenha sido proposta a tarefa de trabalhar nesse sentido, mas eu não ouvi nada a respeito.
Vzgliad: Os sistemas de defesa antiaérea e antimísseis, presentes no equipamento dos exércitos mais avançados do mundo, são capazes de combater esse tipo de avião de algum modo?
V. ?.: Por enquanto, eles não têm condições de combater esse tipo de equipamento. Nem nos EUA nem na Rússia. Por isso, o desenvolvimento dessa tecnologia é prioritário: ela inutiliza os sistemas de defesa antimísseis existentes hoje. Mas a situação é temporária. Essa é uma luta incessante: quando alguém passa à frente, logo outros o alcançam.
Informações extraídas do site do jornal Vzgliad
http://www.vz.ru/society/2012/8/20/594294.html
O X-51A WaveRider foi lançado com sucesso e se desprendeu corretamente do bombardeiro B-52 ao que estava acoplado. Entretanto, após 16 segundos uma das aletas de controle de cruzeiro apresentou uma falha. Depois de separado do foguete, o cruzeiro não conseguiu manter o controle.
http://gazetarussa.com.br/articles/2012 ... 15303.html
23/08/2012
Roman Kretsul, Vzgliad
Ex-comandante-chefe do Arsenal de Mísseis de Destinação Estratégica fala da ameaça dos aviões hipersônicos, capaz de alcançar uma velocidade seis vezes maior do que a do som.
Militares norte-americanos informaram sobre outro lançamento do avião hipersônico X-51A WaveRider não tripulado. Assim como os testes anteriores, a tentativa atual não obteve êxito, mas não se fala em suspensão do programa.
O ex-chefe do Estado-Maior do Arsenal de Mísseis de Destinação Estratégica, coronel-general Víktor Essin, explicou ao jornal russo “Vzgliad” as particularidades desse tipo de míssil e a ameaça representada por ele.
Vzgliad: Qual é o grau de ameaça dessa tecnologia?
Víktor Essin: É prematuro falar sobre o tipo de ameaça que ela pode trazer. Ainda não ficou claro o que os norte-americanos pretendem fazer com esse equipamento. Se o avião for carregado com armas comuns, e não nucleares, trata-se apenas de um recurso da chamada estratégia de ataque global rápido. Isso é menos perigoso para a Rússia.
Mas se o sistema for abastecido com ogivas nucleares, o cenário muda. Quero dizer, no entanto, que a Rússia também está trabalhando na criação desse tipo de jato hipersônico. Inclusive, já realizamos testes, um dos últimos em 2011. Nosso experimento também não foi bem-sucedido, mas essas pesquisas envolvem um campo científico ainda não explorado, por isso não são possíveis avanços imediatos.
A Rússia não está atrasada nesse campo, estamos mais ou menos no mesmo nível.
Vzgliad: Qual é o principal problema da criação do protótipo?
V.E.: O problema está em garantir a estabilidade da estrutura diante das cargas de calor e de força que surgem em resultado da velocidade. O avião fica superaquecido; o material utilizado, pelo visto, perde a estabilidade e se desmantela.
Vzgliad: Quando o equipamento estiver adequadamente desenvolvido, poderá haver algum impedimento ao uso de cargas nucleares?
V.E.: Em princípio pode haver, é claro. Mas não podemos dizer que os americanos tenham informado algo a esse respeito. De acordo com declarações oficiais, esse equipamento não se destina ao uso de ogivas nucleares. Por enquanto, eles dizem que o avião está sendo desenvolvido para atacar alvos pontuais com armas comuns.
Vzgliad: Caso sejam carregados com armas nucleares, até que ponto esses mísseis balísticos intercontinentais podem ser perigosos?
V. E.: O efeito hipersônico consiste em que o avião voa a uma altura de 80, 100 km ou mais. Isso dificulta a identificação do objeto pelo sistema de defesa do espaço aéreo. Por isso o projeto é útil.
Fica difícil acompanhar a ogiva e, consequentemente, ela atinge o alvo com maior êxito do que o foguete balístico intercontinental, cuja trajetória pode ser calculada, permitindo a intercepção através do sistema de defesa antimísseis.
Vzgliad: Existe pelo menos algum projeto de contra-ataque para combater esses jatos?
V. E.: Por enquanto não. Esse tipo de tecnologia é desenvolvida diante de uma ameaça real. Quando isso acontece, é preciso criar um novo sistema. Pode ser que já tenha sido proposta a tarefa de trabalhar nesse sentido, mas eu não ouvi nada a respeito.
Vzgliad: Os sistemas de defesa antiaérea e antimísseis, presentes no equipamento dos exércitos mais avançados do mundo, são capazes de combater esse tipo de avião de algum modo?
V. ?.: Por enquanto, eles não têm condições de combater esse tipo de equipamento. Nem nos EUA nem na Rússia. Por isso, o desenvolvimento dessa tecnologia é prioritário: ela inutiliza os sistemas de defesa antimísseis existentes hoje. Mas a situação é temporária. Essa é uma luta incessante: quando alguém passa à frente, logo outros o alcançam.
Informações extraídas do site do jornal Vzgliad
http://www.vz.ru/society/2012/8/20/594294.html
O X-51A WaveRider foi lançado com sucesso e se desprendeu corretamente do bombardeiro B-52 ao que estava acoplado. Entretanto, após 16 segundos uma das aletas de controle de cruzeiro apresentou uma falha. Depois de separado do foguete, o cruzeiro não conseguiu manter o controle.
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Entrada na OMC para Moscou não será tão positiva.
SUJATA RAO
DA REUTERS, EM LONDRES
Terminou a espera de 19 anos da Rússia para ingressar na OMC (Organização Mundial de Comércio). Infelizmente, o tipo de milagre de exportações e investimento desfrutado pela China, outro integrante dos Brics, após ingressar no clube, provavelmente não atingirá a Rússia.
A China também ficou aguardando na porta da OMC por muito tempo --15 anos. A entrada na organização, em 2001, assinalou o início de uma década em que Pequim quintuplicou suas exportações e impeliu sua economia do 6º para o 2º lugar global.
A economia russa, baseada em commodities, não está igualmente bem posicionada para desfrutar desse tipo de crescimento acelerado.
http://f.i.uol.com.br/folha/mundo/images/12235823.gif
Com os fluxos comerciais e de investimentos mais escassos que há uma década, Moscou terá dificuldade em atrair investimentos em escala semelhante à de Pequim. Mas há muitos pontos positivos a serem destacados.
Moscou terá que revogar suas próprias barreiras tarifárias. As tarifas médias devem cair em um terço. As tarifas sobre carros importados estão previstas para cair à metade até 2019.
As importações mais baratas devem deixar consumidores e empresas com mais dinheiro para gastar. Embora alguns setores não competitivos possam afundar, outros serão abertos aos investimentos estrangeiros.
A Rússia é prejudicada por sua reputação de um capitalismo clientelista, burocracia e desrespeito pelos direitos dos investidores.
Os otimistas esperam que o ingresso na OMC vai infundir um senso de urgência nos desanimados esforços reformistas do Kremlin.
Mas isso não é indicativo de um milagre de crescimento semelhante ao da China.
A existência de uma reserva imensa de mão de obra barata propiciou à China um crescimento muito grande pós-OMC. As exportações de mercadorias subiram mais de 20% ao ano. O fluxo de investimentos estrangeiros diretos entrantes se multiplicou por cinco ao longo da década.
Isso não vai acontecer na Rússia, cujas exportações são dominadas pelo óleo e o gás, que não são sujeitos a barreiras tarifárias. Além disso, o modelo de manufatura em troca de exportações dificilmente vai decolar, devido aos custos relativamente altos da mão de obra russa.
Por ironia, as exportações russas de metais e óleo são mais vulneráveis à desaceleração do crescimento chinês.
Tradução de CLARA ALLAIN
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1141 ... tiva.shtml
SUJATA RAO
DA REUTERS, EM LONDRES
Terminou a espera de 19 anos da Rússia para ingressar na OMC (Organização Mundial de Comércio). Infelizmente, o tipo de milagre de exportações e investimento desfrutado pela China, outro integrante dos Brics, após ingressar no clube, provavelmente não atingirá a Rússia.
A China também ficou aguardando na porta da OMC por muito tempo --15 anos. A entrada na organização, em 2001, assinalou o início de uma década em que Pequim quintuplicou suas exportações e impeliu sua economia do 6º para o 2º lugar global.
A economia russa, baseada em commodities, não está igualmente bem posicionada para desfrutar desse tipo de crescimento acelerado.
http://f.i.uol.com.br/folha/mundo/images/12235823.gif
Com os fluxos comerciais e de investimentos mais escassos que há uma década, Moscou terá dificuldade em atrair investimentos em escala semelhante à de Pequim. Mas há muitos pontos positivos a serem destacados.
Moscou terá que revogar suas próprias barreiras tarifárias. As tarifas médias devem cair em um terço. As tarifas sobre carros importados estão previstas para cair à metade até 2019.
As importações mais baratas devem deixar consumidores e empresas com mais dinheiro para gastar. Embora alguns setores não competitivos possam afundar, outros serão abertos aos investimentos estrangeiros.
A Rússia é prejudicada por sua reputação de um capitalismo clientelista, burocracia e desrespeito pelos direitos dos investidores.
Os otimistas esperam que o ingresso na OMC vai infundir um senso de urgência nos desanimados esforços reformistas do Kremlin.
Mas isso não é indicativo de um milagre de crescimento semelhante ao da China.
A existência de uma reserva imensa de mão de obra barata propiciou à China um crescimento muito grande pós-OMC. As exportações de mercadorias subiram mais de 20% ao ano. O fluxo de investimentos estrangeiros diretos entrantes se multiplicou por cinco ao longo da década.
