Pressões Nucleares sobre o Brasil
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
Achei reação exagerada.
Era 22mil por mes e apenas para quem tinha +de 45 anos.
Daqui que essas pessoas fossem ter problemas (Se fossem ter problemas) devido a radiação já estariam na faixa dos 70 anos devido ao fato de pessoas +velhas demorarem mais para terem problemas referentes a radiação.
Não é como se estivessem enviando eles pra selar chernoby sem proteção e cuidados pra uma viagem sem volta.
Era 22mil por mes e apenas para quem tinha +de 45 anos.
Daqui que essas pessoas fossem ter problemas (Se fossem ter problemas) devido a radiação já estariam na faixa dos 70 anos devido ao fato de pessoas +velhas demorarem mais para terem problemas referentes a radiação.
Não é como se estivessem enviando eles pra selar chernoby sem proteção e cuidados pra uma viagem sem volta.
- Marino
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
ARTIGO
O TNP no centro do debate
Devemos trabalhar para garantir que tratado se adapte à nova realidade para combater as
atuais e futuras ameaças à paz
Alistair Burt - Ministro Adjunto de Relações Exteriores da Grã-Bretanha
Especial para O Estado
A palavra "nuclear" é encontrada com frequência nas primeiras páginas dos jornais, seja em
Teerã, Tóquio ou Túnis. Somente nas últimas semanas, assistimos a debates internacionais sobre o
programa nuclear do Irã e a preocupação generalizada de que o país esteja desenvolvendo armas
nucleares. Também acompanhamos o lançamento fracassado de um foguete da Coreia do Norte -
suspeito de ser parte de um programa de armas nucleares. Mas, ao mesmo tempo, testemunhamos,
durante a Cúpula de Segurança Nuclear em Seul, acordos inéditos entre líderes mundiais dispostos a
trabalhar para combater a ameaça do terrorismo atômico.
A questão da segurança nuclear conquistou as manchetes em 2011 durante a reação
emergencial ao acidente na usina nuclear de Fukushima, resultante do terremoto e do tsunami ocorridos
no Japão. Dada a expectativa de que a demanda mundial por energia dobrará até 2050, e a inevitável
necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa para evitarmos uma mudança catastrófica
do clima, não há dúvidas sobre a importância de levarmos adiante o debate sobre o uso pacífico da
energia nuclear e os riscos associados à difusão de armas nucleares.
O Tratado de Não Proliferação Nuclear, que surgiu do medo de que a Guerra Fria levaria a uma
corrida atômica, superou as expectativas em termos de longevidade, participação e cumprimento de seus
objetivos de combater a proliferação. Hoje, com 189 Estados-membros, o TNP possui mais signatários
do que qualquer outro tratado semelhante. Os três países não signatários - Índia, Israel e Paquistão - são
os únicos que supostamente teriam obtido armas nucleares desde o início do tratado, em 1968.
Há muito tempo deixamos para trás a era da Guerra Fria. Embora o TNP continue a ser um
considerável fator dissuasivo à proliferação de armas nucleares, todos devemos trabalhar a fim de
garantir que ele evolua e se adapte à nova realidade para combater as atuais e futuras ameaças à paz e
à segurança internacionais.
Obtivemos progresso significativo nesse sentido em 2010. Em minha primeira missão no exterior
representando o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, participei da Conferência de
Revisão do Tratado de Não Proliferação na sede da ONU, em Nova York. O resultado foi um impulso
significativo ao multilateralismo. Todos os Estados-membros concordaram em apoiar o TNP para lidar
com ameaças atuais e potenciais. Foi aprovado um plano de ação quinquenal que cobre os três pilares
do TNP - progresso com vistas ao desarmamento dos Estados detentores de armas nucleares; medidas
de prevenção da proliferação de armas nucleares a outros países; e apoio ao uso pacífico da energia
nuclear para os Estados que desejarem - parte crucial do acordo. A aprovação do Plano de Ação
representou o início de um processo. O verdadeiro teste será sua execução para garantir o cumprimento
dos compromissos até a Conferência de Revisão, em 2015.
As reuniões do Comitê Preparatório do TNP de 2012 em Viena (de segunda-feira até o dia11)
representarão a primeira oportunidade para avaliarmos e consolidarmos os avanços obtidos. Espero que
todos venham preparados para discutir seu progresso e planos de adoção do Plano de Ação do TNP.
Estou feliz em afirmar que a Grã-Bretanha terá uma excelente história para contar.
Desde 2010, a Grã-Bretanha vem definindo planos para a redução de ogivas e mísseis
nucleares, assim como os arsenais nucleares em geral. Entre os países detentores de armas nucleares
(China, França, Rússia, Grã-Bretanha e EUA), os arsenais atingiram seus níveis mais baixos desde a
Guerra Fria. Realizamos reuniões regulares para discutir nossa cooperação rumo à meta de longo prazo
de um mundo livre de armas nucleares. A Grã-Bretanha também está conduzindo um trabalho inovador
com a Noruega para a verificação da desmontagem de ogivas nucleares.
Também demos passos importantes rumo à prevenção da proliferação de armas nucleares.
Continuaremos a apoiar um sistema universal e fortalecido de salvaguardas para certificar que os
Estados cumpram suas obrigações internacionais de manutenção de um regime de não proliferação. As
Zonas Livres de Armas Nucleares fortalecem o regime e aumentam a segurança regional e internacional.
Em apoio a essa medida, chegamos a um acordo com a Associação de Nações do Sudeste Asiático,
frisando que não utilizaremos, nem ameaçaremos usar, armas nucleares contra os dez Estadosmembros
de sua Zona Livre de Armas Nucleares.
Na Conferência de Revisão em 2010, fiquei impressionado com a posição favorável de todos ao
fortalecimento do TNP. Isso reflete a crença geral de que o tratado representa nossa melhor chance de
obter uma situação equilibrada em relação a questões nucleares, que preveja progresso rumo às metas
de longo prazo de um mundo livre da ameaça de armas nucleares, ao passo que permita o uso pacífico
da energia nuclear. Se fracassarmos, arriscaremos a proliferação descontrolada de armas nucleares em
Estados párias e grupos terroristas. É de nossa mútua responsabilidade garantir que não fracassemos.
==================================================================================
O paradoxo nuclear
Leonam dos Santos Guimarães
Na Cúpula da OTAN, que teve lugar de 20 a 21 de maio em Chicago, a aliança reafirmou a
importância das armas nucleares para a estratégia de defesa do bloco ocidental e garantiu aos membros
europeus que o escudo de defesa antimíssil, atualmente em desenvolvimento, não pretende tomar o
lugar dessas armas.
Os EUA mantiveram, sob o "guarda-chuva" da OTAN, até 7.000 armas nucleares no território de
países da Europa durante a Guerra Fria. Embora a Guerra Fria tenha terminado há 20 anos, os EUA
continuam a manter cerca de 200 armas nucleares táticas em cinco países europeus: Bélgica,
Alemanha, Itália, Holanda e Turquia. Além disso, dois membros da OTAN, a França e o Reino Unido,
possuem armas nucleares próprias.
Os Estados Unidos planejam gastar pelo menos US$ 6 bilhões para modernizar as bombas
nucleares B-61 que estão em solo europeu. Essas bombas, lançadas por aviões bombardeiros, não
teriam nenhum emprego concebível pois seu desenvolvimento, décadas atrás, era justificado pelas
preocupações ocidentais sobre a superioridade militar convencional soviética na Europa. Parece que
essas preocupações permanecem apesar do fim da Guerra Fria, ou os alvos atuais seriam outros.
Dos cinco países europeus que abrigam armas nucleares americanas, dois (Alemanha e Itália)
proscreveram um uso pacífico da energia nuclear, a geração elétrica, e um terceiro (Bélgica) tem
declarado que segura esse mesmo caminho. É paradoxal o fato de que nesses países não se percebe
nenhum movimeto político ou da sociedade civil significado no sentido de proscrever essas armas de seu
território, apesar de todos serem membros do tratado de não proliferação nuclear.
Com a proximidade de conferência Rio+20 da ONU, diversas personalidades políticas e do
movimento ambientalista vêm se posicionando de forma radicalmente contrária ao uso pacífico da
energia nuclear, que é a geração elétrica. O "ensurdecedor" silêncio quanto às armas nucleares é
surpreendente. Mais ainda quando se leem as recentes notícias sobre os desdobramentos possíveis da
crise nuclear no Irã, da nova constituição da Coreia do Norte, promulgada em 13 abril passado, que
assume ser o país nuclearmente armado, o recente recrudescimento das tensões políticas em torno da
soberania das Ilhas Malvinas, que trouxe ao Atlântico Sul submarinos britânicos potencialmente dotados
de armas nucleares, e que a Alemanha participa do esforço bélico de Israel, supostamente voltado contra
o Irã, fornecendo-lhe submarinos capazes de lançar mísseis nucleares.
Mudanças climáticas e proliferação de armas nucleares são os dois fatores que representam a
maior ameaça à paz e à segurança internacional, senão à própria sobrevivência da civilização. Mas
enquanto a ameaça das mudanças climáticas se coloca no longo prazo, as armas nucleares são uma
ameaça que pode se concretizar a qualquer momento pelo uso proposital por Estados que as possuem,
por terroristas que as desviem ou pela ocorrência de acidentes.
A maneira eficaz de afastar a ameaça imediata das armas seria a eliminação total e irreversível
de todos os arsenais nucleares e a proscrição de produção, uso e armazenagem de urânio altamente
enriquecido e de plutônio em "grau de arma", materiais que não existem em território brasileiro. A
mitigação de ameaça das mudanças climáticas inclui necessariamente o desenvolvimento em ampla
escala da geração elétrica nuclear.
Assim como do aço, do nuclear podem ser feitos lanças e arados. A sustentabilidade pede a
proscrição das lanças e a proliferação dos arados. Mas não se ouvirá isso na Rio+20, infelizmente.
Leonam dos Santos Guimarães é doutor em engenharia, assistente da presidência da
Eletronuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria da Agência Internacional de Energia
Atômica.
