Só para colocar as coisas em perspectiva: o país mais neoliberal do mundo socorreu a GM, por que ela quebraria por sua incapacidade de concorrer com Coreanas e Japonesas (leia-se Toyota).lelobh escreveu:Sei de todo valor do setor aeronáutico, mas até que ponto o Brasil (não os acionistas) tem auferido vantagens com a Embraer? É uma questão que devemos colocar na mesa, sem nacionalismos deslocados ou oba oba (não falo de você, falo de mim, eu mesmo antigamente me orgulhava como brasileiro pela Embraer, mas sinceramente, orgulhar de que?) Em ocasiões passadas o governo brasileiro deixou sem amparo empresários audaciosos e inventores, que realmente contribuiriam para um salto tecnológico no país, enquanto salvava empresas que nada somavam, enfim, players que fora do jogo seriam substituídos por outros da mesma qualidade. Em que caso a Embraer está?LeandroGCard escreveu:Bom, para começo de conversa a Embraer não é uma empresa ineficiente, muito pelo contrário, é tão eficiente que tornou-se a terceira maior do mundo competindo contra outros fabricantes do setor que tinham muito mais experiência e apoio de seus governos. Além disso, a capacidade de engenharia e gerenciamento de projetos da Embraer é algo que não tem paralelo em nosso país, e isso por si só é um patrimônio estratégico que precisa ser preservado, como acontece em qualquer nação séria do mundo.
Agora, se em uma época de crise mundial que afeta todas as companhias do setor no planeta a Embraer encontra dificuldades na comercialização de seus produtos (cuja qualidade ninguém questionou), e o governo pode ajudar com encomendas de unidades que de qualquer forma precisaríamos ter, porquê não? Será a Embraer culpada pela péssima administração do país, que faz com que suas linhas de suprimentos sejam submetidas a variações de custos absurdas (pelas flutuações tresloucadas do valor de nossa moeda), ou pelo fato das empresas de aviação brasileiras não poderem adquirir seus aviões devido aos altos impostos que tornam o produto estrangeiro muito mais barato aqui dentro? Não caberia ao governo pelo menos compensar estas distorções? Porque podem ser gastos dezenas de bilhões em estádios de futebol para a Copa e praças de esportes para a Olimpíada, mas não para salvar uma das poucas empresas no Brasil (talvez a única) capacitada a desenvolver produtos com tecnologia de ponta competitivos mundialmente?
Não se solucionam problemas de engenharia apenas com pesquisadores e modelos CAD/CAE no computador, por melhores que sejam os engenheiros e doutores envolvidos. São necessárias linhas de produção ativas e produtos em operação (veja o imbróglio que está sendo o F-35 pela tentativa justamente de resolver tudo na prancheta antes de testar adequadamente os protótipos e ajustar a produção, e isso nos EUA, que são bons no assunto). E se é para se ter uma fábrica completa com facilidades de testes e linhas de produção ativas, a própria Embraer já está aí mesmo, porque iniciar tudo do zero novamente?
Outra questão é que a Embraer não estará demitindo seus engenheiros e projetistas altamente especializados, ela precisa deles para o projeto do KC-390 e a atualização dos E-Jets. Quem está correndo o risco de demissão é o pessoal da linha de produção, pois a quantidade de aviões a serem entregues nos próximos anos vai cair e haverá gente demais para o ritmo de produção esperado (que aliás foi o que aconteceu em 2008). Qualquer ajuda à Embraer agora serviria para salvar o emprego deste pessoal de fabricação e no máximo de seus supervisores, a capacidade de engenharia da empresa por enquanto não corre risco de ser afetada. Mas pode vir a ser no futuro próximo, se os custos da linha de montagem não puderem ser cobertos por novas encomendas ou reduzidos, e a empresa entrar realmente em dificuldades financeiras antes de seus novos produtos estarem disponíveis para venda. É isso que se deve evitar que aconteça.
O setor aeronáutico não é regido pela lógica de mercado em lugar nenhum do planeta, ele é regido pelos interesses nacionais. Se tentarmos fazer diferente aqui, em breve não teremos mais é um setor aeronáutico nacional para seguir lógica alguma.
Um grande abraço à todos,
Leandro G. Card
Nos últimos 10 anos tem sido grande a demanda por seus jatos regionais, mas a empresa tem aproveitados os incentivos fiscais e ajudas governamentais (compras) para incentivar a construção de uma rede de fornecedores nacionais, ou simplesmente segue a lógica do mercado e compra de quem fornece mais barato (normalmente um fornecedor estrangeiro)? Já passamos dos 50% de conteúdo nacional? Sim o mundo empresarial não funciona assim, concordo, mas quando se trata de recursos públicos a gestão da empresa deve também se pautar pelo ganho da sociedade como um todo. Quando é empregado recurso público o mundo empresárial tem, por obrigação, que se pautar por outros objetivos que não apenas o lucro.
Não sei qual é a realidade da Embraer, não conheço a empresa, mas conheço o Brasil. Sinceramente, atualmente coloco a Embraer no mesmo patamar da Fiat, se bem que a Fiat provavelmente investe mais no Brasil do que a Embraer, além de provavelmente ter mais empregados.
Enfim, vai ver eu estou sendo "ácido" demais, se for o caso me desculpe. Em verdade espero estar errado.
Se o governo brasileiro perder a Embraer vai ter muita champanha estourando nos Estados Unidos, na Russia, no Canada e em muitos outros lugares. Seria um feito histórico ...
Abraços,
JT