Isso não vai acontecer na Rússia, cujas exportações são dominadas pelo óleo e o gás, que não são sujeitos a barreiras tarifárias. Além disso, o modelo de manufatura em troca de exportações dificilmente vai decolar, devido aos custos relativamente altos da mão de obra russa.
Por ironia, as exportações russas de metais e óleo são mais vulneráveis à desaceleração do crescimento chinês.
Tradução de CLARA ALLAIN
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1141 ... tiva.shtml
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
CUTUCANDO O URSO.
Philip Giraldi - 23 de agosto de 2012.
Eu confesso que não consigo entender direito a campanha pelos neoconservadores e também um certo número de democratas de ponta para vilificar a Rússia e confrontá-la em toda oportunidade. A Guerra Fria já acabou a mais de vinte anos, mas alguns parecem querer ressuscitá-la. A Rússia evoluiu para uma democracia em desenvolvimento, tem uma imprensa relativamente livre, tem um judiciário que funciona pelo menos alguma parte do tempo, é naturalmente rica e tem uma economia que agora está vinculada ao restante do mundo e está se saindo razoavelmente bem. Pelo lado negativo, ela é atormentada pela corrupção e gangsterismo tanto como por um crescente autoritarismo, mas o russo mediano goza de liberdades nunca antes experimentadas nos dias soviéticos e também pode ver uma contínua melhoria no padrão de vida. O presidente do país, Vladimir Putin, contiuna a ser apoiado pela maioria dos russos, embora a dissensão, admitidamente, esteja crescendo por causa de sua clara relutância em se afastar do poder.
A Rússia tem um bocado a oferecer ao Ocidente. Ela tem bons laços com seus amigos tradicionais no Oriente Médio, Ásia e África, e ainda é vista por muitos governos estrangeiros como uma potência anticolonialista. Isto quer dizer que ela está bem colocada para ajudar a mediar situações de crises com países como Síria e Irã, que não mais confiam em Washington e nos europeus ocidentais. No entanto, ao contrário disto, os Estados Unidos e alguns de seus aliados tem visto a Rússia como uma obstrução, precisamente porque ela se recusa a endossar a "intervenção humanitarista" e a mudança de regime. Mudança de regime não tem funcionado muito bem na Lìbia, Iraque e Afeganistão, e logo veremos o que acontecerá na Síria. A aproximação cautelosa de Moscou é quase com certeza uma opção melhor.
E a Rússia ainda é uma grande potência militar. Ela é o único país no mundo que tem a capacidade de destruir os Estados Unidos, o que qualquer um poderia imaginar ser razão suficiente paa estabelecer uma relação amistosa. A Rússia também tem indicado sua disposição para reduzir seus próprios arsenais nucleares e químicos e para trabalhar com Washington para salvaguardar os estoques nucleares existentes por meio do Programa Cooperativo de Redução de Ameaças bilateral.
Portanto, existem muitas razões para estabelecer um modus vivendi com Moscou e nenhuma boa razão para agir de outra forma, mas, de algum modo, as recriminações continuam. A secretária de estado Hillary Clinton é uma freqüente crítica dos desenvolvimentos na Rússia e o candidato presidencial republicano Mitt Romney rotulou a Rússia como o "inimigo público número um." O líder neocon Robert D. Kaplan atribui a Vladimir Putin, tanto cinismo quanto "banditismo desabrido". Na esteira da avassaladora vitória de Putin nas eleições presidenciais realizadas em março, uma equipe de observadores da Organização para Segurança e Cooperação na Europa observou que tinha havido uma redução nas "flagrantes violações" comparadas com as eleições parlamentares do último dezembro. Putin, ainda assim, "não tinha confrontado nenhuma competição real, beneficiando-se, injustamente, de luxurioso gasto governamental em seu benefício." A acusação soa um pouco como o processo eleitoral em numerosos países, portanto, ninguém pode presumir que a questão real seja o próprio Putin.
Os russos tem um bocado de boas razões para serem paranóicos a respeito do Ocidente e suas intenções. A interação do Ocidente com a nova Rússia começou com o saque da economia russa por empreendedores americanos e europeus nos anos 1990, auxiliados e acobertados pelo corrupto governo de Boris Yeltsin, um idiota útil como nunca houve outro. Isto continuou com a ascenção dos Oligarcas nos anos posteriores, cavalheiros que acabaram o trabalho iniciado pelos primeiros oportunistas. A ascenção de Vladimir Putin pode ser atribuída em parte a sua promessa de levar à justiça os Oligarcas que haviam roubado os recursos naturais do país, embora Putin, compreensivelmente, tenha sido seletivo em seus processos, indo atrás, principalmente, dos bilionários que se opuseram politicamente a ele. Putin também tinha a intenção de rechaçar as tentativas americanas e européias de democratizar e incorporar os regimes ao longo de suas fronteiras, trazendo-os para a órbita americana e até mesmo arrumando a entrada deles na OTAN e na União Européia.
As relações com a Rússia de Putin azedaram quando o primeiro grande julgamento de um Oligarca, Mikhail Khodorkovsky, ocorreu em 2004. Khodorkovsky era, certamente, um crítico de Putin, mas também era um escroque ligado a máfia e muito possivelmente um assassino. Ele foi condenado por fraude e evasão fiscal em 2005 e por acusações de peculato e lavagem de dinheiro em 2010. Depois de seu segundo julgamento, Hillary Clinton disse que a sentença teria "um impacto negativo na reputação da Rússia em manter suas obrigações internacionais com os direitos humanos e melhorar seu ambiente para investimentos," enquanto a Casa Branca de Obama apontou as "alegações de sérias violações do devido processo jurídico e o que parece ser uma abusiva utlização do sistema legal para fins impróprios."
A simpatia por um criminoso de primeira classe aprisionado foi, em grande medida, o resultado da bem-sucedida campanha para influenciar a opinião pública ocidenal. Consultores de relações públicas, ao retratarem Khodorkovsky como um honesto homem-de-negócios e reformista, obtiveram sucesso em levar à frente resoluções por meio da Casa dos Representantes dos Estados Unidos e o Conselho da Europa em seu nome. Porém os comentários de Clinton e Obama revelam um profundo nível de ignorância sobre a recente história da Rússia. Hillary Clinton deveria estar perguntando como foi que Khodorkovsky tornou-se um dos homens mais ricos no mundo em pouco mais de dez anos. Talvez ela e o presidente devessem ter examinado os extensos arquivos sobre Khodorkovsky no FBI, apenas descendo a rua da Casa Branca.
Em 2008, quando a Geórgia atacou a Rússia e foi, logo a seguir, derrotada, Washington acabou apoiando o agressor. Muitos relembrarão o refrão do senador John McCain, "somos todos georgianos agora." O conselheiro de McCain, Randy Scheunemann, também era um conselheiro remunerado do governo georgiano, o governo israelense estava fortemente engajado num contrato governamental americano para treinar e armar os georgianos, e o Avanço Nacional para a Democracia (NED, ou National Endowment for Democracy) estava nas trincheiras trabalhando em sua mais nova revolução pastel na Europa Oriental.
Mais recentemente, nós tivemos o caso Magnitsky, que produziu o Ato de Responsabilização pela Regra da Lei de Sergei Magnitsky, ainda pendente no Congresso, que imporá um congelamento de bens e proibição de viagens para todos os funcionários russos que, alegadamente, estiveram envolvidos. Magnitsky era um advogado e o denunciante que revelou uma fraude fiscal em 2007, relatadamente superando $ 230 milhões. Por sua diligência, ele foi detido, reportadamente torturado e, eventualmente, sendo-lhe negado atendimento médico. Ele morreu na prisão, oito dias antes de sua suposta liberação. Isto foi, para dizer o mínimo, um horrível aborto da justiça, e sua culpa foi atribuída à falta, na Rússia, de um judiciário verdadeiramente independente, combinado com a regra da lei. Como resultado de uma posterior investigação do governo russo, vinte autoridades superiores penitenciárias e policiais foram demitidas.
Putin também excitou a ira das autoridades de Washington quanto reclamou sobre o apoio do NED para os partidos da oposição na Rússia. Para aqueles que não estão familiarizados com a organização, o NED, que tem um braço republicano e outro democrata, é em grande parte bancado pelo Congresso, embora chame a si mesmo de ONG. Ele opera em âmbito mundial para levar a democracia para países estrangeiros. Ele faz isto de um modo grosseiro com mínimo controle de cima, e esteve profundamente envolvido nas numerosas revoluções pastel que fermentaram e então azedaram na Europa Oriental. Por sua própria natureza, ele tende a ser anti-regime, e trabalha primordialmente com os partidos e grupos de oposição, e faz isto abertamente, permitindo aos políticos da oposição serem vistos entrando e saindo da embaixada americana em Moscou. Ele está atualmente envolvido na Síria, e o Egito, recentemente, tentou expelí-lo antes de sucumbir à pressão dos Estados Unidos e permitir a permanência do grupo. Alguns observadores comparam o NED aos velhos programas de ação clandestina da CIA. Putin, ao voltar-se contra o NED enfureceu muitos em Washington porque há um sentimento bipartidário de que os Estados Unidos devem ter permissão para dizer aos outros países como tratar de seus negócios.
Mais recentemnte vimos a historia da Xaninha Turbulenta. Esta é uma banda punk de três mulheres que, realmente, nunca produziram uma só gravação. Isto é, para dizer o mínimo, controverso. O grupo, que está conectado ao NED, encenou uma apresentação no altar da Catedral do Cristo Salvador em Moscou, que foi, corretamente, descrita tanto como blasfema e obscena. Elas foram detidas, julgadas por "baderna motivada por ódio religioso" num julgamento que pareceu carecer muito do devido processo, e agora foram sentenciadas a dois anos numa colônia penal. Os defensores da Xaninha Turbulenta notam que a banda estava exercendo seu direito à livre expressão para atacar Putin, enquanto também denunciava os vínculos próximos da Igreja Ortodoxa Russa com o governo. Numeroso artistas e celebridades do entretenimento como Madonna, Sting e Paul McCartney condenaram a prisão e tanto a Casa Branca quanto o Departamento de Estado consideraram a sentença "desproporcional" com um "impacto negativo na liberdade de expressão na Rússia."