O TNP no centro do debate
Devemos trabalhar para garantir que tratado se adapte à nova realidade para combater as
atuais e futuras ameaças à paz
Alistair Burt - Ministro Adjunto de Relações Exteriores da Grã-Bretanha
Especial para O Estado
A palavra "nuclear" é encontrada com frequência nas primeiras páginas dos jornais, seja em
Teerã, Tóquio ou Túnis. Somente nas últimas semanas, assistimos a debates internacionais sobre o
programa nuclear do Irã e a preocupação generalizada de que o país esteja desenvolvendo armas
nucleares. Também acompanhamos o lançamento fracassado de um foguete da Coreia do Norte -
suspeito de ser parte de um programa de armas nucleares. Mas, ao mesmo tempo, testemunhamos,
durante a Cúpula de Segurança Nuclear em Seul, acordos inéditos entre líderes mundiais dispostos a
trabalhar para combater a ameaça do terrorismo atômico.
A questão da segurança nuclear conquistou as manchetes em 2011 durante a reação
emergencial ao acidente na usina nuclear de Fukushima, resultante do terremoto e do tsunami ocorridos
no Japão. Dada a expectativa de que a demanda mundial por energia dobrará até 2050, e a inevitável
necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa para evitarmos uma mudança catastrófica
do clima, não há dúvidas sobre a importância de levarmos adiante o debate sobre o uso pacífico da
energia nuclear e os riscos associados à difusão de armas nucleares.
O Tratado de Não Proliferação Nuclear, que surgiu do medo de que a Guerra Fria levaria a uma
corrida atômica, superou as expectativas em termos de longevidade, participação e cumprimento de seus
objetivos de combater a proliferação. Hoje, com 189 Estados-membros, o TNP possui mais signatários
do que qualquer outro tratado semelhante. Os três países não signatários - Índia, Israel e Paquistão - são
os únicos que supostamente teriam obtido armas nucleares desde o início do tratado, em 1968.
Há muito tempo deixamos para trás a era da Guerra Fria. Embora o TNP continue a ser um
considerável fator dissuasivo à proliferação de armas nucleares, todos devemos trabalhar a fim de
garantir que ele evolua e se adapte à nova realidade para combater as atuais e futuras ameaças à paz e
à segurança internacionais.
Obtivemos progresso significativo nesse sentido em 2010. Em minha primeira missão no exterior
representando o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, participei da Conferência de
Revisão do Tratado de Não Proliferação na sede da ONU, em Nova York. O resultado foi um impulso
significativo ao multilateralismo. Todos os Estados-membros concordaram em apoiar o TNP para lidar
com ameaças atuais e potenciais. Foi aprovado um plano de ação quinquenal que cobre os três pilares
do TNP - progresso com vistas ao desarmamento dos Estados detentores de armas nucleares; medidas
de prevenção da proliferação de armas nucleares a outros países; e apoio ao uso pacífico da energia
nuclear para os Estados que desejarem - parte crucial do acordo. A aprovação do Plano de Ação
representou o início de um processo. O verdadeiro teste será sua execução para garantir o cumprimento
dos compromissos até a Conferência de Revisão, em 2015.
As reuniões do Comitê Preparatório do TNP de 2012 em Viena (de segunda-feira até o dia11)
representarão a primeira oportunidade para avaliarmos e consolidarmos os avanços obtidos. Espero que
todos venham preparados para discutir seu progresso e planos de adoção do Plano de Ação do TNP.
Estou feliz em afirmar que a Grã-Bretanha terá uma excelente história para contar.
Desde 2010, a Grã-Bretanha vem definindo planos para a redução de ogivas e mísseis
nucleares, assim como os arsenais nucleares em geral. Entre os países detentores de armas nucleares
(China, França, Rússia, Grã-Bretanha e EUA), os arsenais atingiram seus níveis mais baixos desde a
Guerra Fria. Realizamos reuniões regulares para discutir nossa cooperação rumo à meta de longo prazo
de um mundo livre de armas nucleares. A Grã-Bretanha também está conduzindo um trabalho inovador
com a Noruega para a verificação da desmontagem de ogivas nucleares.
Também demos passos importantes rumo à prevenção da proliferação de armas nucleares.
Continuaremos a apoiar um sistema universal e fortalecido de salvaguardas para certificar que os
Estados cumpram suas obrigações internacionais de manutenção de um regime de não proliferação. As
Zonas Livres de Armas Nucleares fortalecem o regime e aumentam a segurança regional e internacional.
Em apoio a essa medida, chegamos a um acordo com a Associação de Nações do Sudeste Asiático,
frisando que não utilizaremos, nem ameaçaremos usar, armas nucleares contra os dez Estadosmembros
de sua Zona Livre de Armas Nucleares.
Na Conferência de Revisão em 2010, fiquei impressionado com a posição favorável de todos ao
fortalecimento do TNP. Isso reflete a crença geral de que o tratado representa nossa melhor chance de
obter uma situação equilibrada em relação a questões nucleares, que preveja progresso rumo às metas
de longo prazo de um mundo livre da ameaça de armas nucleares, ao passo que permita o uso pacífico
da energia nuclear. Se fracassarmos, arriscaremos a proliferação descontrolada de armas nucleares em
Estados párias e grupos terroristas. É de nossa mútua responsabilidade garantir que não fracassemos.
==================================================================================
O paradoxo nuclear
Leonam dos Santos Guimarães
Na Cúpula da OTAN, que teve lugar de 20 a 21 de maio em Chicago, a aliança reafirmou a
importância das armas nucleares para a estratégia de defesa do bloco ocidental e garantiu aos membros
europeus que o escudo de defesa antimíssil, atualmente em desenvolvimento, não pretende tomar o
lugar dessas armas.
Os EUA mantiveram, sob o "guarda-chuva" da OTAN, até 7.000 armas nucleares no território de
países da Europa durante a Guerra Fria. Embora a Guerra Fria tenha terminado há 20 anos, os EUA
continuam a manter cerca de 200 armas nucleares táticas em cinco países europeus: Bélgica,
Alemanha, Itália, Holanda e Turquia. Além disso, dois membros da OTAN, a França e o Reino Unido,
possuem armas nucleares próprias.
Os Estados Unidos planejam gastar pelo menos US$ 6 bilhões para modernizar as bombas
nucleares B-61 que estão em solo europeu. Essas bombas, lançadas por aviões bombardeiros, não
teriam nenhum emprego concebível pois seu desenvolvimento, décadas atrás, era justificado pelas
preocupações ocidentais sobre a superioridade militar convencional soviética na Europa. Parece que
essas preocupações permanecem apesar do fim da Guerra Fria, ou os alvos atuais seriam outros.
Dos cinco países europeus que abrigam armas nucleares americanas, dois (Alemanha e Itália)
proscreveram um uso pacífico da energia nuclear, a geração elétrica, e um terceiro (Bélgica) tem
declarado que segura esse mesmo caminho. É paradoxal o fato de que nesses países não se percebe
nenhum movimeto político ou da sociedade civil significado no sentido de proscrever essas armas de seu
território, apesar de todos serem membros do tratado de não proliferação nuclear.
Com a proximidade de conferência Rio+20 da ONU, diversas personalidades políticas e do
movimento ambientalista vêm se posicionando de forma radicalmente contrária ao uso pacífico da
energia nuclear, que é a geração elétrica. O "ensurdecedor" silêncio quanto às armas nucleares é
surpreendente. Mais ainda quando se leem as recentes notícias sobre os desdobramentos possíveis da
crise nuclear no Irã, da nova constituição da Coreia do Norte, promulgada em 13 abril passado, que
assume ser o país nuclearmente armado, o recente recrudescimento das tensões políticas em torno da
soberania das Ilhas Malvinas, que trouxe ao Atlântico Sul submarinos britânicos potencialmente dotados
de armas nucleares, e que a Alemanha participa do esforço bélico de Israel, supostamente voltado contra
o Irã, fornecendo-lhe submarinos capazes de lançar mísseis nucleares.
Mudanças climáticas e proliferação de armas nucleares são os dois fatores que representam a
maior ameaça à paz e à segurança internacional, senão à própria sobrevivência da civilização. Mas
enquanto a ameaça das mudanças climáticas se coloca no longo prazo, as armas nucleares são uma
ameaça que pode se concretizar a qualquer momento pelo uso proposital por Estados que as possuem,
por terroristas que as desviem ou pela ocorrência de acidentes.
A maneira eficaz de afastar a ameaça imediata das armas seria a eliminação total e irreversível
de todos os arsenais nucleares e a proscrição de produção, uso e armazenagem de urânio altamente
enriquecido e de plutônio em "grau de arma", materiais que não existem em território brasileiro. A
mitigação de ameaça das mudanças climáticas inclui necessariamente o desenvolvimento em ampla
escala da geração elétrica nuclear.
Assim como do aço, do nuclear podem ser feitos lanças e arados. A sustentabilidade pede a
proscrição das lanças e a proliferação dos arados. Mas não se ouvirá isso na Rio+20, infelizmente.
Leonam dos Santos Guimarães é doutor em engenharia, assistente da presidência da
Eletronuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria da Agência Internacional de Energia
Atômica.
Editado pela última vez por Marino em Qui Jun 21, 2012 7:55 pm, em um total de 1 vez.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
Barão do Rio Branco
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
Uma dúvida de leigo que tenho, o Brasil tem capacidade pra criar um artefato nuclear? Se sim, temos uma forma de lançar ou transportar este artefato? E caso construíssemos esse artefato, a reação internacional seria como tão reagindo com o Irã?
- suntsé
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
O Brasil tem tecnologia para construir um artefato nuclear. Mas a tecnologia para levar o artefato ao território inimigo (Missil Balistico) não.jeanscofield escreveu:Uma dúvida de leigo que tenho, o Brasil tem capacidade pra criar um artefato nuclear? Se sim, temos uma forma de lançar ou transportar este artefato? E caso construíssemos esse artefato, a reação internacional seria como tão reagindo com o Irã?
- henriquejr
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
O Brasil ta na lista de países que possui tecnologia e conhecimento para produzir artefatos nucleares mas que abriu mãos de sua produção assinando tratados internacionais. Dizem que o Brasil chegou até a produzir um artefato ou chegou muito próximo disso, tendo construído até a infraestrutura para testa-la, na Serra do Cachimbo.suntsé escreveu:O Brasil tem tecnologia para construir um artefato nuclear. Mas a tecnologia para levar o artefato ao território inimigo (Missil Balistico) não.jeanscofield escreveu:Uma dúvida de leigo que tenho, o Brasil tem capacidade pra criar um artefato nuclear? Se sim, temos uma forma de lançar ou transportar este artefato? E caso construíssemos esse artefato, a reação internacional seria como tão reagindo com o Irã?
