Dall escreveu:Túlio escreveu:Dall, quero crer que o projeto seja em uns 3 movimentos básicos:
1) Criar o propulsor a foguete para repotencializar os Exocets que já temos e ainda pegar uma fatia na repotencialização dos de outras Marinhas que o utilizem.
2) Usando este motor, desenvolver o restante do necessário a um MAN Nacional e com isso, além de ser manter por alguns anos um fluxo constante e disponível desse tipo de munição, ainda colher resultados em exportações, pois os mísseis a turbina são com efeito o futuro mas o FUTURO não é o mesmo para todos: quantas nações têm meios de prover guiagem de meio-curso contra um alvo a cem milhas náuticas ou mais? Ademais, os novos são bem mais CAROS que os a foguete e nem todo mundo pode pagar...
3) Criar uma versão com a nova turbina e, desse modo, se ter no arsenal um projétil tecnologicamente de ponta e, por corolário, ainda se colher alguns resultados nas exportações.
Minha opinião, claro. É assim que vejo o quadro geral...
Sim Túlio é uma visão.
Porem existe outras questões que também merecem serem consideradas.
- Repotencializar o Exocet para terceiros é uma questão que não depende apenas de um acordo entre o Brasil e este terceiro, depende sobretudo da autorização do fabricante Frances que é óbvio não tem interesse no negocio. É claro que na hora de fechar negocio tudo são flores, e interessa para a MBDA manter seu velho cliente cativo, na hora que o negocio começa a influenciar nos resultados do fabricante as coisas mudam.
- Todo desenvolvimento gera necessidade de industrialização e industrialização necessidade de escala de produção. Por exemplo, o VLS aquele triste projeto que a 9 anos não é lançado, teve seus fornos de tratamento térmicos desativados, porque motivo? Sem demanda de construção a empresa que fazia isto não tinha justificativa financeira para manter a facilidade de fabricação operando. Se a gente chega a um protótipo de microturbina e não coloca em produção, os engenheiros que a projetaram vão fazer outras coisas, se aposentam, o ferramental de produção não é desenvolvido e por ai vai. No MSS 1.2 a eletrônica precisou ser toda re-projetada em 2004, porque um projeto de 1988 quando entrou em produção tinha quase todos os componentes fora de produção ou obsoletos. Em resumo, protótipo é uma coisa, produção é outra. Ou seja, produzir é diferente de projetar, e produzir precisa de demanda.
- Criar uma versão primeiro com motor de impulsão solida e depois com micro turbina é teoricamente possível, na pratica é diferente. No Brasil quase sempre demora 20 anos para um projeto destes ser concluído, quando é concluído, então a versão “beta” do míssil ficaria pronta na teoria em 2020, na pratica em 2035.
- Repotencializar o Exocet para a MB é uma coisa, construir um míssil anti navio é outra. São focos diferentes de engenharia. Misturar ambos os programas é perder o foco. Temos bom conhecimento em propulsão solida, Astros II, MAA-1, SONDA,VLS, MAR-1, MSS 1.2, penso que pouco estamos ganhando investindo em um desenvolvimento que concorre (em verbas) com desenvolvimentos que precisamos aprimorar e industrializar como as micro turbinas.
São questões interessantes, somas muito aqui, amigo Dall. Creio que mesmo sem ler teu post antes terminei respondendo parte dele em minha citação ao Bravo. Mas restaram alguns pontos:
Posso estar enganado mas a MBDA parece ter participado do desenvolvimento do nosso propulsor. E falando em
parece, bueno, li aqui mesmo no DB uma notícia que desmentiria essa tese de que a MBDA daria a rasteira que aparentas supor: essa empresa está, como muitas outras, tentando entrar com força no nosso mercado de Defesa. Um passo assim seria, convenhamos, entrar com o pé ESQUERDO, não?
Sobre a questão da DEMANDA, acho que escrevi algo sobre exportação em todos os pontos que quotaste. E, assim como falei da diferença entre o motor-foguete e sua tecnologia, que pode levar a outros usos, creio que isso vale igualmente para uma microturbina, de mísseis táticos até UAVs/UCAVs e mesmo turbinas maiores/para outros usos. Desenvolver tecnologia nunca é DESPERDÍCIO. A questão do tempo que se leva para maturar uma tecnologia que NÃO TEMOS NEM NUNCA TIVEMOS é relativa e sobretudo POLÍTICA! Se quem faz o pedido do desenvolvimento e/ou quem assina o cheque não entende o que está em jogo então nem adianta tentarmos desenvolver nada, mesmo o A-Darter deveria ser posto de lado (notar que a África do Sul tem problemas financeiros e sociais proporcionalmente muito maiores do que os nossos) se vai ficar só nisso, se a tecnologia desenvolvida servir apenas à fabricação de um AAM WVR...
Sobre começar o MAN com um foguete, simplesmente TODOS os que existem começaram assim, mudando para a turbina apenas após a terem plenamente operacional e confiável. Se vamos fazer 'no tempo certo' ou ficar amarrando orçamento, bueno, isso vale até para o SSN, não? Se quem manda não entende nem tem uma assessoria competente sobre o tema Defesa, o dinheiro de quase duzentos milhões de Brasileiros está indo pelo ralo, para variar. Só que, no caso, não vejo assim...
Finalmente, a questão de concorrência de verbas é indesejável porém NATURAL no nosso caso: praticamente TUDO nos falta! Então talvez esteja aí a razão de alguns programas parecerem estar fluindo rápido e outros parecerem estagnados ou ao menos cambaleantes. Não há dinheiro para suprir todas as demandas das FFAA e da área civil mas algo se está fazendo/tentando, a inação seria o pior dos mundos e a vivenciamos até bem recentemente, partindo da redemocratização. Só se começou a ver esforços mais sérios - a meu ver - a partir do governo FFHH e que parecem se ter intensificado no governo Lula. O atual, no meio de uma crise (com uma sórdida guerra fiscal/cambial de permeio) que abala o mundo todo, tenta se equilibrar do jeito que pode. Mas não parece em momento algum ter deixado a Defesa às traças, vários programas importantes para as três Armas - e bem caros - continuam andando e dentro do cronograma.
Aliás, me perdoes a liberdade mas o nosso debate parece aquele do copo pela metade: um o vê como meio cheio e o outro como meio vazio. No fim, ambos não deixam de ter sua razão, é questão de ponto de vista...
EDIT - Peço aos colegas mais chegados em política partidária do que em Defesa que se contenham, a menção a governantes e governos se prende a uma visão PESSOAL de que era necessária a um melhor entendimento do tema e não a enaltecer ou denegrir político, partido, etc.