Para sermos justos, Putin tem estado sujeito à críticas mais ásperas de russos dissidentes do que de estrangeiros, um sinal de que a muito sacaneada democracia russa pode estar viva e chutando. Isto é assim, como aliás deveria ser, porque, se os russos escolherem mudar seu governo, precisam fazer isto por sí próprios, sem interferência de organizações como o NED que fornece argumentos ao regime de que a oposição está servindo a interesses estrangeiros. Depois das eleições parlamentares em dezembro, 120 mil manifestantes reuniram-se em Moscou, e seguindo-se a recente eleição de Putin pela terceira vez, 15 mil protestaram na Praça Pushkin.
Poderia-se argumentar razoavelmente que se a política russa fosse, de alguma forma, uma ameaça genuína aos Estados Unidos, então Washington teria o interesse legítimo em agir proativamente para lidar com o perigo, mas ninguém parece afirmar este caso. O criticismo da Rússia está baseado sobre as políticas domésticas do país, sua governança, e as personalidades de seus líderes. Há considerável hipocrisia no ponto de vista americano. Se o protesto da Xaninha Turbulenta tivesse ocorrido numa catedral ou sinagoga em Washington, muitos americanos estariam pedindo por punição tão severa quanto a que foi imposta pela corte russa.
Uma comparação mais ampla entre os Estados Unidos e a Rússia é esclarecedora. A Rússia é escancaradamente corrupta enquanto os Estados Unidos mantém um sistema legal desenhado para o benefício das elites que administram o país, portanto a corrupção é oculta. E os EUA tendem a olhar para o outro lado quando a corrupção envolve um aliado. O Afeganistão é o país mais corrupto do mundo, mesmo assim continua a receber passe livre de Washington e está programado para receber muitos bilhões de dólares na próxima década.
As eleições russas confessadamente não produzem alternativa nenhuma, mas tampouco as eleições nos Estados Unidos, embora por razões diferentes. As cortes na Rússia com freqüência passam vereditos aprovados pelo governo, mas assim o fazem também as cortes nos EUA quando o governo cita segredos de estado. Washington envia o NED para o além-mar, para dizer a outros como governarem a si mesmos, mas reagiria em fúria se os russos ou os iranianos fizessem o mesmo aqui. Se Washington realmente acredita que o tratamento de Khodorkovsky, Magnitsky e a Xaninha Turbulenta foi injusto, deveria talvez, relembrar Jose Padilla, Bradley Manning e Julian Assange. No final das contas, o que se passa num salão da corte de Moscou nada tem a ver com o governo dos Estados Unidos, a menos que um cidadão americano esteja sendo tratado injustamente. E quando Washington sente-se empossado para agir contra autoridades estrangeiras, como no caso Magnitsky, deveria considerar os criminosos de guerra da administração Bush que ainda estão circulando soltos por aí, recolhendo lucrativos honorários por palestras. Quando um presidente ou secretário dos Estados Unidos sente-se compelido a discursar sobre o tratamento de um cidadão estrangeiro numa corte estrangeira, isto deveria estar relacionado a um interesse nacional vital, mas se é assim, fica difícil discernir isto no recente criticismo da Rússia.
Tudo isto é para sugerir que a natureza do governo russo e seus líderes não é da conta dos americanos. Que 120 mil russos possam se reunir nas ruas para protestar contra uma eleição fala bem deles e eles deveriam ser deixados sozinhos para encontrar seu próprio caminho. Quisera que metade desse número de americanos pudesse se reunir para protestar ativamente contra o processo político nos Estados Unidos. Isto seria algo digno de ser visto.
______________________________________
Philip Giraldi, um ex-oficial da CIA, é um contribuidor para o The American Conservative e diretor-executivo do Conselho para o Interesse Nacional.
Philip Giraldi - 23 de agosto de 2012.
Eu confesso que não consigo entender direito a campanha pelos neoconservadores e também um certo número de democratas de ponta para vilificar a Rússia e confrontá-la em toda oportunidade. A Guerra Fria já acabou a mais de vinte anos, mas alguns parecem querer ressuscitá-la. A Rússia evoluiu para uma democracia em desenvolvimento, tem uma imprensa relativamente livre, tem um judiciário que funciona pelo menos alguma parte do tempo, é naturalmente rica e tem uma economia que agora está vinculada ao restante do mundo e está se saindo razoavelmente bem. Pelo lado negativo, ela é atormentada pela corrupção e gangsterismo tanto como por um crescente autoritarismo, mas o russo mediano goza de liberdades nunca antes experimentadas nos dias soviéticos e também pode ver uma contínua melhoria no padrão de vida. O presidente do país, Vladimir Putin, contiuna a ser apoiado pela maioria dos russos, embora a dissensão, admitidamente, esteja crescendo por causa de sua clara relutância em se afastar do poder.
A Rússia tem um bocado a oferecer ao Ocidente. Ela tem bons laços com seus amigos tradicionais no Oriente Médio, Ásia e África, e ainda é vista por muitos governos estrangeiros como uma potência anticolonialista. Isto quer dizer que ela está bem colocada para ajudar a mediar situações de crises com países como Síria e Irã, que não mais confiam em Washington e nos europeus ocidentais. No entanto, ao contrário disto, os Estados Unidos e alguns de seus aliados tem visto a Rússia como uma obstrução, precisamente porque ela se recusa a endossar a "intervenção humanitarista" e a mudança de regime. Mudança de regime não tem funcionado muito bem na Lìbia, Iraque e Afeganistão, e logo veremos o que acontecerá na Síria. A aproximação cautelosa de Moscou é quase com certeza uma opção melhor.
E a Rússia ainda é uma grande potência militar. Ela é o único país no mundo que tem a capacidade de destruir os Estados Unidos, o que qualquer um poderia imaginar ser razão suficiente paa estabelecer uma relação amistosa. A Rússia também tem indicado sua disposição para reduzir seus próprios arsenais nucleares e químicos e para trabalhar com Washington para salvaguardar os estoques nucleares existentes por meio do Programa Cooperativo de Redução de Ameaças bilateral.
Portanto, existem muitas razões para estabelecer um modus vivendi com Moscou e nenhuma boa razão para agir de outra forma, mas, de algum modo, as recriminações continuam. A secretária de estado Hillary Clinton é uma freqüente crítica dos desenvolvimentos na Rússia e o candidato presidencial republicano Mitt Romney rotulou a Rússia como o "inimigo público número um." O líder neocon Robert D. Kaplan atribui a Vladimir Putin, tanto cinismo quanto "banditismo desabrido". Na esteira da avassaladora vitória de Putin nas eleições presidenciais realizadas em março, uma equipe de observadores da Organização para Segurança e Cooperação na Europa observou que tinha havido uma redução nas "flagrantes violações" comparadas com as eleições parlamentares do último dezembro. Putin, ainda assim, "não tinha confrontado nenhuma competição real, beneficiando-se, injustamente, de luxurioso gasto governamental em seu benefício." A acusação soa um pouco como o processo eleitoral em numerosos países, portanto, ninguém pode presumir que a questão real seja o próprio Putin.
Os russos tem um bocado de boas razões para serem paranóicos a respeito do Ocidente e suas intenções. A interação do Ocidente com a nova Rússia começou com o saque da economia russa por empreendedores americanos e europeus nos anos 1990, auxiliados e acobertados pelo corrupto governo de Boris Yeltsin, um idiota útil como nunca houve outro. Isto continuou com a ascenção dos Oligarcas nos anos posteriores, cavalheiros que acabaram o trabalho iniciado pelos primeiros oportunistas. A ascenção de Vladimir Putin pode ser atribuída em parte a sua promessa de levar à justiça os Oligarcas que haviam roubado os recursos naturais do país, embora Putin, compreensivelmente, tenha sido seletivo em seus processos, indo atrás, principalmente, dos bilionários que se opuseram politicamente a ele. Putin também tinha a intenção de rechaçar as tentativas americanas e européias de democratizar e incorporar os regimes ao longo de suas fronteiras, trazendo-os para a órbita americana e até mesmo arrumando a entrada deles na OTAN e na União Européia.
As relações com a Rússia de Putin azedaram quando o primeiro grande julgamento de um Oligarca, Mikhail Khodorkovsky, ocorreu em 2004. Khodorkovsky era, certamente, um crítico de Putin, mas também era um escroque ligado a máfia e muito possivelmente um assassino. Ele foi condenado por fraude e evasão fiscal em 2005 e por acusações de peculato e lavagem de dinheiro em 2010. Depois de seu segundo julgamento, Hillary Clinton disse que a sentença teria "um impacto negativo na reputação da Rússia em manter suas obrigações internacionais com os direitos humanos e melhorar seu ambiente para investimentos," enquanto a Casa Branca de Obama apontou as "alegações de sérias violações do devido processo jurídico e o que parece ser uma abusiva utlização do sistema legal para fins impróprios."
A simpatia por um criminoso de primeira classe aprisionado foi, em grande medida, o resultado da bem-sucedida campanha para influenciar a opinião pública ocidenal. Consultores de relações públicas, ao retratarem Khodorkovsky como um honesto homem-de-negócios e reformista, obtiveram sucesso em levar à frente resoluções por meio da Casa dos Representantes dos Estados Unidos e o Conselho da Europa em seu nome. Porém os comentários de Clinton e Obama revelam um profundo nível de ignorância sobre a recente história da Rússia. Hillary Clinton deveria estar perguntando como foi que Khodorkovsky tornou-se um dos homens mais ricos no mundo em pouco mais de dez anos. Talvez ela e o presidente devessem ter examinado os extensos arquivos sobre Khodorkovsky no FBI, apenas descendo a rua da Casa Branca.