Interessante que até poucos anos atrás, os organismos internacionais colocavam o Brasil no mesmo nível de Israel, na lista de países que possuíam tecnologia para produção de bombas nucleares mas que nunca chegaram a testar uma ou confirmar a sua existência. Somente recentemente os israelenses passaram a falar abertamente que possui em seus arsenais artefatos nucleares. Será que este artefato que o Brasil ia testar em Cachimbo ainda não existe? Será que o Brasil não possui algumas Nukes em seu arsenal bélico mas sem confirmar sua existência, assim como fazia Israel até pouco tempo atrás?Na entrevista que deu ao programa Fantástico, da Rede Globo, José Sarney contou que, ao assumir o governo, descobriu que havia instalações nucleares na Serra do Cachimbo, no oeste do estado do Pará. O ex-presidente afirmou que o assunto era "segredo de Estado", e por isso não podia ser divulgado. Também em entrevista ao programa, José Luiz Santana, que substituiu Rex Nazaré Alves na presidência da CNEN, afirmou que mais de 50 equipes chegaram a ser mobilizadas para fazer a bomba, artefato que teria potência equivalente às ogivas nucleares lançadas pelos Estados Unidos no Japão.
Só em 1990 foi fechado um túnel construído clandestinamente para a realização de testes nucleares na Serra do Cachimbo. O presidente Fernando Collor de Mello, em ato público no início de setembro, colocou simbolicamente uma pá de cal sobre a entrada do buraco e ordenou sua destruição ([destacar]haveria uma suposta detonação de um "artefato nuclear" no dia 7 de setembro do mesmo ano[/destacar]). Os militares esconderam do presidente a existência de um segundo túnel, que estava pronto para um "teste", túnel esse que foi destruído alguns meses depois.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_Nuclear_Paralelo
Olha que a TROCANO poderia ser um hospedeiro de um artefato desses!! Será que seu desenvolvimento foi pensando mesmo em abrir clareiras em meio a florestas?!
.
- Boss
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
Exato.suntsé escreveu:O Brasil tem tecnologia para construir um artefato nuclear. Mas a tecnologia para levar o artefato ao território inimigo (Missil Balistico) não.jeanscofield escreveu:Uma dúvida de leigo que tenho, o Brasil tem capacidade pra criar um artefato nuclear? Se sim, temos uma forma de lançar ou transportar este artefato? E caso construíssemos esse artefato, a reação internacional seria como tão reagindo com o Irã?
Mas creio que por pouco tempo. Os nossos desenvolvimentos nacionais na área de mísseis logo devem proporcionar que ao menos lançar uma ogiva por um míssil de cruzeiro a partir de um submarino (ou qualquer coisa que lance o míssil) seja possível. Claro, se quisessemos.
Claro que isso não é tão "seguro" quanto possuir ICBMs, mas não se pode negar que teremos como lançar as nossas armas nucleares. Principalmente quando combinadas com um submarino nuclear...
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
Sem contar que a tecnologia do VLS e do VLM é dual, ou seja, não estaríamos tão longe assim de um ICBM se precisássemos.Boss escreveu:Exato.suntsé escreveu: O Brasil tem tecnologia para construir um artefato nuclear. Mas a tecnologia para levar o artefato ao território inimigo (Missil Balistico) não.
Mas creio que por pouco tempo. Os nossos desenvolvimentos nacionais na área de mísseis logo devem proporcionar que ao menos lançar uma ogiva por um míssil de cruzeiro a partir de um submarino (ou qualquer coisa que lance o míssil) seja possível. Claro, se quisessemos.
Claro que isso não é tão "seguro" quanto possuir ICBMs, mas não se pode negar que teremos como lançar as nossas armas nucleares. Principalmente quando combinadas com um submarino nuclear...
[]´s,
JT
- Italo Lobo
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
As sabotagens internacionais com o programa de lançamentos de satélites brasileiro, era justamente este, uma vez que o mesmo foguete também serviria como plataforma para artefatos nucleares,o que daria ao Brasil capacidade nuclear estratégica.suntsé escreveu:O Brasil tem tecnologia para construir um artefato nuclear. Mas a tecnologia para levar o artefato ao território inimigo (Missil Balistico) não.jeanscofield escreveu:Uma dúvida de leigo que tenho, o Brasil tem capacidade pra criar um artefato nuclear? Se sim, temos uma forma de lançar ou transportar este artefato? E caso construíssemos esse artefato, a reação internacional seria como tão reagindo com o Irã?
Mas agora que estamos adquirindo tecnologia para mísseis, como a França poderíamos construir mísseis táticos de defesa,que poderiam ser muito bem utilizados contra frotas navais. Seria uma bela arma dissuasória...
- suntsé
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
Legal, eu não sabia que esta parceria com a frança também incluia tecnologia de misseis.Italo Lobo escreveu:As sabotagens internacionais com o programa de lançamentos de satélites brasileiro, era justamente este, uma vez que o mesmo foguete também serviria como plataforma para artefatos nucleares,o que daria ao Brasil capacidade nuclear estratégica.suntsé escreveu: O Brasil tem tecnologia para construir um artefato nuclear. Mas a tecnologia para levar o artefato ao território inimigo (Missil Balistico) não.
Mas agora que estamos adquirindo tecnologia para mísseis, como a França poderíamos construir mísseis táticos de defesa,que poderiam ser muito bem utilizados contra frotas navais. Seria uma bela arma dissuasória...
Gostia de saber mais detalhes, você teria algum link para me indicar, eu dei uma olhada nas seções navais e não achei nada a respeito. Talves eu não esteja olhando direito.
Obrigado.
- Marino
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
13856 [NUKE] Por que “nuclear” assusta tanto?
Por que “nuclear” assusta tanto?
de nore...@blogger.com (REEBD)
Por Leonam dos Santos Guimarães (*)
Diga isso em voz alta: NUCLEAR. Como você se sente? Muitas pessoas têm
associações negativas com a palavra, sentimentos que foram
amplificados desde que um terremoto e tsunami de severidade inusitada
atingiu as usinas da Central de Fukushima Daiichi, no Japão, dia 11 de
março de 2011.
As autoridades de saúde continuam a enfatizar que os níveis de
radioatividade que atingiram o público não vão nem chegar perto de
prejudicar a saúde humana. Foram traços que não constituem motivo de
preocupação.
Se não há perigo real, por que o medo? As pessoas geralmente pensam
sobre o risco do ponto de vista emocional, não de uma avaliação
racional. Veja como você realmente calcular o risco: multiplique a
probabilidade de evento indesejado pela gravidade de sua conseqüência.
Mas se você pedir as pessoas para avaliar riscos, as respostas
certamente não correspondem a esse cálculo. Elas responderão com sua
intuição. Uma alta porcentagem das pessoas associa usinas nucleares a
armas nucleares. Essa associação ainda está nos corações e mentes e
condicionam as reações à geração elétrica nuclear.
Alguns dizem que nossa aversão à energia nuclear vai mais longe do que
isso. A forma como pensamos sobre a energia nuclear tem raízes
anteriores à descoberta da radioatividade em 1896. Os alquimistas
medievais, por exemplo, estavam interessados em transmutação, que se
define como o renascimento através da destruição. Idéias sobre a
transmutação e cenários apocalípticos se reuniram em torno do
potencial da radiação, percebida como perigosa demais.
Na década de 1930 a maioria das pessoas associava a radioatividade com
raios estranhos que podiam causar uma morte horrenda ou o milagre de
uma nova vida, com cientistas loucos e seus monstros ambíguos, com
segredos cósmicos da morte e da vida; com uma futura Idade de Ouro,
talvez alcançada apenas por meio de um apocalipse, e com armas
potentes o suficiente para destruir o mundo, exceto talvez para alguns
sobreviventes.
Os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki confirmaram esta
estrutura de imagens de esperança e medo, e fez tais idéias
proeminentes. A desconfiança cresceu no início dos anos 1960, com as
autoridades nucleares sendo consideradas como homens perigosos, quando
não como cientistas loucos. Um movimento social eclodiu contra usinas
nucleares na década de 1970, juntamente com o medo de bombas atômicas,
associando energia nuclear à morte. Então veio Chernobyl, em 1986, o
maior acidente nuclear do mundo, que prejudicou ainda mais a percepção
da energia nuclear.
Hoje, as pessoas são submetidas regularmente a procedimentos
diagnósticos chamados de “ressonância magnética”, mas a técnica foi
originalmente chamada de "ressonância nuclear magnética", com o
primeiro teste com seres humanos feito na década de 1970. Mas por
causa das más associações, ninguém queria entrar em uma máquina
chamada "nuclear", e assim o nome foi alterado.
Diversos estudos internacionais mostram que, na indústria de geração
elétrica, a nuclear é aquela que provoca o menor número de mortes por
quilowatt-hora produzido. Aqui estão alguns números reais: 10.000
pessoas terão morrido de câncer de resultado de Chernobyl, o maior
acidente nuclear do mundo, de acordo com algumas estimativas bastante
pessimistas. Mas a poluição das usinas a carvão causa um número bem
maior de mortes a cada ano. Mas estamos falando de uma forma invisível
de morrer mais cedo - por câncer, em Chernobyl - versus outra forma: a
poluição do ar por partículas finas.
Em Fukushima Daiichi ninguém morreu por doenças decorrentes da
radiação mas o número de mortos decorrentes dos efeitos do terremoto e
tsunami foi maior que 16.000 pessoas. Ao invés de nos preocuparmos com
traços de radioatividade que são eventualmente encontrados e diversos
locais do mundo, porque são muito fáceis de medir, seria mais
importante nos mobilizarmos para ajudar as vítimas do tsunami e o
terremoto.
A familiaridade com um risco é parte fundamental da sua percepção.
Algo que é relativamente desconhecido para você vai parecer mais
perigoso do que algo que você já se expôs anteriormente. E a geração
elétrica nuclear e seu funcionamento não são temas nos quais as
pessoas estejam familiarizadas.
Isso explica porque é nas comunidades mais próximas das usinas
nucleares que se encontram os mais altos níveis de aceitação,
decorrentes da convivência e maior conhecimento, que fazem com que a
percepção dos riscos seja mais realista, mas também por uma percepção
mais clara dos benefícios associados.
