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Mensagem
por Dall » Qua Mai 02, 2012 9:43 pm
Já que o tema é o impulsor da AVIBRAS, vou expor alguns conceitos sobre este tipo de propulsor.
Os mísseis e foguetes de combustível sólido, em geral utilizam um de dois tipos de propelente.
Os combustíveis DB (base dupla), que consistem em uma mistura de nitrocelulose e nitroglicerina, podendo ainda ser acrescentados compostos mais energéticos, para aumentar o Isp (impulso especifico) do propelente, como por exemplo, RDX, HMX, etc..
Os propelentes composite, que são o que há de mais moderno em termos de propelentes sólidos, tendo evoluído desde uma grosseira mistura de asfalto e perclorato de potássio (o chamado Galcite), até os elastômeros de HTPB (polibutadieno hidroxilado) e CTPB (polibutadieno carboxilado) carregados com até 88 % de sólidos, onde entra principalmente perclorato de amônio, que age como oxidante.
Este tipo de propelente composite vem cada dia sendo mais e mais usado, devido ao custo relativamente baixo, segurança e principalmente a facilidade de preparação, quando comparado aos propelentes DB, sem falar que o HTPB serve entre outras coisas para ser utilizado em composições de revestimento entre o envelopamento do motor e o bloco propelente.
Existem outros elementos que entram na preparação dos propelentes composite, como plastificantes, modificadores de taxa de combustão, etc, que são adequadamente ajustados pelo formulador para alcançar as condições necessárias (baixa emissão de fumos, maior ou menor Isp, etc).
No começo deste século houve a primeira leva de modernização de Exocets, algo como 50 unidades para a marinha francesa, porem foram unidades (propulsor DB) do MM:38 convertidas para o padrão MM:40 (propulsor Composite).
Este tipo de míssil é composto na verdade por dois propulsores um de impulsor e outro de sustentação, eram fabricados pela divisão Celerg, do grupo SNPE, no MM:38 sendo o booster denominado de SNPE Vautour, com 100 Kg de propelente compósito e com um tempo de queima de 2,4 segundos e o sustainer, chamado de SNPE Epevier, um grão de propelente base dupla (nitroglicerina e nitrocelulose), com um tempo de queima de 93 segundos e 151 Kg de propelente.
Estes dados são relativos a versão original do MM38, que entraram em serviço na década de 70, sobre o MM:40 ainda não se tem dados de domínio publico. Os grão de propelente base dupla são produzidos na planta de Angouleme, que é a mesma que faz os motores do Eryx, Milan, HOT e AS15TT. A vida de prateleira de um motor é de aproximadamente 10 anos. O custo de se trocar os motores foi de cerca de 100 mil dólares (valores de uma década atrás).
Atualmente existe um planejamento de uma nova onda de modernização na França que é a troca do padrão Block II para o Block III (com microturbina), sendo este programa estendido a clientes do MM:40 interessados em realizar o up-grade de seus mísseis para aumentar o alcance de 70km para 180km.
Voltando ao projeto da Avibras, eu não acredito em expressivas melhoras de desempenho do míssil porque não existe muita "mágica" que pode ser feita com o projeto do MM:40 que já utiliza propelente composto.
Algum ganho de impulso especifico pode ser esperado com a inclusão de algum componente na formulação original, porem arrisco dizer que ganhos maiores que 10% de alcance são difíceis de se obterem sem que outros parâmetros sejam sacrificados (vida de prateleira, emissão de fumos, formação de plasma etc..).
Uma outra opção seria aumentar a massa do míssil, mas ai entra limitações físicas dos atuais sistemas de lançamento.
Por fim um novo envelopamento mais leve pode ser a "mágica" da Avibras, embora isto possa diminuir a massa do míssil ( e aumentar a fração de combustível) ainda existem limitações de dimensão, posição do CG etc..
Em resumo, não tem muita margem para mágica não. Se o aumento de alcance fosse a base da especificação do projeto, a motorização não seria esta proposta.