Em 2008, quando a Geórgia atacou a Rússia e foi, logo a seguir, derrotada, Washington acabou apoiando o agressor. Muitos relembrarão o refrão do senador John McCain, "somos todos georgianos agora." O conselheiro de McCain, Randy Scheunemann, também era um conselheiro remunerado do governo georgiano, o governo israelense estava fortemente engajado num contrato governamental americano para treinar e armar os georgianos, e o Avanço Nacional para a Democracia (NED, ou National Endowment for Democracy) estava nas trincheiras trabalhando em sua mais nova revolução pastel na Europa Oriental.
Mais recentemente, nós tivemos o caso Magnitsky, que produziu o Ato de Responsabilização pela Regra da Lei de Sergei Magnitsky, ainda pendente no Congresso, que imporá um congelamento de bens e proibição de viagens para todos os funcionários russos que, alegadamente, estiveram envolvidos. Magnitsky era um advogado e o denunciante que revelou uma fraude fiscal em 2007, relatadamente superando $ 230 milhões. Por sua diligência, ele foi detido, reportadamente torturado e, eventualmente, sendo-lhe negado atendimento médico. Ele morreu na prisão, oito dias antes de sua suposta liberação. Isto foi, para dizer o mínimo, um horrível aborto da justiça, e sua culpa foi atribuída à falta, na Rússia, de um judiciário verdadeiramente independente, combinado com a regra da lei. Como resultado de uma posterior investigação do governo russo, vinte autoridades superiores penitenciárias e policiais foram demitidas.
Putin também excitou a ira das autoridades de Washington quanto reclamou sobre o apoio do NED para os partidos da oposição na Rússia. Para aqueles que não estão familiarizados com a organização, o NED, que tem um braço republicano e outro democrata, é em grande parte bancado pelo Congresso, embora chame a si mesmo de ONG. Ele opera em âmbito mundial para levar a democracia para países estrangeiros. Ele faz isto de um modo grosseiro com mínimo controle de cima, e esteve profundamente envolvido nas numerosas revoluções pastel que fermentaram e então azedaram na Europa Oriental. Por sua própria natureza, ele tende a ser anti-regime, e trabalha primordialmente com os partidos e grupos de oposição, e faz isto abertamente, permitindo aos políticos da oposição serem vistos entrando e saindo da embaixada americana em Moscou. Ele está atualmente envolvido na Síria, e o Egito, recentemente, tentou expelí-lo antes de sucumbir à pressão dos Estados Unidos e permitir a permanência do grupo. Alguns observadores comparam o NED aos velhos programas de ação clandestina da CIA. Putin, ao voltar-se contra o NED enfureceu muitos em Washington porque há um sentimento bipartidário de que os Estados Unidos devem ter permissão para dizer aos outros países como tratar de seus negócios.
Mais recentemnte vimos a historia da Xaninha Turbulenta. Esta é uma banda punk de três mulheres que, realmente, nunca produziram uma só gravação. Isto é, para dizer o mínimo, controverso. O grupo, que está conectado ao NED, encenou uma apresentação no altar da Catedral do Cristo Salvador em Moscou, que foi, corretamente, descrita tanto como blasfema e obscena. Elas foram detidas, julgadas por "baderna motivada por ódio religioso" num julgamento que pareceu carecer muito do devido processo, e agora foram sentenciadas a dois anos numa colônia penal. Os defensores da Xaninha Turbulenta notam que a banda estava exercendo seu direito à livre expressão para atacar Putin, enquanto também denunciava os vínculos próximos da Igreja Ortodoxa Russa com o governo. Numeroso artistas e celebridades do entretenimento como Madonna, Sting e Paul McCartney condenaram a prisão e tanto a Casa Branca quanto o Departamento de Estado consideraram a sentença "desproporcional" com um "impacto negativo na liberdade de expressão na Rússia."
Para sermos justos, Putin tem estado sujeito à críticas mais ásperas de russos dissidentes do que de estrangeiros, um sinal de que a muito sacaneada democracia russa pode estar viva e chutando. Isto é assim, como aliás deveria ser, porque, se os russos escolherem mudar seu governo, precisam fazer isto por sí próprios, sem interferência de organizações como o NED que fornece argumentos ao regime de que a oposição está servindo a interesses estrangeiros. Depois das eleições parlamentares em dezembro, 120 mil manifestantes reuniram-se em Moscou, e seguindo-se a recente eleição de Putin pela terceira vez, 15 mil protestaram na Praça Pushkin.
Poderia-se argumentar razoavelmente que se a política russa fosse, de alguma forma, uma ameaça genuína aos Estados Unidos, então Washington teria o interesse legítimo em agir proativamente para lidar com o perigo, mas ninguém parece afirmar este caso. O criticismo da Rússia está baseado sobre as políticas domésticas do país, sua governança, e as personalidades de seus líderes. Há considerável hipocrisia no ponto de vista americano. Se o protesto da Xaninha Turbulenta tivesse ocorrido numa catedral ou sinagoga em Washington, muitos americanos estariam pedindo por punição tão severa quanto a que foi imposta pela corte russa.
Uma comparação mais ampla entre os Estados Unidos e a Rússia é esclarecedora. A Rússia é escancaradamente corrupta enquanto os Estados Unidos mantém um sistema legal desenhado para o benefício das elites que administram o país, portanto a corrupção é oculta. E os EUA tendem a olhar para o outro lado quando a corrupção envolve um aliado. O Afeganistão é o país mais corrupto do mundo, mesmo assim continua a receber passe livre de Washington e está programado para receber muitos bilhões de dólares na próxima década.
As eleições russas confessadamente não produzem alternativa nenhuma, mas tampouco as eleições nos Estados Unidos, embora por razões diferentes. As cortes na Rússia com freqüência passam vereditos aprovados pelo governo, mas assim o fazem também as cortes nos EUA quando o governo cita segredos de estado. Washington envia o NED para o além-mar, para dizer a outros como governarem a si mesmos, mas reagiria em fúria se os russos ou os iranianos fizessem o mesmo aqui. Se Washington realmente acredita que o tratamento de Khodorkovsky, Magnitsky e a Xaninha Turbulenta foi injusto, deveria talvez, relembrar Jose Padilla, Bradley Manning e Julian Assange. No final das contas, o que se passa num salão da corte de Moscou nada tem a ver com o governo dos Estados Unidos, a menos que um cidadão americano esteja sendo tratado injustamente. E quando Washington sente-se empossado para agir contra autoridades estrangeiras, como no caso Magnitsky, deveria considerar os criminosos de guerra da administração Bush que ainda estão circulando soltos por aí, recolhendo lucrativos honorários por palestras. Quando um presidente ou secretário dos Estados Unidos sente-se compelido a discursar sobre o tratamento de um cidadão estrangeiro numa corte estrangeira, isto deveria estar relacionado a um interesse nacional vital, mas se é assim, fica difícil discernir isto no recente criticismo da Rússia.
Tudo isto é para sugerir que a natureza do governo russo e seus líderes não é da conta dos americanos. Que 120 mil russos possam se reunir nas ruas para protestar contra uma eleição fala bem deles e eles deveriam ser deixados sozinhos para encontrar seu próprio caminho. Quisera que metade desse número de americanos pudesse se reunir para protestar ativamente contra o processo político nos Estados Unidos. Isto seria algo digno de ser visto.
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Philip Giraldi, um ex-oficial da CIA, é um contribuidor para o The American Conservative e diretor-executivo do Conselho para o Interesse Nacional.
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Maravilhoso artigo falou tudo corretamente, eu leio muitos jornais americanos entre eles o Washington Post que é o mais conservador, todos think tanks especializados em eurásia se pergunta o que a China tem e que não temos já disse aqui e não vou repetir, parace tem que tem preguica mental nesse povo de pensar, a arrogância não deixa parece que ficaram parado nos anos 90 do século passado até 2008 e não parecem querer acordar para a realidade.Clermont escreveu:CUTUCANDO O URSO.
Philip Giraldi - 23 de agosto de 2012.
Eu confesso que não consigo entender direito a campanha pelos neoconservadores e também um certo número de democratas de ponta para vilificar a Rússia e confrontá-la em toda oportunidade. A Guerra Fria já acabou a mais de vinte anos, mas alguns parecem querer ressuscitá-la. A Rússia evoluiu para uma democracia em desenvolvimento, tem uma imprensa relativamente livre, tem um judiciário que funciona pelo menos alguma parte do tempo, é naturalmente rica e tem uma economia que agora está vinculada ao restante do mundo e está se saindo razoavelmente bem. Pelo lado negativo, ela é atormentada pela corrupção e gangsterismo tanto como por um crescente autoritarismo, mas o russo mediano goza de liberdades nunca antes experimentadas nos dias soviéticos e também pode ver uma contínua melhoria no padrão de vida. O presidente do país, Vladimir Putin, contiuna a ser apoiado pela maioria dos russos, embora a dissensão, admitidamente, esteja crescendo por causa de sua clara relutância em se afastar do poder.