Curiosamente, a radiação deveria ser familiar a todos, já que é em
toda parte. A radiação está em torno de nós, vinda do sol, do espaço e
de outras fontes naturais na própria Terra. E ela é empregada
rotineiramente em procedimentos médicos, como raios-X e tratamentos de
câncer. Mas a consciência de que a radiação pode levar à temida
conseqüência de câncer nos faz sentir mal sobre a exposição a usinas
nucleares.
A radioatividade natural existe na Terra desde que o planeta se
formou. São cerca de 60 radionuclídeos presentes na natureza. Eles são
encontrados no ar, água, solos, rochas e minerais, bem como nos
alimentos e no nosso próprio corpo. Cerca de 90% desta radiação
ambiental provem de fontes naturais, sendo a maior delas o gás
radônio.
Alguns locais no mundo, chamados de Áreas de Alta Radiação de Fundo
(High Background Radiation Áreas – HBRAs) têm, anomalamente, altos
níveis de radiatividade naturais, muito superiores à média do planeta.
A geologia e geoquímica das rochas e dos minerais encontrados nessas
áreas têm a maior influência na determinação de onde esta alta
radiação natural aparece.
HBRAs extremas são encontradas principalmente em regiões tropicais,
áridas ou semi-áridas, como Guarapari (Brasil), sudoeste França,
Ramsar (Irã), partes da China e Costa do Kerala (Índia). Em certas
praias do sudeste do Brasil, especialmente no sul do estado do
Espírito Santo, os depósitos de areias monazíticas são abundantes. Os
níveis de radiação externa nestas areias da praia negras corresponde a
quase 400 vezes o nível normal de radiação de fundo no mundo. Estas
areias da costa brasileira têm várias minerais radioativos, dentre
eles monazita, zircônio, torianita e columbita-tantalita, bem como
minerais não radioativos, incluindo ilmenita, rutilo, pirocloro e
cassiterita.
No sudoeste da Índia, ao longo dos 570 km de extensão da costa do
estado de Kerala, há também grandes jazidas de areias ricas em
monazita, com elevada radiação natural. Os depósitos de monazita são
ainda maiores do que aqueles encontrados no Brasil, mas a dose de
externa de radiação é, em média, semelhante às verificadas em nosso
País.
Ramsar, uma cidade no norte do Irã, tem os mais altos níveis de
radiação natural no mundo. Exposições tão elevadas como 260 mGy/ano já
foram registrados em Ramsar. A unidade de radiação ionizante utilizada
aqui, grays por ano, corresponde a 1 Joule de energia transferida a 1
kg de tecido vivo (o miligray, mGy, que é um milésimo de gray, é mais
comumente usado). Uma exposição de corpo inteiro a uma dose uniforme
de 3-5 Gy mataria 50% dos organismos vivos expostos num período de 1 a
2 meses.
A característica mais interessante em todos estes casos é que estudos
epidemiológicos mostram que as pessoas que vivem nestes locais HBRAs
não parecem sofrer qualquer efeito adverso sobre a saúde como
resultado de suas exposições elevadas à radiação. Pelo contrário, em
alguns casos os indivíduos que vivem nestas HBRAs parecem ser ainda
mais saudáveis e viver mais do que aqueles em locais de controle que
não são classificados como HBRAs.
Estes fenômenos colocam muitas questões intrigantes. Se eles fossem
mais conhecidos do público, talvez criasse aquela familiaridade, tão
fundamental para a percepção de riscos, que possibilitaria não termos
tanto medo do “nuclear”.
(*) Assistente da Presidência da Eletronuclear e membro do Grupo
Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do Diretor-Geral da AIEA
GUIMARÃES, Leonam dos Santos. Por que “nuclear” assusta tanto? Revista
Eletrônica Estratégia Brasileira de Defesa – A Política e as Forças
Armadas em Debate, Nº 71, Rio, 2012 [00-28-11-1983].
Por que “nuclear” assusta tanto?
de nore...@blogger.com (REEBD)
Por Leonam dos Santos Guimarães (*)
Diga isso em voz alta: NUCLEAR. Como você se sente? Muitas pessoas têm
associações negativas com a palavra, sentimentos que foram
amplificados desde que um terremoto e tsunami de severidade inusitada
atingiu as usinas da Central de Fukushima Daiichi, no Japão, dia 11 de
março de 2011.
As autoridades de saúde continuam a enfatizar que os níveis de
radioatividade que atingiram o público não vão nem chegar perto de
prejudicar a saúde humana. Foram traços que não constituem motivo de
preocupação.
Se não há perigo real, por que o medo? As pessoas geralmente pensam
sobre o risco do ponto de vista emocional, não de uma avaliação
racional. Veja como você realmente calcular o risco: multiplique a
probabilidade de evento indesejado pela gravidade de sua conseqüência.
Mas se você pedir as pessoas para avaliar riscos, as respostas
certamente não correspondem a esse cálculo. Elas responderão com sua
intuição. Uma alta porcentagem das pessoas associa usinas nucleares a
armas nucleares. Essa associação ainda está nos corações e mentes e
condicionam as reações à geração elétrica nuclear.
Alguns dizem que nossa aversão à energia nuclear vai mais longe do que
isso. A forma como pensamos sobre a energia nuclear tem raízes
anteriores à descoberta da radioatividade em 1896. Os alquimistas
medievais, por exemplo, estavam interessados em transmutação, que se
define como o renascimento através da destruição. Idéias sobre a
transmutação e cenários apocalípticos se reuniram em torno do
potencial da radiação, percebida como perigosa demais.
Na década de 1930 a maioria das pessoas associava a radioatividade com
raios estranhos que podiam causar uma morte horrenda ou o milagre de
uma nova vida, com cientistas loucos e seus monstros ambíguos, com
segredos cósmicos da morte e da vida; com uma futura Idade de Ouro,
talvez alcançada apenas por meio de um apocalipse, e com armas
potentes o suficiente para destruir o mundo, exceto talvez para alguns
sobreviventes.
Os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki confirmaram esta
estrutura de imagens de esperança e medo, e fez tais idéias
proeminentes. A desconfiança cresceu no início dos anos 1960, com as
autoridades nucleares sendo consideradas como homens perigosos, quando
não como cientistas loucos. Um movimento social eclodiu contra usinas
nucleares na década de 1970, juntamente com o medo de bombas atômicas,
associando energia nuclear à morte. Então veio Chernobyl, em 1986, o
maior acidente nuclear do mundo, que prejudicou ainda mais a percepção
da energia nuclear.
Hoje, as pessoas são submetidas regularmente a procedimentos
diagnósticos chamados de “ressonância magnética”, mas a técnica foi
originalmente chamada de "ressonância nuclear magnética", com o
primeiro teste com seres humanos feito na década de 1970. Mas por
causa das más associações, ninguém queria entrar em uma máquina
chamada "nuclear", e assim o nome foi alterado.
Diversos estudos internacionais mostram que, na indústria de geração
elétrica, a nuclear é aquela que provoca o menor número de mortes por
quilowatt-hora produzido. Aqui estão alguns números reais: 10.000
pessoas terão morrido de câncer de resultado de Chernobyl, o maior
acidente nuclear do mundo, de acordo com algumas estimativas bastante
pessimistas. Mas a poluição das usinas a carvão causa um número bem
maior de mortes a cada ano. Mas estamos falando de uma forma invisível
de morrer mais cedo - por câncer, em Chernobyl - versus outra forma: a
poluição do ar por partículas finas.
Em Fukushima Daiichi ninguém morreu por doenças decorrentes da
radiação mas o número de mortos decorrentes dos efeitos do terremoto e
tsunami foi maior que 16.000 pessoas. Ao invés de nos preocuparmos com
traços de radioatividade que são eventualmente encontrados e diversos
locais do mundo, porque são muito fáceis de medir, seria mais
importante nos mobilizarmos para ajudar as vítimas do tsunami e o
terremoto.
A familiaridade com um risco é parte fundamental da sua percepção.
Algo que é relativamente desconhecido para você vai parecer mais
perigoso do que algo que você já se expôs anteriormente. E a geração
elétrica nuclear e seu funcionamento não são temas nos quais as
pessoas estejam familiarizadas.
Isso explica porque é nas comunidades mais próximas das usinas
nucleares que se encontram os mais altos níveis de aceitação,
decorrentes da convivência e maior conhecimento, que fazem com que a
percepção dos riscos seja mais realista, mas também por uma percepção
mais clara dos benefícios associados.
Curiosamente, a radiação deveria ser familiar a todos, já que é em
toda parte. A radiação está em torno de nós, vinda do sol, do espaço e
de outras fontes naturais na própria Terra. E ela é empregada
rotineiramente em procedimentos médicos, como raios-X e tratamentos de
câncer. Mas a consciência de que a radiação pode levar à temida
conseqüência de câncer nos faz sentir mal sobre a exposição a usinas
nucleares.
A radioatividade natural existe na Terra desde que o planeta se
formou. São cerca de 60 radionuclídeos presentes na natureza. Eles são
encontrados no ar, água, solos, rochas e minerais, bem como nos
alimentos e no nosso próprio corpo. Cerca de 90% desta radiação
ambiental provem de fontes naturais, sendo a maior delas o gás
radônio.
Alguns locais no mundo, chamados de Áreas de Alta Radiação de Fundo
(High Background Radiation Áreas – HBRAs) têm, anomalamente, altos
níveis de radiatividade naturais, muito superiores à média do planeta.
A geologia e geoquímica das rochas e dos minerais encontrados nessas
áreas têm a maior influência na determinação de onde esta alta
radiação natural aparece.
HBRAs extremas são encontradas principalmente em regiões tropicais,
áridas ou semi-áridas, como Guarapari (Brasil), sudoeste França,
Ramsar (Irã), partes da China e Costa do Kerala (Índia). Em certas
praias do sudeste do Brasil, especialmente no sul do estado do
Espírito Santo, os depósitos de areias monazíticas são abundantes. Os
níveis de radiação externa nestas areias da praia negras corresponde a
quase 400 vezes o nível normal de radiação de fundo no mundo. Estas
areias da costa brasileira têm várias minerais radioativos, dentre
eles monazita, zircônio, torianita e columbita-tantalita, bem como
minerais não radioativos, incluindo ilmenita, rutilo, pirocloro e
cassiterita.
No sudoeste da Índia, ao longo dos 570 km de extensão da costa do
estado de Kerala, há também grandes jazidas de areias ricas em
monazita, com elevada radiação natural. Os depósitos de monazita são
ainda maiores do que aqueles encontrados no Brasil, mas a dose de
externa de radiação é, em média, semelhante às verificadas em nosso
País.
Ramsar, uma cidade no norte do Irã, tem os mais altos níveis de
radiação natural no mundo. Exposições tão elevadas como 260 mGy/ano já
foram registrados em Ramsar. A unidade de radiação ionizante utilizada
aqui, grays por ano, corresponde a 1 Joule de energia transferida a 1
kg de tecido vivo (o miligray, mGy, que é um milésimo de gray, é mais
comumente usado). Uma exposição de corpo inteiro a uma dose uniforme
de 3-5 Gy mataria 50% dos organismos vivos expostos num período de 1 a
2 meses.
A característica mais interessante em todos estes casos é que estudos
epidemiológicos mostram que as pessoas que vivem nestes locais HBRAs
não parecem sofrer qualquer efeito adverso sobre a saúde como
resultado de suas exposições elevadas à radiação. Pelo contrário, em
alguns casos os indivíduos que vivem nestas HBRAs parecem ser ainda
mais saudáveis e viver mais do que aqueles em locais de controle que
não são classificados como HBRAs.
Estes fenômenos colocam muitas questões intrigantes. Se eles fossem
mais conhecidos do público, talvez criasse aquela familiaridade, tão
fundamental para a percepção de riscos, que possibilitaria não termos
tanto medo do “nuclear”.
(*) Assistente da Presidência da Eletronuclear e membro do Grupo
Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do Diretor-Geral da AIEA
GUIMARÃES, Leonam dos Santos. Por que “nuclear” assusta tanto? Revista
Eletrônica Estratégia Brasileira de Defesa – A Política e as Forças
Armadas em Debate, Nº 71, Rio, 2012 [00-28-11-1983].
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
Começou outra campanha:
O Estado de São Paulo
POLÍTICA
Usina nuclear no sertão ameaça índios pankarás
Tribo que foi forçada a deixar suas terras perto do São Francisco agora se revolta contra abertura de estrada que corta a aldeia, em Pernambuco
Leonencio Nossa
Quando o governo transferiu a aldeia da margem do Rio São Francisco para um terreno pedregoso e sem água, em Itacurubá, a 466 quilômetros do Recife, o então cacique Geraldo Cabral pensou que o megaprojeto da Represa de Itaparica era o último ataque à história dos pankarás, índios que resistiram, durante quatro séculos, a jesuítas, franciscanos, capuchinhos, criadores de gado, escravagistas, cangaceiros, coronéis, líderes messiânicos, corruptos e assentados da reforma agrária.
A história se repete. Tratores amarelos, mesma cor das máquinas que derrubaram malocas antes do enchimento da reserva, em 1988, cortaram a comunidade onde vivem 65 famílias para a abertura de uma estrada estadual, construída com recursos federais. O susto maior foi quando os índios receberam a notícia de que o caminho na caatinga levaria a uma usina nuclear.
O projeto de uma usina no semiárido nordestino chegou a ser anunciado no ano passado pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A ideia está engavetada, pois não convenceu setores influentes do governo e recebeu críticas pesadas de políticos e cientistas. Uma estrada, porém, começou a ser aberta na terra dos pankarás para garantir o acesso a um sítio, a 8 km das malocas, reservado para a usina.
'Bomba'. "No passado, eles tiraram a gente da beira do rio, onde tinha água e peixe. A gente ficou na pedra", lembra o índio Fernando Antonio da Silva, de 65 anos, um dos mais antigos da tribo. "Só não é pior que ficar ao lado da bomba. Se tiver problema, não vai dar tempo de correr."
Os técnicos do governo espalharam no centro de Itacurubá a versão de que serão criados, durante as obras, 4 mil empregos - e depois, a usina, que "não é uma bomba", trará finalmente o desenvolvimento da região. Era uma notícia robusta para os habitantes de Itacurubá, Rodelas e Petrolândia, cidades reconstruídas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a Chesf, após a inundação da represa.
Os moradores da região saíram de uma economia de subsistência, de pequenas criações e lavouras, para viver ao redor das prefeituras e dos salários do funcionalismo público, em novos centros urbanos. "O governo sabe tudo o que está ocorrendo", diz, resignado, Jorge França, de 40 anos, uma das novas lideranças dos pankarás. "Eles (os políticos) sempre nos viram como pessoas que empatam o desenvolvimento do Brasil", reclama a cacique Lucélia Leal Cabral, de 34 anos. "Não ganhamos indenização em 1988 e não queremos agora. A tribo precisa apenas de paz para sobreviver."
Até dezembro de 2002, os índios da região utilizavam vários nomes e expressões para reafirmar sua distintividade étnica, como "caboclo" e "braiado". No começo de 2003, passaram a adotar o etnônimo Pankará da Serra do Arapuá. Hoje, o povo indígena reúne quase 3 mil pessoas - a Funai só tomou providências quanto ao reconhecimento territorial em 2005.
Lucélia não se opõe a obras de infraestrutura do governo, mas critica a falta de diálogo com os índios e a ausência de compromisso para garantir que a comunidade seja beneficiada.
O Estado de São Paulo
POLÍTICA
Usina nuclear no sertão ameaça índios pankarás
Tribo que foi forçada a deixar suas terras perto do São Francisco agora se revolta contra abertura de estrada que corta a aldeia, em Pernambuco
Leonencio Nossa
Quando o governo transferiu a aldeia da margem do Rio São Francisco para um terreno pedregoso e sem água, em Itacurubá, a 466 quilômetros do Recife, o então cacique Geraldo Cabral pensou que o megaprojeto da Represa de Itaparica era o último ataque à história dos pankarás, índios que resistiram, durante quatro séculos, a jesuítas, franciscanos, capuchinhos, criadores de gado, escravagistas, cangaceiros, coronéis, líderes messiânicos, corruptos e assentados da reforma agrária.
A história se repete. Tratores amarelos, mesma cor das máquinas que derrubaram malocas antes do enchimento da reserva, em 1988, cortaram a comunidade onde vivem 65 famílias para a abertura de uma estrada estadual, construída com recursos federais. O susto maior foi quando os índios receberam a notícia de que o caminho na caatinga levaria a uma usina nuclear.
O projeto de uma usina no semiárido nordestino chegou a ser anunciado no ano passado pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A ideia está engavetada, pois não convenceu setores influentes do governo e recebeu críticas pesadas de políticos e cientistas. Uma estrada, porém, começou a ser aberta na terra dos pankarás para garantir o acesso a um sítio, a 8 km das malocas, reservado para a usina.
'Bomba'. "No passado, eles tiraram a gente da beira do rio, onde tinha água e peixe. A gente ficou na pedra", lembra o índio Fernando Antonio da Silva, de 65 anos, um dos mais antigos da tribo. "Só não é pior que ficar ao lado da bomba. Se tiver problema, não vai dar tempo de correr."
Os técnicos do governo espalharam no centro de Itacurubá a versão de que serão criados, durante as obras, 4 mil empregos - e depois, a usina, que "não é uma bomba", trará finalmente o desenvolvimento da região. Era uma notícia robusta para os habitantes de Itacurubá, Rodelas e Petrolândia, cidades reconstruídas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a Chesf, após a inundação da represa.
Os moradores da região saíram de uma economia de subsistência, de pequenas criações e lavouras, para viver ao redor das prefeituras e dos salários do funcionalismo público, em novos centros urbanos. "O governo sabe tudo o que está ocorrendo", diz, resignado, Jorge França, de 40 anos, uma das novas lideranças dos pankarás. "Eles (os políticos) sempre nos viram como pessoas que empatam o desenvolvimento do Brasil", reclama a cacique Lucélia Leal Cabral, de 34 anos. "Não ganhamos indenização em 1988 e não queremos agora. A tribo precisa apenas de paz para sobreviver."
Até dezembro de 2002, os índios da região utilizavam vários nomes e expressões para reafirmar sua distintividade étnica, como "caboclo" e "braiado". No começo de 2003, passaram a adotar o etnônimo Pankará da Serra do Arapuá. Hoje, o povo indígena reúne quase 3 mil pessoas - a Funai só tomou providências quanto ao reconhecimento territorial em 2005.
Lucélia não se opõe a obras de infraestrutura do governo, mas critica a falta de diálogo com os índios e a ausência de compromisso para garantir que a comunidade seja beneficiada.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
ae ta mais para desinformação que real má vontade! Até pq já estão urbanizados.
Temos que convir que o governo tem que melhorar bastante seu esquema de relações públicas para explicar melhor suas obras e acima de tudo ensinar como realmente funciona, e de preferencia antes do primeiro trator chegar. Convidar lideres regionais para conhecer e visitar o complexo de Angra, mostrar vantagens e acima de tudo fazer acontecer essas vantagens durante a construção da obra e não se sobrar dinheiro ao termino dela.
Uma campanha de conscientização, educação e por fim visitas a Angra com as pessoas certas fazem uma comunidade ou comunidades comprarem a ideia fácil de que uma usina nuclear pode gerar muitos benefícios. Isso aliado a capacidade dessa comunidade poder acompanhar o progresso da obra para que o medo de que não serão enganados não seja gerado.
Mas anos de promessas vazias e obras feitas sem pedir opinião ou ceder informação cria um monte de má vontade no país inteiro que precisa ser vencida antes das obras começarem! Não que Angra tenha sido uma obra que não cumpriu com suas promessas. Mas foram infelizmente uma das exceções e não a regra.
E não incluo apenas índios nisso, e sim população e governo em geral.
Temos que convir que o governo tem que melhorar bastante seu esquema de relações públicas para explicar melhor suas obras e acima de tudo ensinar como realmente funciona, e de preferencia antes do primeiro trator chegar. Convidar lideres regionais para conhecer e visitar o complexo de Angra, mostrar vantagens e acima de tudo fazer acontecer essas vantagens durante a construção da obra e não se sobrar dinheiro ao termino dela.
Uma campanha de conscientização, educação e por fim visitas a Angra com as pessoas certas fazem uma comunidade ou comunidades comprarem a ideia fácil de que uma usina nuclear pode gerar muitos benefícios. Isso aliado a capacidade dessa comunidade poder acompanhar o progresso da obra para que o medo de que não serão enganados não seja gerado.