A Rússia tem um bocado a oferecer ao Ocidente. Ela tem bons laços com seus amigos tradicionais no Oriente Médio, Ásia e África, e ainda é vista por muitos governos estrangeiros como uma potência anticolonialista. Isto quer dizer que ela está bem colocada para ajudar a mediar situações de crises com países como Síria e Irã, que não mais confiam em Washington e nos europeus ocidentais. No entanto, ao contrário disto, os Estados Unidos e alguns de seus aliados tem visto a Rússia como uma obstrução, precisamente porque ela se recusa a endossar a "intervenção humanitarista" e a mudança de regime. Mudança de regime não tem funcionado muito bem na Lìbia, Iraque e Afeganistão, e logo veremos o que acontecerá na Síria. A aproximação cautelosa de Moscou é quase com certeza uma opção melhor.
E a Rússia ainda é uma grande potência militar. Ela é o único país no mundo que tem a capacidade de destruir os Estados Unidos, o que qualquer um poderia imaginar ser razão suficiente paa estabelecer uma relação amistosa. A Rússia também tem indicado sua disposição para reduzir seus próprios arsenais nucleares e químicos e para trabalhar com Washington para salvaguardar os estoques nucleares existentes por meio do Programa Cooperativo de Redução de Ameaças bilateral.
Portanto, existem muitas razões para estabelecer um modus vivendi com Moscou e nenhuma boa razão para agir de outra forma, mas, de algum modo, as recriminações continuam. A secretária de estado Hillary Clinton é uma freqüente crítica dos desenvolvimentos na Rússia e o candidato presidencial republicano Mitt Romney rotulou a Rússia como o "inimigo público número um." O líder neocon Robert D. Kaplan atribui a Vladimir Putin, tanto cinismo quanto "banditismo desabrido". Na esteira da avassaladora vitória de Putin nas eleições presidenciais realizadas em março, uma equipe de observadores da Organização para Segurança e Cooperação na Europa observou que tinha havido uma redução nas "flagrantes violações" comparadas com as eleições parlamentares do último dezembro. Putin, ainda assim, "não tinha confrontado nenhuma competição real, beneficiando-se, injustamente, de luxurioso gasto governamental em seu benefício." A acusação soa um pouco como o processo eleitoral em numerosos países, portanto, ninguém pode presumir que a questão real seja o próprio Putin.
Os russos tem um bocado de boas razões para serem paranóicos a respeito do Ocidente e suas intenções. A interação do Ocidente com a nova Rússia começou com o saque da economia russa por empreendedores americanos e europeus nos anos 1990, auxiliados e acobertados pelo corrupto governo de Boris Yeltsin, um idiota útil como nunca houve outro. Isto continuou com a ascenção dos Oligarcas nos anos posteriores, cavalheiros que acabaram o trabalho iniciado pelos primeiros oportunistas. A ascenção de Vladimir Putin pode ser atribuída em parte a sua promessa de levar à justiça os Oligarcas que haviam roubado os recursos naturais do país, embora Putin, compreensivelmente, tenha sido seletivo em seus processos, indo atrás, principalmente, dos bilionários que se opuseram politicamente a ele. Putin também tinha a intenção de rechaçar as tentativas americanas e européias de democratizar e incorporar os regimes ao longo de suas fronteiras, trazendo-os para a órbita americana e até mesmo arrumando a entrada deles na OTAN e na União Européia.
As relações com a Rússia de Putin azedaram quando o primeiro grande julgamento de um Oligarca, Mikhail Khodorkovsky, ocorreu em 2004. Khodorkovsky era, certamente, um crítico de Putin, mas também era um escroque ligado a máfia e muito possivelmente um assassino. Ele foi condenado por fraude e evasão fiscal em 2005 e por acusações de peculato e lavagem de dinheiro em 2010. Depois de seu segundo julgamento, Hillary Clinton disse que a sentença teria "um impacto negativo na reputação da Rússia em manter suas obrigações internacionais com os direitos humanos e melhorar seu ambiente para investimentos," enquanto a Casa Branca de Obama apontou as "alegações de sérias violações do devido processo jurídico e o que parece ser uma abusiva utlização do sistema legal para fins impróprios."
A simpatia por um criminoso de primeira classe aprisionado foi, em grande medida, o resultado da bem-sucedida campanha para influenciar a opinião pública ocidenal. Consultores de relações públicas, ao retratarem Khodorkovsky como um honesto homem-de-negócios e reformista, obtiveram sucesso em levar à frente resoluções por meio da Casa dos Representantes dos Estados Unidos e o Conselho da Europa em seu nome. Porém os comentários de Clinton e Obama revelam um profundo nível de ignorância sobre a recente história da Rússia. Hillary Clinton deveria estar perguntando como foi que Khodorkovsky tornou-se um dos homens mais ricos no mundo em pouco mais de dez anos. Talvez ela e o presidente devessem ter examinado os extensos arquivos sobre Khodorkovsky no FBI, apenas descendo a rua da Casa Branca.
Em 2008, quando a Geórgia atacou a Rússia e foi, logo a seguir, derrotada, Washington acabou apoiando o agressor. Muitos relembrarão o refrão do senador John McCain, "somos todos georgianos agora." O conselheiro de McCain, Randy Scheunemann, também era um conselheiro remunerado do governo georgiano, o governo israelense estava fortemente engajado num contrato governamental americano para treinar e armar os georgianos, e o Avanço Nacional para a Democracia (NED, ou National Endowment for Democracy) estava nas trincheiras trabalhando em sua mais nova revolução pastel na Europa Oriental.
Mais recentemente, nós tivemos o caso Magnitsky, que produziu o Ato de Responsabilização pela Regra da Lei de Sergei Magnitsky, ainda pendente no Congresso, que imporá um congelamento de bens e proibição de viagens para todos os funcionários russos que, alegadamente, estiveram envolvidos. Magnitsky era um advogado e o denunciante que revelou uma fraude fiscal em 2007, relatadamente superando $ 230 milhões. Por sua diligência, ele foi detido, reportadamente torturado e, eventualmente, sendo-lhe negado atendimento médico. Ele morreu na prisão, oito dias antes de sua suposta liberação. Isto foi, para dizer o mínimo, um horrível aborto da justiça, e sua culpa foi atribuída à falta, na Rússia, de um judiciário verdadeiramente independente, combinado com a regra da lei. Como resultado de uma posterior investigação do governo russo, vinte autoridades superiores penitenciárias e policiais foram demitidas.
Putin também excitou a ira das autoridades de Washington quanto reclamou sobre o apoio do NED para os partidos da oposição na Rússia. Para aqueles que não estão familiarizados com a organização, o NED, que tem um braço republicano e outro democrata, é em grande parte bancado pelo Congresso, embora chame a si mesmo de ONG. Ele opera em âmbito mundial para levar a democracia para países estrangeiros. Ele faz isto de um modo grosseiro com mínimo controle de cima, e esteve profundamente envolvido nas numerosas revoluções pastel que fermentaram e então azedaram na Europa Oriental. Por sua própria natureza, ele tende a ser anti-regime, e trabalha primordialmente com os partidos e grupos de oposição, e faz isto abertamente, permitindo aos políticos da oposição serem vistos entrando e saindo da embaixada americana em Moscou. Ele está atualmente envolvido na Síria, e o Egito, recentemente, tentou expelí-lo antes de sucumbir à pressão dos Estados Unidos e permitir a permanência do grupo. Alguns observadores comparam o NED aos velhos programas de ação clandestina da CIA. Putin, ao voltar-se contra o NED enfureceu muitos em Washington porque há um sentimento bipartidário de que os Estados Unidos devem ter permissão para dizer aos outros países como tratar de seus negócios.
Mais recentemnte vimos a historia da Xaninha Turbulenta. Esta é uma banda punk de três mulheres que, realmente, nunca produziram uma só gravação. Isto é, para dizer o mínimo, controverso. O grupo, que está conectado ao NED, encenou uma apresentação no altar da Catedral do Cristo Salvador em Moscou, que foi, corretamente, descrita tanto como blasfema e obscena. Elas foram detidas, julgadas por "baderna motivada por ódio religioso" num julgamento que pareceu carecer muito do devido processo, e agora foram sentenciadas a dois anos numa colônia penal. Os defensores da Xaninha Turbulenta notam que a banda estava exercendo seu direito à livre expressão para atacar Putin, enquanto também denunciava os vínculos próximos da Igreja Ortodoxa Russa com o governo. Numeroso artistas e celebridades do entretenimento como Madonna, Sting e Paul McCartney condenaram a prisão e tanto a Casa Branca quanto o Departamento de Estado consideraram a sentença "desproporcional" com um "impacto negativo na liberdade de expressão na Rússia."
Para sermos justos, Putin tem estado sujeito à críticas mais ásperas de russos dissidentes do que de estrangeiros, um sinal de que a muito sacaneada democracia russa pode estar viva e chutando. Isto é assim, como aliás deveria ser, porque, se os russos escolherem mudar seu governo, precisam fazer isto por sí próprios, sem interferência de organizações como o NED que fornece argumentos ao regime de que a oposição está servindo a interesses estrangeiros. Depois das eleições parlamentares em dezembro, 120 mil manifestantes reuniram-se em Moscou, e seguindo-se a recente eleição de Putin pela terceira vez, 15 mil protestaram na Praça Pushkin.
Poderia-se argumentar razoavelmente que se a política russa fosse, de alguma forma, uma ameaça genuína aos Estados Unidos, então Washington teria o interesse legítimo em agir proativamente para lidar com o perigo, mas ninguém parece afirmar este caso. O criticismo da Rússia está baseado sobre as políticas domésticas do país, sua governança, e as personalidades de seus líderes. Há considerável hipocrisia no ponto de vista americano. Se o protesto da Xaninha Turbulenta tivesse ocorrido numa catedral ou sinagoga em Washington, muitos americanos estariam pedindo por punição tão severa quanto a que foi imposta pela corte russa.
Uma comparação mais ampla entre os Estados Unidos e a Rússia é esclarecedora. A Rússia é escancaradamente corrupta enquanto os Estados Unidos mantém um sistema legal desenhado para o benefício das elites que administram o país, portanto a corrupção é oculta. E os EUA tendem a olhar para o outro lado quando a corrupção envolve um aliado. O Afeganistão é o país mais corrupto do mundo, mesmo assim continua a receber passe livre de Washington e está programado para receber muitos bilhões de dólares na próxima década.
As eleições russas confessadamente não produzem alternativa nenhuma, mas tampouco as eleições nos Estados Unidos, embora por razões diferentes. As cortes na Rússia com freqüência passam vereditos aprovados pelo governo, mas assim o fazem também as cortes nos EUA quando o governo cita segredos de estado. Washington envia o NED para o além-mar, para dizer a outros como governarem a si mesmos, mas reagiria em fúria se os russos ou os iranianos fizessem o mesmo aqui. Se Washington realmente acredita que o tratamento de Khodorkovsky, Magnitsky e a Xaninha Turbulenta foi injusto, deveria talvez, relembrar Jose Padilla, Bradley Manning e Julian Assange. No final das contas, o que se passa num salão da corte de Moscou nada tem a ver com o governo dos Estados Unidos, a menos que um cidadão americano esteja sendo tratado injustamente. E quando Washington sente-se empossado para agir contra autoridades estrangeiras, como no caso Magnitsky, deveria considerar os criminosos de guerra da administração Bush que ainda estão circulando soltos por aí, recolhendo lucrativos honorários por palestras. Quando um presidente ou secretário dos Estados Unidos sente-se compelido a discursar sobre o tratamento de um cidadão estrangeiro numa corte estrangeira, isto deveria estar relacionado a um interesse nacional vital, mas se é assim, fica difícil discernir isto no recente criticismo da Rússia.
Tudo isto é para sugerir que a natureza do governo russo e seus líderes não é da conta dos americanos. Que 120 mil russos possam se reunir nas ruas para protestar contra uma eleição fala bem deles e eles deveriam ser deixados sozinhos para encontrar seu próprio caminho. Quisera que metade desse número de americanos pudesse se reunir para protestar ativamente contra o processo político nos Estados Unidos. Isto seria algo digno de ser visto.
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Philip Giraldi, um ex-oficial da CIA, é um contribuidor para o The American Conservative e diretor-executivo do Conselho para o Interesse Nacional.
- marcelo l.
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
BISHKEK (Reuters) - O governo do Quirguistão coalizão desabou na quarta-feira depois de dois partidos se retiraram em protesto contra uma economia encolhendo e alegada corrupção na volátil ex-república soviética.
Como eles deixaram a coalizão de quatro partidos que tem governado o país centro-asiático empobrecido desde dezembro, os deputados da Ata-Meken e Ar-Namys facções chamado de o primeiro-ministro Omurbek Babanov a renunciar.
"Não uma reforma única declarada pelo primeiro-ministro tem sido realizado até a sua conclusão," Ata-Meken deputados, disse em uma declaração conjunta anunciando sua retirada da coalizão. Eles também acusou Babanov de não limpar a corrupção e de usar "sombrias" organizações a lidar com dinheiro.
A única democracia parlamentar da Ásia Central, o Quirguistão novo modelo de governo é apoiado pelos Estados Unidos, mas vista com desconfiança pelo ex-mestre imperial da Rússia. Ambos os países têm bases aéreas militares no país.
O movimento pode provocar um período prolongado de turbulência política com Ata-Meken deputados avisando que o Quirguistão arriscou calote em sua dívida externa, que está em US $ 2,8 bilhões, ou mais de metade do seu produto interno bruto.
Embora a divisão deixa Respublika Babanov do partido e presidente do partido Almazbek Atambayev da Social-Democrata do Quirguistão sem a maioria para formar um governo, houve discordância sobre o que acontece em seguida.
Alguns funcionários disseram que implica automaticamente a queda do governo, ou seja, os ministros iria trabalhar em uma capacidade de agir enquanto se aguarda a formação de uma nova coalizão, mas o escritório Babanov disse uma decisão do presidente foi exigido.
ENCOLHIMENTO PIB
O porta-voz Babanov, o sultão Kanazarov, negou todas as acusações de improbidade contra o primeiro-ministro e do governo e disse que os deputados devem ter organizado um debate no parlamento sobre suas preocupações.
"Deputados são livres para dizer qualquer coisa. Se houvesse qualquer documento dizendo que a lei tinha sido quebrado, eles poderiam ter os apresentou para autoridades policiais", disse ele. "Se você acha que o governo não está trabalhando, mostra-nos um caminho alternativo."
A coalizão foi formada após a eleição do ano passado do presidente Atambayev, a primeira transferência pacífica da presidência desde a independência do país há duas décadas.
A coalizão tinha unido quatro dos cinco partidos no parlamento e composta 91 de 120 deputados.
"As desvantagens deste sistema são os escândalos constantes, demissões e crises", disse o analista político Kadyr Malikov. "Nós temos uma crise pessoal e estamos caminhando para uma catástrofe nacional".
A economia no Quirguistão, um país de maioria muçulmana de 5,5 milhões, depende muito da produção da mina de ouro Kumtor, o ativo carro-chefe da mineradora canadense Centerra Ouro, e as remessas de centenas de milhares de trabalhadores migrantes.
http://articles.chicagotribune.com/2012 ... government
Como eles deixaram a coalizão de quatro partidos que tem governado o país centro-asiático empobrecido desde dezembro, os deputados da Ata-Meken e Ar-Namys facções chamado de o primeiro-ministro Omurbek Babanov a renunciar.
"Não uma reforma única declarada pelo primeiro-ministro tem sido realizado até a sua conclusão," Ata-Meken deputados, disse em uma declaração conjunta anunciando sua retirada da coalizão. Eles também acusou Babanov de não limpar a corrupção e de usar "sombrias" organizações a lidar com dinheiro.
A única democracia parlamentar da Ásia Central, o Quirguistão novo modelo de governo é apoiado pelos Estados Unidos, mas vista com desconfiança pelo ex-mestre imperial da Rússia. Ambos os países têm bases aéreas militares no país.
O movimento pode provocar um período prolongado de turbulência política com Ata-Meken deputados avisando que o Quirguistão arriscou calote em sua dívida externa, que está em US $ 2,8 bilhões, ou mais de metade do seu produto interno bruto.
Embora a divisão deixa Respublika Babanov do partido e presidente do partido Almazbek Atambayev da Social-Democrata do Quirguistão sem a maioria para formar um governo, houve discordância sobre o que acontece em seguida.
Alguns funcionários disseram que implica automaticamente a queda do governo, ou seja, os ministros iria trabalhar em uma capacidade de agir enquanto se aguarda a formação de uma nova coalizão, mas o escritório Babanov disse uma decisão do presidente foi exigido.
ENCOLHIMENTO PIB
O porta-voz Babanov, o sultão Kanazarov, negou todas as acusações de improbidade contra o primeiro-ministro e do governo e disse que os deputados devem ter organizado um debate no parlamento sobre suas preocupações.
"Deputados são livres para dizer qualquer coisa. Se houvesse qualquer documento dizendo que a lei tinha sido quebrado, eles poderiam ter os apresentou para autoridades policiais", disse ele. "Se você acha que o governo não está trabalhando, mostra-nos um caminho alternativo."
A coalizão foi formada após a eleição do ano passado do presidente Atambayev, a primeira transferência pacífica da presidência desde a independência do país há duas décadas.
A coalizão tinha unido quatro dos cinco partidos no parlamento e composta 91 de 120 deputados.
"As desvantagens deste sistema são os escândalos constantes, demissões e crises", disse o analista político Kadyr Malikov. "Nós temos uma crise pessoal e estamos caminhando para uma catástrofe nacional".
A economia no Quirguistão, um país de maioria muçulmana de 5,5 milhões, depende muito da produção da mina de ouro Kumtor, o ativo carro-chefe da mineradora canadense Centerra Ouro, e as remessas de centenas de milhares de trabalhadores migrantes.
http://articles.chicagotribune.com/2012 ... government
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
- cabeça de martelo
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Relatório mostra como Putin comprou 20 casas e 43 barcos de luxo com dinheiro do Estado.
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Cade o relatório?cabeça de martelo escreveu:Relatório mostra como Putin comprou 20 casas e 43 barcos de luxo com dinheiro do Estado.
- jumentodonordeste
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Acho que encontrei...
http://sol.sapo.pt/inicio/Internacional ... t_id=57840
http://sol.sapo.pt/inicio/Internacional ... t_id=57840
- rodrigo
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Olha onde o mensalão chegou!Relatório mostra como Putin comprou 20 casas e 43 barcos de luxo com dinheiro do Estado.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Nenhuma das casas é de fato de Putin, todas pertencem ao governo russo. Por essa lógica o Palácio do Planalto é da Dilma!
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
A Rússia na OMC pode virar bola da vez
30/08/2012
Carlos Serapião, economista
Depois de quase 20 anos de negociações, a Rússia entra para a OMC (Organização Mundial de Comércio). Com seu ingresso, as tarifas aduaneiras sobre cerca de 700 tipos de produtos agrícolas e manufaturados serão eliminados ou drasticamente reduzidas, fazendo a taxa média cair de 10% para 7,4% - uma mudança potencialmente interessante para o Brasil.
O ingresso da Rússia na OMC (Organização Mundial do Comércio), em 22 de agosto, encerra quase duas décadas de negociações e terá consequências cuja diversidade e alcance no tempo são impossíveis de analisar num artigo ou mesmo neste momento imediatamente após o fato.
Na OMC, vigora processo de decisões por consenso, por isso a Rússia teve de negociar sua entrada com 155 países membros. A OMC, ao suceder o antigo GATT (“General Agreement on Tariffs and Trade”, em português Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) em 1995, tinha um mandato muito além de simplesmente reduzir tarifas aduaneiras no comércio global, incluindo novos temas, tais como: comércio internacional de serviços, regulação multilateral da propriedade intelectual e investimentos transfronteiriços ligados ao comércio.