Mas anos de promessas vazias e obras feitas sem pedir opinião ou ceder informação cria um monte de má vontade no país inteiro que precisa ser vencida antes das obras começarem! Não que Angra tenha sido uma obra que não cumpriu com suas promessas. Mas foram infelizmente uma das exceções e não a regra.
E não incluo apenas índios nisso, e sim população e governo em geral.
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Re: Pressões Nucleares sobre o Brasil
Diálogo Estratégico Brasil-EUA: o Brasil e a Tecnologia Nuclear
Entre os dias 13 e 14 de agosto, ocorreu em Brasília, um evento intitulado Diálogo Estratégico Brasil-EUA, organizado pelo Naval Postgraduate School e com apoio do Departamento de Estado dos EUA. Além de representantes brasileiros e estadunidenses, o evento contou com a participação de representantes da Argentina e da Índia. Da parte brasileira, além de acadêmicos, estiveram presentes representantes do Ministério da Defesa, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, da Agência Brasileira de Inteligência e do Senado Federal. Representando a UFF, eu apresentei um seminário intitulado “O Brasil e a tecnologia nuclear: integração, desenvolvimento e soberania” na Sessão Interesses da Política Doméstica relacionados a Não Proliferação, Controle de Armas e Questões de Desarmamento”. Aproveito a minha coluna no Portal DefesaNet para tornar pública a minha apresentação.
O Brasil e a tecnologia nuclear:
integração, desenvolvimento e soberania
Fernanda Corrêa
Historiadora, estrategista e pesquisadora do
INEST/UFF.
fernanda.das.gracas@hotmail.com
O Programa Nuclear Brasileiro, diferente do ocorrido nos EUA, nasceu de um Programa Maior civil datado de 1975. O Governo brasileiro procurou três países, Inglaterra, França e a Alemanha Ocidental, para adquirir um reator nuclear com transferência de tecnologia. O único País que aceitou tal condição na época foi a Alemanha. Em 1975, se assinou o acordo nuclear que ficou conhecido na história como o Acordo do Século. Havia um interesse brasileiro em construir navios oceanográficos com propulsão nuclear que atendessem as necessidades petrolíferas off shore. O projeto do submarino de propulsão nuclear brasileiro é fruto das negociações entre Brasil e Alemanha, na qual empresários alemãs sugeriram ao Governo brasileiro construir uma frota de submarinos com propulsão nuclear. Seria um desafio para ambos os países; pois, nem Brasil nem a Alemanha possuíam submarinos com propulsão nuclear. A Alemanha havia desenvolvido a propulsão nuclear para navios e o único que tinha naquele momento era o navio Otto Hahn. Assim, ao setor civil coube desenvolver o reator nuclear para geração de energia elétrica e à Marinha coube desenvolver a propulsão nuclear para submarinos. Por falta de dinheiro e de visão estratégica por parte do Governo brasileiro, nas décadas de 1980 e 1990, pouquíssimos investimentos foram feitos, provocando paralisações e recuos nas próprias pesquisas científicas realizadas no setor civil brasileiro. No setor naval, houve importantes conquistas científicas e tecnológicas ao longo da década de 1980. Já na década de 1990, houve também cortes, paralisações e a própria transferência do conhecimento e da equipe de pesquisadores do projeto do submarino nuclear para a área civil. Principalmente, em função da crise energética que sofremos em 2001, na qual parte da região sudeste do Brasil teve sua rede elétrica complementada pela energia provinda da usina nuclear de Angra 2, a energia nuclear voltou aos debates políticos e o Programa Nuclear Brasileiro voltou a ser retomado. Em função das pressões, em 2004, da AIEA para que o Brasil assinasse o Protocolo Adicional ao TNP que o Governo brasileiro passou a dar mais atenção ao projeto nuclear da Marinha. Contudo, somente, em 2009, com a assinatura do Acordo Militar com a França que, oficialmente, este projeto passou a fazer parte do Programa Nuclear Brasileiro.
Em função das insistentes perguntas sobre as razões pelas quais não assinamos o Protocolo Adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear, sobre o que entendemos como Segurança e Novas Ameaças, sobre as razões para construirmos submarinos com propulsão nuclear, sobre os documentos que temos relacionados à Defesa Nacional, sobre os acordos de fiscalização e cooperação na área nuclear que mantemos com a Argentina, sobre a construção de mais usinas nucleares no Brasil e sobre como a sociedade brasileira tem se articulado junto ao Governo Federal para formular pensamentos estratégicos na área de Defesa, procurei pontuar as minhas considerações:
• Por considerar discriminatório, o Governo brasileiro até 1998 não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Mudando de ideia, por considerar que o Brasil receberia um maior apoio em seu Programa Nuclear, o Brasil, em 1998, assinou o TNP. Há um consenso político social sobre a importância da Não Proliferação Nuclear no Brasil, embora também haja um consenso de que os benefícios desta adesão ou são inexistentes, ou irrisórios. Só o fato de termos assinado o TNP, Salvaguardas Internacionais, nos comprometido constitucionalmente com a Não Proliferação Nuclear e facilitarmos o acesso e a fiscalização, inclusive, às nossas instalações militares, já demonstra o quanto somos comprometidos com a Não Proliferação. Estes são os motivos pelos quais não assinaremos o Protocolo Adicional.
• Há, no Brasil, uma comunidade científica com expertise na tecnologia nuclear em função da participação de civis e militares tanto no Programa Nuclear Brasileiro quanto no projeto do submarino com propulsão nuclear. As pesquisas nucleares das outras Forças Armadas que constituíam o Programa Nuclear Paralelo, o qual era realizado paralelamente ao programa nuclear oficial. Cabia ao Exército Brasileiro construir um reator nuclear baseado em grafite e à Força Aérea desenvolver um reator nuclear por meio de enriquecimento de urânio a laser. O único que se mostrou viável foi o da Marinha. Havia um plano de construção da bomba atômica no Governo Figueiredo (1979-1985); contudo, também não atendeu as expectativas dos setores envolvidos e, no governo seguinte, o projeto já havia sido desativado.
• No nosso primeiro dia de encontro foi perguntado sobre quais as Ameaças que temos para construirmos submarinos nucleares. Há muito pouco debate sobre Defesa e menos ainda sobre Segurança no Brasil. Isso, como ressaltei, ainda é um resquício temeroso de se discutir estudos militares em função das abordagens da participação das Forças Armadas na política nacional. Pelo pouco debate sobre Defesa e Segurança que temos no Brasil, a sociedade não se sente muito a vontade ou mesmo não tem muito interesse em discutir sobre armamentos, por exemplo. Como sabemos, no Brasil, estes assuntos ainda estão majoritariamente concentrados nas mãos de militares. São poucos os documentos oficiais que temos que abordam a Defesa e a Segurança Nacional; portanto, a Política de Defesa Nacional (1996, 2005 e 2012), a Estratégia Nacional de Defesa (2008) e o Livro Branco da Defesa (2012) são os documentos de maior referência para aqueles se se dispõem a estudar Defesa no Brasil. O Brasil adotou na Política de Defesa Nacional o conceito de Segurança da ONU de que segurança é uma sensação, é um estado de espírito. De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA cerca de 40% das terras não povoadas do mundo se concentram no Brasil e na Argentina, o que, a longo prazo, tornam estes países um dos poucos países capazes de propiciar água potável, múltiplas formas de energia e alimentos às suas populações. O homem nunca parou de fazer Guerras, seja por Glória, por Poder ou por Sobrevivência. Não podemos esperar que, diante deste cenário futuro, a sobrevivência de outros povos ameacem a nossa própria sobrevivência. A cooperação e a integração com outros países faz parte da nossa política internacional. Não temos inimigos neste momento, o que não significa que, no futuro, diante do cenário de escassez de água, alimentos, energia e terras cultiváveis no mundo e de abundância no Brasil, não possamos ser alvos de outros países e de interesses escusos de outros atores. O mundo que queremos é mundo kantiano, mas o mundo que vivemos é um mundo hobbesiano. Há normas, há regras internacionais que servem para tornar a vida em coletividade mais suave, mais agradável; no entanto, apesar de todo esforço internacional, os países continuam guerreando, com ou sem o apoio das próprias instituições internacionais responsáveis pela manutenção da paz mundial. Os EUA não foram, não são e não pensamos que os EUA serão nossos inimigos. Somos irmãos naturais e; portanto, pelos nossos laços naturais e históricos devemos nos relacionar de igual para igual.
• Bomba atômica ou submarino nuclear não geram poder ou status, geram efeitos colaterais. Não é o nosso futuro submarino nuclear que nos permitirá assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Há uma incompreensão em diversos setores brasileiros sobre esta relação. Submarinos nucleares são armas e são, portanto, empregadas por militares, mediante autorização da política. Os efeitos colaterais dissuadirão ou protelarão iniciativas que violem a soberania brasileira nas nossas águas jurisdicionais. Assim como os caças brasileiros contribuirão com a defesa do nosso espaço aéreo e os blindados na defesa de nosso espaço terrestre, por exemplo. Não podemos subjulgar nossos inimigos no futuro, imaginando que adentrarão em nossas águas com meios navais com tecnologia ultrapassada. Pode ser que sim, pode ser que não! Infelizmente, temos que estar preparados tecnológica e militarmente para este futuro! Resumidamente, essa é a compreensão que temos de Ameaças, Segurança e Defesa Nacional.
• A Estratégia Nacional de Defesa está vinculada à Estratégia Nacional de Desenvolvimento. Isso significa que há um esforço no Brasil para que, por exemplo, o arraste tecnológico do projeto do submarino nuclear brasileiro possa propiciar à sociedade benefícios científicos, tecnológicos, comerciais, industriais e sociais.
• No Brasil, a energia nuclear é uma fonte de energia complementar. A nossa matriz principal é a água. A participação da energia nuclear na geração elétrica nacional é de cerca de 2%.
• Em função das pressões que AIEA exerceu sobre o Brasil para a assinatura do Protocolo Adicional ao TNP, houve um maior engajamento do Governo na questão nuclear e na sua promoção pacífica no sistema internacional. Exemplo disso foi o apoio do Brasil ao Programa Nuclear Iraniano de finalidades pacíficas. Embora, o Brasil não tenha convencido o Irã a desistir de seu enriquecimento de urânio, houve um relativo sucesso, do ponto de vista do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a medida que, logo após a assinatura do acordo nuclear Brasil, Turquia e Irã, por sugestão de Israel, o Brasil foi convidado a participar da reconstrução da paz no Líbano. Recursos energéticos são uma das estratégias do Brasil para maior inserção internacional. Ao defender o Programa Nuclear Iraniano de finalidades pacíficas, o Brasil está defendendo o direito de todos os países utilizarem a tecnologia nuclear para finalidades pacíficas.