Além dos novos temas, a OMC tem, desde sua concepção, uma vocação ou ambição global que o GATT nunca pôde ter devido à Guerra Fria e à divisão do mundo em dois sistemas geopolíticos e econômicos rivais. Então, a entrada da China em 2001 e, ainda mais, a da Rússia agora simboliza a concretização daquela vocação três décadas após a Queda do Muro. Não por acaso, as negociações da Rússia para entrar na OMC começaram em 1995, poucos meses após a criação daquela organização.
Há alguns anos, as negociações na OMC para o aperfeiçoamento e aprofundamento do sistema multilateral de comércio encontram-se num impasse, o qual não nos cabe analisar aqui. Mas o sistema de acordos, regulações e instituições já em vigor na OMC é de tal monta e de tal importância para o mundo, que apenas a adesão da Rússia a esse sistema já é uma conquista histórica.
Essa adesão vai propiciar maior estabilidade e previsibilidade de regras no comércio de mercadorias e serviços com a Rússia, bem como no tocante aos investimentos estrangeiros e à defesa dos direitos de propriedade intelectual. Além disso, outra grande diferença entre o antigo GATT e a OMC é a importância do Mecanismo de Solução de Controvérsias desta última, o qual poderá ser utilizado para dirimir diferenças entre a Rússia e seus parceiros.
Há, claro, toda uma agenda interna regulatória, econômica e política na Rússia, no sentido de sua adequação gradual às regras da OMC. Haverá setores ganhadores e perdedores; novas oportunidades, desafios e problemas; o que em parte explica a oposição de muitos deputados comunistas ao acordo de adesão. No conjunto, porém, o resultado deverá ser positivo para a economia russa, a qual deverá ganhar em termos de eficiência, competitividade e integração transnacional.
É difícil fazer previsões mais acuradas. Petróleo, gás natural, outras commodities minerais, produtos metalúrgicos, madeira e equipamentos de defesa são quase 80% das exportações russas. Só essa constatação desautoriza qualquer comparação mais específica com o impacto da entrada da China em 2001, devido a perfis exportadores e importadores radicalmente distintos nos dois países.
De concreto, podemos dar alguns exemplos. As tarifas aduaneiras sobre cerca de 700 tipos de produtos agrícolas e manufaturados serão eliminados ou drasticamente reduzidas, fazendo a taxa média cair de 10% para 7,4%, o que é potencialmente interessante para o Brasil. Diversos serviços serão desregulamentados, incluindo um setor chave para o investimento estrangeiro, o de telecomunicações. No caso do sistema bancário, o número de instituições financeiras estrangeiras não poderá exceder 50% do total do setor, mas, pela primeira vez, serão autorizados a operar no país bancos 100% estrangeiros.
O investimento estrangeiro direto (IED), por seu caráter de longo prazo, dá grande importância à estabilidade de regras e segurança jurídica, então seu fluxo poderá aumentar já no médio prazo. Até mesmo o capital especulativo global, que migra sem parar e baseado em considerações muitas vezes ligadas à imagem de um país ou região ou à moda, passará a ver a Rússia com melhores olhos ou mesmo torná-la “bola da vez” enquanto destino prioritário de suas aplicações.
Há poucos dias, o megainvestidor Jim Rogers, que nos anos 70 fundou com George Soros o Quantum Fund, declarou o seguinte à rede de televisão americana CNBC: “Eu sempre fui muito cético com relação à União Soviética e depois a Rússia, mas para minha grande supresa estou começando a olhar mais favoravelmente e a questionar minha opinião no que se refere à Rússia. Ainda não investi lá, mas estou considerando essa possibilidade pela primeira vez na vida”.
Carlos Serapião Jr. mora em Moscou e trabalha na B2U Trading. Formou-se no Instituto Rio Branco e tem mestrado em finanças pela École Nationale des Ponts et Chaussées.
http://gazetarussa.com.br/articles/2012 ... 15399.html
30/08/2012
Carlos Serapião, economista
Depois de quase 20 anos de negociações, a Rússia entra para a OMC (Organização Mundial de Comércio). Com seu ingresso, as tarifas aduaneiras sobre cerca de 700 tipos de produtos agrícolas e manufaturados serão eliminados ou drasticamente reduzidas, fazendo a taxa média cair de 10% para 7,4% - uma mudança potencialmente interessante para o Brasil.
O ingresso da Rússia na OMC (Organização Mundial do Comércio), em 22 de agosto, encerra quase duas décadas de negociações e terá consequências cuja diversidade e alcance no tempo são impossíveis de analisar num artigo ou mesmo neste momento imediatamente após o fato.
Na OMC, vigora processo de decisões por consenso, por isso a Rússia teve de negociar sua entrada com 155 países membros. A OMC, ao suceder o antigo GATT (“General Agreement on Tariffs and Trade”, em português Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) em 1995, tinha um mandato muito além de simplesmente reduzir tarifas aduaneiras no comércio global, incluindo novos temas, tais como: comércio internacional de serviços, regulação multilateral da propriedade intelectual e investimentos transfronteiriços ligados ao comércio.
Além dos novos temas, a OMC tem, desde sua concepção, uma vocação ou ambição global que o GATT nunca pôde ter devido à Guerra Fria e à divisão do mundo em dois sistemas geopolíticos e econômicos rivais. Então, a entrada da China em 2001 e, ainda mais, a da Rússia agora simboliza a concretização daquela vocação três décadas após a Queda do Muro. Não por acaso, as negociações da Rússia para entrar na OMC começaram em 1995, poucos meses após a criação daquela organização.
Há alguns anos, as negociações na OMC para o aperfeiçoamento e aprofundamento do sistema multilateral de comércio encontram-se num impasse, o qual não nos cabe analisar aqui. Mas o sistema de acordos, regulações e instituições já em vigor na OMC é de tal monta e de tal importância para o mundo, que apenas a adesão da Rússia a esse sistema já é uma conquista histórica.
Essa adesão vai propiciar maior estabilidade e previsibilidade de regras no comércio de mercadorias e serviços com a Rússia, bem como no tocante aos investimentos estrangeiros e à defesa dos direitos de propriedade intelectual. Além disso, outra grande diferença entre o antigo GATT e a OMC é a importância do Mecanismo de Solução de Controvérsias desta última, o qual poderá ser utilizado para dirimir diferenças entre a Rússia e seus parceiros.
Há, claro, toda uma agenda interna regulatória, econômica e política na Rússia, no sentido de sua adequação gradual às regras da OMC. Haverá setores ganhadores e perdedores; novas oportunidades, desafios e problemas; o que em parte explica a oposição de muitos deputados comunistas ao acordo de adesão. No conjunto, porém, o resultado deverá ser positivo para a economia russa, a qual deverá ganhar em termos de eficiência, competitividade e integração transnacional.
É difícil fazer previsões mais acuradas. Petróleo, gás natural, outras commodities minerais, produtos metalúrgicos, madeira e equipamentos de defesa são quase 80% das exportações russas. Só essa constatação desautoriza qualquer comparação mais específica com o impacto da entrada da China em 2001, devido a perfis exportadores e importadores radicalmente distintos nos dois países.
De concreto, podemos dar alguns exemplos. As tarifas aduaneiras sobre cerca de 700 tipos de produtos agrícolas e manufaturados serão eliminados ou drasticamente reduzidas, fazendo a taxa média cair de 10% para 7,4%, o que é potencialmente interessante para o Brasil. Diversos serviços serão desregulamentados, incluindo um setor chave para o investimento estrangeiro, o de telecomunicações. No caso do sistema bancário, o número de instituições financeiras estrangeiras não poderá exceder 50% do total do setor, mas, pela primeira vez, serão autorizados a operar no país bancos 100% estrangeiros.
O investimento estrangeiro direto (IED), por seu caráter de longo prazo, dá grande importância à estabilidade de regras e segurança jurídica, então seu fluxo poderá aumentar já no médio prazo. Até mesmo o capital especulativo global, que migra sem parar e baseado em considerações muitas vezes ligadas à imagem de um país ou região ou à moda, passará a ver a Rússia com melhores olhos ou mesmo torná-la “bola da vez” enquanto destino prioritário de suas aplicações.
Há poucos dias, o megainvestidor Jim Rogers, que nos anos 70 fundou com George Soros o Quantum Fund, declarou o seguinte à rede de televisão americana CNBC: “Eu sempre fui muito cético com relação à União Soviética e depois a Rússia, mas para minha grande supresa estou começando a olhar mais favoravelmente e a questionar minha opinião no que se refere à Rússia. Ainda não investi lá, mas estou considerando essa possibilidade pela primeira vez na vida”.
Carlos Serapião Jr. mora em Moscou e trabalha na B2U Trading. Formou-se no Instituto Rio Branco e tem mestrado em finanças pela École Nationale des Ponts et Chaussées.
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Re: O REGRESSO DA GRANDE RÚSSIA?
Petróleo amortece choques financeiros globais
30/08/2012
Serguêi Mináiev, Kommersant Vlast
Grau de influência dos choques financeiros globais sobre os mercados em desenvolvimento é determinado, em grande medida, por indicadores macroeconômicos. No entanto, por ser um dos principais produtores de petróleo do mundo, Rússia consegue levar vantagem na concorrência.
Todos os choques financeiros globais desde 1990 manifestaram-se, antes de tudo, na fuga de capital dos países em desenvolvimento, independentemente de as causas da crise terem sido geradas por esses países ou por acontecimentos sem nenhuma relação com eles.