• O corte no fornecimento dos radiofármacos da empresa canadense, em 2009, que abastecia mais de 300 clínicas e hospitais brasileiros também nos foi um exemplo de que deveríamos sair da dependência tecnológica na questão nuclear. Neste contexto, a Argentina despontou no cenário como nossa maior parceira, a medida que nos forneceu os radiofármacos para o nosso setor de saúde e nos propôs a construção conjunta de um reator nuclear para finalidades de pesquisa chamado de multipropósito. A Marinha do Brasil cedeu terreno em Aramar para que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação possa construir o reator nuclear, o que permitirá que haja uma maior integração entre pesquisadores deste Ministério e do próprio projeto do submarino com propulsão nuclear da Marinha do Brasil. Além do reator multipropósito, garantir a autossuficiência na produção de radiofármacos e a independência tecnológica. Graças a sua participação no RMB, a Marinha do Brasil contribuirá na redução das vulnerabilidades científicas e tecnológicas, contribuirá com a consolidação das políticas de cooperação e integração na América do Sul e fortalecerá a soberania do Brasil nas suas águas jurisdicionais.
• A maior parte dos estudos voltados para as Forças Armadas nas áreas de humanas referiam-se a atividades de militares em golpes de Estados, recrutamento e formação militar. Até então, não havia perspectiva de carreira acadêmica, em especial, na área de humanas, em Defesa Nacional. Em 2005, o Ministério da Defesa em parceria com o Ministério da Educação e Cultura e com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, criaram o Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Defesa Nacional – Pró-Defesa. O Pró-Defesa foi criado para durar cinco anos. Os programas de pós-graduação deveriam propor linhas de pesquisa ou áreas de concentração em parceria com escolas superiores militares tendo em seus quadros discentes mestrandos e doutorandos civis e militares. O Pró-Defesa teve um grande sucesso e incentivou a criação de cursos de graduação e pós graduação na área de defesa em todo o Brasil. Este ano de 2012, criou-se o Pró-Estratégia, no qual se ampliou os objetivos, baseado no sucesso e na diversificação de pesquisas estimuladas pelo Pró-Defesa. Cito o escopo do Pró-Estratégia publicado no Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES): “o Pró-Estratégia visa estimular a produção de ciência, tecnologia e inovação, bem como a formação de recursos humanos pós-graduados, em áreas relativas à defesa, ao desenvolvimento e a outros temas estratégicos de interesse nacional”.
• Assim, estudos na academia, na área de humanas, sobre recursos energéticos como estratégia de inserção internacional são muito recentes. Não por não haver interesse, mas por não haver maior incentivo por parte do Governo. Havia até alguma produtividade de pesquisas na área de ciências humanas, mas programas de pós graduações com linhas de pesquisa específicas nesta área ou eram inexistentes ou raros. O Pró-Defesa tornou possível a academia brasileira se lançar tanto na área de Defesa quanto na área de Bens Sensíveis.
• Na área nuclear, os EUA sempre foram a nossa primeira opção na busca por cooperação tecnológica, tanto é que o nosso primeiro acordo nuclear foi assinado em 1945 com os EUA. O Brasil assinou este acordo, exportando aos EUA areias monazíticas e tório, enquanto os EUA se comprometeram em facilitar o acesso à tecnologia nuclear. O Brasil chegou a assinar três acordos e em nenhum dos três obtivemos acesso à tecnologia nuclear. O Acordo Nuclear Brasil-EUA de 1945 ficou conhecido na história como o Acordo da Farinha, no qual exportávamos matéria-prima radioativa aos EUA e estes nos enviavam toneladas de farinha. Foi em função destes agravantes que recorremos à França e à Alemanha para adquirir centrífugas nucleares. Nós encomendamos três centrífugas com a Alemanha e os EUA mais uma vez impediram que essas centrífugas chegassem ao Brasil, na década de 1950. Nas décadas seguintes novas promessas estadunidenses foram feitas para tornar facilitado o acesso à tecnologia nuclear. No final da década de 1960, o Brasil contratou a empresa estadunidense Westinghouse para construir o reator nuclear de ANGRA 1 e em 1972, as obras para a construção da usina foram iniciadas. Devidos à problemas no fornecimento do combustível, o qual os EUA se comprometeram a fornecer, o Brasil decidiu obter independência tecnológica nuclear buscando outras parcerias. Recorre-se à Inglaterra, à França e à Alemanha Ocidental para o Brasil obter independência tecnológica nuclear. Os alemãs mais uma vez, foram os únicos que aceitaram fornecer ao Brasil a tecnologia nuclear com transferência de tecnologia. Assim, como mencionado, sempre recorremos aos EUA como primeira opção na busca por cooperação; no entanto, como a história comprova, são os EUA que não demonstram interesse em cooperar. Como podem perceber, o Brasil tem numerosas razões para desconfiar das promessas de cooperação científica e tecnológica em áreas estratégicas com os EUA. A maior inserção do Brasil no sistema internacional é um fato. Precisamos caminhar como irmãos.
http://www.defesanet.com.br/defesa/noti ... ia-Nuclear
Entre os dias 13 e 14 de agosto, ocorreu em Brasília, um evento intitulado Diálogo Estratégico Brasil-EUA, organizado pelo Naval Postgraduate School e com apoio do Departamento de Estado dos EUA. Além de representantes brasileiros e estadunidenses, o evento contou com a participação de representantes da Argentina e da Índia. Da parte brasileira, além de acadêmicos, estiveram presentes representantes do Ministério da Defesa, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, da Agência Brasileira de Inteligência e do Senado Federal. Representando a UFF, eu apresentei um seminário intitulado “O Brasil e a tecnologia nuclear: integração, desenvolvimento e soberania” na Sessão Interesses da Política Doméstica relacionados a Não Proliferação, Controle de Armas e Questões de Desarmamento”. Aproveito a minha coluna no Portal DefesaNet para tornar pública a minha apresentação.
O Brasil e a tecnologia nuclear:
integração, desenvolvimento e soberania
Fernanda Corrêa
Historiadora, estrategista e pesquisadora do
INEST/UFF.
fernanda.das.gracas@hotmail.com
O Programa Nuclear Brasileiro, diferente do ocorrido nos EUA, nasceu de um Programa Maior civil datado de 1975. O Governo brasileiro procurou três países, Inglaterra, França e a Alemanha Ocidental, para adquirir um reator nuclear com transferência de tecnologia. O único País que aceitou tal condição na época foi a Alemanha. Em 1975, se assinou o acordo nuclear que ficou conhecido na história como o Acordo do Século. Havia um interesse brasileiro em construir navios oceanográficos com propulsão nuclear que atendessem as necessidades petrolíferas off shore. O projeto do submarino de propulsão nuclear brasileiro é fruto das negociações entre Brasil e Alemanha, na qual empresários alemãs sugeriram ao Governo brasileiro construir uma frota de submarinos com propulsão nuclear. Seria um desafio para ambos os países; pois, nem Brasil nem a Alemanha possuíam submarinos com propulsão nuclear. A Alemanha havia desenvolvido a propulsão nuclear para navios e o único que tinha naquele momento era o navio Otto Hahn. Assim, ao setor civil coube desenvolver o reator nuclear para geração de energia elétrica e à Marinha coube desenvolver a propulsão nuclear para submarinos. Por falta de dinheiro e de visão estratégica por parte do Governo brasileiro, nas décadas de 1980 e 1990, pouquíssimos investimentos foram feitos, provocando paralisações e recuos nas próprias pesquisas científicas realizadas no setor civil brasileiro. No setor naval, houve importantes conquistas científicas e tecnológicas ao longo da década de 1980. Já na década de 1990, houve também cortes, paralisações e a própria transferência do conhecimento e da equipe de pesquisadores do projeto do submarino nuclear para a área civil. Principalmente, em função da crise energética que sofremos em 2001, na qual parte da região sudeste do Brasil teve sua rede elétrica complementada pela energia provinda da usina nuclear de Angra 2, a energia nuclear voltou aos debates políticos e o Programa Nuclear Brasileiro voltou a ser retomado. Em função das pressões, em 2004, da AIEA para que o Brasil assinasse o Protocolo Adicional ao TNP que o Governo brasileiro passou a dar mais atenção ao projeto nuclear da Marinha. Contudo, somente, em 2009, com a assinatura do Acordo Militar com a França que, oficialmente, este projeto passou a fazer parte do Programa Nuclear Brasileiro.
Em função das insistentes perguntas sobre as razões pelas quais não assinamos o Protocolo Adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear, sobre o que entendemos como Segurança e Novas Ameaças, sobre as razões para construirmos submarinos com propulsão nuclear, sobre os documentos que temos relacionados à Defesa Nacional, sobre os acordos de fiscalização e cooperação na área nuclear que mantemos com a Argentina, sobre a construção de mais usinas nucleares no Brasil e sobre como a sociedade brasileira tem se articulado junto ao Governo Federal para formular pensamentos estratégicos na área de Defesa, procurei pontuar as minhas considerações:
• Por considerar discriminatório, o Governo brasileiro até 1998 não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Mudando de ideia, por considerar que o Brasil receberia um maior apoio em seu Programa Nuclear, o Brasil, em 1998, assinou o TNP. Há um consenso político social sobre a importância da Não Proliferação Nuclear no Brasil, embora também haja um consenso de que os benefícios desta adesão ou são inexistentes, ou irrisórios. Só o fato de termos assinado o TNP, Salvaguardas Internacionais, nos comprometido constitucionalmente com a Não Proliferação Nuclear e facilitarmos o acesso e a fiscalização, inclusive, às nossas instalações militares, já demonstra o quanto somos comprometidos com a Não Proliferação. Estes são os motivos pelos quais não assinaremos o Protocolo Adicional.