Essa foi uma tendência natural, pois os investidores aplicaram seu dinheiro em fundos de investimento nos mercados de capitais desses países contando com uma alta rentabilidade, mas, desde o início, perceberam que os investimentos eram mais arriscados do que os mercados de capitais dos países industrializados.
No entanto, assim como choques financeiros geram o crescimento abrupto da instabilidade das ações no mundo inteiro, os investidores em pânico procuram se livrar das ações dos países em desenvolvimento.
Além disso, nos períodos de recessão financeira, o custo dos empréstimos tomados pelos países em desenvolvimento tende a aumentar de maneira drástica. Para os credores estrangeiros, esses países transformam-se automaticamente em devedores mais incertos do que, por exemplo, os EUA.
Um mês após o início do choque gerado pela crise da dívida russa, em 1998, o custo dos empréstimos estrangeiros para todos os mercados em desenvolvimento aumentou oito vezes; dois meses depois, após o choque causado pela falência da corretora Lehman Brothers, ele subiu quatro vezes.
Não é nem preciso dizer que para os choques financeiros globais afetarem determinados países, eles precisam estar integrados no mercado financeiro mundial. Por volta de 2010, em termos de integração financeira, a Rússia estava à frente de muitos mercados em desenvolvimento. Do mesmo modo, cada novo choque financeiro global pode ter uma influência muito significativa sobre o país.
Paralelamente, o grau de influência dos choques financeiros globais sobre os mercados em desenvolvimento é determinado, em grande medida, por indicadores macroeconômicos.
É claro que, quanto mais rápido e profundo é o desencanto de investidores e especuladores com determinado país, piores vão ficando os seus indicadores, como as relações entre o PIB e o déficit do balanço de pagamentos corrente, a dívida pública, o endividamento externo e o déficit orçamentário.
Durante esse período, a Rússia não apresentou déficit, mas superávit do balanço de pagamentos corrente. Por esse motivo, o país parecia e ainda se mostra, teoricamente, mais resistente a choques do que a maioria dos outros países.
No que diz respeito à relação entre a dívida pública e o PIB, de 2000 a 2010, a porcentagem caiu muito. A Rússia pode, então, ser considerada líder de todos os mercados em desenvolvimento e despertar, assim, menor temor nos investidores em caso de um novo choque.
A relação do endividamento externo com o PIB russo também caiu notavelmente e agora se encontra em um nível muito baixo (o mesmo aconteceu com o Brasil, Peru e Tailândia). Porém, quanto ao orçamento, a situação não é tão favorável.
Em 2000, na relação entre o superávit e o PIB, a Rússia cedia lugar apenas à Singapura e à Jamaica; por volta de 2010, ao superávit seguiu-se um déficit (essa mesma mudança ocorreu na África do Sul, Equador, Venezuela e Bulgária).
Embora, em torno de 2010, na relação entre o déficit orçamentário e o PIB, a Rússia tivesse sido ultrapassada por países como Índia, Ucrânia, Eslováquia, Lituânia e Polônia, a drástica transformação do superavit em déficit causou má impressão no mercado financeiro mundial.
A influência dos choques financeiros globais sobre os mercados em desenvolvimento manifesta-se na movimentação do PIB nacional. É possível falar de perdas no PIB em diferentes situações: às vezes o crescimento econômico não é tão grande quanto apontavam as previsões ou então, em lugar de aumento, há queda.
Segundo cálculos de especialistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), no decorrer dos choques financeiros verificados de 1990 a 2008, a Rússia foi o país que mais sofreu, tendo perdido ao todo 2% do PIB. Ao longo do choque iniciado em setembro de 2008, a Rússia de novo ficou entre os líderes, com perdas muito maiores – 12% do PIB. A Turquia perdeu 9% do PIB, a Tailândia e o Brasil, 8%; a Índia não foi afetada.
Chama a atenção o fato de que, no decorrer do choque financeiro global seguinte, quando, em maio de 2010, os participantes do mercado de capitais mundial pela primeira vez entraram em pânico por causa da longa crise na Grécia, a Rússia não sentiu os efeitos da recessão mundial.
Isso pode ser explicado claramente pelo fato de que, em 2008, os preços mundiais do petróleo despencaram de modo inacreditável, enquanto em 2010 não foi observada queda alguma.
Na comparação da Rússia com outros mercados em desenvolvimento fica fácil compreender que a questão não está apenas no grau de integração financeira ou na qualidade dos indicadores macroeconômicos. O diferencial da Rússia está em que, ao contrário de seus concorrentes, ela é um dos principais produtores de petróleo do mundo.
Originalmente publicado no site do Kommersant Vlast
http://gazetarussa.com.br/articles/2012 ... 15395.html
30/08/2012
Serguêi Mináiev, Kommersant Vlast
Grau de influência dos choques financeiros globais sobre os mercados em desenvolvimento é determinado, em grande medida, por indicadores macroeconômicos. No entanto, por ser um dos principais produtores de petróleo do mundo, Rússia consegue levar vantagem na concorrência.
Todos os choques financeiros globais desde 1990 manifestaram-se, antes de tudo, na fuga de capital dos países em desenvolvimento, independentemente de as causas da crise terem sido geradas por esses países ou por acontecimentos sem nenhuma relação com eles.
Essa foi uma tendência natural, pois os investidores aplicaram seu dinheiro em fundos de investimento nos mercados de capitais desses países contando com uma alta rentabilidade, mas, desde o início, perceberam que os investimentos eram mais arriscados do que os mercados de capitais dos países industrializados.
No entanto, assim como choques financeiros geram o crescimento abrupto da instabilidade das ações no mundo inteiro, os investidores em pânico procuram se livrar das ações dos países em desenvolvimento.
Além disso, nos períodos de recessão financeira, o custo dos empréstimos tomados pelos países em desenvolvimento tende a aumentar de maneira drástica. Para os credores estrangeiros, esses países transformam-se automaticamente em devedores mais incertos do que, por exemplo, os EUA.
Um mês após o início do choque gerado pela crise da dívida russa, em 1998, o custo dos empréstimos estrangeiros para todos os mercados em desenvolvimento aumentou oito vezes; dois meses depois, após o choque causado pela falência da corretora Lehman Brothers, ele subiu quatro vezes.
Não é nem preciso dizer que para os choques financeiros globais afetarem determinados países, eles precisam estar integrados no mercado financeiro mundial. Por volta de 2010, em termos de integração financeira, a Rússia estava à frente de muitos mercados em desenvolvimento. Do mesmo modo, cada novo choque financeiro global pode ter uma influência muito significativa sobre o país.
Paralelamente, o grau de influência dos choques financeiros globais sobre os mercados em desenvolvimento é determinado, em grande medida, por indicadores macroeconômicos.
É claro que, quanto mais rápido e profundo é o desencanto de investidores e especuladores com determinado país, piores vão ficando os seus indicadores, como as relações entre o PIB e o déficit do balanço de pagamentos corrente, a dívida pública, o endividamento externo e o déficit orçamentário.
Durante esse período, a Rússia não apresentou déficit, mas superávit do balanço de pagamentos corrente. Por esse motivo, o país parecia e ainda se mostra, teoricamente, mais resistente a choques do que a maioria dos outros países.
No que diz respeito à relação entre a dívida pública e o PIB, de 2000 a 2010, a porcentagem caiu muito. A Rússia pode, então, ser considerada líder de todos os mercados em desenvolvimento e despertar, assim, menor temor nos investidores em caso de um novo choque.
A relação do endividamento externo com o PIB russo também caiu notavelmente e agora se encontra em um nível muito baixo (o mesmo aconteceu com o Brasil, Peru e Tailândia). Porém, quanto ao orçamento, a situação não é tão favorável.
Em 2000, na relação entre o superávit e o PIB, a Rússia cedia lugar apenas à Singapura e à Jamaica; por volta de 2010, ao superávit seguiu-se um déficit (essa mesma mudança ocorreu na África do Sul, Equador, Venezuela e Bulgária).
Embora, em torno de 2010, na relação entre o déficit orçamentário e o PIB, a Rússia tivesse sido ultrapassada por países como Índia, Ucrânia, Eslováquia, Lituânia e Polônia, a drástica transformação do superavit em déficit causou má impressão no mercado financeiro mundial.
A influência dos choques financeiros globais sobre os mercados em desenvolvimento manifesta-se na movimentação do PIB nacional. É possível falar de perdas no PIB em diferentes situações: às vezes o crescimento econômico não é tão grande quanto apontavam as previsões ou então, em lugar de aumento, há queda.
Segundo cálculos de especialistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), no decorrer dos choques financeiros verificados de 1990 a 2008, a Rússia foi o país que mais sofreu, tendo perdido ao todo 2% do PIB. Ao longo do choque iniciado em setembro de 2008, a Rússia de novo ficou entre os líderes, com perdas muito maiores – 12% do PIB. A Turquia perdeu 9% do PIB, a Tailândia e o Brasil, 8%; a Índia não foi afetada.
Chama a atenção o fato de que, no decorrer do choque financeiro global seguinte, quando, em maio de 2010, os participantes do mercado de capitais mundial pela primeira vez entraram em pânico por causa da longa crise na Grécia, a Rússia não sentiu os efeitos da recessão mundial.
Isso pode ser explicado claramente pelo fato de que, em 2008, os preços mundiais do petróleo despencaram de modo inacreditável, enquanto em 2010 não foi observada queda alguma.
Na comparação da Rússia com outros mercados em desenvolvimento fica fácil compreender que a questão não está apenas no grau de integração financeira ou na qualidade dos indicadores macroeconômicos. O diferencial da Rússia está em que, ao contrário de seus concorrentes, ela é um dos principais produtores de petróleo do mundo.
Originalmente publicado no site do Kommersant Vlast
http://gazetarussa.com.br/articles/2012 ... 15395.html