• Há, no Brasil, uma comunidade científica com expertise na tecnologia nuclear em função da participação de civis e militares tanto no Programa Nuclear Brasileiro quanto no projeto do submarino com propulsão nuclear. As pesquisas nucleares das outras Forças Armadas que constituíam o Programa Nuclear Paralelo, o qual era realizado paralelamente ao programa nuclear oficial. Cabia ao Exército Brasileiro construir um reator nuclear baseado em grafite e à Força Aérea desenvolver um reator nuclear por meio de enriquecimento de urânio a laser. O único que se mostrou viável foi o da Marinha. Havia um plano de construção da bomba atômica no Governo Figueiredo (1979-1985); contudo, também não atendeu as expectativas dos setores envolvidos e, no governo seguinte, o projeto já havia sido desativado.
• No nosso primeiro dia de encontro foi perguntado sobre quais as Ameaças que temos para construirmos submarinos nucleares. Há muito pouco debate sobre Defesa e menos ainda sobre Segurança no Brasil. Isso, como ressaltei, ainda é um resquício temeroso de se discutir estudos militares em função das abordagens da participação das Forças Armadas na política nacional. Pelo pouco debate sobre Defesa e Segurança que temos no Brasil, a sociedade não se sente muito a vontade ou mesmo não tem muito interesse em discutir sobre armamentos, por exemplo. Como sabemos, no Brasil, estes assuntos ainda estão majoritariamente concentrados nas mãos de militares. São poucos os documentos oficiais que temos que abordam a Defesa e a Segurança Nacional; portanto, a Política de Defesa Nacional (1996, 2005 e 2012), a Estratégia Nacional de Defesa (2008) e o Livro Branco da Defesa (2012) são os documentos de maior referência para aqueles se se dispõem a estudar Defesa no Brasil. O Brasil adotou na Política de Defesa Nacional o conceito de Segurança da ONU de que segurança é uma sensação, é um estado de espírito. De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA cerca de 40% das terras não povoadas do mundo se concentram no Brasil e na Argentina, o que, a longo prazo, tornam estes países um dos poucos países capazes de propiciar água potável, múltiplas formas de energia e alimentos às suas populações. O homem nunca parou de fazer Guerras, seja por Glória, por Poder ou por Sobrevivência. Não podemos esperar que, diante deste cenário futuro, a sobrevivência de outros povos ameacem a nossa própria sobrevivência. A cooperação e a integração com outros países faz parte da nossa política internacional. Não temos inimigos neste momento, o que não significa que, no futuro, diante do cenário de escassez de água, alimentos, energia e terras cultiváveis no mundo e de abundância no Brasil, não possamos ser alvos de outros países e de interesses escusos de outros atores. O mundo que queremos é mundo kantiano, mas o mundo que vivemos é um mundo hobbesiano. Há normas, há regras internacionais que servem para tornar a vida em coletividade mais suave, mais agradável; no entanto, apesar de todo esforço internacional, os países continuam guerreando, com ou sem o apoio das próprias instituições internacionais responsáveis pela manutenção da paz mundial. Os EUA não foram, não são e não pensamos que os EUA serão nossos inimigos. Somos irmãos naturais e; portanto, pelos nossos laços naturais e históricos devemos nos relacionar de igual para igual.
• Bomba atômica ou submarino nuclear não geram poder ou status, geram efeitos colaterais. Não é o nosso futuro submarino nuclear que nos permitirá assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Há uma incompreensão em diversos setores brasileiros sobre esta relação. Submarinos nucleares são armas e são, portanto, empregadas por militares, mediante autorização da política. Os efeitos colaterais dissuadirão ou protelarão iniciativas que violem a soberania brasileira nas nossas águas jurisdicionais. Assim como os caças brasileiros contribuirão com a defesa do nosso espaço aéreo e os blindados na defesa de nosso espaço terrestre, por exemplo. Não podemos subjulgar nossos inimigos no futuro, imaginando que adentrarão em nossas águas com meios navais com tecnologia ultrapassada. Pode ser que sim, pode ser que não! Infelizmente, temos que estar preparados tecnológica e militarmente para este futuro! Resumidamente, essa é a compreensão que temos de Ameaças, Segurança e Defesa Nacional.
• A Estratégia Nacional de Defesa está vinculada à Estratégia Nacional de Desenvolvimento. Isso significa que há um esforço no Brasil para que, por exemplo, o arraste tecnológico do projeto do submarino nuclear brasileiro possa propiciar à sociedade benefícios científicos, tecnológicos, comerciais, industriais e sociais.
• No Brasil, a energia nuclear é uma fonte de energia complementar. A nossa matriz principal é a água. A participação da energia nuclear na geração elétrica nacional é de cerca de 2%.
• Em função das pressões que AIEA exerceu sobre o Brasil para a assinatura do Protocolo Adicional ao TNP, houve um maior engajamento do Governo na questão nuclear e na sua promoção pacífica no sistema internacional. Exemplo disso foi o apoio do Brasil ao Programa Nuclear Iraniano de finalidades pacíficas. Embora, o Brasil não tenha convencido o Irã a desistir de seu enriquecimento de urânio, houve um relativo sucesso, do ponto de vista do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a medida que, logo após a assinatura do acordo nuclear Brasil, Turquia e Irã, por sugestão de Israel, o Brasil foi convidado a participar da reconstrução da paz no Líbano. Recursos energéticos são uma das estratégias do Brasil para maior inserção internacional. Ao defender o Programa Nuclear Iraniano de finalidades pacíficas, o Brasil está defendendo o direito de todos os países utilizarem a tecnologia nuclear para finalidades pacíficas.
• O corte no fornecimento dos radiofármacos da empresa canadense, em 2009, que abastecia mais de 300 clínicas e hospitais brasileiros também nos foi um exemplo de que deveríamos sair da dependência tecnológica na questão nuclear. Neste contexto, a Argentina despontou no cenário como nossa maior parceira, a medida que nos forneceu os radiofármacos para o nosso setor de saúde e nos propôs a construção conjunta de um reator nuclear para finalidades de pesquisa chamado de multipropósito. A Marinha do Brasil cedeu terreno em Aramar para que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação possa construir o reator nuclear, o que permitirá que haja uma maior integração entre pesquisadores deste Ministério e do próprio projeto do submarino com propulsão nuclear da Marinha do Brasil. Além do reator multipropósito, garantir a autossuficiência na produção de radiofármacos e a independência tecnológica. Graças a sua participação no RMB, a Marinha do Brasil contribuirá na redução das vulnerabilidades científicas e tecnológicas, contribuirá com a consolidação das políticas de cooperação e integração na América do Sul e fortalecerá a soberania do Brasil nas suas águas jurisdicionais.
• A maior parte dos estudos voltados para as Forças Armadas nas áreas de humanas referiam-se a atividades de militares em golpes de Estados, recrutamento e formação militar. Até então, não havia perspectiva de carreira acadêmica, em especial, na área de humanas, em Defesa Nacional. Em 2005, o Ministério da Defesa em parceria com o Ministério da Educação e Cultura e com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, criaram o Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Defesa Nacional – Pró-Defesa. O Pró-Defesa foi criado para durar cinco anos. Os programas de pós-graduação deveriam propor linhas de pesquisa ou áreas de concentração em parceria com escolas superiores militares tendo em seus quadros discentes mestrandos e doutorandos civis e militares. O Pró-Defesa teve um grande sucesso e incentivou a criação de cursos de graduação e pós graduação na área de defesa em todo o Brasil. Este ano de 2012, criou-se o Pró-Estratégia, no qual se ampliou os objetivos, baseado no sucesso e na diversificação de pesquisas estimuladas pelo Pró-Defesa. Cito o escopo do Pró-Estratégia publicado no Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES): “o Pró-Estratégia visa estimular a produção de ciência, tecnologia e inovação, bem como a formação de recursos humanos pós-graduados, em áreas relativas à defesa, ao desenvolvimento e a outros temas estratégicos de interesse nacional”.
• Assim, estudos na academia, na área de humanas, sobre recursos energéticos como estratégia de inserção internacional são muito recentes. Não por não haver interesse, mas por não haver maior incentivo por parte do Governo. Havia até alguma produtividade de pesquisas na área de ciências humanas, mas programas de pós graduações com linhas de pesquisa específicas nesta área ou eram inexistentes ou raros. O Pró-Defesa tornou possível a academia brasileira se lançar tanto na área de Defesa quanto na área de Bens Sensíveis.
• Na área nuclear, os EUA sempre foram a nossa primeira opção na busca por cooperação tecnológica, tanto é que o nosso primeiro acordo nuclear foi assinado em 1945 com os EUA. O Brasil assinou este acordo, exportando aos EUA areias monazíticas e tório, enquanto os EUA se comprometeram em facilitar o acesso à tecnologia nuclear. O Brasil chegou a assinar três acordos e em nenhum dos três obtivemos acesso à tecnologia nuclear. O Acordo Nuclear Brasil-EUA de 1945 ficou conhecido na história como o Acordo da Farinha, no qual exportávamos matéria-prima radioativa aos EUA e estes nos enviavam toneladas de farinha. Foi em função destes agravantes que recorremos à França e à Alemanha para adquirir centrífugas nucleares. Nós encomendamos três centrífugas com a Alemanha e os EUA mais uma vez impediram que essas centrífugas chegassem ao Brasil, na década de 1950. Nas décadas seguintes novas promessas estadunidenses foram feitas para tornar facilitado o acesso à tecnologia nuclear. No final da década de 1960, o Brasil contratou a empresa estadunidense Westinghouse para construir o reator nuclear de ANGRA 1 e em 1972, as obras para a construção da usina foram iniciadas. Devidos à problemas no fornecimento do combustível, o qual os EUA se comprometeram a fornecer, o Brasil decidiu obter independência tecnológica nuclear buscando outras parcerias. Recorre-se à Inglaterra, à França e à Alemanha Ocidental para o Brasil obter independência tecnológica nuclear. Os alemãs mais uma vez, foram os únicos que aceitaram fornecer ao Brasil a tecnologia nuclear com transferência de tecnologia. Assim, como mencionado, sempre recorremos aos EUA como primeira opção na busca por cooperação; no entanto, como a história comprova, são os EUA que não demonstram interesse em cooperar. Como podem perceber, o Brasil tem numerosas razões para desconfiar das promessas de cooperação científica e tecnológica em áreas estratégicas com os EUA. A maior inserção do Brasil no sistema internacional é um fato. Precisamos caminhar como irmãos.
http://www.defesanet.com.br/defesa/noti ... ia-Nuclear